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Na verdade, estamos - Visão Judaica

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2<br />

editorial<br />

VISÃO JUDAICA • Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

Novos ventos e a mediocridade em Paraíba do Sul<br />

Publicação mensal independente da<br />

EMPRESA JORNALÍSTICA VISÃO<br />

JUDAICA LTDA.<br />

Redação, Administração e Publicidade<br />

visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

Curitiba PR Brasil<br />

Fone/fax: 55 41 3018-8018<br />

Diretora de Operações e Marketing<br />

SHEILLA FIGLARZ<br />

Diretor de Redação<br />

SZYJA B. LORBER<br />

Diretora Comercial<br />

HANA KLEINER<br />

Publicidade<br />

ALEXANDRE BIEGA<br />

DEBORAH FIGLARZ<br />

Arte e Diagramação<br />

SONIA OLESKOVICZ<br />

Webmaster<br />

RAFFAEL FIGLARZ<br />

Colaboram nesta edição:<br />

Abraham Chachamovits, Antonio<br />

Carlos Coelho, Aristide Brodeschi,<br />

Edda Bergmann, Gustavo D. Perednik,<br />

Heliete Vaitsman, José A. Itzigsohn,<br />

Joseph Farah, Khaled Abu Toameh,<br />

Moises Rabinovici, <strong>Na</strong>hum Sirotsky,<br />

Pilar Rahola, Regina Caldas, Sergio<br />

Feldman, Sheilla Figlarz, Vittorio<br />

Corinaldi e Yossi Groisseoign.<br />

<strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> circula onze vezes por ano.<br />

Os artigos assinados não representam<br />

necessariamente a opinião do jornal<br />

www.visaojudaica.com.br<br />

morte de Arafat pode ter aberto algumas portas<br />

para o otimismo no Oriente Médio. Nos<br />

últimos anos houve tão poucas chances de<br />

paz entre Israel e os vizinhos árabes, que é importante<br />

dar atenção às oportunidades. Mas, se<br />

de um lado sopram ventos novos, de outro, devemos<br />

ficar atentos: o terrorismo continua. O atentado<br />

de 12 de dezembro e os que se seguiram, são<br />

prova disso. Faltam recursos para o saneamento e<br />

a saúde dos palestinos? Mas o Al-Aksa e o Hamas<br />

têm dinheiro para explodir, com 1.500 kg de dinamite,<br />

um posto militar em Gaza, matando cinco<br />

jovens israelenses. Não é uma disputa de gangues<br />

pelo poder. É a tentativa de forçar Israel a esquecer<br />

seu plano de retirada de Gaza. Se sair, do que<br />

irão reclamar os palestinos depois?<br />

Uma razão para o otimismo é a transferência<br />

suave do governo na Autoridade Palestina. Esperava-se<br />

uma violenta luta intestina pelo poder.<br />

As eleições que o finado ditador prometera, e<br />

nunca cumprira, acontecerão, finalmente, em 9<br />

de janeiro. Abu Mazen convenceu o cinco vezes<br />

condenado à prisão perpétua<br />

Marwan Barghouti a retirar a<br />

candidatura. É claro que Mazen<br />

vencerá as eleições, mas<br />

não nos iludamos. Sabem o<br />

Acendimento das velas<br />

em Curitiba dez/jan/fev<br />

Véspera de Shabat<br />

DATA HORA<br />

24/12 18h48<br />

31/12 18h51<br />

7/1 18h52<br />

14/1 18h53<br />

21/1 18h52<br />

28/1 18h50<br />

4/2 18h47<br />

11/2 18h43<br />

* Desde o dia 2/11/2004 vigora o<br />

horário brasileiro de verão, com<br />

os relógios adiantados em uma<br />

hora. Todos os horários aqui<br />

citados já estão acrescidos desse<br />

tempo para o acendimento das<br />

velas de shabat.<br />

que pensa dos judeus? Que mentem e inflaram o<br />

número de vítimas no Holocausto. Para ele, foi<br />

“menos que um milhão”!<br />

O sheik Hasan Yusef, um líder do Hamas na<br />

Cisjordânia, recentemente libertado da prisão, passou<br />

a falar sobre uma trégua de 10 anos, negociações<br />

de paz e até mesmo “viver lado-a-lado com<br />

Israel”. Essa dissensão discursiva surpreende considerando<br />

o desvario e o fanatismo psicótico em<br />

riscar Israel do mapa. Mas com os últimos atentados,<br />

o Hamas de Gaza mostra que não liga a mínima<br />

para o que diz o sheik. Os acenos também partem<br />

de Damasco. Bashar El- Assad quer conversar<br />

com Sharon sem impor condições sobre o Golan.<br />

Só não deixa de apoiar grupos terroristas baseados<br />

na Síria e no Líbano, e de sorrir para o videogame<br />

sírio, sucesso no mundo árabe e palestino,<br />

por incentivar o ódio, a matança de judeus e a<br />

destruição de Israel. Underash [esse é o nome do<br />

jogo] ainda pega pesado com os palestinos ao<br />

mostrar as glórias de um terrorista suicida.<br />

<strong>Na</strong>s últimas semanas houve intensa atividade<br />

diplomática entre Israel e o Egito. Visitas de ministros,<br />

encontros cordiais, egípcios dispostos a<br />

atuar contra o contrabando de armas para a Faixa<br />

de Gaza, a inesperada declaração de Mubarak<br />

qualificando Sharon como o único capaz<br />

Nossa capa<br />

A capa reproduz o quadro cujo título é “Ao entardecer de sexta-feira” (Erev<br />

Shabat), pintado com a técnica pastel seco sobre papel cinza e dimensões 57 X<br />

50 cm, criação de Aristide Brodeschi.<br />

Brodeschi nasceu em Bucareste, Romênia. É arquiteto e artista plástico e<br />

vive em Curitiba desde 1978. Já desenvolveu trabalhos em várias técnicas,<br />

dentre elas pintura, gravura e tapeçaria. Recebeu premiações por seus trabalhos<br />

no Brasil e nos EUA. Suas obras estão espalhadas por vários países e tem no<br />

judaísmo, uma das principais fontes de inspiração. É o autor das capas do<br />

jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. (Para conhecer mais sobre ele, visite o site<br />

www.brodeschi.com.br).<br />

Datas importantes<br />

22 de dezembro Jejum de 10 de Tevet<br />

25 de dezembro Vaychi<br />

1 0 de janeiro/05 Shemot<br />

8 de janeiro Vaerá<br />

15 de janeiro Bó<br />

22 de janeiro Beshalach Shabat Shirá<br />

24 de janeiro Véspera de TuBishvat<br />

25 de janeiro TuBishvat<br />

29 de janeiro Yitró<br />

5 de fevereiro Mishpatim Shabat Shecalim<br />

12 de fevereiro Terumá<br />

de obter um acordo de paz com os palestinos e a<br />

libertação do druso israelense Azzam Azzam da<br />

prisão. A TV palestina tem adotado um tom mais<br />

moderado, sem as inflamadas transmissões que<br />

comparam judeus a macacos e porcos nas pregações<br />

religiosas dos clérigos ou chamam o exército<br />

israelense nos noticiários de “forças selvagens<br />

da ocupação”. Algo significativo mudou nas últimas<br />

semanas desde a morte de Arafat. Agora o<br />

discurso é de reconciliação. De fato, sopram novos<br />

ventos na região, mas um pouco de cautela<br />

sempre é bom para conter otimismos exagerados.<br />

<strong>Na</strong> TV israelense jamais veríamos propaganda<br />

remotamente assemelhada àquilo que a TV palestina<br />

veicula. Se um dia isso acontecesse, podem<br />

ter certeza de que até Paraíba do Sul ficaria sabendo:<br />

Israel é um país de vidro, o sujeito se<br />

coça em Jerusalém e na mesma hora a CNN mostra.<br />

O mundo sabe desse comportamento. Só que<br />

nunca fez nada. Pelo contrário, com seu silêncio<br />

aplaude a TV de Arafat, o “pacifista” carniceiro<br />

que está para virar estátua, com dinheiro público,<br />

no município fluminense de Paraíba do Sul,<br />

pelas mãos do prefeito energúmeno, no apagar<br />

das luzes de sua infeliz administração.<br />

Lembrete: Em janeiro não circulamos, pois entramos<br />

em férias. Voltamos em fevereiro.<br />

Humor judaico<br />

Filantropia<br />

A Redação<br />

Falecimento<br />

11/12 - Registramos<br />

o falecimento do Sr.<br />

Mario Grymbaun, 84<br />

anos. Sepultado no<br />

Cemitério Israelita de<br />

Santa Cândida.<br />

Um visitante em Israel<br />

foi a um recital e concerto<br />

no Moscovitz Auditorium.<br />

Ele ficou bem impressionado<br />

com a arquitetura e a<br />

acústica. Então perguntou<br />

ao guia turístico:<br />

“Este magnífico auditório<br />

tem seu nome em homenagem<br />

a Chaim Moscovitz,<br />

o famoso talmudista?”<br />

“Não” — replicou o guia<br />

— “Ele tem seu nome em<br />

honra de Sam Moscovitz, o<br />

escritor”.<br />

“Nunca ouvi falar dele. O<br />

que ele escreveu?”<br />

“Um cheque”, respondeu<br />

o guia.


Sergio Feldman *<br />

m teoria, fazendo uma<br />

generalização, por vezes<br />

imprecisa, mas de acordo<br />

com a lei judaica (Halachá),<br />

seria todo filho de<br />

mãe judaica, que passasse<br />

pelo ritual da circuncisão (Brit Milá). Isso<br />

o colocaria no pacto de Abraão que simboliza<br />

sua pertinência ao povo judeu.<br />

Isso não exime o judeu de outros dois<br />

aspectos fundamentais: o conhecimento<br />

da Lei (Torá) e a prática dos preceitos<br />

(mitzvot), que são o tripé básico do<br />

Judaísmo, de maneira simplificada: Brit<br />

(Pacto), Torá (Lei) e Mitzvot (Preceitos).<br />

Não creio que nenhum rabino ortodoxo,<br />

ou liberal, reformista ou conservador se<br />

oponha em princípio a esta definição<br />

básica. Alguns rabinos ou pensadores<br />

podem derivar desta conceituação, algumas<br />

condições e preceitos e complementá-la<br />

com argumentos e detalhes.<br />

Porém a pergunta que se faz é a<br />

seguinte: quantos de nós podemos ser<br />

considerados judeus segundo esta definição<br />

“básica”. Quem conhece de maneira<br />

sucinta e simplificada a Lei (Torá)<br />

e pratica de alguma maneira os preceitos<br />

(mitzvot), seja numa versão ortodoxa<br />

ou neo-ortodoxa, seja de uma maneira<br />

liberal ou conservadora? Ou seja,<br />

deixamos de ser judeus, apesar de sermos<br />

filhos de mães judias e sermos circuncidados<br />

(os homens judeus, obviamente)?<br />

Ser ou não ser, eis a questão.<br />

Viajemos na história. Reflitam comigo<br />

e ousem pensar sem preconceito.<br />

Nosso primeiro exemplo vem da Idade<br />

Média, na Europa Ocidental. No período<br />

das Cruzadas (1096 a 1250) em<br />

países como a França e a Alemanha (1ª<br />

Cruzada) e na Inglaterra (3ª Cruzada)<br />

judeus são colocados entre e espada e<br />

a cruz: converter ou morrer. A grande<br />

maioria opta por morrer em Santificação<br />

do Nome Divino (Al Kidush HaShem).<br />

Uma minoria opta pela conversão. Isso<br />

se explica pela pouca integração dos<br />

judeus no meio em que viviam. Ser judeu<br />

ou morrer. São os mártires das Cruzadas.<br />

Isso está descrito no último livro<br />

editado por meu mestre e orientador<br />

<strong>Na</strong>chman Falbel. <strong>Na</strong> seqüência vemos<br />

outro fato ocorrer, mas de maneira<br />

diferente, no sul da Europa.<br />

Após alguns séculos de vida judaica<br />

na Península Ibérica, já no século<br />

XIV, se configura o inicio de uma prolongada<br />

crise. Em 1391, estala em<br />

Sevilha um violento pogrom antijudaico,<br />

deflagrado por um frei. Este se<br />

espalha por toda a Espanha atual (na<br />

época reinos de Castela e Aragão),<br />

menos em Portugal aonde o rei protege<br />

os judeus. O resultado desta violência<br />

foi surpreendente: um elevado<br />

número de judeus optou por se con-<br />

Quem é judeu?<br />

verter ao Cristianismo, ao invés de<br />

morrer em “Santificação do Nome Divino”<br />

(Al Kidush HaShem). Isso devido<br />

ao fato dos judeus ibéricos serem muito<br />

integrados ao meio em que viviam e a<br />

crença de que após a crise poderiam<br />

retornar à sua fé ancestral. Surge um<br />

grupo numericamente grande de “cristãos<br />

novos”. Alguns judeus, não chegam<br />

a ser convertidos à força e conseguem<br />

permanecer judeus; alguns (minoria)<br />

preferem morrer sem profanar<br />

a fé de seus ancestrais. Entre 1391 e<br />

1492, convivem nos reinos ibéricos alguns<br />

grupos étnico-religiosos: cristãos<br />

velhos, cristãos novos, judeus e muçulmanos.<br />

A convivência por vezes se<br />

torna tensa. Inúmeras campanhas tentam<br />

converter os judeus ao catolicismo.<br />

Os cristãos novos são discriminados<br />

em Toledo (1449) pelo estatuto de<br />

pureza de sangue. Trata-se de um antecessor<br />

ibérico das leis racistas que<br />

surgirão no século XX. Os cristãos novos<br />

são proibidos de exercer determinados<br />

cargos, de cobrar os impostos<br />

reais e de ter poder sobre a casta dos<br />

nobres e burgueses cristãos velhos. Trata-se<br />

de uma lei racista que exclui cristãos<br />

e os discrimina pela sua pretensa<br />

origem “judaica”. Paira sobre os cristãos<br />

novos a mesma desconfiança que<br />

os judeus sofriam. Uma continuidade do<br />

preconceito, com os recém convertidos<br />

e uma restrição “racial” (numa época<br />

que este conceito ainda não existe!),<br />

aos descendentes de judeus.<br />

Há alguns cristãos novos que se<br />

integram à nova fé, e tratam de mostrar<br />

que são fiéis e confiáveis. Há<br />

diversos cristãos novos que se dedicam<br />

a carreiras eclesiásticas, se tornando<br />

monges, padres e bispos. São<br />

por vezes fervorosos, talvez até para<br />

mostrar sua fidelidade.<br />

Uma minoria dos convertidos opta<br />

por seguir praticando as escondidas a<br />

crença de seus ancestrais judeus: surge<br />

o cripto-judaísmo ou marranismo.<br />

Este grupo vive sob o risco de ser acusado<br />

de apostasia ou de heresia, algo<br />

inaceitável sob a ótica católica. Uma<br />

vez batizado, mesmo contra a vontade,<br />

não há retorno ao fiel. Um cristão (católico)<br />

nunca poderia abandonar a sua<br />

fé. Nestes casos, havia o risco de ser<br />

condenado por um tribunal inquisitorial<br />

que poderia levá-lo à fogueira. Isso não<br />

tardou em ocorrer. Os Reis Católicos<br />

(Fernando de Aragão e Isabel de Castela)<br />

instauram a Inquisição em seus domínios,<br />

na segunda metade do século<br />

XV (c. 1476) e começam a inquirir e<br />

condenar inúmeros cripto-judeus. Já não<br />

são judeus, pois a Inquisição não poderia<br />

julgar infiéis judeus, mas sim cristãos<br />

heréticos. Pelo catolicismo, são<br />

cristãos e são julgados por apostasia e<br />

heterodoxia. Pelo judaísmo, não são<br />

mais judeus, já que se converteram ao<br />

catolicismo, participaram da missa, e<br />

dos sacramentos. Geralmente não eram<br />

circuncidados e portanto não realizaram<br />

o Brit Milá, não sendo membros do<br />

Pacto, ou seja judeus.<br />

Morrem na fogueira por crime de<br />

heresia judaizante: são cristãos que<br />

realizam rituais judaicos, herdados de<br />

seus ancestrais que foram judeus. Nem<br />

em termos judaicos e nem em termos<br />

cristãos, podem ser chamados de judeus.<br />

Mas fica a sensação de que morrem<br />

em “Kidush HaShem”, da mesma<br />

maneira que os judeus vitimados durante<br />

as Cruzadas. A minha lógica fica<br />

estreita e minha razão se atrofia quando<br />

penso que morreram como judeus,<br />

mesmo sem serem considerados assim,<br />

nem pelos membros do Pacto de<br />

Abraão e tampouco pelos seus algozes<br />

da Inquisição. Morreram por professar<br />

um certo tipo de Judaísmo. O<br />

que você acha? Seria uma maneira de<br />

“ser” judaica, em pessoas legalmente<br />

não judias? Seria “Kidush HaShem”? Os<br />

judaizantes não seriam judeus?<br />

Passemos ao século XIX e XX. Surge<br />

o Racismo Europeu, na esteira da<br />

expansão colonial. Distorcendo a teoria<br />

de Charles Darwin e inserindo nesta<br />

a semente do nacionalismo europeu<br />

do século XIX, com uma forte dose<br />

de preconceito aos povos “não europeus”,<br />

incultos e inferiores. Buscando<br />

justificar a ocupação colonial da África<br />

e da Ásia, pelos caucasianos (leiase<br />

brancos europeus), que buscavam<br />

mercados consumidores e matériasprimas<br />

para a expansão da Revolução<br />

Industrial. Assim, na esteira da expansão<br />

industrial européia se consolida um<br />

preconceito aos “outros” que será adotado<br />

pela teoria racial nazista. Os judeus<br />

são vistos por muitos europeus<br />

como asiáticos, infiltrados no seio da<br />

população européia. Uma espécie de<br />

figura “non grata”, um paria racial que<br />

contaminava a pureza ariana. Mas<br />

muitos judeus se integram e se afastam<br />

de suas raízes. Casam com nãojudeus<br />

e se convertem ao cristianismo.<br />

Outros se tornam socialistas e cosmopolitas<br />

e deixam de ser judeus. De diversas<br />

maneiras tratam de se integrar<br />

numa sociedade que os vê como infiltrados,<br />

estranhos e “não europeus”. Esses<br />

judeus que abandonam sua identidade<br />

serão apanhados por uma “armadilha<br />

da História” tal como os judaizantes<br />

da Península Ibérica o foram.<br />

Em 1933, ascende ao poder o <strong>Na</strong>cional<br />

Socialismo (<strong>Na</strong>zismo), na Alemanha.<br />

No seu ideário político o mito<br />

ariano tem papel fundamental. A pureza<br />

racial é almejada para fortalecer<br />

uma política de fortalecimento do Reich<br />

alemão. Os arianos seriam os “senhores<br />

do futuro” e construtores do<br />

Império Alemão: o Reich de Mil Anos.<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

Uma polêmica<br />

para fechar 2004<br />

Os judeus deveriam ser escravizados e<br />

eliminados. Mas e os judeus que haviam<br />

se convertido? E os meio judeus?<br />

E os que tinham um quarto de sangue<br />

judaico? Cria-se o conceito de Mischlinge.<br />

Seriam meio judeus.<br />

As Leis de Nuremberg (1935) excluem<br />

os judeus de direitos de cidadania e<br />

apontam uma categoria diferenciada<br />

para os que fossem um quarto, metade<br />

ou três quartos judeus. Muitos são discriminados,<br />

excluídos de direitos e por<br />

vezes exterminados. Outros são integrados<br />

ao exercito ou a grupos de elite,<br />

sendo provados em sua fidelidade e<br />

lealdade ao Reich. Um destino diferente<br />

perseguiu alguns. De acordo com a<br />

vontade de Himmler, ora eram levados<br />

aos campos, ora eram aproveitados no<br />

esforço de guerra nazista. Quase todos<br />

já não se consideravam judeus: eram<br />

por vezes netos de um judeu e três arianos.<br />

Ora eram netos de dois avós judeus,<br />

mas de outros dois avós não judeus<br />

(arianos) e ambos os pais não professavam<br />

o judaísmo. Muitos foram<br />

mandados as câmaras de gás, como se<br />

fossem judeus, mesmo se fossem filhos<br />

de mães não-judias, mesmo se não fossem<br />

circuncidados e não se identificassem<br />

como judeus. Não praticavam o<br />

judaísmo e não eram judeus de acordo<br />

a Lei (Halachá). Mas morreram como<br />

judeus e por terem sangue judaico. Como<br />

analisar estas mortes?<br />

A nossa análise pode se prolongar.<br />

Mas não queremos gerar conclusões e<br />

certezas. Neste momento preferimos<br />

gerar polêmica e dúvidas. Seriam judeus,<br />

os judaizantes hispânicos mortos<br />

pela Inquisição? Seriam judeus<br />

aqueles Mischlinges não poupados por<br />

Himmler e chacinados, por possuírem<br />

sangue judaico, mesmo se suas crenças<br />

e práticas não o fossem? E somos,<br />

nós mesmos judeus, se não praticamos<br />

os preceitos e não conhecemos a<br />

Lei (mesmo se for sob uma ótica moderna,<br />

conservadora ou reformista)?<br />

Basta ser filho de mãe judia e ser circuncidado<br />

para ser judeu? E quem foi<br />

convertido por um rabino não-ortodoxo<br />

não pode ser considerado judeu?<br />

Pessoalmente não aceito o monopólio<br />

da minoria ortodoxa e creio que a diversidade<br />

judaica é condição “sine qua<br />

non” para a sobrevivência e a continuidade<br />

da identidade judaica.<br />

Portanto acho que <strong>estamos</strong> na hora<br />

de vir a Kehilá e estudarmos e praticarmos<br />

o Judaísmo para poder ser membros<br />

de fato do Pacto, conhecendo a<br />

Lei (renovada e repensada dentro de<br />

conceitos contemporâneos) e retomando<br />

a prática dos preceitos (num<br />

contexto adequado à evolução e a<br />

realidade em que vivemos).<br />

Boas férias. E use o tempo livre<br />

para repensar seus valores e princípios.<br />

3<br />

* Sergio Feldman<br />

é professor adjunto<br />

de História Antiga do<br />

Curso de História da<br />

Universidade Tuiuti<br />

do Paraná e doutor<br />

em História pela<br />

UFPR.


4<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

Israelense vence pela segunda vez<br />

festival internacional de humor gráfico<br />

cartunista Yuri Ochakovsky, de<br />

Israel, é novamente o grande vencedor<br />

do Festival Internacional<br />

de Humor Gráfico das Cataratas do<br />

Iguaçu, que este ano recebeu trabalhos<br />

de 80 países sobre o tema “Planeta<br />

Turismo”. Pelo segundo ano<br />

Com esta charge, o israelense de origem russa Yuri Ochakovsky<br />

venceu, pela segunda vez, o Festival Internacional de Humor,<br />

em Foz do Iguaçu<br />

Yuri Ochakovsky, o ganhador, levou o prêmio de US$ 10 mil<br />

consecutivo, os cobiçados 10 mil<br />

dólares para o primeiro colocado foram<br />

dele. Mas a divulgação do prêmio<br />

omitiu o fato dele ser israelense,<br />

apresentando-o como sendo russo<br />

(que ele é, mas só de nascimento).<br />

O segundo lugar ficou com o<br />

paulista Gilmar Barbosa, o terceiro,<br />

com a curitibana Pryscila Vieira – a<br />

melhor colocação de uma cartunista<br />

mulher de toda a história dos salões.<br />

O júri, formado por 17 cartunistas<br />

e jornalistas este composto<br />

pela argentina Ana Von Reuber, o<br />

paraguaio Casartelli, os brasileiros<br />

Albert Piauí, Angeli, Paulo e Chico<br />

Caruso, Bione, Luís Pimentel (da<br />

Bahia), Solda e Dante, Daniela Baptista<br />

(do Paraná), a dupla Gual e<br />

Jal, Sidney Gusman, do Universo<br />

HQ, Orlando, Luiz Oswaldo Rodrigues<br />

- o Lor (Minas Gerais) - que<br />

foi eleito presidente do grupo.<br />

Entre mais de 3 mil cartoons inscritos,<br />

foram selecionados em votação<br />

39 trabalhos pelos jurados, e<br />

esse grupo passou por nova votação<br />

até ser escolhido o de Ochakovsky<br />

como o melhor. O evento teve<br />

ainda palestras e fóruns, entre outros<br />

com Angeli, Adão Iturrusgarai,<br />

Laerte, Fernando Gonzáles, Albert<br />

Piauí, Aroeira, Santiago, Solda, Dante,<br />

Ana Von Reuben, Casartelli, Ziraldo,<br />

Gabriel Guimard, Louis Chilson,<br />

Douglas Quinta, Zélio Alves Pinto,<br />

Luiz Fernando Veríssimo e os irmãos<br />

Paulo e Chcio Caruso.<br />

“Cartunista russo”<br />

O vencedor do Festival Internacional<br />

do Humor Gráfico, Yuri<br />

Ochakovsky, aparece no release oficial,<br />

inclusive publicado no site do<br />

Governo como sendo “um cartoonista<br />

russo”. Omitiu-se sua condição de<br />

israelense, o que é lamentável em se<br />

tratando de um certame internacional.<br />

No mínimo foi uma tentativa<br />

de boicote contra Israel. Mesmo<br />

assim, um jornal de Foz de Iguaçu,<br />

alguns veículos de comunicação de<br />

Curitiba e um site que noticiou o<br />

evento, “não caíram” nessa e divulgaram<br />

que Yuri é israelense ou<br />

russo radicado em Israel. Talvez<br />

isso tenha acontecido porque é<br />

grande o número de árabes residentes<br />

na área da três fronteiras, mas<br />

isso é injustificável.<br />

O Festhumor das Cataratas, como<br />

também é conhecido, é reconhecido<br />

pela Embratur como o maior<br />

evento do gênero em todo o mundo,<br />

tanto pelo número de participantes<br />

quanto pela premiação oferecida.<br />

Realizou-se no Bourbon Cataratas<br />

Resort & Convention Center<br />

de Foz do Iguaçu (PR) , de 25 a 28<br />

de novembro de 2004.


Caminho para<br />

o Mar Morto<br />

tem beleza muito especial<br />

Edda Bergmann *<br />

srael é um país que se percorre<br />

em cerca de 5 horas<br />

de Norte a Sul e em apenas<br />

uma de Leste a Oeste.<br />

Uma piada comum com quem chega<br />

é aquela em que o turista diz para o<br />

amigo israelense “amanhã vou sair para<br />

conhecer Israel”. E o amigo responde:<br />

“e o que você vai fazer à tarde?”.<br />

Pequeno em tamanho e bem servido<br />

de estradas, o lugar é no entanto<br />

tão rico em diversidade natural que<br />

dificilmente alguém levará apenas este<br />

tempo para dar um giro decente.<br />

Saindo de Jerusalém um dos primeiros<br />

pontos a que o turista se dirige<br />

é o Leste, a fim de descobrir os mistérios<br />

do Mar Morto, que na <strong>verdade</strong> não<br />

passa de um grande lago. Israel também<br />

apelidou de mar outro lago, o de<br />

Tiberíades como o Mar da Galiléia.<br />

É na região do Mar Morto, de beleza<br />

impar e aterradora que estão<br />

duas importantes atrações nacionais:<br />

Qumran, a aldeia onde foram encontrados<br />

os manuscritos do Mar Morto<br />

e Massada, a cidade fortaleza erguida<br />

sobre um imenso platô de 400<br />

metros de altura, de onde se tem uma<br />

vista espetacular da região até as<br />

montanhas da Jordânia.<br />

Uma hora de carro nesta estrada<br />

que corta o deserto de Judá, de Oeste<br />

para Leste e atingimos o ponto<br />

mais baixo da terra, 400 metros abaixo<br />

do nível do mar.<br />

O cenário até lá é em tons ocre e<br />

terra, enfeitados por pedaços verdes<br />

onde tamareiras robustas oferecem<br />

fontes em abundância já que <strong>estamos</strong><br />

em plena época da colheita.<br />

Plantações irrigadas de citros, melões,<br />

uvas sem semente também são<br />

avistadas com freqüência.<br />

Israel é auto-suficiente na<br />

maioria dos alimentos, mas importa<br />

carne e trigo.<br />

O cheiro de enxofre ainda pode<br />

ser sentido quando se entra num dos<br />

spas construídos para receber os turistas.<br />

Neles é possível embelezar-se<br />

com banhos de lama rica em minerais,<br />

antes de ir flutuar. O índice de<br />

salinidade dos quase 30% inviabiliza<br />

a vida nestas águas e impede que<br />

o corpo afunde.<br />

O Mar Morto é alimentado principalmente<br />

pelas águas do rio Jordão,<br />

mas sua salinidade extrema tem<br />

provocado sua lenta evaporação ao<br />

longo dos anos.<br />

Estima-se que o mar tenha<br />

perdido 12 metros de altura nos<br />

últimos cem anos.<br />

Massada é um libelo da liberdade<br />

do povo hebreu contra a dominação<br />

estrangeira.<br />

Heródes construiu uma fortaleza<br />

e um palácio imponente no alto deste<br />

monte no final do século I a.C.,<br />

estabelecendo aqui um refúgio seguro<br />

para o caso de uma investida<br />

inimiga e temia que Cleópatra tentasse<br />

estender seu império desde o<br />

Egito até a Judéia.<br />

Mas foram os próprios judeus que<br />

tomariam a montanha para resistir à<br />

dominação romana no conhecido<br />

movimento da Revolta <strong>Judaica</strong>, iniciado<br />

em Jerusalém e que durou de<br />

66 a 73 d.C. depois que Herodes já<br />

tinha morrido.<br />

Lá no alto se refugiaram 967 judeus<br />

zelotes, ortodoxos que após demorada<br />

e heróica resistência cometeram<br />

suicídio coletivo, preferindo a<br />

morte à rendição aos 15 mil homens<br />

das tropas da 10ª legião romana.<br />

O relato de dois sobreviventes<br />

inspirou Flávio Josefus que escreveu<br />

com detalhes a história da<br />

“Guerra dos Judeus”.<br />

Massada também ilustra a capacidade<br />

estratégica dos engenheiros<br />

de Herodes.<br />

A primeira pergunta que se faz quando<br />

se está lá no alto sob um sol de 35<br />

graus é como ele poderia ter abastecido<br />

de água uma cidade onde mesmo<br />

hoje o acesso só é facilitado pela existência<br />

de um bondinho teleférico.<br />

E a resposta é uma aula de engenharia<br />

civil. O governador mandou<br />

represar as águas das famosíssimas<br />

torrentes do Neguev, um fenômeno<br />

que ainda hoje acontece sete vezes<br />

por ano na região.<br />

Herodes desviava as abundantes<br />

águas para 11 cisternas construídas<br />

nas encostas da montanha e conseguia<br />

assim suprir as necessidades do<br />

povo. Além disso, Herodes construiu<br />

enormes silos para estocar grãos e<br />

sementes que duravam muito mais<br />

devido à umidade do ar de 15%.<br />

Massada é até hoje o sítio arqueológico<br />

mais visitado do país.<br />

Atravessar o deserto de Judá e<br />

investigar o passado da região onde<br />

está também Massada, a antiga fortaleza<br />

construída por Herodes no<br />

século I d.C. faz parte do caminho<br />

para o Mar Morto cuja beleza desolada<br />

é algo impressionantemente visível<br />

aos olhos dos visitantes desta<br />

região e deixa o turista encantado<br />

com suas diversidades de tudo o que<br />

é conhecido.<br />

* Edda Bergmann é vice-presidente Internacional da B’nai B’rith.<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

Estudar na Escola Israelita:<br />

Sim ou não?<br />

Sheilla Figlarz *<br />

Está na hora de matricularmos<br />

nossos filhos para o próximo<br />

ano letivo.<br />

Por que não na EIBSG?<br />

<strong>Na</strong>s outras escolas, as crianças<br />

estudam História da Arte. <strong>Na</strong> EIBSG<br />

estudam a História da Arte e também<br />

a História <strong>Judaica</strong> e História<br />

do Povo Judeu.<br />

<strong>Na</strong>s outras escolas, estudam inglês.<br />

<strong>Na</strong> EIBSG além dela, estudam<br />

o hebraico.<br />

<strong>Na</strong>s outras escolas, estudam<br />

Música. <strong>Na</strong> EIBSG estudam canções<br />

de Purim, Pêssach, Rosh<br />

Hashaná, Chanucá.<br />

<strong>Na</strong>s outras escolas, estudam Artes.<br />

<strong>Na</strong> EIBSG estudam Talmud e Torá.<br />

A pergunta que faço a todos os<br />

pais é: na hora em que estas crianças<br />

se depararem com fatos, como<br />

os que estão ocorrendo hoje, nos<br />

cursinhos, nas universidades e na<br />

mídia, onde o anti-semitismo corre<br />

solto, quem vai responder por<br />

eles? O inglês, a música, as artes, a<br />

história geral?<br />

Cultura se obtém em espetáculos<br />

de teatro, concertos, cinema,<br />

televisão, ballet, internet, livros,<br />

muitos livros...<br />

E judaísmo?<br />

Infelizmente, o que se vê na<br />

maioria das casas, é a assimilação<br />

dos pais e avôs. Queremos nos pa-<br />

recer, cada vez mais, com os outros<br />

povos. Mas não nos iludamos: somos<br />

diferentes. Nem melhores, nem<br />

piores; apenas diferentes.<br />

É do nosso patriarca Abrão que<br />

aprendemos que D-us é um só.<br />

É do Egito que aprendemos o<br />

que é escravidão.<br />

É do Monte Sinai que aprendemos<br />

o que é ética e moral.<br />

É da destruição dos dois Templos<br />

que aprendemos o que é não<br />

aceitação.<br />

É da Inquisição que aprendemos<br />

que querem nos reformar.<br />

É do Holocausto que aprendemos<br />

que para o mundo não somos<br />

ninguém.<br />

É do Estado de Israel, do começo<br />

da nossa história - este mesmo<br />

Estado que temos que defender todos<br />

os dias - que redescobrimos que<br />

somos gente.<br />

E que sobrevivemos graças a<br />

nossa persistência.<br />

E sobrevivemos graças a nossa<br />

crença.<br />

Sobrevivemos graças aos nossos<br />

estudos.<br />

Para continuarmos nesse caminho,<br />

nossos filhos têm que aprender<br />

o que é ser judeu.<br />

* Sheilla Figlarz é cientista social,<br />

mediadora, árbitra e diretora de<br />

Operações e Marketing do jornal<br />

<strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />

5


6<br />

Logo pós a<br />

libertação, um<br />

médico soviético<br />

examina<br />

sobreviventes de<br />

Auschwitz. na<br />

Polônia, em 18 de<br />

fevereiro de 1945<br />

Crédito: Arquivo da<br />

Federation <strong>Na</strong>tionale<br />

des Deportes et<br />

Internes Resistants et<br />

Patriots<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

A libertação de Auschwitz em 1945<br />

o chegar ao campo de Auschwitz,<br />

as vítimas eram forçadas a entregar<br />

todos os seus pertences<br />

aos nazistas. Os haveres dos prisioneiros<br />

eram rotineiramente<br />

empacotados e enviados à Alemanha<br />

para distribuição à população civil<br />

ou para o uso da indústria alemã. O<br />

campo de Auschwitz foi libertado em<br />

janeiro de 1945. Existe um filme com<br />

tomadas feitas por militares soviéticos,<br />

mostrando pessoas e soldados<br />

soviéticos examinando as posses dos<br />

deportados para o campo de extermínio<br />

de Auschwitz. O filme está no<br />

<strong>Na</strong>tional Archives, EUA.<br />

Antes de matar<br />

as mulheres, os nazistascortavamlhes<br />

os cabelos.<br />

Grande quantidade<br />

de cabelo foi acondicionada<br />

em bolsas<br />

e era matériaprima<br />

para as fábricas<br />

alemãs. Sete<br />

toneladas de cabelo,<br />

140 mil mulheres<br />

assassinadas. Os<br />

nazistas lucravam<br />

com a morte. Faziam<br />

fertilizantes dos ossos<br />

humanos e os enviavam<br />

à empresa<br />

Strenn. Vendiam o<br />

cabelo às fábricas de tapeçaria. Para<br />

outra parte desta mesma indústria,<br />

os bandidos mandavam o ouro retirado<br />

dos dentes arrancados das bocas<br />

dos cadáveres. Todos esses troféus<br />

ocupavam 35 depósitos em Auschwitz.<br />

E há um que só contém óculos.<br />

Se não mais que um em cada dez<br />

prisioneiros usava óculos, quantos<br />

tiveram que morrer para acumular<br />

tudo isto? A roupa dos mortos. Quem<br />

na Alemanha iria usar a roupa de<br />

crianças assassinadas? O filme exibe<br />

uma enorme montanha de roupas, no<br />

total, 514.843 peças de roupas de<br />

homens, mulheres e crianças.<br />

A LIBERTAÇÃO DOS CAMPOS<br />

Enquanto as tropas Aliadas avançavam<br />

através da Europa numa série<br />

de ofensivas contra a Alemanha, começaram<br />

a encontrar prisioneiros dos<br />

campos de concentração. Muitos<br />

desses prisioneiros haviam sobrevivido<br />

às marchas da morte para o interior<br />

da Alemanha.<br />

As forças soviéticas em julho de<br />

1944 foram as primeiras a encontrar<br />

um campo nazista importante,<br />

o de Majdanek próximo de Lublin,<br />

na Polônia. Surpreendidos pela rápida<br />

movimentação dos soviéticos,<br />

os alemães tentaram esconder as evidências<br />

do extermínio em massa<br />

destruindo o campo. O pessoal do<br />

campo incendiou o grande crematório,<br />

mas na apressada evacuação<br />

deixaram intactas as câmaras de gás.<br />

No verão de 1944, os soviéticos<br />

também chegaram aos campos de extermínio<br />

de Belzec, Sobibor e Treblinka.<br />

Os alemães haviam desmontado<br />

esses campos em 1943, depois<br />

que a maioria dos judeus poloneses<br />

havia sido morta.<br />

Em janeiro de 1945 os soviéticos<br />

libertaram Auschwitz, o maior dos<br />

campos de extermínio e de concentração.<br />

Os nazistas haviam forçado a<br />

maioria dos prisioneiros de Auschwitz<br />

às marchas da morte, e quando<br />

os soldados soviéticos entraram<br />

no campo encontraram vivos somente<br />

alguns milhares de prisioneiros<br />

famintos. Havia abundante evidência<br />

do extermínio em massa em Auschwitz.<br />

Os alemães haviam destroçado<br />

a maioria dos depósitos no campo,<br />

mas nos que ficaram os soviéticos<br />

encontraram os pertences das<br />

vítimas. Descobriram, por exemplo,<br />

Uma cerimônia lembrará,<br />

em 2005, os 60 anos da<br />

libertação do campo de<br />

concentração de<br />

Auschwitz, terá a<br />

presença dos presidentes<br />

da França, Polônia, Israel<br />

e Rússia. Os governos de<br />

EUA e da Alemanha estão<br />

coordenando o evento. O<br />

campo foi libertado por<br />

tropas soviéticas em 27<br />

de janeiro de 1945.<br />

centenas de milhares de trajes de<br />

homens, mais de 800 mil vestidos de<br />

mulheres e mais de 7 toneladas de<br />

cabelo humano.<br />

Nos meses seguintes, os soviéticos<br />

libertaram outros campos nos<br />

Países Bálticos e na Polônia. Pouco<br />

depois da rendição alemã, as forças<br />

soviéticas libertaram também os campos<br />

de Stutthof, Sachsenhausen e<br />

Ravensbrueck.<br />

Poucos dias depois que os nazistas<br />

começaram a evacuar o campo,<br />

as forças americanas libertaram em<br />

11 de abril de 1945 o campo de concentração<br />

de Buchenwald, próximo<br />

de Weimar, Alemanha. No dia da libertação,<br />

uma organização da resistência<br />

dos prisioneiros assumiu o<br />

controle de Buchenwald para prevenir<br />

atrocidades dos guardas em retirada.<br />

As forças americanas libertaram<br />

mais de 20 mil prisioneiros em Buchenwald<br />

e também libertaram os<br />

campos de Dora-Mittelbau, Flossenbuerg,<br />

Dachau e Mauthausen.<br />

As forças britânicas libertaram<br />

campos na Alemanha do Norte, incluindo<br />

Neuengamme e Bergen-Belsen.<br />

Em meados de abril de 1945,<br />

entraram no campo de concentração<br />

de Bergen-Belsen, perto de Celle.<br />

Encontraram vivos ao redor de 60 mil<br />

prisioneiros, a maioria em condições<br />

críticas, por causa de uma epidemia<br />

de tifo. Mais de 10 mil morreram de<br />

desnutrição ou enfermidades a poucas<br />

semanas da libertação.<br />

Os libertadores encontraram<br />

condições inenarráveis nos campos,<br />

onde pilhas de cadáveres estavam<br />

sem enterrar. Somente com<br />

a libertação dos campos foi possível<br />

expor ao mundo as atrocidades<br />

dos nazistas. Os prisioneiros<br />

que sobreviveram pareciam esqueletos<br />

ambulantes por causa dos<br />

trabalhos forçados e pela falta de<br />

alimentação adequada. Muitos estavam<br />

tão débeis que não podiam<br />

mover-se. As doenças eram perigos<br />

constantes e muitos dos campos<br />

tiveram que ser queimados para<br />

prevenir a difusão de epidemias.<br />

Os sobreviventes dos campos enfrentaram<br />

um longo e difícil caminho<br />

de recuperação.<br />

SOBREVIVENTES<br />

Bart Stern descreve<br />

como sobreviveu<br />

para ser libertado<br />

no campo<br />

de Auschwitz,<br />

numa entrevista de 1992. <strong>Na</strong>sceu<br />

na Hungria em 1926. Após a ocupação<br />

alemã na Hungria, em março<br />

de 1944, Bart foi forçado a viver<br />

num gueto criado em sua cidade.<br />

De maio a julho de 1944, os<br />

alemães deportaram os judeus da<br />

Hungria para o campo de extermínio<br />

de Auschwitz, na Polônia ocupada.<br />

Bart foi deportado em vagão<br />

de carga para Auschwitz. Ali,<br />

foi selecionado para trabalhos forçados,<br />

escavando numa mina de<br />

carvão. Enquanto as forças soviéticas<br />

avançavam até Auschwitz em<br />

janeiro de 1945, os alemães forçaram<br />

a maioria dos prisioneiros<br />

numa marcha da morte para fora<br />

do campo. Junto com uma quantidade<br />

de prisioneiros doentes que<br />

estavam na enfermaria do campo,<br />

Bart foi um dos poucos prisioneiros<br />

que estava no campo no momento<br />

da libertação. Sobreviveu<br />

porque escondeu-se no campo mesmo<br />

depois que muitos dos outros<br />

prisioneiros tinham sido forçados<br />

à marcha da morte em janeiro de<br />

1945. Ele conta que “foi um grande<br />

milagre ter sobrevivido. Havia<br />

em frente de cada barracão, uma<br />

pequena cabine, que era uma separação,<br />

onde ficava o Blockaelteste,<br />

o chefe do barracão, e em<br />

cada uma das cabines havia uma<br />

caixa para o pão, o pão que era<br />

suprido, e ele entrava na caixa que<br />

tinha uma fechadura para ninguém


poder pegá-lo. Nessa porta, a dobradiça<br />

da caixa estava estragada,<br />

e eu me escondi ali de cabeça para<br />

baixo. Aí o pão veio até a mim, às<br />

vezes não vinha, mas por sorte veio.<br />

Eu estava tão magro, e pude vê-lo...<br />

e eu me fartei. Foi assim que permaneci<br />

vivo. Mas quando eles já tinham<br />

ido, os alemães, em torno de uma<br />

hora depois, já não havia sinais dos<br />

alemães, eu quis voltar aos barracões,<br />

mas os poloneses, os ucranianos,<br />

que não foram pegos para a marcha<br />

da morte, eles não deixariam que eu<br />

entrasse. Então, fiquei escondido no<br />

monte de cadáveres, pois na última<br />

semana quando o crematório não<br />

funcionava mais, os corpos eram empilhados<br />

uns sobre os outros, cada<br />

vez mais alto. E eu me enfiei entre<br />

aqueles corpos mortos porque eu estava<br />

com medo que eles voltassem<br />

ou coisa assim. Assim fiquei a noite<br />

toda ali e durante o dia ficava vagueando<br />

ao redor do campo, e é por<br />

isso que estou hoje vivo. Em 27 de<br />

janeiro eu fui um dos primeiros em<br />

Birkenau a serem libertos. Essa foi a<br />

minha chance de sobrevivência”.<br />

Kurt Klein descreve como um<br />

grupo de sobreviventes da marcha<br />

da morte foi encontrado numa aldeia<br />

tcheca, numa entrevista de<br />

1990. Ele nasceu em 1920. Com a<br />

intensificação do anti-semitismo<br />

nazista, a família de Kurt decidiu<br />

sair da Alemanha. Kurt foi para os<br />

Estados Unidos em 1937, mas seus<br />

pais não puderam sair antes que estourasse<br />

a Segunda Guerra Mundial.<br />

Os pais de Kurt foram então deportados<br />

para Auschwitz, na Polônia<br />

ocupada. Em 1942, Kurt se alistou<br />

no Exército dos Estados Unidos e<br />

foi treinado na inteligência militar.<br />

<strong>Na</strong> Europa, interrogou prisioneiros<br />

de guerra. Em maio de 1945,<br />

participou da rendição de um po-<br />

Kurt and Gerda Klein Foundation<br />

Kurt Klein e a esposa sobrevivente<br />

voado tcheco e voltou no dia seguinte<br />

para ajudar mais de cem mulheres<br />

que haviam sido abandonadas<br />

ali durante uma marcha da morte.<br />

A futura esposa de Kurt, Gerda,<br />

era uma das mulheres deste grupo.<br />

E eu fui orientado pela unidade<br />

do governo militar de que eles ouviram<br />

falar de um grupo de mulheres<br />

O “Prêmio Nobel<br />

de Literatura de 2002”, o<br />

húngaro Imre Kertész,<br />

afirmou recentemente:<br />

“Quando penso em<br />

um novo romance, penso<br />

sempre em Auschwitz”. Ele<br />

qualifica o Holocausto não<br />

apenas como um capítulo<br />

sombrio da História, mas,<br />

principalmente, como um<br />

retrato da degradação do<br />

homem moderno.<br />

judias polonesas e húngaras que haviam<br />

sido abandonadas e trancadas<br />

pelos guardas da SS num prédio vazio<br />

de uma fábrica. E quem as tinha<br />

libertado foram nossas tropas. Então<br />

nós sabíamos, é claro, que tínhamos<br />

que fazer algo por elas, mesmo<br />

que nós não pudéssemos fazer alguma<br />

coisa mais aquele dia, e pela<br />

manhã nos preparamos com grandes<br />

reforços de suprimentos para<br />

cuidar do caso. E eu ouvi dizer<br />

onde aquele prédio ficava, e me recordo<br />

aproximando-me dele, saindo<br />

do jipe e caminhando através<br />

do pátio onde eu vi algumas figuras<br />

esqueléticas, ahn... tentando<br />

obter um pouco de água de uma<br />

bomba manual. Mas bem do outro<br />

lado, inclinada contra a parede,<br />

próximo da entrada do prédio eu<br />

vi uma garota em pé, e eu resolvi ir<br />

até ela. E eu perguntei-lhe em alemão<br />

e em inglês imaginando que<br />

ela falasse uma das línguas, e ela<br />

me respondeu em alemão. Perguntei<br />

sobre suas companheiras e ela<br />

disse: “Vem, deixe-me mostrar-lhe”.<br />

E fomos para dentro da fábrica. Foi<br />

uma cena indescritível. Havia mulheres<br />

espalhadas pelo chão, sobre<br />

montes de palha, algumas delas obviamente<br />

com a marca da morte em<br />

suas faces. Elas, todas elas pareciam<br />

tão horríveis, e é claro nós podíamos<br />

ver que estavam magérrimas<br />

e doentes. E algo que eu nunca vou<br />

poder esquecer, foi uma coisa extraordinária<br />

que aconteceu. A garota<br />

que fora minha guia fez uma<br />

espécie de gesto envolvente sobre<br />

aquela cena de devastação, e disse<br />

as seguintes palavras: “Nobre seja<br />

o homem, misericordioso e bom”. E<br />

eu, a duras custas, pude então crer<br />

que ela era capaz de declamar um<br />

poema do poeta alemão Goethe, o<br />

qual era intitulado — era intitulado<br />

— “O Divino”, bem naquele momento.<br />

Pois não havia mais nada<br />

que ela pudesse dizer para evidenciar<br />

a amarga ironia de uma situação<br />

melhor que aquela a que se referia.<br />

E foi uma experiência total-<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

mente demolidora para mim.<br />

Sam Itzkowitz descreve, numa<br />

entrevista de 1991, os primeiros<br />

momentos de sua libertação. Ele nasceu<br />

em Makow, Polônia, em 1925.<br />

Os alemães invadiram a Polônia em<br />

setembro de 1939. Quando ocuparam<br />

Makow, Sam fugiu para o território<br />

soviético. Voltou a Makow para<br />

buscar provisões, mas foi forçado a<br />

ficar no gueto. Em 1942 foi deportado<br />

para Auschwitz. Enquanto o<br />

exército avançava em 1944, Sam e<br />

outros prisioneiros foram mandados<br />

para campos na Alemanha. Os prisioneiros<br />

foram forçados a uma marcha<br />

da morte no início de 1945. As<br />

forças americanas libertaram Sam<br />

depois que ele escapou durante um<br />

bombardeio. “A história termina com<br />

os tanques entrando lentamente e<br />

eles me vendo sair dentre as árvores<br />

e pensando que eu era alemão, então<br />

pararam e tentaram me capturar<br />

como prisioneiro de Guerra. Bem,<br />

quando eles viram meu uniforme, e<br />

então, quando viram as condições<br />

em que eu estava... Eu não quero<br />

repetir o que um deles disse. Ele começou<br />

a amaldiçoar como um... (risos).<br />

Ele disse, Maldição, D-us....<br />

Continua na próxima página<br />

7<br />

Sobreviventes do<br />

campo de<br />

concentração pouco<br />

após a libertação.<br />

Crédito: United States<br />

Holocaust Memorial<br />

Museum


8<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

Você sabe, bem como um soldado fala. Ele remexeu no seu<br />

bolso e tirou uma barra de chocolate. E ele a deu para mim.<br />

Bem, o chocolate era realmente duro, meio-amargo e substancial.<br />

Tentei morder, mas era coisa infernal, não conseguia.<br />

Queria engolir tudo, se pudesse. Mas não conseguia.<br />

Então chupei o chocolate, e ele ficou bem ali parado, olhando e<br />

olhando para mim. Ele mexeu no bolso de novo e me deu um<br />

maço de cigarros. Eu não fumava, mas guardei no meu bolso.<br />

Depois ele tirou alguns biscoitos da ração ... e oh!... uma lata de<br />

carne em conserva, tudo o que ele tinha — ele só ia me passando,<br />

e eu parecia como um pequeno garoto numa loja de brinquedos.<br />

Eu quero dizer, bem... ele me deu um tapinha no ombro e<br />

disse: “Doutor.” Ele estava tentando me dizer que ele ia arrumar<br />

um médico para mim. Sem dúvida, cerca de dez minutos mais<br />

tarde ele voltou com um... Eu não sei se era um doutor, ou se era<br />

estudante de medicina ou qualquer coisa. E ele deu olhada para<br />

mim e deu o sinal. Eles vieram com uma maca, e me pegaram e me<br />

levaram para um campo… ah… um... dispensário. E eu pensei<br />

que era um judeu...ah... doutor ali. Ele olhou para mim e me<br />

examinou. Primeiro de tudo, ele não quis me dar nenhuma comida.<br />

Só deu-me chá, deu-me farinha com um pouco de leite desnatado,<br />

e...pro inferno, eu podia comer um cavalo — é isso, tal<br />

era a minha fome. Ele ficava gritando: “Vá com calma. Vá com<br />

calma”. Então, eu pensei comigo, “Você fique e vá com calma, ele<br />

quer me matar. Hitler não acabou comigo, mas ele está tentando<br />

fazer isso”. Mas gradualmente, você sabe, a cada duas horas,<br />

mais ou menos, ele aumentava minha quantidade de comida.<br />

Então finalmente eu entendi que ele tinha boas intenções.<br />

Eu estava ainda com fome, e no segundo e no terceiro<br />

dia, não conseguia parar de comer. Ele estava sentado lá, só<br />

me vigiando como eu estava devorando qualquer coisa que<br />

punha sobre a mesa – batata picada, toucinho, salsichas –<br />

qualquer coisa que colocasse lá. Eu comi desse jeito por<br />

quarto dias até que finalmente me saciei”.<br />

Pat Lynch contou sobre as condições dos<br />

sobreviventes no campo, numa entrevista<br />

data de 1995. Ela nasceu nos Estados<br />

Unidos e foi uma das milhares de enfermeiras<br />

americanas que serviram nos hospitais<br />

de movimento durante a libertação<br />

dos campos de concentração na Europa. Cuidou de sobreviventes<br />

dos campos, muitos dos quais estavam numa condição<br />

critica ao tempo da libertação.<br />

“Eles eram tão magros. Eu não podia segurar nenhum deles.<br />

Tentei isso, mas se eu fosse levantá-los teria rasgado sua<br />

pele. Assim, nós tínhamos que ter muito, muito cuidado ao<br />

movê-los. A pele estava simplesmente terrível. De forma que<br />

precisávamos, oh, de pelo menos três pessoas para movê-los;<br />

uma pessoa para segurar a cabeça, uma pessoa para segurar as<br />

pernas, e muito cuidado para levantá-las e colocá-las em outro<br />

lugar, com a ajuda de outra pessoa segurando o corpo por<br />

baixo. Tivemos que tirá-los daquele lugar, ir em frente e leválos<br />

para fora dali. Colocamos tendas fora. Tínhamos camas<br />

portáteis e roupa de cama limpa e cobertas. Assim, os levamos<br />

para fora dali. Ou, se havia um hospital nas proximidades, nós<br />

íamos e assumíamos o comando daquele hospital e os levávamos<br />

para lá. Mas, ah, não podíamos, pelo tifo, aquilo era a<br />

coisa principal, não havia medicação, só tratamento de apoio,<br />

e recebiam fluidos sob a pele deles. Como não podiam beber<br />

nada, tivemos que alimentá-los com conta-gotas. E não podíamos<br />

aplicar-lhes injeções hipodérmicas porque não havia lugar<br />

para espetar-lhes as agulhas. Não havia pele com músculos...<br />

mas, só pele e ossos. Não havia local para aplicar-lhes uma<br />

injeção”. (Depoimentos colhidos dos arquivos da United States<br />

Holocaust Memorial Museum – Collections).<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Memória<br />

Diário relata drama<br />

no gueto de Varsóvia<br />

Recém-descoberto, documento escrito por jovem judia não-identificada está em Israel<br />

Nos últimos dias da resistência<br />

judaica contra os nazistas no gueto<br />

de Varsóvia, em 1943, uma jovem<br />

judia manteve um diário em<br />

que relatou sua luta por sobrevivência<br />

num porão lotado.<br />

O diário de seis páginas, aparentemente<br />

o único relato escrito<br />

durante a resistência que sobreviveu<br />

à batalha, foi encontrado num<br />

museu do Holocausto, em Israel.<br />

A autora, cujo nome e destino<br />

são desconhecidos, descreveu um<br />

período de dez dias durante o mês<br />

de levante, em que centenas de judeus<br />

resistiram contra o extermínio<br />

pelos nazistas.<br />

Ela conta que sobrevivia com uma<br />

tigela de sopa e uma caneca de café<br />

por dia. Do lado de fora, os nazistas<br />

incendiavam casas.<br />

“O gueto está queimando pelo<br />

quarto dia”, escreveu a jovem. “Você<br />

vê apenas as chaminés de pé e os<br />

esqueletos das casas incendiadas.<br />

Num primeiro momento, essas visões<br />

provocam um terrível calafrio.”<br />

Escrevendo em polonês, a moça<br />

nunca mencionou seu nome. Apenas<br />

disse que formava parte de um grupo<br />

juvenil judaico, indicando que<br />

estaria no final da adolescência ou<br />

no início dos 20 anos.<br />

O diário faz parte de uma coleção<br />

de cartas, anotações e páginas<br />

coletadas depois da Segunda Guerra<br />

por Adolf-Abraham Berman, um sobrevivente<br />

do gueto.<br />

Berman doou seu acervo nos anos<br />

70 à Casa dos Lutadores do Gueto,<br />

no Kibutz (fazenda coletiva) Lochamei<br />

Haglettaot, no norte de Israel.<br />

Especialistas do museu se deram conta<br />

da importância do acervo apenas recentemente,<br />

enquanto organizavam o<br />

arquivo para divulgação ao público.<br />

“A raridade desse diário é que é o<br />

único encontrado no mundo, pelo<br />

que sabemos, que foi escrito justamente<br />

no momento da luta”, disse<br />

Yossit Shavit, diretor dos arquivos do<br />

museu. “Os outros diários foram escritos<br />

depois.”<br />

Segundo Shavit, a autora provavelmente<br />

morreu na demolição do<br />

gueto. “Mas ela pode muito bem es-<br />

tar em um asilo nos EUA”.<br />

O gueto de Varsóvia foi criado<br />

na Polônia ocupada pelos nazistas<br />

em 1939. Judeus das redondezas<br />

foram forçados a se aglomerar no<br />

bairro. Em seu ápice, em 1941, cerca<br />

de 450 mil judeus viviam nos<br />

300 hectares do gueto. A maioria<br />

morreu de fome e frio ou pelas câmaras<br />

de gás nazistas.<br />

Quando os alemães começaram<br />

a derrubar o gueto, em 1943, 60<br />

mil judeus ainda viviam lá. Centenas<br />

deles revidaram ao ataque com<br />

poucas armas, munição, comida ou<br />

bebida. Eles resistiram por 27 dias,<br />

até que os nazistas incendiaram o<br />

local por completo.<br />

“Estamos dentro de um abrigo”,<br />

começa o diário no sexto dia da<br />

resistência, em 24 de abril de 1943.<br />

“Olhamos pela janela e vimos o gueto<br />

incendiado, completamente tomado<br />

pelas chamas”, conta, segundo<br />

trechos publicados pelo jornal<br />

“Jerusalem Post”.<br />

FILME<br />

VJ INDICA<br />

A <strong>Na</strong>u dos insensatos<br />

(Drama)<br />

Mais conhecido como o último filme de Vivien Leigh,<br />

a estrela de ...E o Vento Levou,<br />

(Ship of fools), Estados Unidos, 1965<br />

Direção: Stanley Kramer Elenco: Vivien Leigh, Simone<br />

Signoret, Jose Ferrer, Lee Marvin, Oskar Werner,<br />

Elizabeth Ashley e George Segal.<br />

Formato: preto e branco<br />

Duração: 148 minutos.<br />

Em outro momento, um abrigo<br />

vizinho é incendiado e os ocupantes<br />

tentam se refugiar no esconderijo<br />

da autora. Os novatos não<br />

têm comida e são barulhentos, aumentando<br />

as chances de descoberta<br />

pelos nazistas.<br />

“O abrigo está muito lotado por<br />

causa do grande número de pessoas<br />

e do número ainda maior que quer<br />

entrar no esconderijo. As pessoas<br />

estão batendo para entrar. Todo<br />

mundo quer entrar.”<br />

“O ar no bunker é horrível, muitos<br />

perdem a consciência. Dormir<br />

está fora de questão devido ao perigo<br />

de sufocamento”, diz, ainda, segundo<br />

o jornal israelense.<br />

O último relato, no dia 2 de<br />

maio, é o mais longo. “A única coisa<br />

que temos é nosso esconderijo.<br />

Claro que não será um lugar seguro<br />

por muito tempo”. Suas últimas palavras<br />

escritas são: “Estamos vivendo<br />

pelo dia, pela hora, pelo momento”.<br />

(Da Associated Press).<br />

Passageiros de um navio que viaja do México para a Alemanha pré-<br />

Hitler, nos anos 30, representam a grande sociedade daquela época. A<br />

tripulação é alemã, incluindo o médico do navio que se apaixona por uma<br />

das passageiras, a Condessa, uma nobre espanhola mal-falada. Uma jovem<br />

americana, Jenny, fica fascinada e confusa com alguns passageiros,<br />

entre eles seguidores do nazismo, judeus abastados, vulgares trupes de<br />

dança, amantes amargos e o desvanecimento de uma relação de dois<br />

jovens artistas americanos. A viagem de 36 dias do navio mostra muitos<br />

caráteres. (Obs: O filme é bom, mas muito difícil de encontrar).<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○


Heliete Vaitsman *<br />

Sorriso radiante, decote profundo,<br />

metralhadora verbal que atira em todas<br />

as direções, a escritora e jornalista<br />

catalã Pilar Rahola é famosa na Europa<br />

pela paixão com que defende causas<br />

variadas. Aos 46 anos, essa feminista<br />

pós-moderna, ex-militante da Izquierda<br />

Republicana Catalana — partido pelo<br />

qual foi deputada e vice-prefeita de<br />

Barcelona — corre mundo denunciando<br />

tudo o que considera injusto e perigoso.<br />

Numa noite pode estar na TV espanhola,<br />

jurando boicotar para sempre os<br />

filmes de Pedro Almodóvar, porque ele,<br />

horror dos horrores, matou sete touros<br />

para rodar “Fale com ela”. No dia seguinte<br />

voa para o Rio, ou Nova York,<br />

em campanha contra o integrismo religioso<br />

islâmico, que considera a maior<br />

ameaça para a humanidade neste início<br />

de século XXI.<br />

“Se D-us existe, é mulher, negra,<br />

lésbica e pobre”— proclama, com a<br />

segurança de filha da alta burguesia<br />

católica, mãe de três filhos, que descobriu<br />

o feminismo “não por trauma<br />

pessoal mas por solidariedade”.<br />

Para manter o equilíbrio em meio a<br />

uma agenda superlotada — só em 2003,<br />

cruzou o Atlântico 15 vezes — Pilar<br />

Rahola corre nove quilômetros diários<br />

na esteira do ginásio instalado nos fundos<br />

da casa de Badalona, em Barcelona,<br />

enquanto assiste na telinha aos<br />

programas femininos matutinos cujos<br />

lugares-comuns desanca em colunas nos<br />

jornais “El País”, “El Periódico” e “Avui”.<br />

A TV faz parte do “enxoval” do segundo<br />

marido, empresário basco com<br />

quem só se casou por exigência do governo<br />

russo, quando o casal foi à Sibéria<br />

adotar Ada, a terceira filha, hoje<br />

com 4 anos.<br />

Pilar tem outros dois filhos, Noé,<br />

12 anos, também adotado, e Sira, 24<br />

anos, do primeiro casamento. Viajante<br />

incansável (esteve 20 vezes no Oriente<br />

Médio, cobriu conflitos como o dos Bálcãs<br />

e a guerra da Etiópia-Eritréia), gosta<br />

de promover roteiros culturais familiares<br />

pela Europa.<br />

Antes de José Saramago se declarar,<br />

em 2002, contra a ação israelense<br />

nos territórios palestinos, comparandoos<br />

aos crimes praticados contra os judeus<br />

no Holocausto, Pilar seguiu com<br />

Sira, em Portugal, o percurso do livro<br />

“Memorial do convento”, lendo emocionada<br />

as descrições do escritor. Agora,<br />

o define como “o exemplo mais relevante<br />

de que alguns podem escrever<br />

como anjos e pensar como imbecis”.<br />

Segundo Pilar, o anti-semitismo da<br />

esquerda européia, expresso por Saramago,<br />

é uma questão mal resolvida que<br />

remonta à Inquisição. Atribui ao antisemitismo,<br />

na esteira da crise Israelpalestinos,<br />

a condescendência do pensamento<br />

politicamente correto ante o<br />

integrismo religioso islâmico.<br />

— É o maior risco vivido pelo mundo<br />

desde o nazismo e o stalinismo. A<br />

esquerda repete erros do passado ao<br />

flertar com uma ideologia que desafia<br />

a modernidade — critica.<br />

As acusações, reiteradas no Rio<br />

durante recente palestra no Hotel Glória,<br />

a convite do Departamento de<br />

História do Instituto de Filosofia e<br />

Ciências Sociais da UFRJ, não vêm embaladas<br />

em sisudez. Gestos expansivos,<br />

bem humorada, Pilar se define<br />

como uma libriana veemente, igualmente<br />

pronta a bradar contra o uso<br />

político da religião e a sonhar a utopia<br />

que descreve no livro “Mujer liberada,<br />

hombre cabreado” (editora<br />

Planeta argentina, 2000):<br />

— A grande revolução do século<br />

XXI será a descoberta<br />

do homem<br />

por si mesmo,<br />

porque o machismo<br />

destruiu a<br />

mulher e o homem.<br />

A maior<br />

revolução feminina<br />

será a revolução<br />

do homem,<br />

que precisa libertar-se<br />

de seus<br />

medos, de sua<br />

necessidade de<br />

domínio, de sua<br />

insegurança. Por<br />

enquanto não<br />

existe esse homem novo, o que existe<br />

é o homem desconcertado diante<br />

das novas exigências femininas.<br />

Graças a uma campanha de que<br />

Pilar participou ativamente, o novo Código<br />

Penal da Espanha, de 1996, incluiu<br />

um artigo tipificando como delito<br />

penal a violência doméstica, antes<br />

considerada “falta” civil cuja única<br />

conseqüência era a multa, embora<br />

mate mais mulheres espanholas entre<br />

25 e 35 anos que o câncer de<br />

mama. O “machismo criminoso” ibérico<br />

não cede facilmente. Um aspecto<br />

dele, adverte Pilar, são as touradas,<br />

responsáveis pelo fim de seu “idílio”<br />

com Pedro Almodóvar e pela ira com<br />

que os homens espanhóis a criticam:<br />

— Se tourada é cultura, então canibalismo<br />

é gastronomia — afirma.<br />

Cinéfila na juventude (“Amarcord”<br />

é meu filme-fetiche), agora curte assistir<br />

com Ada a filmes como “Shrek” e<br />

“Idade do gelo”. Reivindica “o direito à<br />

frivolidade” na sala escura:<br />

— Para mim, ao contrário do tea-<br />

tro e da literatura, cinema é evasão,<br />

mas não pode ser retrógrado. Gosto dos<br />

músculos de Ben Affleck para me divertir<br />

sem pensar. O que não tolero são<br />

as telenovelas latinas, com seu estereótipo<br />

da mulher dominada. “Bete, a feia”<br />

não é inocente, com aquela mensagem<br />

perniciosa de que a protagonista só tem<br />

salvação se ficar bonita.<br />

Não que Pilar rejeite a beleza.<br />

Atraente, sandálias coloridas altíssimas,<br />

perfumada com Angel, de Thierry<br />

Mugler — item essencial da bagagem,<br />

junto com o leite de soja da dieta<br />

vegetariana — o que ela abomina é a<br />

“pressão excessiva” em favor do emagrecimento<br />

e das cirurgias plásticas.<br />

Não tem intenção de passar pelo bisturi,<br />

garante. Tanta auto-estima talvez<br />

venha da valorização das mulheres<br />

em sua família, que teve membros<br />

fuzilados e empresas confiscadas<br />

durante a Guerra Civil:<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

A Dom Quixote que deu certo<br />

“ <strong>Na</strong> <strong>verdade</strong>, <strong>estamos</strong><br />

diante de um fenômeno<br />

alimentado por elites<br />

milionárias e ditaduras que<br />

estão no poder há meio<br />

século e agora usam<br />

celular e tecnologia de<br />

ponta para praticar uma<br />

política medieval. O<br />

terrorismo é planejado para<br />

destruir a liberdade, não<br />

para distribui-la. ”<br />

— Crescemos, eu e minha irmã,<br />

numa casa livre,<br />

onde se discutia<br />

de tudo no almoço<br />

e no jantar,<br />

embora do lado de<br />

fora existissem a<br />

educação católica<br />

e a ditadura de<br />

Franco. Aprendi<br />

com meu pai o sentimento<br />

da solidariedade.<br />

Um dia<br />

ele me disse que<br />

eu era judia, querendo<br />

dizer que<br />

assim devia me<br />

sentir para entender<br />

o que os judeus tinham sofrido.<br />

A vida familiar incluía verões em<br />

Cadaquès, na quinta vizinha à de Salvador<br />

Dali, hoje museu, cujo muro pulava<br />

com as amigas, para conversar<br />

com o pintor. Estudante da Universidade<br />

de Barcelona, formou-se em Filologia<br />

Hispânica e Catalã, conheceu<br />

o mundo de mochila nas costas, bebeu<br />

na fonte de “O segundo sexo”,<br />

de Simone de Beauvoir, e descobriu a<br />

dificuldade masculina de conviver com<br />

mulheres bem-sucedidas.<br />

Para promover os direitos femininos<br />

no presente, diz, é preciso ir além<br />

do nível pessoal e defender primeiro<br />

o Estado laico. Daí o apoio à proibição<br />

do véu islâmico nas escolas francesas<br />

e a indignação com governos<br />

que proíbem o aborto legal, “o que<br />

leva milhares de mulheres à morte em<br />

abortos clandestinos”.<br />

— Nenhuma fé tem o direito de<br />

dar ordens a cidadãos livres. “Deuses<br />

em casa, leis na rua” é o lema do pacto<br />

republicano cujo rompimento seria<br />

trágico para o mundo — inflama-se.<br />

Em viagem recente ao Chile, comprou<br />

briga com a Igreja Católica, que dificulta<br />

a aprovação do divórcio no país.<br />

Pilar liderou a campanha que acabou<br />

tirando das livrarias da Espanha, há<br />

quatro anos, o livro em que um imã<br />

islâmico, com milhares de seguidores<br />

entre os imigrantes pobres norte-africanos,<br />

defendia o “espancamento leve”<br />

das mulheres pelos maridos em casos<br />

de “mau” comportamento.<br />

A livre circulação no Oriente Médio<br />

de livros como o do imã — ou do<br />

“Mein Kampf”, de Hitler, e dos apócrifos<br />

“Protocolos dos sábios de Sião”<br />

— não chega a espantar Pilar, por<br />

ocorrer numa região governada por<br />

“ditaduras despóticas e teocráticas<br />

que alimentam o fanatismo”. O que a<br />

espanta é a convivência dos europeus<br />

com os imãs mais fundamentalistas,<br />

que, financiados pelos sauditas, expulsaram<br />

as lideranças progressistas<br />

das organizações comunitárias islâmicas<br />

em várias cidades européias. As<br />

maiores vítimas do pensamento integrista<br />

são as mulheres:<br />

— Há hoje 135 milhões de mulheres<br />

vítimas de mutilação genital no<br />

mundo. Milhares de moças que vivem<br />

na Europa são enviadas todos os anos<br />

pelas famílias aos países de origem,<br />

principalmente na África, para a circuncisão<br />

do clitóris, um processo doloroso<br />

e arriscado, um crime. Por que<br />

aceitamos que isso continue? Dói-me<br />

que a dor feminina seja silenciosa e<br />

não tenha espaço na agenda política.<br />

Ainda existe apedrejamento feminino<br />

por adultério e isso não parece preocupar<br />

ninguém. Essa é uma das minhas<br />

broncas contra a ONU, organização<br />

tão inútil, que recentemente nomeou<br />

a Líbia para presidir uma comissão<br />

de direitos humanos!<br />

Ao mencionar a Líbia, Pilar Rahola<br />

ressalva: não sofre de islamofobia,<br />

“doença” que vitimou a jornalista italiana<br />

Oriana Fallaci. O que a jornalista<br />

catalã diz combater é “o islamismo<br />

paranóico, que pode destruir o Islã,<br />

assim como o nazismo quase destruiu<br />

a Europa e o stalinismo destruiu<br />

nossas utopias”. Acredita no sucesso<br />

de sua cruzada para que os pensadores<br />

de esquerda abandonem a<br />

idéia de que os integristas, inclusive<br />

na sua vertente terrorista,<br />

representam a rebelião<br />

de pobres contra ricos:<br />

— <strong>Na</strong> <strong>verdade</strong>, <strong>estamos</strong> diante<br />

de um fenômeno alimentado<br />

por elites milionárias e ditaduras<br />

que estão no poder há<br />

meio século e agora usam celular<br />

e tecnologia de ponta para praticar<br />

uma política medieval. O terrorismo<br />

é planejado para destruir a liberdade,<br />

não para distribui-la.<br />

9<br />

* Heliete Vaitsman<br />

escreveu este artigo que foi<br />

publicado em O Globo, dia<br />

22 de outubro de 2004


10<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

Tudo sobre Arafat,<br />

“filme de Pedro Almodóvar”<br />

uando inevitavelmente ocorrer a<br />

alguém, algum dia, a malfadada<br />

idéia de filmar a biografia<br />

de Yasser Arafat, não poderá<br />

encontrar um diretor mais adequado<br />

que o espanhol Pedro Almodóvar,<br />

especializado em temas<br />

surrealistas e grotescos. O roteiro da<br />

película será escrito no estilo “novilíngua”,<br />

que George Orwell descreveu em<br />

seu livro 1984, (os assassinos-suicidas<br />

são mártires; a destruição de Israel é o<br />

direito de retorno; os terroristas são<br />

lutadores pela liberdade).<br />

A vida de Arafat é uma trama cheia<br />

de elementos sensacionalistas, onde<br />

não falta o homossexualismo; incríveis<br />

escapadas da morte; o desfalque de<br />

centenas de milhões de dólares doados<br />

ao povo palestino por países generosos<br />

e ingênuos; seqüestros de aviões de<br />

passageiros; assassinatos de atletas em<br />

Munique; suicídios; bombas; doutrinamento<br />

de toda uma geração no ódio e<br />

o fanatismo; mentiras fantásticas e calúnias<br />

absurdas (Israel está causando<br />

câncer nos palestinos com urânio; os<br />

Templos de Salomão e Heródes nunca<br />

existiram; o Holocausto é uma invenção<br />

sionista; os personagens da Bíblia<br />

eram todos palestinos; as listras azuis<br />

da bandeira de Israel simbolizam seu<br />

afã expansionista, pois representam os<br />

rios Nilo e Eufrates).<br />

Para que o filme tenha um mínimo<br />

de ingrediente romântico terá um casamento<br />

tardio e de aparência com uma<br />

esposa muito mais jovem, loura oxigenada,<br />

educada em um convento e convertida<br />

ao islamismo, mas que mantém<br />

uma grande vida em Paris, onde não<br />

lhe faltam os amantes.<br />

O filme estará na tradição do Teatro<br />

do Absurdo: um terrorista multimilionário<br />

adulado pelo mundo e venerado por<br />

seu povo morto de fome, a quem fez<br />

vítima de sua corrupção e do seu despotismo.<br />

Um líder que recebeu o prêmio<br />

Nobel da Paz, apesar do seu objetivo,<br />

franco para seu povo ou dissimulado para<br />

o resto do mundo, sempre foi o mesmo:<br />

a destruição do Estado de Israel. E ao<br />

final, uma misteriosa enfermidade, que<br />

acaba numa morte cuja lentidão não foi<br />

obstáculo para que seus impacientes<br />

sucessores planejassem seu enterro<br />

enquanto ainda vivia.<br />

A película não precisará<br />

chamar-se necessariamente<br />

“Tudo sobre Arafat”. Poder-seia<br />

tornar a utilizar qualquer<br />

outro título dos filmes de Almodóvar,<br />

como por exemplo<br />

“Matador” (de 1986) ou “Carne<br />

trêmula” (de 1997).<br />

Ou, se o diretor decidir que o<br />

filme seja tratado desde o ponto<br />

de vista do povo palestino que finalmente<br />

abre os olhos sobre Arafat,<br />

o título deveria ser “O que fizemos<br />

para merecer isto?” (1984).<br />

E se a protagonista principal fosse<br />

a sra. Suha Arafat, a película poderia<br />

chamar-se “De saltos altos”,<br />

(1991), ou “Mulher à beira de um ataque<br />

de nervos” (1988).<br />

Arafat morto: as reações<br />

Em Israel não há manifestações de<br />

alegria ou júbilo pela morte de um inimigo<br />

que tinha as mãos manchadas de<br />

sangue judeu, de um terrorista dedicado<br />

à destruição de Israel que foi responsável<br />

pela morte de mais judeus que<br />

nenhuma outra pessoa desde a época<br />

de Hitler. A reação, em geral, foi uma<br />

muito limitada e pálida esperança de que<br />

os novos dirigentes palestinos abandonem<br />

a fracassada tática de querer dobrar<br />

Israel por meio do terror, e escolham<br />

o caminho da convivência pacífica.<br />

A reação do mundo foi diametralmente<br />

oposta. Jacques Chirac, presidente<br />

da França, disse que Arafat foi “um<br />

homem de coragem e convicção, que<br />

por 40 anos combateu pelos direitos nacionais<br />

palestinos”.<br />

(Nota: faz 40 anos, em 1964 faltavam<br />

ainda três anos para a Guerra dos<br />

Seis Dias quando Israel ocupou Gaza e<br />

a Margem Ocidental. Assim, não são<br />

muito claros a quais direitos nacionais<br />

palestinos se refere Chirac).<br />

Kofi Annan, o secretário das <strong>Na</strong>ções<br />

Unidas, disse: “estou emocionado pela<br />

morte de Arafat. É trágico que não se<br />

tenha concretizado o Acordo de Oslo”.<br />

(Nota: Annan não mencionou que<br />

a razão pela qual não se concretizou<br />

Oslo foi a inexplicável rejeição de Arafat<br />

à muito arriscada oferta do então<br />

primeiro-ministro Barak em Camp David,<br />

no ano de 2000, de entregar-lhe<br />

toda Gaza, 92% da Margem Ocidental,<br />

e metade de Jerusalém. Em vez de<br />

aceitar, Arafat deu rédea solta poucas<br />

semanas depois a uma cruel guerra de<br />

terror contra os israelenses que até<br />

agora não terminou).<br />

A União Européia enalteceu Arafat por<br />

sua determinação à causa palestina.<br />

(Nota: a União Européia não julgou<br />

necessário explicar que a causa palestina,<br />

segundo a interpretação de Arafat,<br />

era a destruição de Israel e sua<br />

substituição por um Estado palestino).<br />

O Vaticano elogiou Arafat dizendo<br />

que era “um líder que lutou pela independência<br />

de seu povo. Rogamos a D-us<br />

que dê descanso eterno à sua alma e<br />

paz à Terra Santa”.<br />

(Nota: efetivamente é possível que<br />

agora, depois da morte de Arafat, a<br />

paz chegue à Terra Santa).<br />

O único líder no mundo que vê as<br />

coisas como são, ou, talvez, o único<br />

que não é hipócrita, é o primeiro-ministro<br />

da Austrália, John Howard, que<br />

disse: “A história o julgará severamente<br />

por seu fracasso em aceitar a proposta<br />

de paz de Israel”.<br />

Os bancos da Suíça não se manifestaram<br />

oficialmente, mas fontes fidedignas<br />

asseguram que estão felizes já que<br />

parece que Arafat levou para a tumba<br />

os números de suas contas secretas.<br />

Quem é Suha Arafat?<br />

Suha Arafat, filha de um casal árabe-cristão<br />

— o pai banqueiro, educado<br />

em Oxford, e a mãe, Raymonda Tawil,<br />

conhecida jornalista palestina — nasceu<br />

em Jerusalém e foi educada, primeiro<br />

em <strong>Na</strong>blus e Ramallah, e depois<br />

estudou na Universidade de Sorbonne,<br />

em Paris, onde seus pais tinham um<br />

apartamento.<br />

Conheceu Arafat quando um jornal<br />

francês a enviou para entrevistálo.<br />

Arafat a tomou como assistente<br />

de relações públicas e, em seguida,<br />

como conselheira econômica da OLP.<br />

Com a idade de 28 anos, quando Arafat<br />

tinha 62, os dois casaram em Túnis<br />

após a conversão de Suha ao Islã.<br />

O matrimônio foi mantido em segredo<br />

durante 15 meses.<br />

Em julho de 1995 Suha deu a luz a<br />

sua filha Zahwa num exclusivo hospital<br />

de Paris, onde a diária custava mais de<br />

mil libras esterlinas. Explicou que “o<br />

bebê havia sido concebido em Gaza, mas<br />

como as condições sanitárias ali são tão<br />

terríveis, preferi dar a luz em Paris porque<br />

não quero ser uma heroína e arriscar<br />

meu bebê”.<br />

Sempre foi muito franca ao expressar<br />

nas entrevistas seu ódio aos israelenses<br />

e sua oposição a qualquer processo<br />

de normalização com eles.<br />

Em novembro de 1999, durante uma<br />

reunião com Hillary Clinton, esposa do<br />

então presidente americano, Suha, inspirada<br />

pelas clássicas acusações antisemitas<br />

da Idade Média, acusou Israel<br />

de envenenar o ar e a água dos palestinos<br />

e de causar-lhes, de forma premeditada,<br />

câncer e outras horríveis<br />

enfermidades. (Hillary Clinton comentou<br />

que as acusações de Suha Arafat<br />

“não ajudavam o processo de paz”).<br />

Em 2000, quando estourou a “intifada”<br />

(guerra de terror promovida por<br />

Arafat) mudou-se com sua filha para a<br />

França, onde recebeu a nacionalidade<br />

francesa. Desde aquela data nunca (até<br />

dias antes da morte de Arafat) visitou<br />

seu esposo em Ramallah ou se interessou<br />

pelos palestinos. Sua única contribuição<br />

à “intifada” foi dizer que se tivesse<br />

um filho, com gosto o enviaria<br />

para se suicidar em algum restaurante,<br />

ou centro comercial israelense.<br />

Em Paris vive com uma limitada<br />

mesada mensal de cem mil dólares<br />

que Yasser Arafat lhe enviava. As autoridades<br />

francesas iniciaram uma investigação,<br />

que terminou em nada, sobre<br />

uma transferência de 11 milhões<br />

de dólares da Suíça para sua conta<br />

bancária em 2002 e 2003.<br />

No ano passado, após ter ocupa-<br />

do por muitos meses um andar inteiro<br />

do exclusivo Hotel Bristol, comprou<br />

por vários milhões um apartamento de<br />

luxo próximo do Arco do Triunfo, o<br />

qual foi decorado com imagens do<br />

Papa e de Jesus, e uma foto de Arafat<br />

com um rifle. Passa seus dias assistindo<br />

a desfiles de moda e fazendo<br />

compras. Quando viaja, o faz somente<br />

de primeira classe. Segundo rumores<br />

não lhe faltam admiradores nem<br />

acompanhantes românticos.<br />

Nos últimos dias Suha ocupou novamente<br />

as primeiras páginas dos jornais<br />

ao acusar os líderes palestinos de<br />

conspirar para usurpar o posto de Arafat,<br />

e recordou-lhes que só ela, de acordo<br />

com a lei francesa, tinha direito de<br />

desconectar Arafat das máquinas que o<br />

mantinham vivo.<br />

Segundo reportagens de diversos<br />

jornais, Suha e os sucessores de Arafat<br />

chegaram a um acordo pelo qual Suha<br />

receberá anualmente 22 milhões de<br />

dólares, soma que a permitirá manter<br />

em Paris o padrão de vida ao qual não<br />

lhe foi difícil acostumar-se.<br />

No futuro Suha poderá ser a protagonista<br />

de uma versão modernizada da opereta<br />

de Johann Strauss, A Viúva Alegre.<br />

Os sucessores de Arafat, de seu<br />

lado, lamentam que Suha se converteu<br />

ao Islã. Eles acham que teria<br />

sido preferível que Suha tivesse se<br />

convertido ao hinduísmo, já que um<br />

dos mais tradicionais e respeitados<br />

costumes da dita religião é o “sati”,<br />

a imolação da viúva na pira funerária<br />

do defunto esposo.<br />

Não chores por mim, BBC<br />

Num de seus artigos antiisraelenses,<br />

(El cristal con que se mira [O cristal<br />

com o que se vê]), o escritor Vargas<br />

Llosa se autofelicita por estar muito bem<br />

informado da situação real no Oriente<br />

Médio graças aos “imparciais” e “objetivos”<br />

meios de comunicação europeus.<br />

Num claro exemplo das ditas “imparcialidade”<br />

e “objetividade” Bárbara Plett,<br />

a correspondente da BBC no Oriente<br />

Médio Oriente, disse pela rádio que<br />

“quando vi o helicóptero levando o frágil<br />

ancião comecei a chorar”.<br />

Emoção similar e simpatia nunca<br />

haviam sido expressas pela senhorita<br />

Plett nas numerosas ocasiões quando<br />

informou sobre os israelenses, crianças,<br />

mulheres e anciãos, despedaçados por<br />

assassinos-suicidas que foram financiados,<br />

estimulados, doutrinados e glorificados<br />

pelo “frágil ancião”.<br />

Em outro exemplo da desfaçatez de<br />

certos meios de comunicação, a CNN<br />

se permitiu fazer uma pesquisa sobre<br />

se Arafat deveria ser sepultado em Jerusalém.<br />

Muitos reagiram sugerindo à<br />

CNN que era preferível que realizasse<br />

uma pesquisa sobre se se deveria enterrar<br />

ou não Bin Laden no Cemitério<br />

<strong>Na</strong>cional de Arlington, em Washington.


VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

Arafat financiava terrorismo das Brigadas<br />

Livro conta como ele agia<br />

contra seu próprio povo<br />

Khaled Abu Toameh*<br />

asser Arafat injetou milhões<br />

de dólares nas<br />

Brigadas dos Mártires de<br />

Al-Aqsa, ainda que tenha<br />

deixado suas forças<br />

de segurança decepcionadas<br />

por ficar meses sem pagamento,<br />

de acordo com um livro<br />

prestes a ser lançado, escrito por Matt<br />

Rees, chefe do escritório da revista Time<br />

em Jerusalém.<br />

A revelação veio a público ao mesmo<br />

tempo em que representantes palestinos<br />

anunciaram recentemente que<br />

a Autoridade <strong>Na</strong>cional Palestina não<br />

podia pagar os salários de seus servidores<br />

civis e o pessoal de segurança<br />

no mês de novembro. Arafat, que então<br />

estava recebendo tratamento médico<br />

em Paris, telefonou, conforme<br />

noticiado, para seu Ministro das Finanças<br />

e ordenou-lhe que pagasse os<br />

salários em dia.<br />

Num incidente descrito em “A Batalha<br />

de Caim: Fé, Fratricídio e Medo no<br />

Oriente Médio”, que deve ser publicado<br />

ainda este mês pela Free Press, editado<br />

por Simon & Schuster, Rees revela<br />

como Arafat enviou dois milhões de<br />

dólares para as Brigadas dos Mártires<br />

da Al-Aqsa, em Gaza, em junho de 2002,<br />

mas forneceu apenas uma pequena<br />

quantia para pagar os salários de suas<br />

forças de segurança oficiais.<br />

De acordo com “A Batalha de<br />

Caim”, numa cópia antecipada obtida<br />

pelo jornal “The Jerusalem Post”, dois<br />

altos oficiais da inteligência palestina<br />

visitaram a casa do major general Abdel<br />

Razak al-Majaideh, comandante das<br />

Forças de Segurança <strong>Na</strong>cional de Arafat<br />

em Gaza, em junho de 2002. Os<br />

oficiais da inteligência, sem pagamento<br />

há vários meses, souberam, através de<br />

contatos na Fatah, que Arafat havia<br />

acabado de enviar dois milhões de dólares<br />

para as Brigadas dos Mártires de<br />

Al-Aqsa em Gaza. Majaideh, ultrajado,<br />

reclamou com eles que Arafat enviara-lhe<br />

apenas 30.000 dólares para pagar<br />

os salários de todos os oficiais de<br />

segurança palestinos na Faixa de Gaza.<br />

“Esta era a equação dos interesses<br />

de Arafat,” escreveu Rees.<br />

“Dois milhões de dólares contra<br />

30.000. Arafat estava trabalhando<br />

contra seu próprio povo, ignorando-o<br />

enquanto enviava montes de<br />

dinheiro para atiradores”.<br />

Pela primeira vez, Rees revelou a<br />

história por dentro da administração<br />

auto-destrutiva e geradora de discórdias<br />

de Arafat, detalhando o que os atiradores<br />

fizeram com o dinheiro que receberam<br />

de Arafat.<br />

Ele mostrou como as Brigadas dos<br />

Mártires da Al-Aqsa, o braço armado<br />

da Fatah, [e que promove atentados<br />

Golda Meir não<br />

confiava nele<br />

Regina Caldas *<br />

A fortuna de Arafat, depositada em<br />

bancos suíços, está sendo estimada<br />

entre 4,2 e 6,5 bilhões de dólares. Ele<br />

extorquia dinheiro que era enviado ao<br />

povo palestino, através de doações.<br />

Arafat afirmava que servia aos palestinos,<br />

um povo que vive com apenas dois<br />

dólares ao dia!<br />

Clifford D. May, jornalista norteamericano,<br />

considerou irônico que um<br />

matador bilionário como Arafat que nos<br />

últimos anos viveu confinado em seu<br />

QG de Ramallah, o Muqata, morresse<br />

numa cama em Paris, distante do ninho.<br />

Mas ele não merecia morrer no<br />

ninho, recebendo o conforto de um berço<br />

que não era o seu.<br />

Os palestinos jamais se deram conta<br />

de que foram usados como massa de<br />

manobra pelas mãos sangrentas de Arafat<br />

para alcançar o único objetivo que<br />

ele alimentou durante toda sua vida:<br />

destruir Israel! E, por conta deste ódio<br />

insano contra Israel, Arafat os transformou<br />

num povo suicida.<br />

De onde veio tanto poder concedido<br />

a Arafat? Como ele conseguiu persuadir<br />

o mundo a considerá-lo digno de liderar<br />

dos Mártires de Al-Aqsa<br />

a causa palestina em prol da conquista e<br />

formação de uma “<strong>Na</strong>ção Palestina?” A<br />

lista de crimes contra a humanidade, cometidos<br />

por Abdel-Rahman Abdel-Raouf<br />

Arafat al-Qudwa al-Husseini, conhecido<br />

como Arafat, o líder da causa Palestina,<br />

não é pequena. E se perpetuará através<br />

de todas as crianças palestinas que foram<br />

moldadas à sua semelhança. São<br />

crianças preparadas para destilarem o ódio<br />

de Arafat contra Israel, e a estressar o<br />

mundo com bombas amarradas aos seus<br />

corpos. Para caçarem israelenses, para<br />

caçarem os infiéis cristãos.<br />

Alienação e má-fé levaram algumas<br />

nações e instituições mundiais a se fazerem<br />

de cegos, surdos e mudos perante<br />

as ações de Arafat que, com um sorriso<br />

permanente nos lábios, uma feição<br />

de fria placidez e uma arma presa à cintura,<br />

incitou multidões em Belém com o<br />

seu grito de guerra: “Nós conhecemos<br />

uma única palavra, jihad, jihad, jihad!”,<br />

enquanto partilhava um Prêmio Nobel da<br />

Paz com Shimon Peres e Ytizhak Rabin!<br />

Enquanto era ovacionado na ONU, enquanto<br />

jogava bomba em ônibus escolar<br />

matando 21 crianças israelenses, enquanto<br />

cometia todos os seus crimes,<br />

matando inocentes, incitando e treinan-<br />

terroristas] mandavam nas cidades palestinas<br />

como gangsters, desacatando<br />

os oficiais de segurança, que gradualmente<br />

aprenderam que não tinham o<br />

apoio de Arafat.<br />

Rees revela ainda a história chocante<br />

de uma garota cristã de Bet<br />

Jala, próximo a Belém, que foi coagida<br />

a fazer sexo e então assassinada<br />

pelos líderes das Brigadas dos Mártires<br />

de Al-Aqsa em Belém. Depois<br />

de matar a menina, os líderes do grupo<br />

emitiram uma declaração dizendo<br />

que eles “queriam limpar as casas<br />

palestinas das prostitutas.”<br />

Rees escreveu que os “criminosos<br />

degradaram-na sexualmente, puniramna<br />

por isto, e então reivindicaram a<br />

posição de defensores morais de uma<br />

sociedade que eles, mais do que quaisquer<br />

outras pessoas, foram responsáveis<br />

por manchar.”<br />

“A Batalha de Caim,” conta ainda<br />

a história do vice-chefe da Inteligência<br />

Geral em Gaza, Zakaria Baloush.<br />

Ele se cansou tanto do jogo duplo de<br />

Arafat, que anunciou que concorreria<br />

contra ele pelo cargo de presidente.<br />

Arafat nunca realizou eleições, mas<br />

tentou persuadir Baloush a retornar ao<br />

rebanho. Quando Baloush disse a Arafat<br />

que ele não poderia mais trabalhar<br />

para o chefe da Inteligência Geral em<br />

Gaza, Amin al-Hindi, Arafat disse: “Então<br />

chute-o. Jogue-o ao mar.” Rees disse<br />

do para o ódio insano, a juventude palestina.<br />

Este Arafat controvertido e cruel<br />

foi visitado nos seus últimos momentos<br />

de vida por Chirac, presidente da França,<br />

teve funerais com honrarias de grande<br />

chefe de Estado, levou às lágrimas multidões<br />

ao redor do mundo por ocasião<br />

de sua morte! E finalmente, ainda ousou<br />

determinar que seus restos mortais<br />

fossem deixados em Jerusalém!<br />

Alguém se lembra de Golda Meir? A<br />

excepcional mulher que foi Primeiro-Ministro<br />

de Israel no início da década de 70,<br />

alguém se lembra? Pois bem, aqui vão as<br />

palavras de Golda sobre Yasser Arafat:<br />

“É amargo escrever sobre Eliahu<br />

agora, num mundo que preferiu dotar<br />

o terrorismo árabe de fascínio e admitir<br />

ao assim chamado conselho de nações,<br />

um homem como Yasser Arafat, que não<br />

tem a seu crédito uma só ação ou pensamento<br />

construtivo e que, falando claramente,<br />

é apenas um assassino múltiplo<br />

fantasiado, chefiando um movimento<br />

exclusivamente dedicado à destruição do<br />

Estado de Israel. Mas é a minha convicção<br />

mais profunda - e consolo - que as<br />

sementes do inevitável fracasso do terrorismo<br />

árabe se encontram na própria<br />

concepção do terrorismo. Movimento<br />

algum, independentemente do dinheiro<br />

de que dispõe ou do apaziguamento com<br />

que se nutre - e nesse caso é a espécie<br />

de apaziguamento que sempre trouxe<br />

desastre ao mundo - pode ter sucesso<br />

por muito tempo se a qualidade da sua<br />

que Arafat conduzia a Autoridade<br />

<strong>Na</strong>cional Palestina<br />

exatamente da mesma forma<br />

que ele fez com a OLP<br />

– como um feudo pessoal<br />

onde ninguém sabia em<br />

quem confiar. “Ele nunca fez<br />

a transição para um governo<br />

responsável e organizado,”<br />

disse Rees.<br />

As relações com Israel,<br />

mesmo durante os<br />

anos de Oslo, eram também<br />

sujeitas à duplicidade<br />

de Arafat. Rees escreveu<br />

sobre um oficial da<br />

inteligência palestina<br />

que queria dar informações ao Shin<br />

Bet sobre os soldados israelenses<br />

que não retornaram da batalha de<br />

Sultan Yakoub, com paradeiro desconhecido,<br />

em 1982. Quando o oficial<br />

da inteligência trouxe os oficiais<br />

israelenses a Arafat, o líder palestino<br />

dispensou-os, dizendo que o oficial<br />

da inteligência estava doente e<br />

precisava ficar em casa para tratamento<br />

médico.<br />

* Khaled Abu Toameh é jornalista<br />

árabe-israelense e escreve no<br />

Jerusalem Post - Traduzido por<br />

Irene Walda Heynemann e<br />

publicado no site De Olho na<br />

Mídia (www.deolhonamidia.org.br)<br />

em 8/11/2004<br />

liderança é vulgar e seus únicos compromissos<br />

sejam com a chantagem e o<br />

derramamento de sangue. Não é matando<br />

e mutilando crianças, seqüestrando<br />

aviões ou assassinando diplomatas<br />

que os <strong>verdade</strong>iros movimentos de libertação<br />

alcançam seus objetivos” 1 .<br />

Golda Meir não se encontra mais<br />

entre nós. Tampouco Arafat. Faz trinta<br />

anos que ela proferiu as palavras acima<br />

sobre aquele que foi o inimigo número<br />

um de Israel, e é provável que<br />

ainda levará tempo para que suas palavras<br />

se tornem realidade. Pois muitas<br />

lideranças mundiais continuam cegas<br />

e ainda fascinadas com os terroristas.<br />

Mas, com o fim de Arafat, quem<br />

sabe o povo palestino tenha se saciado<br />

do sangue jorrado das pilhas<br />

de cadáveres sobre os quais<br />

seu líder demoníaco os governou.<br />

Quem sabe o<br />

mundo civilizado volte o<br />

seu olhar, ao menos<br />

uma vez compassivo,<br />

para aquelas crianças<br />

palestinas e, com paciência<br />

e muito amor<br />

consiga extirpar de<br />

seus corações o ódio<br />

que lhes foi inculcado<br />

por Arafat. Milagres às<br />

vezes acontecem!<br />

Nota: [1] - Golda Meir: “Minha Vida” –<br />

Autobiografia, 1976 Bloch Editores S.A.<br />

11<br />

* Regina Caldas é<br />

administradora de empresas,<br />

ocupou durante anos a diretoria<br />

e conselho de entidades como<br />

União Cívica Feminina;<br />

Federação Internacional de<br />

Mulheres de Negócios e<br />

Profissionais Liberais. Também<br />

fez parte do IL de São Paulo.<br />

Publicado em Mídia Sem Máscara<br />

dia 24/11/2004<br />

(www.midiasemmascara.org)


12<br />

12<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

O CIP lotou no dia 3/12,<br />

para assistir Nicole Borger<br />

num Tributo a <strong>Na</strong>omi<br />

Shemer, acompanhada por<br />

Hélcio e Rose Muller, Paulo<br />

Kulicz e a Banda Regra<br />

Três. Tomara esta seja a 1ª<br />

das muitas noitadas que a<br />

nova diretoria possa nos<br />

proporcionar.<br />

Nicole Borger<br />

Não esqueçam: o <strong>Visão</strong><br />

<strong>Judaica</strong> não circula em<br />

janeiro. Como fazemos<br />

todo ano, tiramos nossas<br />

férias, para voltarmos<br />

renovados e com mil<br />

novidades em fevereiro.<br />

Marian Krieger, festejou<br />

seu aniversário,<br />

confraternizando com suas<br />

amigas, num jantar muito<br />

alegre e festivo, como a<br />

data merece. Saúde e até<br />

os 120 anos.<br />

Hora Israelita de Porto<br />

Alegre agora na Internet:<br />

http://www.bandrs.com.br/<br />

Ou o link direto http://<br />

www.bandrs.com.br/<br />

band_portal/band_am/ O<br />

programa radiofônico que<br />

está a mais de cinqüenta e<br />

oito anos ininterruptamente<br />

no ar aos domingos,<br />

atualmente das 8 às 10h,<br />

horário de Brasília.<br />

Sabine Wahrhaftig, no centro, comemora seu<br />

aniversário numa inesquecível noite no CIP,<br />

rodeada pela sorridente família Figlarz<br />

<strong>Na</strong>sceu Patrick Rosenzveig<br />

Wikler, filho de Rochelle e<br />

Charles Wikler, no Shabat (10/<br />

12/2004). Os avós Cira e<br />

Maurício Wikler e Anita e<br />

Guilherme Rosenzveig<br />

comemoram com esta<br />

maravilhosa notícia. Mazal Tov!<br />

A semana internacional dos<br />

Direitos Humanos começou<br />

com a comemoração do 50º<br />

aniversário de falecimento<br />

do diplomata brasileiro Luiz<br />

Martins de Souza Dantas,<br />

honrado pela Fundação<br />

Internacional Raoul<br />

Wallenberg no Consulado<br />

Geral do Brasil da cidade de<br />

Nova Iorque, dia 6/12. Souza<br />

Dantas concedeu visto<br />

diplomático a centenas de<br />

judeus e outros perseguidos<br />

pelo regime nazi durante a<br />

2ª Guerra Mundial, salvando<br />

com as suas ações cerca de<br />

800 pessoas do extermínio,<br />

ao contrariar ordens<br />

emitidas pela administração<br />

do então presidente do<br />

Brasil, Getúlio Vargas.<br />

Regina Morgenstern<br />

comemorou mais um<br />

aniversário na companhia de<br />

grupo de amigas e<br />

familiares. Saúde e alegrias<br />

é o que deseja VJ.<br />

Encerrando as atividades do<br />

ano 2004, o executivo Wizo<br />

Paraná, se reuniu num jantar<br />

de confraternização e de<br />

comemoração pelos sucessos<br />

alcançados nos eventos<br />

realizados. Com bastante<br />

entusiasmo, começou a ser<br />

elaborada a programação<br />

para o próximo ano.<br />

Como ultima atividade anual da<br />

<strong>Na</strong>’amat Pioneiras foi realizado<br />

o bingo de Chanucá. O<br />

Numa festa<br />

surpresa,<br />

organizada pelo<br />

grupo Apoio, no<br />

CIP, foi<br />

comemorado o<br />

aniversário de<br />

Sabine Wahrhaftig.<br />

Reuniram-se os<br />

familiares e<br />

amigos, juntamente<br />

com o coral do<br />

grupo de Cantores<br />

de Angola, para<br />

homenagear a<br />

aniversariante,<br />

num ambiente<br />

alegre e<br />

descontraído.<br />

Mazal Tov!<br />

entusiasmo e alegria foram<br />

as características da noite,<br />

onde muitos saíram<br />

carregados de prêmios. Rita<br />

Galperin “bingou” a TV 29"!<br />

Bom descanso à todos e que<br />

voltemos com muita energia!<br />

Um novo grupo<br />

universitário em Curitiba<br />

acaba de ser formado<br />

com ajuda do Hagshamá.<br />

Vai incorporar-se à linha<br />

de apoio total a toda<br />

iniciativa de ativismo<br />

universitário judaico. Com<br />

aproximadamente 25<br />

jovens atuantes, o CTB<br />

Iachad já está iniciando as<br />

atividades.<br />

Também foi selada uma<br />

parceria com a Kehilá de<br />

Curitiba, através do Centro<br />

Israelita do Paraná e o<br />

Hagshamá para promover<br />

diversas atividades e<br />

oportunidades aos jovens<br />

judeus curitibanos. Numa<br />

pequena palestra, o diretor<br />

do Departamento para São<br />

Paulo e Sul do Brasil, Persio<br />

Bider explicou aos<br />

presentes, os objetivos do<br />

Hagshamá, sua importância<br />

e principalmente ratificou<br />

toda a ajuda possível para<br />

que mais jovens possam<br />

participar das atividades<br />

promovidas por este grupo<br />

universitário.<br />

30 bailarinos israelenses do<br />

grupo “Hora Hein” estiveram<br />

na quadra da Mangueira, no<br />

Rio, mostrando a beleza da<br />

dança Israelense. Eles<br />

aproveitaram para assistir à<br />

formatura de 700 alunos das<br />

30 oficinas<br />

profissionalizantes e ainda<br />

tiveram uma “aulinha básica”<br />

de samba com os passistas<br />

da verde-e-rosa. Os<br />

integrantes do Hora Hein - 15<br />

homens e 15 mulheres -<br />

também se apresentaram no<br />

Teatro Villa-Lobos.<br />

O curitibano Fábio Zugman<br />

lançou pela editora Negócio,<br />

Sebrae e com apoio das<br />

Livrarias Curitiba seu livro<br />

“Administração Para<br />

Profissionais Liberais”. Foi<br />

dia 9 de dezembro no<br />

ParkShopping Barigüi.<br />

A comunidade judaica<br />

escolheu seus novos<br />

representantes nas eleições<br />

do novo Conselho<br />

Deliberativo da Federação<br />

Israelita de São Paulo para a<br />

gestão 2005/2008. A<br />

O presidente do Tribunal de Contas, Henrique <strong>Na</strong>igeboren, entre o<br />

prefeito de Curitiba Cassio Taniguchi (direita) e o prefeito Joarez<br />

Heinrichs, presidente da Associação dos Municípios do Paraná<br />

(esquerda). <strong>Na</strong> ponta, o vice-governador do Paraná, Orlando Pessuti<br />

O presidente do Tribunal<br />

de Contas do Estado do<br />

Paraná, conselheiro<br />

Henrique <strong>Na</strong>igeboren, foi<br />

homenageado pelos 399<br />

prefeitos do Estado com o<br />

“Diploma de Honra ao<br />

Mérito”, entregue pelo<br />

presidente da Associação<br />

dos Municípios do Paraná<br />

(AMP), Joarez Henrichs,<br />

também prefeito de<br />

Barracão, dia 22/11 no<br />

salão de eventos do<br />

Parque Barigüi.<br />

<strong>Na</strong>igeboren agradeceu a<br />

honraria e a presença das<br />

autoridades e dos<br />

amigos.Em seu discurso<br />

fez um retrato preciso da<br />

questão municipalista e<br />

do trabalho desenvolvido<br />

pelo Tribunal de Contas<br />

nos dois anos que esteve<br />

à frente do TC.<br />

novidade é que foi por meio<br />

do voto eletrônico, no ginásio<br />

Poliesportivo do clube A<br />

Hebraica. Os eleitores<br />

podiam reconhecer os<br />

candidatos não apenas pelo<br />

nome, mas também pela sua<br />

fotos. Foram eleitos 80<br />

ativistas.<br />

A Organização Sionista do Rio<br />

Grande Sul realizou dia 13/12<br />

uma palestra com o professor e<br />

filósofo Olavo de Carvalho, que<br />

falou sobre o tema “Revolução<br />

Mundial, Terrorismo Islâmico e<br />

Anti-semitismo”. O evento<br />

aconteceu na sede da<br />

Federação Israelita do Rio<br />

Grande do Sul, em Porto<br />

Alegre.<br />

Expressas: <strong>Na</strong>sceu em<br />

Israel, Rinat, a neta do casal<br />

Victor Baras. *** Bruno<br />

Bernard foi chamado para a<br />

Torá em seu Bar Mitzvá, dia<br />

11/12. *** Renato Strachman<br />

e Paula Bley casaram-se dia<br />

18/12. *** Aconteceu dia 26/<br />

Estiveram presentes o<br />

governador em exercício,<br />

Orlando Pessuti; o<br />

presidente da Assembléia<br />

Legislativa, deputado<br />

Hermas Brandão; o<br />

presidente do Tribunal de<br />

Justiça, Oto Luiz Sponholz;<br />

o prefeito de Curitiba,<br />

Cassio Taniguchi; o<br />

presidente da Câmara<br />

Municipal de Curitiba,<br />

vereador João Cláudio<br />

Derosso; o presidente da<br />

Associação Brasileira dos<br />

Municípios, o prefeito de<br />

Cambe, José do Carmo<br />

Garcia, o prefeito eleito de<br />

Curitiba Beto Richa, Fani<br />

Lerner, e seus familiares, a<br />

esposa Clarita <strong>Na</strong>igeboren,<br />

e os filhos Renata e Milton.<br />

Também prestigiou a<br />

homenagem o diretor da<br />

Escola de Contas do TC do<br />

Estado do Rio Grande do<br />

Sul, Wremir Scliar.<br />

12 o Brit Milá do filho<br />

de Miguel Woller. *** A todos<br />

e às suas famílias,<br />

desejamos Mazal Tov!<br />

A “coruja” curitibana Buzia<br />

Finkel não consegue<br />

conter a alegria e o riso ao<br />

segurar no colo os<br />

bisnetos Caíque<br />

Chamecki e Guilherme<br />

Chamecki Laranjeira.<br />

Para colaborar com a Coluna<br />

Quem, onde quando... basta<br />

passar um fax pelo telefone 0**41<br />

3018-8018 ou um e-mail para<br />

visaojudaica@visaojudaica.com.br


Em Curitiba, a Nutrhouse, uma<br />

indústria que produz alimentos<br />

integrais, naturais<br />

e com fibras, além<br />

de biscoitos e massas,<br />

detentora da conhecida<br />

marca Vitao, acaba de receber<br />

o selo kosher da<br />

BDK (Beit Din Kashrut)<br />

para mais dois de seus<br />

produtos — pipoca doce<br />

de arroz integral e sementes<br />

de girassol.<br />

Os selos desses dois<br />

novos produtos vêm se somar<br />

aos que já tinham autorização<br />

rabínica para consumo,<br />

entre eles, o açúcar<br />

mascavo, a farinha de aveia,<br />

aveia em flocos finos e grossos,<br />

o gérmen de trigo, a farinha de<br />

centeio, as farinhas de trigo integral<br />

fina e grossa, o feijão azuki, o gergelim,<br />

o painço, o sal, marinho, o tempero<br />

pronto de sal e alho, o banchá –<br />

um chá verde tostado e a fibra de trigo.<br />

Além do selo do BDK, a Vitao já<br />

tinha autorização e selos kosher do<br />

Vaad Rabanei Anash Brasil.<br />

Conceito largamente utilizado<br />

pela comunidade judaica mundial<br />

como uma “garantia da qualidade<br />

de alimentos supervisionados por<br />

um rabino ou rabinato”, é a kashrut<br />

que os torna alimentos autorizados<br />

para consumo dentro das normas religiosas,<br />

conforme as leis judaicas.<br />

Com a moderna industrialização, os<br />

alimentos atualmente produzidos<br />

têm como compostos milhares de<br />

micro e macro elementos. Uma bolacha,<br />

por exemplo, não é mais<br />

composta apenas de água e farinha,<br />

mas sim de vários outros produtos<br />

como conservantes, pigmentos diversos,<br />

aromatizantes, adoçantes,<br />

acidulantes e etc.<br />

No Brasil, o BDK e o Vaad Rabanei<br />

Anash Brasil, ambos com sede<br />

em São Paulo, são instituições religiosas<br />

que estudam e fiscalizam a<br />

produção de alimentos para que<br />

os consumidores tenham sempre<br />

a certeza de estar comprando produtos<br />

aptos de acordo com as normas<br />

dietéticas judaicas. E essas<br />

instituições concedem os selos<br />

kosher que são sempre estampados<br />

nas embalagens dos produtos<br />

colocados à venda.<br />

Iniciada em 1991, a Vitao tem<br />

como objetivo inovar e investir na<br />

diversificação de sua linha de produtos,<br />

promovendo o aprimoramento<br />

da qualidade. Segundo Luis C. Rauta,<br />

diretor industrial da empresa, a<br />

marca Vitao nasceu baseada numa filosofia<br />

que soma vitalidade com<br />

equilíbrio (Vi) e os princípios do<br />

Taoísmo (Tao). Toda a linha de produtos<br />

é voltada à dieta alimentar, oferecendo<br />

produtos integrais, ricos em<br />

fibras e nutrientes naturais.<br />

Em 2002 a Nutrihouse — atualmente<br />

Nutrhouse —adquiriu a indústria<br />

e a marca Vitao. A fábrica<br />

e os escritórios da empresa funcionam<br />

numa área de mais ou menos<br />

6 mil metros quadrados no bairro<br />

Boqueirão, em Curitiba. Atualmente<br />

sua linha de produtos se estende<br />

por 85 itens diversos, dos quais cer-<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

Em Curitiba, Vitao produz<br />

alimentos com selo kosher<br />

Novos produtos da Vitao com<br />

o selo kosher<br />

ca de 15 já possuem selos kosher.<br />

Mas a idéia, segundo Rauta é ampliar<br />

os produtos dessa faixa, cuja marca<br />

tem boa procura no Brasil. Já<br />

existem até entendimentos com<br />

uma empresa norte-americana para<br />

a exportação dos produtos kosher<br />

para os Estados Unidos, mas as conversas<br />

nesse caso ainda estão na<br />

fase inicial.<br />

A Vitao conta atualmente com<br />

cerca de 60 funcionários e entre<br />

seus produtos mais procurados<br />

[ainda não “kasherizados”] estão<br />

os biscoitos e cookies, cuja produção<br />

é de 80 toneladas ao mês e<br />

granolas (de 50 a 60 toneladas/<br />

mês) além dos produtos light.<br />

13


14<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

VISÃO panorâmica<br />

Yossi Groisseoign<br />

Israel reabre consulado em SP em 2005<br />

Dorit Shavit, diretora do Departamento da<br />

América Latina, no Ministério das Relações<br />

Exteriores de Israel, comunicou em 11 de<br />

dezembro, durante encontro com lideranças<br />

da comunidade judaica brasileira em<br />

Tel Aviv, que o consulado de Israel em São<br />

Paulo será reaberto em 2005. O consulado<br />

fechou suas portas em julho de 2003,<br />

depois de 50 anos de existência, por determinação<br />

do Ministério das Relações Exteriores<br />

de Israel e em conseqüência de<br />

rigorosos cortes nas despesas governamentais.<br />

O anúncio foi feito para Berel Aizenstein,<br />

presidente da Confederação Israelita<br />

do Brasil (Conib), Jayme Blay e<br />

Ricardo Berkiensztat, presidente e vicepresidente<br />

da Federação Israelita do Estado<br />

de São Paulo (Fisesp) e Boris Berenstein,<br />

presidente da Federação Israelita<br />

de Pernambuco. (Conib).<br />

Campeonato da Liga<br />

de Futebol israelense<br />

O campeonato da liga superior de futebol<br />

começou com estádios quase vazios em<br />

Israel e com resultados distintos. O recém-ingresso<br />

na primeira divisão, Bnei<br />

Saknin, empatou em 1 a 1 com o HaPoel<br />

Tel Aviv. O Macabi Tel Aviv venceu por 2 a<br />

0 a equipe árabe-israelense Akchei <strong>Na</strong>tzeret.<br />

Outros resultados da rodada inicial:<br />

Ashdod 2, HaPoel Petch Tikva 0; Macabi<br />

Petach Tikva 1, HaPoel Beer Sheva 2; e<br />

Ben Iehuda 2, Macabi <strong>Na</strong>tania 0. Chazon<br />

Be Fandel e o irmão do jogador da seleção<br />

Chaim Revivo foram os jogadores que<br />

sobressaíram na primeira rodada. E pelas<br />

eliminatórias da Copa do Mundo, Israel 2<br />

Chipre 1. (Inian Mercazi).<br />

Fãs torcem contra com<br />

bandeiras de Israel<br />

Bandeiras israelenses saudaram os jogadores<br />

do Maccabi Tel Aviv num jogo contra<br />

o Ajax, em Amsterdã, em outubro. Só<br />

que a maioria delas estava nas mãos de<br />

torcedores do time da casa. Esta é uma<br />

das mais exóticas peculiaridades do futebol<br />

mundial, pois os torcedores do Ajax<br />

se autodenominam ‘Superjoden’ (super judeus),<br />

um apelido que reflete as origens<br />

judaicas do time e da cidade de Amsterdã.<br />

Um dos gritos de guerra da torcida é<br />

‘Superjoden! Olé! Olé!’, e muitas vezes<br />

os torcedores visitantes são surpreendidos<br />

com o estádio inteiro cantando o clássico<br />

‘Hava <strong>Na</strong>guila’. Hoje, poucos fãs do<br />

time são judeus, mas eles continuam levando<br />

a coisa a sério. ‘É uma questão de<br />

orgulho’, diz um deles. Antes da 2ª Guerra<br />

Mundial, a maioria dos 140 mil judeus<br />

holandeses vivia em Amsterdã, e o estádio<br />

do Ajax ficava próximo ao bairro judeu.<br />

Torcedores de outros times muitas<br />

vezes gritavam palavras de ordem antisemitas<br />

e os do Ajax defendiam seu ‘judaísmo’.<br />

No campo, no entanto, não houve<br />

surpresa: Ajax 3x0. (Israel Insider).<br />

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(com informações das<br />

agências AP, Reuters, AFP,<br />

EFE, jornais Alef na internet,<br />

Jerusalem Post, Haaretz e IG)<br />

Filme israelense premiado em Munique<br />

“Hina”, filme de Idan Hovel, obteve o reconhecimento<br />

de melhor roteiro no Festival<br />

de Cinema Estudantil da Alemanha, em<br />

Munique. Hovel, que estuda na Escola de<br />

Cinema Sam Spigiel, em Jerusalém, ganhou<br />

três mil euros e o prêmio de melhor roteiro<br />

por sua película. Foram exibidos no evento<br />

52 filmes representando 35 escolas de 25<br />

países. O presidente do júri deste ano foi o<br />

realizador do cinema independente norteamericano<br />

Hal Hartley (“The Unbelievable<br />

Truth”, “Amateur”). O filme de Hovel ganhou<br />

também o primeiro prêmio interno da<br />

escola Sam Spigiel e foi apresentada no<br />

Festival de Jerusalém. (Iton Gadol)<br />

Abu Mazen e o Holocausto<br />

Para Abu Mazen, o candidato à sucessão<br />

de Arafat, o número de judeus vítimas do<br />

Holocausto deve ser ‘ainda menor do que<br />

um milhão`. Em 1984, Mazen, cujo nome é<br />

Mahmoud Abbas, disse isso numa palestra<br />

no Colégio Oriental de Moscou, que dois<br />

anos depois foi publicada em árabe, na<br />

Jordânia. Citando intelectuais conhecidos<br />

por negar a existência das câmaras de gás,<br />

o artigo de 1984 pretende mostrar a falta<br />

de legitimidade do movimento sionista,<br />

falando sobre pretensos “laços secretos<br />

entre suas lideranças e os nazistas”, e indicando<br />

que ambos teriam os mesmo objetivos<br />

e teorias convergentes. (IMRA –<br />

Middle East News & Analysis).<br />

Escultura anti-semita em Oslo<br />

Em agosto, uma escultura intitulada “A parede:<br />

fragmentos de história“, de Sigurd<br />

Björn Engvik, foi exibido pela Prefeitura<br />

de Oslo na Praça Youngstorget, no centro<br />

da cidade. A escultura continha estrelas<br />

amarelas nazistas que gotejavam sangue,<br />

supostamente simbolizando “a natureza assassina<br />

do Judaísmo” (embora as estrelas<br />

exibidas não fossem o Magen David aberto<br />

mas as estrelas amarelas nazistas fechadas),<br />

o dólar, um sinal simbolizando também<br />

supostamente a ganância judaica, e<br />

cartas com a palavra “Holocausto” entremeada<br />

pela data de 29 de novembro de<br />

1947 (dia da partilha da Palestina). A escultura<br />

também inclui citações dos Dez Mandamentos<br />

e do Tanach, simbolizando o<br />

descuido israelense aparentemente pela ética<br />

judias. A comunidade judaica de Oslo e<br />

a Associação Norueguesa contra o Anti-semitismo<br />

protestaram pelo uso de símbolos<br />

anti-semitas clássicos e pelo ataque à religião<br />

judaica e o escárnio da Shoah.<br />

ONU condena anti-semitismo<br />

Quebrando uma longa tradição, a Assembléia<br />

Geral das <strong>Na</strong>ções Unidas aprovou uma<br />

resolução condenado o anti-semitismo como<br />

parte de uma resolução contra a intolerância<br />

religiosa. <strong>Na</strong> resolução aprovada, apesar<br />

dos esforços contrários dos países árabes,<br />

o Terceiro Comitê da Assembléia Geral<br />

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da ONU “reconhece com grande preocupação<br />

o aumento da intolerância e da violência<br />

dirigida contra membros de várias comunidades<br />

religiosas em diversas partes do<br />

mundo, incluindo casos motivados por islamofobia,<br />

anti-semitismo e cristianofobia”.<br />

Para o embaixador de Israel na ONU, Dan<br />

Gillerman, o fato representa uma ruptura<br />

histórica. (Jerusalém Post).<br />

Terrorista de dupla nacionalidade<br />

O jornal “O Sul”, de Porto Alegre, arranjou<br />

um novo codinome para terrorista: Gaúcho!<br />

Em sua edição de 25 de novembro, colocou<br />

como chamada de capa para sua matéria<br />

de internacional, o seguinte título:<br />

“Israel mata gaúcho na Palestina”. Colocada<br />

assim, a frase dá a entender que Israel<br />

agora persegue os gaúchos e que terroristas<br />

deixam de ser terroristas para se<br />

transformarem em gaúchos. Com a “nacionalidade”,<br />

o jornal tentou “apagar” o passado<br />

sujo de um indivíduo que não era um<br />

gaúcho qualquer. Israel nada tem contra<br />

os gaúchos, mas sim contra terroristas<br />

como aquele morto pelo exército, que<br />

tem inclusive uma longíssima ficha de<br />

crimes e de atos de violência que não<br />

podem ser desculpados, ou apagados por<br />

sua dupla nacionalidade brasileira/palestina.<br />

(De Olho na Mídia).<br />

TV Hezbolá fora do ar<br />

Imagem capatada da TV Al-manar.<br />

A legenda diz: Morte a Israel!<br />

O primeiro-ministro francês Jean-Pierre Raffarin<br />

anunciou que seu governo proibiu a<br />

difusão dos sinais da TV Al-Manar, do grupo<br />

terrorista Hezbolá, por causa emissões<br />

repletas de ódio da rede via satélite, na<br />

França. Milhares de pessoas assinaram<br />

petições ao presidente Chirac solicitando<br />

que fosse barrada a propaganda do Hezbolá,<br />

que vomita ódio contra os judeus, e<br />

que fosse removida das ondas na França.<br />

A campanha foi iniciada pelo Centro Simon<br />

Wiesenthal Center, chocado com a decisão<br />

inicial de permitir as emissões da<br />

Al-Manar que incitariam os muçulmanos<br />

franceses. Mas depois que a rede, que<br />

transmite de uma emissora baseada no<br />

Líbano, passou a acusar Israel de disseminar<br />

Aids através do mundo árabe, cresceram<br />

os protestos internacionais e o governo<br />

francês finalmente resolveu puxar o fio<br />

da tomada. (Centre Simon Wiesenthal).<br />

Yad Vashem inaugura portal na internet<br />

Mais de 3 milhões de nomes de judeus<br />

perseguidos e mortos pelo regime nazista<br />

podem ser acessados em 14 idiomas através<br />

do site www.yadvashem.org. O portal<br />

visa reconstituir os nomes e a história de<br />

vida de cada uma das vítimas. É uma corrida<br />

contra o tempo, revela Avner Shalev,<br />

um dos diretores do Museu do Yad Vashem<br />

(Museu do Holocausto) em Israel, sobre<br />

este trabalho iniciado há 50 anos. “Temos<br />

de coletar a maior quantidade de dados<br />

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enquanto ainda tivermos entre nós sobreviventes<br />

e a geração dos que melhor se<br />

lembram dos fatos. Chamamos as famílias<br />

de todo o mundo a nos ajudar a honrar a<br />

memória de nossos ancestrais, a partir de<br />

seus nomes”, disse ele. Os dados arquivados<br />

incluem data e local de nascimento,<br />

profissão, local de residência antes da<br />

guerra, nome dos pais ou esposos, e onde<br />

e quando foram capturados pelos nazistas.<br />

Os internaltas também podem participar<br />

de programas educacionais. (JTA).<br />

Mais um Justo entre as <strong>Na</strong>ções<br />

Um grupo de diplomatas da embaixada israelense<br />

em Berlim homenageou Herbert<br />

Herden, de 89 anos, com o título de “Justo<br />

entre as <strong>Na</strong>ções” e seu nome será inscrito<br />

no Yad Vashem, memorial do Holocausto<br />

em Israel. Ele diz que faria tudo de<br />

novo: arriscar sua vida para salvar judeus<br />

poloneses durante o Holocausto. Mais de<br />

350 alemães já receberam este título.<br />

Da realeza swazi ao rabinato ortodoxo<br />

Nkosinathi Gamedze descende do clã real dos<br />

Swazi, da África do Sul. Em 1988 o jovem<br />

negro estudante de idiomas da Universidade<br />

Witwatersrand, de Joanesburgo, viu um colega<br />

escrevendo da direita para esquerda, o<br />

que mudaria sua vida. Em 1988 decidiu aprender<br />

o idioma, um dos 13 que fala hoje e foi<br />

bem recebido no Departamento de Hebraico<br />

da Universidade, mesmo sendo o único não<br />

judeu. Passou a ser convidado para o shabat<br />

na casa dos colegas. “O primeiro sinal de<br />

calor humano que recebi dos brancos foi da<br />

comunidade judaica, mesmo na época do<br />

aparthaid na África do Sul”, conta. Depois,<br />

a convite do professor Moshe Sharon fez seu<br />

doutorado em hebraico em Jerusalém, na<br />

yeshivá Ohr Somayach. Mais tarde decidiu<br />

se converter, estudou e foi aprovado por um<br />

Beit Din em Jerusalém. Hoje é Rabbi <strong>Na</strong>tan<br />

Gamedze, rabino ortodoxo, que mora em<br />

Safed, Israel e leciona no Sharei Bina Girls<br />

Seminary. (JTA).<br />

Palestinos matam jovem de 19 anos<br />

acusado de espionagem<br />

Militantes palestinos mataram um rapaz de<br />

19 anos por suspeitarem que ele colaborou<br />

com os israelenses na captura de fugitivos.<br />

Jad al-Hindi foi morto pelas Brigadas dos<br />

Mártires de Al-Aksa, grupo violento ligado<br />

ao movimento Fatah. Cedo, na manhã seguinte,<br />

seu corpo foi achado pela polícia<br />

com 12 tiros na cabeça. Dezenas de palestinos<br />

já foram executados por seus companheiros<br />

desde o início da Intifada, alguns<br />

em praça pública, em frente a grandes multidões.<br />

(Haartez/Associated Press).<br />

Atitude humana e civilizada<br />

A divisão de engenharia e munições do<br />

Exército de Defesa de Israel, junto com<br />

uma equipe médica, e em coordenação com<br />

a Administração Civil, socorreu, resgatou<br />

e tratou de um menino palestino ferido em<br />

Dir Dabuan, a leste de Ramallah. As forças<br />

israelenses foram até lá para ajudar a<br />

criança palestina a pedido da administração<br />

civil de Ramallah. A mão do menino<br />

fora apanhada por uma máquina de fabricação<br />

de azeite de oliva. O exército de<br />

Israel livrou o menino, deu-lhe atendimento<br />

médico no ato e o removeu para um hospital<br />

israelense em condições moderadas de<br />

saúde. (IDF Spokesperson).


História<br />

Wilma Kövesi z”l foi uma<br />

mulher completa e nós a<br />

lembramos em sua plena<br />

atividade, filha dedicada, esposa<br />

exemplar, mãe carinhosa, avó<br />

presente, profissional<br />

competente, amiga sincera.<br />

Falava com amor de seu<br />

casamento e do<br />

companheirismo que sempre<br />

manteve com seu marido János<br />

Kovesi, nosso querido irmão de<br />

B´nai B´rith, de sua vida, seus<br />

ideais em comum, dos filhos e<br />

netos muito queridos, estava<br />

sempre agindo em favor da<br />

harmonia entre todos.<br />

Como irmã da B´nai B´rith foi<br />

a criadora do Programa Culinária<br />

Alternativa, juntamente com o<br />

dr. Jayme Murahovschi,<br />

proporcionando a creches,<br />

escolas, lar de idosos,<br />

organizações de assistência<br />

social em geral, a possibilidade<br />

de preparar pratos saborosos e<br />

nutritivos praticamente a custo<br />

zero. Seus ensinamentos<br />

continuam sendo aplicados pelos<br />

voluntários da B´nai B´rith.<br />

Somente este ano foram dois<br />

cursos no Abrigo Nossa Sra. da<br />

Paz, que atende a quatro favelas<br />

na Zona Sul de São Paulo.<br />

Culinarista respeitada pelos<br />

chefs mais importantes,<br />

desenvolveu produtos e receitas<br />

para empresas renomadas,<br />

sempre com a excelência que lhe<br />

era característica, pois não<br />

desistia até atingir a perfeição, o<br />

que fica claro também através<br />

de seus livros. Nossa<br />

homenagem a esta Mulher com M<br />

maiúsculo.<br />

Receitas com grife<br />

Ingredientes:<br />

Tipo de forma: de pão com 1,2 litro de capacidade, untada<br />

com azeite e forrada com papel-manteiga untado e polvilhado<br />

com farinha de rosca.<br />

Ingredientes para a terrine:<br />

1 ½ xícara de caldo de galinha feito em casa e coado;<br />

1 xícara de funghi porcini secos sem lavar;<br />

100 gramas de manteiga;<br />

¾ de xícara de cebola bem picada;<br />

2 dentes de alho bem picados;<br />

¼ de xícara de vinho do Porto;<br />

350 gramas de cogumelo shitake fresco sem os talos e<br />

cortados em fatias;<br />

350 gramas de cogumelos shimeji sem a parte dura e<br />

picados grosseiramente;<br />

1 xícara de creme de leite espesso;<br />

4 ovos;<br />

¼ de xícara de amêndoas torradas e moídas bem fino;<br />

2 colheres de chá de salsa bem picada;<br />

1/3 de xícara de migalhas de miolo de pão fresco;<br />

1 ½ colher de sopa de suco de limão;<br />

2 colheres de chá de sal;<br />

½ colher de chá de pimenta-do-reino preta moída na hora.<br />

Ingredientes para a cobertura:<br />

2 colheres de sopa de manteiga;<br />

1 colher de sopa de azeite;<br />

1 xícara de cogumelo shitake cortado em 4 pedaços<br />

sem o talo;<br />

1 xícara de cogumelo shimeji cortado em 4 pedaços<br />

sem o talo;<br />

¾ de xícara de amêndoas inteiras, com pele, tostadas e<br />

picadas grosseiramente;<br />

¼ de xícara de salsa picada;<br />

Sal e pimenta-do-reino.<br />

Ingredientes:<br />

1kg de abóbora, cortada em cubos<br />

grandes;<br />

2 colheres (sopa) de cebola;<br />

3 colheres (sopa) de azeite;<br />

1 litro de caldo de legumes (de<br />

preferência caseiro);<br />

1 folha de louro;<br />

50 g de queijo gorgonzola picado;<br />

1 ½ colher (chá) de pimenta-do-reino<br />

branca;<br />

150 g de pêras secas, molhadas em<br />

água morna e cortadas em cubinhos.<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

Terrine de cogumelo<br />

Modo de fazer:<br />

15<br />

Prepare a terrine:<br />

Numa panela pequena, leve o caldo para ferver, retire<br />

do fogo e deixe os funghi porcini de molho nele por 30<br />

minutos. Sobre uma panelinha, coloque uma peneira fina<br />

forrada com papel-toalha. Coloque os funghi e o caldo<br />

que eventualmente tenha restado sobre esta peneira,<br />

esprema o excesso de líquido e reserve. Enxagüe os funghi<br />

para eliminar qualquer resíduo e seque bem. Pique e<br />

coloque numa tigela grande. Leve o líquido coado para<br />

ferver em fogo lento até reduzir a aproximadamente ¼<br />

de xícara e acrescente aos funghi picados.<br />

Pré-aqueça o forno em temperatura moderada (180°<br />

C). Numa frigideira antiaderente, aqueça 2 colheres de<br />

sopa de manteiga sobre o fogo moderado até parar de<br />

espumar e refogue a cebola e o alho até murcharem, aproximadamente<br />

6 minutos. Junte o vinho do Porto e continue<br />

a refogar, mexendo durante 1 minuto, e transfira<br />

para o liquidificador.<br />

Em outra frigideira, com mais 2 colheres de sopa de manteiga,<br />

refogue os dois tipos de cogumelo, mexendo durante<br />

uns 2 minutos. Junte o restante da manteiga se necessário.<br />

Acrescente 2 xícaras deste refogado à mistura no liquidificador<br />

e o restante aos funghi picados. A mistura do liquidificador,<br />

junte o creme de leite, os ovos e a amêndoa e bata<br />

para obter um purê homogêneo. Junte esse purê à mistura<br />

de porcini e acrescente os demais ingredientes, misturando<br />

bem. Despeje na forma preparada e cubra com papel alumínio.<br />

Coloque a forma sobre uma folha de jornal dobrada.<br />

Leve ao forno moderado (180° C) em banho-maria com água<br />

fervente até metade da forma e asse na grade central do<br />

forno durante 1 hora e 10 minutos (a terrine ficará meio<br />

mole no centro). Retire do forno e deixe esfriar. Leve para<br />

gelar tampada durante no mínimo 6 horas e no máximo 5<br />

dias. Deixe em temperatura ambiente antes de desenformar.<br />

Creme de abóbora com gorgonzola e pêras secas<br />

Modo de fazer:<br />

Em caldeirão pequeno, aqueça o azeite e nele refogue rapidamente<br />

a cebola. Junte a abóbora, refogue mais um pouco, acrescente<br />

o louro e apenas 700 ml do caldo. Tampe e deixe cozinhar de<br />

30 a 40 minutos, até a abóbora ficar bem tenra. Retire, aguarde um<br />

pouco, bata no liquidificador e leve de volta à panela. Tempere com<br />

o sal e a pimenta. Pouco antes de servir, aqueça a sopa sobre fogo<br />

moderado, adicione o queijo e mexa até derreter. Se necessário,<br />

junte mais caldo para obter um creme. Acrescente as pêras, aqueça<br />

rapidamente e sirva imediatamente.<br />

Dicas:<br />

O ideal é misturar partes iguais de abóbora de pescoço de cor<br />

bem acentuada e abóbora kabocha. Para servir esse creme em porções<br />

individuais: lave bem pequenas abóboras bem redondas. Retire<br />

uma tampa e uma fatia da parte inferior, para assentá-la no prato.<br />

Pincele a casca com pouco óleo, embrulhe-as individualmente<br />

em papel alumínio e leve abóboras e tampas ao forno moderado<br />

para assar, apenas o necessário.


16<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

* <strong>Na</strong>hum Sirotsky é<br />

jornalista,<br />

correspondente da<br />

RBS e do Último<br />

Segundo/IG em Israel.<br />

A publicação desta<br />

coluna tem a<br />

autorização do autor.<br />

Vittorio Corinaldi *<br />

televisão de Israel dedicou alguns<br />

programas matutinos de<br />

Shabat a uma série de entrevistas<br />

con Itzchak Ben Aharon.<br />

Com isto tornou possível a um largo<br />

público observar, não um fenômeno,<br />

mas um <strong>verdade</strong>iro milagre no panorama<br />

político deste país.<br />

Ben Aharon é um personagem largamente<br />

conhecido e admirado por<br />

aliados e mesmo por adversários. Mas<br />

o que é absolutamente extraordinário<br />

é que – na idade de 98 anos –<br />

ele apresenta uma clareza de opiniões,<br />

uma visão global de processos<br />

e fenômenos, e uma argumentação<br />

lúcida, categórica e atualizada sobre<br />

tudo o que se passa na sociedade<br />

israelense e no mundo moderno.<br />

Não é por acaso que muitos vêm<br />

nele um porta-voz de honestidade<br />

intelectual e coerência ideológica,<br />

e aguardam ansiosos e sedentos<br />

qualquer pronunciamento seu a respeito<br />

de questões de atualidade e<br />

de princípio — numa expectativa<br />

por um sinal de liderança de que<br />

tanto se sente a falta hoje, e que<br />

<strong>Na</strong>hum Sirotsky *<br />

(De Israel) — O presidente Bush e<br />

o chefe do governo interino não desistem<br />

de realizar as eleições no Iraque<br />

em 30 de janeiro. Existe a idéia<br />

do chefe do governo iraquiano de<br />

fazê-las em etapas e por vários dias.<br />

Minimizaria as ameaças de violências<br />

dos insurgentes que têm sinônimos<br />

como militantes e terroristas, alega<br />

ele. Ainda não se sabe se a sugestão<br />

será aceita. Mas a <strong>verdade</strong> <strong>verdade</strong>ira<br />

sobre o que preocupa não está<br />

sendo enfatizada. E só pode ser propositalmente.<br />

Os americanos<br />

entraram no país<br />

com tropa militarmente<br />

preparada e com<br />

armamento superior.<br />

Politicamente, porém,<br />

ignorando o<br />

primário e óbvio de<br />

que invadiam um país<br />

ainda muito dividido<br />

em tribos e seitas religio-<br />

Milagre na TV<br />

políticos muito mais jovens não<br />

conseguem transmitir.<br />

De onde provêm a autoridade<br />

moral de Ben Aharon?<br />

Será de seu absoluto desinteresse<br />

por posições de prestígio e<br />

influência, apesar da longa trajetória<br />

de missões políticas que percorreu?<br />

Será de sua qualidade de membro<br />

convicto de Kibutz – um kibutz do<br />

qual se recusa a ratificar tendências<br />

atuais que contradizem a original<br />

vocação pioneira e revolucionária do<br />

Movimento Kibutziano?<br />

Será de seu envolvimento pessoal<br />

em tarefas de importância material ou<br />

espiritual para os destinos do país e<br />

do povo judeu, ou de sua identificação<br />

com causas de justiça social e<br />

igualdade humana? Estes o levaram a<br />

inúmeros desafios – desde a participação<br />

em movimentos revolucionários<br />

ainda na Europa, através da Aliá e da<br />

adesão ao movimento obreiro de Eretz<br />

Israel, passando pelo alistamento voluntário<br />

no exército britânico durante<br />

a Segunda Guerra Mundial (que lhe<br />

custou um cativeiro como prisioneiro<br />

de guerra, espantosamente escapado<br />

do trágico destino dos judeus<br />

sas. Não prepararam os soldados nem<br />

percentual suficiente da oficialidade<br />

para o encontro com o povo local. E<br />

deu no que deu.<br />

O Iraque tem cerca de 440 mil<br />

quilômetros quadrados de extensão<br />

e 26 milhões de habitantes. A segunda<br />

maior reserva de petróleo<br />

conhecida, além de outros recursos<br />

naturais. De 75 por cento da<br />

população, que é árabe, cerca de<br />

60 por cento são da seita muçulmana<br />

minoritária, a xiita. Os sunitas,<br />

que são 90 por cento dos muçulmanos<br />

no mundo, são cerca de<br />

32 por cento dos iraquianos. Mas<br />

tinham o poder. Saddam Hussein é<br />

sunita. Não confiava nos xiitas, a<br />

cujos protestos ou rebeliões, respondia<br />

com massacres.<br />

O Iraque tem 4.400 quilômetros<br />

de fronteiras com seus vizinhos árabes<br />

muçulmanos, dos quais, 1.458<br />

quilômetros com o Irã, que é 90 por<br />

cento xiita e cerca de 3 por cento<br />

apenas sunita. Outra fronteira exten-<br />

que caíram nas redes do nazismo); e<br />

chegando até os cargos de Secretário<br />

Geral da Histadrut (na qual distinguia<br />

um papel muito mais criativo<br />

do que o da representação exclusivamente<br />

sindical que veio a adquirir de<br />

anos para cá), ou os de ministro em<br />

vários govêrnos.<br />

Será de sua corajosa e aberta defesa<br />

da unificação das forças obreiras<br />

do país, numa época na qual ainda<br />

vigoravam numa parte da esquerda<br />

israelense divisões ideológicas<br />

que se apoiavam numa ilusória interpretação<br />

do regime soviético? Ou<br />

de seu obstinado antagonismo às<br />

atuais correntes socioeconômicas<br />

neocapitalistas de inspiração Thatcheriana,<br />

que vêm solapando a estrutura<br />

igualitária da segurança social<br />

no país? Ou ainda de suas posições<br />

claramente anticlericais frente<br />

às obsoletas exigências do Judaismo<br />

Ortodoxo para com a maioria leiga<br />

e liberal da população?<br />

Será simplesmente de sua cativante<br />

personalidade, irradiada por meio<br />

de um diálogo polêmico mas respeitoso<br />

e civilizado, ou de sua afável mas<br />

rígida intransigência ética?<br />

No Iraque pode ganhar o Irã<br />

sa iraniana é com o Paquistão. O resto<br />

é com mares e oceanos. Estudadas,<br />

verifica-se serem mínimas as diferenças<br />

na prática do Islã entre xiitas<br />

e sunitas. Mas não se apreciam.<br />

Quem lê o noticiário da guerra do<br />

Iraque logo nota que sunitas e xiitas<br />

se concentram em regiões diferentes<br />

do país. E devem ter contas a<br />

ajustar entre eles. Saddam favorecia<br />

sunitas nos bons empregos, destaques<br />

orçamentários, obras. Fisicamente<br />

não são diferentes, porém, a<br />

questão é a prática da fé.<br />

Os xiitas já avançaram na organização<br />

de partidos e como candidatos<br />

para as eleições cuja realização<br />

em boa ordem e sem fraudes<br />

devem marcar o início da implantação<br />

da democracia no Iraque. O<br />

começo da proposta-sonho do presidente<br />

Bush de um Oriente Médio<br />

politicamente democratizado. Estado<br />

com os Poderes Executivo,<br />

Judiciário, Legislativo, como nos<br />

países com sistemas democráticos.<br />

Quem quer ver em Israel a concretização<br />

moderna dos ideais mais<br />

elevados do Judaismo; quem aspirar<br />

às metas mais luminosas que o Sionismo<br />

se propôs — recusa-se em seu<br />

espírito a ver na figura de Ben Aharon<br />

apenas o portador da cifra admirável<br />

de seus anos, e procura se<br />

fixar no quase século de uma ação<br />

coerente, convicta, autêntica, contínua,<br />

dedicada e desinteressada:<br />

ação que encerra toda a essência da<br />

maravilhosa aventura do renascimento<br />

nacional judaico, praticamente<br />

em todas as fases de seu histórico<br />

desenvolvimento.<br />

E ao contemplar esta singular figura,<br />

reaviva-se a fé no caminho que,<br />

embora acidentado e atravessando<br />

trechos de altura mas também de<br />

baixada, não tem igual como roteiro<br />

de progresso e de justiça, orientado<br />

por homens de tal estatura. E<br />

cresce a esperança de que eles permaneçam<br />

à sua frente, sempre jovens<br />

em seus muitos, longos e experientes<br />

anos de vida.<br />

* Vittorio Corinaldi é arquiteto e<br />

mora em Tel Aviv, Israel.<br />

Partidos, organizações da sociedade<br />

civil, liberdade de opinião e<br />

crença, e etc. Mas ser PT ou PMDB<br />

não é ser sunita ou xiita. O PT ganhou<br />

com Lula mas tem de negociar<br />

cada passo com partidos e grupos<br />

diferentes. Os sunitas têm a<br />

tradição de anos no poder. Os xiitas,<br />

porém, se as eleições forem<br />

honestas, ganharão. A grande dúvida<br />

sobre as eleições se resume<br />

em, se os sunitas vão aceitar a perda<br />

do poder na esportiva.<br />

O Irã dos aiatolás, o que financia<br />

o Hezbolá, afirmam os israelenses<br />

e americanos, a fortíssima<br />

guerrilha na fronteira norte<br />

de Israel que governa o sul do<br />

Líbano, tende a ajudar os seus<br />

irmãos na fé. E não aceitará ajeitadas<br />

no pleito.<br />

Não apostaria num período de<br />

tranqüilidade no Iraque nem até 30<br />

de janeiro, nem depois. O custo da<br />

democracia no Iraque tende a ser<br />

muito, muito elevado.


VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

O que a Cabalá é<br />

O que a Cabalá não é<br />

Abraham Chachamovits *<br />

ecebo muitas cartas e<br />

consultas de pessoas que<br />

gostariam de saber mais<br />

sobre a Cabalá, e que muitas<br />

vezes assumem<br />

erroneamente tanto a origem,<br />

o propósito, bem como a profundidade<br />

da Cabalá. De fato, muitos “ouvem falar”<br />

sobre a Cabalá de fontes absolutamente<br />

superficiais — desprovidas de<br />

qualquer conhecimento legítimo, além<br />

de ignorantes das questões imperativas<br />

sobre a santidade do assunto. Tratam<br />

o que ouvem sobre a Cabalá apenas<br />

como “mais uma” fonte para trazer-lhes<br />

‘sucesso e felicidade’ imediato,<br />

tal como buscariam em um horóscopo<br />

ou em uma consulta com alguém que<br />

joga búzios, D-us não permita.<br />

Raríssimos são aqueles que buscam um<br />

desenvolvimento espiritual, onde o crescimento<br />

e a sabedoria espiritual são o<br />

maior ganho. A maioria quer apenas<br />

soluções rápidas, como se por não terem<br />

conseguido “resultados” desejados<br />

nesta ou naquela fonte, então pensam:<br />

por que não tentar mais esta “coisa de<br />

Cabala que ouviram falar” (de terceiros<br />

ou quartos) que parece ser “muito boa”?<br />

Todas estas considerações são incrivelmente<br />

superficiais e confusas, e para<br />

ao menos tentar estabelecer um padrão,<br />

a fim de que as pessoas possam<br />

conhecer melhor (para depois perguntar)<br />

sobre a Cabalá, estou aqui oferecendo<br />

um breve manual de respostas<br />

sobre a Cabalá. Espero que isso ajude<br />

a elucidar algumas questões básicas<br />

sobre a Cabalá, e que de fato traga<br />

uma iniciação <strong>verdade</strong>ira para aqueles<br />

que buscam evoluir espiritualmente,<br />

cada um em seu nível e capacidade.<br />

A CABALÁ VERDADEIRA,<br />

é entendimento metafísico que é implícito<br />

e (portanto subordinado) aos<br />

mandamentos físicos e relatos da Torá<br />

sagrada, que foi dada diretamente por<br />

D-us ao povo judeu no Monte Sinai, há<br />

exatamente 3.316 anos atrás e testemunhado<br />

ao mesmo tempo por mais<br />

de 2 milhões de pessoas!<br />

compreende muito mais do que um<br />

assunto a ser aprendido, como se fosse<br />

uma simples matéria acadêmica<br />

que qualquer aluno aprende na faculdade<br />

e torna-se “conhecedor”. Ela<br />

constitui um método de práticas que<br />

ativa o ‘espírito vivo’ da Torá e revela<br />

sua força oculta dentro de cada palavra<br />

e letra. Ela compreende ativamente<br />

um <strong>verdade</strong>iro ‘questionamento e<br />

posicionamento’ existencial.<br />

explica os ‘sentido e as razões’ de se<br />

observar os mandamentos da Torá e os<br />

Rabínicos.<br />

trata, revela, e imbui a pessoa com<br />

a compreensão dos segredos das ‘leis<br />

espirituais’ que <strong>verdade</strong>iramente governam<br />

a alma humana; seja no nível<br />

individual ou coletivo, assim estabelecendo<br />

todo o seu desenvolvimento<br />

espiritual.<br />

revela o plano fundamental de D-us<br />

para Sua criação, e como o cumprimento<br />

das Suas Leis (as 613 mitsvot para<br />

os judeus e as 7 para os não-judeus)<br />

existem como ferramentas de ‘retificação<br />

do mundo’ — o objetivo básico de<br />

união de tudo que existe, espiritual e<br />

físico, e do reconhecimento da unicidade<br />

absoluta e infinita de D-us.<br />

é o segredo da sabedoria que é estudada<br />

e aplicada pelos rabinos sagrados,<br />

mesmo hoje em dia, que os permitem<br />

feitos miraculosos. Maior exemplo<br />

disso é o nosso Rebe de Lubavitch, de<br />

abençoada memória, que tanto ajudou<br />

e ajuda o mundo.<br />

é o caminho da meditação mais<br />

profunda, antiga, provada, e exclusivamente<br />

Divina que permite a união<br />

com D-us.<br />

é uma parte do estudo e prática absolutamente<br />

essenciais da Torá, oferecendo<br />

‘insights’ profundos sobre a<br />

Torá, assim como os grandes mestres<br />

da Cabalá, tais como o R’ Shimon Bar<br />

Yochai, o Ari’zal, o Ba’al Shem Tov, o<br />

R’ Yehuda Ashlag, entre outros, explicam<br />

como fundamental.<br />

é de fato uma parte integral da Torá<br />

e da Halachá (da Lei <strong>Judaica</strong>), de forma<br />

a serem completamente inseparáveis.<br />

Esotericamente, isso quer dizer<br />

que o recebimento da luz Divina precisa<br />

de um ‘recipiente’ adequado, e<br />

assim, a pessoa precisa ser observante<br />

da Lei <strong>Judaica</strong> (para criar o recipiente)<br />

para poder de fato estudar a Cabalá<br />

(que é a luz Divina). Caso contrário,<br />

a pessoa não conseguirá nada<br />

que seja santificado e causará danos<br />

espirituais e físicos.<br />

representa a sabedoria íntima de<br />

D-us, algo tão sagrado e profundo que<br />

certamente não pode jamais ser tratado<br />

com a simplicidade de uso conveniente<br />

como tantos tratam as falsas e perigosas<br />

armas da sitra achra (“o outro<br />

lado, das forças do mal”), as quais enganam<br />

o homem através dos oráculos,<br />

divinações, fala com os mortos, etc. É<br />

<strong>verdade</strong> que estas considerações são<br />

somente aplicáveis, sob o estrito ponto<br />

de vista da Lei <strong>Judaica</strong>, para os judeus;<br />

pois a Lei <strong>Judaica</strong> proíbe ‘completamente’<br />

estes caminhos esotéricos para os<br />

judeus. Mas os gentios (os não-judeus)<br />

apesar de serem permitidos de ‘adorar<br />

outros deuses’ (desde que reconheçam<br />

que o poder de D-us é o poder maior)<br />

também podem, digo, ‘devem’ ligar-se<br />

com D-us diretamente e assim evitar a<br />

‘impureza e profanação’ de Seu Nome<br />

causada pela ligação com estas forças<br />

intermediárias ‘inferiores e impuras’, e<br />

que se nutrem justamente através da<br />

‘devoção’, que por vezes mesmo os judeus<br />

mais ignorantes e as <strong>Na</strong>ções (os<br />

povos não-judeus), têm por elas.<br />

A CABALÁ VERDADEIRA NÃO,<br />

é lida, hoje em dia, com seu lado<br />

chamado Prático. A Cabalá Ma’asit (‘Prática’),<br />

como é conhecida, almeja a alteração<br />

de eventos no mundo através<br />

do uso de pronunciamentos dos Nomes<br />

Divinos de D-us, da invocação de forças<br />

angelicais, inscrições em amuletos,<br />

entre outras técnicas. No entanto,<br />

o grande mestre Cabalista Ari’zal,<br />

proibiu o uso da Cabalá Ma’asit, pois<br />

sem o Beit Hamikdash (‘O Templo Sagrado’)<br />

erguido, e, portanto, sem a disponibilidade<br />

das cinzas da Pará Adumá<br />

(‘Vaca Vermelha’*) para a purificação<br />

das pessoas, o uso destas forças<br />

através de pessoas em estado impuro<br />

torna-se extremamente perigoso para<br />

elas mesmas e para a ordem do mundo.<br />

De fato, o surgimento de cultos e<br />

movimentos absolutamente impuros de<br />

Cabalá deve-se ao uso inapropriado<br />

deste conhecimento. O resultado disso<br />

tem sido a corrupção da consciência<br />

mundial sobre a própria legitimidade<br />

da Cabalá, criando suficiente<br />

‘confusão’ sobre sua pureza de modo<br />

a ‘confundir a luz pela escuridão e a<br />

escuridão pela luz’. Isso ocorre na<br />

medida em que a identificação correta<br />

de sua origem pura e exclusivamente<br />

judaica é adulterada pelas ‘misturas<br />

absolutamente impróprias’ que vários<br />

cultos, religiões, seitas, e supostos “locais<br />

de estudo” propõem (inclusive com<br />

a ‘prática e venda’ aberta de materiais<br />

sobre a Cabalá Ma’asit); o que de fato<br />

tem enganado muitos ignorantes que<br />

a <strong>verdade</strong>ira Cabalá demanda, obrigatoriamente,<br />

uma ‘vida virtuosa contínua<br />

e a aceitação do jugo Divino’ de<br />

acordo com a Torá.<br />

é magia negra. Ela não tem qualquer<br />

conexão com o oculto e ela jamais<br />

é algo supersticioso.<br />

contém qualquer elemento cultural<br />

grego, egípcio, etc, ou seja, não-judeu<br />

em ‘qualquer espécie ou grau’. Ela<br />

nunca e jamais é cristã, ou rosacrusiana,<br />

hermética, maçônica, pagã, panteísta,<br />

xamanista, budista, bahaista,<br />

tântrica, teosófica, teurgica, ou ligada<br />

à mediunidade, magia, astrologia,<br />

mitologia, yôga, tarô, feng shui, radiestesia,<br />

runas, bruxaria, ufologia,<br />

aromaterapia, cristais, quiromancia,<br />

sufismo, búzios, candomblé, i ching,<br />

alquimia, encantamentos, chakras,<br />

umbanda, reiki, cromoterapia, kundalini,<br />

amuletos, etc, etc, etc!<br />

tem, portanto qualquer vínculo com<br />

as crenças modernas de “new age”, ou<br />

religiões orientais. Qualquer alusão a<br />

isso através de qualquer material, palestra,<br />

Internet, livros, etc, implica<br />

obrigatoriamente em charlatanismo e<br />

profanação direta do Nome de D-us.<br />

é apenas uma ‘filosofia de vida’, que<br />

possa ser separada da prática integral<br />

da Lei <strong>Judaica</strong> (da Halachá Ortodoxa),<br />

portanto e como já explicado, ela não<br />

é algo ‘acadêmico’ — algo que se usa<br />

quando se quer e depois é “colocado<br />

na gaveta” até a próxima necessidade.<br />

pode ser jamais aprendida no mundo<br />

secular (novamente, como algo ‘acadêmico’),<br />

ou de livros escritos por pessoas<br />

que não se dedicam a ela com santidade<br />

e que elas mesmas “aprenderam” a<br />

Cabalá através do mero exercício intelectual.<br />

De fato, o intelecto humano não<br />

é suficientemente forte para receber a<br />

Luz de D-us. Ou seja, Cabalá não existe<br />

(somente) na mente. Ela existe no desejo,<br />

na fala, nas ações, no comportamento,<br />

e acima de tudo, no cumprimento<br />

das mitsvot e no estudo da Torá.<br />

pode ser compreendida, a não ser<br />

que a pessoa observe a Lei <strong>Judaica</strong>,<br />

pois como explicado, isso faz a pessoa<br />

tornar-se um recipiente para a Luz<br />

e assim, própria para receber os ‘insights’<br />

da Cabalá.<br />

RESUMO<br />

Esqueça completamente que você pode<br />

aprender a Cabalá indo a uma livraria e<br />

comprando um livrinho escrito por alguém<br />

não praticante da Lei <strong>Judaica</strong>; e<br />

que assim e desta maneira, após ‘uma<br />

os duas’ vezes que você ler este livro,<br />

ou ver uma programa na televisão sobre<br />

este assunto, você já pode começar<br />

a “praticar” a Cabalá. Isso além de<br />

absurdo, espiritualmente infantil e simplista,<br />

é muito perigoso! Esta mentalidade<br />

de satisfação “instantânea” (apesar<br />

de muitas vezes compreensível diante<br />

das enormes dificuldades da vida)<br />

é produto justamente da ‘ocultação’ da<br />

Luz Divina no mundo, a qual a Cabalá<br />

busca revelar de maneira sensível e<br />

profunda. Não existem soluções simplistas<br />

e rápidas para problemas que<br />

foram causados por um grande<br />

acúmulo de falhas espirituais!<br />

O mais importante de tudo é<br />

‘crer em D-us de forma simples<br />

e pura’. <strong>Na</strong>da é mais<br />

importante do que isso.<br />

Com o tempo e através do<br />

estudo profundo e do cumprimento<br />

dos mandamentos,<br />

das boas ações, e da<br />

calma e serenidade, a pessoa<br />

poderá merecer a proximidade<br />

com a Shechinah (‘A Presença<br />

Divina’) e assim receber os<br />

segredos da Torá, trilhando o caminho<br />

<strong>verdade</strong>iro da santidade através das<br />

Suas leis. E desta maneira, a pessoa<br />

estará contribuindo também para a retificação<br />

do mundo, o que apressa a<br />

vinda do Moshiach, o Redentor que trará<br />

a paz eterna para o mundo, e que<br />

seja muito em breve em nossos dias.<br />

* Abraham<br />

Chachamovits é rabino<br />

e conhecedor da<br />

Cabalá.<br />

17


18<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

* Moises Rabinovici<br />

é jornalista e foi<br />

correspondente do<br />

jornal “O Estado de<br />

S. Paulo” em Israel<br />

e no Líbano, de<br />

1977 a 1984.<br />

Moises Rabinovici *<br />

Arafat de sempre, até o último<br />

instante: morreu? não<br />

morreu? morreu de quê?<br />

qual o seu herdeiro politico?<br />

Homem de versões e rumores,<br />

enigmático, controverso,<br />

superterrorista e Nobel da Paz, símbolo<br />

de salvação para um povo, o<br />

palestino, e de destruição para<br />

outro, o israelense.<br />

Mohammed Abdel-Raouf Arafat<br />

Al-Qudwa Al-Hussein, nome de<br />

guerra Abu Ammar, ou Pai Construtor,<br />

nasceu em 1929 no Cairo,<br />

oficialmente, mas também, ao mesmo<br />

tempo, em Gaza, como o bíblico<br />

Sansão, e na amada Al-Quds, A<br />

Santa, o nome árabe de Jerusalém,<br />

segundo as versões que ele próprio<br />

propagou.<br />

Um sobrevivente, como provou<br />

mais uma vez a sua agonia<br />

parisiense interrompida por várias<br />

mortes anunciadas. Ele morreu na<br />

queda de seu avião no deserto<br />

líbio, em 1992. Morreu também<br />

de uma trombose ce-<br />

rebral. Ele morreu em vários<br />

edifícios de Beirute<br />

arrasados pelo seu<br />

arquiinimigo Ariel Sharon,<br />

hoje primeiro-ministro<br />

de Israel, que o<br />

caçava com aviões F-16,<br />

Marinha, infantaria e artilharia,<br />

em 1982. Morreu na vingança<br />

dos agentes do Mossad ao<br />

massacre dos atletas israelenses<br />

nas Olimpíadas de Munique, em<br />

1972. Ele morreu perseguido pelo<br />

rei Hussein, da Jordânia, no Se-<br />

As muitas mortes de Arafat<br />

tembro Negro de 1970. Morreu em várias<br />

traições de facções de sua OLP e<br />

num golpe da Síria. Ele morreu, politicamente,<br />

para Israel e os Estados<br />

Unidos, em 2000, quando rejeitou a<br />

melhor oferta de paz jamais feita aos<br />

palestinos, em negociações que desembocaram<br />

numa nova intifada, a rebelião<br />

palestina na Cisjordânia e Gaza.<br />

Bom sobrevivente, exímio equilibrista<br />

em ambigüidades. Em 1974, ele<br />

entrou com um revólver no coldre na<br />

Assembléia-Geral da ONU e um ramo de<br />

oliveira na mão:<br />

“Não deixem cair o ramo de oliveira<br />

da minha mão”, pediu ao mundo, diplomata<br />

e guerrilheiro. Seu caminho<br />

para a paz foi sempre minado por atentados<br />

terroristas espetaculares, ou pelo<br />

uso de mais ou menos intifada. Seu<br />

reconhecimento do Estado de Israel<br />

nunca chegou a ser convincente. Uma<br />

vez ele tentou uma façanha impossível:<br />

apoiar a invasão do Kuwait por<br />

Sadam Hussein sem perder os US$ 100<br />

milhões anuais de patrocínio dos primos<br />

árabes ricos do Golfo Pérsico. E<br />

caiu em desgraça.<br />

Lembro-me do nosso primeiro encontro<br />

no porto destruído de Beirute.<br />

Keffieh preta e branca na cabeça, enrolada<br />

para dar a forma de diamante<br />

do mapa da Palestina, o revólver Magnum,<br />

o sorriso, a multidão delirante<br />

querendo tocá-lo, enquanto uma banda<br />

tocava Biladi, Biladi, ou Meu País,<br />

o hino da pátria que Abu Ammar, o Pai<br />

Construtor, deveria liberar e construir<br />

para seu povo. Estava zarpando para o<br />

exílio na Tunísia, expulso do Líbano<br />

pelo então ministro da Defesa israelense<br />

Ariel Sharon, num navio de nome<br />

curioso para exilados em busca de Bi-<br />

ladi: Atlântida - o continente perdido.<br />

Quando o reencontrei em Gaza,<br />

12 anos depois, ele já não tinha<br />

mais a auréola do combatente. Suas<br />

mãos tremiam. Balbuciava palavras em<br />

inglês com dificuldade. Carregava a<br />

pecha de corrupto, ditador e incompetente.<br />

Censurava a nascente imprensa<br />

palestina. Perseguia intelectuais.<br />

Explodia com os parceiros mais<br />

íntimos. Mas ainda falava da “paz dos<br />

bravos”, a que lhe valeu o aperto de<br />

mãos histórico com o então primeiro-ministro<br />

de Israel, Yitzhak Rabin,<br />

nos jardins da Casa Branca.<br />

Em Beirute e em<br />

Gaza repeti a Arafat<br />

uma mesma pergunta:<br />

Por que, perseguindo<br />

o ideal, ele<br />

deixava sempre escapar o possível?<br />

A seu pedido, uma vez<br />

me expliquei: “Porque o que<br />

os palestinos querem agora<br />

é muito parecido com<br />

o que a ONU lhes ofereceu<br />

na partilha da Palestina,<br />

em 1947.”<br />

Abu Ammar não respondeu.<br />

Um assessor<br />

justificaria depois: “A pergunta<br />

foi mal formulada”.<br />

Conta-se que Abu Ammar resolveu<br />

consultar uma cartomante sobre<br />

seu futuro. “Tenho uma notícia<br />

estranha”, ela disse. “Você vai<br />

morrer num grande feriado judaico”.<br />

Quando o Sobrevivente passou<br />

a divagar sobre os mistérios da vida<br />

e de seu surpreendente destino, ela<br />

o interrompeu: “Olha: qualquer dia<br />

em que você morrer será um grande<br />

feriado judeu...”<br />

O trio palestino que foi de Ramallah<br />

a Paris para saber se Arafat<br />

estava apenas sobrevivendo mais uma<br />

vez, ou se agora sucumbiria a sua última<br />

e definitiva morte, imaginou<br />

uma coincidência religiosa para um<br />

desfecho de importância histórica: o<br />

dia sagrado de Lailat al-Kader, que<br />

comemora a revelação do Alcorão por<br />

Alá ao profeta Maomé, coincidia com<br />

o diagnóstico de coma profundo<br />

e hemorragia cerebral. Era uma<br />

chance para o Sobrevivente passar à<br />

outra condição: a de mártir. Mas ele<br />

sobreviveu um dia mais.<br />

Agora morto, o Arafat de sempre:<br />

funeral de estadista sem Estado, em<br />

Paris e no Cairo; e enterro popular e<br />

caótico em Ramallah, a multidão<br />

emocionada prometendo redimi-lo<br />

“com sangue e com a alma”. Sobre o<br />

caixão de “Mister Palestina” espargiu-se<br />

a terra de Jerusalém, a capital<br />

de Israel que ele uma vez prometeu<br />

destruir; a capital da Palestina<br />

que ele não libertou; e o símbolo da<br />

paz que ele não conquistou.


TURISMO<br />

Cidade além dos muros (1)<br />

O antigo<br />

edifício do<br />

século 19,<br />

conhecido<br />

por Talita<br />

Kumi (menina<br />

levanta),<br />

resto do<br />

orfanato de<br />

meninas<br />

mantido<br />

pelos cristãos<br />

VJ INDICA<br />

Jerusalém (18)<br />

Antônio Carlos Coelho *<br />

Muitas pessoas perguntam se<br />

Jerusalém é uma cidade antiga<br />

cercada de muros, cheia de relíquias<br />

do passado bíblico. Há motivos<br />

para isso, pois é a parte mais<br />

explorada da Cidade, tanto pelo<br />

turismo quanto pelas revistas e<br />

pelas agências de viagens. Mas a<br />

capital de Israel é muito mais do<br />

que uma cidade antiga cercada<br />

por uma muralha. Ela possui a parte nova, construída a<br />

partir da metade do século 19.<br />

A “cidade nova” apresenta uma arquitetura interessante<br />

que merece ser conhecida pela sua beleza e pelo que ela<br />

traduz da história de Jerusalém. São marcas da história<br />

recente de Israel que registram desde o período do domínio<br />

otomano até as mais recentes obras da arquitetura<br />

contemporânea.<br />

Visitar a “cidade nova” de Jerusalém é tão interessante<br />

quanto visitar a antiga. As marcas da história recente<br />

de Israel estão nas ruas, nas casas, nos cafés, nas lojas e<br />

nas praças. Ao passar pelos arredores da Praça Sion, no<br />

centro da cidade, lembramos o Dia da Independência de<br />

Israel. Lá está o balcão onde Ben Gurion falou ao povo<br />

que festejava a criação do novo Estado de Israel. É possível<br />

imaginar o que foi aquela noite de maio quando a<br />

população dançou nas proximidades da Rua Jaffa e Ben<br />

Yehuda. Nesta mesma rua temos um café, o Atara, ponto<br />

de encontro de muitos jornalistas dos anos 40, palco de<br />

um dos mais impressionantes atentados provocados pelos<br />

LIVRO<br />

O Dever da Memória<br />

- O Levante do Gueto de<br />

Varsóvia – Ed. Age<br />

Abrão Slavutzky<br />

Entre os pontos de referência do Gueto<br />

de Varsóvia, salienta-se Mila 18. Uma<br />

casa no cruzamento da Rua Mila com a<br />

Rua Zamenhoff. Hoje, no lugar da casa,<br />

foi plantado um jardim e, no centro,<br />

uma pequena elevação relvada expõe<br />

uma grande pedra negra.<br />

Em maio de 1945, quando a guerra terminou,<br />

vários combatentes judeus, sobreviventes<br />

do gueto, foram procurar o quartel general<br />

e, como estava tudo em escombros, acharam uma pedra e gravaram em<br />

letras simples em polonês, iídiche e hebraico:<br />

’Aqui, no dia 8 de maio de 1943, Mordechai Anielewicz, comandante do gueto<br />

de Varsóvia, tombou junto com o estado-maior da Organização dos Combatentes<br />

Judeus e dezenas de lutadores na campanha contra o inimigo nazista.’<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

árabes nos dias que antecederam a criação do novo Estado.<br />

A Ben Yehuda é a rua mais visitada pelos turistas. É um local alegre com<br />

muitos cafés, sorveterias e lojas de artigos de presentes e souvenires. <strong>Na</strong>s<br />

noites, principalmente após o Shabat, músicos de rua alegram<br />

o passeio dos jovens e turistas que estão na cidade. Talvez<br />

essa rua seja uma síntese da vida de Jerusalém e da Israel<br />

moderna naquilo que pode expressar o espírito do povo. Ali<br />

passam estrangeiros, judeus de diferentes países e condições<br />

sociais, religiosos e não religiosos, jovens e velhos que vem<br />

para resolver negócios, conversar ou até mesmo para manifestar<br />

sobre questões sociais ou políticas.<br />

Próximo está a Rua Rav Kook, onde está localizado o importante<br />

jornal editado em inglês, o Jerusalem Post. Anteriormente,<br />

quando os ingleses dominavam Israel, este jornal tinha<br />

o nome de Palestine Post e era o principal jornal nos<br />

dias da independência. Hoje, a editora mantém uma boa<br />

livraria com importantes obras sobre história e cultura judaica<br />

editadas em inglês.<br />

Quando a Rua Ben Yehuda alcança a King George, movimentada<br />

avenida que liga importantes bairros da cidade,<br />

temos a fachada de um antigo edifício do século 19, conhecido<br />

por Talita Kumi (menina levanta), resto de um antigo<br />

orfanato de meninas mantido pelos cristãos na cidade.<br />

Jerusalém mistura harmoniosamente o velho e o novo.<br />

Entre as suas ruas há aquelas que não nos permite abrir os<br />

braços e aquelas largas com canteiros centrais e muitas<br />

pistas. Tão importante é conhecer a Velha Cidade de Jerusalém, cercada pelo<br />

seu muro, quanto conhecer a “Cidade Nova”. Nela temos as marcas do passado<br />

recente que nos ajuda a compor a história moderna do povo judeu no<br />

esforço pela formação do novo Estado e também, é na Cidade Nova que se<br />

pode sentir o espírito da Israel do século 21.<br />

* Antonio Carlos Coelho é professor, colaborador do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> e<br />

diretor do Instituto Ciência e Fé.<br />

19<br />

A Rua Ben<br />

Yehuda num<br />

dia de inverno.<br />

Do lado<br />

esquerdo, a<br />

loja do<br />

McDonalds<br />

O antigo Café Atara destruído num<br />

atentado terrorista<br />

O atual Café Atara, em Jerusalém


2020 20<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

O escandaloso silêncio<br />

Gustavo D. Perednik *<br />

m seu recente livro “España<br />

Descarrilada”, Gustavo Perednik<br />

se debruça sobre a obsessão<br />

européia em criminalizar<br />

sempre um só país. Neste artigo<br />

exemplifica isso com o caso mais extremo<br />

de uma curiosa moralidade: a dos<br />

que se mantiveram apáticos ante o<br />

martírio do Líbano até que...<br />

A síndrome da cumplicidade apática<br />

da União Européia, frente às agressões<br />

contra Israel, põem em relevo uma<br />

contrapartida: negar que o país judeu<br />

possa ser uma vez a vítima, fomenta<br />

nos meios europeus a imperiosa necessidade<br />

de converter Israel, a todo custo,<br />

no onipresente verdugo.<br />

A euromiopia chegou a seu êxtase<br />

no caso do Líbano. Ler a história<br />

desse país nos últimos 30 anos, é<br />

quase um exercício de novelística<br />

kafkiana, sobretudo se prestarmos<br />

atenção à reação mundial ante cada<br />

estágio dessa cronologia.<br />

Quando em 1970 a Jordânia matou<br />

milhares de palestinos e expulsou de<br />

seu território Arafat e seus sequazes,<br />

ninguém os defendeu, pois a pretendida<br />

solidariedade européia aos palestinos<br />

se circunscreve exclusivamente aos<br />

casos em que se pode atacar Israel.<br />

Os grupos armados palestinos se<br />

refugiaram no território libanês de<br />

onde, para continuar com seus ataques<br />

contra Israel, implantaram lentamente<br />

um mini-estado próprio que<br />

gerou tensões étnicas.<br />

A população cristã do Líbano se ressentiu<br />

da presença palestina, que colocou<br />

em perigo a frágil união entre as<br />

diversas comunidades desse país, e<br />

ameaçava obrigá-lo a deixar de ser a<br />

única democracia do mundo árabe, para<br />

transformar-se numa ditadura árabe a<br />

mais, totalitária e intolerante.<br />

A metamorfose demandou uma década.<br />

Em seu livro “A guerra terrorista<br />

da Síria contra o Líbano e o processo<br />

de paz” (2003), Marius Deeb relata minuciosamente<br />

como, entre 1974 e 2000,<br />

o regime dos Assad, na Síria, engoliu<br />

seu pequeno vizinho (cabe consignar que<br />

o domínio dessa família sobre a Síria<br />

desde 1969 é por si só uma ocupação,<br />

já que pertencem a uma minoria que<br />

constituem uns dez por cento da população<br />

do país, os alawitas1 ).<br />

CRONOLOGIA DA OCUPAÇÃO<br />

A primeira de uma longa série de<br />

matanças contra cristãos, produziu-se<br />

no monastério de Deir Ayach, em 3 de<br />

setembro de 1975, onde os palestinos<br />

assassinaram três monges: Boutros Sassine,<br />

Antoine Tamini e Hanna Maksoud.<br />

O mundo não protestou. Os habitantes<br />

cristãos que viviam nas proximidades<br />

fugiram, e os agressores destruíram<br />

a aldeia. Os palestinos liderados<br />

por George Habash e <strong>Na</strong>yef Hawatmeh<br />

atacaram assim mesmo a localidade de<br />

Beit Mellat e assassinaram os aldeões<br />

que caíram em suas mãos.<br />

O ano seguinte foi crítico. Em 15<br />

de janeiro de 1976, os palestinos assolaram<br />

Kab Elias, uma aldeia mista<br />

(cristãos e muçulmanos) no Vale de<br />

Bekaa. Dez dias depois, 16 cristãos<br />

foram assassinados e 23 feridos. Os<br />

cristãos iniciaram seu êxodo para<br />

Zahlê, Beirute Oriental e Jounieh. Em<br />

pelo menos duas cidades, Damour e<br />

Jieh, os bandos palestinos cortaram<br />

os dedos de meninos cristãos para assegurar-se<br />

de que não poderiam disparar<br />

armas. As igrejas de Damour<br />

foram profanadas e 300 habitantes<br />

massacrados. Não houve protestos.<br />

Em 19 de janeiro, a aldeia de Hoche<br />

Barada foi inteiramente demolida.<br />

Outro grupo fundado por palestinos,<br />

o Exército do Líbano Árabe, destruiu<br />

a cidade de Aintours. Três líderes<br />

do grupo receberam a missão explícita<br />

de levar a cabo massacres que<br />

submeteram os cristãos libaneses ao<br />

estado em formação de Arafat. Samir<br />

Abou Zahr, liderou o massacre em Emir<br />

Bechir (onde as vítimas foram assassinadas<br />

enquanto dormiam), Mustapha<br />

Sleiman fez arrasar a cidade de Checa,<br />

e Moiin Hatoum atacou os quartéis<br />

de Khyam matando mais de trinta<br />

soldados libaneses.<br />

Os cristãos solicitavam auxílio de um<br />

mundo que permaneceu silencioso. E o<br />

vizinho do norte, que sempre tinha descrito<br />

o Líbano como sua “natural zona<br />

de influência” se regozijava com esse<br />

silêncio. As tensões étnicas cresceram<br />

e os drusos, solidários com a OLP, começaram<br />

a hostilizar os cristãos. Estes<br />

pediram um cessar-fogo, mas o líder<br />

druso Kemal Jumblatt não aceitou. Com<br />

a desculpa dessa rejeição, em 31 de<br />

maio a Síria invadiu o Líbano, esgrimindo<br />

a curiosa explicação de que sua presença<br />

protegeria a minoria cristã da<br />

crescente hostilidade islâmica.<br />

Uma vez que o exército de dezenas<br />

de milhares de soldados sírios se fez<br />

forte no país, lançou-se uma operação<br />

inversa à anunciada. Nos bombardeios<br />

que se seguiram, mais de 500 civis cristãos<br />

foram assassinados.<br />

No ano seguinte, os sírios mataram<br />

Kemal Jumblatt (16/3/77) e enviaram<br />

grupos guerrilheiros para submeter aldeias<br />

cristãs, nas quais mais de mil<br />

habitantes foram assassinados. Só em<br />

Deir Dourit, devastada por completo,<br />

sobre o Líbano<br />

morreram 273. Nem uma palavra ou<br />

queixa no mundo inteiro.<br />

O ano de 1978 foi o da apropriação<br />

do país pela Síria, e o outrora<br />

Líbano independente morreu assassinado.<br />

Sami Khatib, instalado pelo<br />

governo sírio como agente de segurança<br />

foi diretamente responsável<br />

pela detenção, tortura e desaparecimento<br />

de milhares de libaneses opostos<br />

à invasão. Nem uma condenação,<br />

lamento ou queixa de ninguém.<br />

Em 27 de junho um esquadrão sírio<br />

conduzido por Ali Dib arrastou 20 jovens<br />

de suas camas nas aldeias de Kaa<br />

e Ras-Baalbeck, e os fuzilou sem acusação<br />

alguma. O objetivo era o controle<br />

total de uma comunidade que persistia<br />

no hábito da liberdade anti-síria.<br />

Nem a imprensa, nem os organismos<br />

de direitos humanos, nem nenhum país<br />

condenaram seriamente o episódio.<br />

Em 1º de julho, a milícia particular<br />

de Rifaat Assad, irmão do presidente<br />

sírio, sitiou as áreas que permaneceram<br />

livres nos subúrbios de Beirute e<br />

as fez bombardear durante cinco dias e<br />

cinco noites, com canhões e morteiros,<br />

com um saldo de mais de 60 civis mortos<br />

e 300 feridos. <strong>Na</strong>da.<br />

Em agosto de 1979, os sírios e palestinos<br />

destruíram as aldeias Niha, Deir<br />

Bella e Douma, no Norte. Nem uma<br />

palavra de ninguém. Os sírios e palestinos<br />

já se haviam imposto ao país. Entre<br />

1980 e 1981 as brutalidades sírio-palestinas<br />

se estenderam para acabar com<br />

todo foco potencial de resistência. Em<br />

24 de fevereiro, o diretor da revista<br />

Hawadess, Selim Laouzi, foi seqüestrado<br />

pelos sírios a caminho do aeroporto,<br />

torturado e assassinado, e seu corpo<br />

mutilado foi descoberto no bosque<br />

de Aramoun. <strong>Na</strong>da. Em 23 de julho, Riad<br />

Taha, presidente do Sindicato da Imprensa,<br />

foi assassinado em Raouchê.<br />

Em março de 1981, a cidade cristã<br />

de Zahlê foi bombardeada e a monja<br />

Marie Sophie Zoghbi assassinada enquanto<br />

tentava socorrer as vítimas. Dois<br />

mil cristãos morreram nos bombardeios<br />

que se seguiram em Beirut Leste, sob<br />

o mando do palestino Ahmad Ismail.<br />

Não houve reação.<br />

Alguém poderia pensar que a falta<br />

de resistência do Ocidente se deve ao<br />

fato de que a agressão síria não os afetava.<br />

Erro crasso. A desídia continuou<br />

mesmo quando o ataque os afetou diretamente.<br />

Em 4 de setembro de 1981, o embaixador<br />

francês no Líbano, Louis Delamarre,<br />

foi assassinado pelos sírios. A<br />

França apenas fez convocar a Paris para<br />

consultas seu embaixador na Síria. Nisto<br />

os franceses foram mais rigorosos<br />

que os espanhóis. Quando em março<br />

de 1989 as tropas sírias mataram o<br />

embaixador espanhol, Pedro Manuel de<br />

Aristegui, junto com seu sogro e cunhada,<br />

a Espanha nem sequer chamou<br />

alguém para consultas. Mas sigamos<br />

com o relato.<br />

Em fevereiro de 1982 os Irmãos<br />

Muçulmanos iniciaram uma rebelião islâmica<br />

contra o regime de Damasco,<br />

na cidade síria de Hama. Sem vacilar,<br />

o exército de Assad isolou a cidade,<br />

começou seu bombardeio generalizado<br />

a toda a população, muçulmanos e<br />

cristãos sem discriminação. Foram<br />

massacradas entre 20 e 30 mil pessoas.<br />

<strong>Na</strong>da de nada, nada. Não houve<br />

condenações. Ninguém se comovia,<br />

ninguém protestava. Em 24 de maio,<br />

os sírios atacaram a embaixada francesa<br />

no Líbano e assassinaram sua secretária<br />

de assuntos comerciais, Anna<br />

Comidis e mais dez pessoas. Acredite-se<br />

ou não, nada.<br />

Atenção: repentinamente, um evento<br />

transformou a apatia do mundo ante<br />

a destruição do Líbano num festival de<br />

histeria e ira generalizadas, condenações<br />

diárias, <strong>Na</strong>ções Unidas iradas, jornais<br />

repletos de aversão.<br />

A CULPA É DO JUDEU<br />

Em 6 de junho de 1982, Israel invadiu<br />

o Líbano a partir do sul. Os aldeões<br />

receberam os tanques hebreus como libertadores.<br />

Os cinegrafistas não podiam<br />

crer no que filmavam quando cristãos<br />

libaneses de todas as idades saíam de<br />

suas casas para oferecer flores e alimentos<br />

aos soldados israelenses.<br />

Não sejamos ingênuos: não havia<br />

amor mútuo, mas interesses em comum.<br />

A população cristã acreditou que se<br />

poria um ponto final à tirania terrorista<br />

sírio-palestina no Líbano. E Israel havia<br />

empreendido o que se chamou Operação<br />

Paz para Galiléia em resposta a<br />

morteiros e infiltrações dos terroristas<br />

palestinos, que já tinham instalado no<br />

Líbano um poderoso exército. Em um<br />

desses atentados (março de 1978) os<br />

milicianos que haviam penetrado a partir<br />

do Líbano, seqüestraram dentro de<br />

Israel um ônibus civil, e mantiveram<br />

como reféns 34 passageiros, aos quais<br />

finalmente assassinaram.<br />

Israel invadiu o Líbano para terminar<br />

com a agressão que desde ali se<br />

exercia, objetivo que eventualmente<br />

conseguiu por meio da expulsão de Arafat<br />

e sua OLP (que encontraram refúgio<br />

na distante Tunísia) e por meio da instituição<br />

de uma pequena faixa de segurança<br />

no sul cristão, na qual se estabeleceram<br />

relações cordiais com seus<br />

habitantes. A todo momento os israelenses<br />

insistiam que não desejavam nem<br />

um palmo do solo libanês, e que sua<br />

presença temporária ali tinha como único<br />

objetivo impedir ataques terroristas.<br />

Mas nosso tema aqui não é a guerra<br />

no Líbano, mas a doentia reação dos<br />

meios ante o acontecido, que não deixa<br />

margem a dúvidas de como Israel<br />

desperta uma cólera que não é reservada<br />

a nenhum outro país.


A irritação generalizada focalizouse<br />

num tema em particular, e para assinalá-lo<br />

devo continuar um pouco mais<br />

com a cronologia dos fatos.<br />

Em agosto de 1982, graças ao clima<br />

de menor dependência da Síria que<br />

se sentia desde a invasão israelense, o<br />

Parlamento libanês elegeu presidente<br />

do país o chefe da Falange cristã, Bashir<br />

Gemayel. Para os sírios esta ousadia era<br />

um excesso, sobretudo porque se sabia<br />

que Gemayel cooperava com Israel na<br />

recuperação da independência do país.<br />

Um par de semanas depois, em 14<br />

de setembro, no quartel da Falange<br />

em Achrafieh, Gemayel foi assassinado<br />

por uma carga de explosivos colocada<br />

por Habib Chartouni, que pertencia<br />

desde 1977 ao partido pró-sírio<br />

capitaneado por Assad Hardane.<br />

Os explosivos haviam sido providenciados<br />

pelo chefe da inteligência síria,<br />

Ali Douba. Além do presidente, outras<br />

26 pessoas morreram no ataque.<br />

Os sírios consideraram Chartouni um<br />

herói. Os cristãos, não precisamente.<br />

O chefe da segurança da Falange,<br />

Elie Hobeika, decidiu vingar a morte do<br />

presidente, nos acampamentos palestinos<br />

de Sabra e Chatila. Em 16 de setembro<br />

de 1982, cem falangistas penetraram<br />

nos campos e mataram várias<br />

centenas de civis (as estimativas variam<br />

de 300 a 500). Os israelenses, em cuja<br />

faixa de controle se localizavam os<br />

acampamentos, entraram nos mesmos<br />

para deter o massacre.<br />

E aí ocorreu o insólito no imaginário<br />

europeu. A opinião pública da Europa,<br />

que durante sete anos se manteve cruelmente<br />

apática ante a ruptura do Líbano<br />

dia-a-dia, desta vez saltou como um felino<br />

e começou uma diatribe constante<br />

contra Israel! De todos os nomes de aldeias<br />

destruídas que incluí nesta crônica,<br />

não me resta dúvida que os únicos<br />

que são conhecidos do leitor são os de<br />

Sabra e Chatila. E mesmo que Hobeika<br />

nunca tenha se arrependido da matança,<br />

mesmo que os falangistas a viram<br />

sempre como um ato de aceitável vingança,<br />

nem estes, nem aqueles jamais<br />

foram reprovados pelo mundo, mas Israel,<br />

só Israel, por não ter evitado.<br />

Dez anos de guerra no Líbano e de<br />

ocupação síria genocida, se reduziram<br />

na consciência da Europa a Sabra e<br />

Chatila. A esses dois nomes se dedicaram<br />

filmes e livros, manifestações e<br />

condenações. Só a esse evento da<br />

guerra no Líbano, dedicou Alberto Cortez<br />

uma canção de seu repertório, e<br />

Jean Genet em 1992 um tétrico documentário,<br />

“Quatro horas em Chatila”.<br />

A partir desse episódio, pelo fato dos<br />

judeus não terem impedido que árabes<br />

cristãos matassem árabes muçulmanos,<br />

Israel foi sistematicamente<br />

taxado como um país nazista.<br />

Sabra e Chatila são o libelo de sangue<br />

do século 20, um caso mais de<br />

histeria coletiva destinado exclusivamente<br />

a apresentar o judeu como carrasco.<br />

Num artigo do El Periódico, jornal<br />

espanhol, de 23 de março de 2004,<br />

Angel Sanchez volta a acusar Sharon<br />

de Sabra e Chatila. Vinte e dois anos<br />

depois, alguns jornalistas não encontram mais<br />

violência neste mundo, do que a desatada naqueles<br />

acampamentos.<br />

Pode aplicar-se a Israel uma reflexão de<br />

Teodoro Lessing: Quando não temos ‘a consciência<br />

tranqüila’ com respeito a determinado país,<br />

ressaltamos o que há de mal ou indigno nas<br />

vítimas de nossa hostilidade, para justificá-las<br />

ante nosso foro interno. Pois não odiamos a tal<br />

país porque seja mal, mas só porque o odiamos,<br />

taxamo-lo de mal.<br />

A pesar de tudo, Israel e o Líbano firmaram<br />

um tratado de paz em 17 de maio de 1983, mas<br />

pouco depois a Síria exigiu sua unilateral anulação.<br />

Nenhum meio de difusão voltou a mencionar<br />

jamais tal tratado que não obteve a aprovação<br />

internacional.<br />

Se o leitor ainda não está convencido do<br />

despropósito, permita-me agregar-lhe um<br />

dado quase extravagante. As matanças entre<br />

libaneses não se detiveram. Em setembro<br />

de 1983 mais de cem aldeias na região<br />

de Chouf foram “limpas tecnicamente” de<br />

cristãos por tropas drusas.<br />

Em maio de 1985, milicianos muçulmanos<br />

atacaram novamente o campo de refugiados<br />

de... Chatila! De acordo com dados oficiais<br />

das <strong>Na</strong>ções Unidas, assassinaram 635 pessoas<br />

e deixaram mais de 2.500 feridos. Ninguém<br />

se queixou. Alberto Cortez não cantou e as<br />

<strong>Na</strong>ções Unidas não se reuniram para condenar.<br />

Tampouco quando em outubro de 1990 as<br />

tropas sírias mataram em oito horas mais 700<br />

cristãos. Em resposta, o mundo fez vista grossa<br />

mais uma vez.<br />

E quando a informação se filtra num artigo<br />

como este (a imprensa européia não menciona<br />

jamais), os que se inteiram, argumentam<br />

“não ter sabido de nada”. Mas quando o<br />

sabem, tampouco mudam sua atitude, enraizada<br />

em séculos de preconceitos que os treinou<br />

para condenar só o judeu.<br />

A cacofonia generalizada sobre o Líbano,<br />

afoga as vozes solitárias que se esforçam por<br />

murmurar a <strong>verdade</strong>. Em 2 de janeiro de 2003<br />

Carlos Semprón Maura perguntava-se em suas<br />

Crônicas Cosmopolitas “Como qualificar a propaganda<br />

anti-semita que continua mantendo que<br />

Sharon é o responsável pela matança de Sabra<br />

e Chatila, quando se sabe que isso é falso, e<br />

continuar falando do massacre de Jenin, mesmo<br />

quando se sabe que também é falso?”<br />

Se não crê, veja isso. A ocupação de todo<br />

o Líbano por parte da Síria continua até hoje.<br />

Nem sequer Javier <strong>Na</strong>rt, que se opôs com<br />

unhas e dentes à ocupação de uma décima<br />

parte do Líbano por Israel, não tem nenhuma<br />

sílaba de censura contra a ocupação de cem<br />

por cento do Líbano pelo regime fascista sírio.<br />

É que em sua extensa soberba, os judeófobos<br />

acreditam-se motivados por questões<br />

morais. E criminalizar Israel é o clímax de sua<br />

curiosa moralidade.<br />

Nota: (1) Os alawitas seguem o alawismo,<br />

uma corrente dentro do Islã que crê numa trindade<br />

e mantêm em segredo uma parte de sua<br />

doutrina.<br />

* Gustavo D. Perednik é graduado em<br />

Filosofia nas Universidades de Buenos<br />

Aires e Jerusalém, é escritor dos livros “La<br />

judeofobia” e “España descarrilada”,<br />

recém-lançado.<br />

Fonte http://www.porisrael.org/secciones/<br />

articulos/silenciosobrelibano.htm<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

OLHAR<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ HIGH-TECH<br />

○<br />

Professor recebe prêmio<br />

de biotecnologia<br />

O professor Ehud Shapiro, do Instituto<br />

Weizmann de Ciência, recebeu o ‘World<br />

Technology Award for Biotechnology’ de<br />

2004. O prêmio mundial é um dos 30<br />

conferidos todos os anos a pessoas ou<br />

organizações cujas inovações poderão ter<br />

um grande impacto na tecnologia e na<br />

sociedade futuras. Shapiro foi agraciado<br />

por ter criado dispositivos computacionais<br />

biomoleculares, tão pequenos,<br />

que mais de um trilhão cabem numa gota<br />

d’água, e são inteiramente feitos de DNA<br />

e outras moléculas biológicas. Shapiro<br />

e sua equipe prevêem que, no futuro,<br />

poderão ser injetados no corpo humano,<br />

para detectar e prevenir doenças.<br />

(Israel <strong>Na</strong>tional News).<br />

Prêmio por limpeza de<br />

rio que beneficia palestinos<br />

O rio Alexander nasce nas colinas próximas<br />

a <strong>Na</strong>blus — cidade administrada<br />

pela Autoridade Palestina — e corre<br />

através da densamente povoada região<br />

de Sharon, em Israel, que tem intensa<br />

atividade agrícola e industrial, e desemboca<br />

no Mediterrâneo. Um projeto israelense<br />

de despoluição desse rio, patrocinado<br />

pelo governo alemão, que beneficia<br />

palestinos, recebeu o prêmio internacional<br />

Green. (Israel21c).<br />

Israel busca cura e prevenção<br />

de doenças do cérebro<br />

Qualquer disfunção no cérebro, o órgão<br />

mais complexo do corpo humano, pode<br />

ter graves conseqüências. Foi inaugurado<br />

em Israel o Joseph Sagol Neuroscience<br />

Center, do Centro Médico Sheba<br />

de Tel Aviv, que pretende reunir cientistas<br />

e médicos para efetuar pesquisas<br />

visando prevenir e até mesmo curar desordens<br />

cerebrais, como a depressão e<br />

o Mal de Alzheimer. Ao contrário de institutos<br />

de pesquisa de muitas universidades<br />

o trabalho não será baseado em<br />

animais, pois o cérebro destes é muito<br />

diferente, e sim em humanos, com o<br />

consentimento deles e de seus familiares,<br />

explica a professora Anat Biegon,<br />

que trabalha tanto com pesquisa quanto<br />

com a indústria do setor desde o final<br />

dos anos 70. (Israel21c).<br />

El Al terá sistema<br />

antimísseis em seus Boeing<br />

A companhia aérea El Al está instalando<br />

em dezembro, num de seus aviões<br />

de passageiros, de forma experimental,<br />

um sistema israelense capaz de desviar<br />

21<br />

mísseis em caso de ser atacado em vôo.<br />

O sistema, denominado ‘Guardião de<br />

vôo’, põe em ação um foguete que atrai<br />

e desvia o míssil inimigo. O dispositivo<br />

é uma espécie de chamariz ou ‘armadilha’<br />

que atrai pelo calor e desvia os<br />

mísseis de seu objetivo. O sistema foi<br />

usado há anos pelos aviões da Força<br />

Aérea israelense em vôos sob perigo de<br />

ataque por esse tipo de foguete ou por<br />

mísseis de ar-ar. Em 28 de novembro de<br />

2002 um avião da empresa aérea israelense<br />

Arkia, com cerca de 200 passageiros<br />

a bordo que ia de Mombaça, no<br />

Quênia, para Tel Aviv foi atacado por<br />

dois mísseis próximo à chegada. Os mísseis<br />

não acertaram o alvo. (Haaretz).<br />

Efeito protetor contra o câncer<br />

Pesquisas realizadas em Israel e nos EUA<br />

indicam que as estatinas teriam um efeito<br />

protetor contra o câncer coloretal,<br />

reduzindo o risco em cerca de 50%. As<br />

mais utilizadas pela equipe do Centro<br />

<strong>Na</strong>cional para o Controle de Câncer nos<br />

EUA, durante o estudo, foram a sinvastatina<br />

e a pravastatina. Novas pesquisas<br />

deverão ser realizadas, uma vez que<br />

diversos fatores influem no desenvolvimento<br />

deste tipo de tumor. (Iton Gadol)<br />

Negócios, pesquisa e<br />

desenvolvimento na Índia<br />

O vice primeiro-ministro israelense Ehud<br />

Olmert esteve na Índia onde se encontrou<br />

com o Primeiro-ministro e com o<br />

Ministro da Defesa. Durante a visita,<br />

Olmert, que esteve acompanhado por<br />

uma delegação de empresários de Israel,<br />

assinou um acordo de Pesquisa e<br />

Desenvolvimento com o governo indiano<br />

e se reuniu com empresários das áreas<br />

de comunicação, agricultura e indústria<br />

locais. (Jerusalem Post).<br />

Árabes, drusos e judeus<br />

no combate à poluição<br />

Fundado há 15 anos o grupo Cidadãos<br />

para o Meio Ambiente (CFE) da Galiléia<br />

está mais ativo do que nunca. Com a<br />

retomada da produção das indústrias<br />

petroquímicas e do aço em torno de<br />

Acre, que haviam parado de poluir o meio<br />

ambiente nos últimos anos, agora a situação<br />

está ficando novamente critica.<br />

O solo, a água e o ar no vale de Acre<br />

estão cada vez mais poluídos e os cidadãos<br />

estão solicitando a ajuda de ativistas<br />

do meio ambiente. Um destes<br />

grupos é o Cidadãos para o Meio Ambiente,<br />

entidade que luta contra empresas<br />

poluidoras, particulares ou estatais.<br />

Hoje possui 500 membros, entre árabes,<br />

drusos e judeus das cidades e aldeias<br />

da região, todos voluntários. (Haaretz).


22<br />

A melhor edição<br />

Senhores editores:<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

Recebi o último número de <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />

(30) e para mim este foi o foi o melhor<br />

que recebi até agora. Leio muito e<br />

posso afirmar que o VJ não fica nada a<br />

dever aos jornais e revistas que tratam<br />

de temas como judaísmo e Oriente Médio.<br />

Vocês estão de parabéns pelo excepcional<br />

trabalho em prol de um mundo melhor,<br />

com mais compreensão e tolerância. Esta<br />

última edição foi para mim algo especial.<br />

Não sou judia, mas sempre me interessei<br />

pela cultura e pelas tradições do povo de<br />

Israel. A tradução de palavras em hebraico<br />

é muito útil e o artigo sobre a Festa das<br />

Luzes de Chanucá foi bem esclarecedora.<br />

Outros artigos interessantíssimos foram<br />

sobre o iídiche, sobre os manuscritos<br />

do Mar Morto e o do professor Sami Goldstein<br />

sobre o pião de Chanucá.<br />

Therezinha Nunes de Oliveira<br />

São Paulo – SP<br />

A melhor edição II<br />

Caros amigos:<br />

O LEITOR<br />

Receber a <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> nos dá<br />

sempre uma grande alegria. Neste número<br />

de novembro vocês se superaram,<br />

a começar pela linda capa “Festa<br />

da Luzes”, do nosso artista plástico<br />

Brodeschi. Parabenizamos toda a equipe<br />

pelo conteúdo e pela escolha dos<br />

artigos, citando apenas alguns — Pilar<br />

Rahola, com sua simpatia pelo povo judeu<br />

e a especial maneira de nos passar<br />

sua vasta sabedoria (não seria<br />

possível trazê-la para uma palestra na<br />

Faculdades Curitiba, para responder ou<br />

esclarecer a impossibilidade de se “Legitimar<br />

o Terrorismo”?).<br />

Outros tantos artigos sobre Arafat,<br />

o homem de duas caras, a orientação<br />

sobre como proceder em Chanucá, e<br />

os sempre excelentes artigos do amigo<br />

Sami, nosso Líder Espiritual, e os ensinamentos<br />

do professor Sergio Feldman,<br />

a história de Roberto, filho de nossos<br />

amigos Frida e Ari, as receitas da querida<br />

e inesquecível Isabel.<br />

<strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> está despertando o<br />

interesse de pessoas de fora da comunidade,<br />

tornando-se um defensor ao<br />

divulgar as tradições e a ética da Cultura<br />

<strong>Judaica</strong>.<br />

Agradecemos também a atenção e<br />

a consideração dispensada na divulgação<br />

dos eventos da Wizo Paraná. Parabéns<br />

e Shalom.<br />

Alegre Bromfman<br />

Curitiba - PR<br />

Valores judaicos e projeto<br />

Prezados editores e amigos de <strong>Visão</strong><br />

<strong>Judaica</strong>:<br />

A respeito da matéria publicada na<br />

edição Nº.30 (Novembro de 2004),<br />

pág.10, intitulada ”5765 e mais! Impressionante!<br />

Incrível! Inacreditável!”, gostaria<br />

de comentar o seguinte:<br />

1. Parabenizá-los pela importantíssima<br />

colocação e lembrança dos Valores<br />

Judaicos, os quais, sem nenhum malefício<br />

à Humanidade - muito pelo contrário,<br />

exercem a geração da energia que move<br />

e mantém o Povo Judaico no seu caminho<br />

de existência e crescimento;<br />

2. Israel está colocando o seu<br />

“Reality-Show” no sentido de mostrar<br />

o que realmente representa, tanto<br />

para o seu povo como para o Oriente<br />

Médio e para o mundo;<br />

3. Por que não utilizar os dizeres<br />

deste tão oportuno artigo para divulgar<br />

o que representou e representa a existência<br />

do Povo Judeu, seus valores,<br />

sua coragem e determinação? Divulgar<br />

de forma clara, objetiva, oportuna, através<br />

dos modernos meios e de mídia que<br />

dispomos, em todos os níveis; seria<br />

uma forma de mostrarmos e informarmos<br />

sobre quem somos, desfazer entendimentos<br />

mal e intencionalmente forjados,<br />

calcarmos já na educação de<br />

base informação correta e precisa sobre<br />

os valores judaicos. Shalom.<br />

Boris Sitnik<br />

Curitiba - PR<br />

Site de <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> agrada<br />

Senhores diretores:<br />

Gostei do site <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. Sou<br />

pastor batista e jornalista. Dirijo um jornal<br />

em nosso meio que circula em 19<br />

estados, há 20 anos. Sempre fui defensor<br />

de boas relações entre o Brasil<br />

e Israel. Quero parabenizá-los pelo <strong>Visão</strong><br />

<strong>Judaica</strong> e me colocar à disposição<br />

para divulgar matérias que possam<br />

melhorar as relações entre o nosso país<br />

e o estado de Israel. Shalom<br />

Carlos Alberto Moraes<br />

Por e-mail<br />

Jornal útil e necessário<br />

Amigos do VJ:<br />

ESCREVE<br />

Mais uma vez agradeço a gentileza,<br />

aproveitando para lembrar que seu<br />

jornal é um veículo extremamente útil e<br />

necessário para se reverter a idéia corrupta<br />

e mundialmente disseminada de<br />

que Israel é um estado cruel, assassino<br />

e racista, entre outras bobagens<br />

aceitas pelos ignorantes.<br />

Tagore Wotton de A. Madruga<br />

Por e-mail<br />

Para escrever ao jornal <strong>Visão</strong><br />

<strong>Judaica</strong> basta passar um fax<br />

pelo telefone 0**41 3018-8018<br />

ou um e-mail para<br />

visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

Maria Teresa Campos e o cão judeu<br />

Pilar Rahola *<br />

Tiro um tempo, que é um ladrão de vidas, algumas horas para suar. Sou dessas mulheres,<br />

não sei se modernas ou se muito antiquadas — dizem que a imperatriz Sissi era dessas —,<br />

que se deleitam retesando os músculos na esteira rolante. Com um tanto a meu favor: façoo<br />

desde a adolescência, distanciada das modas que costumam agora correlacionar a pasta de<br />

executiva ao corpo de ginasta. Sempre precisei de um espaço íntimo (a esteira está em casa),<br />

uns quantos boleros sugestivos e uma horinha do meu tempo para aliviar a pressão, os<br />

probleminhas, o trabalho, as confusões, até os amores desfeitos… Mas, desde há um mês, e<br />

sucumbida à fatal influência do homem de minha vida, que navega pelo mundo com um<br />

televisor incorporado, nosso ginásio dispõe de uma magnífica tela onde correm, enquanto<br />

corro, personagens múltiplas, fofocas fascinantes e o melhor do teatro nacional.<br />

E assim, entre bolero e bolero, com freqüência chego ao ponto máximo do suor enquanto<br />

Josep Cuní, no TV3, me explica como obter renda, o que vale um casamento, ou quanto de<br />

elegância mantém esse outro amor meu, amor de meus amores, que é Jan Laporta. Ontem<br />

deu a deixa ao Cuní com Teresa Campos, talvez porque a lembrança de minha renda me gelava<br />

o suor e mandava para o espaço todas as minhas intenções de tranqüilidade zen. O programa<br />

não ia mal. Essa grande mulher, que é Maria Teresa, se emocionava na tela por seu aniversário,<br />

Jorge Javier nos divertia com sua inteligência aguda, o tema era suficientemente idiota,<br />

como para não me preocupar sobre nada, e os protagonistas da notícia (uma pobre mãe que<br />

chorava, um garoto expulso da casa de sua família e uma noiva má que fazia cara de má),<br />

suficientemente extraterrestres para parecerem divertidos.<br />

Eu suava feliz enquanto completava meu quilômetro sete, quando, de repente, Rociíto,<br />

falando da briga mãe-filho, deixou escapar algo assim como que o rapaz merecia um qualificativo<br />

estilo “cão judeu”. Antes havia dito que “isto não se faz nem aos cães” e o pessoal da<br />

casa, especialmente meu colega antitaurino Jorge Javier, havia saído em defesa dos cães.<br />

Mas, quando ao cão juntou-se o “judeu”, como a coisa já não era com cães, ninguém se<br />

queixou, ninguém balbuciou, ninguém se manifestou, e a conversa continuou com a alegria<br />

descontraída das manhãs de Campos. Fiquei perplexa sobre a esteira e, chegado aos nove<br />

quilômetros, que é meu limite hepático, ”fígado na boca”, me fiz a pergunta que motiva este<br />

artigo: “vale a pena dar alguma importância a isso? Totalmente, com as bobagens que se diz<br />

na televisão, uma a mais…, é uma diversão. Contudo, como é óbvio, cheguei á conclusão que<br />

sim, vale a pena, pois há expressões verbais que são todo um universo de preconceitos<br />

ancestrais e que o mais gritante em tudo isso não foi a frase da menina, mas o silêncio do<br />

resto dos colegas. Ou seja, a indiferença.<br />

O anti-semitismo é um lugar comum na história espanhola e, certamente, o flagelo mais<br />

sangrento da história da Europa. Contrariamente ao que poderia parecer, não somente não é<br />

passado, mas configura um presente preocupante, denunciado com riqueza de argumentos no<br />

último informe do European Monitoring Centre on Racism and Xenophobia. Segundo Pat Cox,<br />

que o apresentou em Estrasburgo, em março passado, “a Espanha é o país de toda Europa<br />

que exporta, hoje, mais ódio contra os judeus”. E a pesquisa do Gallup, para a Liga Antidifamação<br />

é explícita: 72% dos espanhóis deportariam os judeus de Israel; só 12% aceitariam ter<br />

vizinhos judeus; 69% crêem que os judeus ostentam demasiado poder e uns 55% lhes atribui<br />

“intenções obscuras” que não sabem especificar. É claro que <strong>estamos</strong> falando de um novo<br />

anti-semitismo, especialmente circunscrito na imprensa e na esquerda espanholas — tão<br />

ferozmente antiisraelenses que acabaram militando no anti-semitismo —, não podemos esquecer<br />

que nós tivemos Isabel a Católica e que fomos os artífices da perversa Inquisição, a<br />

grande instituição demonizadora do povo judeu. O anti-semitismo, pois, faz parte do córtex<br />

cerebral, da medula coletiva, e o ovo da serpente se alimenta por canais inconscientes e<br />

insólitos. Por isso, quando alguém diz na televisão “cachorro judeu”, e ninguém se dá conta<br />

da infâmia da expressão, nem nota como range na trompa do ouvido, nem percebe a profunda<br />

indignação de um povo cansado de tanto…, quando nem Maria Teresa Campos — de quem<br />

conheço seu sentido de eqüidade democrática — se vê na necessidade de dizer algo, é<br />

porque há desprezos que fazem parte da normalidade. Há insultos que estão incorporados na<br />

bondade da Real Academia cotidiana.<br />

<strong>Na</strong>da estranho sob o sol de um país que nunca teve nenhuma necessidade de ensinar a<br />

lição trágica do Holocausto. Vivemos tão de costas com esta vergonha — que nos tange<br />

diretamente, uma vez que fizemos parte da perseguição ancestral que a tornou possível —,<br />

que temos conseguido banalizá-la completamente. Há pouco li como López Agudín, com<br />

assombrosa tranqüilidade, comparava Auschwitz com Abu Graib, e até se sentia inteligente.<br />

Se o Holocausto não existe na memória coletiva, se Isabel a Católica foi uma defensora dos<br />

direitos humanos (como disse há poucos dias, na TVE, um historiador), se a Inquisição somente<br />

foi um excesso de tom da cristandade, como irá resultar estranho que os cães e os judeus<br />

convivam, em franca irmandade, no dicionário de insultos de Rociíto? E que a Campos nem se<br />

altere? A Espanha nunca fez os deveres com sua culpa anti-semita. E dessa falta de memória<br />

ativa, renasce o preconceito mais lacerante.<br />

Eu sei. É só uma alegre manhã na televisão. Mas alguém [como eu] que não é judia,<br />

sempre se sente judia ante o insulto anti-semita. Não somente por solidariedade. Por responsabilidade.<br />

E, é por responsabilidade que faço este artigo: há brincadeiras tais que mostram<br />

a pata do monstro que carregamos dentro de nós.<br />

* Pilar Rahola foi deputada no Parlamento espanhol e foi vice-prefeita de Barcelona. Escreve<br />

nos jornais El País, El Periódico e Avui (em catalão). Dirige programa de entrevistas na TV<br />

espanhola e participa de debates públicos e congressos internacionais sobre a temática da<br />

mulher, da infância e do Oriente Médio. Tem vários livros publicados em catalão e castelhano.<br />

Traduzido do espanhol pelo jornalista Szyja Lorber. (www.pilarrahola.com).


eu nome é José Alberto<br />

Itzigsohn. Sou<br />

psiquiatra e psicólogo.<br />

No passado fui diretor<br />

da cátedra de<br />

Psicologia na Universidade de Buenos<br />

Aires e professor convidado aos<br />

cursos de doutorado da Universidade<br />

Pontifícia de Salamanca. Atualmente,<br />

resido em Jerusalém onde<br />

presido a associação de trabalhadores<br />

da saúde mental de língua<br />

hispânica de Israel.<br />

Causaram-me grande preocupação<br />

alguns aspectos do artigo de José<br />

Saramago: “Das pedras de David aos<br />

tanques de Golias“, o que me motivou<br />

a escrever esta carta aberta a Saramago,<br />

que lhes apresento a seguir:<br />

CARTA ABERTA A<br />

JOSÉ SARAMAGO<br />

De minha maior estima.<br />

Sou psiquiatra e resido em Jerusalém.<br />

Li seu artigo “Das pedras de David<br />

aos tanques de Golias”, onde alguns<br />

dos seus aspectos me causaram<br />

grande preocupação e me motivaram<br />

a escrever-lhe de forma pública.<br />

Antes de tudo quero dizer-lhe que<br />

sou integrante ativo de movimentos<br />

pacifistas israelenses e que lutei pelos<br />

direitos humanos desde minha juventude,<br />

e por essa razão, concordo<br />

com sua preocupação e sua dor pelos<br />

sofrimentos do povo palestino e<br />

também, com sua condenação dos<br />

ataques contra a população civil israelense,<br />

de cujos efeitos sou testemunha<br />

muito próxima por viver neste<br />

meio e por minha profissão.<br />

Minha preocupação por sua carta<br />

não parte pois de seu apoio aos<br />

direitos do povo palestino, mas de<br />

alguns argumentos utilizados nela<br />

que, a meu ver, se prestam a uma leitura<br />

inadequada.<br />

Você nos diz que acabar com os<br />

palestinos para depois negociar com<br />

os que ficam é, com ligeiras variações,<br />

meramente táticas, a política<br />

israelense desde 1948. Aqui você<br />

mistura todos os governos israelenses,<br />

incluindo o de Rabin e o de Sharon,<br />

em uma mesma caçarola. Sr. Sa-<br />

ramago: que confusão de carne com<br />

madeira. Mais adiante você nos fala<br />

dos sonhos expansionistas contaminados<br />

com a monstruosa e firme certeza<br />

de que neste mundo... existe um<br />

povo escolhido por D-us.<br />

Qualquer leitor pode crer que esta<br />

idéia da escolha divina, que corresponde<br />

a uma etapa determinada da<br />

evolução do pensamento religioso é<br />

compartilhada por todos os judeus.<br />

Isto não é correto. A maioria dos judeus<br />

do mundo, incluindo os de Israel,<br />

são leigos ou pertencem a correntes<br />

religiosas que interpretam a<br />

escolha como um conjunto de obrigações,<br />

e não como um privilégio<br />

que possa justificar uma conduta<br />

agressiva para<br />

com os de-<br />

mais. Você<br />

sustenta que<br />

desse sentimento<br />

de escolha<br />

se deriva<br />

um racismo<br />

agressivo, psicopatológico<br />

exclusivista.<br />

Você não economiza<br />

esses<br />

adjetivos quando se refere aos judeus,<br />

Sr. Saramago.<br />

Mais adiante você se refere ao<br />

Deuteronômio, onde está escrito<br />

como palavra de D-us “Minhas são a<br />

vingança e a recompensa”. Frase terrível<br />

que corresponde a um momento<br />

inicial do pensamento religioso<br />

judaico, mas saiba você, que no mesmo<br />

Deuteronômio, há indícios de<br />

humanidade que ainda não se cumpriram,<br />

e que depois dele, vieram<br />

profetas como Isaías, os tão vilipendiados<br />

fariseus com sua visão mais<br />

tolerante e as múltiplas gerações de<br />

estudiosos, a quem os judeus designam<br />

coletivamente como nossos<br />

sábios, bendita seja sua memória,<br />

que trataram de ajustar os preceitos<br />

iniciais à realidade de um mundo<br />

em mudança e complexo. A religião<br />

judaica de hoje não é a mesma<br />

que a da época tribal como você<br />

insinua, e como tem sustentado a<br />

tradição reconciliadora, que separava,<br />

de maneira aguda, o mundo<br />

judeu exclusivista, materialista e<br />

tribal, do pensamento cristão, do<br />

que haveria de vir mais adiante.<br />

Bom é saber que as religiões que<br />

têm uma longa história como o judaísmo,<br />

o cristianismo e o Islã, refletem<br />

momentos históricos diferentes<br />

e concepções transformadoras.<br />

Qualquer governante ou grupo<br />

de poder pode escolher dentro deles<br />

os elementos que convirjam à<br />

sua política, mas isso não implica<br />

toda uma cultura e as pessoas que<br />

participam disso.<br />

Você pretende que neste mundo<br />

catastrófico e absurdo, como<br />

você o denomina com razão, que<br />

nós os judeus esqueçamos nossas<br />

feridas e baixemos<br />

a<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

Palavras inteligentes<br />

de uma mente fascinante<br />

José A. Itzigsohn responde a Saramago<br />

“<br />

Não faço terrorismo<br />

ideológico utilizando<br />

Auschwitz contra ninguém,<br />

mas você, no artigo<br />

concreto que estou<br />

analisando, se torna vetor<br />

de uma mescla intolerável<br />

de preconceitos<br />

”<br />

guarda, talvez<br />

para acolhermos<br />

os<br />

benefícios da<br />

globalização<br />

ou das utopias<br />

de plantão,<br />

e não arranhemos<br />

sem<br />

parar nossas<br />

feridas. Saiba<br />

você que isso não nos faz falta<br />

porque outros se encarregam permanentemente<br />

de fazê-lo: o stalinismo,<br />

o neonazismo, a propaganda<br />

de alguns países árabes que<br />

utilizam os Protocolos dos Sábios<br />

de Sião como se fosse uma <strong>verdade</strong><br />

comprovada e paro por aí.<br />

Em outro momento você se pergunta<br />

em relação aos judeus, se<br />

o haver sofrido tanto não seria o<br />

melhor motivo para não fazer sofrer<br />

aos demais. Estranho pensamento<br />

é este que, sem dúvida, se<br />

transformou em um lugar comum,<br />

segundo o qual, o sofrimento deveria<br />

fazer melhor a um povo. Talvez<br />

para alguns indivíduos, mas<br />

não a um povo em seu conjunto.<br />

Pelo contrário, os sofrimentos<br />

inacreditáveis, mesmo sem chegar<br />

aos extremos de Auschwitz, as humilhações<br />

reiteradas, fazem um<br />

povo mais cético e mais convencido<br />

que não tem nada a esperar<br />

do mundo, e que só pode confiar<br />

em si mesmo. Alguns políticos<br />

podem explorar esse sofrimento<br />

como bandeira e para justificar<br />

suas próprias ações, mas o sentimento<br />

no povo é muito mais profundo<br />

que essa utilização.<br />

Você comparou o sofrimento dos<br />

palestinos com o sofrimento dos<br />

judeus em Auschwitz, o que evidentemente<br />

não está certo, mas de<br />

outro lado, o sofrimento de um<br />

povo não precisa ser igual ao de<br />

Auschwitz para ser profundo e para<br />

ser levado em conta. Cada povo tem<br />

seu Auschwitz real ou simbólico ao<br />

qual referir-se, e sofrimento, em<br />

todos os casos, não mensurável e<br />

divisível; é total.<br />

Sr. Saramago, se extrairmos o<br />

fio condutor de suas declarações,<br />

e para isso não faz falta a técnica<br />

psicanalítica nem o bisturí escolástico<br />

ou talmúdico, encontraríamos<br />

o seguinte: Existiria um grupo<br />

de homens separados, os judeus,<br />

que seriam exclusivistas e<br />

tinham idéias religiosas primitivas<br />

e uma moralidade arcaica e que<br />

tinham criado no Estado politicamente<br />

imoral e que para o cúmulo,<br />

usariam coletivamente seus<br />

sofrimentos para ignorar os dos<br />

outros. Em resumo: uma comunidade<br />

perversa.<br />

Sr. Saramago, eu tenho apoiado<br />

e continuo apoiando em Israel,<br />

contra o vento e a maré, de<br />

que é possível ser solidário com o<br />

povo palestino e criticar atitudes<br />

concretas de governos israelenses<br />

específicos, sem ser por isso antisemita.<br />

Não faço terrorismo ideológico<br />

utilizando Auschwitz contra<br />

ninguém, mas você, no artigo<br />

concreto que estou analisando, se<br />

torna vetor de uma mescla intolerável<br />

de preconceitos do antigo<br />

e novo cunho contra o povo<br />

judeu, a religião judaica e o Estado<br />

de Israel em seu conjunto.<br />

Atenciosamente,<br />

José Alberto Itzigsohn.<br />

Publicado originalmente no site:<br />

www.porisrael.org<br />

23


24<br />

VISÃO JUDAICA Dezembro de 2004/janeiro de 2005 Tevet/Shevat 5765<br />

* Joseph Farah é<br />

jornalista árabe-cristão<br />

americano, de origem<br />

libanesa e editor-chefe do<br />

World Net Daily.<br />

Publicado originalmente.<br />

no World Net Daily -<br />

Traduzido por Zalman<br />

Girtman.<br />

Joseph Farah*<br />

esde que escrevi uma coluna,<br />

em outubro passado, intitulada<br />

“Mitos do Oriente<br />

Médio”, leitores do mundo<br />

todo têm frequentemente me<br />

perguntado o que quer dizer o termo<br />

“palestino”.<br />

A resposta simples é que quer dizer<br />

qualquer coisa que Yasser Arafat<br />

queria que quisesse dizer.<br />

O próprio Arafat nasceu no Egito.<br />

Mais tarde ele se mudou para<br />

Jerusalém. <strong>Na</strong> <strong>verdade</strong>, a maior parte<br />

dos árabes que vive dentro das<br />

fronteiras de Israel hoje, veio de<br />

algum outro país árabe em algum<br />

momento de suas vidas.<br />

Por exemplo, desde logo no início<br />

dos acordos de Oslo, mais de<br />

400.000 árabes adentraram na Judéia,<br />

Samária ou Gaza. Eles vieram<br />

da Jordânia e do Egito; e, indiretamente,<br />

de todo e<br />

qualquer país árabe que<br />

você possa citar.<br />

Os árabes construíram<br />

261 assentamentos<br />

na Margem Ocidental<br />

desde 1967.<br />

Não se costuma ouvir<br />

muito sobre estes<br />

assentamentos.<br />

Por outro lado, escuta-se<br />

muito sobre o<br />

número de assentamentos<br />

israelenses que foram<br />

criados. Ouvimos sobre<br />

O que é um palestino?<br />

quão desestabilizadores eles são —<br />

quão provocadores eles são. No entanto,<br />

comparativamente, apenas<br />

144 assentamentos judaicos foram<br />

construídos desde 1967 — incluindo<br />

aqueles que circundam Jerusalém,<br />

os localizados na Judéia, Samária<br />

e em Gaza.<br />

O número de colonos árabes<br />

baseia-se em estatísticas reunidas<br />

na Ponte Allenby e outros pontos<br />

de coleta de dados entre Israel e a<br />

Jordânia. Baseia-se no número de<br />

trabalhadores diaristas árabes que<br />

entram em Israel e não saem. Os números<br />

foram publicados pelo Escritório<br />

Central de Estatísticas de Israel<br />

durante a administração de<br />

Binyamin Netanyahu, e foram subsequentemente<br />

negados como “erros<br />

de relatório” pela administração<br />

de Ehud Barak.<br />

É claro que a administração Barak<br />

tinha incentivos para negar os<br />

elevados números da imigração ilegal,<br />

dada sua pesada confiança depositada<br />

em votantes árabes.<br />

Acaso seria este um fenômeno<br />

novo? Absolutamente não. Sempre<br />

foi assim. Árabes têm rumado para<br />

Israel desde que este foi criado, e<br />

mesmo antes, coincidindo com a<br />

onda de imigração judaica para a<br />

Palestina anterior a 1948.<br />

Winston Churchill disse em 1939:<br />

“Longe de serem perseguidos, os árabes<br />

têm vindo às multidões para o<br />

País, e têm se multiplicado ao ponto<br />

de sua população ter crescido<br />

mais do que todo o mundo judaico<br />

junto teria capacidade de aumentar<br />

a população judia”.<br />

Isto levanta uma questão que eu<br />

nunca ouvi ninguém perguntar: Se<br />

a política de Israel torna a vida tão<br />

intolerável para os árabes, então por<br />

que eles continuam a dirigir-se para<br />

o Estado Judeu?<br />

Esta é uma pergunta importante<br />

agora que vemos o debate palestino<br />

deslocar-se para a questão do “direito<br />

de retorno”.<br />

De acordo com as afirmações<br />

mais liberais de fontes árabes, algo<br />

entre 600.000 e 700.000 árabes<br />

deixaram Israel em 1948 ou por volta<br />

disso, quando o Estado Judeu<br />

foi criado. A maior parte não foi<br />

expulsa por judeus, mas saiu a pedido<br />

dos líderes árabes que declararam<br />

guerra a Israel.<br />

No entanto, há bem mais árabes<br />

vivendo nestes territórios agora do<br />

que jamais houve. E muitos dos que<br />

saíram em 1948 tinham de fato suas<br />

raízes em outras nações árabes.<br />

É por isso que é tão difícil definir<br />

o termo “palestino”. Sempre foi.<br />

O que ele significa? Quem é um “palestino”?<br />

Seria alguém que veio a trabalho<br />

na Palestina devido a uma explosão<br />

econômica com novas oportunidades<br />

de emprego? Seria alguém<br />

que vinha vivendo na região havia<br />

dois anos? Cinco anos? Dez anos?<br />

Seria alguém que alguma vez visitou<br />

a área? Seria qualquer árabe que gostaria<br />

de viver naquela área?<br />

Os árabes superam os judeus<br />

em números, no Oriente Médio,<br />

por um fator de cerca de 100 para<br />

um. Mas quantos destas centenas<br />

de milhões de árabes são de fato<br />

palestinos? Não muitos.<br />

A população árabe da Palestina<br />

foi historicamente extremamente<br />

baixa — antes do renovado interesse<br />

dos judeus pela área, que começou<br />

no início dos anos 1900.<br />

Por exemplo, um guia de viagens<br />

para a Palestina e Síria, publicado<br />

em 1906 por Karl Baedeker, ilustra o<br />

fato de que, mesmo quando o Império<br />

Islâmico Otomano dominava a<br />

região, a população muçulmana de<br />

Jerusalém era mínima.<br />

O livro estima a população total<br />

da cidade em 60.000 pessoas,<br />

dos quais 7.000 eram muçulmanos;<br />

13.000 eram cristãos e 40.000<br />

eram judeus.<br />

“O número de judeus tem crescido<br />

grandemente nas últimas décadas,<br />

a despeito do fato que eles são<br />

proibidos de imigrar ou possuir terras”,<br />

o livro afirma.<br />

Embora os judeus fossem perseguidos,<br />

ainda assim eles vieram<br />

para Jerusalém e representavam a<br />

maioria absoluta da população já<br />

desde 1906.<br />

Por que a população muçulmana<br />

era tão baixa? Afinal de contas, nos<br />

dizem que Jerusalém é a terceira cidade<br />

mais santa no Islã. Certamente,<br />

se esta fosse uma crença amplamente<br />

aceita em 1906, mais devotos<br />

teriam para lá se assentado.<br />

A <strong>verdade</strong> é que a presença judaica<br />

em Jerusalém e por toda a<br />

Terra Santa persistiu ao longo de<br />

toda sua sangrenta história, como<br />

está documentado na obra fundamental<br />

de Joan Peters sobre o conflito<br />

árabe-judaico na região,<br />

“From Time Immemorial” - “Desde<br />

Tempos Imemoriáveis”.<br />

Também é <strong>verdade</strong> que a população<br />

árabe cresceu seguindo-se à imigração<br />

judaica para a região. Os árabes<br />

vieram por causa da atividade<br />

econômica. E, creiam ou não, eles<br />

vieram porque havia mais liberdade<br />

e mais oportunidades em Israel do<br />

que em seus países de origem.<br />

O que é um palestino? Se algum<br />

árabe possui direito legítimo de reclamar<br />

propriedade em Israel, devem<br />

ser aqueles que foram ilegalmente<br />

privados de suas terras e lares<br />

após 1948. Arafat não possuia<br />

tal direito. E poucos - se algum,<br />

daqueles que estão atirando, explodindo<br />

e aterrorizando israelenses<br />

hoje - também o têm.

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