JAIRO DE JESUS NASCIMENTO DA SILVA Da Mereba-ayba à ...
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O invento de Jenner correu o mundo, tendo chegado a Belém no início do<br />
século XIX, embora Vianna (1975) considere que as primeiras experiências com o<br />
método jenneriano tenham ocorrido ainda no século XVIII. Para Vianna (1975)<br />
quanto ao processo de inoculação, “em novembro do mesmo ano de 1797,<br />
achavam-se os peritos habilitados a fazê-la em quem dela se quisesse utilizar”. A<br />
afirmação de Vianna fundamenta-se em um Bando, decretado pelo governador<br />
Francisco de Souza Coutinho o qual denunciava a presença da varíola em Belém, já<br />
de longa data, e anunciava a “inoculação ou enxertia das bexigas, único meio até<br />
agora conhecido e há muito tempo adotado entre as nações mais civilizadas para as<br />
prescrever do sobredito flagelo” 39 . Ao que tudo indica parece que Vianna confundiu,<br />
como foi comum em todo o Brasil, a variolização 40 com a vacina, pois, na própria<br />
Inglaterra, como já foi dito, as primeiras experiências com a vacina foram realizadas<br />
em 1799, sendo que a publicação dos resultados das pesquisas de Jenner<br />
ocorreram apenas em 1798. No Rio de Janeiro, por exemplo, as primeiras<br />
experiências com o método jenneriano ocorreram em 1801 segundo Carvalho<br />
(1987), ou 1804 de acordo com Chalhoub (1996). Mas, há outros indícios que nos<br />
levam a pensar em variolização e não em vacina, como, por exemplo, o fato de que<br />
o governador Francisco de Souza Coutinho se refira a “enxertia das bexigas” como<br />
um método “há muito tempo adotado entre as nações mais civilizadas”. Só para<br />
recordar, as experiências de Jenner ocorreram em 1796 e as suas memórias só<br />
foram publicadas em 1798, portanto, o referido governador não poderia estar falando<br />
da vacina e sim da variolização, prática já bastante conhecida e utilizada, inclusive,<br />
na Europa.<br />
39 O Bando foi publicado em 16 de julho de 1798 e dava ao governador autorização para fazer todas<br />
as despesas necessárias com a inoculação.<br />
40 Parece que os chineses foram os primeiros a obter algum controle sobre a varíola. Sabiam, por<br />
meio da observação, que aqueles que sobreviviam <strong>à</strong> varíola jamais voltavam a contrair a doença.<br />
Ainda no primeiro século da era cristã, médicos chineses insistiam na idéia de dar aos pacientes<br />
casos controlados da doença, fazendo-os aspirar um pó das cascas das pústulas secas dos<br />
doentes de varíola. De forma semelhante, no continente africano, na Índia e na Ásia Menor, o<br />
material das úlceras da varíola era introduzido em arranhões ou cortes na pele. Cerca de oito ou<br />
nove dias depois, a maioria dos que tinham sido inoculados aparecia com casos brandos de varíola<br />
e se recuperavam. Porém, o procedimento estava longe de ser garantido, muitas pessoas<br />
inoculadas poderiam contrair casos graves da varíola e, além disso, as pessoas inoculadas<br />
tornavam-se contagiosas e não era raro que desencadeassem um novo surto. Para mais<br />
informações sobre o assunto ver: ADLER, Robert. Médicos Revolucionários: de Hipócrates ao<br />
genoma humano. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.<br />
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