Na verdade, estamos - Visão Judaica
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2<br />
editorial<br />
VISÃO JUDAICA • Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
Novos ventos e a mediocridade em Paraíba do Sul<br />
Publicação mensal independente da<br />
EMPRESA JORNALÍSTICA VISÃO<br />
JUDAICA LTDA.<br />
Redação, Administração e Publicidade<br />
visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
Curitiba PR Brasil<br />
Fone/fax: 55 41 3018-8018<br />
Diretora de Operações e Marketing<br />
SHEILLA FIGLARZ<br />
Diretor de Redação<br />
SZYJA B. LORBER<br />
Diretora Comercial<br />
HANA KLEINER<br />
Publicidade<br />
ALEXANDRE BIEGA<br />
DEBORAH FIGLARZ<br />
Arte e Diagramação<br />
SONIA OLESKOVICZ<br />
Webmaster<br />
RAFFAEL FIGLARZ<br />
Colaboram nesta edição:<br />
Abraham Chachamovits, Antonio<br />
Carlos Coelho, Aristide Brodeschi,<br />
Edda Bergmann, Gustavo D. Perednik,<br />
Heliete Vaitsman, José A. Itzigsohn,<br />
Joseph Farah, Khaled Abu Toameh,<br />
Moises Rabinovici, <strong>Na</strong>hum Sirotsky,<br />
Pilar Rahola, Regina Caldas, Sergio<br />
Feldman, Sheilla Figlarz, Vittorio<br />
Corinaldi e Yossi Groisseoign.<br />
<strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> circula onze vezes por ano.<br />
Os artigos assinados não representam<br />
necessariamente a opinião do jornal<br />
www.visaojudaica.com.br<br />
morte de Arafat pode ter aberto algumas portas<br />
para o otimismo no Oriente Médio. Nos<br />
últimos anos houve tão poucas chances de<br />
paz entre Israel e os vizinhos árabes, que é importante<br />
dar atenção às oportunidades. Mas, se<br />
de um lado sopram ventos novos, de outro, devemos<br />
ficar atentos: o terrorismo continua. O atentado<br />
de 12 de dezembro e os que se seguiram, são<br />
prova disso. Faltam recursos para o saneamento e<br />
a saúde dos palestinos? Mas o Al-Aksa e o Hamas<br />
têm dinheiro para explodir, com 1.500 kg de dinamite,<br />
um posto militar em Gaza, matando cinco<br />
jovens israelenses. Não é uma disputa de gangues<br />
pelo poder. É a tentativa de forçar Israel a esquecer<br />
seu plano de retirada de Gaza. Se sair, do que<br />
irão reclamar os palestinos depois?<br />
Uma razão para o otimismo é a transferência<br />
suave do governo na Autoridade Palestina. Esperava-se<br />
uma violenta luta intestina pelo poder.<br />
As eleições que o finado ditador prometera, e<br />
nunca cumprira, acontecerão, finalmente, em 9<br />
de janeiro. Abu Mazen convenceu o cinco vezes<br />
condenado à prisão perpétua<br />
Marwan Barghouti a retirar a<br />
candidatura. É claro que Mazen<br />
vencerá as eleições, mas<br />
não nos iludamos. Sabem o<br />
Acendimento das velas<br />
em Curitiba dez/jan/fev<br />
Véspera de Shabat<br />
DATA HORA<br />
24/12 18h48<br />
31/12 18h51<br />
7/1 18h52<br />
14/1 18h53<br />
21/1 18h52<br />
28/1 18h50<br />
4/2 18h47<br />
11/2 18h43<br />
* Desde o dia 2/11/2004 vigora o<br />
horário brasileiro de verão, com<br />
os relógios adiantados em uma<br />
hora. Todos os horários aqui<br />
citados já estão acrescidos desse<br />
tempo para o acendimento das<br />
velas de shabat.<br />
que pensa dos judeus? Que mentem e inflaram o<br />
número de vítimas no Holocausto. Para ele, foi<br />
“menos que um milhão”!<br />
O sheik Hasan Yusef, um líder do Hamas na<br />
Cisjordânia, recentemente libertado da prisão, passou<br />
a falar sobre uma trégua de 10 anos, negociações<br />
de paz e até mesmo “viver lado-a-lado com<br />
Israel”. Essa dissensão discursiva surpreende considerando<br />
o desvario e o fanatismo psicótico em<br />
riscar Israel do mapa. Mas com os últimos atentados,<br />
o Hamas de Gaza mostra que não liga a mínima<br />
para o que diz o sheik. Os acenos também partem<br />
de Damasco. Bashar El- Assad quer conversar<br />
com Sharon sem impor condições sobre o Golan.<br />
Só não deixa de apoiar grupos terroristas baseados<br />
na Síria e no Líbano, e de sorrir para o videogame<br />
sírio, sucesso no mundo árabe e palestino,<br />
por incentivar o ódio, a matança de judeus e a<br />
destruição de Israel. Underash [esse é o nome do<br />
jogo] ainda pega pesado com os palestinos ao<br />
mostrar as glórias de um terrorista suicida.<br />
<strong>Na</strong>s últimas semanas houve intensa atividade<br />
diplomática entre Israel e o Egito. Visitas de ministros,<br />
encontros cordiais, egípcios dispostos a<br />
atuar contra o contrabando de armas para a Faixa<br />
de Gaza, a inesperada declaração de Mubarak<br />
qualificando Sharon como o único capaz<br />
Nossa capa<br />
A capa reproduz o quadro cujo título é “Ao entardecer de sexta-feira” (Erev<br />
Shabat), pintado com a técnica pastel seco sobre papel cinza e dimensões 57 X<br />
50 cm, criação de Aristide Brodeschi.<br />
Brodeschi nasceu em Bucareste, Romênia. É arquiteto e artista plástico e<br />
vive em Curitiba desde 1978. Já desenvolveu trabalhos em várias técnicas,<br />
dentre elas pintura, gravura e tapeçaria. Recebeu premiações por seus trabalhos<br />
no Brasil e nos EUA. Suas obras estão espalhadas por vários países e tem no<br />
judaísmo, uma das principais fontes de inspiração. É o autor das capas do<br />
jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. (Para conhecer mais sobre ele, visite o site<br />
www.brodeschi.com.br).<br />
Datas importantes<br />
22 de dezembro Jejum de 10 de Tevet<br />
25 de dezembro Vaychi<br />
1 0 de janeiro/05 Shemot<br />
8 de janeiro Vaerá<br />
15 de janeiro Bó<br />
22 de janeiro Beshalach Shabat Shirá<br />
24 de janeiro Véspera de TuBishvat<br />
25 de janeiro TuBishvat<br />
29 de janeiro Yitró<br />
5 de fevereiro Mishpatim Shabat Shecalim<br />
12 de fevereiro Terumá<br />
de obter um acordo de paz com os palestinos e a<br />
libertação do druso israelense Azzam Azzam da<br />
prisão. A TV palestina tem adotado um tom mais<br />
moderado, sem as inflamadas transmissões que<br />
comparam judeus a macacos e porcos nas pregações<br />
religiosas dos clérigos ou chamam o exército<br />
israelense nos noticiários de “forças selvagens<br />
da ocupação”. Algo significativo mudou nas últimas<br />
semanas desde a morte de Arafat. Agora o<br />
discurso é de reconciliação. De fato, sopram novos<br />
ventos na região, mas um pouco de cautela<br />
sempre é bom para conter otimismos exagerados.<br />
<strong>Na</strong> TV israelense jamais veríamos propaganda<br />
remotamente assemelhada àquilo que a TV palestina<br />
veicula. Se um dia isso acontecesse, podem<br />
ter certeza de que até Paraíba do Sul ficaria sabendo:<br />
Israel é um país de vidro, o sujeito se<br />
coça em Jerusalém e na mesma hora a CNN mostra.<br />
O mundo sabe desse comportamento. Só que<br />
nunca fez nada. Pelo contrário, com seu silêncio<br />
aplaude a TV de Arafat, o “pacifista” carniceiro<br />
que está para virar estátua, com dinheiro público,<br />
no município fluminense de Paraíba do Sul,<br />
pelas mãos do prefeito energúmeno, no apagar<br />
das luzes de sua infeliz administração.<br />
Lembrete: Em janeiro não circulamos, pois entramos<br />
em férias. Voltamos em fevereiro.<br />
Humor judaico<br />
Filantropia<br />
A Redação<br />
Falecimento<br />
11/12 - Registramos<br />
o falecimento do Sr.<br />
Mario Grymbaun, 84<br />
anos. Sepultado no<br />
Cemitério Israelita de<br />
Santa Cândida.<br />
Um visitante em Israel<br />
foi a um recital e concerto<br />
no Moscovitz Auditorium.<br />
Ele ficou bem impressionado<br />
com a arquitetura e a<br />
acústica. Então perguntou<br />
ao guia turístico:<br />
“Este magnífico auditório<br />
tem seu nome em homenagem<br />
a Chaim Moscovitz,<br />
o famoso talmudista?”<br />
“Não” — replicou o guia<br />
— “Ele tem seu nome em<br />
honra de Sam Moscovitz, o<br />
escritor”.<br />
“Nunca ouvi falar dele. O<br />
que ele escreveu?”<br />
“Um cheque”, respondeu<br />
o guia.
Sergio Feldman *<br />
m teoria, fazendo uma<br />
generalização, por vezes<br />
imprecisa, mas de acordo<br />
com a lei judaica (Halachá),<br />
seria todo filho de<br />
mãe judaica, que passasse<br />
pelo ritual da circuncisão (Brit Milá). Isso<br />
o colocaria no pacto de Abraão que simboliza<br />
sua pertinência ao povo judeu.<br />
Isso não exime o judeu de outros dois<br />
aspectos fundamentais: o conhecimento<br />
da Lei (Torá) e a prática dos preceitos<br />
(mitzvot), que são o tripé básico do<br />
Judaísmo, de maneira simplificada: Brit<br />
(Pacto), Torá (Lei) e Mitzvot (Preceitos).<br />
Não creio que nenhum rabino ortodoxo,<br />
ou liberal, reformista ou conservador se<br />
oponha em princípio a esta definição<br />
básica. Alguns rabinos ou pensadores<br />
podem derivar desta conceituação, algumas<br />
condições e preceitos e complementá-la<br />
com argumentos e detalhes.<br />
Porém a pergunta que se faz é a<br />
seguinte: quantos de nós podemos ser<br />
considerados judeus segundo esta definição<br />
“básica”. Quem conhece de maneira<br />
sucinta e simplificada a Lei (Torá)<br />
e pratica de alguma maneira os preceitos<br />
(mitzvot), seja numa versão ortodoxa<br />
ou neo-ortodoxa, seja de uma maneira<br />
liberal ou conservadora? Ou seja,<br />
deixamos de ser judeus, apesar de sermos<br />
filhos de mães judias e sermos circuncidados<br />
(os homens judeus, obviamente)?<br />
Ser ou não ser, eis a questão.<br />
Viajemos na história. Reflitam comigo<br />
e ousem pensar sem preconceito.<br />
Nosso primeiro exemplo vem da Idade<br />
Média, na Europa Ocidental. No período<br />
das Cruzadas (1096 a 1250) em<br />
países como a França e a Alemanha (1ª<br />
Cruzada) e na Inglaterra (3ª Cruzada)<br />
judeus são colocados entre e espada e<br />
a cruz: converter ou morrer. A grande<br />
maioria opta por morrer em Santificação<br />
do Nome Divino (Al Kidush HaShem).<br />
Uma minoria opta pela conversão. Isso<br />
se explica pela pouca integração dos<br />
judeus no meio em que viviam. Ser judeu<br />
ou morrer. São os mártires das Cruzadas.<br />
Isso está descrito no último livro<br />
editado por meu mestre e orientador<br />
<strong>Na</strong>chman Falbel. <strong>Na</strong> seqüência vemos<br />
outro fato ocorrer, mas de maneira<br />
diferente, no sul da Europa.<br />
Após alguns séculos de vida judaica<br />
na Península Ibérica, já no século<br />
XIV, se configura o inicio de uma prolongada<br />
crise. Em 1391, estala em<br />
Sevilha um violento pogrom antijudaico,<br />
deflagrado por um frei. Este se<br />
espalha por toda a Espanha atual (na<br />
época reinos de Castela e Aragão),<br />
menos em Portugal aonde o rei protege<br />
os judeus. O resultado desta violência<br />
foi surpreendente: um elevado<br />
número de judeus optou por se con-<br />
Quem é judeu?<br />
verter ao Cristianismo, ao invés de<br />
morrer em “Santificação do Nome Divino”<br />
(Al Kidush HaShem). Isso devido<br />
ao fato dos judeus ibéricos serem muito<br />
integrados ao meio em que viviam e a<br />
crença de que após a crise poderiam<br />
retornar à sua fé ancestral. Surge um<br />
grupo numericamente grande de “cristãos<br />
novos”. Alguns judeus, não chegam<br />
a ser convertidos à força e conseguem<br />
permanecer judeus; alguns (minoria)<br />
preferem morrer sem profanar<br />
a fé de seus ancestrais. Entre 1391 e<br />
1492, convivem nos reinos ibéricos alguns<br />
grupos étnico-religiosos: cristãos<br />
velhos, cristãos novos, judeus e muçulmanos.<br />
A convivência por vezes se<br />
torna tensa. Inúmeras campanhas tentam<br />
converter os judeus ao catolicismo.<br />
Os cristãos novos são discriminados<br />
em Toledo (1449) pelo estatuto de<br />
pureza de sangue. Trata-se de um antecessor<br />
ibérico das leis racistas que<br />
surgirão no século XX. Os cristãos novos<br />
são proibidos de exercer determinados<br />
cargos, de cobrar os impostos<br />
reais e de ter poder sobre a casta dos<br />
nobres e burgueses cristãos velhos. Trata-se<br />
de uma lei racista que exclui cristãos<br />
e os discrimina pela sua pretensa<br />
origem “judaica”. Paira sobre os cristãos<br />
novos a mesma desconfiança que<br />
os judeus sofriam. Uma continuidade do<br />
preconceito, com os recém convertidos<br />
e uma restrição “racial” (numa época<br />
que este conceito ainda não existe!),<br />
aos descendentes de judeus.<br />
Há alguns cristãos novos que se<br />
integram à nova fé, e tratam de mostrar<br />
que são fiéis e confiáveis. Há<br />
diversos cristãos novos que se dedicam<br />
a carreiras eclesiásticas, se tornando<br />
monges, padres e bispos. São<br />
por vezes fervorosos, talvez até para<br />
mostrar sua fidelidade.<br />
Uma minoria dos convertidos opta<br />
por seguir praticando as escondidas a<br />
crença de seus ancestrais judeus: surge<br />
o cripto-judaísmo ou marranismo.<br />
Este grupo vive sob o risco de ser acusado<br />
de apostasia ou de heresia, algo<br />
inaceitável sob a ótica católica. Uma<br />
vez batizado, mesmo contra a vontade,<br />
não há retorno ao fiel. Um cristão (católico)<br />
nunca poderia abandonar a sua<br />
fé. Nestes casos, havia o risco de ser<br />
condenado por um tribunal inquisitorial<br />
que poderia levá-lo à fogueira. Isso não<br />
tardou em ocorrer. Os Reis Católicos<br />
(Fernando de Aragão e Isabel de Castela)<br />
instauram a Inquisição em seus domínios,<br />
na segunda metade do século<br />
XV (c. 1476) e começam a inquirir e<br />
condenar inúmeros cripto-judeus. Já não<br />
são judeus, pois a Inquisição não poderia<br />
julgar infiéis judeus, mas sim cristãos<br />
heréticos. Pelo catolicismo, são<br />
cristãos e são julgados por apostasia e<br />
heterodoxia. Pelo judaísmo, não são<br />
mais judeus, já que se converteram ao<br />
catolicismo, participaram da missa, e<br />
dos sacramentos. Geralmente não eram<br />
circuncidados e portanto não realizaram<br />
o Brit Milá, não sendo membros do<br />
Pacto, ou seja judeus.<br />
Morrem na fogueira por crime de<br />
heresia judaizante: são cristãos que<br />
realizam rituais judaicos, herdados de<br />
seus ancestrais que foram judeus. Nem<br />
em termos judaicos e nem em termos<br />
cristãos, podem ser chamados de judeus.<br />
Mas fica a sensação de que morrem<br />
em “Kidush HaShem”, da mesma<br />
maneira que os judeus vitimados durante<br />
as Cruzadas. A minha lógica fica<br />
estreita e minha razão se atrofia quando<br />
penso que morreram como judeus,<br />
mesmo sem serem considerados assim,<br />
nem pelos membros do Pacto de<br />
Abraão e tampouco pelos seus algozes<br />
da Inquisição. Morreram por professar<br />
um certo tipo de Judaísmo. O<br />
que você acha? Seria uma maneira de<br />
“ser” judaica, em pessoas legalmente<br />
não judias? Seria “Kidush HaShem”? Os<br />
judaizantes não seriam judeus?<br />
Passemos ao século XIX e XX. Surge<br />
o Racismo Europeu, na esteira da<br />
expansão colonial. Distorcendo a teoria<br />
de Charles Darwin e inserindo nesta<br />
a semente do nacionalismo europeu<br />
do século XIX, com uma forte dose<br />
de preconceito aos povos “não europeus”,<br />
incultos e inferiores. Buscando<br />
justificar a ocupação colonial da África<br />
e da Ásia, pelos caucasianos (leiase<br />
brancos europeus), que buscavam<br />
mercados consumidores e matériasprimas<br />
para a expansão da Revolução<br />
Industrial. Assim, na esteira da expansão<br />
industrial européia se consolida um<br />
preconceito aos “outros” que será adotado<br />
pela teoria racial nazista. Os judeus<br />
são vistos por muitos europeus<br />
como asiáticos, infiltrados no seio da<br />
população européia. Uma espécie de<br />
figura “non grata”, um paria racial que<br />
contaminava a pureza ariana. Mas<br />
muitos judeus se integram e se afastam<br />
de suas raízes. Casam com nãojudeus<br />
e se convertem ao cristianismo.<br />
Outros se tornam socialistas e cosmopolitas<br />
e deixam de ser judeus. De diversas<br />
maneiras tratam de se integrar<br />
numa sociedade que os vê como infiltrados,<br />
estranhos e “não europeus”. Esses<br />
judeus que abandonam sua identidade<br />
serão apanhados por uma “armadilha<br />
da História” tal como os judaizantes<br />
da Península Ibérica o foram.<br />
Em 1933, ascende ao poder o <strong>Na</strong>cional<br />
Socialismo (<strong>Na</strong>zismo), na Alemanha.<br />
No seu ideário político o mito<br />
ariano tem papel fundamental. A pureza<br />
racial é almejada para fortalecer<br />
uma política de fortalecimento do Reich<br />
alemão. Os arianos seriam os “senhores<br />
do futuro” e construtores do<br />
Império Alemão: o Reich de Mil Anos.<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
Uma polêmica<br />
para fechar 2004<br />
Os judeus deveriam ser escravizados e<br />
eliminados. Mas e os judeus que haviam<br />
se convertido? E os meio judeus?<br />
E os que tinham um quarto de sangue<br />
judaico? Cria-se o conceito de Mischlinge.<br />
Seriam meio judeus.<br />
As Leis de Nuremberg (1935) excluem<br />
os judeus de direitos de cidadania e<br />
apontam uma categoria diferenciada<br />
para os que fossem um quarto, metade<br />
ou três quartos judeus. Muitos são discriminados,<br />
excluídos de direitos e por<br />
vezes exterminados. Outros são integrados<br />
ao exercito ou a grupos de elite,<br />
sendo provados em sua fidelidade e<br />
lealdade ao Reich. Um destino diferente<br />
perseguiu alguns. De acordo com a<br />
vontade de Himmler, ora eram levados<br />
aos campos, ora eram aproveitados no<br />
esforço de guerra nazista. Quase todos<br />
já não se consideravam judeus: eram<br />
por vezes netos de um judeu e três arianos.<br />
Ora eram netos de dois avós judeus,<br />
mas de outros dois avós não judeus<br />
(arianos) e ambos os pais não professavam<br />
o judaísmo. Muitos foram<br />
mandados as câmaras de gás, como se<br />
fossem judeus, mesmo se fossem filhos<br />
de mães não-judias, mesmo se não fossem<br />
circuncidados e não se identificassem<br />
como judeus. Não praticavam o<br />
judaísmo e não eram judeus de acordo<br />
a Lei (Halachá). Mas morreram como<br />
judeus e por terem sangue judaico. Como<br />
analisar estas mortes?<br />
A nossa análise pode se prolongar.<br />
Mas não queremos gerar conclusões e<br />
certezas. Neste momento preferimos<br />
gerar polêmica e dúvidas. Seriam judeus,<br />
os judaizantes hispânicos mortos<br />
pela Inquisição? Seriam judeus<br />
aqueles Mischlinges não poupados por<br />
Himmler e chacinados, por possuírem<br />
sangue judaico, mesmo se suas crenças<br />
e práticas não o fossem? E somos,<br />
nós mesmos judeus, se não praticamos<br />
os preceitos e não conhecemos a<br />
Lei (mesmo se for sob uma ótica moderna,<br />
conservadora ou reformista)?<br />
Basta ser filho de mãe judia e ser circuncidado<br />
para ser judeu? E quem foi<br />
convertido por um rabino não-ortodoxo<br />
não pode ser considerado judeu?<br />
Pessoalmente não aceito o monopólio<br />
da minoria ortodoxa e creio que a diversidade<br />
judaica é condição “sine qua<br />
non” para a sobrevivência e a continuidade<br />
da identidade judaica.<br />
Portanto acho que <strong>estamos</strong> na hora<br />
de vir a Kehilá e estudarmos e praticarmos<br />
o Judaísmo para poder ser membros<br />
de fato do Pacto, conhecendo a<br />
Lei (renovada e repensada dentro de<br />
conceitos contemporâneos) e retomando<br />
a prática dos preceitos (num<br />
contexto adequado à evolução e a<br />
realidade em que vivemos).<br />
Boas férias. E use o tempo livre<br />
para repensar seus valores e princípios.<br />
3<br />
* Sergio Feldman<br />
é professor adjunto<br />
de História Antiga do<br />
Curso de História da<br />
Universidade Tuiuti<br />
do Paraná e doutor<br />
em História pela<br />
UFPR.
4<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
Israelense vence pela segunda vez<br />
festival internacional de humor gráfico<br />
cartunista Yuri Ochakovsky, de<br />
Israel, é novamente o grande vencedor<br />
do Festival Internacional<br />
de Humor Gráfico das Cataratas do<br />
Iguaçu, que este ano recebeu trabalhos<br />
de 80 países sobre o tema “Planeta<br />
Turismo”. Pelo segundo ano<br />
Com esta charge, o israelense de origem russa Yuri Ochakovsky<br />
venceu, pela segunda vez, o Festival Internacional de Humor,<br />
em Foz do Iguaçu<br />
Yuri Ochakovsky, o ganhador, levou o prêmio de US$ 10 mil<br />
consecutivo, os cobiçados 10 mil<br />
dólares para o primeiro colocado foram<br />
dele. Mas a divulgação do prêmio<br />
omitiu o fato dele ser israelense,<br />
apresentando-o como sendo russo<br />
(que ele é, mas só de nascimento).<br />
O segundo lugar ficou com o<br />
paulista Gilmar Barbosa, o terceiro,<br />
com a curitibana Pryscila Vieira – a<br />
melhor colocação de uma cartunista<br />
mulher de toda a história dos salões.<br />
O júri, formado por 17 cartunistas<br />
e jornalistas este composto<br />
pela argentina Ana Von Reuber, o<br />
paraguaio Casartelli, os brasileiros<br />
Albert Piauí, Angeli, Paulo e Chico<br />
Caruso, Bione, Luís Pimentel (da<br />
Bahia), Solda e Dante, Daniela Baptista<br />
(do Paraná), a dupla Gual e<br />
Jal, Sidney Gusman, do Universo<br />
HQ, Orlando, Luiz Oswaldo Rodrigues<br />
- o Lor (Minas Gerais) - que<br />
foi eleito presidente do grupo.<br />
Entre mais de 3 mil cartoons inscritos,<br />
foram selecionados em votação<br />
39 trabalhos pelos jurados, e<br />
esse grupo passou por nova votação<br />
até ser escolhido o de Ochakovsky<br />
como o melhor. O evento teve<br />
ainda palestras e fóruns, entre outros<br />
com Angeli, Adão Iturrusgarai,<br />
Laerte, Fernando Gonzáles, Albert<br />
Piauí, Aroeira, Santiago, Solda, Dante,<br />
Ana Von Reuben, Casartelli, Ziraldo,<br />
Gabriel Guimard, Louis Chilson,<br />
Douglas Quinta, Zélio Alves Pinto,<br />
Luiz Fernando Veríssimo e os irmãos<br />
Paulo e Chcio Caruso.<br />
“Cartunista russo”<br />
O vencedor do Festival Internacional<br />
do Humor Gráfico, Yuri<br />
Ochakovsky, aparece no release oficial,<br />
inclusive publicado no site do<br />
Governo como sendo “um cartoonista<br />
russo”. Omitiu-se sua condição de<br />
israelense, o que é lamentável em se<br />
tratando de um certame internacional.<br />
No mínimo foi uma tentativa<br />
de boicote contra Israel. Mesmo<br />
assim, um jornal de Foz de Iguaçu,<br />
alguns veículos de comunicação de<br />
Curitiba e um site que noticiou o<br />
evento, “não caíram” nessa e divulgaram<br />
que Yuri é israelense ou<br />
russo radicado em Israel. Talvez<br />
isso tenha acontecido porque é<br />
grande o número de árabes residentes<br />
na área da três fronteiras, mas<br />
isso é injustificável.<br />
O Festhumor das Cataratas, como<br />
também é conhecido, é reconhecido<br />
pela Embratur como o maior<br />
evento do gênero em todo o mundo,<br />
tanto pelo número de participantes<br />
quanto pela premiação oferecida.<br />
Realizou-se no Bourbon Cataratas<br />
Resort & Convention Center<br />
de Foz do Iguaçu (PR) , de 25 a 28<br />
de novembro de 2004.
Caminho para<br />
o Mar Morto<br />
tem beleza muito especial<br />
Edda Bergmann *<br />
srael é um país que se percorre<br />
em cerca de 5 horas<br />
de Norte a Sul e em apenas<br />
uma de Leste a Oeste.<br />
Uma piada comum com quem chega<br />
é aquela em que o turista diz para o<br />
amigo israelense “amanhã vou sair para<br />
conhecer Israel”. E o amigo responde:<br />
“e o que você vai fazer à tarde?”.<br />
Pequeno em tamanho e bem servido<br />
de estradas, o lugar é no entanto<br />
tão rico em diversidade natural que<br />
dificilmente alguém levará apenas este<br />
tempo para dar um giro decente.<br />
Saindo de Jerusalém um dos primeiros<br />
pontos a que o turista se dirige<br />
é o Leste, a fim de descobrir os mistérios<br />
do Mar Morto, que na <strong>verdade</strong> não<br />
passa de um grande lago. Israel também<br />
apelidou de mar outro lago, o de<br />
Tiberíades como o Mar da Galiléia.<br />
É na região do Mar Morto, de beleza<br />
impar e aterradora que estão<br />
duas importantes atrações nacionais:<br />
Qumran, a aldeia onde foram encontrados<br />
os manuscritos do Mar Morto<br />
e Massada, a cidade fortaleza erguida<br />
sobre um imenso platô de 400<br />
metros de altura, de onde se tem uma<br />
vista espetacular da região até as<br />
montanhas da Jordânia.<br />
Uma hora de carro nesta estrada<br />
que corta o deserto de Judá, de Oeste<br />
para Leste e atingimos o ponto<br />
mais baixo da terra, 400 metros abaixo<br />
do nível do mar.<br />
O cenário até lá é em tons ocre e<br />
terra, enfeitados por pedaços verdes<br />
onde tamareiras robustas oferecem<br />
fontes em abundância já que <strong>estamos</strong><br />
em plena época da colheita.<br />
Plantações irrigadas de citros, melões,<br />
uvas sem semente também são<br />
avistadas com freqüência.<br />
Israel é auto-suficiente na<br />
maioria dos alimentos, mas importa<br />
carne e trigo.<br />
O cheiro de enxofre ainda pode<br />
ser sentido quando se entra num dos<br />
spas construídos para receber os turistas.<br />
Neles é possível embelezar-se<br />
com banhos de lama rica em minerais,<br />
antes de ir flutuar. O índice de<br />
salinidade dos quase 30% inviabiliza<br />
a vida nestas águas e impede que<br />
o corpo afunde.<br />
O Mar Morto é alimentado principalmente<br />
pelas águas do rio Jordão,<br />
mas sua salinidade extrema tem<br />
provocado sua lenta evaporação ao<br />
longo dos anos.<br />
Estima-se que o mar tenha<br />
perdido 12 metros de altura nos<br />
últimos cem anos.<br />
Massada é um libelo da liberdade<br />
do povo hebreu contra a dominação<br />
estrangeira.<br />
Heródes construiu uma fortaleza<br />
e um palácio imponente no alto deste<br />
monte no final do século I a.C.,<br />
estabelecendo aqui um refúgio seguro<br />
para o caso de uma investida<br />
inimiga e temia que Cleópatra tentasse<br />
estender seu império desde o<br />
Egito até a Judéia.<br />
Mas foram os próprios judeus que<br />
tomariam a montanha para resistir à<br />
dominação romana no conhecido<br />
movimento da Revolta <strong>Judaica</strong>, iniciado<br />
em Jerusalém e que durou de<br />
66 a 73 d.C. depois que Herodes já<br />
tinha morrido.<br />
Lá no alto se refugiaram 967 judeus<br />
zelotes, ortodoxos que após demorada<br />
e heróica resistência cometeram<br />
suicídio coletivo, preferindo a<br />
morte à rendição aos 15 mil homens<br />
das tropas da 10ª legião romana.<br />
O relato de dois sobreviventes<br />
inspirou Flávio Josefus que escreveu<br />
com detalhes a história da<br />
“Guerra dos Judeus”.<br />
Massada também ilustra a capacidade<br />
estratégica dos engenheiros<br />
de Herodes.<br />
A primeira pergunta que se faz quando<br />
se está lá no alto sob um sol de 35<br />
graus é como ele poderia ter abastecido<br />
de água uma cidade onde mesmo<br />
hoje o acesso só é facilitado pela existência<br />
de um bondinho teleférico.<br />
E a resposta é uma aula de engenharia<br />
civil. O governador mandou<br />
represar as águas das famosíssimas<br />
torrentes do Neguev, um fenômeno<br />
que ainda hoje acontece sete vezes<br />
por ano na região.<br />
Herodes desviava as abundantes<br />
águas para 11 cisternas construídas<br />
nas encostas da montanha e conseguia<br />
assim suprir as necessidades do<br />
povo. Além disso, Herodes construiu<br />
enormes silos para estocar grãos e<br />
sementes que duravam muito mais<br />
devido à umidade do ar de 15%.<br />
Massada é até hoje o sítio arqueológico<br />
mais visitado do país.<br />
Atravessar o deserto de Judá e<br />
investigar o passado da região onde<br />
está também Massada, a antiga fortaleza<br />
construída por Herodes no<br />
século I d.C. faz parte do caminho<br />
para o Mar Morto cuja beleza desolada<br />
é algo impressionantemente visível<br />
aos olhos dos visitantes desta<br />
região e deixa o turista encantado<br />
com suas diversidades de tudo o que<br />
é conhecido.<br />
* Edda Bergmann é vice-presidente Internacional da B’nai B’rith.<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
Estudar na Escola Israelita:<br />
Sim ou não?<br />
Sheilla Figlarz *<br />
Está na hora de matricularmos<br />
nossos filhos para o próximo<br />
ano letivo.<br />
Por que não na EIBSG?<br />
<strong>Na</strong>s outras escolas, as crianças<br />
estudam História da Arte. <strong>Na</strong> EIBSG<br />
estudam a História da Arte e também<br />
a História <strong>Judaica</strong> e História<br />
do Povo Judeu.<br />
<strong>Na</strong>s outras escolas, estudam inglês.<br />
<strong>Na</strong> EIBSG além dela, estudam<br />
o hebraico.<br />
<strong>Na</strong>s outras escolas, estudam<br />
Música. <strong>Na</strong> EIBSG estudam canções<br />
de Purim, Pêssach, Rosh<br />
Hashaná, Chanucá.<br />
<strong>Na</strong>s outras escolas, estudam Artes.<br />
<strong>Na</strong> EIBSG estudam Talmud e Torá.<br />
A pergunta que faço a todos os<br />
pais é: na hora em que estas crianças<br />
se depararem com fatos, como<br />
os que estão ocorrendo hoje, nos<br />
cursinhos, nas universidades e na<br />
mídia, onde o anti-semitismo corre<br />
solto, quem vai responder por<br />
eles? O inglês, a música, as artes, a<br />
história geral?<br />
Cultura se obtém em espetáculos<br />
de teatro, concertos, cinema,<br />
televisão, ballet, internet, livros,<br />
muitos livros...<br />
E judaísmo?<br />
Infelizmente, o que se vê na<br />
maioria das casas, é a assimilação<br />
dos pais e avôs. Queremos nos pa-<br />
recer, cada vez mais, com os outros<br />
povos. Mas não nos iludamos: somos<br />
diferentes. Nem melhores, nem<br />
piores; apenas diferentes.<br />
É do nosso patriarca Abrão que<br />
aprendemos que D-us é um só.<br />
É do Egito que aprendemos o<br />
que é escravidão.<br />
É do Monte Sinai que aprendemos<br />
o que é ética e moral.<br />
É da destruição dos dois Templos<br />
que aprendemos o que é não<br />
aceitação.<br />
É da Inquisição que aprendemos<br />
que querem nos reformar.<br />
É do Holocausto que aprendemos<br />
que para o mundo não somos<br />
ninguém.<br />
É do Estado de Israel, do começo<br />
da nossa história - este mesmo<br />
Estado que temos que defender todos<br />
os dias - que redescobrimos que<br />
somos gente.<br />
E que sobrevivemos graças a<br />
nossa persistência.<br />
E sobrevivemos graças a nossa<br />
crença.<br />
Sobrevivemos graças aos nossos<br />
estudos.<br />
Para continuarmos nesse caminho,<br />
nossos filhos têm que aprender<br />
o que é ser judeu.<br />
* Sheilla Figlarz é cientista social,<br />
mediadora, árbitra e diretora de<br />
Operações e Marketing do jornal<br />
<strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />
5
6<br />
Logo pós a<br />
libertação, um<br />
médico soviético<br />
examina<br />
sobreviventes de<br />
Auschwitz. na<br />
Polônia, em 18 de<br />
fevereiro de 1945<br />
Crédito: Arquivo da<br />
Federation <strong>Na</strong>tionale<br />
des Deportes et<br />
Internes Resistants et<br />
Patriots<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
A libertação de Auschwitz em 1945<br />
o chegar ao campo de Auschwitz,<br />
as vítimas eram forçadas a entregar<br />
todos os seus pertences<br />
aos nazistas. Os haveres dos prisioneiros<br />
eram rotineiramente<br />
empacotados e enviados à Alemanha<br />
para distribuição à população civil<br />
ou para o uso da indústria alemã. O<br />
campo de Auschwitz foi libertado em<br />
janeiro de 1945. Existe um filme com<br />
tomadas feitas por militares soviéticos,<br />
mostrando pessoas e soldados<br />
soviéticos examinando as posses dos<br />
deportados para o campo de extermínio<br />
de Auschwitz. O filme está no<br />
<strong>Na</strong>tional Archives, EUA.<br />
Antes de matar<br />
as mulheres, os nazistascortavamlhes<br />
os cabelos.<br />
Grande quantidade<br />
de cabelo foi acondicionada<br />
em bolsas<br />
e era matériaprima<br />
para as fábricas<br />
alemãs. Sete<br />
toneladas de cabelo,<br />
140 mil mulheres<br />
assassinadas. Os<br />
nazistas lucravam<br />
com a morte. Faziam<br />
fertilizantes dos ossos<br />
humanos e os enviavam<br />
à empresa<br />
Strenn. Vendiam o<br />
cabelo às fábricas de tapeçaria. Para<br />
outra parte desta mesma indústria,<br />
os bandidos mandavam o ouro retirado<br />
dos dentes arrancados das bocas<br />
dos cadáveres. Todos esses troféus<br />
ocupavam 35 depósitos em Auschwitz.<br />
E há um que só contém óculos.<br />
Se não mais que um em cada dez<br />
prisioneiros usava óculos, quantos<br />
tiveram que morrer para acumular<br />
tudo isto? A roupa dos mortos. Quem<br />
na Alemanha iria usar a roupa de<br />
crianças assassinadas? O filme exibe<br />
uma enorme montanha de roupas, no<br />
total, 514.843 peças de roupas de<br />
homens, mulheres e crianças.<br />
A LIBERTAÇÃO DOS CAMPOS<br />
Enquanto as tropas Aliadas avançavam<br />
através da Europa numa série<br />
de ofensivas contra a Alemanha, começaram<br />
a encontrar prisioneiros dos<br />
campos de concentração. Muitos<br />
desses prisioneiros haviam sobrevivido<br />
às marchas da morte para o interior<br />
da Alemanha.<br />
As forças soviéticas em julho de<br />
1944 foram as primeiras a encontrar<br />
um campo nazista importante,<br />
o de Majdanek próximo de Lublin,<br />
na Polônia. Surpreendidos pela rápida<br />
movimentação dos soviéticos,<br />
os alemães tentaram esconder as evidências<br />
do extermínio em massa<br />
destruindo o campo. O pessoal do<br />
campo incendiou o grande crematório,<br />
mas na apressada evacuação<br />
deixaram intactas as câmaras de gás.<br />
No verão de 1944, os soviéticos<br />
também chegaram aos campos de extermínio<br />
de Belzec, Sobibor e Treblinka.<br />
Os alemães haviam desmontado<br />
esses campos em 1943, depois<br />
que a maioria dos judeus poloneses<br />
havia sido morta.<br />
Em janeiro de 1945 os soviéticos<br />
libertaram Auschwitz, o maior dos<br />
campos de extermínio e de concentração.<br />
Os nazistas haviam forçado a<br />
maioria dos prisioneiros de Auschwitz<br />
às marchas da morte, e quando<br />
os soldados soviéticos entraram<br />
no campo encontraram vivos somente<br />
alguns milhares de prisioneiros<br />
famintos. Havia abundante evidência<br />
do extermínio em massa em Auschwitz.<br />
Os alemães haviam destroçado<br />
a maioria dos depósitos no campo,<br />
mas nos que ficaram os soviéticos<br />
encontraram os pertences das<br />
vítimas. Descobriram, por exemplo,<br />
Uma cerimônia lembrará,<br />
em 2005, os 60 anos da<br />
libertação do campo de<br />
concentração de<br />
Auschwitz, terá a<br />
presença dos presidentes<br />
da França, Polônia, Israel<br />
e Rússia. Os governos de<br />
EUA e da Alemanha estão<br />
coordenando o evento. O<br />
campo foi libertado por<br />
tropas soviéticas em 27<br />
de janeiro de 1945.<br />
centenas de milhares de trajes de<br />
homens, mais de 800 mil vestidos de<br />
mulheres e mais de 7 toneladas de<br />
cabelo humano.<br />
Nos meses seguintes, os soviéticos<br />
libertaram outros campos nos<br />
Países Bálticos e na Polônia. Pouco<br />
depois da rendição alemã, as forças<br />
soviéticas libertaram também os campos<br />
de Stutthof, Sachsenhausen e<br />
Ravensbrueck.<br />
Poucos dias depois que os nazistas<br />
começaram a evacuar o campo,<br />
as forças americanas libertaram em<br />
11 de abril de 1945 o campo de concentração<br />
de Buchenwald, próximo<br />
de Weimar, Alemanha. No dia da libertação,<br />
uma organização da resistência<br />
dos prisioneiros assumiu o<br />
controle de Buchenwald para prevenir<br />
atrocidades dos guardas em retirada.<br />
As forças americanas libertaram<br />
mais de 20 mil prisioneiros em Buchenwald<br />
e também libertaram os<br />
campos de Dora-Mittelbau, Flossenbuerg,<br />
Dachau e Mauthausen.<br />
As forças britânicas libertaram<br />
campos na Alemanha do Norte, incluindo<br />
Neuengamme e Bergen-Belsen.<br />
Em meados de abril de 1945,<br />
entraram no campo de concentração<br />
de Bergen-Belsen, perto de Celle.<br />
Encontraram vivos ao redor de 60 mil<br />
prisioneiros, a maioria em condições<br />
críticas, por causa de uma epidemia<br />
de tifo. Mais de 10 mil morreram de<br />
desnutrição ou enfermidades a poucas<br />
semanas da libertação.<br />
Os libertadores encontraram<br />
condições inenarráveis nos campos,<br />
onde pilhas de cadáveres estavam<br />
sem enterrar. Somente com<br />
a libertação dos campos foi possível<br />
expor ao mundo as atrocidades<br />
dos nazistas. Os prisioneiros<br />
que sobreviveram pareciam esqueletos<br />
ambulantes por causa dos<br />
trabalhos forçados e pela falta de<br />
alimentação adequada. Muitos estavam<br />
tão débeis que não podiam<br />
mover-se. As doenças eram perigos<br />
constantes e muitos dos campos<br />
tiveram que ser queimados para<br />
prevenir a difusão de epidemias.<br />
Os sobreviventes dos campos enfrentaram<br />
um longo e difícil caminho<br />
de recuperação.<br />
SOBREVIVENTES<br />
Bart Stern descreve<br />
como sobreviveu<br />
para ser libertado<br />
no campo<br />
de Auschwitz,<br />
numa entrevista de 1992. <strong>Na</strong>sceu<br />
na Hungria em 1926. Após a ocupação<br />
alemã na Hungria, em março<br />
de 1944, Bart foi forçado a viver<br />
num gueto criado em sua cidade.<br />
De maio a julho de 1944, os<br />
alemães deportaram os judeus da<br />
Hungria para o campo de extermínio<br />
de Auschwitz, na Polônia ocupada.<br />
Bart foi deportado em vagão<br />
de carga para Auschwitz. Ali,<br />
foi selecionado para trabalhos forçados,<br />
escavando numa mina de<br />
carvão. Enquanto as forças soviéticas<br />
avançavam até Auschwitz em<br />
janeiro de 1945, os alemães forçaram<br />
a maioria dos prisioneiros<br />
numa marcha da morte para fora<br />
do campo. Junto com uma quantidade<br />
de prisioneiros doentes que<br />
estavam na enfermaria do campo,<br />
Bart foi um dos poucos prisioneiros<br />
que estava no campo no momento<br />
da libertação. Sobreviveu<br />
porque escondeu-se no campo mesmo<br />
depois que muitos dos outros<br />
prisioneiros tinham sido forçados<br />
à marcha da morte em janeiro de<br />
1945. Ele conta que “foi um grande<br />
milagre ter sobrevivido. Havia<br />
em frente de cada barracão, uma<br />
pequena cabine, que era uma separação,<br />
onde ficava o Blockaelteste,<br />
o chefe do barracão, e em<br />
cada uma das cabines havia uma<br />
caixa para o pão, o pão que era<br />
suprido, e ele entrava na caixa que<br />
tinha uma fechadura para ninguém
poder pegá-lo. Nessa porta, a dobradiça<br />
da caixa estava estragada,<br />
e eu me escondi ali de cabeça para<br />
baixo. Aí o pão veio até a mim, às<br />
vezes não vinha, mas por sorte veio.<br />
Eu estava tão magro, e pude vê-lo...<br />
e eu me fartei. Foi assim que permaneci<br />
vivo. Mas quando eles já tinham<br />
ido, os alemães, em torno de uma<br />
hora depois, já não havia sinais dos<br />
alemães, eu quis voltar aos barracões,<br />
mas os poloneses, os ucranianos,<br />
que não foram pegos para a marcha<br />
da morte, eles não deixariam que eu<br />
entrasse. Então, fiquei escondido no<br />
monte de cadáveres, pois na última<br />
semana quando o crematório não<br />
funcionava mais, os corpos eram empilhados<br />
uns sobre os outros, cada<br />
vez mais alto. E eu me enfiei entre<br />
aqueles corpos mortos porque eu estava<br />
com medo que eles voltassem<br />
ou coisa assim. Assim fiquei a noite<br />
toda ali e durante o dia ficava vagueando<br />
ao redor do campo, e é por<br />
isso que estou hoje vivo. Em 27 de<br />
janeiro eu fui um dos primeiros em<br />
Birkenau a serem libertos. Essa foi a<br />
minha chance de sobrevivência”.<br />
Kurt Klein descreve como um<br />
grupo de sobreviventes da marcha<br />
da morte foi encontrado numa aldeia<br />
tcheca, numa entrevista de<br />
1990. Ele nasceu em 1920. Com a<br />
intensificação do anti-semitismo<br />
nazista, a família de Kurt decidiu<br />
sair da Alemanha. Kurt foi para os<br />
Estados Unidos em 1937, mas seus<br />
pais não puderam sair antes que estourasse<br />
a Segunda Guerra Mundial.<br />
Os pais de Kurt foram então deportados<br />
para Auschwitz, na Polônia<br />
ocupada. Em 1942, Kurt se alistou<br />
no Exército dos Estados Unidos e<br />
foi treinado na inteligência militar.<br />
<strong>Na</strong> Europa, interrogou prisioneiros<br />
de guerra. Em maio de 1945,<br />
participou da rendição de um po-<br />
Kurt and Gerda Klein Foundation<br />
Kurt Klein e a esposa sobrevivente<br />
voado tcheco e voltou no dia seguinte<br />
para ajudar mais de cem mulheres<br />
que haviam sido abandonadas<br />
ali durante uma marcha da morte.<br />
A futura esposa de Kurt, Gerda,<br />
era uma das mulheres deste grupo.<br />
E eu fui orientado pela unidade<br />
do governo militar de que eles ouviram<br />
falar de um grupo de mulheres<br />
O “Prêmio Nobel<br />
de Literatura de 2002”, o<br />
húngaro Imre Kertész,<br />
afirmou recentemente:<br />
“Quando penso em<br />
um novo romance, penso<br />
sempre em Auschwitz”. Ele<br />
qualifica o Holocausto não<br />
apenas como um capítulo<br />
sombrio da História, mas,<br />
principalmente, como um<br />
retrato da degradação do<br />
homem moderno.<br />
judias polonesas e húngaras que haviam<br />
sido abandonadas e trancadas<br />
pelos guardas da SS num prédio vazio<br />
de uma fábrica. E quem as tinha<br />
libertado foram nossas tropas. Então<br />
nós sabíamos, é claro, que tínhamos<br />
que fazer algo por elas, mesmo<br />
que nós não pudéssemos fazer alguma<br />
coisa mais aquele dia, e pela<br />
manhã nos preparamos com grandes<br />
reforços de suprimentos para<br />
cuidar do caso. E eu ouvi dizer<br />
onde aquele prédio ficava, e me recordo<br />
aproximando-me dele, saindo<br />
do jipe e caminhando através<br />
do pátio onde eu vi algumas figuras<br />
esqueléticas, ahn... tentando<br />
obter um pouco de água de uma<br />
bomba manual. Mas bem do outro<br />
lado, inclinada contra a parede,<br />
próximo da entrada do prédio eu<br />
vi uma garota em pé, e eu resolvi ir<br />
até ela. E eu perguntei-lhe em alemão<br />
e em inglês imaginando que<br />
ela falasse uma das línguas, e ela<br />
me respondeu em alemão. Perguntei<br />
sobre suas companheiras e ela<br />
disse: “Vem, deixe-me mostrar-lhe”.<br />
E fomos para dentro da fábrica. Foi<br />
uma cena indescritível. Havia mulheres<br />
espalhadas pelo chão, sobre<br />
montes de palha, algumas delas obviamente<br />
com a marca da morte em<br />
suas faces. Elas, todas elas pareciam<br />
tão horríveis, e é claro nós podíamos<br />
ver que estavam magérrimas<br />
e doentes. E algo que eu nunca vou<br />
poder esquecer, foi uma coisa extraordinária<br />
que aconteceu. A garota<br />
que fora minha guia fez uma<br />
espécie de gesto envolvente sobre<br />
aquela cena de devastação, e disse<br />
as seguintes palavras: “Nobre seja<br />
o homem, misericordioso e bom”. E<br />
eu, a duras custas, pude então crer<br />
que ela era capaz de declamar um<br />
poema do poeta alemão Goethe, o<br />
qual era intitulado — era intitulado<br />
— “O Divino”, bem naquele momento.<br />
Pois não havia mais nada<br />
que ela pudesse dizer para evidenciar<br />
a amarga ironia de uma situação<br />
melhor que aquela a que se referia.<br />
E foi uma experiência total-<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
mente demolidora para mim.<br />
Sam Itzkowitz descreve, numa<br />
entrevista de 1991, os primeiros<br />
momentos de sua libertação. Ele nasceu<br />
em Makow, Polônia, em 1925.<br />
Os alemães invadiram a Polônia em<br />
setembro de 1939. Quando ocuparam<br />
Makow, Sam fugiu para o território<br />
soviético. Voltou a Makow para<br />
buscar provisões, mas foi forçado a<br />
ficar no gueto. Em 1942 foi deportado<br />
para Auschwitz. Enquanto o<br />
exército avançava em 1944, Sam e<br />
outros prisioneiros foram mandados<br />
para campos na Alemanha. Os prisioneiros<br />
foram forçados a uma marcha<br />
da morte no início de 1945. As<br />
forças americanas libertaram Sam<br />
depois que ele escapou durante um<br />
bombardeio. “A história termina com<br />
os tanques entrando lentamente e<br />
eles me vendo sair dentre as árvores<br />
e pensando que eu era alemão, então<br />
pararam e tentaram me capturar<br />
como prisioneiro de Guerra. Bem,<br />
quando eles viram meu uniforme, e<br />
então, quando viram as condições<br />
em que eu estava... Eu não quero<br />
repetir o que um deles disse. Ele começou<br />
a amaldiçoar como um... (risos).<br />
Ele disse, Maldição, D-us....<br />
Continua na próxima página<br />
7<br />
Sobreviventes do<br />
campo de<br />
concentração pouco<br />
após a libertação.<br />
Crédito: United States<br />
Holocaust Memorial<br />
Museum
8<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
Você sabe, bem como um soldado fala. Ele remexeu no seu<br />
bolso e tirou uma barra de chocolate. E ele a deu para mim.<br />
Bem, o chocolate era realmente duro, meio-amargo e substancial.<br />
Tentei morder, mas era coisa infernal, não conseguia.<br />
Queria engolir tudo, se pudesse. Mas não conseguia.<br />
Então chupei o chocolate, e ele ficou bem ali parado, olhando e<br />
olhando para mim. Ele mexeu no bolso de novo e me deu um<br />
maço de cigarros. Eu não fumava, mas guardei no meu bolso.<br />
Depois ele tirou alguns biscoitos da ração ... e oh!... uma lata de<br />
carne em conserva, tudo o que ele tinha — ele só ia me passando,<br />
e eu parecia como um pequeno garoto numa loja de brinquedos.<br />
Eu quero dizer, bem... ele me deu um tapinha no ombro e<br />
disse: “Doutor.” Ele estava tentando me dizer que ele ia arrumar<br />
um médico para mim. Sem dúvida, cerca de dez minutos mais<br />
tarde ele voltou com um... Eu não sei se era um doutor, ou se era<br />
estudante de medicina ou qualquer coisa. E ele deu olhada para<br />
mim e deu o sinal. Eles vieram com uma maca, e me pegaram e me<br />
levaram para um campo… ah… um... dispensário. E eu pensei<br />
que era um judeu...ah... doutor ali. Ele olhou para mim e me<br />
examinou. Primeiro de tudo, ele não quis me dar nenhuma comida.<br />
Só deu-me chá, deu-me farinha com um pouco de leite desnatado,<br />
e...pro inferno, eu podia comer um cavalo — é isso, tal<br />
era a minha fome. Ele ficava gritando: “Vá com calma. Vá com<br />
calma”. Então, eu pensei comigo, “Você fique e vá com calma, ele<br />
quer me matar. Hitler não acabou comigo, mas ele está tentando<br />
fazer isso”. Mas gradualmente, você sabe, a cada duas horas,<br />
mais ou menos, ele aumentava minha quantidade de comida.<br />
Então finalmente eu entendi que ele tinha boas intenções.<br />
Eu estava ainda com fome, e no segundo e no terceiro<br />
dia, não conseguia parar de comer. Ele estava sentado lá, só<br />
me vigiando como eu estava devorando qualquer coisa que<br />
punha sobre a mesa – batata picada, toucinho, salsichas –<br />
qualquer coisa que colocasse lá. Eu comi desse jeito por<br />
quarto dias até que finalmente me saciei”.<br />
Pat Lynch contou sobre as condições dos<br />
sobreviventes no campo, numa entrevista<br />
data de 1995. Ela nasceu nos Estados<br />
Unidos e foi uma das milhares de enfermeiras<br />
americanas que serviram nos hospitais<br />
de movimento durante a libertação<br />
dos campos de concentração na Europa. Cuidou de sobreviventes<br />
dos campos, muitos dos quais estavam numa condição<br />
critica ao tempo da libertação.<br />
“Eles eram tão magros. Eu não podia segurar nenhum deles.<br />
Tentei isso, mas se eu fosse levantá-los teria rasgado sua<br />
pele. Assim, nós tínhamos que ter muito, muito cuidado ao<br />
movê-los. A pele estava simplesmente terrível. De forma que<br />
precisávamos, oh, de pelo menos três pessoas para movê-los;<br />
uma pessoa para segurar a cabeça, uma pessoa para segurar as<br />
pernas, e muito cuidado para levantá-las e colocá-las em outro<br />
lugar, com a ajuda de outra pessoa segurando o corpo por<br />
baixo. Tivemos que tirá-los daquele lugar, ir em frente e leválos<br />
para fora dali. Colocamos tendas fora. Tínhamos camas<br />
portáteis e roupa de cama limpa e cobertas. Assim, os levamos<br />
para fora dali. Ou, se havia um hospital nas proximidades, nós<br />
íamos e assumíamos o comando daquele hospital e os levávamos<br />
para lá. Mas, ah, não podíamos, pelo tifo, aquilo era a<br />
coisa principal, não havia medicação, só tratamento de apoio,<br />
e recebiam fluidos sob a pele deles. Como não podiam beber<br />
nada, tivemos que alimentá-los com conta-gotas. E não podíamos<br />
aplicar-lhes injeções hipodérmicas porque não havia lugar<br />
para espetar-lhes as agulhas. Não havia pele com músculos...<br />
mas, só pele e ossos. Não havia local para aplicar-lhes uma<br />
injeção”. (Depoimentos colhidos dos arquivos da United States<br />
Holocaust Memorial Museum – Collections).<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Memória<br />
Diário relata drama<br />
no gueto de Varsóvia<br />
Recém-descoberto, documento escrito por jovem judia não-identificada está em Israel<br />
Nos últimos dias da resistência<br />
judaica contra os nazistas no gueto<br />
de Varsóvia, em 1943, uma jovem<br />
judia manteve um diário em<br />
que relatou sua luta por sobrevivência<br />
num porão lotado.<br />
O diário de seis páginas, aparentemente<br />
o único relato escrito<br />
durante a resistência que sobreviveu<br />
à batalha, foi encontrado num<br />
museu do Holocausto, em Israel.<br />
A autora, cujo nome e destino<br />
são desconhecidos, descreveu um<br />
período de dez dias durante o mês<br />
de levante, em que centenas de judeus<br />
resistiram contra o extermínio<br />
pelos nazistas.<br />
Ela conta que sobrevivia com uma<br />
tigela de sopa e uma caneca de café<br />
por dia. Do lado de fora, os nazistas<br />
incendiavam casas.<br />
“O gueto está queimando pelo<br />
quarto dia”, escreveu a jovem. “Você<br />
vê apenas as chaminés de pé e os<br />
esqueletos das casas incendiadas.<br />
Num primeiro momento, essas visões<br />
provocam um terrível calafrio.”<br />
Escrevendo em polonês, a moça<br />
nunca mencionou seu nome. Apenas<br />
disse que formava parte de um grupo<br />
juvenil judaico, indicando que<br />
estaria no final da adolescência ou<br />
no início dos 20 anos.<br />
O diário faz parte de uma coleção<br />
de cartas, anotações e páginas<br />
coletadas depois da Segunda Guerra<br />
por Adolf-Abraham Berman, um sobrevivente<br />
do gueto.<br />
Berman doou seu acervo nos anos<br />
70 à Casa dos Lutadores do Gueto,<br />
no Kibutz (fazenda coletiva) Lochamei<br />
Haglettaot, no norte de Israel.<br />
Especialistas do museu se deram conta<br />
da importância do acervo apenas recentemente,<br />
enquanto organizavam o<br />
arquivo para divulgação ao público.<br />
“A raridade desse diário é que é o<br />
único encontrado no mundo, pelo<br />
que sabemos, que foi escrito justamente<br />
no momento da luta”, disse<br />
Yossit Shavit, diretor dos arquivos do<br />
museu. “Os outros diários foram escritos<br />
depois.”<br />
Segundo Shavit, a autora provavelmente<br />
morreu na demolição do<br />
gueto. “Mas ela pode muito bem es-<br />
tar em um asilo nos EUA”.<br />
O gueto de Varsóvia foi criado<br />
na Polônia ocupada pelos nazistas<br />
em 1939. Judeus das redondezas<br />
foram forçados a se aglomerar no<br />
bairro. Em seu ápice, em 1941, cerca<br />
de 450 mil judeus viviam nos<br />
300 hectares do gueto. A maioria<br />
morreu de fome e frio ou pelas câmaras<br />
de gás nazistas.<br />
Quando os alemães começaram<br />
a derrubar o gueto, em 1943, 60<br />
mil judeus ainda viviam lá. Centenas<br />
deles revidaram ao ataque com<br />
poucas armas, munição, comida ou<br />
bebida. Eles resistiram por 27 dias,<br />
até que os nazistas incendiaram o<br />
local por completo.<br />
“Estamos dentro de um abrigo”,<br />
começa o diário no sexto dia da<br />
resistência, em 24 de abril de 1943.<br />
“Olhamos pela janela e vimos o gueto<br />
incendiado, completamente tomado<br />
pelas chamas”, conta, segundo<br />
trechos publicados pelo jornal<br />
“Jerusalem Post”.<br />
FILME<br />
VJ INDICA<br />
A <strong>Na</strong>u dos insensatos<br />
(Drama)<br />
Mais conhecido como o último filme de Vivien Leigh,<br />
a estrela de ...E o Vento Levou,<br />
(Ship of fools), Estados Unidos, 1965<br />
Direção: Stanley Kramer Elenco: Vivien Leigh, Simone<br />
Signoret, Jose Ferrer, Lee Marvin, Oskar Werner,<br />
Elizabeth Ashley e George Segal.<br />
Formato: preto e branco<br />
Duração: 148 minutos.<br />
Em outro momento, um abrigo<br />
vizinho é incendiado e os ocupantes<br />
tentam se refugiar no esconderijo<br />
da autora. Os novatos não<br />
têm comida e são barulhentos, aumentando<br />
as chances de descoberta<br />
pelos nazistas.<br />
“O abrigo está muito lotado por<br />
causa do grande número de pessoas<br />
e do número ainda maior que quer<br />
entrar no esconderijo. As pessoas<br />
estão batendo para entrar. Todo<br />
mundo quer entrar.”<br />
“O ar no bunker é horrível, muitos<br />
perdem a consciência. Dormir<br />
está fora de questão devido ao perigo<br />
de sufocamento”, diz, ainda, segundo<br />
o jornal israelense.<br />
O último relato, no dia 2 de<br />
maio, é o mais longo. “A única coisa<br />
que temos é nosso esconderijo.<br />
Claro que não será um lugar seguro<br />
por muito tempo”. Suas últimas palavras<br />
escritas são: “Estamos vivendo<br />
pelo dia, pela hora, pelo momento”.<br />
(Da Associated Press).<br />
Passageiros de um navio que viaja do México para a Alemanha pré-<br />
Hitler, nos anos 30, representam a grande sociedade daquela época. A<br />
tripulação é alemã, incluindo o médico do navio que se apaixona por uma<br />
das passageiras, a Condessa, uma nobre espanhola mal-falada. Uma jovem<br />
americana, Jenny, fica fascinada e confusa com alguns passageiros,<br />
entre eles seguidores do nazismo, judeus abastados, vulgares trupes de<br />
dança, amantes amargos e o desvanecimento de uma relação de dois<br />
jovens artistas americanos. A viagem de 36 dias do navio mostra muitos<br />
caráteres. (Obs: O filme é bom, mas muito difícil de encontrar).<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Heliete Vaitsman *<br />
Sorriso radiante, decote profundo,<br />
metralhadora verbal que atira em todas<br />
as direções, a escritora e jornalista<br />
catalã Pilar Rahola é famosa na Europa<br />
pela paixão com que defende causas<br />
variadas. Aos 46 anos, essa feminista<br />
pós-moderna, ex-militante da Izquierda<br />
Republicana Catalana — partido pelo<br />
qual foi deputada e vice-prefeita de<br />
Barcelona — corre mundo denunciando<br />
tudo o que considera injusto e perigoso.<br />
Numa noite pode estar na TV espanhola,<br />
jurando boicotar para sempre os<br />
filmes de Pedro Almodóvar, porque ele,<br />
horror dos horrores, matou sete touros<br />
para rodar “Fale com ela”. No dia seguinte<br />
voa para o Rio, ou Nova York,<br />
em campanha contra o integrismo religioso<br />
islâmico, que considera a maior<br />
ameaça para a humanidade neste início<br />
de século XXI.<br />
“Se D-us existe, é mulher, negra,<br />
lésbica e pobre”— proclama, com a<br />
segurança de filha da alta burguesia<br />
católica, mãe de três filhos, que descobriu<br />
o feminismo “não por trauma<br />
pessoal mas por solidariedade”.<br />
Para manter o equilíbrio em meio a<br />
uma agenda superlotada — só em 2003,<br />
cruzou o Atlântico 15 vezes — Pilar<br />
Rahola corre nove quilômetros diários<br />
na esteira do ginásio instalado nos fundos<br />
da casa de Badalona, em Barcelona,<br />
enquanto assiste na telinha aos<br />
programas femininos matutinos cujos<br />
lugares-comuns desanca em colunas nos<br />
jornais “El País”, “El Periódico” e “Avui”.<br />
A TV faz parte do “enxoval” do segundo<br />
marido, empresário basco com<br />
quem só se casou por exigência do governo<br />
russo, quando o casal foi à Sibéria<br />
adotar Ada, a terceira filha, hoje<br />
com 4 anos.<br />
Pilar tem outros dois filhos, Noé,<br />
12 anos, também adotado, e Sira, 24<br />
anos, do primeiro casamento. Viajante<br />
incansável (esteve 20 vezes no Oriente<br />
Médio, cobriu conflitos como o dos Bálcãs<br />
e a guerra da Etiópia-Eritréia), gosta<br />
de promover roteiros culturais familiares<br />
pela Europa.<br />
Antes de José Saramago se declarar,<br />
em 2002, contra a ação israelense<br />
nos territórios palestinos, comparandoos<br />
aos crimes praticados contra os judeus<br />
no Holocausto, Pilar seguiu com<br />
Sira, em Portugal, o percurso do livro<br />
“Memorial do convento”, lendo emocionada<br />
as descrições do escritor. Agora,<br />
o define como “o exemplo mais relevante<br />
de que alguns podem escrever<br />
como anjos e pensar como imbecis”.<br />
Segundo Pilar, o anti-semitismo da<br />
esquerda européia, expresso por Saramago,<br />
é uma questão mal resolvida que<br />
remonta à Inquisição. Atribui ao antisemitismo,<br />
na esteira da crise Israelpalestinos,<br />
a condescendência do pensamento<br />
politicamente correto ante o<br />
integrismo religioso islâmico.<br />
— É o maior risco vivido pelo mundo<br />
desde o nazismo e o stalinismo. A<br />
esquerda repete erros do passado ao<br />
flertar com uma ideologia que desafia<br />
a modernidade — critica.<br />
As acusações, reiteradas no Rio<br />
durante recente palestra no Hotel Glória,<br />
a convite do Departamento de<br />
História do Instituto de Filosofia e<br />
Ciências Sociais da UFRJ, não vêm embaladas<br />
em sisudez. Gestos expansivos,<br />
bem humorada, Pilar se define<br />
como uma libriana veemente, igualmente<br />
pronta a bradar contra o uso<br />
político da religião e a sonhar a utopia<br />
que descreve no livro “Mujer liberada,<br />
hombre cabreado” (editora<br />
Planeta argentina, 2000):<br />
— A grande revolução do século<br />
XXI será a descoberta<br />
do homem<br />
por si mesmo,<br />
porque o machismo<br />
destruiu a<br />
mulher e o homem.<br />
A maior<br />
revolução feminina<br />
será a revolução<br />
do homem,<br />
que precisa libertar-se<br />
de seus<br />
medos, de sua<br />
necessidade de<br />
domínio, de sua<br />
insegurança. Por<br />
enquanto não<br />
existe esse homem novo, o que existe<br />
é o homem desconcertado diante<br />
das novas exigências femininas.<br />
Graças a uma campanha de que<br />
Pilar participou ativamente, o novo Código<br />
Penal da Espanha, de 1996, incluiu<br />
um artigo tipificando como delito<br />
penal a violência doméstica, antes<br />
considerada “falta” civil cuja única<br />
conseqüência era a multa, embora<br />
mate mais mulheres espanholas entre<br />
25 e 35 anos que o câncer de<br />
mama. O “machismo criminoso” ibérico<br />
não cede facilmente. Um aspecto<br />
dele, adverte Pilar, são as touradas,<br />
responsáveis pelo fim de seu “idílio”<br />
com Pedro Almodóvar e pela ira com<br />
que os homens espanhóis a criticam:<br />
— Se tourada é cultura, então canibalismo<br />
é gastronomia — afirma.<br />
Cinéfila na juventude (“Amarcord”<br />
é meu filme-fetiche), agora curte assistir<br />
com Ada a filmes como “Shrek” e<br />
“Idade do gelo”. Reivindica “o direito à<br />
frivolidade” na sala escura:<br />
— Para mim, ao contrário do tea-<br />
tro e da literatura, cinema é evasão,<br />
mas não pode ser retrógrado. Gosto dos<br />
músculos de Ben Affleck para me divertir<br />
sem pensar. O que não tolero são<br />
as telenovelas latinas, com seu estereótipo<br />
da mulher dominada. “Bete, a feia”<br />
não é inocente, com aquela mensagem<br />
perniciosa de que a protagonista só tem<br />
salvação se ficar bonita.<br />
Não que Pilar rejeite a beleza.<br />
Atraente, sandálias coloridas altíssimas,<br />
perfumada com Angel, de Thierry<br />
Mugler — item essencial da bagagem,<br />
junto com o leite de soja da dieta<br />
vegetariana — o que ela abomina é a<br />
“pressão excessiva” em favor do emagrecimento<br />
e das cirurgias plásticas.<br />
Não tem intenção de passar pelo bisturi,<br />
garante. Tanta auto-estima talvez<br />
venha da valorização das mulheres<br />
em sua família, que teve membros<br />
fuzilados e empresas confiscadas<br />
durante a Guerra Civil:<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
A Dom Quixote que deu certo<br />
“ <strong>Na</strong> <strong>verdade</strong>, <strong>estamos</strong><br />
diante de um fenômeno<br />
alimentado por elites<br />
milionárias e ditaduras que<br />
estão no poder há meio<br />
século e agora usam<br />
celular e tecnologia de<br />
ponta para praticar uma<br />
política medieval. O<br />
terrorismo é planejado para<br />
destruir a liberdade, não<br />
para distribui-la. ”<br />
— Crescemos, eu e minha irmã,<br />
numa casa livre,<br />
onde se discutia<br />
de tudo no almoço<br />
e no jantar,<br />
embora do lado de<br />
fora existissem a<br />
educação católica<br />
e a ditadura de<br />
Franco. Aprendi<br />
com meu pai o sentimento<br />
da solidariedade.<br />
Um dia<br />
ele me disse que<br />
eu era judia, querendo<br />
dizer que<br />
assim devia me<br />
sentir para entender<br />
o que os judeus tinham sofrido.<br />
A vida familiar incluía verões em<br />
Cadaquès, na quinta vizinha à de Salvador<br />
Dali, hoje museu, cujo muro pulava<br />
com as amigas, para conversar<br />
com o pintor. Estudante da Universidade<br />
de Barcelona, formou-se em Filologia<br />
Hispânica e Catalã, conheceu<br />
o mundo de mochila nas costas, bebeu<br />
na fonte de “O segundo sexo”,<br />
de Simone de Beauvoir, e descobriu a<br />
dificuldade masculina de conviver com<br />
mulheres bem-sucedidas.<br />
Para promover os direitos femininos<br />
no presente, diz, é preciso ir além<br />
do nível pessoal e defender primeiro<br />
o Estado laico. Daí o apoio à proibição<br />
do véu islâmico nas escolas francesas<br />
e a indignação com governos<br />
que proíbem o aborto legal, “o que<br />
leva milhares de mulheres à morte em<br />
abortos clandestinos”.<br />
— Nenhuma fé tem o direito de<br />
dar ordens a cidadãos livres. “Deuses<br />
em casa, leis na rua” é o lema do pacto<br />
republicano cujo rompimento seria<br />
trágico para o mundo — inflama-se.<br />
Em viagem recente ao Chile, comprou<br />
briga com a Igreja Católica, que dificulta<br />
a aprovação do divórcio no país.<br />
Pilar liderou a campanha que acabou<br />
tirando das livrarias da Espanha, há<br />
quatro anos, o livro em que um imã<br />
islâmico, com milhares de seguidores<br />
entre os imigrantes pobres norte-africanos,<br />
defendia o “espancamento leve”<br />
das mulheres pelos maridos em casos<br />
de “mau” comportamento.<br />
A livre circulação no Oriente Médio<br />
de livros como o do imã — ou do<br />
“Mein Kampf”, de Hitler, e dos apócrifos<br />
“Protocolos dos sábios de Sião”<br />
— não chega a espantar Pilar, por<br />
ocorrer numa região governada por<br />
“ditaduras despóticas e teocráticas<br />
que alimentam o fanatismo”. O que a<br />
espanta é a convivência dos europeus<br />
com os imãs mais fundamentalistas,<br />
que, financiados pelos sauditas, expulsaram<br />
as lideranças progressistas<br />
das organizações comunitárias islâmicas<br />
em várias cidades européias. As<br />
maiores vítimas do pensamento integrista<br />
são as mulheres:<br />
— Há hoje 135 milhões de mulheres<br />
vítimas de mutilação genital no<br />
mundo. Milhares de moças que vivem<br />
na Europa são enviadas todos os anos<br />
pelas famílias aos países de origem,<br />
principalmente na África, para a circuncisão<br />
do clitóris, um processo doloroso<br />
e arriscado, um crime. Por que<br />
aceitamos que isso continue? Dói-me<br />
que a dor feminina seja silenciosa e<br />
não tenha espaço na agenda política.<br />
Ainda existe apedrejamento feminino<br />
por adultério e isso não parece preocupar<br />
ninguém. Essa é uma das minhas<br />
broncas contra a ONU, organização<br />
tão inútil, que recentemente nomeou<br />
a Líbia para presidir uma comissão<br />
de direitos humanos!<br />
Ao mencionar a Líbia, Pilar Rahola<br />
ressalva: não sofre de islamofobia,<br />
“doença” que vitimou a jornalista italiana<br />
Oriana Fallaci. O que a jornalista<br />
catalã diz combater é “o islamismo<br />
paranóico, que pode destruir o Islã,<br />
assim como o nazismo quase destruiu<br />
a Europa e o stalinismo destruiu<br />
nossas utopias”. Acredita no sucesso<br />
de sua cruzada para que os pensadores<br />
de esquerda abandonem a<br />
idéia de que os integristas, inclusive<br />
na sua vertente terrorista,<br />
representam a rebelião<br />
de pobres contra ricos:<br />
— <strong>Na</strong> <strong>verdade</strong>, <strong>estamos</strong> diante<br />
de um fenômeno alimentado<br />
por elites milionárias e ditaduras<br />
que estão no poder há<br />
meio século e agora usam celular<br />
e tecnologia de ponta para praticar<br />
uma política medieval. O terrorismo<br />
é planejado para destruir a liberdade,<br />
não para distribui-la.<br />
9<br />
* Heliete Vaitsman<br />
escreveu este artigo que foi<br />
publicado em O Globo, dia<br />
22 de outubro de 2004
10<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
Tudo sobre Arafat,<br />
“filme de Pedro Almodóvar”<br />
uando inevitavelmente ocorrer a<br />
alguém, algum dia, a malfadada<br />
idéia de filmar a biografia<br />
de Yasser Arafat, não poderá<br />
encontrar um diretor mais adequado<br />
que o espanhol Pedro Almodóvar,<br />
especializado em temas<br />
surrealistas e grotescos. O roteiro da<br />
película será escrito no estilo “novilíngua”,<br />
que George Orwell descreveu em<br />
seu livro 1984, (os assassinos-suicidas<br />
são mártires; a destruição de Israel é o<br />
direito de retorno; os terroristas são<br />
lutadores pela liberdade).<br />
A vida de Arafat é uma trama cheia<br />
de elementos sensacionalistas, onde<br />
não falta o homossexualismo; incríveis<br />
escapadas da morte; o desfalque de<br />
centenas de milhões de dólares doados<br />
ao povo palestino por países generosos<br />
e ingênuos; seqüestros de aviões de<br />
passageiros; assassinatos de atletas em<br />
Munique; suicídios; bombas; doutrinamento<br />
de toda uma geração no ódio e<br />
o fanatismo; mentiras fantásticas e calúnias<br />
absurdas (Israel está causando<br />
câncer nos palestinos com urânio; os<br />
Templos de Salomão e Heródes nunca<br />
existiram; o Holocausto é uma invenção<br />
sionista; os personagens da Bíblia<br />
eram todos palestinos; as listras azuis<br />
da bandeira de Israel simbolizam seu<br />
afã expansionista, pois representam os<br />
rios Nilo e Eufrates).<br />
Para que o filme tenha um mínimo<br />
de ingrediente romântico terá um casamento<br />
tardio e de aparência com uma<br />
esposa muito mais jovem, loura oxigenada,<br />
educada em um convento e convertida<br />
ao islamismo, mas que mantém<br />
uma grande vida em Paris, onde não<br />
lhe faltam os amantes.<br />
O filme estará na tradição do Teatro<br />
do Absurdo: um terrorista multimilionário<br />
adulado pelo mundo e venerado por<br />
seu povo morto de fome, a quem fez<br />
vítima de sua corrupção e do seu despotismo.<br />
Um líder que recebeu o prêmio<br />
Nobel da Paz, apesar do seu objetivo,<br />
franco para seu povo ou dissimulado para<br />
o resto do mundo, sempre foi o mesmo:<br />
a destruição do Estado de Israel. E ao<br />
final, uma misteriosa enfermidade, que<br />
acaba numa morte cuja lentidão não foi<br />
obstáculo para que seus impacientes<br />
sucessores planejassem seu enterro<br />
enquanto ainda vivia.<br />
A película não precisará<br />
chamar-se necessariamente<br />
“Tudo sobre Arafat”. Poder-seia<br />
tornar a utilizar qualquer<br />
outro título dos filmes de Almodóvar,<br />
como por exemplo<br />
“Matador” (de 1986) ou “Carne<br />
trêmula” (de 1997).<br />
Ou, se o diretor decidir que o<br />
filme seja tratado desde o ponto<br />
de vista do povo palestino que finalmente<br />
abre os olhos sobre Arafat,<br />
o título deveria ser “O que fizemos<br />
para merecer isto?” (1984).<br />
E se a protagonista principal fosse<br />
a sra. Suha Arafat, a película poderia<br />
chamar-se “De saltos altos”,<br />
(1991), ou “Mulher à beira de um ataque<br />
de nervos” (1988).<br />
Arafat morto: as reações<br />
Em Israel não há manifestações de<br />
alegria ou júbilo pela morte de um inimigo<br />
que tinha as mãos manchadas de<br />
sangue judeu, de um terrorista dedicado<br />
à destruição de Israel que foi responsável<br />
pela morte de mais judeus que<br />
nenhuma outra pessoa desde a época<br />
de Hitler. A reação, em geral, foi uma<br />
muito limitada e pálida esperança de que<br />
os novos dirigentes palestinos abandonem<br />
a fracassada tática de querer dobrar<br />
Israel por meio do terror, e escolham<br />
o caminho da convivência pacífica.<br />
A reação do mundo foi diametralmente<br />
oposta. Jacques Chirac, presidente<br />
da França, disse que Arafat foi “um<br />
homem de coragem e convicção, que<br />
por 40 anos combateu pelos direitos nacionais<br />
palestinos”.<br />
(Nota: faz 40 anos, em 1964 faltavam<br />
ainda três anos para a Guerra dos<br />
Seis Dias quando Israel ocupou Gaza e<br />
a Margem Ocidental. Assim, não são<br />
muito claros a quais direitos nacionais<br />
palestinos se refere Chirac).<br />
Kofi Annan, o secretário das <strong>Na</strong>ções<br />
Unidas, disse: “estou emocionado pela<br />
morte de Arafat. É trágico que não se<br />
tenha concretizado o Acordo de Oslo”.<br />
(Nota: Annan não mencionou que<br />
a razão pela qual não se concretizou<br />
Oslo foi a inexplicável rejeição de Arafat<br />
à muito arriscada oferta do então<br />
primeiro-ministro Barak em Camp David,<br />
no ano de 2000, de entregar-lhe<br />
toda Gaza, 92% da Margem Ocidental,<br />
e metade de Jerusalém. Em vez de<br />
aceitar, Arafat deu rédea solta poucas<br />
semanas depois a uma cruel guerra de<br />
terror contra os israelenses que até<br />
agora não terminou).<br />
A União Européia enalteceu Arafat por<br />
sua determinação à causa palestina.<br />
(Nota: a União Européia não julgou<br />
necessário explicar que a causa palestina,<br />
segundo a interpretação de Arafat,<br />
era a destruição de Israel e sua<br />
substituição por um Estado palestino).<br />
O Vaticano elogiou Arafat dizendo<br />
que era “um líder que lutou pela independência<br />
de seu povo. Rogamos a D-us<br />
que dê descanso eterno à sua alma e<br />
paz à Terra Santa”.<br />
(Nota: efetivamente é possível que<br />
agora, depois da morte de Arafat, a<br />
paz chegue à Terra Santa).<br />
O único líder no mundo que vê as<br />
coisas como são, ou, talvez, o único<br />
que não é hipócrita, é o primeiro-ministro<br />
da Austrália, John Howard, que<br />
disse: “A história o julgará severamente<br />
por seu fracasso em aceitar a proposta<br />
de paz de Israel”.<br />
Os bancos da Suíça não se manifestaram<br />
oficialmente, mas fontes fidedignas<br />
asseguram que estão felizes já que<br />
parece que Arafat levou para a tumba<br />
os números de suas contas secretas.<br />
Quem é Suha Arafat?<br />
Suha Arafat, filha de um casal árabe-cristão<br />
— o pai banqueiro, educado<br />
em Oxford, e a mãe, Raymonda Tawil,<br />
conhecida jornalista palestina — nasceu<br />
em Jerusalém e foi educada, primeiro<br />
em <strong>Na</strong>blus e Ramallah, e depois<br />
estudou na Universidade de Sorbonne,<br />
em Paris, onde seus pais tinham um<br />
apartamento.<br />
Conheceu Arafat quando um jornal<br />
francês a enviou para entrevistálo.<br />
Arafat a tomou como assistente<br />
de relações públicas e, em seguida,<br />
como conselheira econômica da OLP.<br />
Com a idade de 28 anos, quando Arafat<br />
tinha 62, os dois casaram em Túnis<br />
após a conversão de Suha ao Islã.<br />
O matrimônio foi mantido em segredo<br />
durante 15 meses.<br />
Em julho de 1995 Suha deu a luz a<br />
sua filha Zahwa num exclusivo hospital<br />
de Paris, onde a diária custava mais de<br />
mil libras esterlinas. Explicou que “o<br />
bebê havia sido concebido em Gaza, mas<br />
como as condições sanitárias ali são tão<br />
terríveis, preferi dar a luz em Paris porque<br />
não quero ser uma heroína e arriscar<br />
meu bebê”.<br />
Sempre foi muito franca ao expressar<br />
nas entrevistas seu ódio aos israelenses<br />
e sua oposição a qualquer processo<br />
de normalização com eles.<br />
Em novembro de 1999, durante uma<br />
reunião com Hillary Clinton, esposa do<br />
então presidente americano, Suha, inspirada<br />
pelas clássicas acusações antisemitas<br />
da Idade Média, acusou Israel<br />
de envenenar o ar e a água dos palestinos<br />
e de causar-lhes, de forma premeditada,<br />
câncer e outras horríveis<br />
enfermidades. (Hillary Clinton comentou<br />
que as acusações de Suha Arafat<br />
“não ajudavam o processo de paz”).<br />
Em 2000, quando estourou a “intifada”<br />
(guerra de terror promovida por<br />
Arafat) mudou-se com sua filha para a<br />
França, onde recebeu a nacionalidade<br />
francesa. Desde aquela data nunca (até<br />
dias antes da morte de Arafat) visitou<br />
seu esposo em Ramallah ou se interessou<br />
pelos palestinos. Sua única contribuição<br />
à “intifada” foi dizer que se tivesse<br />
um filho, com gosto o enviaria<br />
para se suicidar em algum restaurante,<br />
ou centro comercial israelense.<br />
Em Paris vive com uma limitada<br />
mesada mensal de cem mil dólares<br />
que Yasser Arafat lhe enviava. As autoridades<br />
francesas iniciaram uma investigação,<br />
que terminou em nada, sobre<br />
uma transferência de 11 milhões<br />
de dólares da Suíça para sua conta<br />
bancária em 2002 e 2003.<br />
No ano passado, após ter ocupa-<br />
do por muitos meses um andar inteiro<br />
do exclusivo Hotel Bristol, comprou<br />
por vários milhões um apartamento de<br />
luxo próximo do Arco do Triunfo, o<br />
qual foi decorado com imagens do<br />
Papa e de Jesus, e uma foto de Arafat<br />
com um rifle. Passa seus dias assistindo<br />
a desfiles de moda e fazendo<br />
compras. Quando viaja, o faz somente<br />
de primeira classe. Segundo rumores<br />
não lhe faltam admiradores nem<br />
acompanhantes românticos.<br />
Nos últimos dias Suha ocupou novamente<br />
as primeiras páginas dos jornais<br />
ao acusar os líderes palestinos de<br />
conspirar para usurpar o posto de Arafat,<br />
e recordou-lhes que só ela, de acordo<br />
com a lei francesa, tinha direito de<br />
desconectar Arafat das máquinas que o<br />
mantinham vivo.<br />
Segundo reportagens de diversos<br />
jornais, Suha e os sucessores de Arafat<br />
chegaram a um acordo pelo qual Suha<br />
receberá anualmente 22 milhões de<br />
dólares, soma que a permitirá manter<br />
em Paris o padrão de vida ao qual não<br />
lhe foi difícil acostumar-se.<br />
No futuro Suha poderá ser a protagonista<br />
de uma versão modernizada da opereta<br />
de Johann Strauss, A Viúva Alegre.<br />
Os sucessores de Arafat, de seu<br />
lado, lamentam que Suha se converteu<br />
ao Islã. Eles acham que teria<br />
sido preferível que Suha tivesse se<br />
convertido ao hinduísmo, já que um<br />
dos mais tradicionais e respeitados<br />
costumes da dita religião é o “sati”,<br />
a imolação da viúva na pira funerária<br />
do defunto esposo.<br />
Não chores por mim, BBC<br />
Num de seus artigos antiisraelenses,<br />
(El cristal con que se mira [O cristal<br />
com o que se vê]), o escritor Vargas<br />
Llosa se autofelicita por estar muito bem<br />
informado da situação real no Oriente<br />
Médio graças aos “imparciais” e “objetivos”<br />
meios de comunicação europeus.<br />
Num claro exemplo das ditas “imparcialidade”<br />
e “objetividade” Bárbara Plett,<br />
a correspondente da BBC no Oriente<br />
Médio Oriente, disse pela rádio que<br />
“quando vi o helicóptero levando o frágil<br />
ancião comecei a chorar”.<br />
Emoção similar e simpatia nunca<br />
haviam sido expressas pela senhorita<br />
Plett nas numerosas ocasiões quando<br />
informou sobre os israelenses, crianças,<br />
mulheres e anciãos, despedaçados por<br />
assassinos-suicidas que foram financiados,<br />
estimulados, doutrinados e glorificados<br />
pelo “frágil ancião”.<br />
Em outro exemplo da desfaçatez de<br />
certos meios de comunicação, a CNN<br />
se permitiu fazer uma pesquisa sobre<br />
se Arafat deveria ser sepultado em Jerusalém.<br />
Muitos reagiram sugerindo à<br />
CNN que era preferível que realizasse<br />
uma pesquisa sobre se se deveria enterrar<br />
ou não Bin Laden no Cemitério<br />
<strong>Na</strong>cional de Arlington, em Washington.
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
Arafat financiava terrorismo das Brigadas<br />
Livro conta como ele agia<br />
contra seu próprio povo<br />
Khaled Abu Toameh*<br />
asser Arafat injetou milhões<br />
de dólares nas<br />
Brigadas dos Mártires de<br />
Al-Aqsa, ainda que tenha<br />
deixado suas forças<br />
de segurança decepcionadas<br />
por ficar meses sem pagamento,<br />
de acordo com um livro<br />
prestes a ser lançado, escrito por Matt<br />
Rees, chefe do escritório da revista Time<br />
em Jerusalém.<br />
A revelação veio a público ao mesmo<br />
tempo em que representantes palestinos<br />
anunciaram recentemente que<br />
a Autoridade <strong>Na</strong>cional Palestina não<br />
podia pagar os salários de seus servidores<br />
civis e o pessoal de segurança<br />
no mês de novembro. Arafat, que então<br />
estava recebendo tratamento médico<br />
em Paris, telefonou, conforme<br />
noticiado, para seu Ministro das Finanças<br />
e ordenou-lhe que pagasse os<br />
salários em dia.<br />
Num incidente descrito em “A Batalha<br />
de Caim: Fé, Fratricídio e Medo no<br />
Oriente Médio”, que deve ser publicado<br />
ainda este mês pela Free Press, editado<br />
por Simon & Schuster, Rees revela<br />
como Arafat enviou dois milhões de<br />
dólares para as Brigadas dos Mártires<br />
da Al-Aqsa, em Gaza, em junho de 2002,<br />
mas forneceu apenas uma pequena<br />
quantia para pagar os salários de suas<br />
forças de segurança oficiais.<br />
De acordo com “A Batalha de<br />
Caim”, numa cópia antecipada obtida<br />
pelo jornal “The Jerusalem Post”, dois<br />
altos oficiais da inteligência palestina<br />
visitaram a casa do major general Abdel<br />
Razak al-Majaideh, comandante das<br />
Forças de Segurança <strong>Na</strong>cional de Arafat<br />
em Gaza, em junho de 2002. Os<br />
oficiais da inteligência, sem pagamento<br />
há vários meses, souberam, através de<br />
contatos na Fatah, que Arafat havia<br />
acabado de enviar dois milhões de dólares<br />
para as Brigadas dos Mártires de<br />
Al-Aqsa em Gaza. Majaideh, ultrajado,<br />
reclamou com eles que Arafat enviara-lhe<br />
apenas 30.000 dólares para pagar<br />
os salários de todos os oficiais de<br />
segurança palestinos na Faixa de Gaza.<br />
“Esta era a equação dos interesses<br />
de Arafat,” escreveu Rees.<br />
“Dois milhões de dólares contra<br />
30.000. Arafat estava trabalhando<br />
contra seu próprio povo, ignorando-o<br />
enquanto enviava montes de<br />
dinheiro para atiradores”.<br />
Pela primeira vez, Rees revelou a<br />
história por dentro da administração<br />
auto-destrutiva e geradora de discórdias<br />
de Arafat, detalhando o que os atiradores<br />
fizeram com o dinheiro que receberam<br />
de Arafat.<br />
Ele mostrou como as Brigadas dos<br />
Mártires da Al-Aqsa, o braço armado<br />
da Fatah, [e que promove atentados<br />
Golda Meir não<br />
confiava nele<br />
Regina Caldas *<br />
A fortuna de Arafat, depositada em<br />
bancos suíços, está sendo estimada<br />
entre 4,2 e 6,5 bilhões de dólares. Ele<br />
extorquia dinheiro que era enviado ao<br />
povo palestino, através de doações.<br />
Arafat afirmava que servia aos palestinos,<br />
um povo que vive com apenas dois<br />
dólares ao dia!<br />
Clifford D. May, jornalista norteamericano,<br />
considerou irônico que um<br />
matador bilionário como Arafat que nos<br />
últimos anos viveu confinado em seu<br />
QG de Ramallah, o Muqata, morresse<br />
numa cama em Paris, distante do ninho.<br />
Mas ele não merecia morrer no<br />
ninho, recebendo o conforto de um berço<br />
que não era o seu.<br />
Os palestinos jamais se deram conta<br />
de que foram usados como massa de<br />
manobra pelas mãos sangrentas de Arafat<br />
para alcançar o único objetivo que<br />
ele alimentou durante toda sua vida:<br />
destruir Israel! E, por conta deste ódio<br />
insano contra Israel, Arafat os transformou<br />
num povo suicida.<br />
De onde veio tanto poder concedido<br />
a Arafat? Como ele conseguiu persuadir<br />
o mundo a considerá-lo digno de liderar<br />
dos Mártires de Al-Aqsa<br />
a causa palestina em prol da conquista e<br />
formação de uma “<strong>Na</strong>ção Palestina?” A<br />
lista de crimes contra a humanidade, cometidos<br />
por Abdel-Rahman Abdel-Raouf<br />
Arafat al-Qudwa al-Husseini, conhecido<br />
como Arafat, o líder da causa Palestina,<br />
não é pequena. E se perpetuará através<br />
de todas as crianças palestinas que foram<br />
moldadas à sua semelhança. São<br />
crianças preparadas para destilarem o ódio<br />
de Arafat contra Israel, e a estressar o<br />
mundo com bombas amarradas aos seus<br />
corpos. Para caçarem israelenses, para<br />
caçarem os infiéis cristãos.<br />
Alienação e má-fé levaram algumas<br />
nações e instituições mundiais a se fazerem<br />
de cegos, surdos e mudos perante<br />
as ações de Arafat que, com um sorriso<br />
permanente nos lábios, uma feição<br />
de fria placidez e uma arma presa à cintura,<br />
incitou multidões em Belém com o<br />
seu grito de guerra: “Nós conhecemos<br />
uma única palavra, jihad, jihad, jihad!”,<br />
enquanto partilhava um Prêmio Nobel da<br />
Paz com Shimon Peres e Ytizhak Rabin!<br />
Enquanto era ovacionado na ONU, enquanto<br />
jogava bomba em ônibus escolar<br />
matando 21 crianças israelenses, enquanto<br />
cometia todos os seus crimes,<br />
matando inocentes, incitando e treinan-<br />
terroristas] mandavam nas cidades palestinas<br />
como gangsters, desacatando<br />
os oficiais de segurança, que gradualmente<br />
aprenderam que não tinham o<br />
apoio de Arafat.<br />
Rees revela ainda a história chocante<br />
de uma garota cristã de Bet<br />
Jala, próximo a Belém, que foi coagida<br />
a fazer sexo e então assassinada<br />
pelos líderes das Brigadas dos Mártires<br />
de Al-Aqsa em Belém. Depois<br />
de matar a menina, os líderes do grupo<br />
emitiram uma declaração dizendo<br />
que eles “queriam limpar as casas<br />
palestinas das prostitutas.”<br />
Rees escreveu que os “criminosos<br />
degradaram-na sexualmente, puniramna<br />
por isto, e então reivindicaram a<br />
posição de defensores morais de uma<br />
sociedade que eles, mais do que quaisquer<br />
outras pessoas, foram responsáveis<br />
por manchar.”<br />
“A Batalha de Caim,” conta ainda<br />
a história do vice-chefe da Inteligência<br />
Geral em Gaza, Zakaria Baloush.<br />
Ele se cansou tanto do jogo duplo de<br />
Arafat, que anunciou que concorreria<br />
contra ele pelo cargo de presidente.<br />
Arafat nunca realizou eleições, mas<br />
tentou persuadir Baloush a retornar ao<br />
rebanho. Quando Baloush disse a Arafat<br />
que ele não poderia mais trabalhar<br />
para o chefe da Inteligência Geral em<br />
Gaza, Amin al-Hindi, Arafat disse: “Então<br />
chute-o. Jogue-o ao mar.” Rees disse<br />
do para o ódio insano, a juventude palestina.<br />
Este Arafat controvertido e cruel<br />
foi visitado nos seus últimos momentos<br />
de vida por Chirac, presidente da França,<br />
teve funerais com honrarias de grande<br />
chefe de Estado, levou às lágrimas multidões<br />
ao redor do mundo por ocasião<br />
de sua morte! E finalmente, ainda ousou<br />
determinar que seus restos mortais<br />
fossem deixados em Jerusalém!<br />
Alguém se lembra de Golda Meir? A<br />
excepcional mulher que foi Primeiro-Ministro<br />
de Israel no início da década de 70,<br />
alguém se lembra? Pois bem, aqui vão as<br />
palavras de Golda sobre Yasser Arafat:<br />
“É amargo escrever sobre Eliahu<br />
agora, num mundo que preferiu dotar<br />
o terrorismo árabe de fascínio e admitir<br />
ao assim chamado conselho de nações,<br />
um homem como Yasser Arafat, que não<br />
tem a seu crédito uma só ação ou pensamento<br />
construtivo e que, falando claramente,<br />
é apenas um assassino múltiplo<br />
fantasiado, chefiando um movimento<br />
exclusivamente dedicado à destruição do<br />
Estado de Israel. Mas é a minha convicção<br />
mais profunda - e consolo - que as<br />
sementes do inevitável fracasso do terrorismo<br />
árabe se encontram na própria<br />
concepção do terrorismo. Movimento<br />
algum, independentemente do dinheiro<br />
de que dispõe ou do apaziguamento com<br />
que se nutre - e nesse caso é a espécie<br />
de apaziguamento que sempre trouxe<br />
desastre ao mundo - pode ter sucesso<br />
por muito tempo se a qualidade da sua<br />
que Arafat conduzia a Autoridade<br />
<strong>Na</strong>cional Palestina<br />
exatamente da mesma forma<br />
que ele fez com a OLP<br />
– como um feudo pessoal<br />
onde ninguém sabia em<br />
quem confiar. “Ele nunca fez<br />
a transição para um governo<br />
responsável e organizado,”<br />
disse Rees.<br />
As relações com Israel,<br />
mesmo durante os<br />
anos de Oslo, eram também<br />
sujeitas à duplicidade<br />
de Arafat. Rees escreveu<br />
sobre um oficial da<br />
inteligência palestina<br />
que queria dar informações ao Shin<br />
Bet sobre os soldados israelenses<br />
que não retornaram da batalha de<br />
Sultan Yakoub, com paradeiro desconhecido,<br />
em 1982. Quando o oficial<br />
da inteligência trouxe os oficiais<br />
israelenses a Arafat, o líder palestino<br />
dispensou-os, dizendo que o oficial<br />
da inteligência estava doente e<br />
precisava ficar em casa para tratamento<br />
médico.<br />
* Khaled Abu Toameh é jornalista<br />
árabe-israelense e escreve no<br />
Jerusalem Post - Traduzido por<br />
Irene Walda Heynemann e<br />
publicado no site De Olho na<br />
Mídia (www.deolhonamidia.org.br)<br />
em 8/11/2004<br />
liderança é vulgar e seus únicos compromissos<br />
sejam com a chantagem e o<br />
derramamento de sangue. Não é matando<br />
e mutilando crianças, seqüestrando<br />
aviões ou assassinando diplomatas<br />
que os <strong>verdade</strong>iros movimentos de libertação<br />
alcançam seus objetivos” 1 .<br />
Golda Meir não se encontra mais<br />
entre nós. Tampouco Arafat. Faz trinta<br />
anos que ela proferiu as palavras acima<br />
sobre aquele que foi o inimigo número<br />
um de Israel, e é provável que<br />
ainda levará tempo para que suas palavras<br />
se tornem realidade. Pois muitas<br />
lideranças mundiais continuam cegas<br />
e ainda fascinadas com os terroristas.<br />
Mas, com o fim de Arafat, quem<br />
sabe o povo palestino tenha se saciado<br />
do sangue jorrado das pilhas<br />
de cadáveres sobre os quais<br />
seu líder demoníaco os governou.<br />
Quem sabe o<br />
mundo civilizado volte o<br />
seu olhar, ao menos<br />
uma vez compassivo,<br />
para aquelas crianças<br />
palestinas e, com paciência<br />
e muito amor<br />
consiga extirpar de<br />
seus corações o ódio<br />
que lhes foi inculcado<br />
por Arafat. Milagres às<br />
vezes acontecem!<br />
Nota: [1] - Golda Meir: “Minha Vida” –<br />
Autobiografia, 1976 Bloch Editores S.A.<br />
11<br />
* Regina Caldas é<br />
administradora de empresas,<br />
ocupou durante anos a diretoria<br />
e conselho de entidades como<br />
União Cívica Feminina;<br />
Federação Internacional de<br />
Mulheres de Negócios e<br />
Profissionais Liberais. Também<br />
fez parte do IL de São Paulo.<br />
Publicado em Mídia Sem Máscara<br />
dia 24/11/2004<br />
(www.midiasemmascara.org)
12<br />
12<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
O CIP lotou no dia 3/12,<br />
para assistir Nicole Borger<br />
num Tributo a <strong>Na</strong>omi<br />
Shemer, acompanhada por<br />
Hélcio e Rose Muller, Paulo<br />
Kulicz e a Banda Regra<br />
Três. Tomara esta seja a 1ª<br />
das muitas noitadas que a<br />
nova diretoria possa nos<br />
proporcionar.<br />
Nicole Borger<br />
Não esqueçam: o <strong>Visão</strong><br />
<strong>Judaica</strong> não circula em<br />
janeiro. Como fazemos<br />
todo ano, tiramos nossas<br />
férias, para voltarmos<br />
renovados e com mil<br />
novidades em fevereiro.<br />
Marian Krieger, festejou<br />
seu aniversário,<br />
confraternizando com suas<br />
amigas, num jantar muito<br />
alegre e festivo, como a<br />
data merece. Saúde e até<br />
os 120 anos.<br />
Hora Israelita de Porto<br />
Alegre agora na Internet:<br />
http://www.bandrs.com.br/<br />
Ou o link direto http://<br />
www.bandrs.com.br/<br />
band_portal/band_am/ O<br />
programa radiofônico que<br />
está a mais de cinqüenta e<br />
oito anos ininterruptamente<br />
no ar aos domingos,<br />
atualmente das 8 às 10h,<br />
horário de Brasília.<br />
Sabine Wahrhaftig, no centro, comemora seu<br />
aniversário numa inesquecível noite no CIP,<br />
rodeada pela sorridente família Figlarz<br />
<strong>Na</strong>sceu Patrick Rosenzveig<br />
Wikler, filho de Rochelle e<br />
Charles Wikler, no Shabat (10/<br />
12/2004). Os avós Cira e<br />
Maurício Wikler e Anita e<br />
Guilherme Rosenzveig<br />
comemoram com esta<br />
maravilhosa notícia. Mazal Tov!<br />
A semana internacional dos<br />
Direitos Humanos começou<br />
com a comemoração do 50º<br />
aniversário de falecimento<br />
do diplomata brasileiro Luiz<br />
Martins de Souza Dantas,<br />
honrado pela Fundação<br />
Internacional Raoul<br />
Wallenberg no Consulado<br />
Geral do Brasil da cidade de<br />
Nova Iorque, dia 6/12. Souza<br />
Dantas concedeu visto<br />
diplomático a centenas de<br />
judeus e outros perseguidos<br />
pelo regime nazi durante a<br />
2ª Guerra Mundial, salvando<br />
com as suas ações cerca de<br />
800 pessoas do extermínio,<br />
ao contrariar ordens<br />
emitidas pela administração<br />
do então presidente do<br />
Brasil, Getúlio Vargas.<br />
Regina Morgenstern<br />
comemorou mais um<br />
aniversário na companhia de<br />
grupo de amigas e<br />
familiares. Saúde e alegrias<br />
é o que deseja VJ.<br />
Encerrando as atividades do<br />
ano 2004, o executivo Wizo<br />
Paraná, se reuniu num jantar<br />
de confraternização e de<br />
comemoração pelos sucessos<br />
alcançados nos eventos<br />
realizados. Com bastante<br />
entusiasmo, começou a ser<br />
elaborada a programação<br />
para o próximo ano.<br />
Como ultima atividade anual da<br />
<strong>Na</strong>’amat Pioneiras foi realizado<br />
o bingo de Chanucá. O<br />
Numa festa<br />
surpresa,<br />
organizada pelo<br />
grupo Apoio, no<br />
CIP, foi<br />
comemorado o<br />
aniversário de<br />
Sabine Wahrhaftig.<br />
Reuniram-se os<br />
familiares e<br />
amigos, juntamente<br />
com o coral do<br />
grupo de Cantores<br />
de Angola, para<br />
homenagear a<br />
aniversariante,<br />
num ambiente<br />
alegre e<br />
descontraído.<br />
Mazal Tov!<br />
entusiasmo e alegria foram<br />
as características da noite,<br />
onde muitos saíram<br />
carregados de prêmios. Rita<br />
Galperin “bingou” a TV 29"!<br />
Bom descanso à todos e que<br />
voltemos com muita energia!<br />
Um novo grupo<br />
universitário em Curitiba<br />
acaba de ser formado<br />
com ajuda do Hagshamá.<br />
Vai incorporar-se à linha<br />
de apoio total a toda<br />
iniciativa de ativismo<br />
universitário judaico. Com<br />
aproximadamente 25<br />
jovens atuantes, o CTB<br />
Iachad já está iniciando as<br />
atividades.<br />
Também foi selada uma<br />
parceria com a Kehilá de<br />
Curitiba, através do Centro<br />
Israelita do Paraná e o<br />
Hagshamá para promover<br />
diversas atividades e<br />
oportunidades aos jovens<br />
judeus curitibanos. Numa<br />
pequena palestra, o diretor<br />
do Departamento para São<br />
Paulo e Sul do Brasil, Persio<br />
Bider explicou aos<br />
presentes, os objetivos do<br />
Hagshamá, sua importância<br />
e principalmente ratificou<br />
toda a ajuda possível para<br />
que mais jovens possam<br />
participar das atividades<br />
promovidas por este grupo<br />
universitário.<br />
30 bailarinos israelenses do<br />
grupo “Hora Hein” estiveram<br />
na quadra da Mangueira, no<br />
Rio, mostrando a beleza da<br />
dança Israelense. Eles<br />
aproveitaram para assistir à<br />
formatura de 700 alunos das<br />
30 oficinas<br />
profissionalizantes e ainda<br />
tiveram uma “aulinha básica”<br />
de samba com os passistas<br />
da verde-e-rosa. Os<br />
integrantes do Hora Hein - 15<br />
homens e 15 mulheres -<br />
também se apresentaram no<br />
Teatro Villa-Lobos.<br />
O curitibano Fábio Zugman<br />
lançou pela editora Negócio,<br />
Sebrae e com apoio das<br />
Livrarias Curitiba seu livro<br />
“Administração Para<br />
Profissionais Liberais”. Foi<br />
dia 9 de dezembro no<br />
ParkShopping Barigüi.<br />
A comunidade judaica<br />
escolheu seus novos<br />
representantes nas eleições<br />
do novo Conselho<br />
Deliberativo da Federação<br />
Israelita de São Paulo para a<br />
gestão 2005/2008. A<br />
O presidente do Tribunal de Contas, Henrique <strong>Na</strong>igeboren, entre o<br />
prefeito de Curitiba Cassio Taniguchi (direita) e o prefeito Joarez<br />
Heinrichs, presidente da Associação dos Municípios do Paraná<br />
(esquerda). <strong>Na</strong> ponta, o vice-governador do Paraná, Orlando Pessuti<br />
O presidente do Tribunal<br />
de Contas do Estado do<br />
Paraná, conselheiro<br />
Henrique <strong>Na</strong>igeboren, foi<br />
homenageado pelos 399<br />
prefeitos do Estado com o<br />
“Diploma de Honra ao<br />
Mérito”, entregue pelo<br />
presidente da Associação<br />
dos Municípios do Paraná<br />
(AMP), Joarez Henrichs,<br />
também prefeito de<br />
Barracão, dia 22/11 no<br />
salão de eventos do<br />
Parque Barigüi.<br />
<strong>Na</strong>igeboren agradeceu a<br />
honraria e a presença das<br />
autoridades e dos<br />
amigos.Em seu discurso<br />
fez um retrato preciso da<br />
questão municipalista e<br />
do trabalho desenvolvido<br />
pelo Tribunal de Contas<br />
nos dois anos que esteve<br />
à frente do TC.<br />
novidade é que foi por meio<br />
do voto eletrônico, no ginásio<br />
Poliesportivo do clube A<br />
Hebraica. Os eleitores<br />
podiam reconhecer os<br />
candidatos não apenas pelo<br />
nome, mas também pela sua<br />
fotos. Foram eleitos 80<br />
ativistas.<br />
A Organização Sionista do Rio<br />
Grande Sul realizou dia 13/12<br />
uma palestra com o professor e<br />
filósofo Olavo de Carvalho, que<br />
falou sobre o tema “Revolução<br />
Mundial, Terrorismo Islâmico e<br />
Anti-semitismo”. O evento<br />
aconteceu na sede da<br />
Federação Israelita do Rio<br />
Grande do Sul, em Porto<br />
Alegre.<br />
Expressas: <strong>Na</strong>sceu em<br />
Israel, Rinat, a neta do casal<br />
Victor Baras. *** Bruno<br />
Bernard foi chamado para a<br />
Torá em seu Bar Mitzvá, dia<br />
11/12. *** Renato Strachman<br />
e Paula Bley casaram-se dia<br />
18/12. *** Aconteceu dia 26/<br />
Estiveram presentes o<br />
governador em exercício,<br />
Orlando Pessuti; o<br />
presidente da Assembléia<br />
Legislativa, deputado<br />
Hermas Brandão; o<br />
presidente do Tribunal de<br />
Justiça, Oto Luiz Sponholz;<br />
o prefeito de Curitiba,<br />
Cassio Taniguchi; o<br />
presidente da Câmara<br />
Municipal de Curitiba,<br />
vereador João Cláudio<br />
Derosso; o presidente da<br />
Associação Brasileira dos<br />
Municípios, o prefeito de<br />
Cambe, José do Carmo<br />
Garcia, o prefeito eleito de<br />
Curitiba Beto Richa, Fani<br />
Lerner, e seus familiares, a<br />
esposa Clarita <strong>Na</strong>igeboren,<br />
e os filhos Renata e Milton.<br />
Também prestigiou a<br />
homenagem o diretor da<br />
Escola de Contas do TC do<br />
Estado do Rio Grande do<br />
Sul, Wremir Scliar.<br />
12 o Brit Milá do filho<br />
de Miguel Woller. *** A todos<br />
e às suas famílias,<br />
desejamos Mazal Tov!<br />
A “coruja” curitibana Buzia<br />
Finkel não consegue<br />
conter a alegria e o riso ao<br />
segurar no colo os<br />
bisnetos Caíque<br />
Chamecki e Guilherme<br />
Chamecki Laranjeira.<br />
Para colaborar com a Coluna<br />
Quem, onde quando... basta<br />
passar um fax pelo telefone 0**41<br />
3018-8018 ou um e-mail para<br />
visaojudaica@visaojudaica.com.br
Em Curitiba, a Nutrhouse, uma<br />
indústria que produz alimentos<br />
integrais, naturais<br />
e com fibras, além<br />
de biscoitos e massas,<br />
detentora da conhecida<br />
marca Vitao, acaba de receber<br />
o selo kosher da<br />
BDK (Beit Din Kashrut)<br />
para mais dois de seus<br />
produtos — pipoca doce<br />
de arroz integral e sementes<br />
de girassol.<br />
Os selos desses dois<br />
novos produtos vêm se somar<br />
aos que já tinham autorização<br />
rabínica para consumo,<br />
entre eles, o açúcar<br />
mascavo, a farinha de aveia,<br />
aveia em flocos finos e grossos,<br />
o gérmen de trigo, a farinha de<br />
centeio, as farinhas de trigo integral<br />
fina e grossa, o feijão azuki, o gergelim,<br />
o painço, o sal, marinho, o tempero<br />
pronto de sal e alho, o banchá –<br />
um chá verde tostado e a fibra de trigo.<br />
Além do selo do BDK, a Vitao já<br />
tinha autorização e selos kosher do<br />
Vaad Rabanei Anash Brasil.<br />
Conceito largamente utilizado<br />
pela comunidade judaica mundial<br />
como uma “garantia da qualidade<br />
de alimentos supervisionados por<br />
um rabino ou rabinato”, é a kashrut<br />
que os torna alimentos autorizados<br />
para consumo dentro das normas religiosas,<br />
conforme as leis judaicas.<br />
Com a moderna industrialização, os<br />
alimentos atualmente produzidos<br />
têm como compostos milhares de<br />
micro e macro elementos. Uma bolacha,<br />
por exemplo, não é mais<br />
composta apenas de água e farinha,<br />
mas sim de vários outros produtos<br />
como conservantes, pigmentos diversos,<br />
aromatizantes, adoçantes,<br />
acidulantes e etc.<br />
No Brasil, o BDK e o Vaad Rabanei<br />
Anash Brasil, ambos com sede<br />
em São Paulo, são instituições religiosas<br />
que estudam e fiscalizam a<br />
produção de alimentos para que<br />
os consumidores tenham sempre<br />
a certeza de estar comprando produtos<br />
aptos de acordo com as normas<br />
dietéticas judaicas. E essas<br />
instituições concedem os selos<br />
kosher que são sempre estampados<br />
nas embalagens dos produtos<br />
colocados à venda.<br />
Iniciada em 1991, a Vitao tem<br />
como objetivo inovar e investir na<br />
diversificação de sua linha de produtos,<br />
promovendo o aprimoramento<br />
da qualidade. Segundo Luis C. Rauta,<br />
diretor industrial da empresa, a<br />
marca Vitao nasceu baseada numa filosofia<br />
que soma vitalidade com<br />
equilíbrio (Vi) e os princípios do<br />
Taoísmo (Tao). Toda a linha de produtos<br />
é voltada à dieta alimentar, oferecendo<br />
produtos integrais, ricos em<br />
fibras e nutrientes naturais.<br />
Em 2002 a Nutrihouse — atualmente<br />
Nutrhouse —adquiriu a indústria<br />
e a marca Vitao. A fábrica<br />
e os escritórios da empresa funcionam<br />
numa área de mais ou menos<br />
6 mil metros quadrados no bairro<br />
Boqueirão, em Curitiba. Atualmente<br />
sua linha de produtos se estende<br />
por 85 itens diversos, dos quais cer-<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
Em Curitiba, Vitao produz<br />
alimentos com selo kosher<br />
Novos produtos da Vitao com<br />
o selo kosher<br />
ca de 15 já possuem selos kosher.<br />
Mas a idéia, segundo Rauta é ampliar<br />
os produtos dessa faixa, cuja marca<br />
tem boa procura no Brasil. Já<br />
existem até entendimentos com<br />
uma empresa norte-americana para<br />
a exportação dos produtos kosher<br />
para os Estados Unidos, mas as conversas<br />
nesse caso ainda estão na<br />
fase inicial.<br />
A Vitao conta atualmente com<br />
cerca de 60 funcionários e entre<br />
seus produtos mais procurados<br />
[ainda não “kasherizados”] estão<br />
os biscoitos e cookies, cuja produção<br />
é de 80 toneladas ao mês e<br />
granolas (de 50 a 60 toneladas/<br />
mês) além dos produtos light.<br />
13
14<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
VISÃO panorâmica<br />
Yossi Groisseoign<br />
Israel reabre consulado em SP em 2005<br />
Dorit Shavit, diretora do Departamento da<br />
América Latina, no Ministério das Relações<br />
Exteriores de Israel, comunicou em 11 de<br />
dezembro, durante encontro com lideranças<br />
da comunidade judaica brasileira em<br />
Tel Aviv, que o consulado de Israel em São<br />
Paulo será reaberto em 2005. O consulado<br />
fechou suas portas em julho de 2003,<br />
depois de 50 anos de existência, por determinação<br />
do Ministério das Relações Exteriores<br />
de Israel e em conseqüência de<br />
rigorosos cortes nas despesas governamentais.<br />
O anúncio foi feito para Berel Aizenstein,<br />
presidente da Confederação Israelita<br />
do Brasil (Conib), Jayme Blay e<br />
Ricardo Berkiensztat, presidente e vicepresidente<br />
da Federação Israelita do Estado<br />
de São Paulo (Fisesp) e Boris Berenstein,<br />
presidente da Federação Israelita<br />
de Pernambuco. (Conib).<br />
Campeonato da Liga<br />
de Futebol israelense<br />
O campeonato da liga superior de futebol<br />
começou com estádios quase vazios em<br />
Israel e com resultados distintos. O recém-ingresso<br />
na primeira divisão, Bnei<br />
Saknin, empatou em 1 a 1 com o HaPoel<br />
Tel Aviv. O Macabi Tel Aviv venceu por 2 a<br />
0 a equipe árabe-israelense Akchei <strong>Na</strong>tzeret.<br />
Outros resultados da rodada inicial:<br />
Ashdod 2, HaPoel Petch Tikva 0; Macabi<br />
Petach Tikva 1, HaPoel Beer Sheva 2; e<br />
Ben Iehuda 2, Macabi <strong>Na</strong>tania 0. Chazon<br />
Be Fandel e o irmão do jogador da seleção<br />
Chaim Revivo foram os jogadores que<br />
sobressaíram na primeira rodada. E pelas<br />
eliminatórias da Copa do Mundo, Israel 2<br />
Chipre 1. (Inian Mercazi).<br />
Fãs torcem contra com<br />
bandeiras de Israel<br />
Bandeiras israelenses saudaram os jogadores<br />
do Maccabi Tel Aviv num jogo contra<br />
o Ajax, em Amsterdã, em outubro. Só<br />
que a maioria delas estava nas mãos de<br />
torcedores do time da casa. Esta é uma<br />
das mais exóticas peculiaridades do futebol<br />
mundial, pois os torcedores do Ajax<br />
se autodenominam ‘Superjoden’ (super judeus),<br />
um apelido que reflete as origens<br />
judaicas do time e da cidade de Amsterdã.<br />
Um dos gritos de guerra da torcida é<br />
‘Superjoden! Olé! Olé!’, e muitas vezes<br />
os torcedores visitantes são surpreendidos<br />
com o estádio inteiro cantando o clássico<br />
‘Hava <strong>Na</strong>guila’. Hoje, poucos fãs do<br />
time são judeus, mas eles continuam levando<br />
a coisa a sério. ‘É uma questão de<br />
orgulho’, diz um deles. Antes da 2ª Guerra<br />
Mundial, a maioria dos 140 mil judeus<br />
holandeses vivia em Amsterdã, e o estádio<br />
do Ajax ficava próximo ao bairro judeu.<br />
Torcedores de outros times muitas<br />
vezes gritavam palavras de ordem antisemitas<br />
e os do Ajax defendiam seu ‘judaísmo’.<br />
No campo, no entanto, não houve<br />
surpresa: Ajax 3x0. (Israel Insider).<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
(com informações das<br />
agências AP, Reuters, AFP,<br />
EFE, jornais Alef na internet,<br />
Jerusalem Post, Haaretz e IG)<br />
Filme israelense premiado em Munique<br />
“Hina”, filme de Idan Hovel, obteve o reconhecimento<br />
de melhor roteiro no Festival<br />
de Cinema Estudantil da Alemanha, em<br />
Munique. Hovel, que estuda na Escola de<br />
Cinema Sam Spigiel, em Jerusalém, ganhou<br />
três mil euros e o prêmio de melhor roteiro<br />
por sua película. Foram exibidos no evento<br />
52 filmes representando 35 escolas de 25<br />
países. O presidente do júri deste ano foi o<br />
realizador do cinema independente norteamericano<br />
Hal Hartley (“The Unbelievable<br />
Truth”, “Amateur”). O filme de Hovel ganhou<br />
também o primeiro prêmio interno da<br />
escola Sam Spigiel e foi apresentada no<br />
Festival de Jerusalém. (Iton Gadol)<br />
Abu Mazen e o Holocausto<br />
Para Abu Mazen, o candidato à sucessão<br />
de Arafat, o número de judeus vítimas do<br />
Holocausto deve ser ‘ainda menor do que<br />
um milhão`. Em 1984, Mazen, cujo nome é<br />
Mahmoud Abbas, disse isso numa palestra<br />
no Colégio Oriental de Moscou, que dois<br />
anos depois foi publicada em árabe, na<br />
Jordânia. Citando intelectuais conhecidos<br />
por negar a existência das câmaras de gás,<br />
o artigo de 1984 pretende mostrar a falta<br />
de legitimidade do movimento sionista,<br />
falando sobre pretensos “laços secretos<br />
entre suas lideranças e os nazistas”, e indicando<br />
que ambos teriam os mesmo objetivos<br />
e teorias convergentes. (IMRA –<br />
Middle East News & Analysis).<br />
Escultura anti-semita em Oslo<br />
Em agosto, uma escultura intitulada “A parede:<br />
fragmentos de história“, de Sigurd<br />
Björn Engvik, foi exibido pela Prefeitura<br />
de Oslo na Praça Youngstorget, no centro<br />
da cidade. A escultura continha estrelas<br />
amarelas nazistas que gotejavam sangue,<br />
supostamente simbolizando “a natureza assassina<br />
do Judaísmo” (embora as estrelas<br />
exibidas não fossem o Magen David aberto<br />
mas as estrelas amarelas nazistas fechadas),<br />
o dólar, um sinal simbolizando também<br />
supostamente a ganância judaica, e<br />
cartas com a palavra “Holocausto” entremeada<br />
pela data de 29 de novembro de<br />
1947 (dia da partilha da Palestina). A escultura<br />
também inclui citações dos Dez Mandamentos<br />
e do Tanach, simbolizando o<br />
descuido israelense aparentemente pela ética<br />
judias. A comunidade judaica de Oslo e<br />
a Associação Norueguesa contra o Anti-semitismo<br />
protestaram pelo uso de símbolos<br />
anti-semitas clássicos e pelo ataque à religião<br />
judaica e o escárnio da Shoah.<br />
ONU condena anti-semitismo<br />
Quebrando uma longa tradição, a Assembléia<br />
Geral das <strong>Na</strong>ções Unidas aprovou uma<br />
resolução condenado o anti-semitismo como<br />
parte de uma resolução contra a intolerância<br />
religiosa. <strong>Na</strong> resolução aprovada, apesar<br />
dos esforços contrários dos países árabes,<br />
o Terceiro Comitê da Assembléia Geral<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
da ONU “reconhece com grande preocupação<br />
o aumento da intolerância e da violência<br />
dirigida contra membros de várias comunidades<br />
religiosas em diversas partes do<br />
mundo, incluindo casos motivados por islamofobia,<br />
anti-semitismo e cristianofobia”.<br />
Para o embaixador de Israel na ONU, Dan<br />
Gillerman, o fato representa uma ruptura<br />
histórica. (Jerusalém Post).<br />
Terrorista de dupla nacionalidade<br />
O jornal “O Sul”, de Porto Alegre, arranjou<br />
um novo codinome para terrorista: Gaúcho!<br />
Em sua edição de 25 de novembro, colocou<br />
como chamada de capa para sua matéria<br />
de internacional, o seguinte título:<br />
“Israel mata gaúcho na Palestina”. Colocada<br />
assim, a frase dá a entender que Israel<br />
agora persegue os gaúchos e que terroristas<br />
deixam de ser terroristas para se<br />
transformarem em gaúchos. Com a “nacionalidade”,<br />
o jornal tentou “apagar” o passado<br />
sujo de um indivíduo que não era um<br />
gaúcho qualquer. Israel nada tem contra<br />
os gaúchos, mas sim contra terroristas<br />
como aquele morto pelo exército, que<br />
tem inclusive uma longíssima ficha de<br />
crimes e de atos de violência que não<br />
podem ser desculpados, ou apagados por<br />
sua dupla nacionalidade brasileira/palestina.<br />
(De Olho na Mídia).<br />
TV Hezbolá fora do ar<br />
Imagem capatada da TV Al-manar.<br />
A legenda diz: Morte a Israel!<br />
O primeiro-ministro francês Jean-Pierre Raffarin<br />
anunciou que seu governo proibiu a<br />
difusão dos sinais da TV Al-Manar, do grupo<br />
terrorista Hezbolá, por causa emissões<br />
repletas de ódio da rede via satélite, na<br />
França. Milhares de pessoas assinaram<br />
petições ao presidente Chirac solicitando<br />
que fosse barrada a propaganda do Hezbolá,<br />
que vomita ódio contra os judeus, e<br />
que fosse removida das ondas na França.<br />
A campanha foi iniciada pelo Centro Simon<br />
Wiesenthal Center, chocado com a decisão<br />
inicial de permitir as emissões da<br />
Al-Manar que incitariam os muçulmanos<br />
franceses. Mas depois que a rede, que<br />
transmite de uma emissora baseada no<br />
Líbano, passou a acusar Israel de disseminar<br />
Aids através do mundo árabe, cresceram<br />
os protestos internacionais e o governo<br />
francês finalmente resolveu puxar o fio<br />
da tomada. (Centre Simon Wiesenthal).<br />
Yad Vashem inaugura portal na internet<br />
Mais de 3 milhões de nomes de judeus<br />
perseguidos e mortos pelo regime nazista<br />
podem ser acessados em 14 idiomas através<br />
do site www.yadvashem.org. O portal<br />
visa reconstituir os nomes e a história de<br />
vida de cada uma das vítimas. É uma corrida<br />
contra o tempo, revela Avner Shalev,<br />
um dos diretores do Museu do Yad Vashem<br />
(Museu do Holocausto) em Israel, sobre<br />
este trabalho iniciado há 50 anos. “Temos<br />
de coletar a maior quantidade de dados<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
enquanto ainda tivermos entre nós sobreviventes<br />
e a geração dos que melhor se<br />
lembram dos fatos. Chamamos as famílias<br />
de todo o mundo a nos ajudar a honrar a<br />
memória de nossos ancestrais, a partir de<br />
seus nomes”, disse ele. Os dados arquivados<br />
incluem data e local de nascimento,<br />
profissão, local de residência antes da<br />
guerra, nome dos pais ou esposos, e onde<br />
e quando foram capturados pelos nazistas.<br />
Os internaltas também podem participar<br />
de programas educacionais. (JTA).<br />
Mais um Justo entre as <strong>Na</strong>ções<br />
Um grupo de diplomatas da embaixada israelense<br />
em Berlim homenageou Herbert<br />
Herden, de 89 anos, com o título de “Justo<br />
entre as <strong>Na</strong>ções” e seu nome será inscrito<br />
no Yad Vashem, memorial do Holocausto<br />
em Israel. Ele diz que faria tudo de<br />
novo: arriscar sua vida para salvar judeus<br />
poloneses durante o Holocausto. Mais de<br />
350 alemães já receberam este título.<br />
Da realeza swazi ao rabinato ortodoxo<br />
Nkosinathi Gamedze descende do clã real dos<br />
Swazi, da África do Sul. Em 1988 o jovem<br />
negro estudante de idiomas da Universidade<br />
Witwatersrand, de Joanesburgo, viu um colega<br />
escrevendo da direita para esquerda, o<br />
que mudaria sua vida. Em 1988 decidiu aprender<br />
o idioma, um dos 13 que fala hoje e foi<br />
bem recebido no Departamento de Hebraico<br />
da Universidade, mesmo sendo o único não<br />
judeu. Passou a ser convidado para o shabat<br />
na casa dos colegas. “O primeiro sinal de<br />
calor humano que recebi dos brancos foi da<br />
comunidade judaica, mesmo na época do<br />
aparthaid na África do Sul”, conta. Depois,<br />
a convite do professor Moshe Sharon fez seu<br />
doutorado em hebraico em Jerusalém, na<br />
yeshivá Ohr Somayach. Mais tarde decidiu<br />
se converter, estudou e foi aprovado por um<br />
Beit Din em Jerusalém. Hoje é Rabbi <strong>Na</strong>tan<br />
Gamedze, rabino ortodoxo, que mora em<br />
Safed, Israel e leciona no Sharei Bina Girls<br />
Seminary. (JTA).<br />
Palestinos matam jovem de 19 anos<br />
acusado de espionagem<br />
Militantes palestinos mataram um rapaz de<br />
19 anos por suspeitarem que ele colaborou<br />
com os israelenses na captura de fugitivos.<br />
Jad al-Hindi foi morto pelas Brigadas dos<br />
Mártires de Al-Aksa, grupo violento ligado<br />
ao movimento Fatah. Cedo, na manhã seguinte,<br />
seu corpo foi achado pela polícia<br />
com 12 tiros na cabeça. Dezenas de palestinos<br />
já foram executados por seus companheiros<br />
desde o início da Intifada, alguns<br />
em praça pública, em frente a grandes multidões.<br />
(Haartez/Associated Press).<br />
Atitude humana e civilizada<br />
A divisão de engenharia e munições do<br />
Exército de Defesa de Israel, junto com<br />
uma equipe médica, e em coordenação com<br />
a Administração Civil, socorreu, resgatou<br />
e tratou de um menino palestino ferido em<br />
Dir Dabuan, a leste de Ramallah. As forças<br />
israelenses foram até lá para ajudar a<br />
criança palestina a pedido da administração<br />
civil de Ramallah. A mão do menino<br />
fora apanhada por uma máquina de fabricação<br />
de azeite de oliva. O exército de<br />
Israel livrou o menino, deu-lhe atendimento<br />
médico no ato e o removeu para um hospital<br />
israelense em condições moderadas de<br />
saúde. (IDF Spokesperson).
História<br />
Wilma Kövesi z”l foi uma<br />
mulher completa e nós a<br />
lembramos em sua plena<br />
atividade, filha dedicada, esposa<br />
exemplar, mãe carinhosa, avó<br />
presente, profissional<br />
competente, amiga sincera.<br />
Falava com amor de seu<br />
casamento e do<br />
companheirismo que sempre<br />
manteve com seu marido János<br />
Kovesi, nosso querido irmão de<br />
B´nai B´rith, de sua vida, seus<br />
ideais em comum, dos filhos e<br />
netos muito queridos, estava<br />
sempre agindo em favor da<br />
harmonia entre todos.<br />
Como irmã da B´nai B´rith foi<br />
a criadora do Programa Culinária<br />
Alternativa, juntamente com o<br />
dr. Jayme Murahovschi,<br />
proporcionando a creches,<br />
escolas, lar de idosos,<br />
organizações de assistência<br />
social em geral, a possibilidade<br />
de preparar pratos saborosos e<br />
nutritivos praticamente a custo<br />
zero. Seus ensinamentos<br />
continuam sendo aplicados pelos<br />
voluntários da B´nai B´rith.<br />
Somente este ano foram dois<br />
cursos no Abrigo Nossa Sra. da<br />
Paz, que atende a quatro favelas<br />
na Zona Sul de São Paulo.<br />
Culinarista respeitada pelos<br />
chefs mais importantes,<br />
desenvolveu produtos e receitas<br />
para empresas renomadas,<br />
sempre com a excelência que lhe<br />
era característica, pois não<br />
desistia até atingir a perfeição, o<br />
que fica claro também através<br />
de seus livros. Nossa<br />
homenagem a esta Mulher com M<br />
maiúsculo.<br />
Receitas com grife<br />
Ingredientes:<br />
Tipo de forma: de pão com 1,2 litro de capacidade, untada<br />
com azeite e forrada com papel-manteiga untado e polvilhado<br />
com farinha de rosca.<br />
Ingredientes para a terrine:<br />
1 ½ xícara de caldo de galinha feito em casa e coado;<br />
1 xícara de funghi porcini secos sem lavar;<br />
100 gramas de manteiga;<br />
¾ de xícara de cebola bem picada;<br />
2 dentes de alho bem picados;<br />
¼ de xícara de vinho do Porto;<br />
350 gramas de cogumelo shitake fresco sem os talos e<br />
cortados em fatias;<br />
350 gramas de cogumelos shimeji sem a parte dura e<br />
picados grosseiramente;<br />
1 xícara de creme de leite espesso;<br />
4 ovos;<br />
¼ de xícara de amêndoas torradas e moídas bem fino;<br />
2 colheres de chá de salsa bem picada;<br />
1/3 de xícara de migalhas de miolo de pão fresco;<br />
1 ½ colher de sopa de suco de limão;<br />
2 colheres de chá de sal;<br />
½ colher de chá de pimenta-do-reino preta moída na hora.<br />
Ingredientes para a cobertura:<br />
2 colheres de sopa de manteiga;<br />
1 colher de sopa de azeite;<br />
1 xícara de cogumelo shitake cortado em 4 pedaços<br />
sem o talo;<br />
1 xícara de cogumelo shimeji cortado em 4 pedaços<br />
sem o talo;<br />
¾ de xícara de amêndoas inteiras, com pele, tostadas e<br />
picadas grosseiramente;<br />
¼ de xícara de salsa picada;<br />
Sal e pimenta-do-reino.<br />
Ingredientes:<br />
1kg de abóbora, cortada em cubos<br />
grandes;<br />
2 colheres (sopa) de cebola;<br />
3 colheres (sopa) de azeite;<br />
1 litro de caldo de legumes (de<br />
preferência caseiro);<br />
1 folha de louro;<br />
50 g de queijo gorgonzola picado;<br />
1 ½ colher (chá) de pimenta-do-reino<br />
branca;<br />
150 g de pêras secas, molhadas em<br />
água morna e cortadas em cubinhos.<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
Terrine de cogumelo<br />
Modo de fazer:<br />
15<br />
Prepare a terrine:<br />
Numa panela pequena, leve o caldo para ferver, retire<br />
do fogo e deixe os funghi porcini de molho nele por 30<br />
minutos. Sobre uma panelinha, coloque uma peneira fina<br />
forrada com papel-toalha. Coloque os funghi e o caldo<br />
que eventualmente tenha restado sobre esta peneira,<br />
esprema o excesso de líquido e reserve. Enxagüe os funghi<br />
para eliminar qualquer resíduo e seque bem. Pique e<br />
coloque numa tigela grande. Leve o líquido coado para<br />
ferver em fogo lento até reduzir a aproximadamente ¼<br />
de xícara e acrescente aos funghi picados.<br />
Pré-aqueça o forno em temperatura moderada (180°<br />
C). Numa frigideira antiaderente, aqueça 2 colheres de<br />
sopa de manteiga sobre o fogo moderado até parar de<br />
espumar e refogue a cebola e o alho até murcharem, aproximadamente<br />
6 minutos. Junte o vinho do Porto e continue<br />
a refogar, mexendo durante 1 minuto, e transfira<br />
para o liquidificador.<br />
Em outra frigideira, com mais 2 colheres de sopa de manteiga,<br />
refogue os dois tipos de cogumelo, mexendo durante<br />
uns 2 minutos. Junte o restante da manteiga se necessário.<br />
Acrescente 2 xícaras deste refogado à mistura no liquidificador<br />
e o restante aos funghi picados. A mistura do liquidificador,<br />
junte o creme de leite, os ovos e a amêndoa e bata<br />
para obter um purê homogêneo. Junte esse purê à mistura<br />
de porcini e acrescente os demais ingredientes, misturando<br />
bem. Despeje na forma preparada e cubra com papel alumínio.<br />
Coloque a forma sobre uma folha de jornal dobrada.<br />
Leve ao forno moderado (180° C) em banho-maria com água<br />
fervente até metade da forma e asse na grade central do<br />
forno durante 1 hora e 10 minutos (a terrine ficará meio<br />
mole no centro). Retire do forno e deixe esfriar. Leve para<br />
gelar tampada durante no mínimo 6 horas e no máximo 5<br />
dias. Deixe em temperatura ambiente antes de desenformar.<br />
Creme de abóbora com gorgonzola e pêras secas<br />
Modo de fazer:<br />
Em caldeirão pequeno, aqueça o azeite e nele refogue rapidamente<br />
a cebola. Junte a abóbora, refogue mais um pouco, acrescente<br />
o louro e apenas 700 ml do caldo. Tampe e deixe cozinhar de<br />
30 a 40 minutos, até a abóbora ficar bem tenra. Retire, aguarde um<br />
pouco, bata no liquidificador e leve de volta à panela. Tempere com<br />
o sal e a pimenta. Pouco antes de servir, aqueça a sopa sobre fogo<br />
moderado, adicione o queijo e mexa até derreter. Se necessário,<br />
junte mais caldo para obter um creme. Acrescente as pêras, aqueça<br />
rapidamente e sirva imediatamente.<br />
Dicas:<br />
O ideal é misturar partes iguais de abóbora de pescoço de cor<br />
bem acentuada e abóbora kabocha. Para servir esse creme em porções<br />
individuais: lave bem pequenas abóboras bem redondas. Retire<br />
uma tampa e uma fatia da parte inferior, para assentá-la no prato.<br />
Pincele a casca com pouco óleo, embrulhe-as individualmente<br />
em papel alumínio e leve abóboras e tampas ao forno moderado<br />
para assar, apenas o necessário.
16<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
* <strong>Na</strong>hum Sirotsky é<br />
jornalista,<br />
correspondente da<br />
RBS e do Último<br />
Segundo/IG em Israel.<br />
A publicação desta<br />
coluna tem a<br />
autorização do autor.<br />
Vittorio Corinaldi *<br />
televisão de Israel dedicou alguns<br />
programas matutinos de<br />
Shabat a uma série de entrevistas<br />
con Itzchak Ben Aharon.<br />
Com isto tornou possível a um largo<br />
público observar, não um fenômeno,<br />
mas um <strong>verdade</strong>iro milagre no panorama<br />
político deste país.<br />
Ben Aharon é um personagem largamente<br />
conhecido e admirado por<br />
aliados e mesmo por adversários. Mas<br />
o que é absolutamente extraordinário<br />
é que – na idade de 98 anos –<br />
ele apresenta uma clareza de opiniões,<br />
uma visão global de processos<br />
e fenômenos, e uma argumentação<br />
lúcida, categórica e atualizada sobre<br />
tudo o que se passa na sociedade<br />
israelense e no mundo moderno.<br />
Não é por acaso que muitos vêm<br />
nele um porta-voz de honestidade<br />
intelectual e coerência ideológica,<br />
e aguardam ansiosos e sedentos<br />
qualquer pronunciamento seu a respeito<br />
de questões de atualidade e<br />
de princípio — numa expectativa<br />
por um sinal de liderança de que<br />
tanto se sente a falta hoje, e que<br />
<strong>Na</strong>hum Sirotsky *<br />
(De Israel) — O presidente Bush e<br />
o chefe do governo interino não desistem<br />
de realizar as eleições no Iraque<br />
em 30 de janeiro. Existe a idéia<br />
do chefe do governo iraquiano de<br />
fazê-las em etapas e por vários dias.<br />
Minimizaria as ameaças de violências<br />
dos insurgentes que têm sinônimos<br />
como militantes e terroristas, alega<br />
ele. Ainda não se sabe se a sugestão<br />
será aceita. Mas a <strong>verdade</strong> <strong>verdade</strong>ira<br />
sobre o que preocupa não está<br />
sendo enfatizada. E só pode ser propositalmente.<br />
Os americanos<br />
entraram no país<br />
com tropa militarmente<br />
preparada e com<br />
armamento superior.<br />
Politicamente, porém,<br />
ignorando o<br />
primário e óbvio de<br />
que invadiam um país<br />
ainda muito dividido<br />
em tribos e seitas religio-<br />
Milagre na TV<br />
políticos muito mais jovens não<br />
conseguem transmitir.<br />
De onde provêm a autoridade<br />
moral de Ben Aharon?<br />
Será de seu absoluto desinteresse<br />
por posições de prestígio e<br />
influência, apesar da longa trajetória<br />
de missões políticas que percorreu?<br />
Será de sua qualidade de membro<br />
convicto de Kibutz – um kibutz do<br />
qual se recusa a ratificar tendências<br />
atuais que contradizem a original<br />
vocação pioneira e revolucionária do<br />
Movimento Kibutziano?<br />
Será de seu envolvimento pessoal<br />
em tarefas de importância material ou<br />
espiritual para os destinos do país e<br />
do povo judeu, ou de sua identificação<br />
com causas de justiça social e<br />
igualdade humana? Estes o levaram a<br />
inúmeros desafios – desde a participação<br />
em movimentos revolucionários<br />
ainda na Europa, através da Aliá e da<br />
adesão ao movimento obreiro de Eretz<br />
Israel, passando pelo alistamento voluntário<br />
no exército britânico durante<br />
a Segunda Guerra Mundial (que lhe<br />
custou um cativeiro como prisioneiro<br />
de guerra, espantosamente escapado<br />
do trágico destino dos judeus<br />
sas. Não prepararam os soldados nem<br />
percentual suficiente da oficialidade<br />
para o encontro com o povo local. E<br />
deu no que deu.<br />
O Iraque tem cerca de 440 mil<br />
quilômetros quadrados de extensão<br />
e 26 milhões de habitantes. A segunda<br />
maior reserva de petróleo<br />
conhecida, além de outros recursos<br />
naturais. De 75 por cento da<br />
população, que é árabe, cerca de<br />
60 por cento são da seita muçulmana<br />
minoritária, a xiita. Os sunitas,<br />
que são 90 por cento dos muçulmanos<br />
no mundo, são cerca de<br />
32 por cento dos iraquianos. Mas<br />
tinham o poder. Saddam Hussein é<br />
sunita. Não confiava nos xiitas, a<br />
cujos protestos ou rebeliões, respondia<br />
com massacres.<br />
O Iraque tem 4.400 quilômetros<br />
de fronteiras com seus vizinhos árabes<br />
muçulmanos, dos quais, 1.458<br />
quilômetros com o Irã, que é 90 por<br />
cento xiita e cerca de 3 por cento<br />
apenas sunita. Outra fronteira exten-<br />
que caíram nas redes do nazismo); e<br />
chegando até os cargos de Secretário<br />
Geral da Histadrut (na qual distinguia<br />
um papel muito mais criativo<br />
do que o da representação exclusivamente<br />
sindical que veio a adquirir de<br />
anos para cá), ou os de ministro em<br />
vários govêrnos.<br />
Será de sua corajosa e aberta defesa<br />
da unificação das forças obreiras<br />
do país, numa época na qual ainda<br />
vigoravam numa parte da esquerda<br />
israelense divisões ideológicas<br />
que se apoiavam numa ilusória interpretação<br />
do regime soviético? Ou<br />
de seu obstinado antagonismo às<br />
atuais correntes socioeconômicas<br />
neocapitalistas de inspiração Thatcheriana,<br />
que vêm solapando a estrutura<br />
igualitária da segurança social<br />
no país? Ou ainda de suas posições<br />
claramente anticlericais frente<br />
às obsoletas exigências do Judaismo<br />
Ortodoxo para com a maioria leiga<br />
e liberal da população?<br />
Será simplesmente de sua cativante<br />
personalidade, irradiada por meio<br />
de um diálogo polêmico mas respeitoso<br />
e civilizado, ou de sua afável mas<br />
rígida intransigência ética?<br />
No Iraque pode ganhar o Irã<br />
sa iraniana é com o Paquistão. O resto<br />
é com mares e oceanos. Estudadas,<br />
verifica-se serem mínimas as diferenças<br />
na prática do Islã entre xiitas<br />
e sunitas. Mas não se apreciam.<br />
Quem lê o noticiário da guerra do<br />
Iraque logo nota que sunitas e xiitas<br />
se concentram em regiões diferentes<br />
do país. E devem ter contas a<br />
ajustar entre eles. Saddam favorecia<br />
sunitas nos bons empregos, destaques<br />
orçamentários, obras. Fisicamente<br />
não são diferentes, porém, a<br />
questão é a prática da fé.<br />
Os xiitas já avançaram na organização<br />
de partidos e como candidatos<br />
para as eleições cuja realização<br />
em boa ordem e sem fraudes<br />
devem marcar o início da implantação<br />
da democracia no Iraque. O<br />
começo da proposta-sonho do presidente<br />
Bush de um Oriente Médio<br />
politicamente democratizado. Estado<br />
com os Poderes Executivo,<br />
Judiciário, Legislativo, como nos<br />
países com sistemas democráticos.<br />
Quem quer ver em Israel a concretização<br />
moderna dos ideais mais<br />
elevados do Judaismo; quem aspirar<br />
às metas mais luminosas que o Sionismo<br />
se propôs — recusa-se em seu<br />
espírito a ver na figura de Ben Aharon<br />
apenas o portador da cifra admirável<br />
de seus anos, e procura se<br />
fixar no quase século de uma ação<br />
coerente, convicta, autêntica, contínua,<br />
dedicada e desinteressada:<br />
ação que encerra toda a essência da<br />
maravilhosa aventura do renascimento<br />
nacional judaico, praticamente<br />
em todas as fases de seu histórico<br />
desenvolvimento.<br />
E ao contemplar esta singular figura,<br />
reaviva-se a fé no caminho que,<br />
embora acidentado e atravessando<br />
trechos de altura mas também de<br />
baixada, não tem igual como roteiro<br />
de progresso e de justiça, orientado<br />
por homens de tal estatura. E<br />
cresce a esperança de que eles permaneçam<br />
à sua frente, sempre jovens<br />
em seus muitos, longos e experientes<br />
anos de vida.<br />
* Vittorio Corinaldi é arquiteto e<br />
mora em Tel Aviv, Israel.<br />
Partidos, organizações da sociedade<br />
civil, liberdade de opinião e<br />
crença, e etc. Mas ser PT ou PMDB<br />
não é ser sunita ou xiita. O PT ganhou<br />
com Lula mas tem de negociar<br />
cada passo com partidos e grupos<br />
diferentes. Os sunitas têm a<br />
tradição de anos no poder. Os xiitas,<br />
porém, se as eleições forem<br />
honestas, ganharão. A grande dúvida<br />
sobre as eleições se resume<br />
em, se os sunitas vão aceitar a perda<br />
do poder na esportiva.<br />
O Irã dos aiatolás, o que financia<br />
o Hezbolá, afirmam os israelenses<br />
e americanos, a fortíssima<br />
guerrilha na fronteira norte<br />
de Israel que governa o sul do<br />
Líbano, tende a ajudar os seus<br />
irmãos na fé. E não aceitará ajeitadas<br />
no pleito.<br />
Não apostaria num período de<br />
tranqüilidade no Iraque nem até 30<br />
de janeiro, nem depois. O custo da<br />
democracia no Iraque tende a ser<br />
muito, muito elevado.
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
O que a Cabalá é<br />
O que a Cabalá não é<br />
Abraham Chachamovits *<br />
ecebo muitas cartas e<br />
consultas de pessoas que<br />
gostariam de saber mais<br />
sobre a Cabalá, e que muitas<br />
vezes assumem<br />
erroneamente tanto a origem,<br />
o propósito, bem como a profundidade<br />
da Cabalá. De fato, muitos “ouvem falar”<br />
sobre a Cabalá de fontes absolutamente<br />
superficiais — desprovidas de<br />
qualquer conhecimento legítimo, além<br />
de ignorantes das questões imperativas<br />
sobre a santidade do assunto. Tratam<br />
o que ouvem sobre a Cabalá apenas<br />
como “mais uma” fonte para trazer-lhes<br />
‘sucesso e felicidade’ imediato,<br />
tal como buscariam em um horóscopo<br />
ou em uma consulta com alguém que<br />
joga búzios, D-us não permita.<br />
Raríssimos são aqueles que buscam um<br />
desenvolvimento espiritual, onde o crescimento<br />
e a sabedoria espiritual são o<br />
maior ganho. A maioria quer apenas<br />
soluções rápidas, como se por não terem<br />
conseguido “resultados” desejados<br />
nesta ou naquela fonte, então pensam:<br />
por que não tentar mais esta “coisa de<br />
Cabala que ouviram falar” (de terceiros<br />
ou quartos) que parece ser “muito boa”?<br />
Todas estas considerações são incrivelmente<br />
superficiais e confusas, e para<br />
ao menos tentar estabelecer um padrão,<br />
a fim de que as pessoas possam<br />
conhecer melhor (para depois perguntar)<br />
sobre a Cabalá, estou aqui oferecendo<br />
um breve manual de respostas<br />
sobre a Cabalá. Espero que isso ajude<br />
a elucidar algumas questões básicas<br />
sobre a Cabalá, e que de fato traga<br />
uma iniciação <strong>verdade</strong>ira para aqueles<br />
que buscam evoluir espiritualmente,<br />
cada um em seu nível e capacidade.<br />
A CABALÁ VERDADEIRA,<br />
é entendimento metafísico que é implícito<br />
e (portanto subordinado) aos<br />
mandamentos físicos e relatos da Torá<br />
sagrada, que foi dada diretamente por<br />
D-us ao povo judeu no Monte Sinai, há<br />
exatamente 3.316 anos atrás e testemunhado<br />
ao mesmo tempo por mais<br />
de 2 milhões de pessoas!<br />
compreende muito mais do que um<br />
assunto a ser aprendido, como se fosse<br />
uma simples matéria acadêmica<br />
que qualquer aluno aprende na faculdade<br />
e torna-se “conhecedor”. Ela<br />
constitui um método de práticas que<br />
ativa o ‘espírito vivo’ da Torá e revela<br />
sua força oculta dentro de cada palavra<br />
e letra. Ela compreende ativamente<br />
um <strong>verdade</strong>iro ‘questionamento e<br />
posicionamento’ existencial.<br />
explica os ‘sentido e as razões’ de se<br />
observar os mandamentos da Torá e os<br />
Rabínicos.<br />
trata, revela, e imbui a pessoa com<br />
a compreensão dos segredos das ‘leis<br />
espirituais’ que <strong>verdade</strong>iramente governam<br />
a alma humana; seja no nível<br />
individual ou coletivo, assim estabelecendo<br />
todo o seu desenvolvimento<br />
espiritual.<br />
revela o plano fundamental de D-us<br />
para Sua criação, e como o cumprimento<br />
das Suas Leis (as 613 mitsvot para<br />
os judeus e as 7 para os não-judeus)<br />
existem como ferramentas de ‘retificação<br />
do mundo’ — o objetivo básico de<br />
união de tudo que existe, espiritual e<br />
físico, e do reconhecimento da unicidade<br />
absoluta e infinita de D-us.<br />
é o segredo da sabedoria que é estudada<br />
e aplicada pelos rabinos sagrados,<br />
mesmo hoje em dia, que os permitem<br />
feitos miraculosos. Maior exemplo<br />
disso é o nosso Rebe de Lubavitch, de<br />
abençoada memória, que tanto ajudou<br />
e ajuda o mundo.<br />
é o caminho da meditação mais<br />
profunda, antiga, provada, e exclusivamente<br />
Divina que permite a união<br />
com D-us.<br />
é uma parte do estudo e prática absolutamente<br />
essenciais da Torá, oferecendo<br />
‘insights’ profundos sobre a<br />
Torá, assim como os grandes mestres<br />
da Cabalá, tais como o R’ Shimon Bar<br />
Yochai, o Ari’zal, o Ba’al Shem Tov, o<br />
R’ Yehuda Ashlag, entre outros, explicam<br />
como fundamental.<br />
é de fato uma parte integral da Torá<br />
e da Halachá (da Lei <strong>Judaica</strong>), de forma<br />
a serem completamente inseparáveis.<br />
Esotericamente, isso quer dizer<br />
que o recebimento da luz Divina precisa<br />
de um ‘recipiente’ adequado, e<br />
assim, a pessoa precisa ser observante<br />
da Lei <strong>Judaica</strong> (para criar o recipiente)<br />
para poder de fato estudar a Cabalá<br />
(que é a luz Divina). Caso contrário,<br />
a pessoa não conseguirá nada<br />
que seja santificado e causará danos<br />
espirituais e físicos.<br />
representa a sabedoria íntima de<br />
D-us, algo tão sagrado e profundo que<br />
certamente não pode jamais ser tratado<br />
com a simplicidade de uso conveniente<br />
como tantos tratam as falsas e perigosas<br />
armas da sitra achra (“o outro<br />
lado, das forças do mal”), as quais enganam<br />
o homem através dos oráculos,<br />
divinações, fala com os mortos, etc. É<br />
<strong>verdade</strong> que estas considerações são<br />
somente aplicáveis, sob o estrito ponto<br />
de vista da Lei <strong>Judaica</strong>, para os judeus;<br />
pois a Lei <strong>Judaica</strong> proíbe ‘completamente’<br />
estes caminhos esotéricos para os<br />
judeus. Mas os gentios (os não-judeus)<br />
apesar de serem permitidos de ‘adorar<br />
outros deuses’ (desde que reconheçam<br />
que o poder de D-us é o poder maior)<br />
também podem, digo, ‘devem’ ligar-se<br />
com D-us diretamente e assim evitar a<br />
‘impureza e profanação’ de Seu Nome<br />
causada pela ligação com estas forças<br />
intermediárias ‘inferiores e impuras’, e<br />
que se nutrem justamente através da<br />
‘devoção’, que por vezes mesmo os judeus<br />
mais ignorantes e as <strong>Na</strong>ções (os<br />
povos não-judeus), têm por elas.<br />
A CABALÁ VERDADEIRA NÃO,<br />
é lida, hoje em dia, com seu lado<br />
chamado Prático. A Cabalá Ma’asit (‘Prática’),<br />
como é conhecida, almeja a alteração<br />
de eventos no mundo através<br />
do uso de pronunciamentos dos Nomes<br />
Divinos de D-us, da invocação de forças<br />
angelicais, inscrições em amuletos,<br />
entre outras técnicas. No entanto,<br />
o grande mestre Cabalista Ari’zal,<br />
proibiu o uso da Cabalá Ma’asit, pois<br />
sem o Beit Hamikdash (‘O Templo Sagrado’)<br />
erguido, e, portanto, sem a disponibilidade<br />
das cinzas da Pará Adumá<br />
(‘Vaca Vermelha’*) para a purificação<br />
das pessoas, o uso destas forças<br />
através de pessoas em estado impuro<br />
torna-se extremamente perigoso para<br />
elas mesmas e para a ordem do mundo.<br />
De fato, o surgimento de cultos e<br />
movimentos absolutamente impuros de<br />
Cabalá deve-se ao uso inapropriado<br />
deste conhecimento. O resultado disso<br />
tem sido a corrupção da consciência<br />
mundial sobre a própria legitimidade<br />
da Cabalá, criando suficiente<br />
‘confusão’ sobre sua pureza de modo<br />
a ‘confundir a luz pela escuridão e a<br />
escuridão pela luz’. Isso ocorre na<br />
medida em que a identificação correta<br />
de sua origem pura e exclusivamente<br />
judaica é adulterada pelas ‘misturas<br />
absolutamente impróprias’ que vários<br />
cultos, religiões, seitas, e supostos “locais<br />
de estudo” propõem (inclusive com<br />
a ‘prática e venda’ aberta de materiais<br />
sobre a Cabalá Ma’asit); o que de fato<br />
tem enganado muitos ignorantes que<br />
a <strong>verdade</strong>ira Cabalá demanda, obrigatoriamente,<br />
uma ‘vida virtuosa contínua<br />
e a aceitação do jugo Divino’ de<br />
acordo com a Torá.<br />
é magia negra. Ela não tem qualquer<br />
conexão com o oculto e ela jamais<br />
é algo supersticioso.<br />
contém qualquer elemento cultural<br />
grego, egípcio, etc, ou seja, não-judeu<br />
em ‘qualquer espécie ou grau’. Ela<br />
nunca e jamais é cristã, ou rosacrusiana,<br />
hermética, maçônica, pagã, panteísta,<br />
xamanista, budista, bahaista,<br />
tântrica, teosófica, teurgica, ou ligada<br />
à mediunidade, magia, astrologia,<br />
mitologia, yôga, tarô, feng shui, radiestesia,<br />
runas, bruxaria, ufologia,<br />
aromaterapia, cristais, quiromancia,<br />
sufismo, búzios, candomblé, i ching,<br />
alquimia, encantamentos, chakras,<br />
umbanda, reiki, cromoterapia, kundalini,<br />
amuletos, etc, etc, etc!<br />
tem, portanto qualquer vínculo com<br />
as crenças modernas de “new age”, ou<br />
religiões orientais. Qualquer alusão a<br />
isso através de qualquer material, palestra,<br />
Internet, livros, etc, implica<br />
obrigatoriamente em charlatanismo e<br />
profanação direta do Nome de D-us.<br />
é apenas uma ‘filosofia de vida’, que<br />
possa ser separada da prática integral<br />
da Lei <strong>Judaica</strong> (da Halachá Ortodoxa),<br />
portanto e como já explicado, ela não<br />
é algo ‘acadêmico’ — algo que se usa<br />
quando se quer e depois é “colocado<br />
na gaveta” até a próxima necessidade.<br />
pode ser jamais aprendida no mundo<br />
secular (novamente, como algo ‘acadêmico’),<br />
ou de livros escritos por pessoas<br />
que não se dedicam a ela com santidade<br />
e que elas mesmas “aprenderam” a<br />
Cabalá através do mero exercício intelectual.<br />
De fato, o intelecto humano não<br />
é suficientemente forte para receber a<br />
Luz de D-us. Ou seja, Cabalá não existe<br />
(somente) na mente. Ela existe no desejo,<br />
na fala, nas ações, no comportamento,<br />
e acima de tudo, no cumprimento<br />
das mitsvot e no estudo da Torá.<br />
pode ser compreendida, a não ser<br />
que a pessoa observe a Lei <strong>Judaica</strong>,<br />
pois como explicado, isso faz a pessoa<br />
tornar-se um recipiente para a Luz<br />
e assim, própria para receber os ‘insights’<br />
da Cabalá.<br />
RESUMO<br />
Esqueça completamente que você pode<br />
aprender a Cabalá indo a uma livraria e<br />
comprando um livrinho escrito por alguém<br />
não praticante da Lei <strong>Judaica</strong>; e<br />
que assim e desta maneira, após ‘uma<br />
os duas’ vezes que você ler este livro,<br />
ou ver uma programa na televisão sobre<br />
este assunto, você já pode começar<br />
a “praticar” a Cabalá. Isso além de<br />
absurdo, espiritualmente infantil e simplista,<br />
é muito perigoso! Esta mentalidade<br />
de satisfação “instantânea” (apesar<br />
de muitas vezes compreensível diante<br />
das enormes dificuldades da vida)<br />
é produto justamente da ‘ocultação’ da<br />
Luz Divina no mundo, a qual a Cabalá<br />
busca revelar de maneira sensível e<br />
profunda. Não existem soluções simplistas<br />
e rápidas para problemas que<br />
foram causados por um grande<br />
acúmulo de falhas espirituais!<br />
O mais importante de tudo é<br />
‘crer em D-us de forma simples<br />
e pura’. <strong>Na</strong>da é mais<br />
importante do que isso.<br />
Com o tempo e através do<br />
estudo profundo e do cumprimento<br />
dos mandamentos,<br />
das boas ações, e da<br />
calma e serenidade, a pessoa<br />
poderá merecer a proximidade<br />
com a Shechinah (‘A Presença<br />
Divina’) e assim receber os<br />
segredos da Torá, trilhando o caminho<br />
<strong>verdade</strong>iro da santidade através das<br />
Suas leis. E desta maneira, a pessoa<br />
estará contribuindo também para a retificação<br />
do mundo, o que apressa a<br />
vinda do Moshiach, o Redentor que trará<br />
a paz eterna para o mundo, e que<br />
seja muito em breve em nossos dias.<br />
* Abraham<br />
Chachamovits é rabino<br />
e conhecedor da<br />
Cabalá.<br />
17
18<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
* Moises Rabinovici<br />
é jornalista e foi<br />
correspondente do<br />
jornal “O Estado de<br />
S. Paulo” em Israel<br />
e no Líbano, de<br />
1977 a 1984.<br />
Moises Rabinovici *<br />
Arafat de sempre, até o último<br />
instante: morreu? não<br />
morreu? morreu de quê?<br />
qual o seu herdeiro politico?<br />
Homem de versões e rumores,<br />
enigmático, controverso,<br />
superterrorista e Nobel da Paz, símbolo<br />
de salvação para um povo, o<br />
palestino, e de destruição para<br />
outro, o israelense.<br />
Mohammed Abdel-Raouf Arafat<br />
Al-Qudwa Al-Hussein, nome de<br />
guerra Abu Ammar, ou Pai Construtor,<br />
nasceu em 1929 no Cairo,<br />
oficialmente, mas também, ao mesmo<br />
tempo, em Gaza, como o bíblico<br />
Sansão, e na amada Al-Quds, A<br />
Santa, o nome árabe de Jerusalém,<br />
segundo as versões que ele próprio<br />
propagou.<br />
Um sobrevivente, como provou<br />
mais uma vez a sua agonia<br />
parisiense interrompida por várias<br />
mortes anunciadas. Ele morreu na<br />
queda de seu avião no deserto<br />
líbio, em 1992. Morreu também<br />
de uma trombose ce-<br />
rebral. Ele morreu em vários<br />
edifícios de Beirute<br />
arrasados pelo seu<br />
arquiinimigo Ariel Sharon,<br />
hoje primeiro-ministro<br />
de Israel, que o<br />
caçava com aviões F-16,<br />
Marinha, infantaria e artilharia,<br />
em 1982. Morreu na vingança<br />
dos agentes do Mossad ao<br />
massacre dos atletas israelenses<br />
nas Olimpíadas de Munique, em<br />
1972. Ele morreu perseguido pelo<br />
rei Hussein, da Jordânia, no Se-<br />
As muitas mortes de Arafat<br />
tembro Negro de 1970. Morreu em várias<br />
traições de facções de sua OLP e<br />
num golpe da Síria. Ele morreu, politicamente,<br />
para Israel e os Estados<br />
Unidos, em 2000, quando rejeitou a<br />
melhor oferta de paz jamais feita aos<br />
palestinos, em negociações que desembocaram<br />
numa nova intifada, a rebelião<br />
palestina na Cisjordânia e Gaza.<br />
Bom sobrevivente, exímio equilibrista<br />
em ambigüidades. Em 1974, ele<br />
entrou com um revólver no coldre na<br />
Assembléia-Geral da ONU e um ramo de<br />
oliveira na mão:<br />
“Não deixem cair o ramo de oliveira<br />
da minha mão”, pediu ao mundo, diplomata<br />
e guerrilheiro. Seu caminho<br />
para a paz foi sempre minado por atentados<br />
terroristas espetaculares, ou pelo<br />
uso de mais ou menos intifada. Seu<br />
reconhecimento do Estado de Israel<br />
nunca chegou a ser convincente. Uma<br />
vez ele tentou uma façanha impossível:<br />
apoiar a invasão do Kuwait por<br />
Sadam Hussein sem perder os US$ 100<br />
milhões anuais de patrocínio dos primos<br />
árabes ricos do Golfo Pérsico. E<br />
caiu em desgraça.<br />
Lembro-me do nosso primeiro encontro<br />
no porto destruído de Beirute.<br />
Keffieh preta e branca na cabeça, enrolada<br />
para dar a forma de diamante<br />
do mapa da Palestina, o revólver Magnum,<br />
o sorriso, a multidão delirante<br />
querendo tocá-lo, enquanto uma banda<br />
tocava Biladi, Biladi, ou Meu País,<br />
o hino da pátria que Abu Ammar, o Pai<br />
Construtor, deveria liberar e construir<br />
para seu povo. Estava zarpando para o<br />
exílio na Tunísia, expulso do Líbano<br />
pelo então ministro da Defesa israelense<br />
Ariel Sharon, num navio de nome<br />
curioso para exilados em busca de Bi-<br />
ladi: Atlântida - o continente perdido.<br />
Quando o reencontrei em Gaza,<br />
12 anos depois, ele já não tinha<br />
mais a auréola do combatente. Suas<br />
mãos tremiam. Balbuciava palavras em<br />
inglês com dificuldade. Carregava a<br />
pecha de corrupto, ditador e incompetente.<br />
Censurava a nascente imprensa<br />
palestina. Perseguia intelectuais.<br />
Explodia com os parceiros mais<br />
íntimos. Mas ainda falava da “paz dos<br />
bravos”, a que lhe valeu o aperto de<br />
mãos histórico com o então primeiro-ministro<br />
de Israel, Yitzhak Rabin,<br />
nos jardins da Casa Branca.<br />
Em Beirute e em<br />
Gaza repeti a Arafat<br />
uma mesma pergunta:<br />
Por que, perseguindo<br />
o ideal, ele<br />
deixava sempre escapar o possível?<br />
A seu pedido, uma vez<br />
me expliquei: “Porque o que<br />
os palestinos querem agora<br />
é muito parecido com<br />
o que a ONU lhes ofereceu<br />
na partilha da Palestina,<br />
em 1947.”<br />
Abu Ammar não respondeu.<br />
Um assessor<br />
justificaria depois: “A pergunta<br />
foi mal formulada”.<br />
Conta-se que Abu Ammar resolveu<br />
consultar uma cartomante sobre<br />
seu futuro. “Tenho uma notícia<br />
estranha”, ela disse. “Você vai<br />
morrer num grande feriado judaico”.<br />
Quando o Sobrevivente passou<br />
a divagar sobre os mistérios da vida<br />
e de seu surpreendente destino, ela<br />
o interrompeu: “Olha: qualquer dia<br />
em que você morrer será um grande<br />
feriado judeu...”<br />
O trio palestino que foi de Ramallah<br />
a Paris para saber se Arafat<br />
estava apenas sobrevivendo mais uma<br />
vez, ou se agora sucumbiria a sua última<br />
e definitiva morte, imaginou<br />
uma coincidência religiosa para um<br />
desfecho de importância histórica: o<br />
dia sagrado de Lailat al-Kader, que<br />
comemora a revelação do Alcorão por<br />
Alá ao profeta Maomé, coincidia com<br />
o diagnóstico de coma profundo<br />
e hemorragia cerebral. Era uma<br />
chance para o Sobrevivente passar à<br />
outra condição: a de mártir. Mas ele<br />
sobreviveu um dia mais.<br />
Agora morto, o Arafat de sempre:<br />
funeral de estadista sem Estado, em<br />
Paris e no Cairo; e enterro popular e<br />
caótico em Ramallah, a multidão<br />
emocionada prometendo redimi-lo<br />
“com sangue e com a alma”. Sobre o<br />
caixão de “Mister Palestina” espargiu-se<br />
a terra de Jerusalém, a capital<br />
de Israel que ele uma vez prometeu<br />
destruir; a capital da Palestina<br />
que ele não libertou; e o símbolo da<br />
paz que ele não conquistou.
TURISMO<br />
Cidade além dos muros (1)<br />
O antigo<br />
edifício do<br />
século 19,<br />
conhecido<br />
por Talita<br />
Kumi (menina<br />
levanta),<br />
resto do<br />
orfanato de<br />
meninas<br />
mantido<br />
pelos cristãos<br />
VJ INDICA<br />
Jerusalém (18)<br />
Antônio Carlos Coelho *<br />
Muitas pessoas perguntam se<br />
Jerusalém é uma cidade antiga<br />
cercada de muros, cheia de relíquias<br />
do passado bíblico. Há motivos<br />
para isso, pois é a parte mais<br />
explorada da Cidade, tanto pelo<br />
turismo quanto pelas revistas e<br />
pelas agências de viagens. Mas a<br />
capital de Israel é muito mais do<br />
que uma cidade antiga cercada<br />
por uma muralha. Ela possui a parte nova, construída a<br />
partir da metade do século 19.<br />
A “cidade nova” apresenta uma arquitetura interessante<br />
que merece ser conhecida pela sua beleza e pelo que ela<br />
traduz da história de Jerusalém. São marcas da história<br />
recente de Israel que registram desde o período do domínio<br />
otomano até as mais recentes obras da arquitetura<br />
contemporânea.<br />
Visitar a “cidade nova” de Jerusalém é tão interessante<br />
quanto visitar a antiga. As marcas da história recente<br />
de Israel estão nas ruas, nas casas, nos cafés, nas lojas e<br />
nas praças. Ao passar pelos arredores da Praça Sion, no<br />
centro da cidade, lembramos o Dia da Independência de<br />
Israel. Lá está o balcão onde Ben Gurion falou ao povo<br />
que festejava a criação do novo Estado de Israel. É possível<br />
imaginar o que foi aquela noite de maio quando a<br />
população dançou nas proximidades da Rua Jaffa e Ben<br />
Yehuda. Nesta mesma rua temos um café, o Atara, ponto<br />
de encontro de muitos jornalistas dos anos 40, palco de<br />
um dos mais impressionantes atentados provocados pelos<br />
LIVRO<br />
O Dever da Memória<br />
- O Levante do Gueto de<br />
Varsóvia – Ed. Age<br />
Abrão Slavutzky<br />
Entre os pontos de referência do Gueto<br />
de Varsóvia, salienta-se Mila 18. Uma<br />
casa no cruzamento da Rua Mila com a<br />
Rua Zamenhoff. Hoje, no lugar da casa,<br />
foi plantado um jardim e, no centro,<br />
uma pequena elevação relvada expõe<br />
uma grande pedra negra.<br />
Em maio de 1945, quando a guerra terminou,<br />
vários combatentes judeus, sobreviventes<br />
do gueto, foram procurar o quartel general<br />
e, como estava tudo em escombros, acharam uma pedra e gravaram em<br />
letras simples em polonês, iídiche e hebraico:<br />
’Aqui, no dia 8 de maio de 1943, Mordechai Anielewicz, comandante do gueto<br />
de Varsóvia, tombou junto com o estado-maior da Organização dos Combatentes<br />
Judeus e dezenas de lutadores na campanha contra o inimigo nazista.’<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
árabes nos dias que antecederam a criação do novo Estado.<br />
A Ben Yehuda é a rua mais visitada pelos turistas. É um local alegre com<br />
muitos cafés, sorveterias e lojas de artigos de presentes e souvenires. <strong>Na</strong>s<br />
noites, principalmente após o Shabat, músicos de rua alegram<br />
o passeio dos jovens e turistas que estão na cidade. Talvez<br />
essa rua seja uma síntese da vida de Jerusalém e da Israel<br />
moderna naquilo que pode expressar o espírito do povo. Ali<br />
passam estrangeiros, judeus de diferentes países e condições<br />
sociais, religiosos e não religiosos, jovens e velhos que vem<br />
para resolver negócios, conversar ou até mesmo para manifestar<br />
sobre questões sociais ou políticas.<br />
Próximo está a Rua Rav Kook, onde está localizado o importante<br />
jornal editado em inglês, o Jerusalem Post. Anteriormente,<br />
quando os ingleses dominavam Israel, este jornal tinha<br />
o nome de Palestine Post e era o principal jornal nos<br />
dias da independência. Hoje, a editora mantém uma boa<br />
livraria com importantes obras sobre história e cultura judaica<br />
editadas em inglês.<br />
Quando a Rua Ben Yehuda alcança a King George, movimentada<br />
avenida que liga importantes bairros da cidade,<br />
temos a fachada de um antigo edifício do século 19, conhecido<br />
por Talita Kumi (menina levanta), resto de um antigo<br />
orfanato de meninas mantido pelos cristãos na cidade.<br />
Jerusalém mistura harmoniosamente o velho e o novo.<br />
Entre as suas ruas há aquelas que não nos permite abrir os<br />
braços e aquelas largas com canteiros centrais e muitas<br />
pistas. Tão importante é conhecer a Velha Cidade de Jerusalém, cercada pelo<br />
seu muro, quanto conhecer a “Cidade Nova”. Nela temos as marcas do passado<br />
recente que nos ajuda a compor a história moderna do povo judeu no<br />
esforço pela formação do novo Estado e também, é na Cidade Nova que se<br />
pode sentir o espírito da Israel do século 21.<br />
* Antonio Carlos Coelho é professor, colaborador do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> e<br />
diretor do Instituto Ciência e Fé.<br />
19<br />
A Rua Ben<br />
Yehuda num<br />
dia de inverno.<br />
Do lado<br />
esquerdo, a<br />
loja do<br />
McDonalds<br />
O antigo Café Atara destruído num<br />
atentado terrorista<br />
O atual Café Atara, em Jerusalém
2020 20<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
O escandaloso silêncio<br />
Gustavo D. Perednik *<br />
m seu recente livro “España<br />
Descarrilada”, Gustavo Perednik<br />
se debruça sobre a obsessão<br />
européia em criminalizar<br />
sempre um só país. Neste artigo<br />
exemplifica isso com o caso mais extremo<br />
de uma curiosa moralidade: a dos<br />
que se mantiveram apáticos ante o<br />
martírio do Líbano até que...<br />
A síndrome da cumplicidade apática<br />
da União Européia, frente às agressões<br />
contra Israel, põem em relevo uma<br />
contrapartida: negar que o país judeu<br />
possa ser uma vez a vítima, fomenta<br />
nos meios europeus a imperiosa necessidade<br />
de converter Israel, a todo custo,<br />
no onipresente verdugo.<br />
A euromiopia chegou a seu êxtase<br />
no caso do Líbano. Ler a história<br />
desse país nos últimos 30 anos, é<br />
quase um exercício de novelística<br />
kafkiana, sobretudo se prestarmos<br />
atenção à reação mundial ante cada<br />
estágio dessa cronologia.<br />
Quando em 1970 a Jordânia matou<br />
milhares de palestinos e expulsou de<br />
seu território Arafat e seus sequazes,<br />
ninguém os defendeu, pois a pretendida<br />
solidariedade européia aos palestinos<br />
se circunscreve exclusivamente aos<br />
casos em que se pode atacar Israel.<br />
Os grupos armados palestinos se<br />
refugiaram no território libanês de<br />
onde, para continuar com seus ataques<br />
contra Israel, implantaram lentamente<br />
um mini-estado próprio que<br />
gerou tensões étnicas.<br />
A população cristã do Líbano se ressentiu<br />
da presença palestina, que colocou<br />
em perigo a frágil união entre as<br />
diversas comunidades desse país, e<br />
ameaçava obrigá-lo a deixar de ser a<br />
única democracia do mundo árabe, para<br />
transformar-se numa ditadura árabe a<br />
mais, totalitária e intolerante.<br />
A metamorfose demandou uma década.<br />
Em seu livro “A guerra terrorista<br />
da Síria contra o Líbano e o processo<br />
de paz” (2003), Marius Deeb relata minuciosamente<br />
como, entre 1974 e 2000,<br />
o regime dos Assad, na Síria, engoliu<br />
seu pequeno vizinho (cabe consignar que<br />
o domínio dessa família sobre a Síria<br />
desde 1969 é por si só uma ocupação,<br />
já que pertencem a uma minoria que<br />
constituem uns dez por cento da população<br />
do país, os alawitas1 ).<br />
CRONOLOGIA DA OCUPAÇÃO<br />
A primeira de uma longa série de<br />
matanças contra cristãos, produziu-se<br />
no monastério de Deir Ayach, em 3 de<br />
setembro de 1975, onde os palestinos<br />
assassinaram três monges: Boutros Sassine,<br />
Antoine Tamini e Hanna Maksoud.<br />
O mundo não protestou. Os habitantes<br />
cristãos que viviam nas proximidades<br />
fugiram, e os agressores destruíram<br />
a aldeia. Os palestinos liderados<br />
por George Habash e <strong>Na</strong>yef Hawatmeh<br />
atacaram assim mesmo a localidade de<br />
Beit Mellat e assassinaram os aldeões<br />
que caíram em suas mãos.<br />
O ano seguinte foi crítico. Em 15<br />
de janeiro de 1976, os palestinos assolaram<br />
Kab Elias, uma aldeia mista<br />
(cristãos e muçulmanos) no Vale de<br />
Bekaa. Dez dias depois, 16 cristãos<br />
foram assassinados e 23 feridos. Os<br />
cristãos iniciaram seu êxodo para<br />
Zahlê, Beirute Oriental e Jounieh. Em<br />
pelo menos duas cidades, Damour e<br />
Jieh, os bandos palestinos cortaram<br />
os dedos de meninos cristãos para assegurar-se<br />
de que não poderiam disparar<br />
armas. As igrejas de Damour<br />
foram profanadas e 300 habitantes<br />
massacrados. Não houve protestos.<br />
Em 19 de janeiro, a aldeia de Hoche<br />
Barada foi inteiramente demolida.<br />
Outro grupo fundado por palestinos,<br />
o Exército do Líbano Árabe, destruiu<br />
a cidade de Aintours. Três líderes<br />
do grupo receberam a missão explícita<br />
de levar a cabo massacres que<br />
submeteram os cristãos libaneses ao<br />
estado em formação de Arafat. Samir<br />
Abou Zahr, liderou o massacre em Emir<br />
Bechir (onde as vítimas foram assassinadas<br />
enquanto dormiam), Mustapha<br />
Sleiman fez arrasar a cidade de Checa,<br />
e Moiin Hatoum atacou os quartéis<br />
de Khyam matando mais de trinta<br />
soldados libaneses.<br />
Os cristãos solicitavam auxílio de um<br />
mundo que permaneceu silencioso. E o<br />
vizinho do norte, que sempre tinha descrito<br />
o Líbano como sua “natural zona<br />
de influência” se regozijava com esse<br />
silêncio. As tensões étnicas cresceram<br />
e os drusos, solidários com a OLP, começaram<br />
a hostilizar os cristãos. Estes<br />
pediram um cessar-fogo, mas o líder<br />
druso Kemal Jumblatt não aceitou. Com<br />
a desculpa dessa rejeição, em 31 de<br />
maio a Síria invadiu o Líbano, esgrimindo<br />
a curiosa explicação de que sua presença<br />
protegeria a minoria cristã da<br />
crescente hostilidade islâmica.<br />
Uma vez que o exército de dezenas<br />
de milhares de soldados sírios se fez<br />
forte no país, lançou-se uma operação<br />
inversa à anunciada. Nos bombardeios<br />
que se seguiram, mais de 500 civis cristãos<br />
foram assassinados.<br />
No ano seguinte, os sírios mataram<br />
Kemal Jumblatt (16/3/77) e enviaram<br />
grupos guerrilheiros para submeter aldeias<br />
cristãs, nas quais mais de mil<br />
habitantes foram assassinados. Só em<br />
Deir Dourit, devastada por completo,<br />
sobre o Líbano<br />
morreram 273. Nem uma palavra ou<br />
queixa no mundo inteiro.<br />
O ano de 1978 foi o da apropriação<br />
do país pela Síria, e o outrora<br />
Líbano independente morreu assassinado.<br />
Sami Khatib, instalado pelo<br />
governo sírio como agente de segurança<br />
foi diretamente responsável<br />
pela detenção, tortura e desaparecimento<br />
de milhares de libaneses opostos<br />
à invasão. Nem uma condenação,<br />
lamento ou queixa de ninguém.<br />
Em 27 de junho um esquadrão sírio<br />
conduzido por Ali Dib arrastou 20 jovens<br />
de suas camas nas aldeias de Kaa<br />
e Ras-Baalbeck, e os fuzilou sem acusação<br />
alguma. O objetivo era o controle<br />
total de uma comunidade que persistia<br />
no hábito da liberdade anti-síria.<br />
Nem a imprensa, nem os organismos<br />
de direitos humanos, nem nenhum país<br />
condenaram seriamente o episódio.<br />
Em 1º de julho, a milícia particular<br />
de Rifaat Assad, irmão do presidente<br />
sírio, sitiou as áreas que permaneceram<br />
livres nos subúrbios de Beirute e<br />
as fez bombardear durante cinco dias e<br />
cinco noites, com canhões e morteiros,<br />
com um saldo de mais de 60 civis mortos<br />
e 300 feridos. <strong>Na</strong>da.<br />
Em agosto de 1979, os sírios e palestinos<br />
destruíram as aldeias Niha, Deir<br />
Bella e Douma, no Norte. Nem uma<br />
palavra de ninguém. Os sírios e palestinos<br />
já se haviam imposto ao país. Entre<br />
1980 e 1981 as brutalidades sírio-palestinas<br />
se estenderam para acabar com<br />
todo foco potencial de resistência. Em<br />
24 de fevereiro, o diretor da revista<br />
Hawadess, Selim Laouzi, foi seqüestrado<br />
pelos sírios a caminho do aeroporto,<br />
torturado e assassinado, e seu corpo<br />
mutilado foi descoberto no bosque<br />
de Aramoun. <strong>Na</strong>da. Em 23 de julho, Riad<br />
Taha, presidente do Sindicato da Imprensa,<br />
foi assassinado em Raouchê.<br />
Em março de 1981, a cidade cristã<br />
de Zahlê foi bombardeada e a monja<br />
Marie Sophie Zoghbi assassinada enquanto<br />
tentava socorrer as vítimas. Dois<br />
mil cristãos morreram nos bombardeios<br />
que se seguiram em Beirut Leste, sob<br />
o mando do palestino Ahmad Ismail.<br />
Não houve reação.<br />
Alguém poderia pensar que a falta<br />
de resistência do Ocidente se deve ao<br />
fato de que a agressão síria não os afetava.<br />
Erro crasso. A desídia continuou<br />
mesmo quando o ataque os afetou diretamente.<br />
Em 4 de setembro de 1981, o embaixador<br />
francês no Líbano, Louis Delamarre,<br />
foi assassinado pelos sírios. A<br />
França apenas fez convocar a Paris para<br />
consultas seu embaixador na Síria. Nisto<br />
os franceses foram mais rigorosos<br />
que os espanhóis. Quando em março<br />
de 1989 as tropas sírias mataram o<br />
embaixador espanhol, Pedro Manuel de<br />
Aristegui, junto com seu sogro e cunhada,<br />
a Espanha nem sequer chamou<br />
alguém para consultas. Mas sigamos<br />
com o relato.<br />
Em fevereiro de 1982 os Irmãos<br />
Muçulmanos iniciaram uma rebelião islâmica<br />
contra o regime de Damasco,<br />
na cidade síria de Hama. Sem vacilar,<br />
o exército de Assad isolou a cidade,<br />
começou seu bombardeio generalizado<br />
a toda a população, muçulmanos e<br />
cristãos sem discriminação. Foram<br />
massacradas entre 20 e 30 mil pessoas.<br />
<strong>Na</strong>da de nada, nada. Não houve<br />
condenações. Ninguém se comovia,<br />
ninguém protestava. Em 24 de maio,<br />
os sírios atacaram a embaixada francesa<br />
no Líbano e assassinaram sua secretária<br />
de assuntos comerciais, Anna<br />
Comidis e mais dez pessoas. Acredite-se<br />
ou não, nada.<br />
Atenção: repentinamente, um evento<br />
transformou a apatia do mundo ante<br />
a destruição do Líbano num festival de<br />
histeria e ira generalizadas, condenações<br />
diárias, <strong>Na</strong>ções Unidas iradas, jornais<br />
repletos de aversão.<br />
A CULPA É DO JUDEU<br />
Em 6 de junho de 1982, Israel invadiu<br />
o Líbano a partir do sul. Os aldeões<br />
receberam os tanques hebreus como libertadores.<br />
Os cinegrafistas não podiam<br />
crer no que filmavam quando cristãos<br />
libaneses de todas as idades saíam de<br />
suas casas para oferecer flores e alimentos<br />
aos soldados israelenses.<br />
Não sejamos ingênuos: não havia<br />
amor mútuo, mas interesses em comum.<br />
A população cristã acreditou que se<br />
poria um ponto final à tirania terrorista<br />
sírio-palestina no Líbano. E Israel havia<br />
empreendido o que se chamou Operação<br />
Paz para Galiléia em resposta a<br />
morteiros e infiltrações dos terroristas<br />
palestinos, que já tinham instalado no<br />
Líbano um poderoso exército. Em um<br />
desses atentados (março de 1978) os<br />
milicianos que haviam penetrado a partir<br />
do Líbano, seqüestraram dentro de<br />
Israel um ônibus civil, e mantiveram<br />
como reféns 34 passageiros, aos quais<br />
finalmente assassinaram.<br />
Israel invadiu o Líbano para terminar<br />
com a agressão que desde ali se<br />
exercia, objetivo que eventualmente<br />
conseguiu por meio da expulsão de Arafat<br />
e sua OLP (que encontraram refúgio<br />
na distante Tunísia) e por meio da instituição<br />
de uma pequena faixa de segurança<br />
no sul cristão, na qual se estabeleceram<br />
relações cordiais com seus<br />
habitantes. A todo momento os israelenses<br />
insistiam que não desejavam nem<br />
um palmo do solo libanês, e que sua<br />
presença temporária ali tinha como único<br />
objetivo impedir ataques terroristas.<br />
Mas nosso tema aqui não é a guerra<br />
no Líbano, mas a doentia reação dos<br />
meios ante o acontecido, que não deixa<br />
margem a dúvidas de como Israel<br />
desperta uma cólera que não é reservada<br />
a nenhum outro país.
A irritação generalizada focalizouse<br />
num tema em particular, e para assinalá-lo<br />
devo continuar um pouco mais<br />
com a cronologia dos fatos.<br />
Em agosto de 1982, graças ao clima<br />
de menor dependência da Síria que<br />
se sentia desde a invasão israelense, o<br />
Parlamento libanês elegeu presidente<br />
do país o chefe da Falange cristã, Bashir<br />
Gemayel. Para os sírios esta ousadia era<br />
um excesso, sobretudo porque se sabia<br />
que Gemayel cooperava com Israel na<br />
recuperação da independência do país.<br />
Um par de semanas depois, em 14<br />
de setembro, no quartel da Falange<br />
em Achrafieh, Gemayel foi assassinado<br />
por uma carga de explosivos colocada<br />
por Habib Chartouni, que pertencia<br />
desde 1977 ao partido pró-sírio<br />
capitaneado por Assad Hardane.<br />
Os explosivos haviam sido providenciados<br />
pelo chefe da inteligência síria,<br />
Ali Douba. Além do presidente, outras<br />
26 pessoas morreram no ataque.<br />
Os sírios consideraram Chartouni um<br />
herói. Os cristãos, não precisamente.<br />
O chefe da segurança da Falange,<br />
Elie Hobeika, decidiu vingar a morte do<br />
presidente, nos acampamentos palestinos<br />
de Sabra e Chatila. Em 16 de setembro<br />
de 1982, cem falangistas penetraram<br />
nos campos e mataram várias<br />
centenas de civis (as estimativas variam<br />
de 300 a 500). Os israelenses, em cuja<br />
faixa de controle se localizavam os<br />
acampamentos, entraram nos mesmos<br />
para deter o massacre.<br />
E aí ocorreu o insólito no imaginário<br />
europeu. A opinião pública da Europa,<br />
que durante sete anos se manteve cruelmente<br />
apática ante a ruptura do Líbano<br />
dia-a-dia, desta vez saltou como um felino<br />
e começou uma diatribe constante<br />
contra Israel! De todos os nomes de aldeias<br />
destruídas que incluí nesta crônica,<br />
não me resta dúvida que os únicos<br />
que são conhecidos do leitor são os de<br />
Sabra e Chatila. E mesmo que Hobeika<br />
nunca tenha se arrependido da matança,<br />
mesmo que os falangistas a viram<br />
sempre como um ato de aceitável vingança,<br />
nem estes, nem aqueles jamais<br />
foram reprovados pelo mundo, mas Israel,<br />
só Israel, por não ter evitado.<br />
Dez anos de guerra no Líbano e de<br />
ocupação síria genocida, se reduziram<br />
na consciência da Europa a Sabra e<br />
Chatila. A esses dois nomes se dedicaram<br />
filmes e livros, manifestações e<br />
condenações. Só a esse evento da<br />
guerra no Líbano, dedicou Alberto Cortez<br />
uma canção de seu repertório, e<br />
Jean Genet em 1992 um tétrico documentário,<br />
“Quatro horas em Chatila”.<br />
A partir desse episódio, pelo fato dos<br />
judeus não terem impedido que árabes<br />
cristãos matassem árabes muçulmanos,<br />
Israel foi sistematicamente<br />
taxado como um país nazista.<br />
Sabra e Chatila são o libelo de sangue<br />
do século 20, um caso mais de<br />
histeria coletiva destinado exclusivamente<br />
a apresentar o judeu como carrasco.<br />
Num artigo do El Periódico, jornal<br />
espanhol, de 23 de março de 2004,<br />
Angel Sanchez volta a acusar Sharon<br />
de Sabra e Chatila. Vinte e dois anos<br />
depois, alguns jornalistas não encontram mais<br />
violência neste mundo, do que a desatada naqueles<br />
acampamentos.<br />
Pode aplicar-se a Israel uma reflexão de<br />
Teodoro Lessing: Quando não temos ‘a consciência<br />
tranqüila’ com respeito a determinado país,<br />
ressaltamos o que há de mal ou indigno nas<br />
vítimas de nossa hostilidade, para justificá-las<br />
ante nosso foro interno. Pois não odiamos a tal<br />
país porque seja mal, mas só porque o odiamos,<br />
taxamo-lo de mal.<br />
A pesar de tudo, Israel e o Líbano firmaram<br />
um tratado de paz em 17 de maio de 1983, mas<br />
pouco depois a Síria exigiu sua unilateral anulação.<br />
Nenhum meio de difusão voltou a mencionar<br />
jamais tal tratado que não obteve a aprovação<br />
internacional.<br />
Se o leitor ainda não está convencido do<br />
despropósito, permita-me agregar-lhe um<br />
dado quase extravagante. As matanças entre<br />
libaneses não se detiveram. Em setembro<br />
de 1983 mais de cem aldeias na região<br />
de Chouf foram “limpas tecnicamente” de<br />
cristãos por tropas drusas.<br />
Em maio de 1985, milicianos muçulmanos<br />
atacaram novamente o campo de refugiados<br />
de... Chatila! De acordo com dados oficiais<br />
das <strong>Na</strong>ções Unidas, assassinaram 635 pessoas<br />
e deixaram mais de 2.500 feridos. Ninguém<br />
se queixou. Alberto Cortez não cantou e as<br />
<strong>Na</strong>ções Unidas não se reuniram para condenar.<br />
Tampouco quando em outubro de 1990 as<br />
tropas sírias mataram em oito horas mais 700<br />
cristãos. Em resposta, o mundo fez vista grossa<br />
mais uma vez.<br />
E quando a informação se filtra num artigo<br />
como este (a imprensa européia não menciona<br />
jamais), os que se inteiram, argumentam<br />
“não ter sabido de nada”. Mas quando o<br />
sabem, tampouco mudam sua atitude, enraizada<br />
em séculos de preconceitos que os treinou<br />
para condenar só o judeu.<br />
A cacofonia generalizada sobre o Líbano,<br />
afoga as vozes solitárias que se esforçam por<br />
murmurar a <strong>verdade</strong>. Em 2 de janeiro de 2003<br />
Carlos Semprón Maura perguntava-se em suas<br />
Crônicas Cosmopolitas “Como qualificar a propaganda<br />
anti-semita que continua mantendo que<br />
Sharon é o responsável pela matança de Sabra<br />
e Chatila, quando se sabe que isso é falso, e<br />
continuar falando do massacre de Jenin, mesmo<br />
quando se sabe que também é falso?”<br />
Se não crê, veja isso. A ocupação de todo<br />
o Líbano por parte da Síria continua até hoje.<br />
Nem sequer Javier <strong>Na</strong>rt, que se opôs com<br />
unhas e dentes à ocupação de uma décima<br />
parte do Líbano por Israel, não tem nenhuma<br />
sílaba de censura contra a ocupação de cem<br />
por cento do Líbano pelo regime fascista sírio.<br />
É que em sua extensa soberba, os judeófobos<br />
acreditam-se motivados por questões<br />
morais. E criminalizar Israel é o clímax de sua<br />
curiosa moralidade.<br />
Nota: (1) Os alawitas seguem o alawismo,<br />
uma corrente dentro do Islã que crê numa trindade<br />
e mantêm em segredo uma parte de sua<br />
doutrina.<br />
* Gustavo D. Perednik é graduado em<br />
Filosofia nas Universidades de Buenos<br />
Aires e Jerusalém, é escritor dos livros “La<br />
judeofobia” e “España descarrilada”,<br />
recém-lançado.<br />
Fonte http://www.porisrael.org/secciones/<br />
articulos/silenciosobrelibano.htm<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
OLHAR<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ HIGH-TECH<br />
○<br />
Professor recebe prêmio<br />
de biotecnologia<br />
O professor Ehud Shapiro, do Instituto<br />
Weizmann de Ciência, recebeu o ‘World<br />
Technology Award for Biotechnology’ de<br />
2004. O prêmio mundial é um dos 30<br />
conferidos todos os anos a pessoas ou<br />
organizações cujas inovações poderão ter<br />
um grande impacto na tecnologia e na<br />
sociedade futuras. Shapiro foi agraciado<br />
por ter criado dispositivos computacionais<br />
biomoleculares, tão pequenos,<br />
que mais de um trilhão cabem numa gota<br />
d’água, e são inteiramente feitos de DNA<br />
e outras moléculas biológicas. Shapiro<br />
e sua equipe prevêem que, no futuro,<br />
poderão ser injetados no corpo humano,<br />
para detectar e prevenir doenças.<br />
(Israel <strong>Na</strong>tional News).<br />
Prêmio por limpeza de<br />
rio que beneficia palestinos<br />
O rio Alexander nasce nas colinas próximas<br />
a <strong>Na</strong>blus — cidade administrada<br />
pela Autoridade Palestina — e corre<br />
através da densamente povoada região<br />
de Sharon, em Israel, que tem intensa<br />
atividade agrícola e industrial, e desemboca<br />
no Mediterrâneo. Um projeto israelense<br />
de despoluição desse rio, patrocinado<br />
pelo governo alemão, que beneficia<br />
palestinos, recebeu o prêmio internacional<br />
Green. (Israel21c).<br />
Israel busca cura e prevenção<br />
de doenças do cérebro<br />
Qualquer disfunção no cérebro, o órgão<br />
mais complexo do corpo humano, pode<br />
ter graves conseqüências. Foi inaugurado<br />
em Israel o Joseph Sagol Neuroscience<br />
Center, do Centro Médico Sheba<br />
de Tel Aviv, que pretende reunir cientistas<br />
e médicos para efetuar pesquisas<br />
visando prevenir e até mesmo curar desordens<br />
cerebrais, como a depressão e<br />
o Mal de Alzheimer. Ao contrário de institutos<br />
de pesquisa de muitas universidades<br />
o trabalho não será baseado em<br />
animais, pois o cérebro destes é muito<br />
diferente, e sim em humanos, com o<br />
consentimento deles e de seus familiares,<br />
explica a professora Anat Biegon,<br />
que trabalha tanto com pesquisa quanto<br />
com a indústria do setor desde o final<br />
dos anos 70. (Israel21c).<br />
El Al terá sistema<br />
antimísseis em seus Boeing<br />
A companhia aérea El Al está instalando<br />
em dezembro, num de seus aviões<br />
de passageiros, de forma experimental,<br />
um sistema israelense capaz de desviar<br />
21<br />
mísseis em caso de ser atacado em vôo.<br />
O sistema, denominado ‘Guardião de<br />
vôo’, põe em ação um foguete que atrai<br />
e desvia o míssil inimigo. O dispositivo<br />
é uma espécie de chamariz ou ‘armadilha’<br />
que atrai pelo calor e desvia os<br />
mísseis de seu objetivo. O sistema foi<br />
usado há anos pelos aviões da Força<br />
Aérea israelense em vôos sob perigo de<br />
ataque por esse tipo de foguete ou por<br />
mísseis de ar-ar. Em 28 de novembro de<br />
2002 um avião da empresa aérea israelense<br />
Arkia, com cerca de 200 passageiros<br />
a bordo que ia de Mombaça, no<br />
Quênia, para Tel Aviv foi atacado por<br />
dois mísseis próximo à chegada. Os mísseis<br />
não acertaram o alvo. (Haaretz).<br />
Efeito protetor contra o câncer<br />
Pesquisas realizadas em Israel e nos EUA<br />
indicam que as estatinas teriam um efeito<br />
protetor contra o câncer coloretal,<br />
reduzindo o risco em cerca de 50%. As<br />
mais utilizadas pela equipe do Centro<br />
<strong>Na</strong>cional para o Controle de Câncer nos<br />
EUA, durante o estudo, foram a sinvastatina<br />
e a pravastatina. Novas pesquisas<br />
deverão ser realizadas, uma vez que<br />
diversos fatores influem no desenvolvimento<br />
deste tipo de tumor. (Iton Gadol)<br />
Negócios, pesquisa e<br />
desenvolvimento na Índia<br />
O vice primeiro-ministro israelense Ehud<br />
Olmert esteve na Índia onde se encontrou<br />
com o Primeiro-ministro e com o<br />
Ministro da Defesa. Durante a visita,<br />
Olmert, que esteve acompanhado por<br />
uma delegação de empresários de Israel,<br />
assinou um acordo de Pesquisa e<br />
Desenvolvimento com o governo indiano<br />
e se reuniu com empresários das áreas<br />
de comunicação, agricultura e indústria<br />
locais. (Jerusalem Post).<br />
Árabes, drusos e judeus<br />
no combate à poluição<br />
Fundado há 15 anos o grupo Cidadãos<br />
para o Meio Ambiente (CFE) da Galiléia<br />
está mais ativo do que nunca. Com a<br />
retomada da produção das indústrias<br />
petroquímicas e do aço em torno de<br />
Acre, que haviam parado de poluir o meio<br />
ambiente nos últimos anos, agora a situação<br />
está ficando novamente critica.<br />
O solo, a água e o ar no vale de Acre<br />
estão cada vez mais poluídos e os cidadãos<br />
estão solicitando a ajuda de ativistas<br />
do meio ambiente. Um destes<br />
grupos é o Cidadãos para o Meio Ambiente,<br />
entidade que luta contra empresas<br />
poluidoras, particulares ou estatais.<br />
Hoje possui 500 membros, entre árabes,<br />
drusos e judeus das cidades e aldeias<br />
da região, todos voluntários. (Haaretz).
22<br />
A melhor edição<br />
Senhores editores:<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
Recebi o último número de <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />
(30) e para mim este foi o foi o melhor<br />
que recebi até agora. Leio muito e<br />
posso afirmar que o VJ não fica nada a<br />
dever aos jornais e revistas que tratam<br />
de temas como judaísmo e Oriente Médio.<br />
Vocês estão de parabéns pelo excepcional<br />
trabalho em prol de um mundo melhor,<br />
com mais compreensão e tolerância. Esta<br />
última edição foi para mim algo especial.<br />
Não sou judia, mas sempre me interessei<br />
pela cultura e pelas tradições do povo de<br />
Israel. A tradução de palavras em hebraico<br />
é muito útil e o artigo sobre a Festa das<br />
Luzes de Chanucá foi bem esclarecedora.<br />
Outros artigos interessantíssimos foram<br />
sobre o iídiche, sobre os manuscritos<br />
do Mar Morto e o do professor Sami Goldstein<br />
sobre o pião de Chanucá.<br />
Therezinha Nunes de Oliveira<br />
São Paulo – SP<br />
A melhor edição II<br />
Caros amigos:<br />
O LEITOR<br />
Receber a <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> nos dá<br />
sempre uma grande alegria. Neste número<br />
de novembro vocês se superaram,<br />
a começar pela linda capa “Festa<br />
da Luzes”, do nosso artista plástico<br />
Brodeschi. Parabenizamos toda a equipe<br />
pelo conteúdo e pela escolha dos<br />
artigos, citando apenas alguns — Pilar<br />
Rahola, com sua simpatia pelo povo judeu<br />
e a especial maneira de nos passar<br />
sua vasta sabedoria (não seria<br />
possível trazê-la para uma palestra na<br />
Faculdades Curitiba, para responder ou<br />
esclarecer a impossibilidade de se “Legitimar<br />
o Terrorismo”?).<br />
Outros tantos artigos sobre Arafat,<br />
o homem de duas caras, a orientação<br />
sobre como proceder em Chanucá, e<br />
os sempre excelentes artigos do amigo<br />
Sami, nosso Líder Espiritual, e os ensinamentos<br />
do professor Sergio Feldman,<br />
a história de Roberto, filho de nossos<br />
amigos Frida e Ari, as receitas da querida<br />
e inesquecível Isabel.<br />
<strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> está despertando o<br />
interesse de pessoas de fora da comunidade,<br />
tornando-se um defensor ao<br />
divulgar as tradições e a ética da Cultura<br />
<strong>Judaica</strong>.<br />
Agradecemos também a atenção e<br />
a consideração dispensada na divulgação<br />
dos eventos da Wizo Paraná. Parabéns<br />
e Shalom.<br />
Alegre Bromfman<br />
Curitiba - PR<br />
Valores judaicos e projeto<br />
Prezados editores e amigos de <strong>Visão</strong><br />
<strong>Judaica</strong>:<br />
A respeito da matéria publicada na<br />
edição Nº.30 (Novembro de 2004),<br />
pág.10, intitulada ”5765 e mais! Impressionante!<br />
Incrível! Inacreditável!”, gostaria<br />
de comentar o seguinte:<br />
1. Parabenizá-los pela importantíssima<br />
colocação e lembrança dos Valores<br />
Judaicos, os quais, sem nenhum malefício<br />
à Humanidade - muito pelo contrário,<br />
exercem a geração da energia que move<br />
e mantém o Povo Judaico no seu caminho<br />
de existência e crescimento;<br />
2. Israel está colocando o seu<br />
“Reality-Show” no sentido de mostrar<br />
o que realmente representa, tanto<br />
para o seu povo como para o Oriente<br />
Médio e para o mundo;<br />
3. Por que não utilizar os dizeres<br />
deste tão oportuno artigo para divulgar<br />
o que representou e representa a existência<br />
do Povo Judeu, seus valores,<br />
sua coragem e determinação? Divulgar<br />
de forma clara, objetiva, oportuna, através<br />
dos modernos meios e de mídia que<br />
dispomos, em todos os níveis; seria<br />
uma forma de mostrarmos e informarmos<br />
sobre quem somos, desfazer entendimentos<br />
mal e intencionalmente forjados,<br />
calcarmos já na educação de<br />
base informação correta e precisa sobre<br />
os valores judaicos. Shalom.<br />
Boris Sitnik<br />
Curitiba - PR<br />
Site de <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> agrada<br />
Senhores diretores:<br />
Gostei do site <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. Sou<br />
pastor batista e jornalista. Dirijo um jornal<br />
em nosso meio que circula em 19<br />
estados, há 20 anos. Sempre fui defensor<br />
de boas relações entre o Brasil<br />
e Israel. Quero parabenizá-los pelo <strong>Visão</strong><br />
<strong>Judaica</strong> e me colocar à disposição<br />
para divulgar matérias que possam<br />
melhorar as relações entre o nosso país<br />
e o estado de Israel. Shalom<br />
Carlos Alberto Moraes<br />
Por e-mail<br />
Jornal útil e necessário<br />
Amigos do VJ:<br />
ESCREVE<br />
Mais uma vez agradeço a gentileza,<br />
aproveitando para lembrar que seu<br />
jornal é um veículo extremamente útil e<br />
necessário para se reverter a idéia corrupta<br />
e mundialmente disseminada de<br />
que Israel é um estado cruel, assassino<br />
e racista, entre outras bobagens<br />
aceitas pelos ignorantes.<br />
Tagore Wotton de A. Madruga<br />
Por e-mail<br />
Para escrever ao jornal <strong>Visão</strong><br />
<strong>Judaica</strong> basta passar um fax<br />
pelo telefone 0**41 3018-8018<br />
ou um e-mail para<br />
visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
Maria Teresa Campos e o cão judeu<br />
Pilar Rahola *<br />
Tiro um tempo, que é um ladrão de vidas, algumas horas para suar. Sou dessas mulheres,<br />
não sei se modernas ou se muito antiquadas — dizem que a imperatriz Sissi era dessas —,<br />
que se deleitam retesando os músculos na esteira rolante. Com um tanto a meu favor: façoo<br />
desde a adolescência, distanciada das modas que costumam agora correlacionar a pasta de<br />
executiva ao corpo de ginasta. Sempre precisei de um espaço íntimo (a esteira está em casa),<br />
uns quantos boleros sugestivos e uma horinha do meu tempo para aliviar a pressão, os<br />
probleminhas, o trabalho, as confusões, até os amores desfeitos… Mas, desde há um mês, e<br />
sucumbida à fatal influência do homem de minha vida, que navega pelo mundo com um<br />
televisor incorporado, nosso ginásio dispõe de uma magnífica tela onde correm, enquanto<br />
corro, personagens múltiplas, fofocas fascinantes e o melhor do teatro nacional.<br />
E assim, entre bolero e bolero, com freqüência chego ao ponto máximo do suor enquanto<br />
Josep Cuní, no TV3, me explica como obter renda, o que vale um casamento, ou quanto de<br />
elegância mantém esse outro amor meu, amor de meus amores, que é Jan Laporta. Ontem<br />
deu a deixa ao Cuní com Teresa Campos, talvez porque a lembrança de minha renda me gelava<br />
o suor e mandava para o espaço todas as minhas intenções de tranqüilidade zen. O programa<br />
não ia mal. Essa grande mulher, que é Maria Teresa, se emocionava na tela por seu aniversário,<br />
Jorge Javier nos divertia com sua inteligência aguda, o tema era suficientemente idiota,<br />
como para não me preocupar sobre nada, e os protagonistas da notícia (uma pobre mãe que<br />
chorava, um garoto expulso da casa de sua família e uma noiva má que fazia cara de má),<br />
suficientemente extraterrestres para parecerem divertidos.<br />
Eu suava feliz enquanto completava meu quilômetro sete, quando, de repente, Rociíto,<br />
falando da briga mãe-filho, deixou escapar algo assim como que o rapaz merecia um qualificativo<br />
estilo “cão judeu”. Antes havia dito que “isto não se faz nem aos cães” e o pessoal da<br />
casa, especialmente meu colega antitaurino Jorge Javier, havia saído em defesa dos cães.<br />
Mas, quando ao cão juntou-se o “judeu”, como a coisa já não era com cães, ninguém se<br />
queixou, ninguém balbuciou, ninguém se manifestou, e a conversa continuou com a alegria<br />
descontraída das manhãs de Campos. Fiquei perplexa sobre a esteira e, chegado aos nove<br />
quilômetros, que é meu limite hepático, ”fígado na boca”, me fiz a pergunta que motiva este<br />
artigo: “vale a pena dar alguma importância a isso? Totalmente, com as bobagens que se diz<br />
na televisão, uma a mais…, é uma diversão. Contudo, como é óbvio, cheguei á conclusão que<br />
sim, vale a pena, pois há expressões verbais que são todo um universo de preconceitos<br />
ancestrais e que o mais gritante em tudo isso não foi a frase da menina, mas o silêncio do<br />
resto dos colegas. Ou seja, a indiferença.<br />
O anti-semitismo é um lugar comum na história espanhola e, certamente, o flagelo mais<br />
sangrento da história da Europa. Contrariamente ao que poderia parecer, não somente não é<br />
passado, mas configura um presente preocupante, denunciado com riqueza de argumentos no<br />
último informe do European Monitoring Centre on Racism and Xenophobia. Segundo Pat Cox,<br />
que o apresentou em Estrasburgo, em março passado, “a Espanha é o país de toda Europa<br />
que exporta, hoje, mais ódio contra os judeus”. E a pesquisa do Gallup, para a Liga Antidifamação<br />
é explícita: 72% dos espanhóis deportariam os judeus de Israel; só 12% aceitariam ter<br />
vizinhos judeus; 69% crêem que os judeus ostentam demasiado poder e uns 55% lhes atribui<br />
“intenções obscuras” que não sabem especificar. É claro que <strong>estamos</strong> falando de um novo<br />
anti-semitismo, especialmente circunscrito na imprensa e na esquerda espanholas — tão<br />
ferozmente antiisraelenses que acabaram militando no anti-semitismo —, não podemos esquecer<br />
que nós tivemos Isabel a Católica e que fomos os artífices da perversa Inquisição, a<br />
grande instituição demonizadora do povo judeu. O anti-semitismo, pois, faz parte do córtex<br />
cerebral, da medula coletiva, e o ovo da serpente se alimenta por canais inconscientes e<br />
insólitos. Por isso, quando alguém diz na televisão “cachorro judeu”, e ninguém se dá conta<br />
da infâmia da expressão, nem nota como range na trompa do ouvido, nem percebe a profunda<br />
indignação de um povo cansado de tanto…, quando nem Maria Teresa Campos — de quem<br />
conheço seu sentido de eqüidade democrática — se vê na necessidade de dizer algo, é<br />
porque há desprezos que fazem parte da normalidade. Há insultos que estão incorporados na<br />
bondade da Real Academia cotidiana.<br />
<strong>Na</strong>da estranho sob o sol de um país que nunca teve nenhuma necessidade de ensinar a<br />
lição trágica do Holocausto. Vivemos tão de costas com esta vergonha — que nos tange<br />
diretamente, uma vez que fizemos parte da perseguição ancestral que a tornou possível —,<br />
que temos conseguido banalizá-la completamente. Há pouco li como López Agudín, com<br />
assombrosa tranqüilidade, comparava Auschwitz com Abu Graib, e até se sentia inteligente.<br />
Se o Holocausto não existe na memória coletiva, se Isabel a Católica foi uma defensora dos<br />
direitos humanos (como disse há poucos dias, na TVE, um historiador), se a Inquisição somente<br />
foi um excesso de tom da cristandade, como irá resultar estranho que os cães e os judeus<br />
convivam, em franca irmandade, no dicionário de insultos de Rociíto? E que a Campos nem se<br />
altere? A Espanha nunca fez os deveres com sua culpa anti-semita. E dessa falta de memória<br />
ativa, renasce o preconceito mais lacerante.<br />
Eu sei. É só uma alegre manhã na televisão. Mas alguém [como eu] que não é judia,<br />
sempre se sente judia ante o insulto anti-semita. Não somente por solidariedade. Por responsabilidade.<br />
E, é por responsabilidade que faço este artigo: há brincadeiras tais que mostram<br />
a pata do monstro que carregamos dentro de nós.<br />
* Pilar Rahola foi deputada no Parlamento espanhol e foi vice-prefeita de Barcelona. Escreve<br />
nos jornais El País, El Periódico e Avui (em catalão). Dirige programa de entrevistas na TV<br />
espanhola e participa de debates públicos e congressos internacionais sobre a temática da<br />
mulher, da infância e do Oriente Médio. Tem vários livros publicados em catalão e castelhano.<br />
Traduzido do espanhol pelo jornalista Szyja Lorber. (www.pilarrahola.com).
eu nome é José Alberto<br />
Itzigsohn. Sou<br />
psiquiatra e psicólogo.<br />
No passado fui diretor<br />
da cátedra de<br />
Psicologia na Universidade de Buenos<br />
Aires e professor convidado aos<br />
cursos de doutorado da Universidade<br />
Pontifícia de Salamanca. Atualmente,<br />
resido em Jerusalém onde<br />
presido a associação de trabalhadores<br />
da saúde mental de língua<br />
hispânica de Israel.<br />
Causaram-me grande preocupação<br />
alguns aspectos do artigo de José<br />
Saramago: “Das pedras de David aos<br />
tanques de Golias“, o que me motivou<br />
a escrever esta carta aberta a Saramago,<br />
que lhes apresento a seguir:<br />
CARTA ABERTA A<br />
JOSÉ SARAMAGO<br />
De minha maior estima.<br />
Sou psiquiatra e resido em Jerusalém.<br />
Li seu artigo “Das pedras de David<br />
aos tanques de Golias”, onde alguns<br />
dos seus aspectos me causaram<br />
grande preocupação e me motivaram<br />
a escrever-lhe de forma pública.<br />
Antes de tudo quero dizer-lhe que<br />
sou integrante ativo de movimentos<br />
pacifistas israelenses e que lutei pelos<br />
direitos humanos desde minha juventude,<br />
e por essa razão, concordo<br />
com sua preocupação e sua dor pelos<br />
sofrimentos do povo palestino e<br />
também, com sua condenação dos<br />
ataques contra a população civil israelense,<br />
de cujos efeitos sou testemunha<br />
muito próxima por viver neste<br />
meio e por minha profissão.<br />
Minha preocupação por sua carta<br />
não parte pois de seu apoio aos<br />
direitos do povo palestino, mas de<br />
alguns argumentos utilizados nela<br />
que, a meu ver, se prestam a uma leitura<br />
inadequada.<br />
Você nos diz que acabar com os<br />
palestinos para depois negociar com<br />
os que ficam é, com ligeiras variações,<br />
meramente táticas, a política<br />
israelense desde 1948. Aqui você<br />
mistura todos os governos israelenses,<br />
incluindo o de Rabin e o de Sharon,<br />
em uma mesma caçarola. Sr. Sa-<br />
ramago: que confusão de carne com<br />
madeira. Mais adiante você nos fala<br />
dos sonhos expansionistas contaminados<br />
com a monstruosa e firme certeza<br />
de que neste mundo... existe um<br />
povo escolhido por D-us.<br />
Qualquer leitor pode crer que esta<br />
idéia da escolha divina, que corresponde<br />
a uma etapa determinada da<br />
evolução do pensamento religioso é<br />
compartilhada por todos os judeus.<br />
Isto não é correto. A maioria dos judeus<br />
do mundo, incluindo os de Israel,<br />
são leigos ou pertencem a correntes<br />
religiosas que interpretam a<br />
escolha como um conjunto de obrigações,<br />
e não como um privilégio<br />
que possa justificar uma conduta<br />
agressiva para<br />
com os de-<br />
mais. Você<br />
sustenta que<br />
desse sentimento<br />
de escolha<br />
se deriva<br />
um racismo<br />
agressivo, psicopatológico<br />
exclusivista.<br />
Você não economiza<br />
esses<br />
adjetivos quando se refere aos judeus,<br />
Sr. Saramago.<br />
Mais adiante você se refere ao<br />
Deuteronômio, onde está escrito<br />
como palavra de D-us “Minhas são a<br />
vingança e a recompensa”. Frase terrível<br />
que corresponde a um momento<br />
inicial do pensamento religioso<br />
judaico, mas saiba você, que no mesmo<br />
Deuteronômio, há indícios de<br />
humanidade que ainda não se cumpriram,<br />
e que depois dele, vieram<br />
profetas como Isaías, os tão vilipendiados<br />
fariseus com sua visão mais<br />
tolerante e as múltiplas gerações de<br />
estudiosos, a quem os judeus designam<br />
coletivamente como nossos<br />
sábios, bendita seja sua memória,<br />
que trataram de ajustar os preceitos<br />
iniciais à realidade de um mundo<br />
em mudança e complexo. A religião<br />
judaica de hoje não é a mesma<br />
que a da época tribal como você<br />
insinua, e como tem sustentado a<br />
tradição reconciliadora, que separava,<br />
de maneira aguda, o mundo<br />
judeu exclusivista, materialista e<br />
tribal, do pensamento cristão, do<br />
que haveria de vir mais adiante.<br />
Bom é saber que as religiões que<br />
têm uma longa história como o judaísmo,<br />
o cristianismo e o Islã, refletem<br />
momentos históricos diferentes<br />
e concepções transformadoras.<br />
Qualquer governante ou grupo<br />
de poder pode escolher dentro deles<br />
os elementos que convirjam à<br />
sua política, mas isso não implica<br />
toda uma cultura e as pessoas que<br />
participam disso.<br />
Você pretende que neste mundo<br />
catastrófico e absurdo, como<br />
você o denomina com razão, que<br />
nós os judeus esqueçamos nossas<br />
feridas e baixemos<br />
a<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
Palavras inteligentes<br />
de uma mente fascinante<br />
José A. Itzigsohn responde a Saramago<br />
“<br />
Não faço terrorismo<br />
ideológico utilizando<br />
Auschwitz contra ninguém,<br />
mas você, no artigo<br />
concreto que estou<br />
analisando, se torna vetor<br />
de uma mescla intolerável<br />
de preconceitos<br />
”<br />
guarda, talvez<br />
para acolhermos<br />
os<br />
benefícios da<br />
globalização<br />
ou das utopias<br />
de plantão,<br />
e não arranhemos<br />
sem<br />
parar nossas<br />
feridas. Saiba<br />
você que isso não nos faz falta<br />
porque outros se encarregam permanentemente<br />
de fazê-lo: o stalinismo,<br />
o neonazismo, a propaganda<br />
de alguns países árabes que<br />
utilizam os Protocolos dos Sábios<br />
de Sião como se fosse uma <strong>verdade</strong><br />
comprovada e paro por aí.<br />
Em outro momento você se pergunta<br />
em relação aos judeus, se<br />
o haver sofrido tanto não seria o<br />
melhor motivo para não fazer sofrer<br />
aos demais. Estranho pensamento<br />
é este que, sem dúvida, se<br />
transformou em um lugar comum,<br />
segundo o qual, o sofrimento deveria<br />
fazer melhor a um povo. Talvez<br />
para alguns indivíduos, mas<br />
não a um povo em seu conjunto.<br />
Pelo contrário, os sofrimentos<br />
inacreditáveis, mesmo sem chegar<br />
aos extremos de Auschwitz, as humilhações<br />
reiteradas, fazem um<br />
povo mais cético e mais convencido<br />
que não tem nada a esperar<br />
do mundo, e que só pode confiar<br />
em si mesmo. Alguns políticos<br />
podem explorar esse sofrimento<br />
como bandeira e para justificar<br />
suas próprias ações, mas o sentimento<br />
no povo é muito mais profundo<br />
que essa utilização.<br />
Você comparou o sofrimento dos<br />
palestinos com o sofrimento dos<br />
judeus em Auschwitz, o que evidentemente<br />
não está certo, mas de<br />
outro lado, o sofrimento de um<br />
povo não precisa ser igual ao de<br />
Auschwitz para ser profundo e para<br />
ser levado em conta. Cada povo tem<br />
seu Auschwitz real ou simbólico ao<br />
qual referir-se, e sofrimento, em<br />
todos os casos, não mensurável e<br />
divisível; é total.<br />
Sr. Saramago, se extrairmos o<br />
fio condutor de suas declarações,<br />
e para isso não faz falta a técnica<br />
psicanalítica nem o bisturí escolástico<br />
ou talmúdico, encontraríamos<br />
o seguinte: Existiria um grupo<br />
de homens separados, os judeus,<br />
que seriam exclusivistas e<br />
tinham idéias religiosas primitivas<br />
e uma moralidade arcaica e que<br />
tinham criado no Estado politicamente<br />
imoral e que para o cúmulo,<br />
usariam coletivamente seus<br />
sofrimentos para ignorar os dos<br />
outros. Em resumo: uma comunidade<br />
perversa.<br />
Sr. Saramago, eu tenho apoiado<br />
e continuo apoiando em Israel,<br />
contra o vento e a maré, de<br />
que é possível ser solidário com o<br />
povo palestino e criticar atitudes<br />
concretas de governos israelenses<br />
específicos, sem ser por isso antisemita.<br />
Não faço terrorismo ideológico<br />
utilizando Auschwitz contra<br />
ninguém, mas você, no artigo<br />
concreto que estou analisando, se<br />
torna vetor de uma mescla intolerável<br />
de preconceitos do antigo<br />
e novo cunho contra o povo<br />
judeu, a religião judaica e o Estado<br />
de Israel em seu conjunto.<br />
Atenciosamente,<br />
José Alberto Itzigsohn.<br />
Publicado originalmente no site:<br />
www.porisrael.org<br />
23
24<br />
VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />
* Joseph Farah é<br />
jornalista árabe-cristão<br />
americano, de origem<br />
libanesa e editor-chefe do<br />
World Net Daily.<br />
Publicado originalmente.<br />
no World Net Daily -<br />
Traduzido por Zalman<br />
Girtman.<br />
Joseph Farah*<br />
esde que escrevi uma coluna,<br />
em outubro passado, intitulada<br />
“Mitos do Oriente<br />
Médio”, leitores do mundo<br />
todo têm frequentemente me<br />
perguntado o que quer dizer o termo<br />
“palestino”.<br />
A resposta simples é que quer dizer<br />
qualquer coisa que Yasser Arafat<br />
queria que quisesse dizer.<br />
O próprio Arafat nasceu no Egito.<br />
Mais tarde ele se mudou para<br />
Jerusalém. <strong>Na</strong> <strong>verdade</strong>, a maior parte<br />
dos árabes que vive dentro das<br />
fronteiras de Israel hoje, veio de<br />
algum outro país árabe em algum<br />
momento de suas vidas.<br />
Por exemplo, desde logo no início<br />
dos acordos de Oslo, mais de<br />
400.000 árabes adentraram na Judéia,<br />
Samária ou Gaza. Eles vieram<br />
da Jordânia e do Egito; e, indiretamente,<br />
de todo e<br />
qualquer país árabe que<br />
você possa citar.<br />
Os árabes construíram<br />
261 assentamentos<br />
na Margem Ocidental<br />
desde 1967.<br />
Não se costuma ouvir<br />
muito sobre estes<br />
assentamentos.<br />
Por outro lado, escuta-se<br />
muito sobre o<br />
número de assentamentos<br />
israelenses que foram<br />
criados. Ouvimos sobre<br />
O que é um palestino?<br />
quão desestabilizadores eles são —<br />
quão provocadores eles são. No entanto,<br />
comparativamente, apenas<br />
144 assentamentos judaicos foram<br />
construídos desde 1967 — incluindo<br />
aqueles que circundam Jerusalém,<br />
os localizados na Judéia, Samária<br />
e em Gaza.<br />
O número de colonos árabes<br />
baseia-se em estatísticas reunidas<br />
na Ponte Allenby e outros pontos<br />
de coleta de dados entre Israel e a<br />
Jordânia. Baseia-se no número de<br />
trabalhadores diaristas árabes que<br />
entram em Israel e não saem. Os números<br />
foram publicados pelo Escritório<br />
Central de Estatísticas de Israel<br />
durante a administração de<br />
Binyamin Netanyahu, e foram subsequentemente<br />
negados como “erros<br />
de relatório” pela administração<br />
de Ehud Barak.<br />
É claro que a administração Barak<br />
tinha incentivos para negar os<br />
elevados números da imigração ilegal,<br />
dada sua pesada confiança depositada<br />
em votantes árabes.<br />
Acaso seria este um fenômeno<br />
novo? Absolutamente não. Sempre<br />
foi assim. Árabes têm rumado para<br />
Israel desde que este foi criado, e<br />
mesmo antes, coincidindo com a<br />
onda de imigração judaica para a<br />
Palestina anterior a 1948.<br />
Winston Churchill disse em 1939:<br />
“Longe de serem perseguidos, os árabes<br />
têm vindo às multidões para o<br />
País, e têm se multiplicado ao ponto<br />
de sua população ter crescido<br />
mais do que todo o mundo judaico<br />
junto teria capacidade de aumentar<br />
a população judia”.<br />
Isto levanta uma questão que eu<br />
nunca ouvi ninguém perguntar: Se<br />
a política de Israel torna a vida tão<br />
intolerável para os árabes, então por<br />
que eles continuam a dirigir-se para<br />
o Estado Judeu?<br />
Esta é uma pergunta importante<br />
agora que vemos o debate palestino<br />
deslocar-se para a questão do “direito<br />
de retorno”.<br />
De acordo com as afirmações<br />
mais liberais de fontes árabes, algo<br />
entre 600.000 e 700.000 árabes<br />
deixaram Israel em 1948 ou por volta<br />
disso, quando o Estado Judeu<br />
foi criado. A maior parte não foi<br />
expulsa por judeus, mas saiu a pedido<br />
dos líderes árabes que declararam<br />
guerra a Israel.<br />
No entanto, há bem mais árabes<br />
vivendo nestes territórios agora do<br />
que jamais houve. E muitos dos que<br />
saíram em 1948 tinham de fato suas<br />
raízes em outras nações árabes.<br />
É por isso que é tão difícil definir<br />
o termo “palestino”. Sempre foi.<br />
O que ele significa? Quem é um “palestino”?<br />
Seria alguém que veio a trabalho<br />
na Palestina devido a uma explosão<br />
econômica com novas oportunidades<br />
de emprego? Seria alguém<br />
que vinha vivendo na região havia<br />
dois anos? Cinco anos? Dez anos?<br />
Seria alguém que alguma vez visitou<br />
a área? Seria qualquer árabe que gostaria<br />
de viver naquela área?<br />
Os árabes superam os judeus<br />
em números, no Oriente Médio,<br />
por um fator de cerca de 100 para<br />
um. Mas quantos destas centenas<br />
de milhões de árabes são de fato<br />
palestinos? Não muitos.<br />
A população árabe da Palestina<br />
foi historicamente extremamente<br />
baixa — antes do renovado interesse<br />
dos judeus pela área, que começou<br />
no início dos anos 1900.<br />
Por exemplo, um guia de viagens<br />
para a Palestina e Síria, publicado<br />
em 1906 por Karl Baedeker, ilustra o<br />
fato de que, mesmo quando o Império<br />
Islâmico Otomano dominava a<br />
região, a população muçulmana de<br />
Jerusalém era mínima.<br />
O livro estima a população total<br />
da cidade em 60.000 pessoas,<br />
dos quais 7.000 eram muçulmanos;<br />
13.000 eram cristãos e 40.000<br />
eram judeus.<br />
“O número de judeus tem crescido<br />
grandemente nas últimas décadas,<br />
a despeito do fato que eles são<br />
proibidos de imigrar ou possuir terras”,<br />
o livro afirma.<br />
Embora os judeus fossem perseguidos,<br />
ainda assim eles vieram<br />
para Jerusalém e representavam a<br />
maioria absoluta da população já<br />
desde 1906.<br />
Por que a população muçulmana<br />
era tão baixa? Afinal de contas, nos<br />
dizem que Jerusalém é a terceira cidade<br />
mais santa no Islã. Certamente,<br />
se esta fosse uma crença amplamente<br />
aceita em 1906, mais devotos<br />
teriam para lá se assentado.<br />
A <strong>verdade</strong> é que a presença judaica<br />
em Jerusalém e por toda a<br />
Terra Santa persistiu ao longo de<br />
toda sua sangrenta história, como<br />
está documentado na obra fundamental<br />
de Joan Peters sobre o conflito<br />
árabe-judaico na região,<br />
“From Time Immemorial” - “Desde<br />
Tempos Imemoriáveis”.<br />
Também é <strong>verdade</strong> que a população<br />
árabe cresceu seguindo-se à imigração<br />
judaica para a região. Os árabes<br />
vieram por causa da atividade<br />
econômica. E, creiam ou não, eles<br />
vieram porque havia mais liberdade<br />
e mais oportunidades em Israel do<br />
que em seus países de origem.<br />
O que é um palestino? Se algum<br />
árabe possui direito legítimo de reclamar<br />
propriedade em Israel, devem<br />
ser aqueles que foram ilegalmente<br />
privados de suas terras e lares<br />
após 1948. Arafat não possuia<br />
tal direito. E poucos - se algum,<br />
daqueles que estão atirando, explodindo<br />
e aterrorizando israelenses<br />
hoje - também o têm.