Márcio Vianna - Mônica Prinzac
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O presente dura pouco tempo<br />
essa pesquisa está encerrada, porque a experiência de cegar a cena é muito rica, mas não<br />
é o fim.” 25<br />
O Livro dos cegos, com capacidade para 100 espectadores na platéia, começava<br />
com uma imagem de forte impacto visual: 30 atores vestidos de cinza, com olhos<br />
brancos artificiais, envergando tubos de plástico amarelo que emitiam sons ao serem<br />
girados no ar. Depois desta primeira cena era escuridão até o momento final.<br />
Como em Imaginária, os atores circulavam entre o público, no escuro,<br />
ilustrando a cena com sons, sussurros e cheiros. Desta vez, a situação vivida era a de<br />
uma cega de nascença que sonhava em ser atriz e estava numa mesa cirúrgica tentando<br />
ganhar a visão.<br />
Pela segunda vez em sua carreira, Marcio tentou seguidamente aprofundar uma<br />
questão investida anteriormente, Imaginária e Livro dos Cegos partiram de uma mesma<br />
experimentação: o extermino da imagem em favor dos sentidos. Todas as criticas<br />
escritas do espetáculo diziam que apesar da revolução proposta com a ausência total de<br />
luz, a base em que ele partia era extremamente convencional. Um espetáculo sem<br />
inovações cênicas ou dramaturgica sendo realizado no escuro. Em um teatro feito sem<br />
imagem, a palavra ganha força e deve ser pensada para este fim. O que faz um<br />
espetáculo sensorial? Certamente não é a ausência de imagem, mas <strong>Márcio</strong> precisava<br />
experimentar para descobrir. Na encenação contemporânea o que importa não é apenas,<br />
e nem principalmente, a proliferação de imagens, mas a relação que estabelecemos com<br />
elas, ou seja, a função que assumem no processo de apreensão teatral.<br />
“O que me interessa é descobrir qual a temática deste final de milênio. Todas as<br />
artes estão falando do momento presente, menos o teatro. Em vez da Somália, o teatro<br />
está falando da idade Média, da Grécia antiga. As pessoas que fazem teatro parecem<br />
estar de bunda virada para o futuro e completamente debruçada sobre o passado. Existe<br />
uma reação a um tipo de teatro que se opõe ao que é feito hoje, que propõe a um publico<br />
diferente uma temática diferente. A critica que eu percebo desqualifica essa experiência<br />
como teatro. O que me diverte é que isso ainda deve ficar mais louco, porque talvez a<br />
solução do teatro seja acabar com o espetáculo e caminhar na direção das festas,<br />
grandes farras entre espectador e ator. Acho que eu estou me preparando para isso.” 26<br />
25 Jornal O Globo, entrevista.18/12/1992<br />
26 Jornal O Globo, entrevista.18/12/1992