Márcio Vianna - Mônica Prinzac
Márcio Vianna - Mônica Prinzac
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O presente dura pouco tempo<br />
soterradas em impactante imagem de uma grande escavação. O palco, mantendo a<br />
relação convencional de palco-platéia era coberto por quilos de areia e centenas de<br />
troncos - nos moldes humanos - feitos em fibra de vidro. Althusser retirava da terra<br />
livros, os corpos mutilados, objetos pessoais e a própria mulher Hélène. “Era uma<br />
verdadeira arqueologia” descrevia Teca Fichinski, cenógrafa da peça.<br />
Novamente com a utilização de efeitos cênicos intensos, <strong>Márcio</strong> construiu<br />
climas e imagens para desenhar a complexidade dos sentimentos e das emoções. Os<br />
atores – em interpretação minuciosa e repleta de tons – criavam a base ou o pretexto<br />
para uma enxurrada de afetos. A iluminação alternava cores quentes e frias, sombra e<br />
claridade, dando vida à atmosfera asfixiante em que se encontrava o personagem<br />
principal.<br />
O Futuro dura muito tempo não era propriamente uma experimentação cênica e<br />
fez do palco um reflexo da condição humana. <strong>Márcio</strong> provou para si mesmo que é<br />
possível emocionar o espectador sem acrobacias experimentais. Mas negou, apesar do<br />
objetivo de emocionar o espectador alcançado, ser este o tipo de espetáculo que leva o<br />
homem para a beira do abismo. Abismo este que era o desafio de estar vivo.<br />
Para o diretor o abismo estava em 1999. Afirmando as suas experiências cênicas,<br />
<strong>Márcio</strong> desta vez pretendia criar um confronto direto da ação cênica com o espectador.<br />
A proposta era analisar a situação do homem no final do século, num ambiente sem<br />
fronteiras entre palco e platéia.<br />
Atores e espectadores se movimentavam livremente por todo o espaço. “Para<br />
mostrarmos isso, tiramos todas as arquibancadas do teatro e eliminamos as fronteiras<br />
entre palco e platéia. Atores e espectadores se movimentam livremente e a peça se<br />
desenvolve ai, abordando a violência, a solidão e a paixão do homem contemporâneo.<br />
Em cada cena se constrói o lugar do ator e do espectador. Este participa menos ou mais,<br />
olhando a cena pelo olhar que quiser”. 28<br />
Espalhado pelo espaço do Teatro Gláucio Gil – transformado em um grande<br />
galpão - havia milhares de fotos de jornais (estampando a violência cotidiana) colados<br />
nas paredes, além de escadas e cubos espalhados pelo chão. Um bar dentro do espaço<br />
servia de apoio cênico e de base para o público - que podia beber cerveja durante o<br />
espetáculo. O espectador ficava solto no espaço (sem acentos).<br />
28 Jornal da Tribuna, entrevista.01/10/1993