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Memórias Póstumas de Brás Cubas

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<strong>Memórias</strong> <strong>Póstumas</strong> <strong>de</strong> <strong>Brás</strong> <strong>Cubas</strong> - o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fama<br />

A MULTIDÃO<br />

Essa idéia era nada menos que a invenção <strong>de</strong><br />

um medicamento sublime, um emplasto antihipocondríaco,<br />

<strong>de</strong>stinado a aliviar a nossa<br />

melancólica humanida<strong>de</strong>. Na petição <strong>de</strong><br />

privilégio que então redigi, chamei a atenção<br />

do governo para esse resultado,<br />

verda<strong>de</strong>iramente cristão. Todavia, não neguei<br />

aos amigos as vantagens pecuniárias que<br />

<strong>de</strong>viam resultar da distribuição <strong>de</strong> um produto<br />

<strong>de</strong> tamanhos e tão profundos efeitos. Agora,<br />

porém, que estou cá do outro lado da vida,<br />

posso confessar tudo: o que me influiu<br />

principalmente foi o gosto <strong>de</strong> ver impressas<br />

nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas,<br />

e enfim nas caixinhas do remédio, estas três<br />

palavras: Emplasto <strong>Brás</strong> <strong>Cubas</strong>. Para que<br />

negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do<br />

cartaz, do foguete <strong>de</strong> lágrimas. O Emplato<br />

Multidão, cujo amor<br />

cobicei até à morte,<br />

era assim que eu me<br />

vingava às vezes <strong>de</strong><br />

ti; <strong>de</strong>ixava<br />

burburinhar em volta<br />

do meu corpo a<br />

gente humana, sem a<br />

ouvir. Na Platéia<br />

BRÁS CUBAS = DEUS<br />

Imaginei que ela saíra do mato, almoçada e feliz. A<br />

manhã era linda. Veio por ali fora, mo<strong>de</strong>sta e negra,<br />

espairecendo as suas borboletices. Passa pela minha<br />

janela, entra e dá comigo. Suponho que nunca teria visto<br />

um homem; não sabia, portanto, o que era o homem;<br />

<strong>de</strong>screveu infinitas voltas em torno do meu corpo, e viu<br />

que me movia, que tinha olhos,braços, pernas, um ar<br />

divino, uma estatura colossal. Então disse consigo:<br />

“Este é provavelmente o inventor das borboletas.” A<br />

idéia subjugou-a, aterrou-a; mas o medo, insinuou-lhe<br />

que o melhor modo <strong>de</strong> agradar ao seu criador era beijá-lo<br />

na testa, e beijou-me na testa. Quando enxotada por<br />

mim, não é foi impossível pousar na que vidraça, viu dali o retrato <strong>de</strong> meu pai,<br />

e <strong>de</strong>scobrisse meia verda<strong>de</strong>,<br />

que estava ali o pai do<br />

inventor das borboletas, e<br />

voou a pedir-lhe<br />

misericórdia.<br />

Pois um golpe <strong>de</strong> toalha<br />

rematou a aventura. Vejam<br />

como é bom ser superior às<br />

borboletas!... uni o <strong>de</strong>do<br />

gran<strong>de</strong> ao polegar, <strong>de</strong>spedi<br />

um piparote e o cadáver<br />

caiu no jardim. Era tempo;<br />

aí vinham já as próvidas<br />

Por Douglas Machert<br />

Orozco -<br />

Demagigo<br />

formigas... A Borboleta Preta<br />

H R Ginger -<br />

Children Grün

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