Os impactos da produção de cana no Cerrado e Amazônia ...
Os impactos da produção de cana no Cerrado e Amazônia ...
Os impactos da produção de cana no Cerrado e Amazônia ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A Cia. Energética <strong>de</strong> Açúcar e Álcool do<br />
Triângulo Mineiro anunciou que irá instalar uma<br />
<strong>de</strong> suas usinas nas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Rio Tijuco e<br />
outra na Floresta do Lobo. Segundo o diretor <strong>da</strong><br />
empresa (que pertence ao grupo J.F Citrus), José<br />
Raimundo Santos, “Estamos com 15 mil hectares<br />
<strong>de</strong> terra consoli<strong>da</strong>dos na região, mas, em uma<br />
primeira fase, precisamos <strong>de</strong> 50 mil hectares”. Para<br />
isso, a empresa está negociando contratos <strong>de</strong><br />
arren<strong>da</strong>mento com agricultores locais, que seriam<br />
<strong>de</strong>, <strong>no</strong> mínimo, <strong>de</strong>z a<strong>no</strong>s. As áreas arren<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
tinham como finali<strong>da</strong><strong>de</strong> principal o cultivo <strong>de</strong> milho,<br />
soja e a criação <strong>de</strong> gado para corte e para <strong>produção</strong><br />
<strong>de</strong> leite. 109<br />
A expansão <strong>da</strong>s lavouras <strong>de</strong> <strong>cana</strong> em Minas<br />
Gerais, assim como em outras partes do país, é<br />
acompanha<strong>da</strong> por violações <strong>de</strong> direitos huma<strong>no</strong>s.<br />
Um dos casos emblemáticos foi a morte <strong>de</strong> um<br />
trabalhador na Usina Monte Alegre, em outubro<br />
<strong>de</strong> 2007. Gilmar Donizete dos Santos, <strong>de</strong> 35 a<strong>no</strong>s,<br />
morreu carbonizado quando fazia a queima <strong>da</strong><br />
<strong>cana</strong>. O caso só foi divulgado porque seus colegas<br />
sentiram sua falta e <strong>de</strong>scobriram seu corpo<br />
queimado em meio aos <strong>cana</strong>viais. 110<br />
Alto São Francisco<br />
<strong>Os</strong> problemas sociais e ambientais ficam<br />
evi<strong>de</strong>ntes também na região do Alto São<br />
Francisco. No município <strong>de</strong> Lagoa <strong>da</strong> Prata já existia<br />
uma usina <strong>de</strong> açúcar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70, <strong>de</strong><br />
54 | <strong>Os</strong> <strong>impactos</strong> <strong>da</strong> <strong>produção</strong> <strong>de</strong> <strong>cana</strong> <strong>no</strong> <strong>Cerrado</strong> e <strong>Amazônia</strong><br />
proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Antonio Lucia<strong>no</strong>, “coronel” e<br />
latifundiário, conhecido como um dos maiores<br />
grileiros <strong>de</strong> Minas Gerais. Mais recentemente, a<br />
empresa francesa Louis Dreyfus adquiriu esta usina<br />
e expandiu o mo<strong>no</strong>cultivo <strong>de</strong> <strong>cana</strong> para a <strong>produção</strong><br />
<strong>de</strong> eta<strong>no</strong>l. Nos últimos dois a<strong>no</strong>s, outras empresas<br />
participam do processo <strong>de</strong> expansão <strong>da</strong><br />
mo<strong>no</strong>cultura <strong>da</strong> <strong>cana</strong> na região.<br />
<strong>Os</strong> efeitos são <strong>de</strong>vastadores. Na fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
Antonio Lucia<strong>no</strong> chegaram até a <strong>de</strong>sviar o curso<br />
do rio São Francisco para facilitar o escoamento<br />
<strong>da</strong> <strong>produção</strong>, sem licença ambiental ou estudos<br />
técnicos. Tanto <strong>no</strong> período inicial <strong>de</strong> implantação<br />
<strong>da</strong> <strong>cana</strong>, como nesta fase recente, a mo<strong>no</strong>cultura<br />
substitui áreas <strong>de</strong> lavouras e criação <strong>de</strong> gado, além<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>struir as reservas florestais e a mata ciliar.<br />
Na implantação dos plantios, as empresas fazem<br />
queima<strong>da</strong>s clan<strong>de</strong>stinas <strong>da</strong>s matas nativas à <strong>no</strong>ite,<br />
<strong>de</strong>rrubam e enterram as árvores, para fugir <strong>da</strong><br />
fiscalização.<br />
“Hoje é comum encontrarmos animais mortos<br />
nas estra<strong>da</strong>s, fugindo <strong>da</strong> <strong>de</strong>vastação <strong>da</strong>s matas. Já<br />
encontramos lobos, raposas, tamanduá-ban<strong>de</strong>ira,<br />
tamanduá-mirim, lontra, quati, tatu, serpentes,<br />
garças, corujas, lagartos, além <strong>de</strong> peixes mortos<br />
<strong>no</strong> rio, como surubins, que chegam a pesar 40<br />
quilos. Plantam <strong>cana</strong> até na beira dos rios e <strong>da</strong>s<br />
lagoas”, afirma Francisco Colares, professor <strong>de</strong><br />
zoologia na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Iguatama.<br />
Segundo Colares, a usina <strong>de</strong> Lagoa <strong>da</strong> Prata<br />
utiliza a água do São Francisco em<br />
todo o processo <strong>de</strong> <strong>produção</strong> - para<br />
irrigação durante o cultivo, para<br />
lavar a <strong>cana</strong> <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> colheita e<br />
para resfriar as cal<strong>de</strong>iras <strong>no</strong><br />
processamento. Em um dos pontos<br />
<strong>de</strong> captação, o bombeamento é <strong>de</strong><br />
500 litros por segundo -<br />
quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> água suficiente<br />
para abastecer todo o município.<br />
O processo <strong>de</strong> expansão é<br />
intenso. A Empresa Total está<br />
construindo uma usina em Bambuí<br />
e está prevista a implantação <strong>de</strong><br />
mais três usinas na região - duas