Márcio Vianna - Mônica Prinzac
Márcio Vianna - Mônica Prinzac
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O presente dura pouco tempo<br />
Ao todo foram seis Farras em cinco anos, todas tiveram um formato comum,<br />
mudavam-se os textos, os atores e as regras básicas, mas a proposta central era sempre<br />
mantida. Numa maratona onde o objetivo não era o espetáculo e sim os limites da<br />
representação, os atores corriam de seis a dez horas exaustivamente intercalando cenas e<br />
textos, e havia apenas um roteiro programado com códigos ditando o início e o fim das<br />
cenas que se repetiam aleatoriamente.<br />
O espaço cênico das Farras adotava uma área móvel de representação. O<br />
publico ficava livre - em pé ou sentado no chão - normalmente ao redor de uma área<br />
central. As cenas aconteciam por todos os lados e muitas vezes em planos e alturas<br />
(sacadas, escadas, pisos) diferentes dos espectadores, uma vez que a proposta era<br />
incorporar o espaço ao evento, transformando-o. Essa concepção do espetáculo<br />
possibilitava aos espectadores terem liberdade de ir e vir, conversar, passear e até<br />
invadir o palco para participar. Propondo à platéia uma posição diferente, cada<br />
espectador tinha uma percepção individual das paisagens de som, ritmo, ação e imagens<br />
oferecidas. Bob Wilson foi representante de uma geração que explorou intensamente<br />
esses elementos. Ao montar um espetáculo de 12 horas de duração como “A Vida e a<br />
Época de Joseph Stalin” o espectador era instigado a se libertar da posição<br />
contemplativa de espectador passivo, transformando-se em um espectador ativo onde é<br />
possível escolher o momento de assistir, sair do teatro ou mesmo dormir.<br />
A linguagem experimentada na Farra era subordinada a elementos cênicos sem<br />
referências, sem contextos e sem explicações, apoiados em movimentos de ações e de<br />
textos - pedaços de conversas, repetição de frases, palavras avulsas, sons aleatórios,<br />
músicas, movimentos repetidos e coreografados. Alguns fragmentos de textos eram<br />
ditos para a platéia, os atores iam ao espectador, conversavam com ele, ou mesmo o<br />
conduziam a participar.<br />
Na Audiência de Instrução e Julgamento do Ator Brasileiro havia apenas cinco<br />
regras. Com os anos, em outras Farras, o número de regras foi aumentando. Durante os<br />
ensaios construíu-se um vocabulário comum, dando nome às cenas. O esboço das cenas<br />
era levantado em cima de improvisos direcionados: um tema, uma música, uma foto ou<br />
um texto eram usados como base para a criação de uma imagem cênica. As regras,<br />
ditadas por músicas, eram o `start´ para as cenas. As cenas, por serem entre corridas,<br />
eram sempre realizadas com um alto nível de cansaço numa proposta de `exaustão´,