Signos que embaralham a visão - Grupo de Estudos em Literatura ...
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<strong>Signos</strong> <strong>que</strong> <strong><strong>em</strong>baralham</strong> a <strong>visão</strong> 143<br />
tidos na cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong> 6 – ganha notorieda<strong>de</strong> e é reconhecido por<br />
Kriska como escritor, hom<strong>em</strong> e pai <strong>de</strong> seu filho.<br />
À página 7 do romance, encontra-se uma passag<strong>em</strong> aparent<strong>em</strong>ente<br />
ingênua, mas verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>nsa a respeito do significado assumido<br />
pelas línguas para a<strong>que</strong>le narrador-personag<strong>em</strong>, <strong>que</strong> confessa po<strong>de</strong>r es<strong>que</strong>cer<br />
facilmente “os haicais <strong>de</strong>corados no Japão, os provérbios árabes, o<br />
Otchi Tchiornie <strong>que</strong> cantava <strong>em</strong> russo”. O <strong>que</strong> se coloca é a língua tratada<br />
muitas vezes como objeto <strong>de</strong> consumo, artigo para turistas. Definitivamente<br />
não é a língua feita para pronta entrega a <strong>que</strong> <strong>de</strong>sperta o mais<br />
profundo interesse <strong>de</strong> José Costa. O mistério <strong>de</strong> um idioma diferente ofuscava<br />
qual<strong>que</strong>r tentativa <strong>de</strong> conquista fácil operada por outras línguas<br />
menos misteriosas aos olhos do narrador.<br />
Do mesmo modo, a homogeneização lingüística, <strong>que</strong> acaba massificando<br />
o idioma e seus falantes, é vista com rejeição. Nesse sentido, Budapeste é<br />
um romance <strong>que</strong> busca formas <strong>de</strong> resistência. Mas resistência a quê? A<br />
tudo <strong>que</strong> confere banalização, pasteurização, homogeneização. Ao <strong>que</strong><br />
não propõe <strong>de</strong>safios. Ao igual e ao previsível. À alienação do hom<strong>em</strong><br />
solitário e anônimo perdido <strong>de</strong> si mesmo nas metrópoles, <strong>que</strong> caminha<br />
entre códigos e signos, olhando as vitrines <strong>que</strong> <strong><strong>em</strong>baralham</strong> sua <strong>visão</strong>.<br />
Vanda, apresentadora <strong>de</strong> TV e mulher <strong>de</strong> José Costa, por ex<strong>em</strong>plo, faz<br />
tudo s<strong>em</strong>pre igual, suas palavras parec<strong>em</strong> ocas. Explicitam-se a mulher e<br />
o hom<strong>em</strong> como produtos e produtores da socieda<strong>de</strong> da informação a oferecer<br />
e a consumir não só objetos, mas conceitos, valores, opiniões, imersos<br />
<strong>em</strong> um cotidiano absolutamente nonsense. Senão, vejamos esta passag<strong>em</strong>:<br />
A caminho da praia do Flamengo improvisei elogios a Kocsis Ferenc, o gran<strong>de</strong> intérprete<br />
da alma húngara, e citei os Tercetos Secretos como sua obra mais notável. Inventei<br />
na hora, esses tercetos, mas s<strong>em</strong> <strong>de</strong>mora Vanda afirmou conhecê-los, tendo lido a<br />
respeito <strong>em</strong> supl<strong>em</strong>ento literário. Acrescentou <strong>que</strong> o livro <strong>de</strong> Kocsis fora muito pr<strong>em</strong>i-<br />
6 Em Budapeste, José Costa se hospeda no Hotel Plaza: “Arris<strong>que</strong>i enfim, Hotel Plaza, foi o <strong>que</strong> me<br />
ocorreu, por<strong>que</strong> <strong>em</strong> qual<strong>que</strong>r cida<strong>de</strong> do mundo existe um hotel com esse nome (...) Um <strong>de</strong>sses<br />
letreiros era do Hotel Plaza, <strong>que</strong> como a maioria dos hotéis Plaza não ficava <strong>em</strong> praça alguma, mas<br />
numa la<strong>de</strong>ira” (47). No Rio <strong>de</strong> Janeiro, José Costa também se encontra <strong>em</strong> Hotel <strong>de</strong> mesmo nome:<br />
“Havia mesmo <strong>de</strong> ser a superintendência dos Hotéis Plaza, por<strong>que</strong> entrávamos na alta estação,<br />
lotação esgotada, o senhor vai nos <strong>de</strong>sculpar, acabou <strong>de</strong> chegar um casal <strong>de</strong> argentinos, necessitamos<br />
disponibilizar o 707, porém eu não aten<strong>de</strong>ria à ligação, me fazia <strong>de</strong> morto” (161-2).