19.04.2013 Views

Conto – manifestação da subjetividade. - Portal Educar Brasil

Conto – manifestação da subjetividade. - Portal Educar Brasil

Conto – manifestação da subjetividade. - Portal Educar Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Teologia natural<br />

Hil<strong>da</strong> Hilst<br />

A cara do futuro não via. A vi<strong>da</strong>, arremedo de na<strong>da</strong>. Então ficou pensando em<br />

ocos de cara, cegueira, mão corroí<strong>da</strong> e pés, tudo seria comido pelo sal,<br />

brancura estica<strong>da</strong> <strong>da</strong> maldita, salgadura <strong>da</strong>na<strong>da</strong>, infernosa salina, pensou<br />

óculos luvas galochas, ficou pensando vender o que, Tiô inteiro afun<strong>da</strong>do numa<br />

cintilância, carne de sol era ele, seco salgado espichado, e a cara-carne do<br />

futuro onde é que estava? Sonhava-se adoçado, corpo de melaço, melhorança<br />

se conseguisse comprar os apetrechos, vende uma coisa, Tiô. Que coisa? Na<br />

ci<strong>da</strong>de tem gente que compra até bosta embrulha<strong>da</strong>, se levasse concha, ostra,<br />

ah mas o pé não agüentava o dia inteiro na salina e ain<strong>da</strong> de noite à beira<br />

d’água salga<strong>da</strong>, no crespo <strong>da</strong> pedra, nas facas onde moravam as ostras.<br />

Entrou na casa. Secura, vaziez, num canto ela espiava e roia uns duros no<br />

molhado <strong>da</strong> boca, não era uma rata não, era tudo que Tiô possuía, espiando<br />

agora os singulares atos do filho, Tiô encharcando uns trapos, enchendo as<br />

mãos de cinza, se eu te esfrego direito tu branqueia um pouco e fica lin<strong>da</strong>, te<br />

vendo lá, e um dia te compro de novo, macieza na língua foi falando espaçado,<br />

sem ganchos, te vendo, agora as costas, vira, agora limpa tu mesmo a barriga,<br />

eu me viro e tu esfrega os teus meios, enquanto limpas teu fundo pego um<br />

punhado de amoras, agora chega, espalhamos com cui<strong>da</strong>do essa massa<br />

vermelha na tua cara, na bochecha, no beiço, te estica mais pra esconder a<br />

corcova, óculos luvas galochas é tudo o que eu preciso, se compram tudo<br />

devem comprar a ti lá na ci<strong>da</strong>de, depois te busco, e espana<strong>da</strong>s, cui<strong>da</strong>dos,<br />

sopros no franzido <strong>da</strong> cara, nos cabelos, volteando a velha, examinando-a<br />

como faria exímio conhecedor de mães, sonhado comprador, Tiô amarrou às<br />

costas numas cor<strong>da</strong>s velhas, tudo o que possuía, mu<strong>da</strong>, pequena, delica<strong>da</strong>, um<br />

tico de mãe, e sorria muito enquanto caminhava.<br />

Julgava saber tudo. Tinha aprendido muito pouco.<br />

Corte<br />

Eugênia Tabosa<br />

Disponível em: http://1claroenigma.wordpress.com/contos/<br />

Acesso 10 jun 2011.<br />

ENE, Luís. Ficções Telegráficas.<br />

Disponível em: http://vi<strong>da</strong>sdevi<strong>da</strong>s.minguante.com/historias.asp<br />

Acesso 18 jun 2011.<br />

Pegou a tesoura de bor<strong>da</strong>dos e foi cortando pacientemente os alinhavos de<br />

sua vi<strong>da</strong> até lhe desaparecerem as dores nas costas. E sorriu feliz.<br />

Lixo<br />

Anilza <strong>da</strong> Silva<br />

Maltrado: morde;<br />

Reciclado: lorde.<br />

Disponível em: http://parlares.blogspot.com/<br />

Acesso em 18 jun 2011.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!