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JAIRO DE JESUS NASCIMENTO DA SILVA Da Mereba-ayba à ...

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efetivo dessas mesmas epidemias? Essa questão nos obrigou a recuar no tempo<br />

para tentarmos reconstituir a longa experiência da sociedade local com as políticas<br />

públicas na área da saúde, especialmente aquelas destinadas a combater a varíola,<br />

para que pudéssemos entender as razões do comportamento aversivo daquela<br />

sociedade. Assim, além dos desacertos e do caráter autoritário das medidas<br />

emanadas do poder público, também havia um conjunto de práticas curativas<br />

constituídas por setores populares e que se apresentavam como alternativas <strong>à</strong>s<br />

práticas oficiais. Amaral (2006) faz referência a um “preparado indígena” indicado<br />

nas páginas do A Folha do Norte que consistia em procedimento elaborado por Dona<br />

Francisca Borralho Rolha, moradora da rua Bernal do Couto. Dona Francisca foi a<br />

redação do jornal e relatou que, desde a última vez em que a epidemia afetou a<br />

cidade, conseguiu curar sete netos infectados pela terrível moléstia, e agora revelava<br />

o segredo, que consistia no uso de ervas da Amazônia, com as quais preparava um<br />

banho especial a ser tomado durante três dias, restabelecendo o enfermo. O<br />

jornalista conseguiu apurar algumas informações da prática de cura que foram<br />

publicadas em A Folha do Norte:<br />

(...) A pessoa atacada da doença não precisa ter dieta alguma, podendo<br />

andar por toda a parte, limitando-se o seu tratamento a esses banhos, que<br />

serão tomados tres ou quatro vezes por dia. Demais este processo tem<br />

ainda a vantagem de não deixar o menor vestigio no corpo da pessoa que a<br />

ele se submetter. Como prova do que afirmava, declarou-nos d. Francisca<br />

Borralho que apresenta a quem quizer ver os seus netos, que tinham sido<br />

acometidos de variola confluente, e que hoje estão de perfeita saude e sem<br />

a menor deformidade. <strong>Da</strong>s suas declarações, deduz-se que não se trata de<br />

uma pagelança e sim de uma maneira, aliás muito racional, de curar com<br />

os proprios elementos da natureza no reino vegetal. (A FOLHA DO<br />

NORTE, 23 Ago. 1908, p 1)<br />

Por esse relato, é possível estabelecer algumas diferenças em relação ao<br />

tratamento da medicina acadêmica, pois, além de ervas, o varioloso não precisaria<br />

ter uma alimentação que o restringisse de alimentos típicos da região, que são<br />

classificados como “remosos” pelos doutores da ciência e pelos próprios populares<br />

como causadores de mal <strong>à</strong> saúde. Muito menos se trataria isolado, não ficando<br />

restringido de ir e vir. Outra característica importante desse tratamento refere-se <strong>à</strong>s<br />

cicatrizes no corpo, pois garantia não deixar vestígios da doença marcados nos<br />

corpos dos variolosos. A única restrição dizia respeito a seguir <strong>à</strong> risca os banhos,<br />

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