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JAIRO DE JESUS NASCIMENTO DA SILVA Da Mereba-ayba à ...

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Na Trav. Santo Antonio,N°2 existe um hospital de variolosos ainda não<br />

conhecido da junta de higiene ; è um acanhado quarto sem fundos onde<br />

mora uma preta velha que se entrega ao tratamento de variolosos .<br />

Um horror!<br />

Aqui e ali vêem-se bexigosos deitados pelo chão a gemerem , e ao canto da<br />

casa um enorme barril onde faz a velha o despejo dos materiais fecais .<br />

É um verdadeiro antro! (DIÁRIO <strong>DE</strong> NOTÍCIAS, 19 set .1888, p.2).<br />

Assim, os doentes e indigentes com varíola procuravam tratamento em<br />

um barracão ou hospital, em condições precárias e insalubres pela descrição do<br />

artigo. Esse tipo de lugar era execrado pelos médicos, já que destoava dos preceitos<br />

da moderna ciência médica de combate aos micróbios invisíveis, e a microbiologia<br />

condenava ambientes fechados, escassos de luz e com pouca circulação de ar. Não<br />

resta dúvida que o barracão era dirigido por uma curandeira retratada como “preta<br />

velha” e, por isso, fora propósito da propaganda discriminadora do Serviço Sanitário,<br />

bem assim como assumira significado distinto de um hospital moderno. Eis o<br />

barracão que, para as autoridades, não deixava de ser uma “grande pocilga fechada”<br />

e sob os cuidados da preta velha, que tomava para si a responsabilidade de cuidar<br />

dos pobres, o que diferia completamente da profilaxia médica a respeito da<br />

prevenção e cura, uma vez que a moderna ciência concebia a vacinação antivariólica<br />

como único remédio eficaz de inoculação contra o terrível mal.<br />

Contudo, as práticas higiênicas da curandeira por mais que<br />

desagradassem as autoridades, provavelmente faziam bastante sucesso com a<br />

“classe” pobre, pois por ser o lugar praticamente isolado e não arejado, o germe ali<br />

padeceria até a morte enquanto o moribundo acreditava que sairia curado do<br />

confinamento. Mas o que inquietava a medicina acadêmica, não era uma<br />

preocupação recente das concepções higiênicas, pois no século XIX a necessidade<br />

de um ambiente arejado passara a ser uma necessidade comumente aceita nos<br />

hospitais, daí a preocupação com a casa que, por ser isolada, impedia a circulação<br />

do ar, asfixiando os próprios doentes. Nesse sentido, procuravam as autoridades, a<br />

partir das recentes concepções da medicina social, imprimir-lhe rupturas através da<br />

reelaboração dos hospitais e de médicos reconhecidamente aptos na direção<br />

hospitalar.<br />

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