JAIRO DE JESUS NASCIMENTO DA SILVA Da Mereba-ayba à ...
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tentar fugir do lugar comum em que se tornou tal questão, sendo tratada, quando<br />
muito, pura e simplesmente no campo da resistência popular.<br />
Amaral (2006) analisa doenças e epidemias como a febre amarela, a<br />
varíola e a peste bubônica, que estavam no centro do debate das práticas médico-<br />
sanitárias em Belém, no início do século XX. Para o autor, o higienismo de médicos<br />
tornou-se discurso recorrente de intervenção no espaço cotidiano dos moradores,<br />
em que campanhas de profilaxias foram consideradas responsáveis pela cura da<br />
cidade. As ações propostas pelos detentores do saber científico geraram tensões,<br />
segundo Amaral (2006) entre moradores e autoridades públicas em função da<br />
associação do saber médico com o poder público. Analisando artigos na imprensa,<br />
literatos, jornalistas, políticos, relatos médicos, mensagens de governo, relatórios,<br />
fotografias e charges, o autor mencionado, procurou compreender os significados<br />
atribuídos pelos contemporâneos em relação <strong>à</strong>s epidemias da varíola, tuberculose e<br />
febre amarela, por exemplo, por parte dos saberes médico-sanitários.<br />
Apesar de reconhecermos a relevância deste trabalho, com uma carga<br />
densa de fontes que lhes dão suporte, apenas uma seção do capítulo II 6 do trabalho<br />
de Alexandre Amaral tem relação direta com esta dissertação. Ainda assim, a<br />
referida seção, está baseada principalmente em dados relativos aos anos de 1904 a<br />
1911, mas utilizando-se de estatísticas sobre a varíola apenas para 1905, portanto<br />
em período diverso ao que se pesquisou para esta dissertação. Além disso, como<br />
tratou de outras doenças, Amaral (2006), não pode aprofundar a análise em relação<br />
<strong>à</strong> profilaxia da varíola como pretendia fazer, pois, embora tenha apresentado<br />
estatísticas da vacinação aplicada em Belém e sinalizado com a perspectiva de um<br />
enraizamento na cultura popular local de práticas de cura tradicionais que<br />
obstaculizavam as profilaxias oficiais, especialmente a vacina, não lhe foi possível<br />
desvendar totalmente as raízes dessa cultura popular, deixando também a<br />
impressão de que a rejeição <strong>à</strong>s profilaxias oficiais fossem produto da tão famosa<br />
“resistência popular”, cujas vozes, a seu ver, foram silenciadas pelo projeto vencedor<br />
ou pela historiografia que tratou do tema. Ora, analisando o trabalho de<br />
Sevcenko(1984), Chalhoub (1996) considera que a virtude de seu texto acaba<br />
6 Trata-se do item 2.2 desta obra – “vacine-se o povo: a campanha de profilaxia contra a varíola”, p.<br />
122-148.<br />
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