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JAIRO DE JESUS NASCIMENTO DA SILVA Da Mereba-ayba à ...

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científica desde os tempos do Dr. Castro, ou do flagelo do cólera na Belém do Grão-<br />

Pará, como bem demonstrou Beltrão (2004) 20 .<br />

Para Vigarello (1999), essa nova conjuntura coincidiu com o predomínio do<br />

paradigma microbiano e bacteriológico que, graças aos trabalhos de Pasteur e Koch,<br />

propiciaram uma outra compreensão da causa das doenças, suas formas de<br />

transmissão e cura. A identificação dos agentes etiológicos das doenças infecciosas<br />

propiciou o desenvolvimento de vários métodos de imunização e combate aos<br />

vetores e seus reservatórios naturais. Surgiram métodos específicos de profilaxia,<br />

normalmente bastante eficazes, que levaram alguns a acalentar o sonho de que todo<br />

e qualquer mal poderia ser remediado pelo novo saber. O combate <strong>à</strong>s epidemias que<br />

assolavam a região, dificultando o pleno funcionamento da economia da borracha e<br />

afastando de seus portos os trabalhadores estrangeiros, levou os poderes<br />

constituídos a criarem, durante o século XIX, um aparato legal para regular os<br />

serviços sanitários, assim como um conjunto de instituições. Esses centros<br />

passaram a ditar os rumos da saúde pública.<br />

A comunidade médica parecia não chegar a um consenso acerca das<br />

medidas profiláticas necessárias, mas na verdade, é preciso compreender a<br />

historicidade desse debate e, como bem demonstrou Figueiredo apud Chalhoub<br />

(2003), não estavam muito descoladas as práticas da medicina oficial em relação<br />

aos métodos da medicina popular 21 . Porém, ao longo do século XIX, os estudos<br />

20 Eram dois os principais paradigmas médicos, vigentes no século XIX, sobre as causas e o modo de<br />

propagação de doenças epidêmicas. Entendia-se por contágio a propriedade que apresentavam<br />

certas doenças de se comunicar de um a outro indivíduo diretamente, pelo contato, ou<br />

indiretamente, através do contato com objetos contaminados pelos doentes ou da respiração do ar<br />

que os circundava. O contágio, uma vez produzido, não precisava, para se propagar, da intervenção<br />

das causas que o haviam originado; ele se reproduzia por si mesmo, não obstante as condições<br />

atmosféricas reinantes. Ou seja, os contagionistas acreditavam que o surgimento de uma<br />

determinada doença sempre se explicava pela existência de um veneno específico que, uma vez<br />

produzido, podia se reproduzir no indivíduo doente e assim se propagar na comunidade. Por<br />

infecção se entendia a ação exercida na economia por miasmas mórbidos. Em outras palavras, a<br />

infecção se devia <strong>à</strong> ação que substâncias animais e vegetais em putrefação exerciam no ar<br />

ambiente. A infecção atuava senão na esfera do foco do qual se emanavam os tais “miasmas<br />

mórbidos”. Era verdade que uma doença infecciosa podia se propagar de um indivíduo doente a<br />

outro são; todavia, tal processo não acontecia propriamente por contágio: o indivíduo doente agia<br />

sobre o são ao alterar o ar ambiente que os circundava.<br />

21 No artigo que compõe a obra acima A. Figueiredo analisa os embates entre pajelança (práticas<br />

curativas populares) e medicina “científica”, demonstrando, com base em consistente<br />

documentação, que os médicos científicos discriminavam o saber popular, mas geralmente<br />

lançavam mão de seus métodos.<br />

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