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Márcio Vianna - Mônica Prinzac

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O presente dura pouco tempo<br />

não era um processo formal esgotado - <strong>Márcio</strong> <strong>Vianna</strong> tomou o caminho radicalmente<br />

oposto e voltando a criticar a imagem - que inebria o espectador e impede-o de viver a<br />

experiência da emoção – montou Imaginária e Livro dos cegos, as primeiras peças<br />

encenadas completamente no escuro em palcos brasileiros.<br />

<strong>Márcio</strong> pretendia levar ao espectador a experiência da cegueira. Desejava que o<br />

público fosse além do visível e percebesse a realidade através dos demais sentidos,<br />

criando a sua própria imagem da encenação. “A emoção não deve depender da orgia<br />

visual ou da sedução pela imagem”, dizia nos ensaios.<br />

Imaginária, com pequenas histórias costuradas, narrava o encontro num motel<br />

de um cego com sua amante de olhos perfeitos. Com um texto que pode ser visto como<br />

realista, <strong>Márcio</strong> pretendia estimular a imaginação dos espectadores numa experiência<br />

sensorial onde eles veriam o que não enxergam. Os atores deveriam ser preparados não<br />

para serem vistos e sim para serem percebidos pela sua presença.<br />

O espaço cênico foi delimitado por 30 cadeiras dispostas em semi-círculo – local<br />

dos espectadores – e no centro havia uma cama onde o casal principal ficava. Os outros<br />

atores (14), sem participarem do texto propriamente dito, movimentavam-se no círculo<br />

e ao redor dele.<br />

Com a falta total de iluminação os espectadores apreenderiam o espetáculo de<br />

outras formas - os atores (mantendo a proximidade) circulavam entre o público, no<br />

escuro, ilustrando a cena com sons, sussurros, cheiros e estados físicos como o vento.<br />

Numa cena de amor entre o casal exalava-se cheiro de jasmim e ouvia-se o barulho de<br />

água que servia para um banho de banheira à dois. Alem de cheiro de frutas e bebida<br />

alcoólica que supostamente estavam sendo saboreados pelo casal.<br />

<strong>Márcio</strong> pensou Imaginária como uma visão sobre os cegos feita por quem<br />

enxerga. Já O Livro dos Cegos que foi montado posteriormente tinha a pretensão de ser<br />

construído sob a ótica dos cegos, mesmo com a consciência de que essa ótica é<br />

extremamente delicada de se apreender.<br />

“Aprendemos com Imaginária que pôr o ator e o espectador no escuro<br />

possibilita uma reflexão sobre a cena contemporânea - totalmente constituída em cima<br />

da beleza e do impacto visual. Quem assistir ao espetáculo vai perceber que talvez a<br />

cena contemporânea esteja nos iludindo com belas imagens e escondendo o que é mais<br />

importante: a presença do ator. Teatro não é ator sendo visto, é ator sendo vivido. Mas

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