Márcio Vianna - Mônica Prinzac
Márcio Vianna - Mônica Prinzac
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O presente dura pouco tempo<br />
70 lugares do teatro foram reduzidos a 50 poltronas para que os atores pudessem - num<br />
resgate de experiências anteriores - sair do palco e correr em volta da platéia. Apesar do<br />
espaço ser tradicional, com palco italiano, <strong>Márcio</strong> pretendia trazer para esta cena<br />
experimentações adquiridas com a explosão do palco na Farra, no Confessional e No<br />
caso dos irmãos Feininger- como a proximidade do público, a exaustão dos atores e a<br />
fragmentação do texto criado em cima de depoimentos.<br />
Algumas influências estéticas foram resgatadas para esta montagem. No<br />
pequeno palco da Aliança francesa estavam espalhados 60 bebês de plástico utilizados<br />
na Farra, algumas das máscaras em forma de cabeça usadas em Marat Marat e 80 velas<br />
acessas no lugar de lampiões.<br />
<strong>Márcio</strong>, durante a experiência da criação coletiva, acreditou que nunca estivera<br />
tão perto de suscitar a emoção do ator e do espectador. “Eu não estou muito preocupado<br />
com a técnica, acho que é importante também, mas eu estou priorizando a própria<br />
questão pessoal e a emoção subseqüente. Eu não tenho interesse no ator muito técnico,<br />
porque eu também não sou um diretor. Eu não entendo de teatro. Eu sou uma pessoa<br />
que faz arte e o que eu faço todo mundo pode fazer. Portanto eu não quero atores<br />
brilhantes, quero pessoas brilhantes, que tenham uma postura autoral e que possam<br />
contribuir significantemente para a construção de uma obra.” 21<br />
O Théâtre du Soleil, nos anos 70, foi responsável por uma inovação: elaborar o<br />
texto cênico numa criação coletiva entre atores e direção. O método desenvolvido para<br />
as improvisações era baseado em temas, roteiros ou indicações técnicas e estilísticas<br />
utilizadas como referência. A improvisação deixava de se apoiar exclusivamente na<br />
memória e na espontaneidade dos atores, para ganhar um objetivo comum. A equipe<br />
utilizava como base de criação as reflexões coletivas em cima de leituras de material<br />
teórico, de textos documentários e históricos. Materiais que enriqueciam o<br />
improvisador, a equipe e a construção do texto.<br />
Ao final da temporada de Coleção de bonecas, numa reflexão sobre a sua<br />
trajetória de investimentos cênicos bem diversificados ao longo de dois anos, <strong>Márcio</strong><br />
comentou: “Posso parecer um diretor incoerente, mas o fato é que há inúmeras<br />
possibilidades de se fazer teatro.”<br />
Este último espetáculo não trouxe novas inquietações estéticas e técnicas, mas<br />
foi importante pela afirmação de que o teatro que se estava buscando só seria alcançado<br />
21 Em Teatroarte 7, entrevista. Novembro de 1990.