ESTRADA DE FERRO MARICÁ: PAISAGEM E ... - XII Simpurb
ESTRADA DE FERRO MARICÁ: PAISAGEM E ... - XII Simpurb
ESTRADA DE FERRO MARICÁ: PAISAGEM E ... - XII Simpurb
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
desenvolvendo ainda mais o comércio e contribuindo para aumentar o número de<br />
residências nos arredores da estação.<br />
A concentração populacional próximo às estações, se dava não só pelo fato de<br />
estar próximo do principal meio de transporte da época, mas também pelos benefícios<br />
que a ferrovia oferecia. Entre eles, destaca-se o fornecimento de alimentos que eram<br />
trazidos pelo trem para os armazéns da região, a distribuição de água potável<br />
gratuitamente para os moradores carentes e a oportunidade de vender produtos aos<br />
passageiros. A existência da ferrovia estava tão intimamente ligada ao cotidiano dos<br />
moradores, que durante o carnaval os blocos desfilavam sobre a linha do trem.<br />
Segundo Geraldo Bezerra de Lima, morador de Inoã, o Exército Brasileiro<br />
também utilizava o trem para realizar pesquisas e incursões na região. Afinal, a<br />
existência da Estrada de Ferro Maricá também era estratégica do ponto de vista militar,<br />
devido ao seu trajeto ao longo do litoral.<br />
Em Manoel Ribeiro, onde foi inaugurada uma estação em 1901, localizava-se<br />
uma das principais fazendas de Maricá, empregando um enorme contingente de pessoas<br />
e desenvolvendo um pequeno núcleo urbano. Nesta localidade era produzida uma<br />
grande quantidade de laranja transportada pela ferrovia. A Senhora Maria da Glória<br />
Costa, moradora do local, ainda recorda do intenso movimento na estação,<br />
principalmente por volta do meio-dia, quando os trens se cruzavam naquela localidade,<br />
um vindo de Cabo-Frio em direção a Niterói, e outro no sentido contrário. Segundo a<br />
moradora, o armazém estava sempre lotado, mal se conseguia andar lá dentro, pois<br />
todos os moradores da região se dirigiam para lá, para comprar as mercadorias que eram<br />
trazidas pelo trem. Dali também partia todas as manhãs o “rondante”, funcionário<br />
encarregado de verificar danos na via que pudessem causar acidentes, para tanto, ele<br />
percorria a pé a linha até Nilo Peçanha, onde outro funcionário se encarregava de fazer<br />
o mesmo daquele ponto em diante.<br />
Isabel Bastos Sardinha também foi moradora de Manoel Ribeiro e recorda de<br />
sua irmã que tinha muito medo do trem, e certa vez, quando levava uma galinha debaixo<br />
do braço e viu o trem se aproximando, largou a galinha e saiu correndo. De certa forma<br />
para pessoas acostumadas a viver toda uma vida em um lugar pacato, ouvindo sons de<br />
pássaros, e utilizando como único meio de transporte o cavalo, ver chegar um imenso<br />
“monstro” de ferro, “cuspindo” fumaça, emanando intenso calor e soando seu apito,<br />
deveria realmente ser muito impactante, talvez até assustador.<br />
Para as crianças, o significado do trem era outro. As viagens de trem eram um<br />
dos grandes entretenimentos da época e o simples fato de ver o trem passar, já