Márcio Vianna - Mônica Prinzac
Márcio Vianna - Mônica Prinzac
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O presente dura pouco tempo<br />
vestiam roupas de anjos estilizados com asas nas costas. A trilha sonora era realizada ao<br />
vivo por um octeto vocal que impunha um tom sacro de extrema dramaticidade.<br />
A pesquisa agora girava em torno de uma estética construída sobre a<br />
potencialidade expressiva da escrita cênica – termo utilizado por Artaud. A linguagem<br />
da cena deveria ser mais abrangente que a linguagem das palavras, pois a pesquisa não<br />
visava buscar a representação em cena de um cotidiano, mas um espetáculo onde a vida<br />
é potência e não se pretende parecer com a forma do cotidiano.<br />
<strong>Márcio</strong> estava em busca de uma linguagem que comunicasse através da<br />
teatralidade. Para o espetáculo foram construídas metáforas, símbolos e imagens que só<br />
podiam existir no espaço cênico, ou seja, imagens originais da pratica teatral. No teatro<br />
pode se falar sobre a dor. Pode se explicar a dor sentida. Pode se representar a dor. A<br />
pesquisa visava experimentar uma forma de apresentar essa dor e o espectador seria<br />
criador da dor que ele percebesse.<br />
Nesse espetáculo – totalmente imagético – <strong>Márcio</strong> foi criticado por exibir signos<br />
indecifráveis em meio uma narrativa propositadamente desestruturada e caótica, e mais<br />
uma vez (depois de Marat Marat e da Farra) foi comparado a Gerald Thomas -<br />
disposto a seguir uma trajetória que insiste na feitura de trabalhos herméticos. <strong>Márcio</strong><br />
não identificava semelhança com a proposta de Gerald, apenas reconhecia alguns traços<br />
nos elementos de desconstrução da narrativa.<br />
Eugenio Barba em artigo entitulado “Ações em trabalho” descreve o<br />
entrelaçamento simultâneo de várias ações na representação como algo semelhante ao<br />
que Eisenstein descreve a partir de Vista Del Toledo de El Greco: “o pintor não<br />
reconstrói uma paisagem, mas constrói uma síntese de várias paisagens, fazendo um<br />
montagem dos diferentes lados de um prédio, incluindo até os lados que não são<br />
visíveis, mostrando vários elementos – tirados da realidade, independentemente de cada<br />
um – numa relação nova e artificial.” 24 Para ele em muitos casos, quanto mais difícil se<br />
torna, para um espectador, interpretar ou julgar imediatamente o significado do que está<br />
acontecendo diante de seus olhos em sua cabeça, mas forte é a sensação de viver através<br />
de uma experiência, às vezes de uma maneira obscura, mas talvez mais perto da<br />
realidade de uma experiência.<br />
Circo da solidão talvez tenha sido a experiência de <strong>Márcio</strong> que alcançou o maior<br />
status de um `teatro de imagens´. Não por acaso, em seguida - acreditando que a cena<br />
24 BARBA, Eugenio. Ações em trabalho. Revista Dramaturgia.