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Signos que embaralham a visão - Grupo de Estudos em Literatura ...

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144 Elizabete Sanches<br />

ado, lançado num catatau <strong>de</strong> países, traduzido até <strong>em</strong> chinês, e era um <strong>de</strong>leite ouvi-la<br />

assim falando à toa, eu ria por <strong>de</strong>ntro, eu s<strong>em</strong>pre me vingava <strong>de</strong> gostar da Vanda (34).<br />

Não nos es<strong>que</strong>çamos do trinômio língua, cida<strong>de</strong>s, hom<strong>em</strong>/mulher. No<br />

contexto babilônico <strong>em</strong> <strong>que</strong> todos teriam algo a dizer, <strong>em</strong> algum idioma<br />

diferente, o misterioso e fascinante húngaro não podia ser vislumbrado:<br />

In Hungarian, insisti, e <strong>de</strong>sconfiei <strong>que</strong> eles tinham ciúme <strong>de</strong> sua língua (...) Deslizamos<br />

até o portão <strong>de</strong> <strong>em</strong>bar<strong>que</strong> através <strong>de</strong> um longo e cintilante território livre, um país <strong>de</strong><br />

língua nenhuma, pátria <strong>de</strong> algarismos, ícones e logomarcas (10).<br />

O húngaro, o estranho e <strong>de</strong>safiador idioma <strong>de</strong> Budapeste, a cida<strong>de</strong><br />

dividida pelo Danúbio, seria talvez o único idioma capaz <strong>de</strong> marcar este<br />

divisor entre um José Costa e outro Zsoze Kósta. Em Budapeste, a língua,<br />

a cultura e as pessoas se mesclam, formam um só el<strong>em</strong>ento vivo e <strong>de</strong>safiador,<br />

aos olhos do narrador. Trata-se <strong>de</strong> um romance <strong>que</strong> oferece ao leitor<br />

uma espécie <strong>de</strong> auto-retrato. Auto-retrato <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> marcada<br />

profundamente pela chamada globalização, pelas marcas internacionais,<br />

s<strong>em</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> limitada por<strong>que</strong> presentes <strong>em</strong> qual<strong>que</strong>r parte do mundo:<br />

Vi passar<strong>em</strong> alguns minutos <strong>de</strong> Danúbio, ver<strong>de</strong>-musgo e b<strong>em</strong> mais largo do <strong>que</strong> aparentava<br />

no mapa. Atravessei a ponte pênsil <strong>em</strong> ritmo <strong>de</strong> jogging, <strong>de</strong>i numa praça gran<strong>de</strong><br />

com uma estátua no meio, admirei rapidamente as fachadas neoclássicas, os balcões art<br />

nouveau, os arcos bizantinos, na terceira esquina respirei tabaco, chocolate, cebola,<br />

virei à direita, passei pela Kodak, pela Benetton, pela C&A, cortei caminho por uma<br />

galeria, virei à es<strong>que</strong>rda, Lufthansa, American Airlines, Alitalia, a agência da Air<br />

France ainda estava fechada (58).<br />

Não há o <strong>que</strong> duvidar: Budapeste é um romance sobre cida<strong>de</strong>s. Afinal,<br />

como indica o próprio título do livro, estamos lendo Budapeste, ou seja,<br />

ironicamente somos apresentados à cida<strong>de</strong> e ao romance. Mas as cida<strong>de</strong>s<br />

aqui são tratadas como parte ou extensão do próprio hom<strong>em</strong>, como já<br />

diss<strong>em</strong>os. Língua, cida<strong>de</strong>s, hom<strong>em</strong>/mulher. Três dimensões <strong>que</strong> converg<strong>em</strong><br />

para um mesmo processo <strong>de</strong> apagamento, <strong>de</strong> silenciamento. Em meio aos<br />

signos do cont<strong>em</strong>porâneo, às eti<strong>que</strong>tas, às marcas, às multinacionais, ao<br />

pastiche operado na arquitetura urbana, cujo estilo dos edifícios mistura

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