JAIRO DE JESUS NASCIMENTO DA SILVA Da Mereba-ayba à ...
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pelo menos três a quatro vezes ao dia. Nesse sentido, a prova cabal do sucesso,<br />
segundo dona Francisca, consistia em expor os seus netos ao público que<br />
duvidasse, como forma de referendar tamanha descoberta, pois as crianças<br />
gozavam de saúde e não tinham marcas da doença. Por fim, o jornalista prossegue<br />
concluindo que essa prática de cura não podia ser considerada pajelança, apesar de<br />
toda a tradição presente entre os curandeiros com o manejo de ervas ou plantas<br />
medicinais. Casos como esse revelam uma tradição cultural enraizada junto <strong>à</strong>s<br />
camadas populares na Amazônia, que explicam grande parte da intolerância <strong>à</strong>s<br />
políticas públicas na área da saúde, em Belém, do final do século XIX ao início do<br />
século XX.<br />
1.1. Dos tiros de canhão <strong>à</strong> política de isolamento:<br />
As medidas profiláticas adotadas na cidade de Belém, desde o século<br />
XVIII, estavam bem distantes das modernas concepções da ciência da higiene, como<br />
nos revela Vianna (1992: 176-177):<br />
A profilaxia adotada em 1793 assumiu as proporções de um exercício a<br />
fogo, pois o governo, reconhecendo o fumo da pólvora como poderoso<br />
desinfectante, mandou descarregar numerosos tiros de artilharia nos cantos<br />
das ruas. O governador, na sua correspondência com a metrópole, depois<br />
de explicar o ruidoso processo profilático, acrescenta que os resultados<br />
falharam por completo. Em 1819 variou-se de sistema, mas ainda sem<br />
utilidade pública: então o Pará contava alguns empregados incumbidos de<br />
vistoriarem as embarcações provenientes de portos infeccionados ou<br />
suspeitos, impondo-lhes longas quarentenas que sem o auxílio das<br />
desinfecções rigorosas nada produziam; quando nesse ano a varíola invadiu<br />
a cidade, mandou o governo fazer em todos os cantos abundantes<br />
fumigações de gás oximuriático, de resultados nulos como os tiros de<br />
canhão, atentas as circunstâncias em que eram empregadas.<br />
O governador Francisco de Souza Coutinho também recomendava que se<br />
espalhasse pelo ar determinados perfumes como, por exemplo, os vapores do<br />
alcatrão ou de vinagre, de forma a evitar a propagação da varíola. Não se pode<br />
deixar de mencionar que já nesse momento está presente a concepção dos<br />
infeccionistas relativas aos efeitos dos miasmas mórbidos sobre o ar ambiente.<br />
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