Leia um trecho do volume 3 - Tarja Editorial

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19.04.2013 Views

PARADIGMAS São Paulo Brasil 1ª Edição 2009 Hugo Vera Leandro Reis Saulo Sisnando Lúcio Manfredi Gianpaolo Celli Richard Diegues Wolmyr Alcantara Davi M. Gonzales Camila Fernandes Viviane Yamabuchi Ronaldo Luiz Souza Ludimila Hashimoto Marcelo Jacinto Ribeiro 3

PARADIGMAS<br />

São Paulo<br />

Brasil<br />

1ª Edição<br />

2009<br />

Hugo Vera<br />

Leandro Reis<br />

Saulo Sisnan<strong>do</strong><br />

Lúcio Manfredi<br />

Gianpaolo Celli<br />

Richard Diegues<br />

Wolmyr Alcantara<br />

Davi M. Gonzales<br />

Camila Fernandes<br />

Viviane Yamabuchi<br />

Ronal<strong>do</strong> Luiz Souza<br />

Ludimila Hashimoto<br />

Marcelo Jacinto Ribeiro<br />

3


Copyright © 2009 <strong>Tarja</strong> <strong>Editorial</strong><br />

To<strong>do</strong>s os direitos desta edição reserva<strong>do</strong>s à<br />

<strong>Tarja</strong> <strong>Editorial</strong>. Nenh<strong>um</strong>a parte deste livro<br />

poderá ser reproduzida, de forma alg<strong>um</strong>a,<br />

sem a permissão formal, por escrito da editora<br />

ou <strong>do</strong> autor, exceto para citações incorporadas<br />

em artigos de crítica ou resenhas.<br />

1ª edição em julho de 2009 - Impresso no Brasil<br />

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NÃO PUBLICAÇÃO (CIF)<br />

Paradigmas/ Richard Diegues, Ludimila Hashimoto, Ronal<strong>do</strong> Luiz Souza,... [et al.].<br />

-- São Paulo :<br />

<strong>Tarja</strong> <strong>Editorial</strong>, 2009. -- (Paradigmas ; 3)<br />

1.<br />

ISBN 978-85-61541-11-8<br />

TARJA EDITORIAL LTDA.<br />

Rua Piatá, 633<br />

Santana - São Paulo<br />

CEP 02080-010 / SP<br />

editora@tarjaeditorial.com.br<br />

www.tarjalivros.com.br<br />

www.tarjaeditorial.com.br<br />

EDITOR:<br />

REVISÃO:<br />

PROJETO GRÁFICO:<br />

CAPA:<br />

DIAGRAMAÇÃO:<br />

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:<br />

1. Contos : Antologia : Literatura brasileira<br />

869.9308<br />

Richard Diegues<br />

Camila Fernandes<br />

Mila F<br />

Richard Diegues<br />

Mila F<br />

Richard Diegues<br />

Contos brasileiros: Literatura brasileira: Coletâneas - I. Diegues, Richard.<br />

II. Hashimoto, Ludimila. III. Souza, Ronal<strong>do</strong> Luiz. IV. Sisnan<strong>do</strong>, Saulo. V.<br />

Manfredi, Lúcio. VI. Reis, Leandro. VII. Fernandes, Camila. VIII. Ribeiro,<br />

Marcelo Jacinto. IX. Gonzales, Davi M. X. Celli, Gianpaolo. XI. Alcantara,<br />

Wolmyr. XII. Yamabushi, Viviane. XIII. Vera, Hugo. XVI. Série.<br />

LITERATURA FANTÁSTICA MUITO ALÉM DOS GÊNEROS<br />

[2009]<br />

A revisão dessa obra seguiu as normas da nova reforma ortográfica.<br />

Não, nós também não gostamos, mas não tivemos outra opção.<br />

CDD-869.9308<br />

Todas as citações e nomes incidentes neste livro<br />

são fruto <strong>do</strong> inconsciente coletivo de seus<br />

autores, deven<strong>do</strong> ser encara<strong>do</strong>s como não intencionais.<br />

Caso sinta-se ofendi<strong>do</strong> com algo<br />

nestas páginas, basta fechar a obra. Todavia, se<br />

resolver insistir, compreenda que o mun<strong>do</strong> não<br />

gira ao seu re<strong>do</strong>r e coincidências realmente<br />

ocorrem. Todas as opiniões expressas nessa<br />

obra pertencem aos seus autores, mas o editor<br />

concor<strong>do</strong>u em publicá-las, portanto, partilhar<br />

delas. Reclamar com ele não adiantará. Os animais<br />

que eventualmente foram feri<strong>do</strong>s, molesta<strong>do</strong>s<br />

e tra<strong>um</strong>atiza<strong>do</strong>s durante a produção desta<br />

obra não pertencem a espécies diferentes <strong>do</strong><br />

Homo sapiens. A cola usada na lombada pode<br />

conter glúten. Sim, exercício provoca enfarto<br />

e TV causa retardamento mental. Vá ler!


Não...<br />

...Introdução<br />

[ 3 ]<br />

Recebi os exemplares anteriores da Paradigmas <strong>um</strong>a<br />

dezena de dias atrás, mas a onipresença <strong>do</strong> trabalho pontual<br />

não me permitiu visitar suas páginas (ou revisitar,<br />

em meu caso, pois já havia li<strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong> aspergi<strong>do</strong><br />

em gotas distribuídas) mais ce<strong>do</strong>. Havia dito a Richard<br />

Diegues que essa seria a última seleção da qual tomaria<br />

parte no cargo de seleciona<strong>do</strong>r. Não por falta de gosto,<br />

nem mesmo pela prosaica desculpa <strong>do</strong> tempo faltante;<br />

antes, sim, por <strong>um</strong> impasse que me tem toma<strong>do</strong> às<br />

agulhadas minha própria escrita, da<strong>do</strong> pela condição de<br />

leitor cont<strong>um</strong>az <strong>do</strong>s textos que Diegues me tem envia<strong>do</strong><br />

para avaliação.<br />

O ramo no qual desenvolvo minha escrita é considera<strong>do</strong><br />

pouco “criativista” na literatura, por vezes sen<strong>do</strong><br />

até mesmo “autobiográfico” sem que me pertençam as<br />

memórias. E desde que me enveredei pelas travessas da<br />

Literatura de Fantasia, passei a não mais conseguir desvelar<br />

textos sem caroços de oniricidade elucubrativa.<br />

Aporto aqui estes fatos como <strong>um</strong>a escusa pela minha pretensão<br />

de ausentar-me de algo que tanto me deu prazer:<br />

a minha literatura foi afetada (profundamente) pela leitura<br />

desta coleção. Se anteriormente me quedava por<br />

influências consagradas, agora tenho-as mescla<strong>do</strong> com o<br />

que venho len<strong>do</strong> de contemporâneo. E em crença, compreendi<br />

que isso não era bom para mim mesmo.<br />

Todavia, parlamentan<strong>do</strong> com <strong>um</strong> de meus editores,<br />

por ocasião da entrega de meu mais recente trabalho, ele<br />

me citou exatamente essa percepção nas páginas iniciais<br />

que eu havia reporta<strong>do</strong> <strong>do</strong> original a ele. Era notável então,<br />

não apenas a mim, como ao leitor atento. E, surpreso,<br />

ouvi após as frases iniciais: E isso é muito bom, Heral<strong>do</strong>!<br />

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O que me punha temor passou a ser agrega<strong>do</strong>r e qualitativo<br />

em minha obra? Sim, pois foi o que me disse com clareza o editor.<br />

Com grata surpresa então vi que cresci, tal qual infante que<br />

ganha novas peças para seu Forte Apache. E é sabi<strong>do</strong> que aos<br />

olhos das crianças não importa se índios se batem com elefantes,<br />

espaçonaves, solda<strong>do</strong>s romanos ou carros esporte. É desta nãoharmonia<br />

que surgem as sementes da ficção. E como disse o maior<br />

vende<strong>do</strong>r de livros da história <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>: Então olhei para o<br />

que criei e vi que tu<strong>do</strong> isso era bom.<br />

Uma lição que herdei de meu pai é que não se deve desdenhar<br />

<strong>do</strong> que <strong>um</strong> dia lhe possa dar frutos. Ainda hoje, sempre que<br />

visito a fazenda de minha infância, onde <strong>um</strong> dia se forrava to<strong>do</strong> o<br />

campo de café em pé, sigo ao centro <strong>do</strong> pasto (hoje minha irmã e<br />

sobrinhos optaram pelo ga<strong>do</strong>) e tomo <strong>um</strong>a laranja da única árvore<br />

ali plantada. A cabeça divaga em lembranças de <strong>um</strong> rapazote em<br />

calças curtas, inquiri<strong>do</strong> ao capataz o motivo de apenas <strong>um</strong>a laranjeira<br />

estar ali, centrada no cafezal. Porque ela cresceu aí, ó menino, e<br />

tomou, pois, <strong>do</strong> gostar <strong>do</strong> teu pai, foi o que obtive de resposta.<br />

E a Paradigmas assim é: cresceu em meu peito, tornan<strong>do</strong>-se de<br />

meu gostar. E espero que, independente <strong>do</strong> que vá se tornan<strong>do</strong><br />

com o tempo, ou mesmo <strong>do</strong> tempo que perdure, continue me<br />

dan<strong>do</strong> prazer a cada nova visita.<br />

Neste vol<strong>um</strong>e realizei as leituras com ares de adiós, buen gusto,<br />

mas, ao postar de la<strong>do</strong> meus próprios preconceitos (obriga<strong>do</strong>,<br />

Diegues, por abrir essas portas, minha cabeça e, agora, minhas<br />

asas!) e me encontrar <strong>um</strong> pouco em cada <strong>um</strong> <strong>do</strong>s contos seleciona<strong>do</strong>s<br />

para ele, sorrio e tomo ares de a la siguiente, con gran sabor.<br />

O Prof. Dr. Heral<strong>do</strong> Assis Barber, 86 anos, atua como consultor<br />

e ghost-writer para as maiores editoras <strong>do</strong> planeta, ten<strong>do</strong> prepara<strong>do</strong><br />

mais de 110 originais, vários deles best sellers. É mestre em Teoria<br />

Literária, <strong>do</strong>utor em Literatura Brasileira e em Literatura Norte-Americana,<br />

além de Ph.D em Literatura Inglesa. Possui 8 pseudônimos<br />

que lhe permitem escrever o que quiser sem se envergonhar, apreciar<br />

a companhia <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is netos e caminhar com altivez até o Los Caracoles,<br />

seu restaurante de coração, para tomar <strong>um</strong>a boa taça <strong>do</strong> Imperial.


Quase...<br />

...Introdução<br />

[ 5 ]<br />

Hoje em dia é muito difícil que <strong>um</strong>a coleção alcance<br />

o pretenso segun<strong>do</strong> vol<strong>um</strong>e. Dê <strong>um</strong>a espiada<br />

em <strong>um</strong>a livraria e vai ver infindáveis vol<strong>um</strong>es com o<br />

número 1 impresso na capa. Procure pelo segun<strong>do</strong>.<br />

Não irá encontrá-lo. Nunca. Terceiro? Esqueça! Literatura<br />

é <strong>um</strong>a coisa feita com o coração, de onde se<br />

espreme o sangue para regar o broto até que cresça e<br />

espalhe raízes. Coleções não são fáceis de serem feitas.<br />

Não são brinque<strong>do</strong>s de esp<strong>um</strong>a para esfregar a<br />

gengiva <strong>do</strong>s egos de seus participantes. Não haven<strong>do</strong><br />

<strong>um</strong> trabalho coeso por detrás dela, tu<strong>do</strong> irá desandar,<br />

não há mistério. Para chegar ao segun<strong>do</strong> vol<strong>um</strong>e, necessita-se<br />

de <strong>um</strong> primeiro muito bom. E para alcançar<br />

o terceiro, precisamos de <strong>um</strong> segun<strong>do</strong> de igual<br />

qualidade. E cá estamos: 3. Não sei até onde vamos<br />

chegar – à posteridade, gosto de pensar e me esforço<br />

por alcançar –, mas sei que sigo adiante, preparan<strong>do</strong><br />

o quarto vol<strong>um</strong>e, o quinto...<br />

Nestes três primeiros vol<strong>um</strong>es consegui manter as<br />

premissas da diversidade, qualidade e atemporalidade.<br />

Desde o planejamento inicial da coleção, esses foram<br />

meus pilares. Queria contos que mostrassem diversos<br />

prismas da Literatura Fantástica em estilo, gênero, narrativa<br />

e forma; também necessitava de que tivessem qualidade<br />

inegável, independente <strong>do</strong> r<strong>um</strong>o que o texto tomasse<br />

e <strong>do</strong>s recursos que o autor utilizasse; e os textos<br />

deveriam ser escritos para durar, perdurar.<br />

Minha intenção foi reunir os autores que vêm produzin<strong>do</strong><br />

com mais constância, criatividade, qualidade<br />

ou perseverança dentro da área de Literatura Fantástica<br />

contemporânea. Venho colecionan<strong>do</strong> obras que se-<br />

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jam capazes de, em <strong>um</strong>a leitura analítica, reproduzir <strong>um</strong> panorama<br />

da produção atual desse gênero literário sem que haja distinção<br />

de subgêneros, de forma que essa seleção agrade tanto aos<br />

leitores de hoje como aos das gerações futuras. Tenho orgulho de<br />

bater no peito e dizer que estou conseguin<strong>do</strong>. Bem, que se registre!<br />

O trabalho é árduo, as pedras são pesadas e quadradas, os<br />

olhares nem sempre são dirigi<strong>do</strong>s com tom de incentivo, mas continuo<br />

em frente. E estou a<strong>do</strong>ran<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s.<br />

Não houvesse nítida qualidade nos vol<strong>um</strong>es anteriores, não<br />

estaríamos com o barco aportan<strong>do</strong> neste terceiro vol<strong>um</strong>e. Ele teria<br />

feito água e estaria coberto de corais, deixan<strong>do</strong> apenas os peixes<br />

beliscarem aqui e ali.<br />

Cada vol<strong>um</strong>e apresenta autores que realmente se identificaram<br />

com o projeto, apostan<strong>do</strong> nele e dan<strong>do</strong> o melhor de si para<br />

participar, além de divulgar o seu trabalho. Esta não é <strong>um</strong>a coleção<br />

de nomes certos. Temos iniciantes, profissionais, consagra<strong>do</strong>s e<br />

até mesmo – me orgulho de dizer – crias da casa, com seu début<br />

em papel nestes vol<strong>um</strong>es.<br />

É evidente a existência de gregos e troianos, cada grupo ten<strong>do</strong><br />

predileção por <strong>um</strong> ou outro conto. Eu próprio pulo de <strong>um</strong> pé a<br />

outro em meus gostos pessoais. Isso nos caracteriza como h<strong>um</strong>anos:<br />

individualidade! Não há obra que, sen<strong>do</strong> plural, agrade em<br />

sua individualidade, mas tenho certeza de que cada vol<strong>um</strong>e atende<br />

plenamente a to<strong>do</strong>s os seus leitores na totalidade.<br />

Quebrar – ou manter – paradigmas é tarefa delicada a ser<br />

talhada cuida<strong>do</strong>samente com <strong>um</strong>a britadeira. A interpretação de<br />

onde cada paradigma foi trabalha<strong>do</strong> pode ser <strong>um</strong>a busca complexa.<br />

Mas sei que o leitor atento conseguirá ter prazer em encontrar<br />

essa linha que cria a unicidade das obras. E, como este livro está<br />

em suas mãos, sei que é <strong>um</strong> desses leitores. Boa sorte adiante! Siga<br />

com prazer. Desfrute destes Paradigmas!<br />

Richard Diegues<br />

Organiza<strong>do</strong>r, inclusive!


A Verdadeira...<br />

...Introdução<br />

[ 7 ]<br />

[ 1 1 ] Baby Beef, Baby! » Richard Diegues »<br />

autor <strong>do</strong>s livros Tempos de AlgóriA (2009), Sob A Luz <strong>do</strong><br />

Abajur (2007) e Magia – Tomo I (1997), além de<br />

organiza<strong>do</strong>r e co-autor <strong>do</strong> livro Visões de São Paulo – Ensaios<br />

Urbanos (2006) e co-autor <strong>do</strong>s livros Histórias <strong>do</strong><br />

Tarô (2008), Necrópole – Histórias de Bruxaria (2008),<br />

Necrópole – Histórias de Fantasmas (2006) e Necrópole –<br />

Histórias de Vampiros (2005). Trabalha com eventos e palestras<br />

na área literária, atuan<strong>do</strong> também como editor<br />

pela <strong>Tarja</strong> <strong>Editorial</strong>. Paga as contas como programa<strong>do</strong>r<br />

de computa<strong>do</strong>res, consultor editorial em apoio a novos<br />

autores, rastrean<strong>do</strong> hackers e jogan<strong>do</strong> bilhar. É o<br />

idealiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> projeto Paradigmas e participou <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />

vol<strong>um</strong>es anteriores, além deste. Churrascadas:<br />

richard@tarjaeditorial.com.br<br />

[ 2 5 ] O Mito da Fecundação » Ludimila<br />

Hashimoto » Nipo-carioca residente em São Paulo há<br />

17 anos, traduziu cerca de 20 livros, dentre os quais A Voz<br />

<strong>do</strong> Fogo (2002), de Alan Moore, e 8 livros da série Discworld,<br />

de Terry Pratchett. Publicou textos no seu blog, o extinto<br />

Argamassa Gorda, e nos sites Letra & Vídeo e Terroristas da Conspiração.<br />

Teve também o seu conto Harmonia <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> publica<strong>do</strong><br />

na revista eletrônica de ficção científica Terra Incógnita<br />

(2008). Delícias: milahashi12@gmail.com<br />

[ 3 5 ] Reminiscências de <strong>um</strong> Mun<strong>do</strong> Verde »<br />

Ronal<strong>do</strong> Luiz Souza » Forma<strong>do</strong> em Administração e<br />

pós-gradua<strong>do</strong> em Direito Tributário, trabalha na área jurídica,<br />

mas possui desde a mais tenra infância paixão por<br />

livros e literatura. Co-autor <strong>do</strong>s livros Réquiem Para o Natal<br />

(2008), Universo Paulistano (2009), Solari<strong>um</strong> (2009), Contos<br />

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Seleciona<strong>do</strong>s de Novos Autores Brasileiros (2009), Fiat Voluntas Tua (2009),<br />

Enigmas <strong>do</strong> Amor (2009), Contos de Outono (2009) e Dias Conta<strong>do</strong>s (2009).<br />

Também possui quatro outras obras das quais fará parte ainda em 2009.<br />

Outros textos podem ser encontra<strong>do</strong>s no blog Refúgio das Palavras, <strong>do</strong><br />

próprio autor. Aromas: rolusouza@gmail.com<br />

[ 3 9 ] O Animal Morto » Saulo Sisnan<strong>do</strong> » Escritor,<br />

dramaturgo, ator e diretor teatral nasci<strong>do</strong> no Ceará, mas moran<strong>do</strong><br />

atualmente em Belém, onde é <strong>um</strong> <strong>do</strong>s mais populares autores <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará. Autor <strong>do</strong> romance fantástico infanto-juvenil Puzzle<br />

– Tenha Fôlego Para Chegar ao Fim! (2005). Escreveu os espetáculos<br />

teatrais As R<strong>um</strong>inantes (2009), popPORN – Sete Vidas e Infinitas Possibilidades<br />

de Corações Parti<strong>do</strong>s (2009), Cartas Para Ninguém (2009),<br />

Trash – O Outro La<strong>do</strong> <strong>do</strong> popPORN (2008), Útero – Fragmentos Românticos<br />

da Vida Feminina! (2007) e criou o arg<strong>um</strong>ento e a quarta história<br />

<strong>do</strong> espetáculo Quatro Versus Cadáver (2009), <strong>um</strong>a trama noir escrita<br />

em conjunto com três autores paraenses. Pertences:<br />

saulosisnan<strong>do</strong>@hotmail.com<br />

[ 4 7 ] Lamentações de Jeremias » Lúcio Manfredi »<br />

Escritor e roteirista de televisão com contos publica<strong>do</strong>s nas antologias<br />

Intempol (2000), Como Era Gostosa a Minha Alienígena (2002),<br />

Vinte Voltas ao Re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Sol (2005), Histórias <strong>do</strong> Olhar (2002) e Novelas,<br />

Espelhos & Um Pouco de Choro (2001). Para a tevê, escreveu <strong>do</strong>is<br />

episódios de Brava Gente com temática fantástica, As Aventuras de<br />

Chico Norato Contra o Boto Vingativo (2001) e a adaptação de Bilac Vê<br />

Estrelas (2006), de Ruy Castro. Foi colabora<strong>do</strong>r das minisséries A<br />

Casa das Sete Mulheres (2006) e Um Só Coração (2004). Integrou<br />

ainda a equipe das novelas Como <strong>um</strong>a Onda (2005) e Ciranda de Pedra<br />

(2008). Curtas: luciojpm@uol.com.br<br />

[ 5 1 ] Esperança Corrompida » Leandro Reis » Mora<strong>do</strong>r<br />

de São José <strong>do</strong>s Campos, interior de São Paulo, é o autor <strong>do</strong> livro<br />

Filhos de Galagah (2008). Hoje, trabalha na publicação de mais obras<br />

de seu mun<strong>do</strong> fantástico: Grinmelken. Também é autor de diversos<br />

contos, disponibiliza<strong>do</strong>s em sites, revistas virtuais e antologias<br />

publicadas. Mais informações podem ser adquiridas no site<br />

Grinmelken. Meses: contato@grinmelken.com.br


[ 5 9 ] Em Berço Esplêndi<strong>do</strong> » Camila Fernandes »<br />

É escritora e revisora de textos, enquanto seu alter ego, Mila F., é<br />

ilustra<strong>do</strong>ra. Nascida e residente em São Paulo, capital, lançou contos<br />

no NecroZine e nos livros Necrópole – Histórias de Vampiros (2005),<br />

Necrópole – Histórias de Fantasmas (2006), Visões de São Paulo – Ensaios<br />

Urbanos (2006), Necrópole – Histórias de Bruxaria (2008) e<br />

Paradigmas – vol<strong>um</strong>es 1 e 2 (2009). Seu trabalho alia o rotineiro ao<br />

bizarro, o realista ao onírico. No momento, está preparan<strong>do</strong> <strong>do</strong>is<br />

livros-solo, ilustran<strong>do</strong> como freelancer e fazen<strong>do</strong> as capas da coleção<br />

Paradigmas. Turismo: camilailustra<strong>do</strong>ra@gmail.com<br />

[ 6 7 ] Choque de Civilizações » Marcelo Jacinto Ribeiro »<br />

Técnico em informática sem paciência para ficar tranca<strong>do</strong> em<br />

laboratórios, passou sua vida profissional viven<strong>do</strong> fortes emoções<br />

no comércio e, ao invés de ir até o mun<strong>do</strong>, fez o mun<strong>do</strong> vir<br />

até ele. Publicou vários minicontos no projeto on-line Letra &<br />

Vídeo e no e-zine Black Rocket e está se divertin<strong>do</strong> pacas com tu<strong>do</strong><br />

isso! Autor iniciante cheio de fome e curiosidade, bibliófilo ass<strong>um</strong>i<strong>do</strong>,<br />

confesso e sem arrependimentos, PNE involuntário e<br />

sobrevivente profissional, atualmente passa seu gigantesco tempo<br />

livre escreven<strong>do</strong> sobre tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s. Maldições ancestrais:<br />

spit_mkv@yahoo.com.br<br />

[ 7 5 ] Hatzemberger » Davi M. Gonzales » Engenheiro<br />

por formação, especialista em gestão da Administração<br />

Pública, atua na Administração Pública Federal. Residente<br />

em São Caetano <strong>do</strong> Sul. Podia estar rouban<strong>do</strong>, matan<strong>do</strong>...<br />

mas está aqui, honestamente divulgan<strong>do</strong> suas histórias. Acredita<br />

que a TV emburrece e que os livros são o melhor antí<strong>do</strong>to<br />

contra o entorpecimento da mente. Outros contos publica<strong>do</strong>s,<br />

de forma não virtual: Prêmio UFF de Literatura (2008),<br />

Coletânea da Secretaria de Cultura de Niterói (2008), Antologia<br />

da Academia Niteroiense de Letras (2008), Coletânea FC <strong>do</strong> B –<br />

Ficção Científica Brasileira – Panorama 2006/2007 (2007), Antologia<br />

de Contos Fantásticos – CBJE – Câmara Brasileira de Jovens<br />

Escritores (2007), Antologia ASES - Associação <strong>do</strong>s Escritores de<br />

Bragança Paulista (2006), Antologia UNIVAP (2005) e Antologia<br />

Idiossincrasias (2003). Liturgias: davimegon@yahoo.com


[ 8 1 ] O Cavaleiro e o Senhor <strong>do</strong> Inverno » Gianpaolo Celli<br />

» Além de administra<strong>do</strong>r de empresas, é escritor e editor. Sempre<br />

com <strong>um</strong> livro em mãos, é <strong>um</strong> leitor cont<strong>um</strong>az, estudioso de ocultismo,<br />

esoterismo e mitologia. Antes de se voltar à literatura, trabalhou<br />

com quadrinhos e apresentan<strong>do</strong> matérias e aventuras-solo de fantasia<br />

na revista Dragão Brasil. Atualmente, além de colunista <strong>do</strong> site de<br />

neopaganismo Tribos de Gaia, é co-autor da coleção Necrópole, com os<br />

livros Histórias de Vampiros (2005), Histórias de Fantasmas (2007) e Histórias<br />

de Bruxaria (2008), e <strong>do</strong> livro Visões de São Paulo – Ensaios Urbanos<br />

(2006). Também é co-editor e co-autor <strong>do</strong>s livros Histórias <strong>do</strong> Tarô (2008)<br />

e Steampunk (2009). Br<strong>um</strong>as: giancelli@yahoo.com<br />

[ 9 1 ] Velha Remington » Wolmyr Alcantara » Atualmente,<br />

finalizan<strong>do</strong> (lutan<strong>do</strong> com) a dissertação de mestra<strong>do</strong> sobre<br />

Memorial de Aires, de Macha<strong>do</strong> de Assis. Professor de Literatura.<br />

Bacharel (sem vocação) em Jornalismo. Isso no mun<strong>do</strong> ficcional.<br />

No mun<strong>do</strong> real: leitor de Terror e Fantástico, Allan Poe e Lovecraft<br />

e outro bruxo, o <strong>do</strong> Cosme Velho. Publicou na antologia portuguesa<br />

Por Universos Nunca Dantes Navega<strong>do</strong>s (2007) e na revista<br />

Scari<strong>um</strong>. Recebeu alg<strong>um</strong>as menções honrosas em concursos literários.<br />

Participa da lista virtual Oficina de Escritores. Acredita em magia.<br />

Originais: aimberef@yahoo.com.br<br />

[ 101 ] De Vento e Pedra » Viviane Yamabuchi » Artefinalista<br />

de histórias em quadrinhos <strong>do</strong>s estúdios Mauricio de<br />

Sousa desde 1994, ilustra<strong>do</strong>ra freelancer, formada em Design<br />

Gráfico e bailarina de dança indiana e dança <strong>do</strong> ventre quan<strong>do</strong><br />

sobra tempo. Estrean<strong>do</strong> como escritora neste vol<strong>um</strong>e da Coleção<br />

Paradigmas. Aquarelas: vassouramagica@yahoo.com.br<br />

[ 109 ] O Homem Bicorpóreo » Hugo Vera » É forma<strong>do</strong> em<br />

Publicidade e Propaganda desde 1998. Paulistano radica<strong>do</strong> em São<br />

Bernar<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campo, planeja desde pequeno a conquista <strong>do</strong> universo.<br />

É hoje <strong>um</strong> <strong>do</strong>s modera<strong>do</strong>res da Comunidade de Ficção Científica<br />

<strong>do</strong> Orkut e participou das primeiras edições <strong>do</strong> Prêmio Bráulio Tavares<br />

com os contos O Futuro é o Passa<strong>do</strong> (2007) e O Homem Bicorpóreo (2008),<br />

este classifica<strong>do</strong> em terceiro lugar pelo júri popular. Conspirações<br />

interplanetárias: email@hugovera.com.br


Baby Beef, Baby!<br />

Este é <strong>um</strong> conto dentro <strong>do</strong> meu universo de ficção <strong>do</strong> livro Cyber Brasiliana.<br />

Nele eu junto duas paixões que me acompanham desde a a<strong>do</strong>lescência (motocicletas<br />

– sou motociclista – e desenvolvimento de inteligências programadas<br />

– sou programa<strong>do</strong>r) e incluo em minha terceira, que é a literatura. Eu escrevi<br />

meu romance totalmente nesse ritmo alucina<strong>do</strong>, onde tento fazer com que o<br />

leitor fique preso <strong>do</strong> início ao fim em <strong>um</strong>a leitura de <strong>um</strong> só fôlego. Go!<br />

Richard Diegues<br />

[ 11 ]<br />

Areia nos olhos. Alfinetes nos pulsos. Torniquete<br />

na lombar. Dor <strong>do</strong>s infernos! Não estivesse há mais de<br />

vinte horas consecutivas debugan<strong>do</strong> <strong>um</strong> programa de<br />

testes para montar a apresentação aos Desenvolve<strong>do</strong>res<br />

– sem erros, pelamordedeus! – acreditaria que havia <strong>um</strong>a<br />

negra velha, lambe<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Papa Legba, foden<strong>do</strong> <strong>um</strong><br />

boneco com a sua cara lá na Africanísia.<br />

Espreguiçou como <strong>um</strong> gato. Rangeu como <strong>um</strong> tamborim.<br />

Gemeu longamente.<br />

– Ou descolo esse teste hoje ou me acabo – resmungou,<br />

arrancan<strong>do</strong> o vídeo-óculos com a mão direita,<br />

arremessan<strong>do</strong>-o sobre o tampo da mesa à sua frente.<br />

Sentia-se <strong>um</strong> lixo ao esfregar os olhos.<br />

No Hipermun<strong>do</strong>, ao ser desconecta<strong>do</strong> bruscamente,<br />

seu avatar entrou em pausa. Os braços pixela<strong>do</strong>s<br />

desabaram ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo. Seria apenas <strong>um</strong>a representação,<br />

<strong>um</strong> boneco, até a reconexão. Assim, para<strong>do</strong>,<br />

queixo cola<strong>do</strong> ao peito, parecia com seu possui<strong>do</strong>r:<br />

imagem <strong>do</strong> desânimo.<br />

Caminhan<strong>do</strong> com passos arrasta<strong>do</strong>s até a geladeira,<br />

G.ZuZ abriu a porta e apanhou <strong>um</strong>a Laurentina,<br />

ignoran<strong>do</strong> o aviso no monitor <strong>do</strong> eletro<strong>do</strong>méstico<br />

alertan<strong>do</strong> que estaria morna. Tocou o foda-se e tomou<br />

meia garrafa de <strong>um</strong>a vez. Quente. Deu <strong>um</strong> chute no<br />

aparelho, fechan<strong>do</strong> a porta. Entornou o resto da cerveja,<br />

bochechan<strong>do</strong>.<br />

Precisava de ajuda. Finalmente admitia. Não aceitava.<br />

Levou três meses desenvolven<strong>do</strong> Shesh Nag/CLC<br />

1.0 e agora não conseguia fazer nenh<strong>um</strong> teste que comprovasse<br />

seu funcionamento. O programa era <strong>um</strong> plugin<br />

para o Vishnu e, se fosse aprova<strong>do</strong> pelo Comitê de Inte-<br />

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[ BABY BEEF, BABY! ]<br />

ligências Programadas, os Desenvolve<strong>do</strong>res, seria incorpora<strong>do</strong> ao kernel <strong>do</strong><br />

Hipermun<strong>do</strong>. E isso lhe renderia além de muitas moedas, sua bunda na macia<br />

cadeira virtual que havia vaga<strong>do</strong> no CIP.<br />

Os hindus sempre foram os melhores em software de ponta, e os primeiros<br />

a fugirem para a Euronova quan<strong>do</strong> abriram as vagas para engenharia<br />

<strong>do</strong> novo programa que substituiria a antiga rede mundial. O algoritmo <strong>do</strong><br />

Vishnu era o pilar central <strong>do</strong> 3Murti. Eles o criaram. Brahma era responsável<br />

por gerir e recriar toda a codificação auto-sustentável <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> virtual.<br />

Shiva era quem limpava o sistema, eliminan<strong>do</strong> e destruin<strong>do</strong> as instruções<br />

obsoletas ou proibidas. Para conservar os códigos em funcionamento, Vishnu<br />

havia si<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong>. Os três programas trabalhavam juntos e eram responsáveis<br />

pelas engrenagens <strong>do</strong> Hipermun<strong>do</strong> funcionarem de forma azeitada.<br />

Com o tempo foram desenvolvi<strong>do</strong>s novos méto<strong>do</strong>s e programas auxiliares.<br />

Remen<strong>do</strong>s para cuidar das novas situações. E elas surgiam diariamente, no<br />

princípio de <strong>um</strong> mun<strong>do</strong> em pixel-formação.<br />

Shesh Nag/CLC 1.0 era <strong>um</strong> derivativo de Vishnu. Deveria servir especificamente<br />

para proteção de <strong>um</strong> tipo de avatar em particular que havia si<strong>do</strong><br />

desenvolvi<strong>do</strong> para a República. Mas, para provar sua eficácia, era necessário<br />

<strong>um</strong> teste. Melhor dizen<strong>do</strong>: <strong>um</strong> teste!<br />

Olhou para o arcaico desktop na mesa de canto. Praguejou. Então praguejou<br />

novamente. Teria que jogar sujo. Ter sangue nas mãos. Novamente.<br />

Não desejava começar dessa forma, mas já lhe avisaram que o poder corrompia.<br />

Ao conectar-se à sub-rede, submun<strong>do</strong>, aban<strong>do</strong>nou a esperança de<br />

escapar <strong>do</strong> paradigma. Teclou, dan<strong>do</strong> de ombros.<br />

pr hp sf-tstdrv nv hr2 NI-5 min /rm –tdr3 agrcct<br />

Suspirou e releu a mensagem antes de dar o enter: “preciso de ajuda<br />

para teste de estresse de software, novo, no Hipermun<strong>do</strong>. Necessito<br />

entrega<strong>do</strong>r de nível cinco. Ótima remuneração. O teste-drive é de risco<br />

três. Aceito agenciamento ou contato direto”. Depois de reler, pensou melhor,<br />

trocan<strong>do</strong> o risco para cinco, antes de enviar o chama<strong>do</strong> na banda clandestina.<br />

Não queria se precipitar, fazer <strong>um</strong>a cagada. Outra. Se mentisse quanto<br />

ao risco da missão, poderia perder mais <strong>do</strong> que sua reputação. A coisa se<br />

espalharia. To<strong>do</strong>s que não deveriam saber saberiam. Já contratara serviço no<br />

submun<strong>do</strong> antes. Terceirizara <strong>um</strong> entrega<strong>do</strong>r. Só se enganara quanto ao seu<br />

contratante. O submun<strong>do</strong> não gosta de saber que está ajudan<strong>do</strong> as agências<br />

[ 12 ]


[ RICHARD DIEGUES ]<br />

<strong>do</strong> Conclave América-OldEuropean. In God we described! God curr the Queen!<br />

Sabia que, se mentisse deliberadamente, poderia perder mais <strong>do</strong> que <strong>um</strong>a<br />

orelha. Ou alguns de<strong>do</strong>s. E só lhe restavam oito agora.<br />

O ar estalou com a guinada brusca feita pelo Entrega<strong>do</strong>r ao desviar de<br />

<strong>um</strong>a tartaruga de trinta toneladas. Com destreza costurou, entre ela e <strong>um</strong><br />

bate<strong>do</strong>r de fliper que colidia com <strong>um</strong>a esfera de aço de três metros – e que<br />

era repelida a mais de 800 km/h. Uma baita porrada! E passou a meio metro<br />

dele. Seu coração disparou para 90 batimentos por minuto; informou <strong>um</strong>a<br />

tela, à sua esquerda, em sua visão periférica. Repuxou o canto da boca,<br />

comandan<strong>do</strong> a tela a ir para o quinto <strong>do</strong>s infernos. Raciocinava o que seria<br />

aquela esfera no mun<strong>do</strong> real. Sabia que não era outro entrega<strong>do</strong>r.<br />

Entrega<strong>do</strong>res não colidiam a 800 km/h. A não ser os muito jovens. Cabaços!<br />

Esses até faziam merda, mas no mínimo com o <strong>do</strong>bro dessa velocidade.<br />

Morriam dignamente.<br />

Uma seta em tom magenta, quase fluorescente, piscou alguns quilômetros<br />

à frente, no canto da ro<strong>do</strong>via virtual. Franzin<strong>do</strong> o cenho, reduziu <strong>um</strong>a<br />

marcha na sua Speedy R1900 e tocou o freio até baixar a velocidade da<br />

motocicleta para perto <strong>do</strong>s 600 km/h. Remexeu a dentadura solta para <strong>um</strong><br />

la<strong>do</strong>, e depois para o outro canto da boca. Nervosismo puro. Não solicitara<br />

alteração de rota. Alguém mandara o sinal para ele. Poderia ser coisa de<br />

gangue atrás de motocicletas – a esfera poderia ter si<strong>do</strong> <strong>um</strong> míssil? – ou poderia<br />

ser grana pintan<strong>do</strong>. Estava quase na divisa com o antigo Chile. O país havia<br />

si<strong>do</strong> anexa<strong>do</strong> havia duas semanas pela República Brasiliana. Muita coisa estava<br />

em mudança ali. Muitas moedas – e cabeças – estavam rolan<strong>do</strong>.<br />

Atirou-se na curva indicada, derrapan<strong>do</strong> de leve, seguin<strong>do</strong> a seta.<br />

Seu pescoço estalou as juntas, já quase desprovidas de cartilagem. Se<br />

não fosse pelo trampo, ao menos seria pela emoção. As rodas trepidaram<br />

antes <strong>do</strong>s amortece<strong>do</strong>res se ajustarem ao terreno. Praguejou com<br />

sua própria próstata. Enxergava a renderização de <strong>um</strong>a estrada de tijolos<br />

amarelos, o que indicava que cruzara seu programa de pilotagem com o<br />

de alguém. Sabia que no mun<strong>do</strong> real estava trafegan<strong>do</strong> em <strong>um</strong>a via secundária<br />

da estrada. Perpendicular. Terra batida e cascalho. Outra seta<br />

piscou. Ao la<strong>do</strong> dela, Espantalho sorria <strong>um</strong> rabisco torto. Indicava que<br />

virasse à direita. Um quilômetro na direção indicada e Homem-de-lata<br />

estaria lá. Esse gesticulou para que diminuísse a velocidade e apontou<br />

[ 13 ]<br />

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[ BABY BEEF, BABY! ]<br />

<strong>um</strong>a ponte na transversal. Ela parecia tão estável quanto os dentes dele.<br />

Mas não caiu quan<strong>do</strong> a cruzou.<br />

Desplugou-se <strong>do</strong> simula<strong>do</strong>r. Seu visor <strong>do</strong> capacete ficou incolor e viu que<br />

estava em <strong>um</strong>a fazenda de soja. Encostou a motocicleta embaixo de <strong>um</strong>a placa<br />

de transgênicos. Havia mais de quarenta anos que não comia nada que tivesse<br />

soja. Qualquer tipo de grão. Apenas a boa e velha carne era confiável. Não<br />

planejava chegar aos cem anos. Não ia querer coisas estranhas crescen<strong>do</strong> dentro<br />

dele antes de bater os coturnos. Deixou a máquina inicializada para o caso<br />

de precisar sair rápi<strong>do</strong> dali. Pelo mesmo motivo deixou as duas pistolas destravadas<br />

nos coldres. As mãos eram rápidas, mesmo com a artrite, mas não custava<br />

<strong>um</strong>a ajudazinha. Foi rangen<strong>do</strong> até o sujeito com o exoesqueleto caro, senta<strong>do</strong><br />

na espreguiçadeira em frente ao casarão. Tão velho quanto ele. Talvez mais.<br />

A idade, a posição em que estava deita<strong>do</strong> e o caramanchão flori<strong>do</strong> ao fun<strong>do</strong><br />

fizeram com que o Entrega<strong>do</strong>r relaxasse <strong>um</strong> pouco. Pouco.<br />

– Leônidas, certo? – o velho perguntou, acenan<strong>do</strong> com o de<strong>do</strong> e tocan<strong>do</strong><br />

a ponta <strong>do</strong> chapéu panamá. O Entrega<strong>do</strong>r aquiesceu sem dizer nada. –<br />

Como anda?<br />

– Corren<strong>do</strong> – o Entrega<strong>do</strong>r respondeu, retiran<strong>do</strong> o capacete enquanto<br />

sentava em <strong>um</strong>a cadeira de vime na frente <strong>do</strong> outro. – E <strong>do</strong>en<strong>do</strong>.<br />

– Muitos trabalhos?<br />

– Escassos. É a idade, preferem os mais jovens. São mais lentos, mas<br />

bem mais baratos.<br />

– Muitas moedas? – Ele ergueu a vasta sobrancelha branca.<br />

– É <strong>um</strong>a pergunta ou estamos negocian<strong>do</strong>? – O Entrega<strong>do</strong>r também<br />

fez menção de erguer a sobrancelha, mas há anos as perdera.<br />

– Sempre negocian<strong>do</strong> – o sorriso <strong>do</strong> velho era sincero. Ele apanhou <strong>um</strong><br />

armtop de dentro <strong>do</strong> alforje de fibra em sua perna e o arremessou para o<br />

Entrega<strong>do</strong>r. – Última linha. Não havia computa<strong>do</strong>r melhor até ontem.<br />

Com perícia, Leônidas o girou nas mãos, arregaçou a manga da jaqueta,<br />

e acoplou o equipamento ao braço esquer<strong>do</strong>, sobre a pele enrugada. Menos<br />

de <strong>um</strong> segun<strong>do</strong> até o aparelho rastrear seu Cartão de Identificação, baixar os<br />

da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> antigo palmtop em sua cintura, rastrear as preferências <strong>do</strong> seu<br />

capacete e identificar mais de trinta eletro<strong>do</strong>mésticos e aparelhos greentooth<br />

na região com banda livre para se conectar ao Hipermun<strong>do</strong>. A porra <strong>do</strong><br />

visorzinho de plasma parecia sorrir para ele, convenci<strong>do</strong>.<br />

– Qual é a pegada? – perguntou, cobrin<strong>do</strong> seu novo equipamento com<br />

a manga da jaqueta. Sim, era seu. Ninguém o tiraria dali. Que tentassem.<br />

[ 14 ]


[ RICHARD DIEGUES ]<br />

– Um cliente precisan<strong>do</strong> de <strong>um</strong> entrega<strong>do</strong>r NI-5 para <strong>um</strong> teste de programa<br />

no Hipermun<strong>do</strong>. Estou intermedian<strong>do</strong>. Tem nível pra isso, velho?<br />

– NI-6, velho – a resposta foi cuspida. – Sabe disso pela minha retroficha.<br />

Sei que a leu.<br />

– Apenas entabulo <strong>um</strong>a conversa amigável – o intermedia<strong>do</strong>r falou,<br />

apanhan<strong>do</strong> <strong>um</strong>a pequena barrica. Encheu <strong>do</strong>is copos com <strong>um</strong> líqui<strong>do</strong> amarela<strong>do</strong>.<br />

Ofereceu <strong>um</strong> deles ao Entrega<strong>do</strong>r.<br />

– Qual tipo de software? – virou o copo em <strong>um</strong>a talagada.<br />

– Do pior. Apaga o avatar, limpa o Cartão, transforma a mente em<br />

estr<strong>um</strong>e de cabra. Ou não. O risco é nível cinco. Barra pesada. Coisa pra<br />

macho, não pra florzinha. Conexão até o fim <strong>do</strong> serviço, sem saída no meio.<br />

Arregou, dançou!<br />

– Seis mil moedas – foi a resposta <strong>do</strong> Entrega<strong>do</strong>r, sem nenh<strong>um</strong>a inflexão<br />

distinta na voz – E mais <strong>um</strong>a <strong>do</strong>se dessa cachaça.<br />

O intermedia<strong>do</strong>r sorriu. Seu exoesqueleto deu <strong>um</strong> rangi<strong>do</strong> e <strong>um</strong> suspiro<br />

hidráulico quan<strong>do</strong> arremessou a barrica de bebida para o outro. O velho<br />

entrega<strong>do</strong>r a apanhou com <strong>um</strong>a das mãos, enquanto com a outra enxugava<br />

o suor que escorria pela calva.<br />

Contente, ele coçou o testículo por debaixo <strong>do</strong> exoesqueleto. A margem<br />

de lucro seria ótima, mesmo sem descontar o armtop.<br />

G.ZuZ já havia cria<strong>do</strong> mais de trinta programas para simulação de testes<br />

em Shesh Nag. Usou o que havia de melhor em algorimetria cerebral,<br />

cruzan<strong>do</strong> com bases de da<strong>do</strong>s bélicas e simula<strong>do</strong>res de ação. Seu programa<br />

havia elimina<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> com esforço sete. A escala ia <strong>do</strong> <strong>um</strong> ao cinqüenta. Se<br />

ele fosse <strong>um</strong> iniciante, acharia aquilo ótimo. Não era! E achava <strong>um</strong>a merda.<br />

Conseguira criar <strong>um</strong> ótimo programa, mas não sabia se era à prova de falhas.<br />

O dilema era exatamente igual ao <strong>do</strong>s diamantes. Como se cortavam<br />

diamantes no século passa<strong>do</strong>? Com outro diamante ainda mais duro. Essa<br />

era a resposta. Precisava encontrar esse durão rápi<strong>do</strong>. Se aparecesse na reunião<br />

<strong>do</strong>s Desenvolve<strong>do</strong>res sem apresentar <strong>um</strong> teste de verdade, eles o colocariam<br />

na geladeira. Não teria outra chance de provar a capacidade de seu<br />

código. Sabia que deveria haver centenas desenvolven<strong>do</strong> o mesmo que ele,<br />

visan<strong>do</strong> a vaga no CIP.<br />

Quan<strong>do</strong> a Africanísia – naquela época ainda <strong>um</strong> continente repleto de<br />

países, não a superpotência que é agora como <strong>um</strong> país unifica<strong>do</strong> – conseguiu<br />

[ 15 ]<br />

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[ BABY BEEF, BABY! ]<br />

aplicar o Golpe <strong>do</strong> Ouro nos países <strong>do</strong> eixo-norte, afundan<strong>do</strong> a economia<br />

americana e européia, o Brasil resolveu que também tinha seus próprios<br />

pauzinhos para esfregar. O Embargo da Carne foi chama<strong>do</strong> de the nail in the<br />

coffin economic, o famoso último prego <strong>do</strong> caixão. O Brasil possuía cerca de<br />

200 milhões de cabeças de ga<strong>do</strong>. Ao anexar a Argentina e a Bolívia ao seu<br />

território, após os <strong>do</strong>is países quase se destruírem em guerra, criou a República<br />

da União Brasiliana. Com a compra <strong>do</strong> México e <strong>do</strong> Uruguai, adquiriu<br />

os maiores rebanhos <strong>do</strong> eixo-sul, restan<strong>do</strong> apenas o australiano, que aderiu<br />

ao embargo, e o indiano, que não era mercantil. Toda a carne vermelha<br />

parou de ser comercializada para os países <strong>do</strong> eixo-norte, o que obrigou os<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América e a Rússia – que apesar de serem os maiores<br />

produtores, também eram os maiores importa<strong>do</strong>res de carne <strong>do</strong> globo – a<br />

selarem pactos com a China para adquirir seus rebanhos. Isso desencadeou<br />

na invasão da Índia pela China para tomada <strong>do</strong> seu ga<strong>do</strong>. E depois da Coréia<br />

<strong>do</strong> Norte, Coréia <strong>do</strong> Sul, Japão...<br />

Ao constituir toda sua força econômica sobre seu rebanho, a República<br />

da União Brasiliana se viu obrigada a tomar medidas para proteger<br />

sua maior riqueza. Foram cria<strong>do</strong>s vários edifícios com to<strong>do</strong> tipo de proteção<br />

biológica e física possível. Com o <strong>do</strong>mínio das armas nucleares pela<br />

República, os ataques em grande escala estavam descarta<strong>do</strong>s, mas <strong>um</strong>a<br />

guerra franca ainda era plausível. Os animais passaram a ser confina<strong>do</strong>s<br />

dentro deles, protegi<strong>do</strong>s de qualquer tipo de ataque externo. O que se<br />

sucedeu em poucos meses foi o óbvio: o rebanho passou a morrer por<br />

causa <strong>do</strong> confinamento. Uma <strong>do</strong>ença muito semelhante ao banzo, a mesma<br />

que afligia os navios negreiros. Em tempos modernos, foi encontrada <strong>um</strong>a<br />

solução moderna: o méto<strong>do</strong> Boi Feliz.<br />

Foram desenvolvi<strong>do</strong>s chips de ID que passaram a ser implanta<strong>do</strong>s no<br />

cérebro <strong>do</strong>s animais assim que eles eram pari<strong>do</strong>s. Os animais imediatamente<br />

se plugavam ao Hipermun<strong>do</strong>, com avatares bovinos, passan<strong>do</strong> a viver em<br />

fazendas com grandes pastos verdes, grama alta, sem preda<strong>do</strong>res e insetos,<br />

com tu<strong>do</strong> o que <strong>um</strong> boi poderia desejar para ser feliz. Baby beef, baby! Um<br />

bilhão e meio de cabeças. E contan<strong>do</strong>.<br />

Um problema resolvi<strong>do</strong>. Outro cria<strong>do</strong>. Como o cérebro <strong>do</strong>s bois<br />

está liga<strong>do</strong> ao seu avatar no Hipermun<strong>do</strong> de forma irreversível, não pode<br />

ser despluga<strong>do</strong>. Um corpo sem mente é tão factível quanto baratas jogan<strong>do</strong><br />

poker. Se <strong>um</strong> boi morre no Hipermun<strong>do</strong>, seu corpo morre no<br />

mun<strong>do</strong> real. Um processo normal. Um boi tomba, <strong>um</strong> ponto acende em<br />

[ 16 ]


[ RICHARD DIEGUES ]<br />

<strong>um</strong> monitor e, em poucos minutos, a carcaça já foi arrastada para <strong>um</strong>a<br />

câmara frigorífica. Em poucas horas teríamos mais <strong>um</strong>a jaqueta e churrasco<br />

de primeira. Um, cinco, cem bois morren<strong>do</strong> não são <strong>um</strong> problema<br />

realmente. Mas, se meio bilhão de avatares fossem abati<strong>do</strong>s no<br />

Hipermun<strong>do</strong> de <strong>um</strong>a vez, seria <strong>um</strong> verdadeiro holocausto. Milhares de<br />

simulações foram rodadas pelos servi<strong>do</strong>res da República e a conclusão<br />

sempre era catastrófica. Recentemente a ABIN soube que o Conclave<br />

América-OldEuropean também rodara essas mesmas simulações. Uma<br />

bandeira vermelha foi agitada.<br />

Para isso, G.ZuZ e vários outros engenheiros de software desembestaram<br />

na corrida independente para criar <strong>um</strong> sistema de defesa contra essa possibilidade.<br />

Shesh Nag/CLC 1.0 era a idéia dele. Tentou ser o mais refina<strong>do</strong><br />

possível. Pensou até mesmo no que os primeiros Desenvolve<strong>do</strong>res fizeram,<br />

basean<strong>do</strong> seu plugin na mitologia hindu, onde o deus Vishnu é com<strong>um</strong>ente<br />

representa<strong>do</strong> flutuan<strong>do</strong> sobre ondas. Ou nas costas de <strong>um</strong> deus menor, chama<strong>do</strong><br />

Shesh Nag. Não queria apenas provar que era capaz de desenvolver a<br />

melhor linha de defesa para as fazendas da República da União Brasiliana,<br />

mas também comprovar que tinha a capacidade de se integrar ao corpo de<br />

decisão <strong>do</strong> CIP. Queria se tornar <strong>um</strong> <strong>do</strong>s Desenvolve<strong>do</strong>res.<br />

O bip soan<strong>do</strong> ao fun<strong>do</strong> fez com que largasse seus devaneios. Com os<br />

de<strong>do</strong>s arrastou o cascalho para fora <strong>do</strong>s olhos. O velho desktop cintilava<br />

<strong>um</strong>a mensagem no cristal líqui<strong>do</strong>: 20m M$. Foi <strong>um</strong> orgasmo para o programa<strong>do</strong>r.<br />

Estava disposto a pagar muito mais que 20 mil moedas. Venderia<br />

tu<strong>do</strong> que tinha se precisasse. Até sua alma, se já não estivesse comprometida<br />

há anos.<br />

O Entrega<strong>do</strong>r escolheu a BR-153 para início da missão. Era curta, com<br />

menos de cinco mil quilômetros de extensão, mas serviria. Depois cairia<br />

para outra, e outra e outra, até o mar, cruzan<strong>do</strong> o país inteiro. Mas já havia<br />

pensa<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong> e calculou que o espaço seria mais que suficiente. O itinerário<br />

estava carrega<strong>do</strong> em seu novo armtop. Ajeitou as luvas, colocou o capacete<br />

e sentou-se na Speedy R1900. Suas velhas juntas <strong>do</strong>íam de antecipação.<br />

Era difícil conseguir emoção ultimamente. Consultou os batimentos no<br />

visor <strong>do</strong> capacete. Oitentinha ainda. Um porre! Pensou no que vinha pela<br />

frente. Um risco cinco. Muito bom! Pegava menos de duas entregas por<br />

semana. Todas com risco <strong>do</strong>is ou três, no máximo.<br />

[ 17 ]<br />

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[ BABY BEEF, BABY! ]<br />

O capacete estalou ao acessar o Hipermun<strong>do</strong>. Não tinha o hábito de<br />

acessar aquela babaquice. Era coisa pra geeks. Mas agora estava lá. Seu Cartão<br />

o havia carrega<strong>do</strong> em <strong>um</strong> ponto ermo <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> virtual. Cortesia <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>r,<br />

que devia ser da – ou A – República, para liberar seu acesso dessa<br />

maneira. Então vamos brincar com <strong>um</strong> software governamental, pensou no momento<br />

em que o acesso se concluía. Já trabalhara muito para o governo.<br />

Pagan<strong>do</strong> bem, que mal tem?<br />

Usava apenas o simula<strong>do</strong>r para andar na estrada. Era <strong>um</strong>a espécie de<br />

versão reduzida <strong>do</strong> render de polígonos tridimensionais da grande rede.<br />

Mas os princípios eram os mesmos. Podia operar ali com facilidade. Pediu<br />

a checagem da área virtual à sua frente. No mun<strong>do</strong> real iria andar em<br />

linhas quase retas, atravessan<strong>do</strong> o país, mas ali teria seis quarteirões por<br />

oito. Seriam quarenta e oito quadras para brincar de zigue-zague em <strong>um</strong>a<br />

desvairada rota aleatória. O mesmo programa anticolisão que sua motocicleta<br />

usaria no mun<strong>do</strong> real, ele utilizaria no virtual. Checou o programa e<br />

o percurso que traçara <strong>um</strong>a hora antes. Definira previamente as curvas e<br />

desvios que faria utilizan<strong>do</strong> lances de <strong>um</strong>a rolha de vinho sobre <strong>um</strong> travesseiro.<br />

Queria ver se teriam <strong>um</strong> programa capaz de entender <strong>um</strong> padrão<br />

desses. No mun<strong>do</strong> real, solicitou a varredura de cada <strong>um</strong> <strong>do</strong>s parafusos de<br />

sua motocicleta. Sem falhas, pelamordedeus! Cerrou a dentadura superior<br />

contra a meia dúzia de dentes inferiores. Torceu o cabo <strong>do</strong> acelera<strong>do</strong>r<br />

apenas para fazer barulho. Gostava dele. No Hipermun<strong>do</strong> seu avatar estava<br />

de pernas abertas, braços estica<strong>do</strong>s, mas aparentemente flutuava sem<br />

nada debaixo. Não havia veículos no Hipermun<strong>do</strong>. Uma das regras primordiais<br />

por lá. Nada de atropelamentos, acidentes, ou avatares se moven<strong>do</strong><br />

demais. Fiquem perto <strong>do</strong> centro, das publicidades. Era isso que o<br />

afastava daquele lugar. Sabia que, para sua moto ser aceita no Hipermun<strong>do</strong>,<br />

precisaria de <strong>um</strong>a permissão especial. Uma brecha no sistema. Ou algo<br />

assim. Aguardava.<br />

A renderização <strong>do</strong> terreno era <strong>um</strong>a cópia de terra ocre com seixos<br />

ocasionais. Bem feita até. Para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s havia milhares de metros de<br />

cercas, rodean<strong>do</strong> fazendas onde bois pareciam pastar despreocupadamente.<br />

Se os avatares <strong>do</strong>s animais tivessem si<strong>do</strong> programa<strong>do</strong>s para isso, estariam<br />

sorrin<strong>do</strong> enquanto mascavam o chiclete de grama. Pareciam tão felizes<br />

quanto droga<strong>do</strong>s chapa<strong>do</strong>s de Versax. Happiness rotten! Ele ia acabar<br />

com isso. Missão: matar mil bois sem ser intercepta<strong>do</strong>. Pelo quê? Não lhe<br />

disseram.<br />

[ 18 ]


[ RICHARD DIEGUES ]<br />

Apanhou as pistolas em sua cintura. Réplicas virtuais da sua arma real.<br />

Disparou quatorze tiros no chão. A versão real teria para<strong>do</strong> no décimo terceiro.<br />

Bom!<br />

Tomou <strong>um</strong> susto quan<strong>do</strong> o ronco da Speedy R1900 surgiu de maneira<br />

ensurdece<strong>do</strong>ra atrás de si. Entre as pernas, pixels espocaram em tons de cinza,<br />

depois no vermelho e no amarelo intensos de sua motocicleta. Sua espinha<br />

gelou quan<strong>do</strong> a última conexão foi realizada. Agora não tinha mais volta. Só<br />

poderia se desplugar se terminasse a missão. Ou se morresse. Tu<strong>do</strong> ou nada.<br />

Pensou em Freud. O filho da puta dizia que o objetivo de toda vida é a<br />

morte. Ele já estava no lucro fazia tempo. Pretendia continuar assim por<br />

mais meia dúzia de anos.<br />

Por dentro G.ZuZ tremia de emoção. Seu avatar, entretanto, permanecia<br />

frio como gelo. Ele até mesmo havia retira<strong>do</strong> <strong>um</strong> pouco <strong>do</strong> vermelho de<br />

sua renderização para deixá-lo mais azula<strong>do</strong>. A única coisa que entregava sua<br />

ansiedade era <strong>um</strong> ou outro ponto da malha de pixels que falhava, responden<strong>do</strong><br />

ao seu controle consciente para não fazer os naturais movimentos<br />

involuntários.<br />

– Podemos disparar a execução <strong>do</strong> teste? – Era D-Bst quem indagava<br />

diretamente ao programa<strong>do</strong>r. Ele era, dentre os Desenvolve<strong>do</strong>res, o que<br />

possuía o nível mais alto na hierarquia. To<strong>do</strong>s os demais o achavam <strong>um</strong> saco!<br />

– Instanciar sistemas – falou, com <strong>um</strong> indisfarçável prazer mórbi<strong>do</strong>, antes<br />

que G.ZuZ tivesse tempo de responder.<br />

Se o programa<strong>do</strong>r queria pleitear realmente a cadeira vaga no comitê<br />

<strong>do</strong>s Desenvolve<strong>do</strong>res, teria que se acost<strong>um</strong>ar em ter as respostas prontas<br />

antes que as perguntas fossem feitas.<br />

Cinco? Dez? Quinze anos? O Entrega<strong>do</strong>r não sabia quanto tempo fazia<br />

que não sentia taquicardia. Seus batimentos não chegaram acima de 100<br />

nem mesmo quan<strong>do</strong> colidiu com <strong>um</strong> pequeno bimotor em pouso de emergência<br />

na Colômbia. Registrava 130 batimentos por minuto, quan<strong>do</strong> acelerou<br />

sua motocicleta, fazen<strong>do</strong> pedriscos renderiza<strong>do</strong>s pipocarem para to<strong>do</strong>s<br />

os la<strong>do</strong>s.<br />

Deixou que a máquina guinasse para a direita, seguin<strong>do</strong> até a quarta<br />

quadra, depois virou para a esquerda, deixan<strong>do</strong> que o programa fizesse a<br />

[ 19 ]<br />

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[ BABY BEEF, BABY! ]<br />

manobra sem sua intervenção. Estava se ajustan<strong>do</strong> à posição e ao peso da<br />

direção, avalian<strong>do</strong> a performance. Ótima! Sacou de <strong>um</strong>a Glock 21 com a<br />

mão esquerda e disparou. O primeiro boi tombou com <strong>um</strong> terceiro olho<br />

entre os originais.<br />

Por mais atento que fosse, o Entrega<strong>do</strong>r não pode perceber que, em<br />

meio à alta grama configurada, <strong>um</strong> par de olhos surgia – e o observava.<br />

Shesh Nag/CLC 1.0 estava instancia<strong>do</strong>. A diretriz base <strong>do</strong> software zela<strong>do</strong>r<br />

era para que monitorasse a primeira ameaça de interrupção de <strong>um</strong>a rês, e na<br />

segunda, ativasse o ataque. Isso permitiria que avaliasse os padrões sequenciais<br />

e se aprimorasse cada vez mais a fim de que não houvesse <strong>um</strong>a terceira<br />

agressão no futuro.<br />

Ao realizar o segun<strong>do</strong> disparo, o Entrega<strong>do</strong>r freou bruscamente a motocicleta.<br />

Cerca de <strong>do</strong>is metros à sua frente <strong>um</strong>a sombra negra passou em<br />

<strong>um</strong>a velocidade assombrosa, bem na altura de seu pescoço. Não a identificou,<br />

mas subiu <strong>do</strong>s 200 para 400 km/h. E começou a disparar o mais rápi<strong>do</strong><br />

que podia.<br />

– Merda! – gritou quan<strong>do</strong> o segun<strong>do</strong> bote passou <strong>um</strong> metro às suas<br />

costas.<br />

Aquele era o programa que estava sen<strong>do</strong> testa<strong>do</strong>. Isso era claro. E iria<br />

persegui-lo até conseguir pegá-lo. Ou ele derrubar os mil bois. A Glock<br />

rugia para a esquerda e para a direita, sem parar. A Speedy R1900 para<br />

frente. Estava programada para realizar a sequência de manobras entre as<br />

quadras automaticamente, mas a velocidade era controlada pelo velho<br />

entrega<strong>do</strong>r. Inicialmente o risco negro passava a <strong>do</strong>is ou três metros dele.<br />

Agora dificilmente passava a mais de <strong>um</strong>.<br />

Trezentas cabeças. O Entrega<strong>do</strong>r olhava para o marca<strong>do</strong>r periférico<br />

que contabilizava os abates. Para ele parecia terem si<strong>do</strong> mais de quinhentas.<br />

Desligou o marca<strong>do</strong>r cardíaco. Não queria saber se ia ter <strong>um</strong> enfarto naquele<br />

momento. Apesar de o programa estar chegan<strong>do</strong> cada vez mais perto, os<br />

velhos ossos <strong>do</strong> entrega<strong>do</strong>r também estavam se aquecen<strong>do</strong>.<br />

O avatar de <strong>um</strong> <strong>do</strong>s Desenvolve<strong>do</strong>res chegou a se erguer da cadeira<br />

giratória quan<strong>do</strong> o capacete <strong>do</strong> Entrega<strong>do</strong>r foi resvala<strong>do</strong> por Shesh Nag.<br />

Para G.ZuZ aquilo foi <strong>um</strong> ótimo sinal.<br />

– Não se empolgue – D-Bst falou, sem desgrudar os olhos de outro<br />

monitor, onde lia a ficha <strong>do</strong> Entrega<strong>do</strong>r, tentan<strong>do</strong> ocultar sua admiração. O<br />

[ 20 ]


[ RICHARD DIEGUES ]<br />

sujeito que o programa<strong>do</strong>r havia escolhi<strong>do</strong> era <strong>do</strong>s bons. Velha guarda da<br />

MAI-NI expressas. Ele conseguiu <strong>um</strong> bom teste para seu software. – Até<br />

agora foram quatrocentos bois mortos. E creio que ele chegará aos mil. –<br />

Ficaram olhan<strong>do</strong> a perseguição durante <strong>um</strong> bom tempo. O Entrega<strong>do</strong>r era<br />

muito bom. Muito bom, mesmo! – Sabe que poderia ter pega<strong>do</strong> <strong>um</strong> NI-5<br />

para esse teste, não?<br />

– Sim – respondeu G.ZuZ no mesmo tom neutro – mas sou bom no<br />

que faço. Espere até que chegue em quinhentas cabeças.<br />

No canto <strong>do</strong> enorme monitor, o número 499 acabava de piscar.<br />

Em <strong>um</strong> relance, com o canto <strong>do</strong>s olhos, o Entrega<strong>do</strong>r viu a sombra de<br />

Shesh Nag saltan<strong>do</strong> cerca de dez metros à sua frente. Pinçou o freio no<br />

mesmo instante em que disparava e abatia o avatar de número 500. Por<br />

pouco não conseguiu se abaixar a tempo. Devi<strong>do</strong> à redução de velocidade, a<br />

sombra passava três metros à sua frente, mas em <strong>um</strong> átimo se dividiu em<br />

duas, desferin<strong>do</strong> <strong>um</strong> ataque perpendicular que arrancou o retrovisor da<br />

motocicleta.<br />

– Putaquepariu! – O Entrega<strong>do</strong>r berrou, sentin<strong>do</strong> o programa deslocan<strong>do</strong><br />

pixels em sua jaqueta. – Essa merda é <strong>um</strong>a maldita cobra. – Acelerou<br />

a motocicleta, dan<strong>do</strong>-se conta finalmente contra o que estava lutan<strong>do</strong>. –<br />

Duas agora.<br />

Shesh Nag propositalmente o atacava com botes laterais, de forma que<br />

suas escamas negras absorvessem a simulação de luz, permitin<strong>do</strong> que o<br />

Entrega<strong>do</strong>r visse apenas <strong>um</strong> borrão negro passan<strong>do</strong>. De frente ele conseguiu<br />

identificar perfeitamente o par de olhos ofídicos, amarela<strong>do</strong>s como<br />

pus. A língua bifurcada chegou a tocar nele de passagem. Marcava o alvo.<br />

O Entrega<strong>do</strong>r solicitou conexão com a central da MAI-NI. Pediu o<br />

<strong>do</strong>wnload de <strong>um</strong> programa experimental de detecção de obstáculos. Havia<br />

visto a chamada para testes no comunica<strong>do</strong> <strong>do</strong> dia anterior. Deveria servir<br />

para ajudar os novatos, para não baterem em coisas que não deviam. Os<br />

mais velhos acharam aquilo <strong>um</strong>a tremenda bobagem, pois registrava além<br />

<strong>do</strong> que estava à sua frente, tu<strong>do</strong> o que vinha <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s e de trás. Em seu<br />

trabalho, o que estava <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s era considera<strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. O que vinha de<br />

trás nunca o alcançaria. Mas agora o programa parecia ser útil.<br />

Depois de mais dez disparos, percebeu <strong>um</strong> problema. Havia mais de<br />

vinte cobras no visor <strong>do</strong> programa.<br />

[ 21 ]<br />

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[ BABY BEEF, BABY! ]<br />

– Quem será o bostinha que escreveu <strong>um</strong> sistema multi-instância pra<br />

foder o velho aqui? – berrou em meio a <strong>um</strong>a crise de riso histérica, compreenden<strong>do</strong><br />

que, a cada boi que abatia, o programa gerava <strong>um</strong>a cópia de si mesmo.<br />

Queria <strong>um</strong> charuto. E <strong>um</strong> uísque. F<strong>um</strong>ava como <strong>um</strong> incêndio e bebia<br />

como se quisesse apagá-lo. Sentiu o suor escorrer pelas suas costas no mun<strong>do</strong><br />

real.<br />

– Suor? – gritou, entre <strong>um</strong> disparo e outro de sua Glock. – Isso não é<br />

coisa de macho. Você ainda não me fez suar, sua cobrinha de merda! Quan<strong>do</strong><br />

sair daqui eu vou ter <strong>um</strong> papinho bem de perto com minhas glândulas sebáceas.<br />

Vou colocá-las novamente no lugar delas.<br />

Então se calou. Já havia mais cobras <strong>do</strong> que bois ao seu re<strong>do</strong>r. Por<br />

instinto atirou direto contra <strong>um</strong>a das réplicas de Shesh Nag que avançara<br />

de frente para ele. Uma explosão de pixels o rodeou quan<strong>do</strong> cruzou pelos<br />

restos de código-fonte espargi<strong>do</strong>s ao seu re<strong>do</strong>r. Por <strong>um</strong> instante ficou surpreso<br />

ao descobrir que era possível destruir as cobras também. Sorriu. De<br />

verdade.<br />

Em frente à grande tela, G.ZuZ estava de pé, observan<strong>do</strong> o desempenho<br />

de seu sistema. Assim como o Entrega<strong>do</strong>r, não havia previsto que Shesh<br />

Nag seria <strong>um</strong> alvo váli<strong>do</strong>. Um detalhe estúpi<strong>do</strong>, mas que deixara passar direto.<br />

Shesh Nag/CLC 2.0 iria prever isso. Ao to<strong>do</strong> tinha dez notas mentais<br />

para aprimorar a versão atual.<br />

À sua volta os Desenvolve<strong>do</strong>res também estavam compenetra<strong>do</strong>s com<br />

a ação. Vários pareciam orgulhosos <strong>do</strong> programa, como se eles mesmos tivessem<br />

coloca<strong>do</strong> seus de<strong>do</strong>s no código-fonte. Um deles comia pipocas com<br />

os pés sobre <strong>um</strong>a mesa.<br />

Novecentas cabeças. Estava cada vez mais difícil achar os bois restantes.<br />

E Shesh Nag já não atacava mais o Entrega<strong>do</strong>r pela frente. Havia entendi<strong>do</strong><br />

que mesmo sem dentes, ele ainda mordia. Parecia mais preocupa<strong>do</strong> em acertar<br />

as réplicas <strong>do</strong> programa <strong>do</strong> que os avatares <strong>do</strong>s bois. Guiava como <strong>um</strong><br />

louco. Parecia achar que estava em casa. Começava a se sentir mais à vontade<br />

ali <strong>do</strong> que a própria divindade-cobra.<br />

Novecentas e sessenta cabeças. Restavam apenas quatro dezenas de bois<br />

por ali. Em <strong>um</strong> momento de distração, Shesh Nag abocanhou sua perna<br />

[ 22 ]


[ RICHARD DIEGUES ]<br />

esquerda. Não a mordeu apenas. Arrancou-a na passagem. Era <strong>um</strong> avatar<br />

perneta agora. Nada de trocas de marcha. A Glock parecia <strong>um</strong>a metralha<strong>do</strong>ra,<br />

de tanto que seu gatilho era puxa<strong>do</strong>. O Entrega<strong>do</strong>r vocalizou o coman<strong>do</strong><br />

para que a Speedy R1900 travasse a aceleração para o máximo – o 1900 em<br />

seu modelo não era à toa – <strong>um</strong> milésimo antes de seu avatar ter o braço<br />

direito decepa<strong>do</strong>.<br />

Será que essa porra está comen<strong>do</strong> meus pedaços?, o velho pensou, lutan<strong>do</strong><br />

para se manter sobre a máquina, sem <strong>um</strong>a perna e <strong>um</strong> <strong>do</strong>s braços, a quase<br />

1.900 km/h.<br />

Em seu visor, <strong>do</strong>is alertas piscavam. Os números 990 e 100 piscavam<br />

em vermelho. O primeiro indican<strong>do</strong> o ga<strong>do</strong> abati<strong>do</strong>; o segun<strong>do</strong> o que lhe<br />

restava de ro<strong>do</strong>via antes <strong>do</strong> grande e eterno nada.<br />

– Faltam dez projetos de hambúrguer – gritou, saben<strong>do</strong> que alguém se<br />

divertiria assistin<strong>do</strong> aquilo mais tarde. – Esses pedaços meus que ficaram<br />

por aí... peguem e enfiem no rabo. É a única forma que vão ter de me<br />

manipular agora, até a hora que jogarem meu cadáver em <strong>um</strong> daqueles malditos<br />

fornos de cremação. A idéia me agrada. Nada de falsas cerimônias. Só<br />

<strong>um</strong> arremesso à fornalha. Sem f<strong>um</strong>aça por causa das merdas de filtros nas<br />

chaminés. Mas o cheiro vocês vão sentir, desgraça<strong>do</strong>s!<br />

996 e 54. Ele atropelou <strong>um</strong>a das cópias de Shesh Nag. Gostou <strong>do</strong> efeito.<br />

998 e 42. Conseguiu dar <strong>um</strong> chute em outra cobra. Ela não pareceu<br />

se importar, mas ele a<strong>do</strong>rou a sensação. Tinha certeza que chutara o cu<br />

da cobra.<br />

999 e 25. Faltava <strong>um</strong> boi apenas. Mas o Entrega<strong>do</strong>r sabia que Shesh<br />

Nag/CLC 1.0 estava apenas brincan<strong>do</strong> com ele. O programa era esperto.<br />

Quem estava por detrás dele era esperto. Havia monta<strong>do</strong> <strong>um</strong>a bela demonstração<br />

<strong>do</strong> seu programa ali. Ah, sim. Muito boa mesmo. Leônidas tinha certeza<br />

de que havia alguém, além dele próprio, se divertin<strong>do</strong> naquele instante.<br />

Como consolo, pensou que pelo menos ele estava curtin<strong>do</strong> de verdade a<br />

ação. Coisa rara naqueles tempos.<br />

999 e 1.<br />

Um <strong>do</strong>s Desenvolve<strong>do</strong>res chegou a dar <strong>um</strong> gritinho afemina<strong>do</strong> quan<strong>do</strong><br />

as mais de trinta replicações de Shesh Nag saltaram em círculo sobre o<br />

Entrega<strong>do</strong>r. A última bala que ele havia dispara<strong>do</strong> estava em perfeita rota de<br />

colisão com o centro da cabeça <strong>do</strong> último <strong>do</strong>s mil bois. Uma das cópias a<br />

[ 23 ]<br />

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[ BABY BEEF, BABY! ]<br />

interceptou no ar, poucos centímetros antes de encerrar a missão <strong>do</strong> velho.<br />

Aquele boi continuaria pastan<strong>do</strong> feliz.<br />

Nenh<strong>um</strong> deles soube o que aconteceu com o corpo <strong>do</strong> Entrega<strong>do</strong>r em<br />

seu último quilômetro de estrada física. Sua rota terminava em <strong>um</strong> píer.<br />

O quadro de Desenvolve<strong>do</strong>res voltou a se completar. E a soberania da<br />

República Brasiliana – depois de alguns ajustes em Shesh Nag para <strong>um</strong>a versão<br />

2.0 –, ao menos no que dizia respeito a seu ga<strong>do</strong>, estaria garantida.<br />

Esse era o bom e velho baby beef, baby!<br />

[ 24 ]


O Mito da Fecundação<br />

Há histórias que nascem de <strong>um</strong>a imagem, de <strong>um</strong> cruzamento de<br />

ideias, de <strong>um</strong>a música, de <strong>um</strong>a frase, da leitura de <strong>um</strong> texto de nãoficção.<br />

Esta nasceu <strong>do</strong> título. Esses personagens foram os únicos<br />

que sobreviveram a ponto de justificar a existência de <strong>um</strong> mito que<br />

envolvesse seu corpo, sua vida, seu fim e sua obsessão. Além disso,<br />

foi escrita especialmente para a coletânea Gastronomia Phantastika.<br />

Ludimila Hashimoto<br />

[ 25 ]<br />

A cerimônia começou. Onze fogueiras menores<br />

e <strong>um</strong>a central. O tubarão foi assa<strong>do</strong> inteiro. Os <strong>do</strong>ces,<br />

aromatiza<strong>do</strong>s com almíscar em pó. Os abacates colhi<strong>do</strong>s<br />

na noite anterior foram rechea<strong>do</strong>s com delícias<br />

<strong>do</strong> mar.<br />

Bak, chefe da tribo, discursava entre os pratos espalha<strong>do</strong>s<br />

sobre esteiras de junco que to<strong>do</strong>s desejam saborear.<br />

O conhecimento de que logo degustariam todas<br />

aquelas iguarias divinas preparou perfeitamente a<br />

alma de homens e mulheres para escutar e absorver as<br />

palavras <strong>do</strong> líder.<br />

– Somos <strong>um</strong> grupo muito pequeno, mas forte.<br />

Nossa força está no princípio que seguimos com firmeza.<br />

Nossos ancestrais quase desapareceram pela ausência<br />

de nascimentos. Mas graças ao acor<strong>do</strong> com o povo<br />

de Tanatos, conseguimos a<strong>um</strong>entar nosso número. Voltamos<br />

a procriar por intermédio deles. A causa da fecundação<br />

<strong>do</strong> ventre de nossas mulheres está <strong>do</strong> outro<br />

la<strong>do</strong> da espessa folhagem negra. Não a compreendemos<br />

hoje e talvez, nunca. Está tão além de nossa pequenez.<br />

Tu<strong>do</strong> o que sabemos é que a fecundação de<br />

nossas mulheres está ligada ao prazer e a <strong>um</strong>a transformação<br />

no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo.<br />

Uma vez que os ouvintes estavam com água na boca<br />

e, portanto, prontos para as palavras mais pesadas e de<br />

digestão demorada, o líder prosseguiu:<br />

– Mais <strong>um</strong>a vez, no último grande banquete, deixamos<br />

de nos fecundar. Falhamos. Mas continuemos<br />

sem me<strong>do</strong>, seguin<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> de nossa existência,<br />

animan<strong>do</strong> nossos agoras e alimentan<strong>do</strong> nossos seis<br />

senti<strong>do</strong>s. Nossa origem não deve ser questionada. De-<br />

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[ O MITO DA FECUNDAÇÃO ]<br />

sejada, sim. Pois os filhos são a única salvação de nossa riqueza, de nossa<br />

única sabe<strong>do</strong>ria. Não sabemos o que Tanatos usa em sua misteriosa receita<br />

de fecundação. Basta a certeza de que devemos provar, ingerir e<br />

esperar a transformação.<br />

As dezenas de habitantes da tribo de Olpic, acost<strong>um</strong>adas a refeições<br />

quase contínuas, sentiram o estômago se contorcer, momento em que o<br />

monstro <strong>do</strong> vácuo os fez conscientes de suas entranhas e passou a corroê-las<br />

pela revolta diante <strong>do</strong> vazio. Ven<strong>do</strong> olhares aperta<strong>do</strong>s de <strong>do</strong>r e punhos tensos,<br />

Bak decidiu concluir sua fala.<br />

– Jamais conhecemos limites nem constrangimentos ao prazer <strong>do</strong> corpo.<br />

Se o preço que aquele estranho povo pede para que nosso grupo sobreviva<br />

e cresça é a entrega de to<strong>do</strong> nosso conhecimento ouvi<strong>do</strong> e fala<strong>do</strong>, de<br />

todas as receitas que criamos, <strong>do</strong> ensinamento <strong>do</strong> preparo de ingredientes<br />

de efeito liberta<strong>do</strong>r e da conversão da matéria em fonte de deleite sem fim,<br />

digo que escolheremos desaparecer. Agora, venha a nós a comida, eliminemos<br />

o monstro que destrói de dentro para fora. Sem interrupções, sem<br />

objetivos inferiores à nossa satisfação. Iniciem o banquete. Alimentem o<br />

Grande Corpo!<br />

Os poucos membros que restaram da tribo – que não viam gravidez<br />

desde o último contato com o povo de Tanatos – ergueram os punhos, retesan<strong>do</strong><br />

bíceps e estenden<strong>do</strong> o pescoço, salivan<strong>do</strong>, e correram na direção <strong>do</strong><br />

tubarão no espeto de madeira da fogueira central. Quan<strong>do</strong> o animal começou<br />

a ser devora<strong>do</strong> e porque não havia espaço ao re<strong>do</strong>r dele, outras mulheres<br />

e homens se satisfizeram com os <strong>do</strong>ces de calda negra sobre amên<strong>do</strong>as,<br />

os abacates rechea<strong>do</strong>s e pães de Olpic com coberturas diversas. O r<strong>um</strong>or<br />

<strong>do</strong>s comensais ofegantes e os gemi<strong>do</strong>s de satisfação a<strong>um</strong>entavam o apetite<br />

geral. Tentavam impedir que os cabelos longos e as roupas amarradas aos<br />

ombros restringissem os movimentos rápi<strong>do</strong>s e tensos. A completude que<br />

lhes roubava a capacidade de pensar fazia definhar o monstro das entranhas e<br />

causava a euforia que, esperavam há anos, poderia fazer com que alg<strong>um</strong>as<br />

mulheres engravidassem.<br />

Eliminada a fome, passaram a buscar o que restara entre suas poucas possibilidades<br />

de interação com o mun<strong>do</strong>. A polpa <strong>do</strong>s últimos abacates deslizava<br />

entre de<strong>do</strong>s que apertavam a fruta com a raiva originada da certeza <strong>do</strong> desaparecimento<br />

de sua riqueza oral, desprotegida pela falta de descendentes.<br />

Confusos com a alegria sempre passageira e sempre atual, uns admiravam<br />

o reflexo <strong>do</strong> luar sobre a calda lisa <strong>do</strong> s<strong>um</strong>o de frutos, outros davam<br />

[ 26 ]


[ LUDIMILA HASHIMOTO ]<br />

<strong>um</strong>a fungada experimental na boca de quem estivesse perto para sentir o<br />

aroma <strong>do</strong> que não conseguiriam mais comer. E assim tentaram to<strong>do</strong> tipo de<br />

interação de que eram capazes. Tentaram desesperadamente tu<strong>do</strong> o que os<br />

senti<strong>do</strong>s os guiavam a realizar. Tu<strong>do</strong> que seus sonhos compartilha<strong>do</strong>s revelaram<br />

ser possível fazer com outros seres h<strong>um</strong>anos. Em silêncio, ainda esperavam<br />

o milagre.<br />

Mas to<strong>do</strong>s estavam trêmulos juntos. A vibração subliminar que pairou<br />

sobre eles teve origem no mar, veio com a arrebentação. A esp<strong>um</strong>a<br />

esbranquiçada e translúcida que delineava as ondas derramou-se na praia e<br />

parou na areia. Suave foi o fim <strong>do</strong> banquete. O monstro das entranhas crescera,<br />

extrapolan<strong>do</strong> o ponto máximo da linha <strong>do</strong> abdômen. E se foi. Descarrega<strong>do</strong>,<br />

não aniquila<strong>do</strong>. E se foi <strong>um</strong> fenômeno em grupo, não foi coletivo, e<br />

sim a aparição rara de indivíduos que decidiram não impor limites rígi<strong>do</strong>s<br />

uns aos outros nem à sua própria natureza.<br />

Bak, paralisa<strong>do</strong> pelo estômago repleto e pelo peso de <strong>um</strong> corpo exauri<strong>do</strong><br />

caí<strong>do</strong> sobre o seu, sentiu o gosto das amên<strong>do</strong>as sobressair a tu<strong>do</strong> o que<br />

conseguira provar naquela noite e avistou <strong>um</strong> movimento estranho nas folhagens<br />

negras no alto das antigas falésias. Um envia<strong>do</strong> da aldeia de Tanatos,<br />

pensou. Pelo visto querem algo de nós além de nos roubar o conhecimento mais<br />

precioso que criamos. Querem nos observar com sua curiosidade sem senti<strong>do</strong>.<br />

O corpo que o pressionava contra o chão começou a sussurrar, farto e<br />

feliz a não ser pela dúvida resistente:<br />

– ... hmm... Bak... A última digestão está próxima? É o nosso fim?<br />

A voz era de Lóris, o rosto irreconhecível pelas manchas da calda<br />

fervida que a impedia de abrir os olhos. Junto com Bak, era líder da tribo<br />

de Olpic.<br />

– Você se lembra? Quan<strong>do</strong> foi enviada ao merca<strong>do</strong> de Tanatos e provou<br />

o prato da fecundação deles? – perguntou Bak, não pela primeira vez<br />

em anos.<br />

– Eles me levaram à barraca <strong>do</strong> pão... como prometi<strong>do</strong>... Garantiram<br />

que minhas vísceras seriam fecundadas. Ofereceram <strong>um</strong> prato com a combinação<br />

de ingredientes ativos que só eles conhecem.<br />

A memória de Lóris sempre fora a mais consistente de todas na tribo.<br />

Por isso era <strong>um</strong>a das poucas mulheres que guardavam no corpo todas as<br />

receitas e ensinamentos gastronômicos <strong>do</strong>s Olpic. O povo de Tanatos ambicionava<br />

obter esse conhecimento devi<strong>do</strong> ao seu comprova<strong>do</strong> potencial de<br />

cura de <strong>um</strong>a enorme lista de distúrbios e males.<br />

[ 27 ]<br />

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[ O MITO DA FECUNDAÇÃO ]<br />

Os Olpic não entendiam a relação de Tanatos com o mun<strong>do</strong>; por que<br />

comiam apenas para sobreviver; por que viviam observan<strong>do</strong> as tribos vizinhas<br />

e escreven<strong>do</strong> seus planos e suas conclusões em seus papéis tão frágeis.<br />

Papéis que desmanchavam na água, rasgavam com a pressão de de<strong>do</strong>s ou<br />

eram perdi<strong>do</strong>s inexplicavelmente. Mas precisavam deles. Dependiam da promessa<br />

de fecundarem suas mulheres sem revelar o mo<strong>do</strong> como o faziam, em<br />

troca das iguarias de Olpic que curassem sua incapacidade congênita de sentir<br />

a plenitude <strong>do</strong> Grande Corpo. Os Olpic sujeitaram-se. Contraria<strong>do</strong>s,<br />

h<strong>um</strong>ilha<strong>do</strong>s por terem que entregar suas mulheres para <strong>um</strong>a refeição misteriosa<br />

na barraca <strong>do</strong> pão. Lóris limpou os olhos e continuou:<br />

– Assim que entrei na barraca que mais parecia <strong>um</strong> tronco enorme sem<br />

galhos, provei <strong>um</strong>a papa estranha e comecei a sentir o fim <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> vivo.<br />

Entrei no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sonhos t<strong>um</strong>ultua<strong>do</strong>s. – Lóris esfregou o rosto e levantou-se<br />

de cima de Bak. – Foi isso. Impossível decifrar sua fórmula. Entreguei<br />

as amostras de pratos cria<strong>do</strong>s por nós, ensinan<strong>do</strong> alguns detalhes importantes,<br />

e ainda recebi deles frutos e ervas novos. Voltei com o Sol na<br />

outra metade <strong>do</strong> céu. Cabeça ainda entorpecida, talvez pelo almíscar que<br />

utilizaram em excesso, talvez pelo uso erra<strong>do</strong> da kava-kava. Luas depois, a<br />

transformação irradiava <strong>do</strong> centro <strong>do</strong> corpo.<br />

Ao fim da cerimônia <strong>do</strong> grande banquete, não havia <strong>um</strong> corpo de pé<br />

nem <strong>um</strong> prato intoca<strong>do</strong>. A casca <strong>do</strong>s abacates murcha em torno da polpa<br />

ausente, cacos de amên<strong>do</strong>as perdi<strong>do</strong>s entre cabelos e dentes. Todas as fogueiras<br />

começan<strong>do</strong> a esfriar. Lóris e Bak foram até o mar, afastan<strong>do</strong>-se instintivamente<br />

das falésias para continuar a conversa na arrebentação, onde se<br />

sentiam mais seguros.<br />

– O que mais? – insistiu Bak.<br />

– Não lembro os sabores nem o cheiro <strong>do</strong> que comi. Você foi testemunha<br />

de que fui incapaz de reproduzir a receita com você. – Lóris foi categórica,<br />

na tentativa de terminar a conversa que entrou em desarmonia com o<br />

prazer imediato <strong>do</strong> banquete mais recente.<br />

– E hoje tem <strong>um</strong> filho de pele clara. E com pêlo no rosto – provocou<br />

Bak, sem querer ser o último a falar. – O que comeu? Como você pode não<br />

lembrar?<br />

Antes de mergulhar nas águas geladas, na direção da luz que começava<br />

a tingir a outra ponta <strong>do</strong> mar, Lóris respondeu:<br />

– Acho que alg<strong>um</strong> ingrediente que não conheço alterou o sabor <strong>do</strong>s<br />

outros... E você está certo, eu não posso não lembrar.<br />

[ 28 ]


[ LUDIMILA HASHIMOTO ]<br />

O ESTRANHO POVO DE TANATOS<br />

Uma variedade de hortaliças selecionadas, carnes, frutas e ervas exóticas<br />

só era acessível graças ao comércio no porto, controla<strong>do</strong> pela aldeia de<br />

Tanatos. Eles não <strong>do</strong>minavam a culinária, sequer tangenciavam a capacidade<br />

de preparar pratos de efeitos fantásticos <strong>do</strong> povo que consideravam apenas<br />

primitivo demais para existir sobre o mesmo planeta que eles.<br />

Durante os anos em que não fizeram contato com Olpic, transformaram<br />

a taxa de natalidade já negativa da tribo no pesadelo da extinção da<br />

cultura que guardava como seu único tesouro o conhecimento sobre como<br />

utilizar recursos naturais para efeitos extraordinários. O motivo para deixarem<br />

a tribo existir era a cura que proporcionava. E os males não tinham fim.<br />

Os Olpic alegavam que a origem das <strong>do</strong>enças era a incapacidade de<br />

satisfação plena <strong>do</strong> Grande Corpo. Para o povo de Tanatos, o Grande Corpo<br />

era <strong>um</strong> conceito mágico, religioso e ofensivo.<br />

Os habitantes de Tanatos não tinham problemas para se reproduzir. O<br />

ato sexual ocorria pontualmente no auge <strong>do</strong> ciclo de fertilidade feminino. A<br />

penetração eficaz jamais era esquecida. Uma ou outra refeição, talvez.<br />

E faziam apenas três repastos frugais por dia. O desjej<strong>um</strong> de chá e café<br />

era segui<strong>do</strong>, cinco horas depois, de <strong>um</strong>a refeição de sopa ou pão com pasta<br />

de frango e água. Ao escurecer, satisfaziam-se com chá ou café acompanha<strong>do</strong><br />

de pão com pasta de peixe.<br />

Deixavam o prazer banal às pessoas limitadas, <strong>do</strong>minadas por instintos<br />

descontrola<strong>do</strong>s e incapazes sequer de compreender o funcionamento da própria<br />

engrenagem orgânica.<br />

Donos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> entre sua aldeia e o porto, eles mesmos pouco cons<strong>um</strong>iam<br />

<strong>do</strong> que vendiam ou trocavam por caros favores.<br />

A atividade <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> seguia n<strong>um</strong> ritmo constante, com gente das<br />

aldeias vizinhas perambulan<strong>do</strong> sem pressa entre as barracas que ofereciam<br />

grande variedade de alimentos.<br />

Uma moça com o cabelo negro impecavelmente preso n<strong>um</strong> rabo-decavalo<br />

e <strong>um</strong> macacão branco aproximou-se da barraca de alcachofras e dirigiu-se<br />

ao vende<strong>do</strong>r. Ele a conhecia bem. Notou que estava com a pressa de<br />

sempre e anteviu a objetividade da conversa.<br />

[ 29 ]<br />

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[ O MITO DA FECUNDAÇÃO ]<br />

– Pois não, Juno? – ele disse.<br />

– Precisamos de você para a intervenção em Olpic. – Ela o encarava<br />

como se ele fosse <strong>um</strong> assunto a ser resolvi<strong>do</strong>. Viviam na mesma casa e trabalhavam<br />

no mesmo merca<strong>do</strong>, mas pouco se encontravam ao longo <strong>do</strong> dia.<br />

Mal<strong>do</strong> estava no esta<strong>do</strong> entedia<strong>do</strong> de to<strong>do</strong> dia, viven<strong>do</strong> sem ansiedade,<br />

sem ter o que desejar ou evitar. Tentava tocar as alcachofras o menos possível.<br />

Os emprega<strong>do</strong>s arr<strong>um</strong>avam a barraca e o ajudavam a atender os clientes.<br />

– Estou à disposição, Juno. É urgente?<br />

– Temos notícias de que estão suficientemente frágeis para ceder. É o<br />

momento certo de apreendermos o livro de receitas.<br />

Mal<strong>do</strong> ficou impaciente, mas manteve a formalidade.<br />

– Já sabemos que não existe livro nenh<strong>um</strong> – ele respondeu, sem entender<br />

a dificuldade da informação. – Nem alfabeto.<br />

– Sim, sim. Refiro-me a qualquer <strong>um</strong>a das mulheres que tenha memoriza<strong>do</strong><br />

mo<strong>do</strong>s de preparo e ingredientes – a expressão da jovem não se alterou.<br />

– Eles têm pelo menos <strong>do</strong>is livros vivos.<br />

– O que eu faço? – Mal<strong>do</strong> já estava conforma<strong>do</strong> com seu papel de<br />

diplomata agourento. A mulher de branco, tão mais nova que ele, possuía<br />

<strong>um</strong>a determinação que a ele sempre faltara.<br />

– Diga que prometemos <strong>um</strong>a gravidez em troca de <strong>um</strong> liv... de <strong>um</strong>a<br />

decodifica<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s ensinamentos gastronômicos deles. Pelo tempo necessário<br />

para compilarmos quantas receitas precisarmos e testarmos alg<strong>um</strong>as como<br />

garantia. Deixe sua barraca sob meus cuida<strong>do</strong>s e parta agora.<br />

Parta agora, pensou Mal<strong>do</strong> ao sair de casa com tu<strong>do</strong> o que precisava para a<br />

caminhada de duas horas pela mata fechada que acabava no alto das antigas<br />

falésias. Juno gosta de dar ordens. Não se importa que esteja escurecen<strong>do</strong>, não quer que<br />

eu use lampião para não dar tempo de se esquivarem <strong>do</strong> encontro. Sabe que agora quase<br />

não <strong>do</strong>rmem, que passam todas as horas <strong>do</strong> dia buscan<strong>do</strong> <strong>um</strong>a nova receita milagrosa.<br />

Do outro la<strong>do</strong> da selva de galhos altos, folhas grossas e animais camufla<strong>do</strong>s<br />

pelo ambiente estranho a qualquer homem de Tanatos, os que restavam<br />

da tribo de Olpic cozinhavam os pratos da décima segunda refeição <strong>do</strong><br />

dia, concentra<strong>do</strong>s em desenvolver mais <strong>um</strong>a combinação que reproduzisse a<br />

iguaria que suas mulheres haviam prova<strong>do</strong> dentro da barraca <strong>do</strong> pão de<br />

Tanatos. Queriam alcançar o que elas haviam prova<strong>do</strong> nas obscuras refeições<br />

de fecundação.<br />

[ 30 ]


[ LUDIMILA HASHIMOTO ]<br />

A praia estava próxima, mas a escuridão chegou ao limite no ponto<br />

mais denso da mata. Não fosse a certeza de que as fogueiras alaranjadas<br />

estariam queiman<strong>do</strong> <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>, Mal<strong>do</strong> não teria da<strong>do</strong> mais <strong>um</strong> passo.<br />

Pensou em voltar e dizer a Juno que o acor<strong>do</strong> não fora feito, que não havia<br />

mais nenh<strong>um</strong> livro de receitas. Não volte. Era a voz da filha. O mo<strong>do</strong> determina<strong>do</strong><br />

como Juno enfrentava as situações que nem ele, o pai e supostamente<br />

o mais forte e seguro <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is, conseguia enfrentar o perturbava e dava<br />

origem a <strong>um</strong>a mistura de orgulho e angústia insuportável.<br />

Ele duvidava que seu povo estivesse agin<strong>do</strong> de maneira justificável, mas<br />

a justiça que ele visionava não seria compartilhada com ninguém, nem mesmo<br />

dentro da própria família. Sempre que preciso, veja o breu como <strong>um</strong> inimigo e<br />

dê <strong>um</strong> soco no estômago. Seu braço firme e seu punho sóli<strong>do</strong> certamente são mais fortes<br />

que as trevas. Pense no estômago porque esse é o ponto fraco <strong>do</strong>s ignorantes. E o portal<br />

para a fraqueza da alma esfomeada.<br />

Ass<strong>um</strong>in<strong>do</strong> que ainda queria que Juno confiasse nele, Mal<strong>do</strong> obedeceu.<br />

Seu soco foi mais poderoso <strong>do</strong> que imaginava. Atingiu o me<strong>do</strong> primordial<br />

encarna<strong>do</strong> na figura <strong>do</strong> rosto da filha. Afastou a folhagem fechada por galhos<br />

tortos e seguiu tatean<strong>do</strong>. Alguns metros adiante, quan<strong>do</strong> pôde ver as sombras<br />

de árvores mais esparsas, o passo seguinte seria <strong>um</strong> mergulho <strong>do</strong> ponto<br />

mais alto das antigas falésias, já transformadas em arribas fósseis, <strong>um</strong>a queda<br />

de vinte metros. Pés firmes no chão, mãos tensas ainda estendidas no ar<br />

gela<strong>do</strong>, a paisagem que viu abaixo era sobrenatural. Fogueiras e choupanas<br />

espalhadas sobre o fun<strong>do</strong> negro da areia pisada vibravam todas na mesma<br />

oscilação intermitente. Chamas e telha<strong>do</strong>s de palha iam e vinham, n<strong>um</strong>a<br />

aceleração sutil, exatamente a mesma da sua respiração.<br />

– Mais <strong>um</strong> feixe de lenha na fogueira central! Tragam to<strong>do</strong>s os cog<strong>um</strong>elos<br />

que tiverem guarda<strong>do</strong>. Quem estiver cansa<strong>do</strong> de mexer, passe a colher<br />

para outro.<br />

Ele ouviu os gritos de Olpic. O desespero de <strong>um</strong>a cultura à beira <strong>do</strong><br />

fim o comoveu, e aproveitou a ansiedade <strong>do</strong> encontro como base para a<br />

coragem sempre fugidia. Procurou <strong>um</strong>a das trilhas esculpidas na parede rochosa,<br />

agarran<strong>do</strong>-se às raízes <strong>do</strong> que restara <strong>do</strong> manguezal. Sua presença só<br />

foi percebida pelas pessoas exaustas <strong>do</strong> trabalho e digestão contínuos quan<strong>do</strong><br />

já estava a <strong>um</strong> salto de pisar na areia escura, território de antepassa<strong>do</strong>s<br />

quase perdi<strong>do</strong>s no tempo.<br />

Bak interrompeu as atividades à beira das fogueiras:<br />

– Afastem-se enquanto falamos com o homem. Fiquem vigilantes.<br />

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[ O MITO DA FECUNDAÇÃO ]<br />

Mal<strong>do</strong> aproximou-se com os braços ergui<strong>do</strong>s, demonstran<strong>do</strong> não estar<br />

arma<strong>do</strong>. Disse na língua <strong>do</strong> outro:<br />

– Vim falar com os Livros de Receitas. Rapidamente. Não preten<strong>do</strong><br />

atrapalhar muito. – Sua voz não saiu com a firmeza que esperava, mas trêmula,<br />

quase falhan<strong>do</strong>. – Dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> que fizermos, não precisarão<br />

mais trabalhar dia e noite em busca da reprodução da nossa receita de<br />

fecundação.<br />

Bak chamou Lóris e Lana, e se aproximaram para ouvi-lo.<br />

– Sabemos da sua necessidade urgente. Sabem que temos interesse em<br />

muitas de suas receitas... estimulantes. O acor<strong>do</strong> é que entreguem <strong>um</strong> Livro<br />

de Receitas que possa ser fecunda<strong>do</strong> e que possa passar alg<strong>um</strong> tempo transmitin<strong>do</strong><br />

seu conhecimento para os nossos escreventes.<br />

Mal<strong>do</strong> achou que tinha se saí<strong>do</strong> bem. Claro e direto. Logo estaria tu<strong>do</strong><br />

resolvi<strong>do</strong>.<br />

– Por que não trocam sua única receita de fecundação <strong>do</strong> Corpo por<br />

nossas principais receitas de êxtase sublime? – Bak pediu o que Mal<strong>do</strong> não<br />

esperava. – Assim não precisamos constranger nem Lóris nem Lana a irem<br />

com você.<br />

Por <strong>um</strong> segun<strong>do</strong>, achou a proposta razoável, mas antes de ass<strong>um</strong>ir seu<br />

fracasso como media<strong>do</strong>r, explicou o que poderia ser a verdade:<br />

– Tememos que o processo por trás da nossa receita não os agrade, que<br />

não seja compatível com suas crenças. Garantimos o resulta<strong>do</strong> pelo qual<br />

anseiam, como já foi feito, sem erro, durante tanto tempo. É só o que podemos<br />

informar. Também temos nossos segre<strong>do</strong>s e defesas.<br />

Enquanto falava, o pensamento atrapalhava a linha de raciocínio: não<br />

temos nenh<strong>um</strong>a receita. Porque não perdemos tempo com tentativas mágicas. Paguem o<br />

preço por não conhecerem a verdadeira fecundação h<strong>um</strong>ana.<br />

– Eu me ofereço a fazer sua refeição na barraca <strong>do</strong> pão – Lóris interveio.<br />

Sabia que era a mais indicada entre as duas alternativas. Por sua memória<br />

privilegiada e pela fragilidade de Lana.<br />

– Agradeço, Lóris, mas já foi duas vezes, voltou sem a transformação na<br />

primeira. Peço a Lana que vá agora. – Bak olhou para as mulheres e segurou<br />

a mão da mais jovem.<br />

Lana soltou a mão de Bak.<br />

– Estou pronta – respondeu com simplicidade e correu para pegar <strong>um</strong>a<br />

bolsa com roupas e outros objetos em sua choupana. Ao retornar, sem despedidas,<br />

posicionou-se ao la<strong>do</strong> de Mal<strong>do</strong>.<br />

[ 32 ]


[ LUDIMILA HASHIMOTO ]<br />

– Ela deve voltar antes <strong>do</strong> terceiro crescente. E com a transformação<br />

ativada dentro de si – avisou Bak. – Trate bem minha única filha.<br />

Mal<strong>do</strong> sentiu <strong>um</strong>a parte de si desmoronar e confundir-se com a estranha<br />

areia antiga que pisava. Tentou apagar as últimas palavras de Bak, mas, quan<strong>do</strong><br />

lhe faltavam forças, lembrava-se da filha. E voltou a ter pena de Lana.<br />

No início da negociação, desejava retornar a Tanatos para satisfazer não<br />

o seu povo, mas a figura intensa e onipresente de Juno. Olhou para o caldeirão<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> sobre a fogueira e as esteiras com as pilhas das poucas variedades<br />

de alimentos que os Olpic haviam consegui<strong>do</strong> reunir para a cerimônia<br />

que começaria em poucos minutos, caso ele não tivesse apareci<strong>do</strong>. Olhou<br />

para o alto, para as folhagens escuras acima da rocha íngreme. À sua volta,<br />

não via nenh<strong>um</strong> rosto, ninguém que o impedisse de prosseguir. Deu as costas<br />

para Lana e partiu para a escalada, sem saber se queria que ela o seguisse<br />

com seu ar dócil e comovente de tão honesto.<br />

Enquanto caminhavam pela mata fechada, Mal<strong>do</strong> viu involuntariamente<br />

as cenas da iminente fecundação, da ação imperturbável e objetiva que seria<br />

efetuada dentro <strong>do</strong> corpo de Lana.<br />

– Não. Eu sei o que quero – Mal<strong>do</strong> disse entre dentes na língua que<br />

Lana desconhecia.<br />

Ela parou a <strong>um</strong> passo dele. Ele a segurou pelo braço e voltou, levan<strong>do</strong>a<br />

de volta às areias escuras.<br />

Quan<strong>do</strong> Bak e Lóris se aproximaram, sem entender, viram <strong>um</strong> homem<br />

despoja<strong>do</strong> de máscaras, a quem restara apenas a pele sobre a carne e a carne<br />

em desespero.<br />

– Se tinha alg<strong>um</strong> motivo para enganá-los, esqueci. A verdade é que<br />

nunca criamos receita alg<strong>um</strong>a – ele conseguiu dizer, esfregan<strong>do</strong> a testa suada,<br />

verten<strong>do</strong> raiva pelos poros.<br />

Bak ainda estava abala<strong>do</strong> com a partida da filha e nada prepara<strong>do</strong> para o<br />

retorno repentino. Lóris falou, confusa:<br />

– Pode nos ajudar? Ainda querem todas as nossas receitas?<br />

– Se eu deixar Lana aqui, posso fazê-la engravidar e partir? – Mal<strong>do</strong><br />

não tinha <strong>um</strong> plano. Quan<strong>do</strong> a expressão contrariada de Juno surgiu na sua<br />

frente, era a figura da repressão e <strong>do</strong> descaso, algo que não lhe servia mais.<br />

Quan<strong>do</strong> olhou para Lana, esqueceu-se da filha e voltou a derreter por baixo<br />

da pele.<br />

– Diga de quais ingredientes necessita – Bak não conseguia raciocinar<br />

senão da forma que sempre fizera, em termos de comida.<br />

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[ O MITO DA FECUNDAÇÃO ]<br />

– Preciso apenas da sua palavra. Se não aprovarem o mo<strong>do</strong> como a<br />

fecundarei, não poderão me agredir. Não machucarei Lana.<br />

Lóris e Bak eram incapazes de imaginar <strong>um</strong> ato que, deixan<strong>do</strong> a moça<br />

ilesa e plena de <strong>um</strong>a nova vida, sem feri-la, pudesse ofendê-los.<br />

– Damos a nossa palavra – disse Bak, olhan<strong>do</strong> para Lóris –, de que não<br />

o agrediremos.<br />

Assim, Mal<strong>do</strong> foi leva<strong>do</strong> à choupana de sapé. Antes de entrar, Lana<br />

tomou <strong>um</strong>a tigela da sopa de cog<strong>um</strong>elos e aipo.<br />

Dentro da choupana, Mal<strong>do</strong> tentava se aproximar de Lana, queren<strong>do</strong><br />

ir além <strong>do</strong>s toques discretos que ensaiava. Ela percebeu e quis ajudar. Repetiu<br />

os mesmos movimentos dele, mas os <strong>do</strong>is tinham expectativas muito<br />

diferentes.<br />

Mal<strong>do</strong> então começou a dizer a Lana tu<strong>do</strong> o que estava prestes a fazer<br />

com ela. No idioma dele. Ela escutou, curiosa.<br />

– Estou pronto – ele disse por fim, na língua de Olpic. E pediu que ela<br />

falasse livremente sobre seus ingredientes favoritos e o mo<strong>do</strong> de preparar o<br />

prato que mais lhe apetecia. Depois disso, ela também estava pronta.<br />

Pouco tempo depois, os membros da tribo ouviram o grito uníssono<br />

que se propagou de dentro da choupana. Para eles, o estron<strong>do</strong> era o anúncio<br />

sagra<strong>do</strong> da concepção <strong>do</strong> primeiro filho livre de Olpic.<br />

Ainda sem conhecer o segre<strong>do</strong> que a própria carne insistia em aprisionar,<br />

Bak e Lóris descansaram juntos pela primeira vez em anos.<br />

[ 34 ]


168 páginas - 14 x 21 cm<br />

Este Anuário traz <strong>um</strong> amplo painel <strong>do</strong> que de melhor se realizou em termos<br />

de literatura fantástica no Brasil em 2008 e a sua publicação pode ser vista<br />

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Nesta obra você encontrará relações <strong>do</strong>s livros, revistas, sites e fanzines<br />

publica<strong>do</strong>s, segui<strong>do</strong>s de <strong>um</strong>a criteriosa análise <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de livros e<br />

periódicos, com críticas de alg<strong>um</strong>as das obras mais significativas desse perío<strong>do</strong>.<br />

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