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Márcio Vianna - Mônica Prinzac

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O presente dura pouco tempo<br />

de Artaud – a ruptura com a representação, o uso do irracional, o discurso da ação não<br />

ligada à palavra.<br />

Muitos encenadores contemporâneos incorporaram aspectos da linguagem da<br />

performance em suas peças, o nome brasileiro mais relevante era o de Gerald Thomas.<br />

Muitas vezes o trabalho de <strong>Márcio</strong> foi comparado ao de Gerald, não somente por<br />

semelhança na linguagem, mas por que ele era uma referência na cena contemporânea<br />

carioca relacionada à experimentação. Ambos trabalhavam – apesar de propostas e<br />

resultados diferentes – com a apropriação da performance e seu `efeito de<br />

desconstrução´. Esse efeito é realizado através de repetição da imagem ou do som num<br />

efeito de eco visual ou sonoro que pode ser interpretado além do visual e estético,<br />

atuando como instrumento de desconstrução da narrativa, também visto como efeito de<br />

des-realidade ou estranhamento.<br />

“Tratamos aqui da repetição sucessiva e não da simultânea. Acontece<br />

quando o modelo é reproduzido linearmente ou em outra configuração –<br />

sucessivamente – e produz um padrão em si, que pode ser visual ou,<br />

metaforicamente, sonoro e mesmo tátil, como no caso de uma mesma<br />

palavra enunciada continuadamente de forma a que o fonema final se<br />

funda ao primeiro criando uma emissão linear sem início ou fim. O ciclo<br />

descrito pode ganhar outras feições desconstrutivas. Começamos a<br />

perceber um comportamento cambiante tanto de significado (quando<br />

percebemos novos sentidos) quanto da própria sonoridade, no caso da<br />

palavra repetida acima – da familiaridade e identificação do modelo ao<br />

estranhamento e à percepção de novas configurações. O fenômeno que<br />

parece ocorrer aqui é que o primeiro padrão criado mantém-se<br />

perceptível até um ponto de saturação da consciência, quando passa a<br />

ganhar novos contornos de configuração. Essa questão de saturação pela<br />

presença continuada é observada experimentalmente na própria sensação<br />

tátil, como uma pressão sobre a pele. Se persiste por minutos, perdemos<br />

a consciência de sua existência. Ou como no caso da mirada demorada<br />

de um rosto qualquer por muito tempo: de familiar, esse rosto ganha<br />

novo sentido para nós e passamos a percebê-lo como estranho. Os<br />

exemplos sugerem que o fenômeno da “dormência” da consciência por<br />

saturação dá-se também no caso da repetição simultânea, como quando

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