Importância do Selamento Provisório no Sucesso do ... - Uepb
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<strong>Importância</strong> <strong>do</strong> <strong>Selamento</strong> <strong>Provisório</strong> <strong>no</strong> <strong>Sucesso</strong> <strong>do</strong><br />
Tratamento En<strong>do</strong>dôntico<br />
TEMPORARY RESTORATION: IMPORTANCE IN ENDODONTIC<br />
Juan Ramón SALAZAR-SILVA *<br />
Rizia Carla Souza PEREIRA **<br />
Luciana Maria Pedreira RAMALHO ***<br />
RESUMO ABSTRACT<br />
Uma revisão da literatura buscou estabelecer a importância <strong>do</strong><br />
selamento cervical <strong>no</strong> sucesso <strong>do</strong> tratamento en<strong>do</strong>dôntico, bem<br />
como subsidiar o clínico na escolha adequada <strong>do</strong> material a ser<br />
emprega<strong>do</strong>. O uso de materiais temporários na en<strong>do</strong><strong>do</strong>ntia é<br />
um fator importante para o sucesso <strong>do</strong> tratamento en<strong>do</strong>dôntico.<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, diferentes materiais vêm sen<strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>s,<br />
classifica<strong>do</strong>s como a base de óxi<strong>do</strong> de zinco e euge<strong>no</strong>l<br />
reforça<strong>do</strong>, a base de óxi<strong>do</strong> de zinco e euge<strong>no</strong>l e sulfato de cálcio<br />
e a base de resina composta fotopolimerizável, empregan<strong>do</strong>-se<br />
também para esse fim a guta-percha o cimento de fosfato de<br />
zinco, o cimento de policarboxilato e o ionômero de vidro.<br />
Dentro destes materiais, os a base de óxi<strong>do</strong> de zinco e euge<strong>no</strong>l<br />
e sulfato de cálcio, Cavit, Cimpat, Coltosol, Citodur, entre<br />
outros, mostraram melhor capacidade de vedamento, mas com<br />
pouca resistência aos esforços mastigatórios. Por tanto,<br />
sugere-se o selamento duplo como o procedimento de eleição<br />
para a prevenção da infiltração bacteriana. Novos estu<strong>do</strong>s que<br />
levem ao estabelecimento definitivo das ma<strong>no</strong>bras técnicas<br />
prévias à inserção <strong>do</strong> material provisório, bem como ao estu<strong>do</strong><br />
das propriedades físicas, químicas e biológicas destes<br />
materiais são necessários.<br />
DESCRITORES<br />
En<strong>do</strong><strong>do</strong>ntia; Restauração dentária temporária; Infiltração<br />
marginal.<br />
SUCCESS<br />
* Mestre e Doutor em En<strong>do</strong><strong>do</strong>ntia pela FOUSP. Professor Titular de En<strong>do</strong><strong>do</strong>ntia da UEPB.<br />
** Cirurgiã-Dentista.<br />
DESCRIPTORS<br />
En<strong>do</strong><strong>do</strong>ntics; Temporary filling; Microleakage.<br />
*** Doutora em Estomatologia pela PUCRS. Professora Adjunta da Faculdade de O<strong>do</strong>ntologia da UFBA.<br />
Pesq Bras O<strong>do</strong>ntoped Clin Integr, João Pessoa, v. 4, n. 2, p. 143-149, maio/ago. 2004<br />
A review of the literature search establish the importance of the<br />
sealing ability in en<strong>do</strong><strong>do</strong>ntic success as well as make clinical<br />
recommendation to choice the an adequated temporary<br />
cement. Using of the en<strong>do</strong><strong>do</strong>ntic temporary restorative<br />
materials is an important factor for en<strong>do</strong><strong>do</strong>ntic treatment<br />
success. In that way, several materials have being used, and<br />
they are classified as zinc oxide/euge<strong>no</strong>l reinforced, zinc<br />
oxide/euge<strong>no</strong>l with calcium sulphate and based on composed<br />
resin, employing it himself also for temporary stopping guttapercha,<br />
zinc phosphate cement, polycarboxylate cement and<br />
glass-io<strong>no</strong>mer cement. Among these materials, the zinc<br />
oxide/euge<strong>no</strong>l with calcium sulphate, Cavit, Cimpat, Coltosol,<br />
Citodur, and others, have showed better sealing ability but with<br />
little compressive strength. So <strong>do</strong>uble seal as the procedure of<br />
election for microbial contamination prevention is suggested.<br />
Further researches are necessary to determine the prior clinical<br />
procedures to the material placement, as well as the study of<br />
the biological, chemical and physical properties of these<br />
materials.<br />
143<br />
25 27
SALAZAR-SILVA, PEREIRA e RAMALHO- <strong>Importância</strong> <strong>do</strong> <strong>Selamento</strong> <strong>Provisório</strong><br />
INTRODUÇÃO<br />
O objetivo <strong>do</strong> tratamento <strong>do</strong> sistema de canais<br />
radiculares envolve a recuperação <strong>do</strong> dente<br />
comprometi<strong>do</strong> <strong>no</strong>s seus aspectos funcionais e estéticos.<br />
Para que isto ocorra são realizadas ma<strong>no</strong>bras de<br />
limpeza, desinfecção e modelagem <strong>do</strong> sistema<br />
en<strong>do</strong>dôntico onde a sanificação e a manutenção desta,<br />
entre sessões, são de extrema importância, pois com<br />
isso ocorre a eliminação de microorganismos levan<strong>do</strong> à<br />
reparação <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s lesa<strong>do</strong>s (PAIVA, ANTONIAZZI<br />
1993).<br />
Por outro la<strong>do</strong>, a correta obturação <strong>do</strong> espaço<br />
en<strong>do</strong>dôntico e a aprimorada restauração <strong>do</strong> elemento<br />
dental, evitam a proliferação e recontaminação<br />
bacteriana. Seguin<strong>do</strong> este princípio, é indiscutível a<br />
necessidade <strong>do</strong> emprego de um bom sela<strong>do</strong>r provisório<br />
entre sessões, pois o sistema de canais radiculares<br />
p e r m a n e c e v u l n e r á v e l à c o l o n i z a ç ã o d e<br />
microorganismos provenientes <strong>do</strong> meio bucal<br />
(SALAZAR-SILVA, 2000).<br />
O merca<strong>do</strong> o<strong>do</strong>ntológico apresenta inúmeros<br />
materiais restaura<strong>do</strong>res emprega<strong>do</strong>s para esse fim, com<br />
capacidade de vedamento variáveis. Alguns desses<br />
apresentam melhor resistência às forças da mastigação,<br />
mais com pouca capacidade sela<strong>do</strong>ra. Nesse senti<strong>do</strong>,<br />
inúmeras pesquisas vêm avalian<strong>do</strong> a microinfiltração<br />
cervical, na procura de um material que apresente<br />
adequada resistência e capacidade de selamento.<br />
Assim, este trabalho busca realizar uma revisão<br />
bibliográfica sobre a importância <strong>do</strong> selamento da<br />
cavidade de acesso en<strong>do</strong>dôntico entre sessões, e sua<br />
relação com o sucesso da terapia en<strong>do</strong>dôntica, bem<br />
como subsidiar o clínico para a escolha adequada <strong>do</strong><br />
material a ser emprega<strong>do</strong>.<br />
REVISÃO DE LITERATURA<br />
A maior preocupação na terapia en<strong>do</strong>dôntica<br />
radica <strong>no</strong> combate a microorganismos pertencentes à<br />
flora en<strong>do</strong>dôntica e a recontaminação entre sessões.<br />
Especial importância tem si<strong>do</strong> dada às restaurações<br />
coronárias, sejam provisórias ou definitivas, pois o uso<br />
inadequa<strong>do</strong> delas pode contribuir com o insucesso <strong>do</strong><br />
tratamento en<strong>do</strong>dôntico. Contrariamente, uma boa<br />
restauração coronária está relacionada com a ausência<br />
de inflamação perirradicular (WEINE, 1989). A infiltração<br />
cervical de restaurações temporárias é causa comum,<br />
responsável pelo eventual insucesso en<strong>do</strong>dôntico,<br />
poden<strong>do</strong> aumentar se estes materiais permanecem na<br />
cavidade oral por muito tempo. Motivo pelo qual, a<br />
imediata colocação da restauração definitiva depois de<br />
finaliza<strong>do</strong> o tratamento é de extrema importância<br />
(BARRIESHI et al., 1997; SENNE et al., 1999; HELING et<br />
al., 2002; TEWARI; TEWARI, 2002). De não ser possível<br />
144<br />
este procedimento é recomendável o uso de<br />
materiais provisórios que apresentem boa capacidade<br />
de selamento, como o Cavit (ESPE, Germany) ou<br />
material similar, segui<strong>do</strong> de uma camada de IRM, a que<br />
proporciona uma alta resistência à compressão<br />
(HELING et al., 2002).<br />
Para minimizar o risco de contaminação,<br />
Orstavik (1997) afirmou que o tratamento en<strong>do</strong>dôntico<br />
em sessão única eliminaria a necessidade de medicação<br />
intracanal e colocação de material provisório, evitan<strong>do</strong> a<br />
ocorrência da infiltração marginal. Ten<strong>do</strong> a necessidade<br />
da realização <strong>do</strong> tratamento en<strong>do</strong>dôntico em sessões<br />
múltiplas, <strong>no</strong>s casos de canais radiculares infecta<strong>do</strong>s,<br />
com lesão perirradicular ou não, deve se dar extrema<br />
importância a um efetivo selamento cervical para obter<br />
um prognóstico favorável (SJOGREN et al.,1997).<br />
Por sua vez, Siqueira et al. (1999) afirmaram<br />
que a infiltração coronal pode ser uma causa importante<br />
<strong>do</strong> fracasso en<strong>do</strong>dôntico. Salientaram que a<br />
recontaminação de canais pode ocorrer através de<br />
infiltração pelos materiais restaura<strong>do</strong>res temporários ou<br />
permanentes: pela dissolução <strong>do</strong> selamento pela saliva;<br />
pela infiltração da saliva na interface material sela<strong>do</strong>r e<br />
parede <strong>do</strong> canal, e/ou entre material sela<strong>do</strong>r e<br />
g u t a p e r c h a ; p e l a f r a t u r a d a r e s t a u r a ç ã o<br />
temporária/permanente; ou pela demora em se restaurar<br />
permanentemente um dente trata<strong>do</strong>. Relataram ainda<br />
que quan<strong>do</strong> o selamento coronal é perdi<strong>do</strong>, os<br />
microorganismos e seus produtos podem invadir e<br />
recolonizar o sistema de canais, alcançan<strong>do</strong> os teci<strong>do</strong>s<br />
perirradiculares através <strong>do</strong>s canais laterais ou das<br />
foraminas apicais, pon<strong>do</strong> desse mo<strong>do</strong> em risco o<br />
resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> tratamento.<br />
Hancock III et al. (2001) descreveram que a<br />
principal tendência <strong>do</strong> insucesso na terapia en<strong>do</strong>dôntica<br />
está na persistência de microorganismos, sen<strong>do</strong> a<br />
recontaminação <strong>do</strong> canal outra causa, a qual se deve a<br />
que as propriedades <strong>do</strong>s materiais permitem um<br />
selamento inadequa<strong>do</strong>. Definidas essas por Siqueira Jr.<br />
(2001), que salientou que o material temporário deve<br />
apresentar estabilidade dimensional, adesividade, baixa<br />
solubilidade, elevada resistência mecânica e atividade<br />
antibacteriana, eliminan<strong>do</strong> microrganismos<br />
provenientes da microinfiltração coronária. Naoum e<br />
Chandler (2002) afirmaram que os materiais<br />
restaura<strong>do</strong>res temporários devem permitir fácil<br />
colocação e remoção, proporcionan<strong>do</strong> estética aceitável<br />
e protegen<strong>do</strong> a estrutura dental durante o tratamento.<br />
Para que o selamento seja efetivo é necessário o devi<strong>do</strong><br />
conhecimento das técnicas de preenchimento bem<br />
como as propriedades físicas destes materiais, tais<br />
como: tempo de trabalho, resistência à compressão e ao<br />
desgaste, e adesividade, bem como a relação destas<br />
propriedades com o tamanho da cavidade de acesso e o<br />
Pesq Bras O<strong>do</strong>ntoped Clin Integr, João Pessoa, v. 4, n. 2, p. 143-149, maio/ago. 2004
emanescente dentinário.<br />
Nessa ordem de idéias, diversos autores na<br />
busca <strong>do</strong> material ideal têm compara<strong>do</strong> diferentes<br />
materiais provisórios. Assim, Madison e Wilcox (1988),<br />
avaliaram o IRM como material restaura<strong>do</strong>r temporário<br />
verifican<strong>do</strong> a microinfiltração coronária e alertaram da<br />
possibilidade de fracasso <strong>no</strong> tratamento en<strong>do</strong>dôntico.<br />
Fato este devi<strong>do</strong> a que este material não apresenta um<br />
bom selamento (ANDERSON; POWEL; PASHLEY,<br />
1989; POLO et al., 1996; TRAVASSOS et al., 2001;<br />
BALTO, 2002; GHISI; PACHECO, 2002; SILVEIRA;<br />
NUNES; SILVEIRA, 2003; CORTEZ et al., 2003). No<br />
entanto, é indiscutível a resistência deste material aos<br />
esforços mastigatórios (POLO et al., 1996); motivo pelo<br />
qual foi recomenda<strong>do</strong> em cavidades extensas, ou como<br />
selamento duplo após a inserção de uma camada de<br />
material provisório à base de óxi<strong>do</strong> de zinco e sulfato de<br />
cálcio, tais como: Citodur, Cavit (ESPE, Germany),<br />
Coltosol (Coltene Whaledent, USA), Cimpat<br />
(ANDERSON; POWEL; PASHLEY, 1989; HAGEMEIER;<br />
COOLEY; HICKS, 1990; POLO et al., 1996; HELING et<br />
al., 2002; CORTEZ et al., 2003).<br />
Neste particular, Anderson, Powel e Pashley<br />
(1989) avaliaram a microinfiltração de cavidades seladas<br />
com IRM, Cavit (ESPE, Germany) e TERM (LD CAULK),<br />
verifican<strong>do</strong> que o Cavit e o TERM se mostraram<br />
eficientes em cavidades de acesso conserva<strong>do</strong>ras.<br />
Porém, em cavidades extensas, apenas o TERM<br />
mostrou-se eficaz. Similares acha<strong>do</strong>s foram encontra<strong>do</strong>s<br />
por Beckham, Anderson e Morris (1993) quan<strong>do</strong><br />
compararam o TERM com uma barreira de selante<br />
dentinário e cimento de ionômero de vidro, mostran<strong>do</strong><br />
este último grande penetração <strong>do</strong> corante. Beach et al.<br />
(1996) empregan<strong>do</strong> culturas aeróbicas e anaeróbicas,<br />
avaliaram o selamento <strong>do</strong> Cavit (ESPE, Germany), IRM e<br />
o TERM (LD CAULK) e concluíram que o Cavit promoveu<br />
significantemente um melhor selamento <strong>do</strong> que o TERM<br />
e o IRM, sen<strong>do</strong> que o TERM apresentou um maior índice<br />
de infiltração <strong>do</strong> que o IRM. Pisa<strong>no</strong> et al. (1998)<br />
objetivan<strong>do</strong> avaliar a microinfiltração coronária,<br />
encontrou um melhor vedamento com o Cavit quan<strong>do</strong><br />
compara<strong>do</strong> ao IRM e Super-EBA.<br />
Saunders e Saunders (1994) estudaram in vitro<br />
a microinfiltração coronária de materiais restaura<strong>do</strong>res<br />
temporários: Cavit G (ESPE, Germany), Kalzi<strong>no</strong>l e IRM.<br />
Os autores observaram que todas as restaurações<br />
expostas à saliva artificial após um perío<strong>do</strong> de apenas<br />
três dias, apresentaram infiltração coronária. Por este<br />
motivo, salientaram que a infiltração cervical é fator<br />
importante que interfere com o sucesso <strong>do</strong> tratamento<br />
en<strong>do</strong>dôntico, sen<strong>do</strong> essencial uma atenção maior para<br />
prevenção da microinfiltração durante e após a terapia<br />
en<strong>do</strong>dôntica.<br />
Polo et al. (1996) avaliaram a capacidade de<br />
Pesq Bras O<strong>do</strong>ntoped Clin Integr, João Pessoa, v. 4, n. 2, p. 143-149, maio/ago. 2004<br />
SALAZAR-SILVA, PEREIRA e RAMALHO- <strong>Importância</strong> <strong>do</strong> <strong>Selamento</strong> <strong>Provisório</strong><br />
vedamento cervical <strong>do</strong>s materiais restaura<strong>do</strong>res<br />
temporários: IRM, Cimpat Branco e a sua associação, e<br />
constataram que a capacidade de selamento <strong>do</strong> Cimpat<br />
Branco mostrou-se satisfatória. Ao observarem os<br />
espécimes preenchi<strong>do</strong>s com IRM <strong>no</strong>taram infiltração em<br />
toda a extensão da interface material/dente; já o grupo<br />
com selamento duplo houve a infiltração <strong>do</strong> corante na<br />
interface dente/IRM e na junção <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is materiais<br />
sela<strong>do</strong>res.<br />
Na busca <strong>do</strong> material ideal, Roghanizad e Jones<br />
(1996) sugeriram a inserção <strong>do</strong> amálgama com duas<br />
camadas de verniz cavitário, pois sela melhor que o Cavit<br />
e o TERM. Já Oliveira (2001) introduziu guta-percha<br />
associada ao Super Bonder, que se mostrou com me<strong>no</strong>r<br />
infiltração marginal que os outros cimentos testa<strong>do</strong>s:<br />
Cimpat W, Coltosol, Cavit W, Citodur, e Dentalville. O uso<br />
de materiais resi<strong>no</strong>sos, resina composta Flow e resina<br />
composta Z100, foi avalia<strong>do</strong> por Sauáia et al. (2001) e<br />
compara<strong>do</strong>s com Cavit e Vitremer, e concluíram que<br />
estatisticamente o Cavit e a resina composta Z100<br />
selaram melhor; o Vitremer apresentou o pior selamento<br />
e a resina composta Flow apresentou um<br />
comportamento de média infiltração.<br />
A fim de avaliar a capacidade de selamento <strong>do</strong><br />
IRM, Coltosol, Vidrion R e Scotch Bond, Zaia et al., em<br />
2002, concluíram que nenhum <strong>do</strong>s materiais<br />
restaura<strong>do</strong>res testa<strong>do</strong>s foi capaz de prevenir a<br />
microinfiltração de todas as espécies bacterianas<br />
testadas; o Vidrion R e o Scotch Bond demonstraram<br />
resulta<strong>do</strong>s deficientes; já o IRM e o Coltosol foram<br />
significantemente melhores na infiltração coronária.<br />
Cruz et al. (2002) avaliaram a capacidade de<br />
selamento <strong>do</strong> Fermin, Canseal, Caviton e Cavit e<br />
concluíram que o Fermin demonstrou um melhor<br />
selamento, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> Caviton e Cavit.<br />
Dezan Jr. et al. (2002) verificaram a qualidade<br />
sela<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> cimento de óxi<strong>do</strong> de zinco e euge<strong>no</strong>l com e<br />
sem acetato de zinco (OZE), <strong>do</strong> Cavitec e <strong>do</strong> Coltosol<br />
encontran<strong>do</strong> que, este último, apontou um melhor<br />
resulta<strong>do</strong>, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> cimento de óxi<strong>do</strong> de zinco com<br />
acetato de zinco, Cavitec, e cimento de óxi<strong>do</strong> de zinco<br />
sem acetato de zinco.<br />
Um recente material restaura<strong>do</strong>r temporário<br />
fotopolimerizável, Bioplic (Biodinâmica, PR-Brasil) foi<br />
alvo de vários estu<strong>do</strong>s demonstran<strong>do</strong> capacidade de<br />
vedamento semelhante ao Cimpat Branco ou Coltosol, e<br />
superior ao IRM (GHISI; PACHECO, 2002; SILVEIRA;<br />
NUNES; SILVEIRA, 2003). Cortez et al. (2003)<br />
compararam o selamento coronário <strong>do</strong> Bioplic, com<br />
Coltosol, IRM, selamento duplo com gutta-percha e IRM<br />
e selamento duplo com Coltosol e IRM. Os autores<br />
concluíram que o selamento coronário realiza<strong>do</strong> com o<br />
Coltosol foi o mais eficiente segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> vedamento<br />
consegui<strong>do</strong> com o Bioplic. Porém, os selamentos feitos<br />
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SALAZAR-SILVA, PEREIRA e RAMALHO- <strong>Importância</strong> <strong>do</strong> <strong>Selamento</strong> <strong>Provisório</strong><br />
com o material restaura<strong>do</strong>r temporário IRM<br />
apresentaram os piores resulta<strong>do</strong>s. Outros autores<br />
consideram o IRM ineficiente como restaura<strong>do</strong>r<br />
temporário (MATTOS, PIMENTA Jr; MELO, 2003),<br />
também quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com o cimento de ionómero<br />
de vidro Fuji II, e a resina Dyract AP (RAFEEK; SMITH;<br />
LALLA, 2004).<br />
Vale et al. (2003) avaliaram o Citodur Hard<br />
original e umedeci<strong>do</strong>, o Citodur Soft original e umedeci<strong>do</strong><br />
e o Cimpat Rosa umedeci<strong>do</strong>. Concluíram então que<br />
to<strong>do</strong>s os materiais estão indica<strong>do</strong>s para uso clínico,<br />
sen<strong>do</strong> que ao serem umedeci<strong>do</strong>s, diminuem sua<br />
capacidade sela<strong>do</strong>ra. Portanto o Citodur Hard não<br />
umedeci<strong>do</strong>, foi o material que mostrou melhores<br />
resulta<strong>do</strong>s, enquanto que os demais materiais testa<strong>do</strong>s<br />
não diferem significantemente.<br />
DISCUSSÃO<br />
O t r a t a m e n t o e n d o d ô n t i c o c o n s i s t e<br />
principalmente na sanificação <strong>do</strong> sistema de canais<br />
radiculares, a qual tem que ser mantida até o elemento<br />
dental voltar a sua função (PAIVA; ANTONIAZZI, 1993;<br />
SALAZAR-SILVA, 2000). A literatura revisada é unânime<br />
em reconhecer a importância de um adequa<strong>do</strong><br />
selamento <strong>do</strong> sistema de canais radiculares para o<br />
sucesso da terapia en<strong>do</strong>dôntica. Neste contexto, o<br />
selamento marginal cervical assume papel<br />
extremamente importante, pois evita a infiltração de<br />
flui<strong>do</strong>s bucais entre sessões ou posteriormente à<br />
obturação <strong>do</strong> sistema de canais radiculares, prevenin<strong>do</strong><br />
a s s i m a r e c o n t a m i n a ç ã o b a c t e r i a n a , e<br />
conseqüentemente diminuin<strong>do</strong> as chances de um<br />
i n s u c e s s o t e r a p ê u t i c o ( O R S TAV I K , 1 9 7 7 ;<br />
TORABINEJAD et al., 1990; SIQUEIRA et al., 1999;<br />
SENNE et al., 1999; HELING et al., 2002).<br />
A importância de um adequa<strong>do</strong> selamento<br />
cervical para a prevenção da contaminação <strong>do</strong> sistema<br />
de canais radiculares tem si<strong>do</strong> salientada por inúmeros<br />
pesquisa<strong>do</strong>res. Estes afirmam que a qualidade da<br />
restauração é um fator importantíssimo para o sucesso<br />
<strong>do</strong> tratamento en<strong>do</strong>dôntico; na medida em que<br />
observaram lesões inflamatórias perirradiculares quan<strong>do</strong><br />
as superfícies coronárias não foram adequadamente<br />
obturadas (WEINE, 1989; RAY; TROPE, 1995;<br />
HOMMEZ; COPPENS; DE MOOR, 2002; TRONSTAD et<br />
al., 2002). Outros autores afirmaram categoricamente<br />
que microorganismos provenientes da cavidade oral<br />
podem lesar os teci<strong>do</strong>s perirradiculares, sen<strong>do</strong> estes os<br />
r e s p o n s á v e i s p e l o i n s u c e s s o e n d o d ô n t i c o<br />
(TORABINEJAD; UNG; KETTERING, 1990; CHEUNG,<br />
1996; HANCOCK, 2001; SIQUEIRA JR., 2001; HELING<br />
et. al., 2002).<br />
146<br />
Analisan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s das pesquisas<br />
percebe-se que a literatura tem da<strong>do</strong> fundamental<br />
importância à inter-relação entre tratamento<br />
en<strong>do</strong>dôntico e restauração, seja ela definitiva ou não,<br />
para que microorganismos e flui<strong>do</strong>s da cavidade oral<br />
não atinjam os teci<strong>do</strong>s perirradiculares pon<strong>do</strong> em risco o<br />
resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> tratamento en<strong>do</strong>dôntico (WEINE, 1989;<br />
TORABINEJAD; UNG; KETTERING, 1990; RAY;<br />
TROPE, 1995; CHEUNG, 1996; SENNE et al., 1999;<br />
SIQUEIRA et al., 1999; HANCOCK III et al., 2001;<br />
SIQUEIRA JR., 2001; HELING et. al., 2002).<br />
Para evitar a recontaminação, inúmeros<br />
materiais vêm sen<strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>s, alguns usa<strong>do</strong>s na<br />
forma de material provisório entre sessões (MADISON;<br />
WILCOX, 1988; ANDERSON; POWEL; PASHLEY,<br />
1989; BECKHAM; ANDERSON; MORRIS, 1993;<br />
SAUNDERS; SAUNDERS, 1994; KLEITCHES;<br />
LEMON; JEANSONNE, 1995; BEACH et. al., 1996;<br />
POLO et al., 1996; ROGHANIZAD; JONES, 1996;<br />
BARRIESHI et al., 1997; PISANO et. al., 1998;<br />
OLIVEIRA, 2001; TRAVASSOS et al., 2001; CRUZ et.<br />
al., 2002; DEZAN JR et al., 2002; GHISI; PACHECO,<br />
2002; HOMMEZ; COPPENS; DE MOOR, 2002;<br />
TEWARI; TEWARI, 2002; ZAIA et al., 2002; MATTOS;<br />
PIMENTA JUNIOR; MELO 2003; VALE et al., 2003;<br />
SILVEIRA; NUNES; SILVEIRA, 2003; CORTEZ et al.,<br />
2003; RAFEEK; SMITH; LALLA, 2004).<br />
Dentre os materiais encontra<strong>do</strong>s na literatura,<br />
emprega<strong>do</strong>s como material provisório encontram-se:<br />
Cavit (ESPE, Germany), IRM, TERM (LD CAULK),<br />
Kalzi<strong>no</strong>l, Cimpat Branco, Cimpat W, Dentalville, Super-<br />
EBA, Coltosol; Fermin, Canseal, Caviton, Bioplic<br />
(Biodinâmica, PR-Brazil), Tempit L/C, Citodur, Cavitec;<br />
sen<strong>do</strong>, estes classifica<strong>do</strong>s como materiais a base de<br />
óxi<strong>do</strong> de zinco e euge<strong>no</strong>l reforça<strong>do</strong>; a base de óxi<strong>do</strong> de<br />
zinco e sulfato de cálcio e a base de resina composta<br />
fotopolimerizável (HELING et al., 2002). No entanto,<br />
outros autores incluem a guta-percha, o cimento de<br />
fosfato de zinco, o cimento de policarboxilato e o<br />
ionômero de vidro nesta classificação (NAOUM;<br />
CHANDLER, 2002).<br />
No que diz respeito aos materiais a base de<br />
óxi<strong>do</strong> de zinco e euge<strong>no</strong>l reforça<strong>do</strong>, diversos estu<strong>do</strong>s<br />
foram realiza<strong>do</strong>s para avaliar a sua capacidade de<br />
vedamento (ANDERSON; POWEL; PASHLEY, 1988;<br />
BEACH et al., 1996; PISANO et al., 1998; BALTO, 2002;<br />
GHISI; PACHECO, 2002; MATTOS; PIMENTA Jr;<br />
MELO, 2003; RAFEEK; SMITH; LALLA, 2004),<br />
demonstran<strong>do</strong> que o material restaura<strong>do</strong>r temporário<br />
IRM não apresenta uma boa qualidade de selamento<br />
marginal. Em contrapartida, Zaia et al. (2002),<br />
concluiram que este material apresentou melhores<br />
resulta<strong>do</strong>s na prevenção da infiltração marginal quan<strong>do</strong><br />
compara<strong>do</strong> com o Coltosol, Vidrion R e Scotch Bond. al,<br />
Pesq Bras O<strong>do</strong>ntoped Clin Integr, João Pessoa, v. 4, n. 2, p. 143-149, maio/ago. 2004
Ainda assim, POLO et al. (1996), confirmaram a<br />
baixa capacidade deste material, em promover o<br />
selamento marginal cervical, apesar da alta resistência<br />
aos esforços mastigatórios.<br />
Em relação aos materiais a base de óxi<strong>do</strong> de<br />
zinco e sulfato de cálcio (Citodur, Cavit, Coltosol,<br />
Cimpat), os pesquisa<strong>do</strong>res encontraram melhores<br />
resulta<strong>do</strong>s (BEACH et al., 1996; POLO et al., 1996;<br />
PISANO et. al., 1998; OLIVEIRA, 2001; SAUáIA et al.,<br />
2001; DEZAN JR. et al., 2002; ZAIA et al., 2002; GHISI;<br />
PACHECO, 2002; VALE et al., 2003; SILVEIRA; NUNES;<br />
SILVEIRA, 2003; CORTEZ et al., 2003), destacan<strong>do</strong>-se<br />
na literatura o material restaura<strong>do</strong>r temporário Cavit<br />
(ANDERSON; POWEL; PASHLEY, 1989; BEACH et. al.,<br />
1996; PISANO et. al., 1998; OLIVEIRA, 2001).<br />
Entretanto as pesquisas mostram outros<br />
materiais resi<strong>no</strong>sos ativa<strong>do</strong>s por luz visível: TERM (LD<br />
CAULK), Bioplic (Biodinâmica, PR-Brazil), Fermit; os<br />
quais também mostraram um adequa<strong>do</strong> vedamento<br />
quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s com outros tipos de materiais<br />
(ANDERSON; POWEL; PASHLEY, 1989; BECKHAM;<br />
ANDERSON; MORRIS, 1993; CRUZ et al., 2002; GHISI;<br />
PACHECO, 2002; SILVEIRA; NUNES; SILVEIRA, 2003).<br />
Dentre estes o material fotopolimerizável temporário<br />
Bioplic foi o que apresentou maior índice de infiltração<br />
(MATTOS; PIMENTA Jr; MELO, 2003; CORTEZ et al.,<br />
2003).<br />
Além disso, não se podem ig<strong>no</strong>rar as<br />
propriedades físicas <strong>do</strong>s materiais restaura<strong>do</strong>res que<br />
devem ser capazes de suportar os esforços<br />
mastigatórios. Esta propriedade também seria um<br />
requisito obrigatório, principalmente em dentes com<br />
cavidades extensas, em que a obturação <strong>do</strong>s canais foi<br />
concluída, a fim de que não aconteçam desgastes ou até<br />
mesmas fraturas, as quais poderiam comprometer o<br />
sucesso <strong>do</strong> tratamento (ANDERSON; POWEL;<br />
PASHLEY, 1989; KLEITCHES; LEMON; JEANSONNE,<br />
1995; ROGHANIZAD; JONES, 1996; BALTO, 2002;<br />
GHISI; PACHECO, 2002).<br />
O en<strong>do</strong><strong>do</strong>ntista demonstra grande preocupação<br />
na manutenção da cadeia asséptica durante o<br />
tratamento en<strong>do</strong>dôntico. Neste senti<strong>do</strong>, os adventos <strong>do</strong><br />
isolamento absolutos e das substâncias químicos<br />
auxiliares da instrumentação foram importantes avanços<br />
<strong>no</strong> contexto da en<strong>do</strong><strong>do</strong>ntia. Assim como a importância <strong>do</strong><br />
selamento hermético <strong>do</strong> sistema de canais radiculares é<br />
incontestável. A análise <strong>do</strong>s trabalhos de pesquisa<br />
relaciona<strong>do</strong>s a materiais restaura<strong>do</strong>res temporários ou<br />
definitivos associa<strong>do</strong>s à terapia en<strong>do</strong>dôntica <strong>no</strong>s permite<br />
afirmar que sem o isolamento <strong>do</strong>s canais radiculares <strong>do</strong>s<br />
flui<strong>do</strong>s e microorganismos bucais, tanto durante as<br />
sessões da terapia en<strong>do</strong>dôntica como após a sua<br />
finalização, não seria possível alcançar o almeja<strong>do</strong><br />
sucesso terapêutico, ainda que as etapas anteriores<br />
tenham si<strong>do</strong> adequadamente conduzidas.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, a literatura aqui revisada é<br />
escassa <strong>no</strong> que diz respeito ao tratamento das paredes<br />
da cavidade antes da colocação <strong>do</strong> material provisório,<br />
fato este fundamental para a adequação <strong>do</strong> selamento. A<br />
dúvida que persiste atualmente é sobre qual seria o<br />
material de melhores propriedades para este fim.<br />
Embora conforme supracita<strong>do</strong>, materiais como Cavit,<br />
Coltosol, TERM e Diract tenham demonstra<strong>do</strong> uma boa<br />
atuação <strong>no</strong>s estu<strong>do</strong>s anteriormente conduzi<strong>do</strong>s, somos<br />
de opinião favorável à associação de <strong>do</strong>is ou mais<br />
materiais como a alternativa viável na prevenção da<br />
recontaminação bacteriana (POLO et al., 1996; NAOUM;<br />
CHANDLER, 2002).<br />
Dada a importância <strong>do</strong> tema, sugere-se a<br />
condução de <strong>no</strong>vos estu<strong>do</strong>s que levem ao<br />
estabelecimento definitivo das ma<strong>no</strong>bras clínicas<br />
prévias à inserção <strong>do</strong> material provisório utiliza<strong>do</strong> <strong>no</strong><br />
âmbito da en<strong>do</strong><strong>do</strong>ntia, bem como o estu<strong>do</strong> das suas<br />
propriedades físicas, químicas e biológicas.<br />
CONCLUSÕES<br />
Para a obtenção <strong>do</strong> sucesso terapêutico em<br />
en<strong>do</strong><strong>do</strong>ntia é fundamental a correta escolha de materiais<br />
restaura<strong>do</strong>res temporários que evitem a infiltração<br />
marginal. Dos materiais temporários analisa<strong>do</strong>s os de<br />
melhor desempenho têm si<strong>do</strong> os materiais a base de<br />
óxi<strong>do</strong> de zinco e sulfato de cálcio, que quan<strong>do</strong> coloca<strong>do</strong>s<br />
associa<strong>do</strong>s ao IRM como selamento duplo têm mostra<strong>do</strong><br />
melhores resulta<strong>do</strong>s.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, a restauração definitivamente da<br />
unidade dental logo após a finalização <strong>do</strong> tratamento<br />
en<strong>do</strong>dôntico é de vital importância para o sucesso<br />
en<strong>do</strong>dôntico.<br />
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Correspondência:<br />
Juan Ramón Salazar-Silva<br />
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