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JAIRO DE JESUS NASCIMENTO DA SILVA Da Mereba-ayba à ...

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Jenner uma espécie de “razão teológica”. Ao mesmo tempo em que procurava<br />

desqualificar o invento de Jenner, o professor Ruata discorria sobre as razoes para<br />

condenar a vacina. Na edição do dia 16 de novembro de 1904 mostrava os avanços<br />

da bacteriologia no sentido de demonstrar o que contém o pus vacínico. Assim,<br />

aponta que na Alemanha, em 1898, foram examinadas 39 amostras de diferentes<br />

linfas vacínicas, tendo se encontrado em cada meia gota, de 1650 a 8337766<br />

micróbios. Fremlin, médico da repartição central de higiene inglesa, em suas<br />

pesquisas, achou em média 123000 micróbios no pus de 500 vitelos. O laboratório<br />

do Estado de Washington elaborou uma brochura sobre as “Impurezas<br />

Bacteriológicas do Pus Vacínico”, constatando que aquele pus contém o mesmo<br />

enorme número de bactérias encontradas na Europa. A partir desses dados, Ruata<br />

busca fundamento na antisepsia para confirmar a condenação da vacina afirmando<br />

que é coisa conhecida que, já naquele período, não havia médico que, antes de<br />

fazer sua pequena incisão não tome uma infinidade de medidas antisépticas, que<br />

ninguém se arrisca mais, se quiser proceder com consciência, a fazer uma simples<br />

injeção hipodérmica sem antes esterilizar a agulha, o líquido e desinfetar a pele e,<br />

neste sentido, pergunta: “como é pois que para a vacinação toda a ciência da<br />

antisepsia não tem valor, fazendo-se, sem a menor cautela, na nossa pele, injeção<br />

de tanta podridão? É claro que essa questão seria rapidamente respondida hoje<br />

pelos médicos acadêmicos, mas não podemos perder de vista a historicidade desse<br />

debate para considerarmos a influência que esse tipo de opinião, emitida por um<br />

médico renomado possa ter representado para a sociedade da época, inclusive a de<br />

Belém, onde os artigos foram publicados.<br />

da vacinação antivariólica. A então recém-criada microbiologia pastoriana concordava com a<br />

afirmativa de Jenner de que a vacina era uma doença, passando a imprimir <strong>à</strong> sua conceituação<br />

original um raciocínio causal, relacionando-a a um microrganismo específico, que podia ser<br />

estudado, analisado e controlado no laboratório. Nesse sentido, o laboratório passa a se associar<br />

aos espaços e <strong>à</strong>s práticas de legitimação da ciência biomédica constituídos até então,<br />

redimensionando-os e criando novos valores e conceitos científicos e sociais. O método<br />

experimental de Pasteur, ao levar os microrganismos para o laboratório, buscou implementar<br />

técnicas para visualizá-los e atenuar sua virulência, relacionando doença e agente causal específico.<br />

No caso da varíola, além de buscar a identificação e a atenuação da virulência, contribuiu também<br />

para a compreensão e o controle das infecções secundárias a ela associadas, o que possibilitou,<br />

inclusive, uma modificação significativa na sintomatologia da doença ao longo do século XX.<br />

Portanto, a polêmica levantada acima faz parte da própria historicidade do debate sobre doença e<br />

cura, no caso específico da varíola e sua profilaxia, a vacina. Uma análise esclarecedora do tema<br />

está em: FERNAN<strong>DE</strong>S, Tânia Maria. Imunização Anti-variólica no Século XIX: inoculação,<br />

variolização, vacina e revacinação. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2003.<br />

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