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JAIRO DE JESUS NASCIMENTO DA SILVA Da Mereba-ayba à ...

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eferido governador, reconhecendo “o fumo da pólvora como poderoso<br />

desinfectante, mandou descarregar tiros de canhão no canto das ruas”. Por essas<br />

razões buscamos dar ao tema a conotação de uma guerra, ou de uma guerra<br />

bacteriológica, onde a varíola foi usada como arma; ou de guerra contra a varíola<br />

praticada pelas autoridades e populares, que não cansaram de produzir “armas” para<br />

combater a “doença maligna”.<br />

Essa representação sobre a varíola, tratada como “doença maligna 4 ” ou<br />

mereba-<strong>ayba</strong>, que também aparece no título deste trabalho, foi encontrada no<br />

vocabulário de algumas nações indígenas, numa tentativa de atribuir uma conotação<br />

local para a referida moléstia, embora saibamos que outras tribos indígenas, de<br />

outros cantos do país pudessem utilizar tal designação. A derivação desse termo<br />

parece ter levado ao termo “pereba”, muito usado em Belém e que, segundo o<br />

opção política e pragmática, haja vista o “mecenato” incidente sobre sua obra, pois seus dois<br />

trabalhos mais significativos, citados acima, foram encomendados pelo intendente da cidade e pelo<br />

governador do Estado como também já foi dito, daí a tendência, verificada em sua obra, pela crítica<br />

aos períodos que antecederam ao regime republicano e todo destaque dado a este último, num<br />

evidente interesse em consolidar o novo regime, conquistando corações e mentes, assumindo a<br />

história um papel pedagógico e utilitário. Para um conhecimento mais aprofundado deste intelectual<br />

paraense, consultar: BEZERRA NETO, J. M. “Arthur nas Forjas da História. A Contribuição de<br />

Arthur Vianna para a historiografia paraense”. In: FONTES, E. J. de O. & BEZERRA NETO, J. M.<br />

(orgs). Diálogos entre história, literatura & memória. Belém: Paka-Tatu. 2007.<br />

4 Esta expressão é a tradução apresentada por Martius (1844) para o termo mereba-<strong>ayba</strong>, utilizado<br />

pelos considerar a dificuldade para confrontar suas conclusões para se obter resultados mais<br />

eficazes, não se pode negar a base, a fundamentação respeitável de seu trabalho. Neste, mereba<strong>ayba</strong><br />

aparece traduzida unicamente por bexigas, confirmando as afirmações de Martius. Assim,<br />

optamos pela designação indígena para dar título ao presente indígenas em referência <strong>à</strong> varíola.<br />

Com esta pesquisa foram encontradas apenas duas referências ao termo em dicionários de línguas<br />

indígenas. O primeiro foi publicado na revista do IHGB (1856), em manuscrito elaborado pelo Barão<br />

de Antonina, apresentado como vocabulário dos índios cayás. Neste, o termo mereba-<strong>ayba</strong> aparece<br />

traduzido ora por lepra, ora por bexigas (Revista do IHGB, tomo IX, Rio de Janeiro, Typographia<br />

Universal de Laemmert, 1856). Dois anos depois, Gonçalves Dias, publicou um “Dicionário da<br />

Língua Tupy, chamada língua geral dos índios do Brasil”, elaborado a pedido do IHGB, cujo objetivo<br />

era produzir uma memória dos índios descrevendo seus caracteres intelectuais e morais. Segundo<br />

Gonçalves Dias, seu dicionário tomou por base o vocabulário que o autor de “Poranduba<br />

Maranhense” acrescentou ao seu trabalho, valendo-se da Gramática do padre Figueira; do<br />

Dicionário Braziliano, publicado por um anônimo em Lisboa, em 1795; de um manuscrito da<br />

Biblioteca Pública do Rio de Janeiro cujo título não é citado; de um Dicionário, também manuscrito,<br />

da Biblioteca da Academia Real da Sciencias de Lisboa; e de quatro cadernos que acompanham as<br />

remessas do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, durante a sua comissão científica pelo<br />

Amazonas, nos anos de 1785, 1786 e 1787. Portanto, apesar de Gonçalves Dias trabalho, pois,<br />

além de assumir uma conotação regionalizada, a referida doença também se revela de forma<br />

devastadora em relação aos índios num primeiro momento, chegando a assumir, até mesmo, o<br />

caráter de guerra bacteriológica, como fica evidente em algumas passagens do texto (DIAS, A.<br />

Gonçalves. Dicionário da Língua Tupy: chamada língua geral dos índios do Brazil. Lipsia: F. A.<br />

Brockhaus. 1858).<br />

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