Márcio Vianna - Mônica Prinzac
Márcio Vianna - Mônica Prinzac
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Primeira fase – A transformação da cena<br />
O presente dura pouco tempo<br />
Da estréia como diretor em 1988 ao quito espetáculo passaram-se apenas dois<br />
anos. Para acabar com o julgamento de Deus - 1988, Marat Marat - 1989, Vincent e<br />
Confessional – 1990 e A Farra dos atores - 1991. Três temáticas transgressoras: Artaud,<br />
Jean Paul Marat e Van Gogh. Quatro propostas de repensar a cena: através do texto, dos<br />
elementos, do espaço e do ator.<br />
Considerando esta fase como a primeira e mais importante da trajetória do<br />
encenador é possível pensar nas cinco propostas em diálogo, ora afirmando, ora<br />
negando a experiência anterior num exercício contundente de experimentalismo.<br />
Para Acabar com o Julgamento de Deus foi a estréia de <strong>Márcio</strong> como diretor de<br />
teatro. O espetáculo, realizado dentro de uma oficina para diretores, tinha como<br />
proposta abordar o trabalho de Antonin Artaud sem as tradicionais referências à<br />
loucura. Acreditando que interpretar Artaud, seria destruí-lo, <strong>Márcio</strong> buscou identificar<br />
os temas e questões mais constantes nas obras literárias deste autor-diretor-ator<br />
pesquisando uma nova visão da temática usualmente apresentada em palcos.<br />
O objetivo de Para Acabar com o Julgamento de Deus era experimentar Artaud,<br />
em lugar de representá-lo, com a esperança de poder refletir sobre as associações<br />
complexas de subjetividade, identidade, desejo e espiritualidade que essas experiências<br />
acarretam. Experimentar Artaud partindo do seu próprio elemento - o teatro – e através<br />
de um passeio não linear pela obra construir um diálogo com as suas idéias de mundo.<br />
O desejo Artaudiano de refazer o corpo e reinventar o homem são temas hoje associados<br />
a uma investigação sobre possibilidades, impossibilidades e práticas incorporadas na<br />
sociedade atual.<br />
Antonin Artaud foi responsável por novas perspectivas de compreensão da linguagem, pois pretendia tocar o princípio desta e<br />
não falar sobre ela. Visto como um guerrilheiro em combate contra a representação, Artaud construiu uma crítica à linguagem<br />
achatada e desvitalizada, reivindicando um livre exercício da vida onde o homem deveria ir até o fim de suas possibilidades,<br />
escapando, assim, à prisão inserida numa certa forma de linguagem clara e que tenta dizer tudo. Independente do resultado<br />
cênico alcançado, as questões viscerais levantadas por esse artista, a partir dos anos 70, despertaram também o interesse de<br />
grandes nomes da filosofia, da literatura, das artes plásticas, do cinema e da psicanálise. Sua obra é considerada um marco<br />
interdisciplinar relacionado a questões da linguagem e da representação.<br />
Para essa experiência, <strong>Márcio</strong>, com sua bagagem de fotografia, pretendia utilizar<br />
a linguagem de vídeo na cena, onde a técnica de edição - utilizando cortes e montagem -<br />
eram fomentadores de um tempo narrativo sem linearidade e causalidade.<br />
O palco era dividido, por cortinas, em quatro partes iguais construindo uma<br />
imagem de pequenas cabines onde as cenas se apresentavam alternadas ou