JAIRO DE JESUS NASCIMENTO DA SILVA Da Mereba-ayba à ...
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O enraizamento dessas práticas na cultura popular da região é tão forte que<br />
se constituiu num dos principais fatores explicativos da intolerância popular <strong>à</strong> vacina<br />
entre outras profilaxias e terapêuticas encaminhadas pelo poder público. Assim, a<br />
prática repressiva foi o único caminho encontrado pelas autoridades para garantir o<br />
cumprimento de suas políticas públicas. Mas, mesmo o isolamento foi rejeitado pelas<br />
camadas populares, principais alvos dessa prática, que procuravam o tratamento na<br />
própria residência, escondendo os doentes das autoridades sanitárias, ou em locais<br />
comandados por aqueles que eram designados como “pajés” ou “curandeiros”.<br />
Portanto, o enraizamento dessas práticas era mesmo bastante forte junto <strong>à</strong>s<br />
camadas populares e em outros setores da sociedade, chegando mesmo a penetrar<br />
até nos métodos dos seus mais severos opositores, os médicos acadêmicos. Para<br />
Figueiredo (2003), não estão bem descoladas as práticas dos médicos acadêmicos<br />
em relação aos detentores de um saber considerado popular. Segundo Meira<br />
(1986), nesse período, era muito comum para os médicos, principalmente <strong>à</strong>queles<br />
que pretendiam maior reputação, ter nas prateleiras das farmácias um produto que<br />
levasse seu próprio nome, sendo que alguns alcançaram grande repercussão, até<br />
internacional. O Dr. Gesteira assinava o “Ventre-Livre” e o “Regular Gesteira”, havia<br />
as “Pílulas Verdes” do Dr. Pinheiro Sozinho, o “Colírio Amarelo” do Dr. Geminiano de<br />
Lyra Castro, a “Pomada” do Dr. Lauro Magalhães e o “Elixir indígena” desenvolvido<br />
pelo Dr. Ferro e Silva para o tratamento do impaludismo. Este último medicamento,<br />
pelo próprio nome, demonstra como eram delicadas as relações entre as práticas da<br />
medicina acadêmica e as práticas consideradas populares.<br />
Portanto, refletir sobre a experiência com a saúde e a doença, representou a<br />
necessidade de realizar um percurso no qual discuti produções discursivas diversas<br />
e procurei cruzar as informações nelas contidas objetivando construir uma<br />
interpretação do fenômeno das epidemias de varíola ocorridas em Belém, entre a<br />
segunda metade do século XIX e o início do século XX, para compreender a<br />
historicidade de determinadas profilaxias e ou práticas terapêuticas desenvolvidas na<br />
capital paraense, com o intuito de escrever mais uma página da história da medicina<br />
social na Amazônia.<br />
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