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Signos que embaralham a visão - Grupo de Estudos em Literatura ...

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<strong>Signos</strong> <strong>que</strong> <strong><strong>em</strong>baralham</strong> a <strong>visão</strong> 147<br />

sou <strong>em</strong> ser arquiteto, assim como pensou <strong>em</strong> criar um narrador-personag<strong>em</strong><br />

arquiteto e não escritor. Parece ter sido a escolha certa, pois o escritor<br />

ganha a liberda<strong>de</strong> extra e imprescindível <strong>de</strong> sonhar e materializar seu<br />

sonho no papel, atribuindo os riscos e conquistas, porém, a outr<strong>em</strong>, aos<br />

personagens. Trata-se <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> concretização do anonimato,<br />

<strong>de</strong>sejo tantas vezes revelado por Chico Buar<strong>que</strong> <strong>em</strong> suas entrevistas.<br />

Mas a ironia revela com maior facilida<strong>de</strong> as socieda<strong>de</strong>s cont<strong>em</strong>porâneas;<br />

<strong>de</strong> modo especular t<strong>em</strong>os o Rio <strong>de</strong> Janeiro, com seu mar exuberante<br />

e sua violência s<strong>em</strong> limites, e Budapeste, com seu aspecto amarelo e cinzento,<br />

sua gente apaixonada por a<strong>que</strong>la língua estranha, magiar. Tanto<br />

José Costa, ou o anônimo Zé-ninguém brasileiro, quanto Zsoze Kósta encontram<br />

signos <strong>de</strong> um mundo cada vez mais homogêneo, apesar <strong>de</strong> suas<br />

imprescindíveis diferenças e peculiarida<strong>de</strong>s. As viagens são o mote para<br />

José Costa se reconhecer e se per<strong>de</strong>r neste reconhecimento. Trata-se não<br />

simplesmente <strong>de</strong> uma viag<strong>em</strong> ao exterior, mas são viagens para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

si, <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> um eu, <strong>que</strong>m sabe um eu perdido e assinado por outros.<br />

Ao se proteger <strong>em</strong> seu anonimato, José Costa po<strong>de</strong> se envai<strong>de</strong>cer e <strong>de</strong>sfrutar<br />

as benesses cotidianas <strong>de</strong> <strong>que</strong>m <strong>de</strong>tém algum po<strong>de</strong>r – ainda <strong>que</strong><br />

este seja um segredo para todos. Ilustr<strong>em</strong>os com uma passag<strong>em</strong> do livro:<br />

E se me envai<strong>de</strong>ciam os fraseados, b<strong>em</strong> maior era a vaida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser um criador discreto.<br />

Não se tratava <strong>de</strong> orgulho ou soberba, sentimentos naturalmente silenciosos, mas <strong>de</strong><br />

vaida<strong>de</strong> mesmo, com <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> jactância e exibicionismo, o <strong>que</strong> muito valorizava<br />

minha discrição (...) Com isso a vaida<strong>de</strong> <strong>em</strong> mim se acumulava, me tornava forte e<br />

bonito, e me levava a brigar com a telefonista e a chamar o office boy <strong>de</strong> burro, e me<br />

arruinava o casamento, por<strong>que</strong> eu chegava <strong>em</strong> casa e já gritava com a Vanda, e ela me<br />

olhava arregalada, não conhecia os motivos <strong>de</strong> eu estar assim tão vaidoso (18).<br />

Ao <strong>de</strong>parar com Budapeste, justamente numa escala forçada voltando<br />

<strong>de</strong> Istambul num vôo <strong>que</strong> faria conexão no Rio, José Costa viaja, na<br />

verda<strong>de</strong>, para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um labirinto <strong>de</strong> sons, cores e palavras, <strong>que</strong> compõe<br />

sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dividida como Budapeste pelo Danúbio, mas aparent<strong>em</strong>ente<br />

inteira como seriam Buda e Pest. Esta é uma curiosa dinâmica<br />

<strong>que</strong> perpassa a obra toda. Ao procurar s<strong>em</strong>elhanças, ao tentar i<strong>de</strong>ntificar<br />

o diferente na Hungria, o narrador mergulha <strong>em</strong> uma amplidão <strong>de</strong> signos<br />

<strong>que</strong>, separadamente ou no conjunto, não <strong>de</strong>notam a integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um

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