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Márcio Vianna - Mônica Prinzac

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O presente dura pouco tempo<br />

a dialética do comportamento humano. No momento de um choque psíquico, de terror,<br />

de perigo mortal, ou de imensa alegria, o homem não se comporta naturalmente. O<br />

homem num elevado estado espiritual usa símbolos articulados ritmicamente. O gesto<br />

significativo, não o gesto comum, é para todos nós a unidade elementar de expressão.” 11<br />

Além das máscaras e do corpo expressivo, o outro elemento utilizado a favor da<br />

des-realidade foi o texto gravado e apresentado inteiramente em off. Todos os atores<br />

gravaram suas vozes em estúdio e não falavam em cena, com exceção da personagem<br />

Marat que tinha o rosto descoberto e dialogava ao vivo com a gravação.<br />

Por último, a cenografia, composta de uma banheira móvel (onde Marat viveu<br />

seus últimos anos e foi assassinado) utilizava a água como um elemento vital. Pingos<br />

caiam do teto durante todo o espetáculo e nos momentos mais críticos a intensidade<br />

aumentava, ao final, o palco estava inundado de água e os atores todos molhados.<br />

Marat Marat foi um espetáculo que ficou em cartaz durante três temporadas,<br />

ganhou três importantes prêmios para o teatro carioca e teve boa repercussão de público<br />

e crítica. <strong>Márcio</strong> iniciava aí sua romântica rejeição por espetáculos bem sucedidos. A<br />

favor da transgressão, achava que se um espetáculo tinha sido bem recebido deveria<br />

estar no caminho errado.<br />

Ainda durante a última temporada de Marat, no fim de 89, <strong>Márcio</strong> teve a idéia<br />

de montar dois espetáculos ao mesmo tempo: Vincent e Confessional. Questionando-se<br />

sobre o que chamava de teatro visual – vertente claramente predominante entre os<br />

encenadores contemporâneos – achava que deveria radicalizar a experiência da cena em<br />

função da forma que o espectador apreendia a cena. “Acho o teatro visual uma cilada,<br />

porque daí resultam espetáculos bonitos, mas que em geral, trabalham exclusivamente o<br />

olhar do espectador e não o afetam emocionalmente.” 12<br />

Nos anos 60 e 70 alguns diretores e grupos de teatro mexeram com a tradicional<br />

arte dramática transformando-a no que foi chamado de um “novo teatro” ou “teatro de<br />

imagens”. Foram precursores desta nova ótica artistas como Richard Foreman,<br />

Elizabeth Le Compte e Robert Wilson entre outros. Esse teatro dominado por imagens<br />

tinha como fator mais importantes para o seu desenvolvimento as experiências com o<br />

tempo e o espaço. Livre da lógica cartesiana encontrada nas seqüências narrativas, os<br />

diretores e performers pesquisavam uma nova visão e um novo método de trabalho onde<br />

11 Em busca de um teatro pobre. Artigo de Jerzy Grotowski publicado em Odra (Wroclaw, 9/1965)<br />

12 Caderno de ensaios, 1990.

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