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Signos que embaralham a visão - Grupo de Estudos em Literatura ...

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148 Elizabete Sanches<br />

referente. Ironicamente, para se ver como num espelho, esta viag<strong>em</strong> se<br />

apresenta como única possibilida<strong>de</strong>, ainda <strong>que</strong> José Costa não encontre<br />

os referentes a <strong>que</strong> almeja. Por isso Álvaro, o capitalista pé no chão, não<br />

se opõe à viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> José Costa para participar do Congresso Mundial <strong>de</strong><br />

Escritores Anônimos; como afirma o narrador, Álvaro “até fez alguns comentários<br />

sobre globalização e coisa e tal” (19).<br />

Ao final e ao cabo, encerramos a leitura a nos perguntar <strong>de</strong> <strong>que</strong> realida<strong>de</strong><br />

ou sonho trata este livro. Budapeste termina como começou: conferindo<br />

às palavras a responsabilida<strong>de</strong> da existência e do reconhecimento <strong>de</strong> José<br />

Costa/Zsoze Kósta. Assim como <strong>de</strong>via ser proibido zombar <strong>de</strong> <strong>que</strong>m se aventura<br />

<strong>em</strong> língua estrangeira, também <strong>de</strong>via ser proibido cobrar uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

pura. Será <strong>que</strong> ela existe? Budapeste sinaliza <strong>que</strong> há construtos. Estamos<br />

imersos num processo <strong>de</strong> reconhecimento/negação do Outro: homens, cida<strong>de</strong>s,<br />

línguas. Intrinsecamente, isto não é bom n<strong>em</strong> mau. A pergunta mais<br />

a<strong>de</strong>quada talvez fosse a seguinte: estamos lúcidos o suficiente para caminhar<br />

por entre tantos signos, códigos, edifícios, idiomas diferentes aos nossos<br />

olhos e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, tão iguais a tudo <strong>que</strong> já vimos?<br />

Não se trata <strong>de</strong> estabelecer dicotomias. O <strong>que</strong> se impõe é a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> reflexão sobre a inevitável interação existente entre os lados aparent<strong>em</strong>ente<br />

opostos: Vanda/Kriska, José Costa/Zsoze Kósta, português/<br />

húngaro, Rio <strong>de</strong> Janeiro/Budapeste, Joaquinzinho/Pisti. Todos compõ<strong>em</strong><br />

o complexo espaço especular <strong>de</strong>sta obra. Não é preciso escolher entre um<br />

ou outro, entre Budapeste ou Budapest, pois os significados já estão inscritos<br />

ironicamente na relação <strong>que</strong> mantêm todos estes signos. Como uma<br />

celebração ao <strong>que</strong> se po<strong>de</strong> operar entre signos lingüísticos, homens e cida<strong>de</strong>s<br />

num processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta permanente, Budapeste termina <strong>em</strong><br />

pura poesia. Como <strong>em</strong> Drummond, pergunta a nós, leitores, se troux<strong>em</strong>os<br />

a chave para abrir a misteriosa porta reveladora do enigma <strong>que</strong> confere<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e significado ao inevitável e obscuro reino das palavras, capazes,<br />

por sua vez, <strong>de</strong> nomear homens, cida<strong>de</strong>s, idiomas, o espaço da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

e o da alterida<strong>de</strong>:

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