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prisioneiros do estigma: representações sociais sobre ... - STDS

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Universidade Estadual <strong>do</strong> Ceará<br />

Lucita Cunha Matos<br />

PRISIONEIROS DO ESTIGMA: REPRESENTAÇÕES<br />

SOCIAIS SOBRE ADOLESCENTE INFRATOR<br />

Fortaleza – Ceará<br />

2004


M425p Matos, Lucita Cunha.<br />

Prisioneiros <strong>do</strong> <strong>estigma</strong>: <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente infrator / Lucita Cunha Matos. – 2004.<br />

148p.<br />

Orienta<strong>do</strong>ra: Profa. Dra. Maria Lúcia Duarte Pereira.<br />

Projeto de Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Saúde da Criança e <strong>do</strong><br />

A<strong>do</strong>lescente) – Universidade Estadual <strong>do</strong> Ceará, Centro de<br />

Ciências da Saúde.<br />

1. A<strong>do</strong>lescente. 2. Representações <strong>sociais</strong>. 3. Estigma. I.<br />

Universidade Estadual <strong>do</strong> Ceará, Centro de Ciências da Saúde.<br />

CDD:155.5


Universidade Estadual <strong>do</strong> Ceará<br />

Lucita Cunha Matos<br />

PRISIONEIROS DO ESTIGMA: REPRESENTAÇÕES<br />

SOCIAIS SOBRE ADOLESCENTE INFRATOR<br />

Dissertação apresentada ao Curso de Mestra<strong>do</strong> Profissional<br />

em Saúde da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente, da Universidade<br />

Estadual <strong>do</strong> Ceará, como requisito parcial para obtenção <strong>do</strong><br />

grau de Mestre em Saúde da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente.<br />

Orienta<strong>do</strong>ra: Profª Drª Maria Lúcia Duarte Pereira<br />

Fortaleza – Ceará<br />

2004


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ<br />

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE<br />

MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE<br />

Título <strong>do</strong> Trabalho: Prisioneiros <strong>do</strong> <strong>estigma</strong>: <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente infrator<br />

Autora: Lucita Cunha Matos<br />

Defesa em: _____/____/_____<br />

Banca Examina<strong>do</strong>ra<br />

_________________________________________<br />

Profª Drª Maria Lúcia Duarte Pereira – Orienta<strong>do</strong>ra<br />

_________________________________________<br />

Profª Drª Antônia Silva Paredes Moreira - UFPB<br />

_________________________________________<br />

Profª Drª Sheva Maia da Nóbrega - UFPE


Dedico este trabalho aos meus filhos Camille e Thiago.<br />

Que os anos jamais lhes roubem a sensibilidade com<br />

que hoje olham para os muitos a<strong>do</strong>lescentes que<br />

percorrem os tortuosos descaminhos da vida e que<br />

jamais desistam <strong>do</strong> compromisso com a construção de<br />

um mun<strong>do</strong> mais justo.


AGRADECIMENTOS<br />

À Profª Drª Maria Lúcia Duarte Pereira, orienta<strong>do</strong>ra e amiga, pela<br />

dedicada atenção a mim dispensada na elaboração deste trabalho.<br />

À Profª Drª Sheva Maia da Nóbrega que, com extrema competência,<br />

emprestou valiosa contribuição às reflexões aqui empreendidas.<br />

À Walhirtes Frota de Albuquerque, amiga querida, pelo incentivo e<br />

confiança.<br />

À Mirlânia Sâmara Maciel, pelo apoio incondicional à realização deste<br />

trabalho.<br />

Aos muitos colegas de trabalho, que gentilmente colaboraram para o<br />

processo de coleta de da<strong>do</strong>s e, em especial, à Mônica Araújo Gomes, por<br />

sua incansável disposição para partilhar idéias.<br />

Aos a<strong>do</strong>lescentes e mães, sujeitos deste estu<strong>do</strong>, por dividirem comigo<br />

fragmentos de sua vida.


RESUMO<br />

A crescente participação de a<strong>do</strong>lescentes no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime transformou-se em<br />

fenômeno contemporâneo de grandes proporções, sen<strong>do</strong> resultante <strong>do</strong> complexo quadro da<br />

violência que impregna o cotidiano das relações humanas em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. A partir de<br />

então, a sociedade mobilizou-se para compreender este fenômeno e elegeu a categoria<br />

“a<strong>do</strong>lescente infrator” para nela acomodar as suas explicações e organizar o mo<strong>do</strong> de se<br />

posicionar perante a nova realidade. O presente estu<strong>do</strong> teve por objetivo apreender as<br />

<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator, elaboradas por a<strong>do</strong>lescentes autores de<br />

homicídios ou latrocínios, priva<strong>do</strong>s de liberdade por sentença judicial, e por mães de<br />

a<strong>do</strong>lescentes infratores, recortan<strong>do</strong> <strong>do</strong> contexto social mais amplo um grupo de sujeitos que<br />

têm sua vida diretamente vinculada a esse objeto de investigação. Trata-se de um estu<strong>do</strong> de<br />

campo de tipo exploratório, com abordagem quantitativa e qualitativa, ten<strong>do</strong> por base a<br />

teoria das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. A pesquisa foi realizada em três centros de internação<br />

para a<strong>do</strong>lescentes, coordena<strong>do</strong>s pela Secretaria de Ação Social, localiza<strong>do</strong>s em Fortaleza-<br />

Ceará. Os instrumentos utiliza<strong>do</strong>s para a coleta de da<strong>do</strong>s foram: Teste de Associação Livre<br />

de Palavras, aplica<strong>do</strong> a 112 sujeitos, e entrevista semi-estruturada, aplicada a 32 sujeitos.<br />

Os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s no teste foram processa<strong>do</strong>s no soft Tri-Deux Mots e as entrevistas,<br />

submetidas à análise de conteú<strong>do</strong> temática. Os resulta<strong>do</strong>s dessa análise apontaram seis<br />

categorias (caracterização <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, caracterização <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator, causas<br />

para o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime, percepção <strong>do</strong> eu, perspectivas de mudança e<br />

expressões subjetivas) e sinalizaram <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> coincidentes entre os grupos,<br />

expon<strong>do</strong> sentimentos ambivalentes, revela<strong>do</strong>res <strong>do</strong> processo de incorporação <strong>do</strong> <strong>estigma</strong> na<br />

construção <strong>do</strong> autoconceito.<br />

Palavras-chave: A<strong>do</strong>lescente infrator. Estigma. Representação social.


ABSTRACT<br />

The increasing participation of teenagers in the world of crime has become a<br />

contemporary phenomenon of great proportions resulting from the complex violence situation<br />

that impregnates the day-to-day of the human relations all over the world. From that point,<br />

the society started to <strong>do</strong> something in order to understand this phenomenon and elected the<br />

“violator teenager” category for it to accommodate its explanations and organize the way of<br />

placing itself before the new reality. The present study has as an objective to apprehend the<br />

social representations about the violator teenager elaborated by the a<strong>do</strong>lescents who commit<br />

crimes or armed robberies, deprived of free<strong>do</strong>m due to judicial sentence and by mothers of<br />

violator teenagers, abstracting from the more ample social context a group of subjects that<br />

have their lives directly connected to the investigation objective. This an exploratory field<br />

study with a quantitative and qualitative approach, having as a base the theory of the social<br />

representations. The research was performed in three centers of confinement for<br />

a<strong>do</strong>lescents, coordinated by the Social Action State Secretary located in Fortaleza, Ceará.<br />

The tools used for collecting the data were: Test of Free Association of Words applied for<br />

112 subjects and a semi-structured interview applied for 32 subjects. The collected data<br />

during the test were processed using the software Tri-Deux-Mots and the interviews were<br />

pointed six categories (Characterization of the teenager, Characterization of the Violator<br />

Teenager, Causes for Entering the World of Crime, Perception of the “I”, Perspectives of<br />

Changes and Subjective Expressions) and signaled social representations coinciding within<br />

the groups, exposing ambivalent feelings revealing a process of incorporation of the stigma<br />

in the construction of the self-concept.<br />

Key-words: Violator Teenager. Stigma. Social Representation.


SUMÁRIO<br />

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..........................................................................12<br />

LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS..............................................................13<br />

APRESENTAÇÃO................................................................................................13<br />

CAPÍTULO 1.......................................................................................................18<br />

DO FENÔMENO AO OBJETO: O RECORTE DE UMA SUBJETIVIDADE.......19<br />

CAPÍTULO 2........................................................................................................34<br />

REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................35<br />

2.1 SOBRE A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS........................................35<br />

2.2 SOBRE A FUNÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.......................................39<br />

2.3 SOBRE O PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS......42<br />

CAPÍTULO 3........................................................................................................47<br />

CAMINHO METODOLÓGICO..............................................................................48<br />

3.1 NATUREZA DO ESTUDO........................................................................................48<br />

3.2 O CAMPO DE ESTUDO...........................................................................................49<br />

3.3 OS SUJEITOS.........................................................................................................51<br />

3.4 OS INSTRUMENTOS...............................................................................................52<br />

3.5 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS...................................................55<br />

3.6 ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS..............................................................57<br />

3.6.1 Análise de conteú<strong>do</strong>................................................................................................57<br />

3.6.2 Análise Fatorial de Correspondência.......................................................................65<br />

CAPÍTULO 4........................................................................................................68<br />

CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE ADOLESCENTE<br />

INFRATOR............................................................................................................69<br />

4.1 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE ADOLESCENTE<br />

INFRATOR A PARTIR DA ANÁLISE DE CONTEÚDO..................................................71


4.1.1 Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente.................................................................................71<br />

4.1.2 Descrições <strong>sobre</strong> A<strong>do</strong>lescente Infrator...................................................................78<br />

4.1.3 Causas <strong>do</strong> Ingresso no Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Crime...............................................................83<br />

4.1.4 Perspectiva de mudança......................................................................................91<br />

4.1.4 Percepção <strong>do</strong> eu...................................................................................................98<br />

4.1.6 Expressões subjetivas.........................................................................................106<br />

4.2 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE ADOLESCENTE<br />

INFRATOR A PARTIR DA ANÁLISE FATORIAL DE CORRESPONDÊNCIA..............110<br />

CAPÍTULO 5......................................................................................................118<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................119<br />

REFERÊNCIAS..................................................................................................124<br />

ANEXOS.............................................................................................................130<br />

COMPORTAMENTAIS.................................................................................................140<br />

Mães..............................................................................................................................140<br />

VIVENCIAIS.................................................................................................................140<br />

A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................140<br />

Mães..............................................................................................................................140<br />

COMPORTAMENTAIS...................................................................................................141<br />

A<strong>do</strong>lescentes..................................................................................................................141<br />

Mães..............................................................................................................................141<br />

VIVENCIAIS...................................................................................................................141<br />

A<strong>do</strong>lescentes..................................................................................................................141<br />

Mães..............................................................................................................................141<br />

SOCIOINTERACIONAIS................................................................................................142<br />

A<strong>do</strong>lescentes..................................................................................................................142<br />

Mães...............................................142<br />

FAMILIARES..................................................................................................................142<br />

A<strong>do</strong>lescentes..................................................................................................................142<br />

PSICOLÓGICAS.........................................................................................................143<br />

A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................143<br />

Mães..............................................................................................................................143<br />

SOCIOECONÔMICAS.................................................................................................143<br />

A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................143<br />

Mães..............................................................................................................................143<br />

PESSOAL....................................................................................................................144<br />

A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................144<br />

Mães..............................................................................................................................144<br />

SOCIAL........................................................................................................................144


A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................144<br />

Mães..............................................................................................................................144<br />

FAMILIAR.....................................................................................................................145<br />

A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................145<br />

Mães..............................................................................................................................145<br />

INSTITUCIONAL..........................................................................................................145<br />

A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................145<br />

Mães..............................................................................................................................145<br />

ESPIRITUAL................................................................................................................145<br />

A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................145<br />

Mães..............................................................................................................................145<br />

AUTOPERCEPÇÃO.....................................................................................................146<br />

A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................146<br />

IDEALIZADA..................................................................................................................146<br />

HETEROPERCEPÇÃO................................................................................................147<br />

A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................147<br />

Mães..............................................................................................................................147<br />

SENTIMENTOS...........................................................................................................148<br />

A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................148<br />

Mães..............................................................................................................................148<br />

PENSAMENTOS..........................................................................................................148<br />

A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................148<br />

Mães..............................................................................................................................149


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />

AFC – Análise Fatorial de Correspondência<br />

CONEP – Conselho Nacional de Saúde <strong>sobre</strong> Pesquisas envolven<strong>do</strong> Seres<br />

Humanos<br />

CPF – Contribuição por Fator<br />

ECA – Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente<br />

FEBEMCE – Fundação Estadual <strong>do</strong> Bem-Estar <strong>do</strong> Menor <strong>do</strong> Ceará<br />

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />

ONU – Organização das Nações Unidas<br />

RS – Representação Social<br />

SAS – Secretaria da Ação Social<br />

TRS – Teoria das Representações Sociais<br />

UNESCO – Organização Educacional Científica e Cultural das Nações Unidas<br />

UNICEF – Fun<strong>do</strong> das Nações Unidas para a Infância


LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS<br />

Figura 1 – Plano de análise............................................................................................59<br />

Figura 2 – Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente......................................................................62<br />

Figura 3 – Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator..........................................................63<br />

Figura 4 – Causas <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime.......................................................63<br />

Figura 5 – Percepção <strong>do</strong> eu...........................................................................................64<br />

Figura 6 – Perspectiva de mudança...............................................................................64<br />

Figura 7 – Expressões subjetivas...................................................................................65<br />

Quadro 1 – Perfil <strong>do</strong>s sujeitos segun<strong>do</strong> as variáveis sociodemográficas........................52<br />

Quadro 2 – Distribuição das categorias e subcategorias simbólicas <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />

infrator............................................................................................................................61<br />

................................................................................................................................140<br />

Tabela 2 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />

descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de<br />

a<strong>do</strong>lescentes autores de atos infracionais e mães.........................................................79<br />

Tabela 3 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />

causas <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de<br />

a<strong>do</strong>lescentes autores de atos infracionais e mães.........................................................84<br />

Tabela 4 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />

perspectiva de mudança e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescente autores de<br />

atos infracionais e de mães............................................................................................92<br />

Tabela 5 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />

percepção <strong>do</strong> eu e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescentes autores de atos<br />

infracionais e de mães...................................................................................................99<br />

Tabela 6 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />

expressões subjetivas e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescente autores de<br />

atos infracionais e de mães..........................................................................................107<br />

Tabela 7 – Freqüência de palavras evocadas pelos grupos de a<strong>do</strong>lescentes e de mães.<br />

.....................................................................................................................................113


Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim. Então disse: adquiri um varão<br />

com o auxílio <strong>do</strong> SENHOR.<br />

Depois deu à luz a Abel, seu irmão. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavra<strong>do</strong>r.<br />

Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim <strong>do</strong> fruto da terra uma oferta ao SENHOR.<br />

Abel, por sua vez, trouxe das primícias <strong>do</strong> seu rebanho, e da gordura deste. Agra<strong>do</strong>u-se o SENHOR de Abel<br />

e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agra<strong>do</strong>u. Irou-se, pois, <strong>sobre</strong>maneira Caim, e<br />

descaiu-lhe o semblante.<br />

Então lhe disse o SENHOR: Por que andas ira<strong>do</strong>? E por que descaiu o teu semblante?<br />

Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o peca<strong>do</strong> jaz à porta; o<br />

seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre <strong>do</strong>miná-lo.<br />

Disse Caim a Abel, seu irmão: Vamos ao campo. Estan<strong>do</strong> eles no campo, sucedeu que se levantou Caim<br />

contra Abel, seu irmão, e o matou.<br />

Disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei. Acaso sou eu tutor de meu<br />

irmão?<br />

E disse Deus: Que fizeste? A voz <strong>do</strong> sangue <strong>do</strong> teu irmão clama da terra a mim.<br />

És agora, pois, maldito por <strong>sobre</strong> a terra cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão.<br />

Quan<strong>do</strong> lavrares o solo não te dará ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra.<br />

Então disse Caim ao SENHOR: É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo.<br />

Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me; serei fugitivo e errante pela<br />

terra; quem comigo se encontrar me matará.<br />

O SENHOR, porém, lhe disse: Assim qualquer que matar a Caim será vinga<strong>do</strong> sete vezes. E pôs o SENHOR<br />

um sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse.<br />

Retirou-se Caim da presença <strong>do</strong> SENHOR, e habitou na terra de Node, ao Oriente <strong>do</strong> Éden.<br />

Livro de Gêneses, cap. 4, 1-16


APRESENTAÇÃO


Estamos construin<strong>do</strong> um mun<strong>do</strong> cada vez mais violento; exercitamos no<br />

cotidiano a violência. Tratamos sem carinho o nosso planeta e não nos importamos<br />

com a sua mutilação; tratamos sem carinho os nossos irmãos, nossos semelhantes<br />

e não nos importamos com a sua <strong>do</strong>r. Estamos nos acostuman<strong>do</strong> à violência que<br />

não mais nos indigna ou sequer nos surpreende.<br />

Os nossos a<strong>do</strong>lescentes são os filhos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Estão aprenden<strong>do</strong> a<br />

lição que não ousamos escrever de forma diferente e nem nos damos conta de que<br />

precisamos fazê-lo. O preço que pagamos é alto. Estamos de luto pelo crescente<br />

número de jovens em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> que adentram o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime e dele muitas<br />

vezes não podem sair. Estes ocultam-se por detrás da máscara de marginais,<br />

endurecem o olhar, a expressão <strong>do</strong> rosto, sufocam a sensibilidade de tal forma que<br />

já não parece possível se perceberem e serem percebi<strong>do</strong>s de outro mo<strong>do</strong>. Mas, se<br />

nos dispusermos a olhar seus olhos, a escutar sua alma, procuran<strong>do</strong> esgarçar as<br />

fronteiras <strong>do</strong> que está posto, poderemos, talvez, descortinar novos horizontes e<br />

convidá-los a fazer o mesmo.<br />

Em 1982, recém-formada em Psicologia, ingressei no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho<br />

na extinta Fundação Estadual <strong>do</strong> Bem-Estar <strong>do</strong> Menor <strong>do</strong> Ceará – FEBEMCE – que<br />

desenvolvia a política social de assistência a crianças e a<strong>do</strong>lescentes caracteriza<strong>do</strong>s<br />

como carentes, perdi<strong>do</strong>s, aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s e infratores. Ainda regi<strong>do</strong>s pelo antigo<br />

Código de Menores, já deparávamos naquela época com garotos e garotas que<br />

praticavam a violência e que eram retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> convívio sociofamiliar e recolhi<strong>do</strong>s<br />

em unidades estaduais de privação de liberdade. O fato é que esses a<strong>do</strong>lescentes,<br />

chama<strong>do</strong>s “menores”, eram em número pequeno e só alguns deles cometiam atos<br />

muito graves como homicídio ou latrocínio.<br />

14


Muitas indagações surgidas da prática profissional como psicóloga de<br />

uma instituição pública voltada para a área social suscitaram o interesse de<br />

investigar os fatores subjacentes ao ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime,<br />

em busca de respostas que poderiam estar não somente no saber das ciências, mas<br />

também sen<strong>do</strong> gestadas no imaginário <strong>do</strong>s sujeitos que vivenciam essa realidade,<br />

através de suas relações no mun<strong>do</strong>.<br />

As <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> enprenham o contexto social e são patrimônio<br />

comum <strong>do</strong>s seus vários atores, constituin<strong>do</strong>-se um conhecimento partilha<strong>do</strong> a partir<br />

<strong>do</strong> qual os sentimentos e comportamentos são organiza<strong>do</strong>s. O aumento <strong>do</strong> número<br />

de jovens autores de atos infracionais fez nascer a representação social a<strong>do</strong>lescente<br />

infrator. Assim, a compreensão e a socialização <strong>do</strong> fenômeno passam a servir de<br />

base para orientar a comunicação <strong>do</strong>s homens. Apoiar este estu<strong>do</strong> na Teoria das<br />

Representações Sociais torna possível perceber os sujeitos <strong>sociais</strong> no emaranha<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> significante, construí<strong>do</strong> na teia relacional da história humana. As<br />

considerações que serão feitas a partir de seus resulta<strong>do</strong>s certamente ampliarão o<br />

conhecimento na área das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente autor de ato<br />

infracional.<br />

Este trabalho encontra-se dividi<strong>do</strong> em cinco capítulos. O primeiro aborda<br />

a violência de um mo<strong>do</strong> geral e ajusta o foco para o fenômeno <strong>do</strong> ingresso <strong>do</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime, realidade que a sociedade científica e leiga busca<br />

compreender. O capítulo aborda, ainda, da<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> a situação <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />

envolvi<strong>do</strong> com a prática infracional, no país e no esta<strong>do</strong>, discutin<strong>do</strong> o processo de<br />

construção de sua identidade marginal. O segun<strong>do</strong> capítulo faz considerações gerais<br />

<strong>sobre</strong> a Teoria das Representações Sociais, suas funções e processos de formação,<br />

incluin<strong>do</strong> reflexões <strong>sobre</strong> a representação social de a<strong>do</strong>lescente infrator e suas<br />

interfaces em cada um desses momentos. O terceiro capítulo discorre <strong>sobre</strong> a<br />

meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, situa a sua natureza e o campo de pesquisa e descreve os<br />

sujeitos e os procedimentos a serem a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para a sua realização. O quarto<br />

capítulo apresenta a elaboração das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> feitas pelos sujeitos,<br />

primeiramente a partir da descrição e análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s das entrevistas e, em<br />

seguida, por meio <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Teste de Associação Livre de Palavras. As<br />

respostas referenciadas pelos grupos foram consideradas à luz da Teoria das<br />

15


Representações Sociais e relacionadas a conteú<strong>do</strong>s teóricos que ampliaram a sua<br />

análise. O quinto capítulo contempla questionamentos <strong>sobre</strong> os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

trabalho e a sua aplicabilidade.<br />

16


Não haverá pré-disposições; haverá disposições, isto é, capacidades disponíveis<br />

para viver a história e capacidades disponíveis para deformar o registro da<br />

história, tornan<strong>do</strong>-a estória.<br />

Não haverá, na mente <strong>do</strong> homem, virtude ou peca<strong>do</strong> original.<br />

Ninguém herdará <strong>do</strong>s ancestrais sua estória, pois a construção da própria estória<br />

será o fator humano <strong>do</strong> homem. Que não falte à mente <strong>do</strong> homem nenhum<br />

instrumento e nenhuma ferramenta para construir a estória <strong>sobre</strong> a história:<br />

nenhuma magia lhe seja negada, desde inocentes devaneios até a criação <strong>do</strong><br />

inexistente.<br />

Di Loreto


CAPÍTULO 1


DO FENÔMENO AO OBJETO: O RECORTE DE UMA<br />

SUBJETIVIDADE<br />

A história da humanidade, ao longo <strong>do</strong> tempo, tem marcas de sentimentos<br />

como ódio, solidariedade, ambição, generosidade, assim como, de uma gama<br />

infinita de ações imersas na dimensão ora explícita, ora inconsciente <strong>do</strong> desejo. De<br />

tal forma o homem recria a sua realidade que, embora o longo caminho trilha<strong>do</strong> se<br />

faça parecer perdi<strong>do</strong> tamanha a sua vastidão, um fio condutor jamais rompi<strong>do</strong><br />

garante a nossa irmandade. Parece haver uma memória sensorial biológica que nos<br />

dá a sensação de que partilhamos atitudes e emoções comuns desde o início <strong>do</strong>s<br />

tempos e que carregamos no rosto um pouco de to<strong>do</strong>s os outros humanos.<br />

A violência não é uma invenção da contemporaneidade. Para além <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>do</strong>s científicos que informam <strong>sobre</strong> os infindáveis conflitos humanos e disputas<br />

por bens materiais ou simbólicos, a própria narrativa bíblica também fala <strong>do</strong> primeiro<br />

homicídio da humanidade, pratica<strong>do</strong> por Caim contra seu irmão Abel. Movi<strong>do</strong> por<br />

sentimento misto de inveja e raiva, Caim cometeu o assassinato pelo qual recebeu a<br />

maldição de Deus e o transmitiu como lega<strong>do</strong> aos seus descendentes. A versão<br />

bíblica desse fratricídio põe por terra a utopia de um mun<strong>do</strong> de homens apenas<br />

amorosos e solidários e autoriza a possibilidade de sua natureza também cruel.<br />

Se, para a <strong>sobre</strong>vivência da espécie, o homem necessita estabelecer<br />

pactos de cooperação – o fato inconteste de estarmos nos multiplican<strong>do</strong> a cada dia<br />

prova isso – as trocas interacionais também estão inevitavelmente sujeitas aos<br />

conflitos a ela inerentes. A agressividade faz parte da condição humana, vez que<br />

19


possibilita ao organismo a sua defesa. Gaiarsa (1993) destacou essa importância,<br />

dan<strong>do</strong> ênfase não apenas ao la<strong>do</strong> concreto da conservação da vida, mas ao fato de<br />

que, pela agressividade, podemos investir na conquista de nossos ideais, naquilo<br />

que identificamos como significativo para o nosso crescimento e amadurecimento.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, é oportuno questionar: o que motiva o homem a a<strong>do</strong>tar<br />

comportamentos destrutivos, a ser preda<strong>do</strong>r de si próprio? Na verdade, nenhuma<br />

explicação linear poderia dar conta de sua abrangência multifatorial. Se recortes<br />

podem ser feitos para compreender a violência focalizan<strong>do</strong> prismas biológicos,<br />

psicológicos ou <strong>sociais</strong>, ainda assim não seria possível fazer uma ruptura entre as<br />

dimensões individuais e relacionais para localizá-la. A violência parece atravessar o<br />

homem-corpo e o corpo social, alinhavan<strong>do</strong>-os em suas fissuras, lançan<strong>do</strong> no ar o<br />

questionamento <strong>sobre</strong> os limites de seu território.<br />

Inúmeros são os caminhos que têm si<strong>do</strong> percorri<strong>do</strong>s para a compreensão<br />

desse fenômeno no intuito de se chegar a uma identificação <strong>do</strong>s fatores que, pelo<br />

menos em parte, expliquem a violência que aí está posta. Estudiosos de várias<br />

áreas vêm contribuin<strong>do</strong> nesse senti<strong>do</strong>, agregan<strong>do</strong> a esse esforço coletivo o saber<br />

particular de suas ciências. Assim sen<strong>do</strong>, psicólogos, psicanalistas, sociólogos,<br />

antropólogos, neurofisiologistas, filósofos, cientistas políticos, entre outros,<br />

participam da inesgotável busca de tornar a violência um fenômeno compreensível e<br />

passível de sofrer interferência.<br />

A psicanálise trouxe importante contribuição para a compreensão <strong>do</strong><br />

psiquismo humano. Freud (1997) afirmou que o homem tem uma tendência natural à<br />

agressão, o que acabaria pon<strong>do</strong> em risco a integridade e a existência da civilização.<br />

Diante da impossibilidade de anulação dessa força destrutiva, ao invés de dirigi-la<br />

contra o semelhante, aos homens cabe canalizá-la para outros focos, de mo<strong>do</strong> que<br />

seja investida de forma positiva nos objetos <strong>do</strong> seu mun<strong>do</strong>. Esse mecanismo de<br />

controle <strong>do</strong> instinto agressivo cria a condição para a convivência <strong>do</strong>s homens,<br />

manti<strong>do</strong>s sob um permanente esta<strong>do</strong> de tensão, o que exige um eleva<strong>do</strong> gasto de<br />

energia por parte de to<strong>do</strong>s. Segun<strong>do</strong> enfatizou Freud (1997, p. 67).<br />

20


o elemento de verdade por trás disso tu<strong>do</strong>, elemento que as pessoas estão<br />

tão dispostas a repudiar, é que os homens não são criaturas gentis que<br />

desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quan<strong>do</strong><br />

atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos <strong>do</strong>tes instintivos deve-se<br />

levar em conta uma poderosa cota de agressividade.<br />

Assim, na teoria psicanalítica, o sonho de uma sociedade pacífica, de<br />

uma aldeia global onde to<strong>do</strong>s partilhem a vida fraternalmente, expresso na poesia de<br />

canções que emocionam gerações, é uma utopia. É certo que a humanidade tem<br />

consegui<strong>do</strong> fazer pre<strong>do</strong>minar o espírito de convivência e realizações entre os<br />

humanos, entretanto, jamais conseguirá, com êxito, silenciar os demônios que<br />

aguardam irrequietos a oportunidade de emergir por entre as fendas de seus<br />

superegos. Enquanto a psicanálise prevê a imortalidade da violência, os homens<br />

continuam sonhan<strong>do</strong> com o amor e a harmonia em suas relações e, igualmente,<br />

imortalizan<strong>do</strong> a esperança de que conseguirão construir um mun<strong>do</strong> de paz.<br />

Apesar de a disposição agressiva poder ser pensada como instintiva, o<br />

mesmo não se pode dizer da violência. Esta é construída no cotidiano da vida,<br />

ensinada pelos nossos pares e com eles aprendida, ou melhor, é a transformação<br />

da agressividade em sua face mais escura. Para Costa (1999, p. 31), a violência “é o<br />

emprego deseja<strong>do</strong> da agressividade, com fins destrutivos”. O reconhecimento dessa<br />

dimensão genuinamente humana <strong>do</strong> desejo e <strong>do</strong> prazer com o sofrimento alheio,<br />

quer como autores, quer como especta<strong>do</strong>res, exige de nós bem mais que uma<br />

postura crítica mas coloca-nos diante da responsabilidade individual pelo destino <strong>do</strong><br />

nosso mun<strong>do</strong>.<br />

Se o recuo no tempo nos faz conhece<strong>do</strong>res de que a violência nasceu<br />

com o homem, então por que nossa inclinação para apontá-la como um <strong>do</strong>s<br />

fenômenos <strong>sociais</strong> mais perturba<strong>do</strong>res da atualidade? Cabe aqui atentar para o fato<br />

de que hoje vivemos num planeta extremamente populoso, segun<strong>do</strong> a Organização<br />

das Nações Unidas – ONU (IBGE,2000), com mais de 6 bilhões de pessoas,<br />

população esta que aumenta anualmente em 75 milhões, sen<strong>do</strong> que a metade tem<br />

menos de 25 anos de idade. É no século XX que acontece a explosão demográfica,<br />

principalmente nos países <strong>do</strong> terceiro mun<strong>do</strong>. No Brasil, as estatísticas <strong>do</strong> Instituto<br />

21


Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2000) <strong>sobre</strong> a população revelaram um<br />

país com quase 170.000.000 de pessoas.<br />

Além disso, aprendemos a divulgar informações com uma velocidade<br />

jamais imaginada, o que nos deixa atualiza<strong>do</strong>s em relação a to<strong>do</strong>s os feitos<br />

humanos em to<strong>do</strong>s os lugares, no quase exato momento em que ocorrem. As<br />

notícias <strong>sobre</strong> as conquistas de nossos semelhantes nos unem num sentimento<br />

positivo de orgulho, mas as notícias <strong>sobre</strong> a violência cotidiana nos deixam a<br />

assusta<strong>do</strong>ra sensação de que temos uma incapacidade de cuidar de nossa vida e<br />

<strong>do</strong> nosso habitat. Amargamos a sensação de que somos uma sociedade cruel que<br />

se compraz com a destruição e o sofrimento <strong>do</strong> outro. Para Gauer (2001, p.14) essa<br />

situação traz “como resulta<strong>do</strong> um esta<strong>do</strong> geral de indiferença, na qual o bem e o mal<br />

expostos ao olhar, sem intermediação, tornam-se um simples da<strong>do</strong> <strong>do</strong> cotidiano,<br />

entre tantos outros, e talvez não o menos incômo<strong>do</strong>”.<br />

A violência em rede que ora testemunhamos sugere ainda a análise de<br />

outros componentes, partin<strong>do</strong> da premissa de que a nova ordem social decorrente<br />

da revolução digital que sucedeu a modernidade trouxe profundas mudanças na<br />

visão de mun<strong>do</strong> e no comportamento <strong>do</strong>s homens. Os alicerces ergui<strong>do</strong>s pela<br />

sociedade moderna, ancora<strong>do</strong>s na concepção da ordem e da disciplina e que<br />

objetivavam estabilizar o desequilíbrio gera<strong>do</strong> pela revolução industrial, ruíram.<br />

Entramos na era da velocidade. Em um curto espaço de tempo, tivemos<br />

que ajustar o ritmo de nossa vida às transformações radicais introduzidas no<br />

efêmero social. A sociedade pós-moderna cunhou para si a marca da transgressão.<br />

Transgredimos todas as conhecidas e estáveis fronteiras temporais e geográficas e,<br />

ao rompermos essas barreiras seculares, ampliamos o nosso desejo inquieto de<br />

poder e liberdade, embora tenhamos de pagar um preço alto por essa conquista. O<br />

usufruto desse prazer nos fez também acua<strong>do</strong>s pelo me<strong>do</strong> e insegurança diante <strong>do</strong><br />

desconheci<strong>do</strong> que se descortinou, convin<strong>do</strong> avaliar os reflexos de toda essa<br />

angústia <strong>do</strong> homem pós-moderno que ainda não incorporou os novos referenciais da<br />

vida contemporânea.<br />

22


Nessa reflexão, certamente não podemos deixar de considerar a<br />

globalização da economia e os seus significativos impactos na formação da<br />

subjetividade social <strong>do</strong> homem. A falta de oportunidades de emprego, o<br />

empobrecimento das populações, o acirramento das desigualdades <strong>sociais</strong> fazem<br />

parte dessa macroestrutura que passa, por sua vez, a afetar os próprios sujeitos, na<br />

sua individualidade, na sua forma de pensar e sentir a vida. Esse quadro, acima de<br />

tu<strong>do</strong>, tem se agrava<strong>do</strong> com o sério problema das drogas, aqui entendi<strong>do</strong> desde o<br />

uso abusivo até o tráfico.<br />

Silva (2001, p.38), em sua análise <strong>sobre</strong> a violência, insistiu na<br />

impossibilidade de se apreender a sua essência em razão da existência de suas<br />

múltiplas e difusas camadas constitutivas. Na tentativa de definir seus contornos,<br />

afirmou que<br />

um complexo simbólico e social só se torna inteligível quan<strong>do</strong> as<br />

explicações para entendê-lo e as propostas para resolvê-lo não são isoladas<br />

analiticamente, mas integradas compreensivamente ao próprio objeto<br />

constituí<strong>do</strong>. O conjunto de tais versões agrega necessariamente novas<br />

propriedades ao objeto, tornan<strong>do</strong> inócua e ingênua toda tentativa de<br />

isolamento <strong>do</strong> fenômeno em suas manifestações estruturais. É exatamente<br />

no interior contraditório de suas multiplicidades interpretativas que o<br />

complexo se esclarece em suas propriedades multi – facetadas e permite<br />

identificar as múltiplas causas que o condicionam.<br />

Conceituar a violência é tarefa complexa uma vez que o seu significa<strong>do</strong> é<br />

uma construção social modela<strong>do</strong> pela linguagem na qual estamos to<strong>do</strong>s<br />

mergulha<strong>do</strong>s. Se o ato em si é tão antigo quan<strong>do</strong> o próprio homem a sua conotação<br />

simbólica é relativamente recente. Escobar (2003, p.192) procurou definir a<br />

violência, extrain<strong>do</strong>-a <strong>do</strong> território da agressividade e destacou o desequilíbrio das<br />

forças empregadas pelos sujeitos envolvi<strong>do</strong>s, tanto no nível físico quanto no<br />

psicológico, afirman<strong>do</strong> que<br />

podemos falar, portanto, de uma ação que leva à coisificação <strong>do</strong> sujeito<br />

humano, um assujeitamento <strong>do</strong> ser ou de seres que desta forma perdem<br />

visibilidade enquanto sujeitos iguais nos seus direitos e demarca<strong>do</strong>s por<br />

suas singulares diferenças.<br />

Como fenômeno <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> moderno e globaliza<strong>do</strong>, a violência é hoje um<br />

mo<strong>do</strong> de relação, um modelo educativo, perpetua<strong>do</strong> e ensina<strong>do</strong> pelos próprios<br />

atores <strong>sociais</strong>, nos seus diversos ciclos de vida. Além de mobilizar as pessoas em<br />

23


torno de tragédias cotidianas, é cantada em músicas populares e maquiada pelos<br />

programas televisivos, despertan<strong>do</strong> risos e aplausos de uma platéia meio<br />

anestesiada e pouco questiona<strong>do</strong>ra. Mello (2002) chamou a atenção para a relação<br />

entre vida urbana, violência e representação das identidades <strong>do</strong>s sujeitos, afirman<strong>do</strong><br />

que a distribuição geográfica <strong>do</strong>s ricos e pobres na cidade, exibin<strong>do</strong> entre si luxo e<br />

miséria, incomodan<strong>do</strong> uns aos outros e ten<strong>do</strong> acesso desigual aos objetos de desejo<br />

oferta<strong>do</strong>s, influencia profundamente a forma como cada grupo se percebe. O fosso<br />

existente entre os ideais democráticos e essa violência estrutural impregnada nas<br />

relações <strong>sociais</strong>, que naturaliza o direito de cidadania para apenas alguns, contribui<br />

para a distorção <strong>do</strong>s olhares que entre si trocam ricos e pobres. O segmento pobre,<br />

ti<strong>do</strong> como inferior, arrasta outros adjetivos como diferente e perigoso, designações<br />

tomadas, nesse caso, como sinônimas.<br />

Tem-se por certo que a violência em nossos dias não é particularidade <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> adulto. No meio desse turbilhão mundano, a juventude, aberta às novas<br />

aprendizagens e emoções, cercada pela sedução das drogas, tem si<strong>do</strong> atingida em<br />

cheio. O preocupante aumento <strong>do</strong> consumo de drogas e o paralelo crescimento <strong>do</strong><br />

número de a<strong>do</strong>lescentes no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime parecem haver se torna<strong>do</strong> uma<br />

questão de abrangência planetária. No Brasil, a gritante desigualdade social e o<br />

aumento de sua população infanto-juvenil pobre trouxeram como conseqüência, a<br />

partir da década de 80, a invasão da esfera pública por crianças e a<strong>do</strong>lescentes que<br />

passaram a demarcar novos territórios de socialização, mostran<strong>do</strong> cabalmente que o<br />

lar não conseguia cumprir a sua missão de <strong>do</strong>mesticar os cidadãos <strong>do</strong> futuro.<br />

Viola<strong>do</strong>s em seus direitos fundamentais, foram batiza<strong>do</strong>s pelo <strong>estigma</strong> de “menores<br />

de rua“, o que abriu para a sociedade um fértil campo simbólico. Essa denominação,<br />

tida a partir de então como uma categoria analítica no discurso científico, facilitou a<br />

instalação de toda sorte de práticas, consubstanciadas na exploração desses<br />

menores pelos adultos.<br />

O <strong>estigma</strong> comportava uma longa lista de vocábulos (pivetes, prostitutas,<br />

vagabun<strong>do</strong>s, marginais) que acabavam por direcionar para a minoria explorada a<br />

responsabilidade pela sua existência, ocultan<strong>do</strong>, estrategicamente, seu mecanismo<br />

de produção. O <strong>estigma</strong> provoca uma demarcação clara de espaços, hierarquizan<strong>do</strong><br />

as relações através das práticas discursivas que o sustentam. Segun<strong>do</strong> Foucault<br />

24


(1999, p.164), “a formação <strong>do</strong>s discursos e a genealogia <strong>do</strong> saber devem ser<br />

analisa<strong>do</strong>s a partir não <strong>do</strong>s tipos de consciência, das modalidades de percepção ou<br />

das formas de ideologia, mas das táticas e estratégias de poder“. A fronteira entre o<br />

exercício <strong>do</strong> poder e a violência é tênue. Se, de uma forma escancarada, alguns<br />

“menores de rua” ingressaram na marginalidade, reescreven<strong>do</strong> e reafirman<strong>do</strong> seu<br />

autoconceito <strong>estigma</strong>tiza<strong>do</strong> – que em última instância é o único viés que lhes<br />

confirma como pessoas – por outro la<strong>do</strong>, um novo fenômeno se desenrolava,<br />

protegi<strong>do</strong> pelo silêncio da classe social favorecida: o fato de que um grande número<br />

de a<strong>do</strong>lescentes considera<strong>do</strong>s ricos passavam a cometer atos infracionais graves<br />

cada vez com mais freqüência. E assim, a violência praticada por a<strong>do</strong>lescentes<br />

deixava exposta a dura realidade <strong>do</strong> país.<br />

Volpi (2002) apresentou uma pesquisa quantitativa <strong>sobre</strong> o perfil <strong>do</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente brasileiro priva<strong>do</strong> de liberdade, no perío<strong>do</strong> de outubro de 1995 a abril de<br />

1996, envolven<strong>do</strong> vinte e seis esta<strong>do</strong>s e o Distrito Federal, realizada pelo Movimento<br />

Nacional de Meninos e Meninas de Rua/DF, com apoio <strong>do</strong> UNICEF. Os resulta<strong>do</strong>s<br />

informaram que 73,3% <strong>do</strong> universo pesquisa<strong>do</strong> era procedente de famílias que<br />

tinham uma renda de até <strong>do</strong>is salários mínimos; 82,8% encontravam-se na faixa<br />

etária de 15 a 18 anos; 94,8% eram <strong>do</strong> sexo masculino; 15,4% eram analfabetos;<br />

53% eram usuários de drogas; 42% eram procedentes das capitais. Segun<strong>do</strong> essa<br />

pesquisa, o roubo foi a prática infracional que mais ocasionou a privação de<br />

liberdade, corresponden<strong>do</strong> a um percentual de 33,4%, contra um percentual de<br />

19,1% de atos pratica<strong>do</strong>s contra a pessoa humana.<br />

Go<strong>do</strong>y (2002) fez referência no jornal O Esta<strong>do</strong> de São Paulo a um<br />

estu<strong>do</strong> feito pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo <strong>sobre</strong> os principais<br />

crimes cometi<strong>do</strong>s exclusivamente por menores de idade, nessa capital, em 2001. O<br />

estu<strong>do</strong> destacou que, sozinhos, eles foram responsáveis por 2,7% <strong>do</strong> total de crimes<br />

registra<strong>do</strong>s pela Polícia Civil, com participação importante na estatística de<br />

homicídios e latrocínios, responden<strong>do</strong> por 4,8% <strong>do</strong> total <strong>do</strong>s casos. Ainda com<br />

relação ao mesmo ano, a Polícia Militar paulista informou que foram registra<strong>do</strong>s<br />

29.107 casos qualifica<strong>do</strong>s de atos infracionais pratica<strong>do</strong>s por menores de idade, em<br />

um total de quatro milhões de ocorrências atendidas no esta<strong>do</strong>.<br />

25


Em relação ao Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ceará, no que tange à violência praticada por<br />

a<strong>do</strong>lescentes, constata-se que o perfil <strong>do</strong> autor de ato infracional não se distancia <strong>do</strong><br />

perfil <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente brasileiro nessa condição, o que se comprova nos diferentes<br />

estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s. O crescimento da capital cearense tem si<strong>do</strong> grande nos últimos<br />

anos e a condição de miséria da maioria de seus habitantes se expande em igual<br />

medida. A urbanização de seus espaços e o fortalecimento <strong>do</strong> turismo têm atraí<strong>do</strong><br />

não só o turista, mas também um eleva<strong>do</strong> número de famílias pobres das zonas<br />

rurais. A lacuna nas políticas <strong>sociais</strong> básicas – habitação, trabalho, educação,<br />

saúde, lazer, etc – e a proliferação de favelas têm ti<strong>do</strong> como conseqüências graves<br />

a elevação <strong>do</strong>s níveis de violência de um mo<strong>do</strong> geral e a facilitação <strong>do</strong> ingresso <strong>do</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente cearense no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime.<br />

A transcrição numérica da realidade cearense nessa área pode ser<br />

melhor compreendida a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s estatísticos 1 <strong>do</strong> ano de 2003, relativos ao<br />

a<strong>do</strong>lescente envolvi<strong>do</strong> com a prática infracional. Foram encaminha<strong>do</strong>s para a<br />

Unidade de Recepção Luís Barros Montenegro da Secretaria da Ação Social 1875<br />

a<strong>do</strong>lescentes acusa<strong>do</strong>s da prática de ato infracional, <strong>do</strong>s quais 1444 encontravam-<br />

se na faixa etária de 15 a 17 anos, o que correspondeu a um percentual de 77%<br />

desse universo. Vale ressaltar, ainda, que os a<strong>do</strong>lescentes dessa faixa de idade<br />

foram responsáveis por 84 crimes que culminaram com a morte da vítima.<br />

A violência extrema, como expressão da ação humana, revela a visão de<br />

mun<strong>do</strong> e de homem que banaliza a vida e elimina a ética como suporte para as<br />

relações pessoais. A consolidação <strong>do</strong> padrão relacional centra<strong>do</strong> na violência que<br />

parece naturaliza<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> moderno é hoje o modelo de educação de uma<br />

sociedade que, apesar de perpetuá-lo, recrimina-o e exige a sua erradicação.<br />

Verificamos, com base nesses da<strong>do</strong>s, que a quase totalidade <strong>do</strong>s<br />

a<strong>do</strong>lescentes atendi<strong>do</strong>s eram <strong>do</strong> sexo masculino, perfazen<strong>do</strong> um total de 90,6%.<br />

Podemos buscar na construção <strong>do</strong>s papéis de gênero uma das explicações para<br />

esse fato. A agressividade é eleita para compor a identidade masculina sen<strong>do</strong>,<br />

diretamente, associada à violência. O resulta<strong>do</strong> desse movimento culturalmente<br />

1 Unidade de Recepção Luís B. Montenegro/SAS – Estatística anual<br />

26


construí<strong>do</strong>, ampara<strong>do</strong> pelos parâmetros da competitividade e sucesso, é a formação<br />

de homens condena<strong>do</strong>s a ser violentos porque retiraram da agressividade seu<br />

conteú<strong>do</strong> positivo.<br />

A realidade institucional mostra que a quase totalidade <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes<br />

priva<strong>do</strong>s de liberdade pertencem à classe social menos favorecida, embora existam<br />

registros de garotos sentencia<strong>do</strong>s com medida de internação, provenientes de<br />

famílias com boa condição financeira. Igualmente é verdade que um número<br />

significativo deles são procedentes de famílias cujos pais biológicos não vivem<br />

juntos e a mãe assume um papel expressivo quanto à responsabilidade financeira<br />

da casa. O enfraquecimento ou a ausência da figura paterna na vida desse<br />

a<strong>do</strong>lescente e o maior espaço que a figura materna passa a ocupar na sua vida<br />

parecem explicar a maior aproximação desta no seu acompanhamento durante o<br />

perío<strong>do</strong> de internação.<br />

Apesar de ainda ser o adulto o maior responsável pelo cometimento da<br />

violência, os destaques da imprensa para a realidade acima descrita e os enfoques<br />

errôneos feitos pela mesma <strong>sobre</strong> o Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente estão<br />

contribuin<strong>do</strong> <strong>sobre</strong>maneira para a formação de uma atitude de revolta social para<br />

com o “a<strong>do</strong>lescente infrator” e para a imagem que tem si<strong>do</strong> elaborada <strong>sobre</strong> ele e<br />

por ele próprio. De tal forma essa situação se consolida no imaginário social que,<br />

apesar de a realidade numérica informar que o a<strong>do</strong>lescente é muito mais vítima <strong>do</strong><br />

que autor de violência, o mito de sua periculosidade e impunidade tem se<br />

<strong>sobre</strong>posto aos fatos. A população credita ao a<strong>do</strong>lescente uma elevada parcela <strong>do</strong>s<br />

crimes pratica<strong>do</strong>s no país, deixan<strong>do</strong> de se indignar com o índice eleva<strong>do</strong> da<br />

violência a que é submeti<strong>do</strong>.<br />

Estu<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> violência, realiza<strong>do</strong> pela UNESCO, relativo aos anos de<br />

1979 a 1996, constatou que é significativamente superior o percentual de mortes por<br />

homicídios e outras violências entre jovens de 15 a 24 anos, se considerada a<br />

população em geral. Em relação aos da<strong>do</strong>s colhi<strong>do</strong>s por esse estu<strong>do</strong>, Waiselfisz<br />

(1998, p.37) informou que “no país, em 1996, 35% das mortes de jovens tiveram sua<br />

origem em homicídios e outras violências, quan<strong>do</strong> para o conjunto das idades essa<br />

taxa foi de 6,4%. Nesse campo adquiriram trágica relevância as regiões Sudeste e<br />

27


Nordeste, onde 40.3 e 33,1% <strong>do</strong>s jovens, respectivamente, morreram por essa<br />

causa”.<br />

Além da violência concreta, física, que muitas vezes ceifa a vida de<br />

muitos a<strong>do</strong>lescentes brasileiros, podemos voltar o pensamento para a violência<br />

difusa, não nomeada, mas estampada no rosto <strong>do</strong> país, aquela que é fruto da nossa<br />

gritante desigualdade social. Brandão (2000) acrescentou a essas considerações<br />

uma reflexão <strong>sobre</strong> o processo de vitimização indireta a que estão submeti<strong>do</strong>s os<br />

a<strong>do</strong>lescentes, em decorrência de a sua condição de exclusão social oferecer uma<br />

baixa proteção contra seu ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. Assim sen<strong>do</strong>, seu trabalho<br />

mostrou que um eleva<strong>do</strong> número de a<strong>do</strong>lescentes interna<strong>do</strong>s na Febem de São<br />

Paulo tinha baixa escolaridade (apenas 2,7% estavam acima da 8ª série) e que um<br />

expressivo número de a<strong>do</strong>lescentes negros eram pertencentes a famílias com renda<br />

mensal inferior às médias <strong>do</strong> município.<br />

Segun<strong>do</strong> o pesquisa<strong>do</strong>r, o número de internos na Febem de São Paulo<br />

em 1995 era de 2104, chegan<strong>do</strong> a 3968 em 1999, o que representou cerca de 53%<br />

<strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes interna<strong>do</strong>s no país. Avançan<strong>do</strong> na análise dessa violência<br />

estrutural que se abate <strong>sobre</strong> aqueles de baixo poder aquisitivo, Brandão levantou a<br />

hipótese de que esse crescente numérico registra<strong>do</strong> também pode ser devi<strong>do</strong>, entre<br />

outras causas, ao reduzi<strong>do</strong> número de procura<strong>do</strong>res que o Poder Judiciário<br />

disponibiliza para a defesa <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes.<br />

O Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente – ECA, promulga<strong>do</strong> em 1990,<br />

reconhece como a<strong>do</strong>lescente toda pessoa que se encontra no intervalo etário entre<br />

12 e 18 anos, poden<strong>do</strong>, excepcionalmente, ser aplica<strong>do</strong> a pessoas entre 18 e 21<br />

anos de idade. Por essa razão, somente a partir <strong>do</strong> limite mínimo de 12 anos,<br />

poderá uma pessoa estar sujeita a uma medida privativa de liberdade. Essa medida<br />

só é determinada diante <strong>do</strong> cometimento de ato infracional grave correspondente a<br />

outro defini<strong>do</strong> como crime no mun<strong>do</strong> adulto. Após essa sentença judicial, o<br />

sentencia<strong>do</strong> poderá passar até três anos em uma unidade fechada, perío<strong>do</strong> que<br />

chega a corresponder à metade de sua a<strong>do</strong>lescência.<br />

28


Uma instituição cercea<strong>do</strong>ra da liberdade e detentora <strong>do</strong> controle <strong>do</strong> corpo<br />

já tem por si só o peso da definição daqueles que abriga. Embora as diretrizes legais<br />

exijam que as unidades de atendimento ao a<strong>do</strong>lescente infrator sejam espaços<br />

educativos e facilita<strong>do</strong>res <strong>do</strong> seu desenvolvimento (Brasil, 1990), estas, em geral,<br />

são a face concreta e cruel <strong>do</strong> poder. Segun<strong>do</strong> Foucault (1999, p.73), a sua<br />

existência é a prova da “<strong>do</strong>minação serena <strong>do</strong> Bem <strong>sobre</strong> o Mal, da ordem <strong>sobre</strong> a<br />

desordem”. O contato com o a<strong>do</strong>lescente que se encontra priva<strong>do</strong> de liberdade por<br />

prática de ato infracional revela nas entrelinhas o seu auto-retrato, cujo processo de<br />

elaboração se dá de forma inconsciente.<br />

Uma grande inquietação de to<strong>do</strong>s aqueles que trabalham com esses<br />

a<strong>do</strong>lescentes é a reincidência. É difícil entender por que a opressão de um centro<br />

educacional, a solidão, as <strong>do</strong>res experienciadas, os inúmeros planos de fuga e,<br />

finalmente, a tão esperada alegria pela conquista da liberdade, não são suficientes<br />

para afastar a escolha de retornar ao mesmo lugar e por que o a<strong>do</strong>lescente comete<br />

novas infrações graves, expon<strong>do</strong>-se ao risco tangível da volta. As razões podem ser<br />

complexas, mas há algo que certamente é parte intrínseca desse retorno: a<br />

autodefinição. O autoconceito, quan<strong>do</strong> está alicerça<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> um <strong>estigma</strong>, parece<br />

recair <strong>sobre</strong> a pessoa como uma profecia negra, minan<strong>do</strong>-lhe a crença em suas<br />

potencialidades, levan<strong>do</strong>-a à exaustão e, finalmente, à desistência de se “redimir”<br />

perante o outro. A auto-estima atingida poderá esmagar o homem que, muitas<br />

vezes, para evitar isso, transforma a sua identidade negativa em força propulsora<br />

para sua vida.<br />

A identidade marginal adquire um valor inverti<strong>do</strong>, motivo de orgulho e<br />

reconhecimento <strong>do</strong> jovem entre seus pares, ao mesmo tempo em que se transforma<br />

em cárcere dentro <strong>do</strong> qual ele abdica de suas esperanças de libertação. Watzlawick<br />

(1967, p.76) ressaltou que “as pessoas, no nível de relação, não comunicam <strong>sobre</strong><br />

os fatos situa<strong>do</strong>s fora de suas relações, mas oferecem-se mutuamente definições<br />

dessa relação e, por implicação, delas próprias”. Segun<strong>do</strong> o autor, a percepção que<br />

uma pessoa tem de outra e a forma como ela a expressa influenciará a<br />

autopercepção. Esse é um processo dinâmico e contínuo que se estabelece em<br />

todas as trocas relacionais, além de ser um elemento estruturante de toda definição<br />

de eu em nível coletivo e individual.<br />

29


A sociedade, pressionada por esse crescente de violência e acuada<br />

diante de seus jovens infratores, tem passa<strong>do</strong> a desacreditar neles, também<br />

forman<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> eles um conceito negativo que lhes é transmiti<strong>do</strong> ininterruptamente.<br />

Assim, esses a<strong>do</strong>lescentes estão condena<strong>do</strong>s, até por si próprios, a se movimentar<br />

nos limites de um <strong>estigma</strong> perverso cada vez mais difícil de romper. Quan<strong>do</strong> se<br />

<strong>estigma</strong>tiza alguém, estabelece-se uma linha separatória entre ele e os demais,<br />

ditos normais. Vejam-se as palavras de Goffman (1988, p.15) a esse respeito:<br />

“acreditamos que alguém com um <strong>estigma</strong> não seja completamente humano“.<br />

O cotidiano desse trabalho nos fez testemunhar uma série de aspectos<br />

que são indicativos <strong>do</strong> funcionamento dessa identidade marginal. Além <strong>do</strong> eleva<strong>do</strong><br />

número de a<strong>do</strong>lescentes que reincidem na prática infracional, verificamos que os<br />

apeli<strong>do</strong>s com os quais são batiza<strong>do</strong>s também traduzem esse autoconceito. A quase<br />

totalidade <strong>do</strong>s apeli<strong>do</strong>s são de cunho depreciativo, absolutamente distintos daqueles<br />

com os quais são apelida<strong>do</strong>s os a<strong>do</strong>lescentes de classe social mais favorecida.<br />

Verificamos também que seus corpos são tatua<strong>do</strong>s com imagens e palavras que<br />

destacam o tema violência e morte. Assim, fica expresso na linguagem verbal e não-<br />

verbal de cada jovem que cometeu ato infracional a denominação de infrator.<br />

Quan<strong>do</strong> um a<strong>do</strong>lescente pratica um ato infracional, o que passa a ser<br />

considera<strong>do</strong> não é mais a sua ação, que tem um senti<strong>do</strong> circunstancial, mas ele<br />

próprio, rotula<strong>do</strong> pela ação que o adjetivará a partir de então. Esse movimento se<br />

fará no sutil contorno entre as esferas <strong>do</strong> ESTAR e <strong>do</strong> SER e terá conseqüências<br />

importantes em sua vida. O grande desafio de um a<strong>do</strong>lescente priva<strong>do</strong> de liberdade<br />

passa a ser, em primeira instância, a desconstrução <strong>do</strong> <strong>estigma</strong> que <strong>sobre</strong> ele pesa<br />

para que possa em seguida resignificar sua identidade negativa. O espaço relacional<br />

é o espaço da comunicação. Através da linguagem, os homens expressam<br />

pensamentos, percepções e sentimentos <strong>sobre</strong> si próprios e <strong>sobre</strong> a realidade que<br />

os envolve, tornan<strong>do</strong> possível a elaboração das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>,<br />

conhecimento comum que possibilita aos grupos a criação de laços identificatórios, a<br />

partir da visão de mun<strong>do</strong> que partilham e que lhes orienta e justifica a conduta.<br />

A<strong>do</strong>lescente infrator é uma das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> criadas para<br />

responder ao fenômeno crescente <strong>do</strong> ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime.<br />

30


Na condição de sistema de valores, idéias e práticas, essa representação permite<br />

aos homens a construção da alteridade, ou seja, daquilo que passam a definir como<br />

diferente de si. Trata-se, pois, de um emaranha<strong>do</strong> simbólico que vai além <strong>do</strong><br />

concreto para adentrar as dimensões psicológica, social e cultural <strong>do</strong>s grupos,<br />

conten<strong>do</strong> em seu bojo a articulação entre a realidade e a lenda, a racionalidade e a<br />

emoção <strong>do</strong>s homens.<br />

Nesse processo de mesclagem entre o individual e o coletivo que recorta<br />

de cada um o consciente e o inconsciente, torna-se possível a elaboração de<br />

símbolos que servirão de base para que os sujeitos <strong>sociais</strong> signifiquem o mun<strong>do</strong> e<br />

possam apreendê-lo, ao mesmo tempo em que nele descobrem seu território e o<br />

lugar <strong>do</strong> outro. Jodelet (2001, p.22) procurou simplificar o complexo que existe na<br />

definição das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>, sintetizan<strong>do</strong>-a como “uma forma de<br />

conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que<br />

contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social“.<br />

O fato de o Brasil possuir um avança<strong>do</strong> instrumento jurídico na área <strong>do</strong>s<br />

direitos da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente tem provoca<strong>do</strong> um crescente interesse por esse<br />

segmento da população em diversos ramos <strong>do</strong> conhecimento, tais como o direito, a<br />

psicologia, a pedagogia, a sociologia, entre tantos. O ECA foi gesta<strong>do</strong> em um tempo<br />

que testemunha a marcha <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes brasileiros no território <strong>do</strong> crime, o que<br />

é, no mínimo, um convite a uma pausa para reflexão. Em paralelo, o correspondente<br />

aprofundamento no estu<strong>do</strong> das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> por pesquisa<strong>do</strong>res brasileiros<br />

tem oportuniza<strong>do</strong> a realização de um espesso número de pesquisas amparadas por<br />

esse referencial teórico que elegem como objetos de investigação o a<strong>do</strong>lescente<br />

infrator, seus familiares ou educa<strong>do</strong>res (ALVES e OLIVEIRA, 2003; LIMA et al, 2003;<br />

GOMES et al, 2003; BARROS e GONTIÉS, 2003; ESPÍNDULA e SANTOS, 2003).<br />

Estu<strong>do</strong>s dessa natureza vêm tornan<strong>do</strong> possível ampliar o entendimento de como<br />

esses atores <strong>sociais</strong> elaboraram sua compreensão <strong>sobre</strong> temáticas relacionadas aos<br />

a<strong>do</strong>lescentes envolvi<strong>do</strong>s com a prática infracional, produzida no campo <strong>do</strong>s<br />

encontros humanos e mediada pelo complexo sistema midiático de informações.<br />

Em relação, portanto, à produção e circulação da representação social de<br />

a<strong>do</strong>lescente infrator, a mídia tem exerci<strong>do</strong> esse papel com mereci<strong>do</strong> destaque<br />

31


através da imprensa falada e escrita, na medida em que anuncia estatísticas,<br />

comentários e imagens <strong>sobre</strong> o jovem autor de ato infracional, apoiada na própria<br />

realidade <strong>do</strong> aumento de sua participação no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. A circulação dessa<br />

representação dá vazão a uma elaborada teoria de causalidade que muitas vezes<br />

adentra o campo moralista <strong>do</strong> senso comum, deixan<strong>do</strong> de fora a leitura crítica de<br />

seu mecanismo de elaboração. Por oportuno, convém aqui indagar: Qual a idéia que<br />

infratores e suas mães têm <strong>sobre</strong> as causas gera<strong>do</strong>ras de um “a<strong>do</strong>lescente<br />

infrator”? Até que ponto ambos os grupos consideram possível que o a<strong>do</strong>lescente<br />

que cometeu ato infracional seja capaz de elaborar um projeto de vida que não<br />

perpasse pela infracionalidade?<br />

As indagações acima podem ser agrupadas em torno de<br />

questionamentos mais amplos, cujas respostas sejam buscadas na seara das<br />

ciências. Nesse senti<strong>do</strong>, elegemos como objetivo desse estu<strong>do</strong> apreender as<br />

<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong> “a<strong>do</strong>lescente infrator” elaboradas por<br />

a<strong>do</strong>lescentes infratores e suas mães, assim como verificar a importância<br />

dessas <strong>representações</strong> nos espaços comunicacionais e como diretriz para<br />

seus comportamentos.<br />

Destacamos a relevância deste trabalho à medida que poderá ser<br />

utiliza<strong>do</strong> como instrumento pedagógico para se trabalhar com a<strong>do</strong>lescentes, vez que<br />

sugere pistas para uma reflexão crítica <strong>sobre</strong> o processo de formação das<br />

<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>, levan<strong>do</strong> em conta a possibilidade de sua desconstrução,<br />

razão por que constitui um caminho para a transformação <strong>do</strong>s atores <strong>sociais</strong>.<br />

Ressalte-se ainda que poderá contribuir para a orientação de programas oficiais<br />

volta<strong>do</strong>s a a<strong>do</strong>lescentes que cometem atos infracionais, possibilitan<strong>do</strong> a<br />

conscientização <strong>do</strong>s atores institucionais <strong>sobre</strong> as conseqüências <strong>do</strong> <strong>estigma</strong> na<br />

formação da personalidade.<br />

32


Uma, e apenas uma capacidade será negada ao homem: a de ser inconseqüente.<br />

Portanto, não lhe será facultada a capacidade de fazer desaparecer os efeitos e as<br />

conseqüências das magias. Haverá sempre um débito a ser pago pela mente, e / ou<br />

pelo corpo, e / ou pelos outros homens.<br />

A estória será construída <strong>sobre</strong> o enre<strong>do</strong> da história: será a sua versão trágica ou<br />

sua versão cômica, mas será sempre a sua versão. Não será, portanto, o homem,<br />

produto mecânico e automático, nem de sua particular história, nem da História.<br />

Quan<strong>do</strong> a construção da história for insuportavelmente <strong>do</strong>lorosa, vazia ou<br />

vergonhosa, os afastamentos poderão ser tão extremos que a estória resultante<br />

costuma chamar-se insana.<br />

Di Loreto.


CAPÍTULO 2


REFERENCIAL TEÓRICO<br />

2.1 SOBRE A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS<br />

Este estu<strong>do</strong> terá como eixo central de suas reflexões a Teoria das<br />

Representações Sociais formulada por Serge Moscovici (1978), com o intuito de<br />

contribuir para uma maior compreensão da problemática <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente autor de<br />

ato infracional. A escolha desse referencial teórico se deu em razão de estarmos<br />

lidan<strong>do</strong> nesse estu<strong>do</strong> com a dimensão simbólica elaborada pelos atores <strong>sociais</strong> nos<br />

espaços comunicacionais e por ser esta, em tese, determinante de suas atitudes nos<br />

aspectos afetivo, cognitivo e comportamental.<br />

A violência praticada por a<strong>do</strong>lescentes é, na verdade, o fenômeno aqui<br />

estuda<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> dele recorta<strong>do</strong> um aspecto específico para se constituir como tema<br />

de investigação. Em razão de sua amplitude, o fenômeno é impalpável, poden<strong>do</strong> ser<br />

apreendi<strong>do</strong> apenas parcialmente, a partir da delimitação de seus múltiplos aspectos<br />

submeti<strong>do</strong>s ao controle da investigação. O objeto de representação social deste<br />

estu<strong>do</strong> será o a<strong>do</strong>lescente infrator, dada a importância que essa temática vem<br />

adquirin<strong>do</strong> no contexto cultural <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro, o que tem lhe da<strong>do</strong> uma<br />

significativa espessura social.<br />

No final <strong>do</strong> séc. XIX, Durkheim escreveu o livro O Suicídio, no qual<br />

reconhecia o crescente da força individual <strong>sobre</strong> o to<strong>do</strong> social, em razão <strong>do</strong><br />

desmonte <strong>do</strong> feudalismo, que se deu após a Revolução Industrial. Apesar dessa<br />

35


constatação, no século seguinte, o autor elaborou o conceito de representação<br />

coletiva, situan<strong>do</strong>-o como um conhecimento comum, gesta<strong>do</strong> socialmente, que<br />

possibilita uma forma homogênea de pensamento e comportamento entre os grupos<br />

humanos. Permaneceu fiel à concepção da primazia <strong>do</strong> coletivo <strong>sobre</strong> o indivíduo,<br />

provavelmente em razão de viver em uma época de pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong>s referenciais<br />

positivistas das ciências psicológica e social, quan<strong>do</strong> qualquer abordagem <strong>do</strong><br />

homem e <strong>do</strong> ambiente social passava por uma vertente explicativa mecanicista.<br />

O seu pensamento sofreu forte influência da perspectiva dicotômica que<br />

fazia uma nítida demarcação entre pessoa e sociedade. Para ele, a sociedade era<br />

entendida como um ente vivo, capaz de sentimentos e idéias próprias e, por esse<br />

prisma, capaz de fazer valer a sua verdade <strong>sobre</strong> as verdades menores de cada<br />

homem. Conforme Durkheim (1978, p.79),<br />

as <strong>representações</strong> coletivas traduzem a maneira como o grupo se pensa<br />

nas suas relações com os objetos que o afetam. Para compreender como a<br />

sociedade se representa a si própria e ao mun<strong>do</strong> que a rodeia, precisamos<br />

considerar a natureza da sociedade e não a <strong>do</strong>s indivíduos.<br />

Na separação que fez entre as <strong>representações</strong> coletivas e as individuais,<br />

o sociólogo procurou demarcar os campos da sociologia e da psicologia, voltan<strong>do</strong><br />

seu interesse para a primeira, porquanto acreditava ser possível analisar e<br />

compreender a realidade social à luz da objetividade científica. Apesar de suas<br />

idéias terem a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong> silenciosas por algumas décadas, Durkheim contribuiu, de<br />

forma significativa, para o estabelecimento das relações entre a sociologia e a<br />

psicologia social.<br />

Moscovici (2001), reconhecen<strong>do</strong> a importância <strong>do</strong> pensamento <strong>do</strong><br />

sociólogo atrás menciona<strong>do</strong> para o estu<strong>do</strong> da relação entre o conhecimento <strong>do</strong><br />

senso comum e o comportamento humano, passou a considerar que, na gênese<br />

dessa teoria, seria possível buscar uma nova verdade para a ciência <strong>do</strong>s homens. A<br />

sua percepção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> moderno, caracteriza<strong>do</strong> pelo dinamismo de constantes<br />

mudanças, foi decisiva para a leitura crítica que fez das idéias de Durkheim <strong>sobre</strong> as<br />

36


epresentações coletivas, elaboran<strong>do</strong>, a partir de então, o conceito de<br />

<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>.<br />

Para Moscovici (2003, p.49), as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> são “fenômenos<br />

específicos que estão relaciona<strong>do</strong>s com um mo<strong>do</strong> particular de compreender e de se<br />

comunicar – um mo<strong>do</strong> que cria tanto a realidade como o senso comum”. No<br />

contínuo processo das trocas interacionais, os sujeitos <strong>sociais</strong> vão produzin<strong>do</strong><br />

práticas cotidianas que estruturam a formação de valores e comportamentos,<br />

através <strong>do</strong>s quais cada indivíduo apreende o mun<strong>do</strong> e o significa. Assinalou com<br />

isso o poder <strong>do</strong> homem <strong>sobre</strong> seu mun<strong>do</strong>, enfatizan<strong>do</strong> seu potencial cria<strong>do</strong>r e<br />

transforma<strong>do</strong>r e sua capacidade de participar ativamente da construção da história.<br />

O autor pensou nas <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> como um fenômeno social<br />

teci<strong>do</strong> pelo homem, sen<strong>do</strong> que, ao mesmo tempo em que o antecede, o sucede no<br />

curso da história, renovan<strong>do</strong>-se como uma criação contínua, porta<strong>do</strong>ra das marcas<br />

de to<strong>do</strong>s os outros saberes que procuram explicar as indagações humanas. Nesse<br />

senti<strong>do</strong>, estamos “condena<strong>do</strong>s” a produzir e reproduzir <strong>representações</strong>, uma vez que<br />

estamos inscritos no ambiente sociocultural de uma dada sociedade, no seu<br />

substrato lingüístico, na rede de signos e símbolos eleitos para ver, sentir e interagir<br />

com o mun<strong>do</strong>. Cotejan<strong>do</strong> as dimensões psicológica e social das <strong>representações</strong>,<br />

Moscovici (2003, p.211) afirmou que<br />

elas possuem um aspecto impessoal, no senti<strong>do</strong> de pertencer a to<strong>do</strong>s; elas<br />

são a representação de outros, pertencentes a outras pessoas ou a outro<br />

grupo; e elas são uma representação pessoal, percebida afetivamente como<br />

pertencente ao ego.<br />

De acor<strong>do</strong> com Farr (1995, p.44), “a teoria de Moscovici é freqüentemente<br />

classificada, com muita propriedade, como uma forma sociológica da Psicologia<br />

Social”. O estreito intercâmbio estabeleci<strong>do</strong> por Moscovici entre as duas ciências<br />

nos aspectos individual e social, zonas indivisíveis na produção <strong>do</strong> saber popular,<br />

serviu para abrir um novo campo de estu<strong>do</strong>s interdisciplinares dentro da Psicologia<br />

Social, constituin<strong>do</strong>-se hoje uma referência teórica para um grande número de<br />

trabalhos desenvolvi<strong>do</strong>s por psicólogos nas áreas das relações <strong>sociais</strong>,<br />

37


comunicação, linguagem, difusão de saberes, entre outras. O processo de<br />

transformação de representação coletiva em social traduz, certamente, o próprio<br />

caminho da humanidade. Além das fronteiras que delineiam uma verdade defendida,<br />

faísca algo que não é particularidade de um determina<strong>do</strong> autor, mas faz parte <strong>do</strong><br />

lega<strong>do</strong> atemporal <strong>do</strong> homem para o homem. É assim no campo científico, filosófico,<br />

religioso e artístico.<br />

Jodelet (2001, p.22) reconheceu a complexidade de elementos que se<br />

agregam na composição das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> e criou uma definição que<br />

procura dar conta de sua totalidade, afirman<strong>do</strong> que<br />

como fenômenos cognitivos, envolvem a pertença social <strong>do</strong>s indivíduos com<br />

as implicações afetivas e normativas, com as interiorizações de<br />

experiências, práticas, modelos de condutas e pensamento, socialmente<br />

inculca<strong>do</strong>s ou transmiti<strong>do</strong>s pela comunicação social, que a ela estão<br />

liga<strong>do</strong>s.<br />

As <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> articulam a realidade externa e interna <strong>do</strong><br />

sujeito, estan<strong>do</strong> por essa razão prenhes das emoções através das quais ele<br />

consegue perceber o mun<strong>do</strong> e lhe atribuir senti<strong>do</strong>s de verdade. Assim sen<strong>do</strong>,<br />

podemos destacar a sua dupla natureza: como <strong>sociais</strong>, são a produção consensual<br />

<strong>do</strong>s humanos; como restrita aos afetos individuais, são testemunho da sua<br />

capacidade de recriação da realidade.<br />

O cometimento de ato infracional por a<strong>do</strong>lescentes passou a exigir um<br />

olhar especial <strong>do</strong>s estudiosos, uma vez que, pela sua magnitude, encontra-se hoje<br />

nas <strong>representações</strong> não só <strong>do</strong>s diversos segmentos <strong>sociais</strong>, mas também nas <strong>do</strong>s<br />

próprios a<strong>do</strong>lescentes denomina<strong>do</strong>s infratores e de seus familiares mais próximos.<br />

O ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime e a criação da representação social<br />

de “a<strong>do</strong>lescente infrator” obrigaram a sociedade a elaborar um conhecimento <strong>sobre</strong><br />

o problema em si, na tentativa de compreendê-lo e assim poder conviver com a sua<br />

concretude. A sua realidade toma forma emergin<strong>do</strong> da pluralidade <strong>do</strong> social ao<br />

mesmo tempo em que se materializa, fazen<strong>do</strong> a travessia pela subjetividade <strong>do</strong><br />

homem,ou seja, penetran<strong>do</strong> na fronteira <strong>do</strong>s afetos, <strong>do</strong>s desejos e das ilusões.<br />

38


2.2 SOBRE A FUNÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS<br />

Moscovici (2001, p.63), ao falar das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> nas<br />

sociedades modernas, afirmou que elas ocuparam a lacuna <strong>do</strong>s mitos e lendas.<br />

Durante um longo intervalo de tempo, esses saberes ofereceram aos povos as<br />

explicações para a origem da vida e <strong>do</strong> universo, sen<strong>do</strong> transmiti<strong>do</strong>s por aqueles a<br />

quem era conferi<strong>do</strong> o direito de fazê-lo. A contemporaneidade dispõe de uma<br />

poderosa tecnologia para a produção e transmissão <strong>do</strong> conhecimento. Se por um<br />

la<strong>do</strong> a ciência supera a cada dia seus próprios limites, reelaboran<strong>do</strong> as noções de<br />

verdade já estabelecidas, por outro, a dinâmica da comunicação, cada vez mais<br />

ousada e criativa, dilata os contornos da linguagem humana, permitin<strong>do</strong> à<br />

imaginação um vôo inimaginável.<br />

Nóbrega (1990) citou as duas grandes funções atribuídas por Moscovici<br />

em 1961 às <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>, que justificavam a sua importância para a vida<br />

social: função <strong>do</strong> saber e função de orientação. Os homens precisam fazer uma<br />

leitura comum da complexa realidade social, ten<strong>do</strong> uma certeza razoável de que a<br />

compreendem e podem lidar com ela. De outra forma, não seria suportável viver a<br />

vida, em razão de que seriam invadi<strong>do</strong>s pela angústia <strong>do</strong> estranhamento frente aos<br />

estímulos recebi<strong>do</strong>s. As <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> funcionam, pois, como um anteparo<br />

protetor, permitin<strong>do</strong> aos homens que elaborem um saber comum por meio <strong>do</strong> qual<br />

explicam os fatos com que deparam no cotidiano. A explicação da realidade dá<br />

senti<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong> e, estan<strong>do</strong> posta aos olhos de to<strong>do</strong>s, os homens não podem<br />

aguardar que aqueles legitima<strong>do</strong>s a proclamar a verdade o façam, para,<br />

posteriormente, apenas aceitarem-na. Eles precisam da verdade, imediatamente,<br />

razão pela qual se antecipam na sua gestação e a partilham. É nesse senti<strong>do</strong> que<br />

podemos pensar a função <strong>do</strong> saber das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>.<br />

De acor<strong>do</strong> com Abric (1998), a função de orientação da conduta está<br />

relacionada ao complexo cognitivo que envolve a formação das <strong>representações</strong><br />

<strong>sociais</strong>. Nesse senti<strong>do</strong>, a sociedade organiza o seu conjunto de valores que lhe<br />

permite um horizonte de pensamentos, sentimentos e comportamentos a serem<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s diante da realidade.<br />

39


O autor acrescentou mais duas funções às <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>: a<br />

identitária e a justifica<strong>do</strong>ra. Em relação à primeira, trabalhou a idéia de que as<br />

<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> mobilizam o senti<strong>do</strong> de pertença, vital para to<strong>do</strong>s os homens.<br />

As duas funções, inicialmente propostas por Moscovici, conduzem à terceira, à<br />

medida que a partilha de explicações da realidade e <strong>do</strong> sistema de valores que<br />

orientam as práticas permite a criação de laços grupais que identificam os grupos e<br />

seus membros. A propósito da função justifica<strong>do</strong>ra, pode-se afirmar que, se através<br />

das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>, os indivíduos podem antecipar sua ação <strong>sobre</strong> a<br />

realidade, da mesma forma, podem justificá-la após realizada. Nesse senti<strong>do</strong>, Abric<br />

(1998, p.30) assinalou que “a representação tem por função preservar e justificar a<br />

diferenciação social, e ela pode estereotipar as relações entre os grupos, contribuir<br />

para a discriminação ou para a manutenção da distância social entre eles”.<br />

Cabe aqui um parêntese para tratar <strong>do</strong>s estereótipos e da forma como<br />

interferem nas relações intergrupais. Schulze (1996, p.114) os incluiu num amplo<br />

processo de categorização, afirman<strong>do</strong> que “este processo tem, como sua principal<br />

função, simplificar ou tornar sistemática a abundante e complexa quantidade de<br />

informações que o organismo humano recebe <strong>do</strong> ambiente”. Dessa forma, a<br />

categorização se presta à demarcação <strong>do</strong>s territórios grupais e fornece diretrizes de<br />

como os homens devem agir uns com os outros.<br />

Os estereótipos, se atrela<strong>do</strong>s a preconceitos, intensificam o nível de<br />

conflito entre esses espaços, enrijecen<strong>do</strong> as fronteiras que os separam, crian<strong>do</strong> para<br />

cada grupo um sistema de valores próprios e produzin<strong>do</strong> a formação de uma<br />

identidade grupal. A categorização de uma pessoa por um <strong>estigma</strong> está imersa<br />

nessa reflexão <strong>sobre</strong> as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. Assim, a imputação de um <strong>estigma</strong><br />

será feita mediante toda a incorporação já realizada das estruturas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> social<br />

– nesse senti<strong>do</strong>, um produto delas – e também contribuirá para o reforço e<br />

manutenção dessas estruturas, sen<strong>do</strong>, por esse ângulo, produtora da<br />

representação. O indivíduo <strong>estigma</strong>tiza<strong>do</strong> tenderá a incorporar à sua identidade a<br />

mesma crença que o outro tem dele. Segun<strong>do</strong> Goffman (1988, p.16),<br />

40


os seus sentimentos mais profun<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> o que ele é podem confundir a<br />

sua sensação de ser uma pessoa normal, um ser humano como qualquer<br />

outro, uma criatura, portanto, que merece um destino agradável e uma<br />

oportunidade legítima .<br />

Estereótipos e <strong>estigma</strong>s contribuem para intensificar conflitos e polarizar<br />

os grupos <strong>sociais</strong>, delinean<strong>do</strong> a alteridade. Esse “outro” negativo adquire uma<br />

importância fundamental nas sociedades humanas, pois funciona como o lugar no<br />

qual podemos depositar aquilo que não aceitamos em nós ou que não queremos<br />

para nós. Possibilita-nos, pois, usufruir a sensação de consciência tranqüila de que<br />

somos homens de bem. A partir <strong>do</strong> que está sen<strong>do</strong> aqui discuti<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> as<br />

<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> e suas funções e, em especial, a essa referência aos<br />

des<strong>do</strong>bramentos da função justifica<strong>do</strong>ra, entendemos que as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong><br />

<strong>sobre</strong> o a<strong>do</strong>lescente que cometeu ato infracional e a que ele próprio forma de si<br />

mesmo estarão evidentes em to<strong>do</strong>s os discursos lingüísticos, atitudes e expressões<br />

corporais a ele relaciona<strong>do</strong>s e por ele assumi<strong>do</strong>s.<br />

Moscovici (1996) assinalou que todas as pessoas e grupos <strong>sociais</strong><br />

buscam o reconhecimento de sua existência e, mais que isso, buscam a aprovação<br />

e o bem-querer. A grande questão é que, quan<strong>do</strong> pessoas ou grupos se tornam<br />

transparentes como minorias <strong>sociais</strong>, perdem as chances de aprovação e afeto<br />

pelas maiorias. Ainda assim, muitas vezes, correm os riscos inerentes a essa<br />

desqualificação, construin<strong>do</strong> forças ativas e estratégicas, tiran<strong>do</strong> disso proveito<br />

próprio. Em razão da descrença que <strong>sobre</strong> elas se abate, as minorias aprendem a<br />

criar couraças resistentes que as habilitam a conviver com essas situações de<br />

desconforto, passan<strong>do</strong> a ignorar sua falta de crédito e apreciação.<br />

Vale lembrar que a representação que delimita os grupos pelo<br />

estabelecimento da alteridade acontece ao mesmo tempo nos diferentes espaços<br />

que se criam. A partir disso, cada uma dessas funções citadas será posta em<br />

movimento paralelo. Cada grupo se instrumentalizará com seus próprios recursos,<br />

construin<strong>do</strong> seus confins e seu pertencimento, perceben<strong>do</strong> a si e ao outro com o<br />

olhar que tomaram por empréstimo <strong>do</strong> substrato cognitivo-afetivo <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> social<br />

que já está, por sua vez, modela<strong>do</strong> pela contribuição individual subjetiva de cada<br />

sujeito. A compreensão de como o a<strong>do</strong>lescente autor de ato infracional e sua mãe<br />

41


elaboram a representação “a<strong>do</strong>lescente infrator” permitirá melhor entender os seus<br />

processos comunicacionais, os seus comportamentos e o seu movimento dentro <strong>do</strong><br />

palco das minorias.<br />

2.3 SOBRE O PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS<br />

Ao criar a sua teoria <strong>sobre</strong> o saber <strong>do</strong> senso comum, Moscovici (2003)<br />

também se ocupou em analisar a forma como as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> se<br />

estruturam, conceben<strong>do</strong> duas etapas gerais nesse processo: objetivação e<br />

ancoragem. Essas etapas, na verdade, não estão separadas ou hierarquizadas, mas<br />

articuladas, sen<strong>do</strong> estudadas individualmente apenas com fins didáticos. Envolvem<br />

os aspectos figurativo e simbólico, a articulação entre as dimensões psicológica e<br />

social, o esforço e a necessidade humana de lidar com o real, o concreto, o familiar,<br />

de mo<strong>do</strong> a dar senti<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong>. Na possibilidade de desmembramento desses<br />

processos, poderíamos caracterizar a objetivação como o processo de formação de<br />

imagens, no qual o sujeito dá corpo visual ao que lhe é abstrato; relativamente à<br />

ancoragem, podemos caracterizá-la como o processo de tornar familiar o<br />

desconheci<strong>do</strong>, no qual o sujeito integra o novo ao sistema cognitivo já existente.<br />

Vala (2000, p.465) discorreu <strong>sobre</strong> a objetivação e as fases de construção<br />

seletiva, esquematização e naturalização, destacan<strong>do</strong> que o sujeito apreende <strong>do</strong><br />

conteú<strong>do</strong> teórico <strong>do</strong> objeto alguns elementos para relacioná-los com os outros,<br />

agregan<strong>do</strong>-os em um sistema de imagens antes de atribuir ao objeto o caráter de<br />

natural, guardan<strong>do</strong> uma relativa coerência. Segun<strong>do</strong> suas palavras, “não só o<br />

abstrato se torna concreto através da sua expressão em imagens e metáforas, como<br />

o que era percepção se torna realidade, tornan<strong>do</strong> equivalente a realidade e os<br />

conceitos".<br />

É esse um desenho mental que fazemos, metaforicamente, da realidade<br />

externa que nos circunda, em nossa incansável tentativa de internalizar o que é<br />

palpável no mun<strong>do</strong>. Em relação à ancoragem, Vala lembrou que esta pode,<br />

42


igualmente, ser considerada anterior ou posterior à objetivação, enfatizan<strong>do</strong> a<br />

articulação dialética que as mantém unidas. Justifican<strong>do</strong> a posição anterior da<br />

ancoragem, o autor ressalta que, à medida que o sujeito não se encontra inseri<strong>do</strong><br />

em um vazio mental, mas contamina<strong>do</strong> pelo seu universo simbólico, antes de<br />

desenhar o esquema icônico <strong>do</strong> objeto, já o faz ancora<strong>do</strong> em esquemas conceituais<br />

já consolida<strong>do</strong>s em seu meio. No que tange à posição posterior, o autor a situou<br />

como etapa subseqüente ao movimento <strong>do</strong> sujeito de construir sua estrutura<br />

imagética para, em seguida, ancorá-la na bagagem conceitual já existente no seu<br />

contexto social. Jovchelovitch (2000, p.82) enriqueceu a compreensão desses<br />

processos que estão na gênese das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> afirman<strong>do</strong> que<br />

Objetivar é condensar significa<strong>do</strong>s - diferentes que podem ser<br />

ameaça<strong>do</strong>res, ou indizíveis – para fazê-los familiares, <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong>s. Ao<br />

assim fazer, sujeitos <strong>sociais</strong> ancoram o desconheci<strong>do</strong> em uma realidade já<br />

institucionalizada e deslocam a geografia de significa<strong>do</strong>s estabeleci<strong>do</strong>s que<br />

as sociedades lutam para perpetuar.<br />

Objetivan<strong>do</strong> e ancoran<strong>do</strong>, os sujeitos fazem investimentos simbólicos<br />

<strong>sobre</strong> os fenômenos emergentes <strong>do</strong> seu contexto social, favorecen<strong>do</strong> o intercâmbio<br />

entre o senso comum e a ciência, dada a porosidade de suas fronteiras. Pela<br />

comunicação interpessoal e intergrupal, fazem circular as <strong>representações</strong> que<br />

conseguem elaborar <strong>sobre</strong> a novidade, sacia<strong>do</strong>s pela sensação de <strong>do</strong>minação <strong>do</strong><br />

desconheci<strong>do</strong>. Apesar de não se dar conta, o homem é o cria<strong>do</strong>r da realidade que<br />

não existe em si, mas guarda consistência e significa<strong>do</strong> pela tradução que lhe é<br />

dada, no inesgotável processo comunicacional das criaturas <strong>sociais</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> Vala (2000) fez referência à ancoragem das <strong>representações</strong><br />

<strong>sociais</strong> no sistema de comunicação, citan<strong>do</strong> a difusão, a propagação e a<br />

propaganda como as formas pelas quais circulam, igualmente ressaltou o caráter<br />

consensual, hegemônico ou polêmico que assumem a partir de então. Pela difusão,<br />

as mensagens são lançadas sem vínculo entre o emissor e o receptor, atingin<strong>do</strong><br />

vários públicos e suscitan<strong>do</strong> pontos de vista varia<strong>do</strong>s, o que possibilita a formação<br />

de opiniões.<br />

43


Pela propagação, as mensagens, já estruturadas, são dirigidas a um<br />

grupo específico como argumento de defesa da idéia, possibilitan<strong>do</strong> a formação de<br />

atitudes em relação a determina<strong>do</strong> fenômeno e a antecipação <strong>do</strong> comportamento, de<br />

mo<strong>do</strong> a manter o vínculo entre emissor e receptor. Pela propaganda, a mensagem<br />

circula, geran<strong>do</strong> conflitos, separan<strong>do</strong> grupos e atribuin<strong>do</strong>-lhes uma identidade<br />

positiva ou negativa. É nesse trâmite que se dá a formação de estereótipos não<br />

como uma categoria criada pelo grupo, mas para ele.<br />

Vala (2000, p.493) comentou ainda o crescente papel da televisão na<br />

estruturação <strong>do</strong> caráter hegemônico de determinadas <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> e a<br />

forma como essa modalidade de pressão influencia os comportamentos humanos.<br />

Em sua visão, “a expressão <strong>do</strong> audiovisual mergulhou-nos num mun<strong>do</strong> de rostos,<br />

imagens e símbolos, nos quais se inscrevem as idéias mais abstratas, conferin<strong>do</strong>-<br />

lhes a materialidade de que necessitam para viver, reproduzir-se e tornar-se<br />

realidade”.<br />

A televisão, como o meio de comunicação de massa mais popular,<br />

incrustrada no seio de milhares de lares, veicula para uma infinidade de<br />

telespecta<strong>do</strong>res o rosto da violência praticada por a<strong>do</strong>lescentes. Esse fenômeno<br />

adquire, então, uma face material para a qual convergirão significações emocionais<br />

da população e <strong>sobre</strong> a qual se formará uma teia de argumentações que ajudarão<br />

na sua descrição, na explicação de suas causas e no modelo de conduta esperada<br />

para fazer-lhe frente.<br />

Se as explicações de causalidade encontradas são de natureza<br />

individual, entendemos que isso influenciará as opiniões e atitudes <strong>sociais</strong> no<br />

tocante à defesa da redução da maioridade penal e o conseqüente encarceramento<br />

<strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no quase limite da infância, manifestadas pelo regozijo frente às<br />

torturas infligidas aos a<strong>do</strong>lescentes por policiais ou populares. Ressalte-se que já<br />

ganha corpo na sociedade a defesa da prisão perpétua ou pena de morte como<br />

crença de que aí reside a eliminação <strong>do</strong> problema. Se, por outro la<strong>do</strong>, as pessoas<br />

ancoram as explicações <strong>sobre</strong> o fenômeno em causas <strong>sociais</strong>, a<strong>do</strong>tam atitudes e<br />

condutas diferentes daquelas, numa flagrante mudança de ótica. Segue, a esse<br />

respeito, o pensamento de Vala (2000, p.481):<br />

44


Ora, quan<strong>do</strong> os indivíduos se questionam <strong>sobre</strong> fenômenos <strong>sociais</strong> como a<br />

pobreza, o desemprego, a saúde, a violência ou o insucesso escolar,<br />

acionam as teorias que coletivamente construíram <strong>sobre</strong> estes mesmos<br />

fenômenos, e é no quadro dessas teorias que procuram e estruturam as<br />

explicações.<br />

Marchon (2003), em uma reflexão <strong>sobre</strong> a violência <strong>do</strong>s dias atuais,<br />

dentro de uma leitura psicanalítica que articula o registro <strong>do</strong> inconsciente com o<br />

comportamento manifesto, observou que a nossa iniqüidade social custa caro.<br />

Fabricamos miséria, corrupção e violência e internalizamos a culpa pela nossa<br />

insanidade. Nos confins <strong>do</strong> interior humano, o reflexo da responsabilidade pelas<br />

raízes <strong>sociais</strong> da violência conduz a uma postura que às vezes oscila entre a<br />

crueldade e a impunidade. Somos seres cruéis quan<strong>do</strong> nos esmeramos em tratar<br />

desumanamente os humanos, nossos irmãos. Construímos cárceres indignos para<br />

prender os violentos e não volvemos nosso olhar para os que ali se contorcem. Por<br />

outro la<strong>do</strong>, somos negligentes quan<strong>do</strong> aceitamos tacitamente a impunidade como se<br />

desejássemos conceder-lhes a liberdade, para sermos castiga<strong>do</strong>s pelo me<strong>do</strong> que<br />

nos provoca a sua soltura. Afirmou Marchon (2003, p.50) que<br />

Como nós sabemos que temos estas culpas, <strong>do</strong>entiamente deixamos<br />

milhares de criminosos sem punição e permitimos que os que são presos<br />

possam fugir com a maior facilidade. Não há como escapar de nossa<br />

responsabilidade pessoal pelo que acontece no mun<strong>do</strong> social de que<br />

participamos.<br />

A partir <strong>do</strong> que foi aborda<strong>do</strong> acima <strong>sobre</strong> as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>,<br />

podemos destacar como eixo fundamental de sua definição o fato de que consistem<br />

no saber <strong>do</strong> senso comum, intimamente liga<strong>do</strong> à comunicação. Se um determina<strong>do</strong><br />

fato social ganha consistência, os sujeitos <strong>sociais</strong> tecem a sua própria teoria <strong>sobre</strong><br />

ele, orienta<strong>do</strong>s por um modelo de pensamento prático. Esse pensamento lhes<br />

permitirá edificar um substrato comum, a partir <strong>do</strong> qual poderão compreendê-lo,<br />

<strong>do</strong>miná-lo e se posicionar. Para usar a expressão weberiana, os grupos constroem<br />

uma “visão de mun<strong>do</strong>” que aplaca a angústia frente ao novo, tornan<strong>do</strong>-o familiar,<br />

fortalecen<strong>do</strong> laços entre os indivíduos e demarcan<strong>do</strong> suas fronteiras.<br />

45


O que é então a verdade? Uma multidão movente de metáforas, de metonímias,<br />

de antropomorfismos, em resumo, um conjunto de relações poética e<br />

retoricamente erguidas, transpostas, enfeitadas, e que, depois de um longo uso,<br />

parecem a um povo firmes, canoniais e constrange<strong>do</strong>ras: as verdades são ilusões<br />

que nós esquecemos que o são, metáforas que foram usadas e que perderam a sua<br />

força sensível, moedas que perderam seu cunho e que a partir de então entram<br />

em consideração, já não como moeda, mas apenas como metal.<br />

Nietzsche


CAPÍTULO 3


CAMINHO METODOLÓGICO<br />

3.1 NATUREZA DO ESTUDO<br />

Realizar-se-á um estu<strong>do</strong> de campo exploratório, de caráter quantitativo e<br />

qualitativo, embasa<strong>do</strong> no referencial teórico das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>, atribuin<strong>do</strong>-<br />

se absoluta prioridade ao discurso <strong>do</strong>s sujeitos como fonte de informação para a<br />

análise das <strong>representações</strong> que elaboram.<br />

Respeitante a estu<strong>do</strong> exploratório, cite-se a posição de Gil (1999, p.43):<br />

“as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e<br />

modificar conceitos e idéias, ten<strong>do</strong> em vista, a formulação de problemas mais<br />

precisos ou hipóteses pesquisáveis para estu<strong>do</strong>s posteriores”.<br />

A importância <strong>do</strong>s aspectos quantitativos e qualitativos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> reside<br />

na incompletude de cada um deles, em separa<strong>do</strong>. Minayo (2000) destacou que<br />

esses aspectos não são excludentes, mas, ao contrário, a sua composição<br />

complementar amplia a riqueza <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s. Se a pretensão de desvelar a verdade é<br />

o anseio de to<strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r e se igualmente ele sabe ser verdadeira a ilusão de<br />

sua busca, que também procure naquilo que se manifesta o não dito, ou seja, o<br />

oculto <strong>do</strong> aparente, deixan<strong>do</strong> o concreto ser atravessa<strong>do</strong> pela subjetividade, não<br />

esquecen<strong>do</strong> o rigor que qualquer trabalho científico exige.<br />

48


3.2 O CAMPO DE ESTUDO<br />

Este estu<strong>do</strong> foi desenvolvi<strong>do</strong> em três centros educacionais destina<strong>do</strong>s ao<br />

atendimento de a<strong>do</strong>lescentes priva<strong>do</strong>s de liberdade por sentença judicial, sen<strong>do</strong> um<br />

feminino e <strong>do</strong>is masculinos, to<strong>do</strong>s eles vincula<strong>do</strong>s à Secretaria da Ação Social da<br />

cidade de Fortaleza – Ceará. A escolha desses campos deu-se em razão de ser<br />

esta secretaria o órgão estadual que tem a responsabilidade legal pela<br />

implementção das medidas socioeducativas privativas e restritivas de liberdade,<br />

pautan<strong>do</strong> suas ações nos parâmetros legais preconiza<strong>do</strong>s pelo Estatuto da Criança<br />

e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente – ECA (BRASIL, 1990).<br />

As ações institucionais voltadas para esse a<strong>do</strong>lescente procuram atender<br />

integralmente o art. 124 <strong>do</strong> ECA que trata <strong>do</strong> resguar<strong>do</strong> de seus direitos enquanto<br />

interno, assim como procuram priorizar o enfoque na pedagogia da presença que,<br />

segun<strong>do</strong> Costa (1997), tem no acompanhamento construtivo, aberto e solidário <strong>do</strong><br />

educa<strong>do</strong>r ao educan<strong>do</strong> sua finalidade primeira.<br />

Em Fortaleza, a rede de unidades para atendimento ao a<strong>do</strong>lescente em<br />

conflito com a lei é formada por oito unidades, sen<strong>do</strong> uma de recepção, para<br />

a<strong>do</strong>lescentes de ambos os sexos, uma de semiliberdade masculina, cinco de<br />

internação masculina e uma unidade feminina para atender as medidas privativas e<br />

restritivas de liberdade. Além da separação por sexo, as unidades se destinguem<br />

pela natureza <strong>do</strong> atendimento presta<strong>do</strong>, faixa etária <strong>do</strong>s internos e gravidade <strong>do</strong> ato<br />

infracional pratica<strong>do</strong>.<br />

Cada uma das cinco unidades de internação masculina tem capacidade<br />

para 60 internos, entretanto, a maioria delas atende uma média de 100 rapazes, o<br />

que traduz, numericamente, o índice acentua<strong>do</strong> de a<strong>do</strong>lescentes que adentraram o<br />

mun<strong>do</strong> da criminalidade. A unidade feminina, com capacidade para 30 garotas,<br />

atende cerca de 25 a<strong>do</strong>lescentes mensalmente, realidade que reitera a diferença<br />

significativa na relação entre sexo e prática infracional.<br />

49


As unidades masculinas escolhidas para a realização <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> foram o<br />

Centro Educacional Cardeal Aloísio Lorscheider e o Centro Educacional São Miguel,<br />

eleitos pela Secretaria da Ação Social – SAS – para o atendimento ao a<strong>do</strong>lescente a<br />

partir de 16 anos, autor de ato infracional mais grave e de compleição física mais<br />

robusta. Em razão da natureza <strong>do</strong> ato infracional pratica<strong>do</strong>, os internos dessas<br />

unidades permanecem um tempo mais longo priva<strong>do</strong>s de liberdade, sen<strong>do</strong>, portanto,<br />

nesses centros que se encontra a quase totalidade <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes e jovens<br />

adultos autores de homicídio e latrocínio. A unidade feminina foi o Centro<br />

Educacional Aldaci Barbosa Mota que atende garotas de 12 a 21 anos. À época da<br />

realização deste estu<strong>do</strong>, contava com 5 internas autoras de homicídio ou latrocínio.<br />

Os a<strong>do</strong>lescentes priva<strong>do</strong>s de liberdade vivem em unidades nas quais<br />

dividem espaços de alimentação, lazer, escolaridade, <strong>do</strong>rmida, higienização e<br />

recepção de visitas. O acesso ao ambiente social externo obedece à rigorosa<br />

apreciação e autorização da direção, equipe técnica ou Juiz da Infância e Juventude.<br />

Da mesma forma que em outras instituições dessa natureza, a vida é dirigida por<br />

regras que priorizam o coletivo em detrimento <strong>do</strong> individual, a fim de que a ordem<br />

possa ser mantida. Os espaços físicos internos das unidades masculinas são<br />

<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de grades de ferro, fechadas a cadea<strong>do</strong>, além de serem cerca<strong>do</strong>s por<br />

muros altos, onde, estrategicamente, há guaritas ocupadas por policiais.<br />

Goffman (1992), abordan<strong>do</strong> a questão das “instituições totais”, incluiu os<br />

presídios nessa categoria e procurou descrever atributos comuns que as distinguem<br />

das demais instituições <strong>sociais</strong>. Nas instituições fechadas, os homens vivem em<br />

grupos numerosos, tornan<strong>do</strong>-se, em conseqüência disso, seres transparentes, uma<br />

vez que não são percebi<strong>do</strong>s na sua individualidade. A padronização das atividades<br />

cotidianas e a fiscalização sistemática <strong>do</strong> interno passam a fazer parte <strong>do</strong> penoso<br />

processo de tortura a que terá de se submeter. Segun<strong>do</strong> o autor, “a barreira que as<br />

instituições totais colocam entre o interna<strong>do</strong> e o mun<strong>do</strong> externo assinala a primeira<br />

mutilação <strong>do</strong> eu” (GOFFMAN, 1992, p.24).<br />

A reconhecida consideração de ser o a<strong>do</strong>lescente um ser em<br />

desenvolvimento e, portanto, com direito a uma abordagem educativa <strong>sobre</strong>posta ao<br />

aspecto punitivo, mesmo quan<strong>do</strong> sentencia<strong>do</strong> com privação de liberdade, tem si<strong>do</strong><br />

50


explicitada legalmente a partir da exigência de que as unidades de internação se<br />

distanciem <strong>do</strong> modelo secular das instituições totais. Para tanto, os referi<strong>do</strong>s centros<br />

contam com profissionais das áreas de serviço social, pedagogia, psicologia,<br />

medicina, enfermagem e o<strong>do</strong>ntologia, além de uma equipe de apoio que trabalha em<br />

regime diuturno, de mo<strong>do</strong> a acompanhar o a<strong>do</strong>lescente, ininterruptamente. Durante<br />

o dia, os a<strong>do</strong>lescentes participam de atividades de escolarização, através de<br />

convênio firma<strong>do</strong> entre a Secretaria de Ação Social e a Secretaria de Educação, de<br />

oficinas profissionalizantes, e ainda de atividades lúdicas, culturais, espirituais,<br />

dispon<strong>do</strong> também de atendimento individual e grupal.<br />

3.3 OS SUJEITOS<br />

Fizeram parte deste estu<strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescentes priva<strong>do</strong>s de liberdade por<br />

sentença judicial, interna<strong>do</strong>s nos três centros retromenciona<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s sob a<br />

responsabilidade da SAS, os quais compõem o grupo A, e mães de a<strong>do</strong>lescentes<br />

na mesma situação, também internos nesses três centros, que passaram a compor<br />

o grupo B. Os critérios de inclusão na constituição destes grupos foram assim<br />

defini<strong>do</strong>s:<br />

Grupo A<br />

• Estar priva<strong>do</strong> de liberdade por cometimento de homicídio ou latrocínio.<br />

• Ter entre 16 e 21 anos.<br />

• Aceitar participar da pesquisa, com assinatura <strong>do</strong> consentimento livre e<br />

esclareci<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com a Resolução nº196/96 <strong>do</strong> Conselho<br />

Nacional de Saúde, seção Pesquisas Envolven<strong>do</strong> Seres Humanos<br />

(Brasil, 1998).<br />

Grupo B<br />

• Ser mãe de a<strong>do</strong>lescente priva<strong>do</strong> de liberdade por sentença judicial em<br />

um <strong>do</strong>s três centros já cita<strong>do</strong>s.<br />

51


• Aceitar participar da pesquisa, com assinatura <strong>do</strong> consentimento livre e<br />

esclareci<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com a Resolução nº196/96 <strong>do</strong> Conselho<br />

Nacional de Saúde, seção Pesquisas Envolven<strong>do</strong> Seres Humanos<br />

(Brasil, 1998).<br />

O Teste de Associação Livre de Palavras foi realiza<strong>do</strong> em uma amostra<br />

de 112 sujeitos, sen<strong>do</strong> 56 a<strong>do</strong>lescentes e 56 mães. A entrevista semi-estruturada foi<br />

realizada com 16 a<strong>do</strong>lescentes e 16 mães, sen<strong>do</strong> esse recorte de 32 sujeitos<br />

determina<strong>do</strong> pela saturação teórica das informações colhidas. A coleta de da<strong>do</strong>s foi<br />

realizada em um intervalo de 2 meses. O Quadro 1 abaixo expõe o perfil<br />

sociodemográfico <strong>do</strong>s sujeitos da amostra.<br />

Quadro 1 – Perfil <strong>do</strong>s sujeitos segun<strong>do</strong> as variáveis sociodemográficas.<br />

Sujeitos A<strong>do</strong>lescentes Mães<br />

Variáveis F % F %<br />

Sexo<br />

Total<br />

• Masculino 51 91 - - 51<br />

• Feminino 5 9 56 100 61<br />

Idade<br />

• 16-18 47 84 - - 47<br />

• 18-21 9 16 - - 9<br />

• > 21 - - 56 100 56<br />

Escolaridade<br />

• Analfabeto 7 12,5 14 25 21<br />

• Fundamental 44 78,5 39 69,7 83<br />

• Ensino Médio 5 9 3 5,3 8<br />

3.4 OS INSTRUMENTOS<br />

52


A escolha <strong>do</strong>s instrumentos para a coleta de da<strong>do</strong>s é fundamental para a<br />

construção <strong>do</strong> objeto de pesquisa que conduzirá às <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. Sobre<br />

essa etapa, Sá (1996, p. 100 -101) comenta que<br />

um primeiro problema que se coloca a to<strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r, mesmo que não<br />

adverti<strong>do</strong> nesses termos, diz respeito à coleta de da<strong>do</strong>s. Embora tal<br />

atividade tenha obrigatoriamente que ser complementada pelo tratamento<br />

ou análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, parece oportuno enfatizar sua importância na<br />

construção <strong>do</strong> objeto, bem como sua dependência em relação a eleições<br />

teórico-conceituais prévias.<br />

Este estu<strong>do</strong> foi desenvolvi<strong>do</strong> a partir de uma abordagem meto<strong>do</strong>lógica<br />

múltipla, priorizan<strong>do</strong> instrumentos que favorecessem a interação entre pesquisa<strong>do</strong>r e<br />

sujeitos e viabilizassem a expressão de seus conteú<strong>do</strong>s cognitivos, atitudinais e<br />

afetivos. Os instrumentos seleciona<strong>do</strong>s foram o Teste de Associação Livre de<br />

Palavras, a entrevista semi-estruturada e a observação assistemática. O uso<br />

combina<strong>do</strong> desses três instrumentos objetivou tornar possível a leitura e apreensão<br />

<strong>do</strong> objeto investiga<strong>do</strong> pela análise qualitativa e quantitativa <strong>do</strong> material expresso.<br />

Teste de Associação Livre de Palavras<br />

O Teste de Associação Livre de Palavras tem adquiri<strong>do</strong> importância<br />

crescente no campo de pesquisas em ciências <strong>sociais</strong> e humanas, dada a sua<br />

funcionalidade como instrumento de investigação <strong>do</strong>s elementos que dão<br />

configuração ao objeto da representação. A liberdade de expressão favorecida por<br />

essa técnica cria um terreno favorável às projeções <strong>do</strong> sujeito, oferen<strong>do</strong> ao<br />

pesquisa<strong>do</strong>r uma base de informações que dão acesso ao fenômeno<br />

representacional. As respostas evocadas devem ser entendidas além de sua<br />

simples significação vocabular. Moscovici (2003, p. 100) ressaltou que<br />

nós reagimos a um estímulo à medida em que, ao menos parcialmente, nós<br />

o objetivamos e o recriamos, no momento de sua constituição. O objeto ao<br />

qual nós respondemos pode assumir diversos aspectos e o aspecto<br />

específico que ele realmente assume depende da resposta que nós<br />

associamos a ele antes de defini-lo.<br />

53


O presente estu<strong>do</strong> utilizou a expressão “a<strong>do</strong>lescente infrator” como<br />

estímulo indutor, sen<strong>do</strong> solicita<strong>do</strong> a cada sujeito que respondesse à seguinte<br />

questão: Quais as quatro primeiras palavras que lhe vêm à mente quan<strong>do</strong> eu falo a<br />

expressão a<strong>do</strong>lescente infrator? As respostas a essa pergunta foram registradas na<br />

ordem em que foram proferidas. A partir disso, foi construí<strong>do</strong> um dicionário com 448<br />

respostas que variaram entre palavras e expressões evocadas pelos sujeitos.<br />

Os da<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s pelo teste e processa<strong>do</strong>s pelo software Tri-Deux-<br />

Mots tornaram possível, no aspecto quantitativo, uma representação gráfica das<br />

variáveis fixas (grupo de a<strong>do</strong>lescentes e de mães, idade e escolaridade) e variáveis<br />

de opiniões (respostas evocadas). No aspecto qualitativo, através da técnica da<br />

análise fatorial de correspondência, os da<strong>do</strong>s retrata<strong>do</strong>s no território gráfico puderam<br />

ser compreendi<strong>do</strong>s pela leitura <strong>do</strong>s espaços que entre si estabeleceram essas<br />

variáveis.<br />

Na ocasião da realização desse levantamento de da<strong>do</strong>s, os três centros<br />

educacionais escolhi<strong>do</strong>s contavam com um total de 56 a<strong>do</strong>lescentes priva<strong>do</strong>s de<br />

liberdade por homicídio ou latrocínio, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong> o teste em 100% desse<br />

universo. Após a conclusão dessa etapa, aplicou-se o teste a igual número de mães<br />

que visitavam seus filhos durante as internações.<br />

Entrevista Semi-estruturada<br />

As entrevistas foram feitas em etapa posterior à aplicação <strong>do</strong> Teste de<br />

Associação Livre de Palavras, sen<strong>do</strong> estruturadas em torno de questões que<br />

procuraram desnudar elementos <strong>do</strong> universo subjetivo <strong>do</strong>s sujeitos, invariavelmente<br />

impregna<strong>do</strong>s <strong>do</strong> colori<strong>do</strong> cognitivo e afetivo de suas vivências. Embora a pergunta<br />

central tenha si<strong>do</strong> Para você o que é a<strong>do</strong>lescente infrator? uma outra pergunta <strong>sobre</strong><br />

“a<strong>do</strong>lescente” a antecedeu, com o objetivo de facilitar o ingresso <strong>do</strong> sujeito na<br />

temática investigada.<br />

54


Sá (1998) esclareceu que a quantidade de entrevistas necessárias a uma<br />

investigação <strong>sobre</strong> o conteú<strong>do</strong> representacional não deve ser determinada a priori.<br />

Ao longo da coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, o pesquisa<strong>do</strong>r facilmente identificará o momento em<br />

que os temas expressos pelos sujeitos começarão a se repetir, o que sinalizará o<br />

limite <strong>do</strong> número de entrevistas.<br />

Observação Assistemática<br />

Podemos considerá-la como uma observação sem validação quantitativa<br />

que consistiu em observações espontâneas de aspectos considera<strong>do</strong>s significativos<br />

ao longo <strong>do</strong> procedimento de coleta de da<strong>do</strong>s.<br />

3.5 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS<br />

O Teste de Associação Livre de Palavras foi o primeiro instrumento<br />

utiliza<strong>do</strong> na etapa de coleta de da<strong>do</strong>s. O contato com cada a<strong>do</strong>lescente foi feito<br />

seguin<strong>do</strong> as normas de segurança das unidades onde se encontravam. Nas<br />

internações masculinas, cada a<strong>do</strong>lescente foi leva<strong>do</strong> até a sala reservada para a<br />

entrevista por um funcionário de plantão que aguardava no corre<strong>do</strong>r a conclusão da<br />

aplicação <strong>do</strong> teste. O cuida<strong>do</strong> e o esta<strong>do</strong> de alerta <strong>do</strong> funcionário estiveram<br />

diretamente relaciona<strong>do</strong>s a sua responsabilidade em evitar fuga ou violência por<br />

parte <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente.<br />

Na internação feminina, a geografia <strong>do</strong>s espaços e o baixo número de<br />

internas tornaram menos necessários os protocolos de segurança. As a<strong>do</strong>lescentes<br />

circulam com mais liberdade na unidade e têm considerável acesso aos<br />

funcionários. A aplicação <strong>do</strong> teste prescindiu, pois, de maiores tensões no contato<br />

com as a<strong>do</strong>lescentes. Após a conclusão da aplicação <strong>do</strong> teste aos cinqüenta e seis<br />

55


a<strong>do</strong>lescentes, foi iniciada a aplicação desse instrumento às mães, nas próprias<br />

unidades, por ocasião de suas visitas aos filhos.<br />

A etapa seguinte, realização das entrevistas, também transcorreu da<br />

mesma forma anteriormente descrita. Os a<strong>do</strong>lescentes convida<strong>do</strong>s para ser<br />

entrevista<strong>do</strong>s foram escolhi<strong>do</strong>s conforme a facilidade de expressão e comunicação<br />

que demostraram na oportunidade da aplicação <strong>do</strong> teste. As mães entrevistadas<br />

foram aquelas que, no dia da visita, aceitaram participar <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>. As entrevistas<br />

foram todas gravadas, não ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> defini<strong>do</strong> tempo para a sua duração. Vale<br />

salientar que as mães entrevistadas não foram as mesmas que responderam ao<br />

teste, ao contrário <strong>do</strong> procedimento a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> com os a<strong>do</strong>lescentes, dada a<br />

dificuldade em garantir as mesmas mães para as entrevistas em virtude de algumas<br />

delas residirem no interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> ou em bairros afasta<strong>do</strong>s, o que impediria a<br />

conclusão <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> no tempo previsto para a sua realização.<br />

To<strong>do</strong>s os a<strong>do</strong>lescentes responderam às perguntas de forma<br />

descontraída, expressan<strong>do</strong> contentamento por estarem sen<strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>s e<br />

demonstraram interesse em escutar a gravação de seus pensamentos. Tanto a<br />

entonação da voz quanto as palavras utilizadas em seus discursos guardam estreita<br />

semelhança entre si. Muitas palavras são pronunciadas pela metade e coladas à<br />

palavra seguinte, dan<strong>do</strong> a impressão de que formam uma espécie de dialeto próprio<br />

que soa incompreensível a ouvi<strong>do</strong>s leigos. As mães falaram com mais emoção e,<br />

quan<strong>do</strong> perguntadas <strong>sobre</strong> o significa<strong>do</strong> de ter um filho a<strong>do</strong>lescente infrator,seus<br />

discursos se interromperam pela <strong>do</strong>r e pelo choro. Todas elas registraram<br />

fragmentos de suas idéias e vivências gestadas na dureza de seu cotidiano de<br />

mulher sofrida.<br />

Os da<strong>do</strong>s de identificação sociodemográfica coleta<strong>do</strong>s nas entrevistas<br />

contextualizaram os sujeitos atores desse estu<strong>do</strong>. As suas expressões, anotadas em<br />

diário de campo, traduziram sua linguagem analógica, fonte rica de informações<br />

complementares ao conteú<strong>do</strong> verbal grava<strong>do</strong>.<br />

56


3.6 ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS<br />

Os diferentes instrumentos utiliza<strong>do</strong>s no presente estu<strong>do</strong> forneceram uma<br />

variedade de da<strong>do</strong>s que passaram a requerer a elaboração de um plano para tornar<br />

viável seu tratamento e análise. Para tanto, foram selecionadas a técnica de análise<br />

fatorial de correspondência e a de análise de conteú<strong>do</strong> que passam a ser<br />

apresentadas a partir de algumas considerações teóricas.<br />

3.6.1 Análise de conteú<strong>do</strong><br />

Bardin (1977) fez um apura<strong>do</strong> levantamento cronológico <strong>sobre</strong> a história<br />

da técnica de análise de conteú<strong>do</strong> e localizou sua origem nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, no<br />

início <strong>do</strong> século XX, contextualizan<strong>do</strong> seu crescimento na área das comunicações,<br />

atrelada às diretrizes de objetividade da psicologia comportamental.<br />

O reconhecimento dessa técnica investigativa fê-la adentrar as ciências<br />

políticas, literárias e psicológicas para, a partir de então, expandir-se a outros<br />

<strong>do</strong>mínios <strong>do</strong> conhecimento, exigin<strong>do</strong> cada vez mais empenho <strong>do</strong>s estudiosos na<br />

elaboração de sua definição. Esse avanço foi fruto <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> pós-guerra, quan<strong>do</strong><br />

a abordagem qualitativa <strong>do</strong>s fenômenos forçou a ruptura entre objetividade e<br />

ciência.<br />

Desde a sua concepção, a análise de conteú<strong>do</strong> foi sempre empregada<br />

com a intenção de objetivar e sistematizar o conteú<strong>do</strong> da comunicação, de forma a<br />

assegurar o rigor científico ao material que não se encontra no território <strong>do</strong><br />

concreto. Bardin (1977, p.42) trabalhou a idéia de ser análise de conteú<strong>do</strong> um<br />

conjunto de técnicas e <strong>sobre</strong> ela fez a seguinte declaração:<br />

Pertencem, pois, ao <strong>do</strong>mínio da análise de conteú<strong>do</strong>, todas as iniciativas<br />

que, a partir de um conjunto de técnicas parciais, mas complementares<br />

consistam na explicitação e sistematização <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> das mensagens e<br />

da expressão deste conteú<strong>do</strong>, com o contributo de índices passíveis ou não<br />

de quantificação, a partir de um conjunto de técnicas que, embora parciais,<br />

são complementares.<br />

57


O estu<strong>do</strong> em questão lançou mão da análise de conteú<strong>do</strong> para percorrer<br />

o terreno discursivo <strong>do</strong>s sujeitos, objetivan<strong>do</strong> fazer inferências <strong>sobre</strong> suas<br />

mensagens inventariadas e sistematizadas. Para tanto, foram catalogadas as<br />

seguintes etapas operacionais: constituição <strong>do</strong> corpus, composição das unidades<br />

de análise, inventário, categorização, tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e descrição das<br />

categorias. Através dessa técnica, o pesquisa<strong>do</strong>r transpõe a barreira daquilo que<br />

foi objetivamente expresso pelo pensamento verbal e vasculha o que se deixou<br />

ocultar.<br />

58


Figura 1 – Plano de análise<br />

PLANO DE ANÁLISE<br />

CORPUS<br />

2. UNIDADES DE ANÁLISE<br />

3. INVENTÁRIO<br />

4. CATEGORIZAÇÃO<br />

5. DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS<br />

6. TRATAMENTRO DOS DADOS<br />

7. RS SOBRE ADOLESCENTE INFRATOR<br />

59


1. Constituição <strong>do</strong> corpus<br />

O corpus é forma<strong>do</strong> por to<strong>do</strong> o material <strong>sobre</strong> o qual se debruçará o<br />

pesquisa<strong>do</strong>r. Neste estu<strong>do</strong>, foi constituí<strong>do</strong> por 112 Testes de Associação Livre de<br />

Palavras e 32 entrevistas, ambos os instrumentos aplica<strong>do</strong>s aos grupos de<br />

a<strong>do</strong>lescentes e mães.<br />

2. Composição das unidades de análise<br />

As unidades de análise escolhidas foram a frase e o parágrafo que<br />

corresponderam, respectivamente, às unidades de registro e de contexto. Essas<br />

unidades são frações de senti<strong>do</strong> extraídas <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> a ser investiga<strong>do</strong> e definidas<br />

pelo pesquisa<strong>do</strong>r, com vistas a viabilizar a quantificação e o estu<strong>do</strong> avaliativo <strong>do</strong><br />

material produzi<strong>do</strong>.<br />

3. Constituição <strong>do</strong> inventário<br />

O inventário é o corpus decomposto em unidades de análise, modelo de<br />

reordenamento <strong>do</strong> material de estu<strong>do</strong> que favorece uma maior visibilidade de seu<br />

conteú<strong>do</strong> para que se proceda ao agrupamento dessas unidades em subcategorias<br />

e categorias simbólicas.<br />

4. Categorização<br />

Uma categoria é um aglomera<strong>do</strong> de respostas com a mesma significação<br />

denominadas por um título que expressa o conceito central daquele conjunto de<br />

idéias. Cada categoria é formada por um conjunto de subcategorias e esse processo<br />

de fusão de palavras torna possível a sua relevância estatística. Segun<strong>do</strong> Vala<br />

(1999, p.111), “o que importa ao analista são os conceitos, e a passagem <strong>do</strong>s<br />

indica<strong>do</strong>res aos conceitos é, portanto, uma operação de atribuição <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>, cuja<br />

validade importará controlar¨.<br />

Neste estu<strong>do</strong>, o mesmo conjunto de categorias foi defini<strong>do</strong> para os <strong>do</strong>is<br />

grupos estuda<strong>do</strong>s, a fim de tornar possível a análise comparativa das<br />

60


epresentações <strong>sociais</strong>. O quadro 2 mostra a classificação das categorias e<br />

subcategorias selecionadas e a quantificação de suas unidades de análise.<br />

Quadro 2 – Distribuição das categorias e subcategorias simbólicas <strong>sobre</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente infrator<br />

CATEGORIAS SUBCATEGORIAS<br />

1.Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente • Comportamentais<br />

2. Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />

infrator<br />

3. Causas <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> crime<br />

• Vivenciais<br />

• Comportamentais<br />

• Vivenciais<br />

• Sociointeracionais<br />

• Familiares<br />

• Psicológicas<br />

• Socioeconômicas<br />

4. Percepção <strong>do</strong> eu • Autopercepção<br />

• Heteropercepção<br />

• Idealizada<br />

5. Perspectiva de mudança • Pessoal<br />

• Social<br />

• Institucional<br />

• Familiar<br />

• Espiritual<br />

6. Expressões subjetivas • Sentimentos<br />

• Pensamentos<br />

Nº DE<br />

UNIDADES DE<br />

ANÁLISE<br />

137<br />

16<br />

117<br />

TOTAL<br />

153<br />

26 143<br />

134<br />

83<br />

70<br />

45<br />

221<br />

188<br />

76<br />

124<br />

109<br />

37<br />

25<br />

13<br />

117<br />

66<br />

332<br />

485<br />

308<br />

183<br />

61


5. Descrição das categorias<br />

As respostas que emergiram das entrevistas realizadas, recortadas em<br />

1604 unidades de análise temática, tornaram possível a definição de um conjunto de<br />

seis categorias e dezoito subcategorias.<br />

• Categoria 1 – Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />

Esta categoria abrange 153 unidades de análise temática que revelam as<br />

descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente elaboradas pelos sujeitos entrevista<strong>do</strong>s, agrupadas<br />

em duas subcategorias: comportamentais e vivenciais.<br />

DESCRIÇÕES SOBRE ADOLESCENTE<br />

COMPORTAMENTAIS VIVENCIAIS<br />

Figura 2 – Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />

• Categoria 2 – Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator<br />

Esta categoria abrange 143 unidades de análise temática que revelam as<br />

descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator elaboradas pelos sujeitos entrevista<strong>do</strong>s,<br />

agrupadas em duas subcategorias: comportamentais e vivenciais.<br />

62


DESCRIÇÕES SOBRE ADOLESCENTE<br />

INFRATOR<br />

COMPORTAMENTAIS VIVENCIAIS<br />

Figura 3 – Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator<br />

• Categoria 3 – Causas <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> de crime<br />

Esta categoria abrange 332 unidades de análise temática por meio das<br />

quais os sujeitos apontam as suas versões <strong>sobre</strong> os fatores que favorecem a<br />

entrada <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. As respostas emitidas foram agrupadas<br />

em 4 subcategorias: sociointeracionais, familiares, psicológicas, socioeconômicas.<br />

CAUSAS DO INGRESSO NO MUNDO DO<br />

CRIME<br />

SOCIOECONÔMICAS PSICOLÓGICAS<br />

SOCIOINTERACIONAIS<br />

Figura 4 – Causas <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime<br />

• Categoria 4 – Percepção <strong>do</strong> Eu<br />

Esta categoria abrange 485 unidades de análise temática em que os<br />

sujeitos expressam como se percebem, como acreditam serem percebi<strong>do</strong>s e como<br />

gostariam de ser. Estão contidas nessa categoria três subcategorias a saber:<br />

autopercepção, idealizada e heteropercepção.<br />

FAMILIARES<br />

63


Figura 5 – Percepção <strong>do</strong> eu<br />

• Categoria 5 – Perspectiva de mudança<br />

Esta categoria abrange 308 unidades de análise temática que mostram as<br />

alternativas pensadas pelos sujeitos, capazes de interromper o ciclo da reiteração da<br />

prática infracional e o conseqüente aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. É formada por<br />

cinco subcategorias: pessoal, social, institucional, familiar e espiritual.<br />

Figura 6 – Perspectiva de mudança<br />

• Categoria 6 – Expressões subjetivas<br />

Esta categoria é formada por 183 unidades de análise temática nas quais<br />

os sujeitos elaboram pensamentos e sentimentos em torno de suas experiências<br />

relativas à infracionalidade.<br />

PERCEPÇÃO DO EU<br />

AUTOPERCEPÇÃO HETEROPERCEPÇÃO<br />

IDEALIZADA<br />

PERSPECTIVA DE MUDANÇA<br />

PESSOAL FAMILIAR<br />

ESPIRITUAL<br />

SOCIAL<br />

INSTITUCIONAL<br />

64


Figura 7 – Expressões subjetivas<br />

6. Tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />

Os da<strong>do</strong>s levanta<strong>do</strong>s pelo estu<strong>do</strong>, submeti<strong>do</strong>s ao tratamento estatístico,<br />

com indicação de freqüência das unidades de análise, cálculos percentuais e qui-<br />

quadra<strong>do</strong>, serviram para constatar semelhanças ou diferenças das RS <strong>sobre</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente infrator entre os <strong>do</strong>is grupos, possibilitan<strong>do</strong> a análise e as inferências<br />

quantitativas e qualitativas <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s.<br />

3.6.2 Análise Fatorial de Correspondência<br />

A Análise Fatorial de Correspondência – AFC – é uma das técnicas de<br />

análise fatorial por meio da qual um conjunto de da<strong>do</strong>s estatísticos é submeti<strong>do</strong> a<br />

uma análise descritiva. O seu grau de confiabilidade, conquista<strong>do</strong> ao longo de<br />

quase meio século de existência, tem lhe rendi<strong>do</strong> indicações para sua utilização em<br />

estu<strong>do</strong>s com vários tipos de da<strong>do</strong>s (questões abertas ou não) e, em especial, tem<br />

si<strong>do</strong> largamente utilizada em pesquisa <strong>sobre</strong> representação social.<br />

Segun<strong>do</strong> Deschamps (2003), essa técnica torna possível ao pesquisa<strong>do</strong>r<br />

formar uma idéia geral <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s levanta<strong>do</strong>s, a partir das descrições que vai<br />

fazen<strong>do</strong> relativas às ligações entre as variáveis qualitativas. O leque de<br />

combinações que vai sen<strong>do</strong> monta<strong>do</strong> entre as variáveis imprime um caráter<br />

exploratório à técnica, permitin<strong>do</strong> uma maior aproximação <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r ao<br />

conjunto de informações recolhidas.<br />

EXPRESSÕES SUBJETIVAS<br />

SENTIMENTOS PENSAMENTOS<br />

65


A organização de uma tabela de freqüência ou tabela de contingência, em<br />

que as variáveis independentes e a produção léxica <strong>do</strong>s sujeitos estão distribuídas<br />

em colunas e linhas, dá flexibilidade ao cruzamento das informações e maior<br />

riqueza à interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s. A freqüência das modalidades mais<br />

evocadas contribui para a construção <strong>do</strong>s eixos que compõem o plano fatorial.<br />

A representação gráfica <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s aparece disposta no Plano<br />

Fatorial com <strong>do</strong>is eixos que, por convenção, são denomina<strong>do</strong>s F1 (horizontal) e F2<br />

(vertical), cada um deles forma<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is pólos. Igualmente por convenção,<br />

atribui-se a denominação de negativo ao la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> de F1 e inferior de F2 e de<br />

positivo, o la<strong>do</strong> direito de F1 e superior de F2. A AFC permite interpretar os da<strong>do</strong>s,<br />

porquanto ressalta as ligações de aproximação e distanciamento existentes entre<br />

diferentes grupos de sujeitos, a partir de suas respostas agrupadas nos espaços<br />

fatorais distintos e opostos de F1 e F2.<br />

66


O UNIVERSO não é uma idéia minha.<br />

A minha idéia <strong>do</strong> UNIVERSO é que é uma idéia minha.<br />

A noite não acontece pelos meus olhos.<br />

A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos.<br />

Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos,<br />

a noite acontece concretamente<br />

e o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso.<br />

Fernan<strong>do</strong> Pessoa


CAPÍTULO 4


CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE<br />

ADOLESCENTE INFRATOR<br />

É parte integrante <strong>do</strong> homem a necessidade de expressão e de<br />

relacionamento. A comunicação não pode ser separada da vida, ten<strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, ao<br />

longo <strong>do</strong>s tempos, por um processo de evolução até chegar à linguagem oral que foi<br />

a primeira forma organizada da comunicação humana. Pela linguagem, os homens<br />

se definem como seres <strong>sociais</strong> e individuais e assim o fazem em relação a seus<br />

pares; pela linguagem falada e escrita, produzem e reproduzem mensagens através<br />

<strong>do</strong>s meios de comunicação, interpretam e modificam a realidade que os envolve.<br />

Diferentemente <strong>do</strong> animal, o homem introduz em sua comunicação a força de suas<br />

emoções de tal mo<strong>do</strong> que a linguagem não é somente a linguagem <strong>do</strong>s signos, mas<br />

também, e com igual poder, a linguagem <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s.<br />

Cada sociedade constrói para si um vasto sistema de códigos de<br />

comunicação que funciona como diretriz para a percepção e interpretação da<br />

realidade. De forma mais reduzida, cada grupo social igualmente cria seus próprios<br />

códigos, responsáveis pela demarcação das fronteiras que favorecem o senti<strong>do</strong> de<br />

pertencimento e identidade. Ficam, dessa maneira, delimita<strong>do</strong>s os territórios<br />

subjetivos nos quais os membros <strong>do</strong>s grupos se reconhecem como seres iguais e<br />

definem entre si o familiar e o estranho, crian<strong>do</strong> a confortável e vital sensação de<br />

sua legitimidade social. Nesse inevitável processo de formação de minorias, cada<br />

segmento vai construin<strong>do</strong> sua linguagem particular que, por sua vez, incide no<br />

estabelecimento <strong>do</strong>s valores e comportamentos.<br />

69


Quan<strong>do</strong> se pertence a uma minoria qualificada negativamente pelo<br />

conjunto mais amplo, a pressão para o seu aniquilamento provoca uma força reativa<br />

que acaba por criar um campo de poder capaz de garantir a <strong>sobre</strong>vivência <strong>do</strong>s<br />

grupos. Os grupos falam, escutam, sentem e vêem a si a ao outro através de um<br />

prisma comum, media<strong>do</strong> por uma linguagem idiossincrática. Essas minorias não<br />

qualificadas são formadas por seres transparentes que não conseguem ter<br />

visibilidade, razão por que precisam lançar mão de estratégias para marcar sua<br />

presença na história. Necessitam, pois, fazer barulho para serem ouvi<strong>do</strong>s, embora,<br />

muitas vezes, sua voz só seja reconhecida dentro <strong>do</strong>s índices estatísticos que mais<br />

ainda reforçam o seu menor valor.<br />

O a<strong>do</strong>lescente que comete ato infracional pertence a essa categoria de<br />

seres desprezíveis que lutam contra o anonimato e, ao expressar a sua<br />

subjetividade por meio de atividades criminosas, acentua os contornos <strong>do</strong> espaço<br />

reserva<strong>do</strong> a sua existência. Em cada la<strong>do</strong> da fronteira, os sujeitos tecem universos<br />

representacionais. Segun<strong>do</strong> Mello (2002, p. 133), “há uma troca de olhares, mas a<br />

reciprocidade deles está carregada de significa<strong>do</strong>s diferentes“. Eis por que deixar<br />

falar as minorias é ouvir os seus olhares e entender de que forma as suas<br />

experiências são gera<strong>do</strong>ras de <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>.<br />

Ao deparar com o desconheci<strong>do</strong>, o homem necessita <strong>do</strong>miná-lo para<br />

aplacar a sensação de angústia que o invade. É através desse processo de<br />

apreensão <strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong> que tem início a formação das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>,<br />

um saber socialmente partilha<strong>do</strong>. Sobre as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>, Jovchelovitch<br />

(2000, p. 81) assinalou que “elas expressam por excelência o espaço <strong>do</strong> sujeito, em<br />

sua relação com a alteridade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, lutan<strong>do</strong> para dar senti<strong>do</strong>, interpretar e<br />

construir os espaços nos quais se encontra”.<br />

A partir desse referencial teórico, o presente capítulo procurou investigar<br />

as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator, elaboradas por a<strong>do</strong>lescentes<br />

autores de atos infracionais e por suas mães, identifican<strong>do</strong> nesse conhecimento <strong>do</strong><br />

senso comum as suas interfaces com as ciências jurídica, psicológica e social. Ainda<br />

consideran<strong>do</strong> o leque <strong>do</strong> conhecimento leigo teoriza<strong>do</strong>, foi possível vislumbrar os<br />

matizes das singularidades das vivências <strong>do</strong>s sujeitos.<br />

70


Para conhecer esses matizes, fez-se necessária a leitura <strong>do</strong>s seus<br />

discursos que denunciam o mo<strong>do</strong> pelo qual entendem, interpretam e transformam<br />

esse fenômeno psicossocial das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. A linguagem torna possível<br />

a codificação <strong>do</strong>s mun<strong>do</strong>s concreto e abstrato <strong>do</strong>s sujeitos <strong>sociais</strong>, razão pela qual<br />

constitui-se em importante instrumento de acesso às <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>.<br />

4.1 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE<br />

ADOLESCENTE INFRATOR A PARTIR DA ANÁLISE DE CONTEÚDO<br />

A exploração <strong>do</strong> material produzi<strong>do</strong> pelos sujeitos resultante da aplicação<br />

das entrevistas foi feita a partir da utilização da técnica de análise de conteú<strong>do</strong>, o<br />

que possibilitou a emersão de 6 categorias e 18 subcategorias, apresentadas a<br />

seguir.<br />

4.1.1 Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />

A primeira investigação feita junto aos sujeitos procurou apreender as<br />

suas descrições <strong>sobre</strong> o ser a<strong>do</strong>lescente, introduzin<strong>do</strong> a temática desvinculada de<br />

conceitos prévios. Nesse senti<strong>do</strong>, a focalização inicial no ser a<strong>do</strong>lescente pretendeu<br />

desconectar as ligações que porventura existam entre os conceitos de a<strong>do</strong>lescente e<br />

infrator. Verificou-se pelas respostas evocadas que as descrições priorizaram<br />

aspectos gerais relaciona<strong>do</strong>s a seu comportamento e a suas vivências.<br />

71


Tabela 1 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />

descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescentes<br />

autores de atos infracionais e mães.<br />

SUJEITOS ADOLESCENTES MÃES TOTAL X2 SUBCATEGORIAS F % f % f %<br />

Comportamentais 72 98.63 65 81.25 137 89.54 0,35<br />

Vivenciais<br />

01 1.37 15 18.75 16 10.46<br />

TOTAL<br />

p < 0,01<br />

73 100 80 100 153 100<br />

A Tabela 1 sinalizou que ambos os grupos fizeram referências aos<br />

aspectos comportamentais como os mais significativos para descrever o<br />

a<strong>do</strong>lescente, mostran<strong>do</strong> freqüências superiores a 80%. O valor <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> de<br />

0.35 indicou não existir diferença estatística significativa no número de unidades<br />

temáticas expressas pelos grupos. Em relação à subcategoria vivenciais, verifica-se<br />

uma diferença importante no percentual das evocações. O eleva<strong>do</strong> valor <strong>do</strong> qui-<br />

quadra<strong>do</strong> (12.25), para um nível de significância de 5%, assinala a contribuição<br />

quase integral das mães nas respostas.<br />

O a<strong>do</strong>lescente como sujeito universal não existe. Existe sim um ser que,<br />

em da<strong>do</strong> momento da vida, vivencia um complexo processo de desenvolvimento e<br />

mudanças. O desenvolvimento cognitivo e a organização da personalidade se<br />

integram às vivências <strong>do</strong> corpo e marcam a a<strong>do</strong>lescência como uma etapa<br />

experienciada por to<strong>do</strong>s, embora de maneira diferente por cada indivíduo. Assim, os<br />

processos da a<strong>do</strong>lescência não podem ser considera<strong>do</strong>s universais, pois essa etapa<br />

recebe o imprint <strong>do</strong> contexto histórico onde acontece.<br />

.<br />

A seguir, serão recorta<strong>do</strong>s os diferentes significa<strong>do</strong>s de a<strong>do</strong>lescente,<br />

elabora<strong>do</strong>s por jovens que cometeram homicídio e latrocínio e por mães de<br />

a<strong>do</strong>lescentes autores de ato infracional grave. Vale ressaltar que nas duas<br />

subcategorias eleitas para a análise ficaram evidenciadas diferenças significativas<br />

nas <strong>representações</strong> de cada um <strong>do</strong>s grupos.<br />

Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente ancoradas em aspectos comportamentais<br />

72<br />

12,25


As descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente, expressas a partir <strong>do</strong>s elementos<br />

apreendi<strong>do</strong>s pela entrevista, foram relacionadas, fundamentalmente, a seu<br />

comportamento, qualifica<strong>do</strong> através <strong>do</strong>s seguintes aspectos: jovialidade,<br />

impulsividade/desobediência, inexperiência, situação de risco/conduta infracional.<br />

Apesar de a descoberta da vida ser uma tarefa excitante, os temporais da<br />

a<strong>do</strong>lescência não são uma invenção <strong>do</strong> vazio. Gunther (1999, p.89), comentan<strong>do</strong> o<br />

fato de que os a<strong>do</strong>lescentes comumente deparam com a constatação de que o seu<br />

poder é uma falácia, assim se expressou:<br />

É como se a natureza descarregasse nos a<strong>do</strong>lescentes os apetrechos da<br />

idade adulta, mas a sociedade não os ensinasse a lidar com as novidades,<br />

com as transformações. Assim, no caminho para a idade adulta, os jovens<br />

vivenciam dúvidas, desilusão, solidão.<br />

Efetivamente, a a<strong>do</strong>lescência não é um perío<strong>do</strong> conturba<strong>do</strong> tão-somente<br />

em razão das transformações físicas e psicológicas durante o qual o a<strong>do</strong>lescente<br />

luta com o mun<strong>do</strong> interno e externo para formar a sua identidade. Na verdade, o<br />

novo ciclo vital que se descortina no final da infância sinaliza a chegada a um<br />

território de conquistas.<br />

As fissuras nos contornos que demarcam as relações <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente com<br />

o universo familiar vão se alargan<strong>do</strong>. Os amigos acenam com novos e promissores<br />

relacionamentos e a participação em grupo pode suscitar uma nova imagem ideal de<br />

si. Através das alianças com os grupos de amigos, o a<strong>do</strong>lescente procura afirmar-se<br />

e essa sensação de estar no mun<strong>do</strong> como protagonista de sua história pode<br />

funcionar como uma mola propulsora da jovialidade.<br />

Os a<strong>do</strong>lescentes que participaram deste estu<strong>do</strong> materializaram em suas<br />

falas as considerações teóricas acima levantadas, conceituan<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente por<br />

meio de descrições que agregaram a sua jovialidade ao conturba<strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

emocional que vivenciam.<br />

• A<strong>do</strong>lescente pra mim é uma pessoa sempre alegre. A<br />

gente vai conhecen<strong>do</strong> as coisas novas.<br />

73


• É um rapaz amigo, alegre, namora<strong>do</strong>r.<br />

• A<strong>do</strong>lescente é liberdade, curtir a vida lá fora. É saber<br />

brincar. Ter várias amizades. A<strong>do</strong>lescente é saber viver.<br />

• É uma pessoa confusa. Um cara confuso. É outras coisas<br />

mais pior.<br />

Entretanto, os elementos sociocognitivos que compõem essa<br />

representação social também adentraram o terreno da idealização, quan<strong>do</strong> os<br />

sujeitos desconsideraram sua própria condição de infrator e as especificidades<br />

relativas a essa condição. Convém ressaltar que os a<strong>do</strong>lescentes que ingressam no<br />

mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime tendem a aban<strong>do</strong>nar a escola e a introduzir a droga em seus<br />

hábitos de vida, o que imprime um esta<strong>do</strong> de euforia não correspondente à alegria<br />

genuína, mas sim a uma falsa sensação de liberdade.<br />

• A<strong>do</strong>lescente pra mim é uma pessoa estudiosa.<br />

• É liberdade.<br />

• Eu acho que a<strong>do</strong>lescente é um rapaz respeita<strong>do</strong>r.<br />

• É uma pessoa humilde.<br />

• Uma pessoa que crê na palavra de Deus.<br />

• Não fazer coisa errada.<br />

• A<strong>do</strong>lescente é uma pessoa normal, igual aos outros.<br />

• A<strong>do</strong>lescente é não com drogas ou violência.<br />

Em relação à jovialidade, vale destacar que nenhuma mãe fez qualquer<br />

referência a esse aspecto nas suas descrições <strong>sobre</strong> o a<strong>do</strong>lescente. É bastante<br />

provável que esse fato seja devi<strong>do</strong> a uma imediata associação entre a<strong>do</strong>lescente e<br />

a<strong>do</strong>lescente infrator, experiência <strong>do</strong>lorosa da qual participam diretamente. Mesmo<br />

aquelas mães de outros a<strong>do</strong>lescentes não infratores – o que poderia possibilitar uma<br />

visão positiva <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente – tenderam a fazer a mesma associação. Assim,<br />

nenhum traço da jovialidade <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente ficou em seu registro de memória. Essa<br />

lacuna foi preenchida com imagens de a<strong>do</strong>lescentes educa<strong>do</strong>s, responsáveis e<br />

sérios, sempre muito distantes <strong>do</strong> filho real que conseguiram criar.<br />

• A<strong>do</strong>lescente é estudar.<br />

• A<strong>do</strong>lescente é ser mais educa<strong>do</strong>, saber se comportar.<br />

• A<strong>do</strong>lescente é saber conviver com os outros.<br />

74


• A<strong>do</strong>lescente tem que ser mais calmo. Tem que ser um menino bom.<br />

Tem que ser um menino pensativo.<br />

A travessia para a vida adulta é um caminho de construção da identidade.<br />

Faz parte desse processo a busca da singularidade e a tentativa de diferenciação<br />

<strong>do</strong>s pais, intento que adquire uma importância relevante para o a<strong>do</strong>lescente. A<br />

contestação passa a fazer parte <strong>do</strong> seu repertório comportamental, poden<strong>do</strong><br />

transformar-se em desobediência. É, portanto, uma das causas de a a<strong>do</strong>lescência<br />

ser rotulada uma fase difícil, terreno fértil para as afiadas culpabilizações trocadas<br />

entre pais e filhos.<br />

O a<strong>do</strong>lescente também está sedento de usufruir a vida que se desvela<br />

diante de seus olhos. Para ele, a construção de um plano para o futuro é incogitável,<br />

haja vista que o presente é o concreto e, como ele ainda não elaborou o imediatismo<br />

que o marcava na infância, o seu investimento está volta<strong>do</strong> para o aqui e o agora.<br />

Esses aspectos estiveram presentes na concepção colhida <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente,<br />

amplian<strong>do</strong> novos aspectos de sua representação social. Referências <strong>sobre</strong> a<br />

impulsividade e a autonomia traduziram o senti<strong>do</strong> de independência, desafio e<br />

inconseqüência atribuí<strong>do</strong>s ao a<strong>do</strong>lescente, traduzidas em imagens de um sujeito<br />

arrogante e imperioso, de alguém que reivindica para si a verdade <strong>do</strong>s fatos.<br />

• Ele faz seus atos sem pensar.<br />

• A<strong>do</strong>lescente é uma pessoa impulsiva, não pensa antes de fazer as<br />

coisas. Nunca pensa nas conseqüências. Não pensa no futuro, pensa<br />

só naquele momento.<br />

• O a<strong>do</strong>lescente quer se sentir o <strong>do</strong>no da razão. Ele não segue<br />

conselho de pai nem de mãe. Faz o que vem na cabeça. Quer se<br />

sentir já adulto, quer ser <strong>do</strong>no de si.<br />

Vale destacar que os a<strong>do</strong>lescentes entrevista<strong>do</strong>s, ao descreverem o<br />

sujeito a<strong>do</strong>lescente com as mesmas características que adiante atribuem ao infrator,<br />

deixam vislumbrar a vinculação que estabelecem entre os <strong>do</strong>is conceitos e reiteram<br />

a identidade dúbia com a qual convivem. O adjetivo infrator que qualifica o<br />

substantivo a<strong>do</strong>lescente passa a ser compreendi<strong>do</strong>, ele também, como um<br />

substantivo que dá novo senti<strong>do</strong> ao eu.<br />

75


As mães também apresentaram o a<strong>do</strong>lescente como um sujeito impulsivo<br />

e desobediente, entretanto, suas falas contêm traços distintos das anteriores. Na<br />

confluência entre as esferas conceitual e vivencial, a concepção <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />

expressa pelas mães está impregnada das opiniões que têm de seus filhos.<br />

Algumas de suas respostas deixam entrever os seus sentimentos de mágoa e<br />

cansaço, soma<strong>do</strong>s ao ressentimento por sentir que a família que construíram foi<br />

colocada em plano secundário e pelo grande pesar de não mais conseguir impor ao<br />

filho a sua autoridade.<br />

• A<strong>do</strong>lescente acha que é o <strong>do</strong>no da vida deles. Faz o que bem dá na<br />

cabeça. A gente dá muito conselho e ele não aceita, ele só diz não.<br />

• Eles não tão nem aí com a vida, só pensa neles. Não pensa na<br />

família, nos pais. A mãe fala e eles não tão nem aí.<br />

• Eles não querem mais saber da mãe. Eles acha que os amigos é que<br />

é a vida deles.<br />

• A<strong>do</strong>lescente é uma pessoa muito trabalhoso.<br />

A metamorfose para a fase adulta é inegavelmente um processo de<br />

amadurecimento. Significa dizer que o a<strong>do</strong>lescente que se pretende adulto<br />

comporta-se ainda, em muitos momentos, como criança. Essa realidade ficou<br />

registrada nas narrativas <strong>do</strong>s sujeitos desse estu<strong>do</strong> que fizeram descrições <strong>sobre</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente em bases de justificativa, compreensão e perdão. Assim, é possível<br />

apreender no grupo de a<strong>do</strong>lescentes que a imaturidade a ele e por ele atribuída tem<br />

uma intenção justifica<strong>do</strong>ra de sua conduta, da mesma forma que as mães<br />

entrevistadas, ao descrevê-la, oferecem explicações para o comportamento rebelde<br />

<strong>do</strong> jovem, o que facilita compreendê-lo e prepara o terreno para o perdão.<br />

A<strong>do</strong>lescentes O a<strong>do</strong>lescente é uma pessoa inexperiente. Depois ele<br />

se arrepende <strong>do</strong> que faz / Ele é uma pessoa ainda criança, infantil.<br />

Mães O a<strong>do</strong>lescente é totalmente uma criança. É uma pessoa que<br />

ainda não pensa como os adultos. Não formou completamente a sua<br />

mente / Eles são pessoas que não tem ainda o juízo pronto /<br />

Eles ainda não conseguem saber o que é bom e o que é ruim.<br />

76


A contaminação <strong>do</strong> pensa<strong>do</strong> pelo vivi<strong>do</strong> chamou a atenção quan<strong>do</strong>,<br />

diante da indagação <strong>sobre</strong> o que é a<strong>do</strong>lescente, as mães buscaram associações<br />

diretas com a conduta infracional ou com a situação de risco. Esta associação é<br />

fruto direto de sua experiência e traduz o passo em falso e não percebi<strong>do</strong> que é<br />

da<strong>do</strong> em direção ao <strong>estigma</strong>. A fusão desses conteú<strong>do</strong>s alicerça o mo<strong>do</strong> de sentir e<br />

agir em relação a esse sujeito. Por outro la<strong>do</strong>, a relação feita entre comportamento<br />

de risco (estar nas ruas) e conduta infracional faz parte das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong><br />

da sociedade que comunga com a idéia de que “menino de rua” é marginal.<br />

• Os a<strong>do</strong>lescentes são pessoas que só pensam <strong>do</strong> la<strong>do</strong> erra<strong>do</strong>. Eles<br />

fazem muita coisa errada mesmo, começam a furtar e usar droga.<br />

• É aquele que rouba. Se mistura com os ladrões que manda ele<br />

roubar. Usa arma.<br />

• O a<strong>do</strong>lescente é aquele que rouba pai de família. Só faz o que não<br />

presta.<br />

• É aquele que anda nas ruas e se mistura com quem não é pra se<br />

misturar. Anda pelo meio <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> com amigos que não serve.<br />

Segun<strong>do</strong> Centurião (2001), apesar de nem todas as crianças e<br />

a<strong>do</strong>lescentes que vivem em situação de rua estarem envolvidas com a<br />

criminalidade, existe uma elevada chance de que trilhem esse caminho caso<br />

permaneçam nessa situação, fato que favorece a confluência das <strong>representações</strong><br />

anteriormente mencionadas.<br />

Vale ressaltar, ainda, que os a<strong>do</strong>lescentes, em alguns momentos,<br />

relacionaram a<strong>do</strong>lescente e a<strong>do</strong>lescência. A mesma constatação foi feita por<br />

Albuquerque (2003) em seu estu<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> de<br />

a<strong>do</strong>lescentes grávidas <strong>sobre</strong> gravidez. Os a<strong>do</strong>lescentes deste estu<strong>do</strong>, procuraram<br />

positivar o comportamento <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente diferencian<strong>do</strong>-o, defensivamente, da<br />

conduta infratora que a<strong>do</strong>tam quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> das drogas.<br />

• A<strong>do</strong>lescência é uma coisa que tem de ser valorizada. Coisas boa<br />

como a escola, a família. É uma fase muito legal.<br />

• A<strong>do</strong>lescência é estar na flor da idade, é viver cada instante. É viver a<br />

vida.


Essa descrição projetada no território <strong>do</strong> não-eu resguarda o sujeito de<br />

uma tomada de consciência que poderia desnudar o eu real.<br />

Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente ancoradas em aspectos vivenciais<br />

Nessa subcategoria os grupos elaboraram suas descrições a partir de<br />

aspectos vivenciais <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. A idéia <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente como um ser vulnerável<br />

foi trazida apenas pelas mães. As imagens <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente como uma criança foram<br />

transportadas para a infância <strong>do</strong> filho, incluin<strong>do</strong> recordações <strong>sobre</strong> a dureza de sua<br />

vida e as lacunas afetivas que foram cavadas pelas necessidades vividas,<br />

demonstran<strong>do</strong> o entendimento de que a solidão experimentada pelo filho tornaram-<br />

no um ser exposto às influências daqueles que ocuparam os espaços vazios. A<br />

consciência e a culpa pelo aban<strong>do</strong>no que impuseram ao filho são fotografadas nas<br />

<strong>representações</strong> tecidas.<br />

• A<strong>do</strong>lescente é uma pessoa que precisa de amor e carinho. Precisa de<br />

educação <strong>do</strong>s pais e também da escola.<br />

• A<strong>do</strong>lescente é uma criança sofrida. Uma criança criada totalmente só,<br />

sem a companhia <strong>do</strong> pai e com pouca companhia da mãe. Ele precisa<br />

de muita compreensão <strong>do</strong>s pais.Ele faz o que os outros botarem na<br />

memória dele<br />

Vê-se que a idéia genérica de a<strong>do</strong>lescente está impregnada <strong>do</strong>s matizes<br />

de sua vida vez que as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> de um objeto social contém a<br />

subjetividade <strong>do</strong>s sujeitos.<br />

4.1.2 Descrições <strong>sobre</strong> A<strong>do</strong>lescente Infrator<br />

A segunda investigação feita junto aos sujeitos introduziu diretamente o<br />

tema de interesse desse estu<strong>do</strong>, procuran<strong>do</strong>, nesse momento, apreender como<br />

representam o a<strong>do</strong>lescente que comete ato infracional por meio da verbalização <strong>do</strong>


desenho mental internaliza<strong>do</strong>. Verificou-se pelas respostas que os sujeitos<br />

descreveram o a<strong>do</strong>lescente infrator com foco, novamente, em aspectos<br />

comportamentais e vivenciais.<br />

Tabela 2 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />

descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de<br />

a<strong>do</strong>lescentes autores de atos infracionais e mães.<br />

Sujeitos A<strong>do</strong>lescentes Mães Total<br />

Subcategorias F % F % F %<br />

Comportamentais<br />

68 80<br />

48 80<br />

116 80<br />

Vivenciais<br />

17 20 12 20 29 20<br />

Total<br />

p < 0,01<br />

85 100 60 100 145 100<br />

X 2<br />

3.44<br />

0.86<br />

A Tabela 2 mostrou que ambos os grupos destacaram aspectos <strong>do</strong><br />

comportamento como os mais significativos para descrever o a<strong>do</strong>lescente infrator e,<br />

apesar <strong>do</strong> número diferente de unidades temáticas expressas pelos grupos, as<br />

freqüências foram elevadas e coincidentes em 80%. A seguir, serão recorta<strong>do</strong>s os<br />

significa<strong>do</strong>s de a<strong>do</strong>lescente infrator elabora<strong>do</strong>s por a<strong>do</strong>lescentes que cometeram<br />

homicídio ou latrocínio e por mães de a<strong>do</strong>lescentes autores de ato infracional grave.<br />

Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator ancoradas em aspectos<br />

comportamentais<br />

O Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente considera ato infracional grave<br />

toda conduta que corresponde ao crime ou contravenção penal. A partir dessa<br />

prática, o a<strong>do</strong>lescente apreendi<strong>do</strong> pela polícia ingressa no sistema socioeducativo,<br />

apenas sen<strong>do</strong> priva<strong>do</strong> de liberdade quan<strong>do</strong> a Justiça não dispuser de medida mais<br />

adequada.


Na descrição <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator baseada em aspectos<br />

comportamentais, verificou-se que a<strong>do</strong>lescentes e mães incluíram em seus<br />

discursos termos da linguagem jurídica <strong>sobre</strong> a prática infracional. É possível<br />

identificar nessas falas uma diferença de posicionamento implícita no conteú<strong>do</strong> das<br />

mensagens. No primeiro caso, o a<strong>do</strong>lescente infrator foi associa<strong>do</strong> diretamente ao<br />

ato infracional ; já no segun<strong>do</strong>, os sujeitos emitiram um juízo de valor <strong>sobre</strong> o<br />

a<strong>do</strong>lescente infrator quan<strong>do</strong> descreveram o seu comportamento.<br />

A<strong>do</strong>lescentes A<strong>do</strong>lescente infrator é aquele que comete delitos. / É<br />

aquele que rouba, usa drogas. / É aquele que mata. / É uma a<strong>do</strong>lescente<br />

que comete crimes. / Infrator é essas coisas que a gente comete. / Uma<br />

pessoa que comete alguma coisa grave. / É uma pessoa que não respeita<br />

as pessoas.<br />

A<strong>do</strong>lescentes Considero um ladrão. / Procura fazer coisa errada em<br />

vez de viver numa boa. / É o a<strong>do</strong>lescente que comete um erro. Faz um<br />

boca<strong>do</strong> de putaria. Se mete em negócio de vagabundagem com coisas<br />

que não é pra fazer. / É aquele que só faz besteira. / Acho ele uma<br />

máquina destrui<strong>do</strong>ra.<br />

Mães É esses que roubam, assaltam e matam as pessoas. / É<br />

aquele que usa muita droga. / É o jovem que entra no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. /<br />

É aquele que bole nas coisas <strong>do</strong>s outros. Não tem respeito pelas pessoas<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. / É aquele que mata um pai de família.<br />

Mães É aquele que só procura o la<strong>do</strong> erra<strong>do</strong>. /Aqueles que vivem<br />

fazen<strong>do</strong> maldade. / É uma pessoa perversa. Se envolve com coisas que<br />

não prestam pra nada. Só se mete em confusão sem motivo. / É essas<br />

pessoas que não quer nada com a vida.<br />

A apresentação <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator contém a autodescrição. As<br />

definições que formam <strong>sobre</strong> si próprio, emergidas das <strong>representações</strong> que circulam<br />

no meio social, são objetivadas de forma espontânea. A imagem de uma “máquina<br />

destrui<strong>do</strong>ra” para falar de uma pessoa está prenhe de to<strong>do</strong>s os repúdios que a<br />

sociedade alimenta <strong>sobre</strong> o jovem que cometeu um ato de transgressão às leis.<br />

Essas definições convertidas em imagens (“O a<strong>do</strong>lescente infrator é um ladrão, uma<br />

pessoa que só faz besteira”) também comportam uma noção de imobilidade,<br />

atreladas mais à condição de ser <strong>do</strong> que de estar.


O a<strong>do</strong>lescente infrator também foi apresenta<strong>do</strong> como uma pessoa<br />

desobediente, sen<strong>do</strong> que essa desobediência adquiriu significa<strong>do</strong>s diferentes entre<br />

os grupos. Para os a<strong>do</strong>lescentes, o ato esteve relaciona<strong>do</strong> às leis, ao passo que,<br />

para as mães, restringiu-se à desobediência aos pais. O enfraquecimento da<br />

autoridade <strong>do</strong>s pais, em paralelo ao recrudescimento <strong>do</strong> espírito de autonomia <strong>do</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente, nega àqueles a legitimidade <strong>do</strong> poder de imposição de normas, base<br />

de confronto necessária à construção de limites. Nesse vazio de cobranças que se<br />

cria, o a<strong>do</strong>lescente avança, adentran<strong>do</strong> muitas vezes o campo da transgressão das<br />

regras de convivência social. É quan<strong>do</strong> o juiz, na condição de autoridade legitimada,<br />

julgará sua conduta, num explícito demonstrativo da hierarquia <strong>do</strong> poder. Por ser o<br />

juiz a autoridade real da qual o a<strong>do</strong>lescente não pode escapar, a desobediência à lei<br />

adquire concretude. Aos pais, cabe o lamento da sua impotência perante a rebeldia<br />

<strong>do</strong> filho, recua<strong>do</strong>s à posição de especta<strong>do</strong>res dessa trajetória.<br />

A<strong>do</strong>lescentes Infrator é aquele que não vai corretamente com a lei.<br />

Não vai direito nas leis. / É aquele que erra e paga numa unidade dessas.<br />

/ Infrator é a pessoa que despreza as leis. / É aquele que não anda no<br />

caminho das leis. Não vai pelo caminho certo.<br />

Mães É aquele que não obedece pai nem mãe. / É desobediente. / É<br />

aquele que não entende pai nem mãe nem ninguém. / Infrator é aquele<br />

que não escuta conselho. / É aquele que faz as coisas que o mun<strong>do</strong><br />

velho manda (amigos).<br />

A percepção <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator como uma pessoa impulsiva foi<br />

elaborada por eles próprios, uma vez que apenas em uma das respostas <strong>do</strong> grupo<br />

de mães esteve presente.<br />

• É a pessoa que não pára pra pensar.<br />

• Infrator é uma pessoa que falta pensamento.<br />

• É aquele que age por impulso. Faz coisa errada e não pode voltar<br />

atrás. Procura logo um caminho que dê tu<strong>do</strong> mais fácil.<br />

Um olhar mais demora<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> esses depoimentos torna possível<br />

identificar na conduta transgressora uma interseção <strong>do</strong>s aspectos <strong>do</strong><br />

comportamento imediatista da criança com o comportamento desafia<strong>do</strong>r <strong>do</strong>


a<strong>do</strong>lescente. A utilização desse recurso discursivo acaba por justificar e naturalizar<br />

a transgressão, poupan<strong>do</strong> o sujeito de um confronto direto com sua autocrítica.<br />

Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator ancoradas em aspectos vivenciais<br />

Na descrição <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator baseada em aspectos vivenciais,<br />

uma outra versão desse a<strong>do</strong>lescente, apresentada não mais através de seu<br />

comportamento e sim de sua história, desvelou uma nova faceta de sua imagem.<br />

Um a<strong>do</strong>lescente tatua<strong>do</strong> pelas faltas da vida, a quem foram negadas oportunidades<br />

<strong>sociais</strong> e familiares, emergiu nas falas <strong>do</strong>s sujeitos entrevista<strong>do</strong>s, como registros de<br />

uma experiência cujas marcas não ficaram para trás.<br />

Ambos os grupos reconheceram a ausência da família, mais<br />

especificamente <strong>do</strong>s pais no cuida<strong>do</strong> <strong>do</strong>s filhos, como um fator relevante para<br />

desencadear o comportamento transgressor futuro <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. A precariedade<br />

desse cuida<strong>do</strong> tanto pode estar relacionada à ausência quanto à inadequação da<br />

conduta paterna, um drama que se torna mais severo quan<strong>do</strong> se trata de família de<br />

baixa renda, em que o enfrentamento <strong>do</strong>s problemas cotidianos, na maioria das<br />

vezes, é bem mais difícil e as alternativas de compensação que os filhos podem<br />

encontrar, mais escassas. Mercy et al (2003, p.33) destacaram que o<br />

“monitoramento e a supervisão deficientes em relação à criança por parte <strong>do</strong>s pais e<br />

o uso de punições severas para disciplinar as crianças são fortes prognósticos de<br />

violência durante a a<strong>do</strong>lescência e fase adulta“.<br />

A<strong>do</strong>lescentes A<strong>do</strong>lescente infrator é uma pessoa que não tem<br />

apoio familiar. Uma pessoa que não tem o diálogo com alguém pra lhe<br />

explicar o que é certo e o que é erra<strong>do</strong>. / É uma criança que tem de ter o<br />

cuida<strong>do</strong> <strong>do</strong> pai e da mãe. / É o cara que não teve uma chance na vida.<br />

Uma pessoa que não tem escola nem amigos.<br />

Mães É esses que não têm apoio <strong>do</strong>s pais. Ele não tem apoio<br />

da família nem <strong>do</strong>s irmãos. / É uma pessoa que não tem um<br />

acompanhamento, não tem uma instrução familiar. / É aquele que não é<br />

acompanha<strong>do</strong> desde pequeno. Se você ensinar, ele não vai fazer coisa<br />

errada.


O a<strong>do</strong>lescente infrator pari<strong>do</strong> dessas vivências é uma pessoa rebelde e<br />

sofrida. É lembra<strong>do</strong> também como uma criança, provavelmente pela compreensão<br />

que os sujeitos construíram de que o aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> qual foi vítima não lhe ofereceu<br />

suporte para ultrapassar a etapa da infância.<br />

A<strong>do</strong>lescentes A<strong>do</strong>lescente infrator é uma pessoa que se encontra com<br />

um vazio. / Uma pessoa com um problema que não sabe como resolver. /<br />

Uma pessoa que na sua infância passou por muitos problemas.<br />

Mães Um infrator é aquele que é revolta<strong>do</strong> com a vida. Um cara<br />

perdi<strong>do</strong>. Uma criança que não pensa.<br />

A descrição de a<strong>do</strong>lescente infrator comporta em seu interior os próprios<br />

sujeitos com suas <strong>do</strong>res, os seus conflitos, além de suas crenças de causalidade <strong>do</strong><br />

fenômeno. Ao se referir ao processo de ancoragem, Moscovici (2003, p.61)<br />

imprimiu-lhe uma qualidade icônica afirman<strong>do</strong> que “é quase como que ancorar um<br />

bote perdi<strong>do</strong> em um <strong>do</strong>s boxes (pontos sinaliza<strong>do</strong>res) de nosso espaço social”.<br />

4.1.3 Causas <strong>do</strong> Ingresso no Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Crime<br />

A terceira investigação procurou apreender a compreensão <strong>do</strong>s sujeitos<br />

no que tange aos fatores determinantes para o ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> crime, através de uma indagação que os convi<strong>do</strong>u a encontrar explicações para<br />

essa realidade. O grande número das explicações dadas abrangeu os mun<strong>do</strong>s<br />

interno e externo <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator, esforço empreendi<strong>do</strong> pelos sujeitos para<br />

dar conta <strong>do</strong> complexo multifatorial que desenha a trajetória da conduta infracional.<br />

A relação entre fatores individuais e contextuais que influenciam o<br />

comportamento humano compôs o quadro de razões que os sujeitos modelaram em<br />

busca da definição da verdade. Assim, as quatro subcategorias nomeadas para<br />

retratar o pensamento <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grupos entrevista<strong>do</strong>s condensaram as explicações<br />

diversas contidas em suas respostas, visão que a Tabela 3 apresenta, transcrita<br />

numericamente


Tabela 3 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />

causas <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de<br />

a<strong>do</strong>lescentes autores de atos infracionais e mães.<br />

Sujeitos A<strong>do</strong>lescentes Mães Total<br />

Subcategoria F % F % F %<br />

Sociointeracionais 81 42,87 53 37,07 134 40,37 5,85<br />

Familiares 40 21,16 43 30,07 83 25,00 0,10<br />

Psicológicas 39 20,63 31 21,68 70 21,08 0,91<br />

29 15,34 16 11,18 45 13,55 3,75<br />

Socioeconômicas<br />

Total<br />

p < 0,01<br />

189 100 143 100 332 100<br />

Na subcategoria Sociointeracionais, a<strong>do</strong>lescentes e mães destacaram a<br />

importância da influência exercida pelos amigos, ampliada pela experiência de vida<br />

nas ruas e pelas muitas circunstâncias a ela relacionadas, fazen<strong>do</strong> uma relação<br />

direta entre uso de drogas e prática infracional. Na subcategoria Familiares, os<br />

sujeitos citaram o ambiente familiar, suas crises relacionais e lacunas afetivas como<br />

fonte <strong>do</strong>s conflitos vivi<strong>do</strong>s pelos a<strong>do</strong>lescentes, atribuin<strong>do</strong> a esses fatores a razão <strong>do</strong><br />

desapego ao lar, saída para a rua e ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. Na subcategoria<br />

Psicológicas, os grupos ancoraram as explicações para o comportamento anti-<br />

social <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente em fatores que levam em conta características psicológicas e<br />

comportamentais. Já na subcategoria Socioeconômicas, vincularam as suas<br />

justificativas aos fatores <strong>sociais</strong> mais amplos que influenciam o seu comportamento,<br />

diretamente relaciona<strong>do</strong>s as suas carências <strong>sociais</strong> e financeiras.<br />

A leitura da Tabela 3 demonstra que ambos os grupos apontaram os<br />

fatores sociointeracionais como os que mais influenciam o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

crime e o valor <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> (5.85) informa que foram os a<strong>do</strong>lescentes que mais<br />

contribuíram nas respostas. Os fatores familiares e psicológicos apresentaram uma<br />

diferença estatística menos significativa nas respostas <strong>do</strong>s grupos, o que pode ser<br />

confirma<strong>do</strong> pelos valores <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> (0.10 e 0.91). Mães e a<strong>do</strong>lescentes<br />

procuraram considerar fatores amplos e importantes na determinação <strong>do</strong><br />

X 2


envolvimento <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente com a criminalidade, extrain<strong>do</strong> de sua história de vida<br />

e <strong>do</strong>s saberes eruditos circulantes as suas explicações. De um mo<strong>do</strong> geral,<br />

creditaram aos fatores socioeconômicos o menor peso nessa determinação.<br />

Sposato (2001, p.41), comentan<strong>do</strong> as falhas <strong>do</strong> sistema socioeducativo e<br />

os resulta<strong>do</strong>s de uma pesquisa junto a a<strong>do</strong>lescentes acusa<strong>do</strong>s da autoria de atos<br />

infracionais na cidade de São Paulo, abrangen<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s relativos à escolaridade,<br />

procedência e renda, afirmou:<br />

Talvez seja justamente essa exclusão social e jurídica a principal causa<br />

para o envolvimento com o crime, e não fatores pessoais e<br />

comportamentais <strong>do</strong>s jovens, como se procurou afirmar também<br />

historicamente através da medicina, psiquiatria e pedagogia.<br />

Considera<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s esses pontos, em seguida, serão apresentadas as<br />

<strong>representações</strong> <strong>do</strong>s grupos pela descrição mais detalhada de cada uma das<br />

subcategorias.<br />

Causas para o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime ancoradas em fatores<br />

sociointeracionais<br />

Nesta subcategoria os sujeitos elaboraram suas explicações para o<br />

ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente na criminalidade, creditan<strong>do</strong> aos fatores sociointeracionais<br />

a cota mais elevada. Na a<strong>do</strong>lescência a vinculação ao grupo de amigos adquire<br />

grande significa<strong>do</strong> para os jovens em razão de seu interesse de se diferenciar da<br />

família. Famílias agrega<strong>do</strong>ras certamente oferecem um suporte mais seguro para<br />

que o a<strong>do</strong>lescente adentre os grupos de iguais e retorne ao seu grupo <strong>do</strong>méstico,<br />

vivencian<strong>do</strong> os conteú<strong>do</strong>s de cada espaço sem perder as referências positivas de<br />

cada um deles. Quan<strong>do</strong>, por razões múltiplas, a família não mais se configura como<br />

um lugar acolhe<strong>do</strong>r, o a<strong>do</strong>lescente não faz o caminho de volta, fican<strong>do</strong> muito mais<br />

vulnerável às influências <strong>do</strong>s grupos.<br />

A convivência com os amigos pode ser considerada bastante positiva na<br />

a<strong>do</strong>lescência e fortalece to<strong>do</strong> o processo de socialização já inicia<strong>do</strong> na infância.


Entretanto, a convivência com amigos delinqüentes ou mesmo com aqueles que<br />

estão em situação de risco iminente para a delinqüência (aban<strong>do</strong>no escolar, uso de<br />

drogas, porte de arma) pode ter efeitos deletérios <strong>sobre</strong> o a<strong>do</strong>lescente.<br />

Um outro aspecto também importante a ser considera<strong>do</strong> como defini<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime é a presença de adultos<br />

delinqüentes no seu grupo de convivência. Estes, na maioria das vezes, passam a<br />

exercer uma influência mais marcante no grupo, legitiman<strong>do</strong> a soberania da idade<br />

no status <strong>do</strong> poder. Dessa posição de autoridade emana a imposição de normas e a<br />

obediência ao líder passa a ser uma questão de <strong>sobre</strong>vivência. Referendan<strong>do</strong> essa<br />

realidade, os grupos aqui estuda<strong>do</strong>s reconheceram a força <strong>do</strong> adulto, chegan<strong>do</strong> a<br />

isentar o a<strong>do</strong>lescente de sua responsabilidade pelos seus atos.<br />

A<strong>do</strong>lescentes Às vezes é quase porque foi obriga<strong>do</strong> a fazer aquilo. /<br />

Eu acho que é porque ele pega corda <strong>do</strong>s mais grande. / É os outros que<br />

manda e ele faz. Muitos de menor tá aqui preso por causa disso. Tá de<br />

inocente mesmo.<br />

Mães Tem muito de maior que bota a criança na perdição. Mesmo que<br />

eles não queira os de maior incentiva. / Os de maior pega as crianças<br />

inocentes e joga no crime. / O meu entrou aqui sem dever. Esse meu diz<br />

que matou, mas não fez isso. Tá aqui de inocente.<br />

As respostas <strong>do</strong>s grupos estuda<strong>do</strong>s, no que tange à investigação da<br />

causalidade, contêm diversas considerações, com destaque especial para um<br />

elemento comum de suas experiências: a rua. Como amplo espaço de socialização<br />

<strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, esta comporta to<strong>do</strong>s os demais elementos que,agrega<strong>do</strong>s, são<br />

determinantes da prática infracional .<br />

A<strong>do</strong>lescentes Amizades é o que mais influi .Se envolve com colegas<br />

que não são amigos./ A rua é muito importante. Aí, entra no crime que<br />

não é pra entrar. Aí vai provar uma coisa que ainda não é provada. Um<br />

sujeito atravessou minha vida que se transformou num inferno./Muitos de<br />

maior bota os menor de laranja. Cometi muita besteira por influência de<br />

amigos./ Devi<strong>do</strong> às minhas companhias eu roubei e matei.<br />

Mães Se ele andar de turminha nunca dá certo. Só faz coisa errada.<br />

Só os amigos que faz a cabeça deles./ Muitos não procura amizades com<br />

pessoas ótimas. A gente fala pra eles saírem das ruas mas eles cresce


no meio <strong>do</strong>s amigos/. Porque eles se acompanha <strong>do</strong>s de maior que<br />

manda eles fazer o que não é pra fazer.<br />

As drogas se agregam aos elementos rua e amizades acima<br />

menciona<strong>do</strong>s, passan<strong>do</strong> a fazer parte desse importante tripé explicativo para a<br />

prática infracional. O uso de drogas, hoje parte da rotina de muitos a<strong>do</strong>lescentes,<br />

pode facilmente transformar-se em uso abusivo, o que, soma<strong>do</strong> aos fatores já<br />

menciona<strong>do</strong>s, pode configurar-se como um passo definitivo em direção à<br />

criminalidade. Um outro indica<strong>do</strong>r que se agrega a esse cenário é o fato de que,<br />

cada vez mais ce<strong>do</strong>, os jovens vêm ten<strong>do</strong> acesso a armas de fogo, combinação<br />

perigosa e de impacto nas estatísticas referentes à prática infracional.<br />

A<strong>do</strong>lescentes Tu<strong>do</strong> começa pelas drogas. Começa a beber. Aí eles<br />

passam a ser infratores. Assassinar, roubar, fazer lesões sérias. / Uma<br />

pessoa drogada faz qualquer ato infracional. A droga é o fim da vida de<br />

uma pessoa. Você se prostitui. / Fui se degradan<strong>do</strong> aos poucos.<br />

Mães Muita droga. / Outra coisa é a droga. / Depois que ele usa<br />

droga não sabe mais o que fazer. Começa a usar droga e aí vai.<br />

Os a<strong>do</strong>lescentes que participaram deste estu<strong>do</strong> conceberam o<br />

a<strong>do</strong>lescente infrator como um usuário de drogas, estabelecen<strong>do</strong> uma associação<br />

estreita entre drogas e infração. A experiência <strong>do</strong> trabalho com a<strong>do</strong>lescentes<br />

priva<strong>do</strong>s de liberdade revela que o contato com as drogas é fato comum em sua<br />

vida. No ambiente <strong>do</strong>méstico, já se desenham as primeiras lições que em seguida<br />

serão reforçadas pelo ambiente social mais próximo. As mães fizeram pouca<br />

referência às drogas como causa <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. Assim, não<br />

comprometeram esta realidade de suas casas com a cadeia sucessiva de eventos<br />

que pode ser deflagrada a partir daí, ten<strong>do</strong> em vista que o uso de drogas por parte<br />

<strong>do</strong>s pais, freqüentemente, está acompanha<strong>do</strong> pela violência <strong>do</strong>méstica, sen<strong>do</strong> esta<br />

um estímulo inexorável à permanência de crianças e a<strong>do</strong>lescentes na rua.<br />

Causas para o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime ancoradas em fatores<br />

familiares


O ambiente familiar é um fator preponderante para o desenvolvimento <strong>do</strong>s<br />

filhos e influi decisivamente no comportamento <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes. Um baixo nível de<br />

coesão familiar e a presença <strong>do</strong>s conflitos constantes entre pais e filhos afetam<br />

sensivelmente o comportamento social e emocional deste últimos.<br />

A<strong>do</strong>lescentes e mães visualizaram um conjunto similar de vivências<br />

familiares que, segun<strong>do</strong> suas percepções, culminam com o ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />

no mun<strong>do</strong> crime. Certo é que, no perfil de uma família, muitas outras se enquadram.<br />

A desarmonia das relações que obscurecem e eliminam o lugar <strong>do</strong> afeto; as<br />

separações <strong>do</strong>s casais que dão lugar a novos e, às vezes, não deseja<strong>do</strong>s rearranjos<br />

familiares; as muitas ausências <strong>do</strong>s pais relacionadas por vezes a motivos evidentes<br />

e justifica<strong>do</strong>s, outras não, mas que igualmente cavam um vazio real; a inevitável<br />

desobediência da juventude, eterna medição de forças e gera<strong>do</strong>ra de desconforto<br />

em ambos os la<strong>do</strong>s; a rua, eleita pelos a<strong>do</strong>lescentes como um espaço de<br />

convivência e aprendizagem são fatores reconhecidamente desagrega<strong>do</strong>res.<br />

A<strong>do</strong>lescentes Mais é a criação <strong>do</strong>s pais, os problemas. Eles não<br />

convive bem no mesmo habitat. O cara precisa de apoio e não tem. Aí<br />

fica mais revolta<strong>do</strong>. / Às vezes o pai é alcoólatra e a mãe também. / Pais<br />

separa<strong>do</strong>s não tão ali encaminhan<strong>do</strong> pra ele estudar.<br />

Mães No caso <strong>do</strong> meu filho, eu não podia cuidar dele. Vivia<br />

trabalhan<strong>do</strong> e ele mais na rua. / Se for bem preparada a estrutura familiar,<br />

nada vai acontecer. / Quan<strong>do</strong> falta apoio acontece muita coisa ruim na<br />

vida deles. Até por falta de carinho <strong>do</strong>s pais. E assim eles vão se<br />

soltan<strong>do</strong>.<br />

A<strong>do</strong>lescentes Só quer que seja suas opiniões. Ele só quer ser o centro.<br />

Ele é o ego. Não sabe aceitar as pessoas como tem de ser. / Ele se torna<br />

uma pessoa rígida e não aceita crítica positiva. É só a vontade dele. Tu<strong>do</strong><br />

tem de ser da minha forma.<br />

Mães Eu procurava tirar da rua e ele não aceitava. / A gente<br />

aconselha mas ele faz erra<strong>do</strong> de novo. Porque eles não ouvem nossos<br />

conselhos. / Eles começam a entrar no mun<strong>do</strong> da marginalização.<br />

Exatamente porque não obedece os pais. Isso gera incompreensão, tu<strong>do</strong><br />

isso de ruim.<br />

Mais uma vez, é possível verificar a ênfase dada pelas mães à<br />

desobediência <strong>do</strong>s filhos e ao descaso com os conselhos paternos, itens aponta<strong>do</strong>s


como motivo importante para o ingresso <strong>do</strong>s jovens no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime, questão<br />

que já havia si<strong>do</strong> destacada quan<strong>do</strong> descreveram o a<strong>do</strong>lescente infrator.<br />

Causas para o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime ancoradas em fatores<br />

psicológicos<br />

A referência a fatores psicológicos como explicação para a entrada no<br />

mun<strong>do</strong> da criminalidade demonstrou o esforço que os sujeitos realizaram para<br />

compreender o fenômeno aborda<strong>do</strong>. Os elementos utiliza<strong>do</strong>s para dar conta da<br />

problemática (prazer, natureza humana, demônio, impulsividade) simplificaram a<br />

questão e deixaram ao cargo de outros saberes o desvelamento de novos<br />

determinantes. Para os a<strong>do</strong>lescentes, os motivos pessoais estiveram relaciona<strong>do</strong>s<br />

ao prazer/desejo, alcança<strong>do</strong>s através da conduta anti-social. Quan<strong>do</strong> se referiram às<br />

razões que lhes escapam ao controle, os a<strong>do</strong>lescentes consideraram o<br />

comportamento anti-social como algo intrínseco à fase da a<strong>do</strong>lescência.<br />

• Outros entra só por aventura. Outros faz por gostar. Tem vontade.<br />

Dá prazer fazer aquilo. Quan<strong>do</strong> prova se acostuma. Aí vai até<br />

continuar. Rouba, mata. Faz porque quer aparecer, pra ficar mais<br />

respeita<strong>do</strong>.<br />

• Errar a gente erra, porque errar é humano. Isso é uma fase que a<br />

gente passa na vida. Eu acho que é coisa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> mesmo. É da<br />

vida. O que eu fiz é porque antes eu não pensava. A gente faz isso<br />

por fraqueza da cabeça.<br />

As mães ofereceram explicações relacionadas ora à natureza humana,<br />

ora a sua religiosidade, insistin<strong>do</strong> na isenção de culpa <strong>do</strong> filho infrator e colocan<strong>do</strong>-o,<br />

por meio da inversão de papéis, na condição de vítima.<br />

• Às vezes ele já tem aquela sina de fazer o mal. É da natureza deles.<br />

Às vezes não é nem que eles queira fazer. É porque o demônio<br />

chama. Porque pro diabo, tu<strong>do</strong> é fácil.<br />

• Às vezes a pessoa obriga eles a fazer. Quan<strong>do</strong> eles mata, às vezes é<br />

a pessoa que insiste. A própria pessoa que morre insiste. Insiste até<br />

ele fazer o que não era pra fazer. Exatamente porque o a<strong>do</strong>lescente<br />

não tem juízo na cabeça.


O comportamento humano é muito complexo e resultante da interação de<br />

fatores biológicos, psicológicos e <strong>sociais</strong>. O discurso científico esclarece, de forma<br />

elaborada e fundamentada em estu<strong>do</strong>s e pesquisas, os elementos que determinam<br />

a conduta anti-social <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, relacionan<strong>do</strong>-a a cada um <strong>do</strong>s componentes<br />

da dimensão biopsicossocial, em separa<strong>do</strong> ou a partir de suas interconexões. Na<br />

mesma direção, em relação aos fatores biológicos, Mercy et al (2002) fizeram<br />

referência a estu<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> danos neurológicos associa<strong>do</strong>s à gravidez e ao parto que<br />

podem levar ao comportamento violento, assim como Ballone (2003) destacou o<br />

transtorno de conduta na psiquiatria da infância e a<strong>do</strong>lescência como responsável<br />

pela prática de atividades delituosas. Por fim, Winnicott (1994) enfatizou aspectos<br />

psicodinâmicos, afirman<strong>do</strong> que crianças submetidas à privação de afetos podem<br />

desenvolver comportamentos anti-<strong>sociais</strong>.<br />

A literatura internacional aborda o tema <strong>do</strong> comportamento anti-social,<br />

levan<strong>do</strong> em consideração aspectos legais e psíquicos. De uma forma ou outra, esse<br />

conhecimento circula no espaço social, sen<strong>do</strong> apropria<strong>do</strong> pelo cidadão leigo que<br />

procura atribuir-lhe um tom de familiaridade e elabora as mais diversas<br />

interpretações da realidade.<br />

Causas para o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime ancoradas em fatores<br />

socioeconômicos<br />

O crescimento econômico, em movimento inverso à distribuição de renda,<br />

gera a expansão <strong>do</strong> empobrecimento de camadas significativas da população. A<br />

instalação de políticas de proteção social como paliativo para a pobreza e não como<br />

estratégia de enfrentamento dessa condição produz um sentimento latente de<br />

tensão e revolta que tenderá a se manifestar de uma forma explícita ou não. A<br />

realidade nacional apresenta ainda a existência de um clima generaliza<strong>do</strong> de<br />

corrupção e impunidade, e as muitas interconexões que são formadas a partir daí<br />

repercutem no comportamento <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes brasileiros.<br />

Os sujeitos deste estu<strong>do</strong> visualizaram o a<strong>do</strong>lescente infrator como<br />

membro de uma família que vivencia dificuldades financeiras e que, por conseguinte,<br />

não consegue prover as necessidades <strong>do</strong> filho. O resulta<strong>do</strong> é que a perspectiva


sedutora de dinheiro por meios ilícitos ganha consistência. Atente-se para o fato de<br />

que o padrão consumista que cria o desejo por uma busca de acumulação infinita de<br />

bens materiais, ao la<strong>do</strong> da dura realidade de um mun<strong>do</strong> cada vez com menos<br />

empregos, encarrega-se de inviabilizar o direito de sonhar para grande parte da<br />

população. O a<strong>do</strong>lescente, desacredita<strong>do</strong> de esperar pela família, decide ele próprio<br />

modificar sua realidade.<br />

A<strong>do</strong>lescentes Muitos entra por necessidade, por causa da condição<br />

financeira. Quer uma roupa. Quer curtir. A mãe e o pai não tem como<br />

ajudar. Aí ele vai e rouba e até mesmo comete latrocínio.<br />

Mães Ele sente querer as coisas e a gente não poder dar. A gente<br />

vive num meio muito baixo./ O mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime é mais fácil <strong>do</strong> que<br />

arranjar emprego. Não precisa de sacrifício nem suor. Corre frouxo./ O<br />

crime não precisa de diploma.<br />

Os sujeitos também entenderam que a ociosidade <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente é um<br />

indicativo para a criminalidade. Reportaram-se à falta de escola e emprego, mas<br />

nenhum <strong>do</strong>s sujeitos levou em consideração o desemprego <strong>do</strong>s pais, o que, na<br />

verdade, lhes mina a condição de prover suas famílias.<br />

A<strong>do</strong>lescente Tu<strong>do</strong> influi pro cara entrar nessa vida. Falta emprego.<br />

Deixei de estudar. As vezes um infrator comete atos infracionais porque<br />

falta alguma coisa. Tem que arrumar escola.<br />

Mãe Não tem emprego pra esses a<strong>do</strong>lescentes. Se tivesse emprego<br />

eles botaria a cabeça no lugar. Se você não tiver o 2º grau não se<br />

emprega.<br />

O crescente populacional, em descompasso com a capacidade de<br />

empregabilidade <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, faz com que o investimento das políticas públicas em<br />

profissionalização acabe por cair no vazio. Enfatize-se que o suporte financeiro das<br />

famílias das classes mais favorecidas evita que o a<strong>do</strong>lescente dependa <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

de trabalho muito ce<strong>do</strong>, razão por que, apesar de outros conflitos que possam<br />

vivenciar, permanecem nas suas casas.<br />

4.1.4 Perspectiva de mudança<br />

A quarta investigação explorou a percepção <strong>do</strong>s sujeitos <strong>sobre</strong> a<br />

possibilidade de o a<strong>do</strong>lescente infrator mudar de vida. Os grupos identificaram cinco


opções nesse senti<strong>do</strong> que incluíram tanto o esforço individual de mudança quanto as<br />

redes ampliadas de apoio, constituídas pela família, instituição socioeducativa e<br />

sociedade, ainda consideran<strong>do</strong> em menor proporção, a ajuda espiritual.<br />

Nessa categoria, os sujeitos registraram as suas crenças e descrenças na<br />

mudança, procuran<strong>do</strong> demonstrar os meios que vislumbram necessários para tanto.<br />

A mudança nesse caso é, na verdade, mais complexa <strong>do</strong> que lhes possa parecer.<br />

Deixar de ser infrator é bem mais <strong>do</strong> que aban<strong>do</strong>nar o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime; é também<br />

mostrar a si próprio e ao outro ser capaz de romper com o carimbo da identidade<br />

marginal. Ao sair da argumentação teórica para a prática, a mudança envolve mais<br />

que as receitas simplificadas atreladas ao poder da boa vontade ou oportunidades<br />

externas. As subcategorias nomeadas agruparam as respostas <strong>do</strong>s grupos,<br />

apresentadas na Tabela 4, da qual consta um panorama numérico geral dessas<br />

<strong>representações</strong>.<br />

Tabela 4 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />

perspectiva de mudança e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescente autores<br />

de atos infracionais e de mães.<br />

Sujeitos A<strong>do</strong>lescentes Mães Total<br />

Subcategorias F % F % F %<br />

Pessoal 69 43,12 55 37,17 124 40,26 1,58<br />

Social 56 35,00 53 35,81 109 35,40 0,08<br />

Familiar 15 9,38 10 6,75 25 8,11 1,00<br />

Institucional 19 11,88 18 12,17 37 12,00 0,02<br />

Espiritual 1 0,62 12 8,10 13 4,23 9,30<br />

Total 160 100 148 100 308 100<br />

p < 0,01<br />

Nessa categoria, de um mo<strong>do</strong> geral, as respostas numéricas <strong>do</strong>s sujeitos,<br />

podem ser visualizadas em <strong>do</strong>is blocos que demonstram o valor que eles atribuíram<br />

a cada uma das opções de mudança de comportamento. No primeiro bloco, e com<br />

um número similar de respostas e percentuais mais eleva<strong>do</strong>s, estão as<br />

subcategorias Pessoal e Social, sen<strong>do</strong> que o valor <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> nesta segunda<br />

assinala que não existiu diferença estatística importante nas respostas.<br />

X 2


O segun<strong>do</strong> bloco apresentou um número baixo de respostas nas<br />

subcategorias Institucional, Familiar e Espiritual. O valor <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> (0.02)<br />

para a subcategoria Familiar informou, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, que a diferença estatística<br />

entre as respostas <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grupos foi insignificante. A última subcategoria teve uma<br />

freqüência total de respostas de 4.23, contan<strong>do</strong> com uma contribuição quase integral<br />

<strong>do</strong> grupo de mães, confirmada pelo qui-quadra<strong>do</strong> de 9.30.<br />

A compreensão que os sujeitos elaboraram <strong>sobre</strong> a perspectiva de<br />

mudança de vida de um a<strong>do</strong>lescente infrator, quan<strong>do</strong> se reportam à interferência<br />

externa, foi alicerçada no grande eixo da confiança. Quan<strong>do</strong>, por outro la<strong>do</strong>,<br />

acreditaram na mudança a partir de uma perspectiva pessoal, deram ênfase ao<br />

esforço individual alicerça<strong>do</strong> no desejo. Na apresentação das subcategorias, serão<br />

feitas considerações mais detalhadas <strong>sobre</strong> estas <strong>representações</strong>.<br />

Perspectiva de mudança ancorada na esfera pessoal<br />

Na compreensão <strong>do</strong>s grupos entrevista<strong>do</strong>s, um a<strong>do</strong>lescente infrator pode<br />

aban<strong>do</strong>nar o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime se assim o desejar, fican<strong>do</strong> essa mudança<br />

condicionada à opção por novos hábitos de vida. Corroboran<strong>do</strong> essa premissa,<br />

acreditaram ser fundamental o afastamento das ruas, das drogas e das amizades<br />

com pessoas delinqüentes e a a<strong>do</strong>ção de uma postura responsável que envolve o<br />

investimento no estu<strong>do</strong>, na busca de emprego e até na formação de uma família<br />

para si próprio. As mães associaram também a mudança à disposição <strong>do</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente para obedecer aos pais, aspecto ao qual sempre retornam.<br />

Acreditam que a obediência <strong>do</strong> filho é condição primordial para a sua<br />

mudança. As condições de vida das famílias de baixa renda impõem aos pais<br />

maiores limitações de cumprir a tarefa de educar a prole. A dificuldade em ocupar o<br />

espaço de prove<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s filhos e o esgarçamento <strong>do</strong>s vínculos dela decorrentes,<br />

entre outros fatores, torna-se um grande obstáculo para a garantia da legitimidade<br />

da autoridade paterna, o que incide diretamente na questão da obediência.<br />

A<strong>do</strong>lescentes To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> pode mudar, assim queira. Basta ter<br />

força de vontade. Erguer a cabeça. / Primeiro lugar, dizer não às drogas.


Arrumar um emprego. Formar família. Casar. Ter filhos. Ter<br />

responsabilidade./ Deve isolar as más amizades. Ganhar dinheiro sem<br />

roubar. Depende dele, sozinho.<br />

Mães Depende só dele mesmo . Ele não queren<strong>do</strong>, nada<br />

feito. / Ele queren<strong>do</strong>, pode ser alguém na vida. Pode até ser um <strong>do</strong>utor. /<br />

Sain<strong>do</strong> das ruas. In<strong>do</strong> trabalhar. Procuran<strong>do</strong> escola. Não usar mais<br />

drogas. / Se ele obedecer os conselhos <strong>do</strong>s pais vai pensar mais e ser<br />

um rapaz direitinho. / Deve obedecer os pais. É esse o caminho.<br />

A mudança nasce <strong>do</strong> desejo, este condição sine qua non para que aquela<br />

aconteça. A questão é que, quan<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente adentra o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime, uma<br />

gama de numerosos fatores contribuíram para que essa situação fosse instalada, os<br />

quais não surgiram de imediato, mas se agregaram na história <strong>do</strong> sujeito ao longo<br />

<strong>do</strong> tempo.<br />

Até que o a<strong>do</strong>lescente se afaste de casa para a rua, a<strong>do</strong>te os colegas<br />

como pontos de referência, envolva-se com drogas e aban<strong>do</strong>ne a escola, uma série<br />

de comprometimentos existiram como determinantes de sua conduta e motiva<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> seu desejo. Assim, mudar o comportamento não é somente uma questão de<br />

simples força de vontade. Além disso, a busca de novas oportunidades de<br />

socialização, tais como a escola pública e o emprego, na maioria das vezes inexiste,<br />

extrapola o empenho individual pela mudança, porque coloca o a<strong>do</strong>lescente frente<br />

às lacunas das políticas públicas <strong>do</strong> país.<br />

Nas unidades da SAS, que atendem a<strong>do</strong>lescentes em conflito com a lei,<br />

não existem estatísticas referentes ao número de a<strong>do</strong>lescentes que já são pais e<br />

mães, embora o cotidiano <strong>do</strong> trabalho informe que esse número é eleva<strong>do</strong> e até<br />

mesmo que muitos desses jovens vivem com companheiros(as) dentro de suas<br />

próprias famílias. Esse da<strong>do</strong> está conti<strong>do</strong> nas respostas <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes<br />

entrevista<strong>do</strong>s que assinalaram como alternativa para o aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

crime a construção de uma família para si, o que em seu entendimento significa<br />

assumir responsabilidade. A conseqüência desse equívoco tem si<strong>do</strong> a reedição de<br />

suas próprias histórias em muitas crianças que ce<strong>do</strong> passam a ser órfãos de pais<br />

vivos.


Perspectiva de mudança ancorada na esfera social<br />

Quan<strong>do</strong> os sujeitos vincularam a mudança <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente a fatores<br />

externos, estenderam a toda a sociedade a responsabilidade, destacan<strong>do</strong> a<br />

confiança como a base para essa transformação. Além de oportunidades mais<br />

especificas como escola e emprego, reconheceram igualmente importantes outros<br />

itens menos concretos que traduziriam essa credibilidade.<br />

A<strong>do</strong>lescentes A pessoa tem que dar uma chance ao menor. Se<br />

ninguém confia nele, ele não muda. / A pessoa deve dar uma força, dar<br />

uma oferta. / Quan<strong>do</strong> o menor tem alguém que confia nele isso mexe com<br />

ele. / A pessoa ter erra<strong>do</strong> não quer dizer que não vai mais mudar. Dar<br />

oportunidade como escola e emprego.<br />

Mães O apoio para o a<strong>do</strong>lescente serve muito. Se ele tiver<br />

trabalho e estu<strong>do</strong> não vai ter tempo para fazer besteira./ Muito conselho.<br />

Tem que partir da sociedade. Mostran<strong>do</strong> o caminho. / To<strong>do</strong>s devemos<br />

ajudar o a<strong>do</strong>lescente. / Se as autoridades estender a mão amiga ele sai<br />

dessa.<br />

Os a<strong>do</strong>lescentes marginaliza<strong>do</strong>s pela condição de infratores fazem parte<br />

de uma minoria social desacreditada e odiada, indigna de qualquer voto de<br />

confiança. Moscovici (1996) destacou a necessidade imanente ao ser humano de<br />

ser visível e admira<strong>do</strong>, anseios presentes em todas as relações interpessoais e<br />

<strong>sociais</strong>. Sentir-se queri<strong>do</strong> é importante e justifica a busca de aprovação social.<br />

Entretanto, a pessoa pode ser detestada e <strong>sobre</strong>viver nessa condição, ainda tiran<strong>do</strong><br />

vantagens dessa rejeição.<br />

Perspectiva de mudança ancorada na esfera institucional<br />

Mães e a<strong>do</strong>lescentes destacaram o sistema socioeducativo como a<br />

terceira opção mais importante para a mudança, ressaltan<strong>do</strong> o cotidiano <strong>do</strong> trabalho<br />

como elemento facilita<strong>do</strong>r desse processo. A ênfase na profissionalização e no


atendimento dispensa<strong>do</strong> pelos profissionais configurara-se como pontos de<br />

relevância para os grupos.<br />

A<strong>do</strong>lescentes Se tiver o trabalho de uma unidade como esta. /<br />

Aqui tenho to<strong>do</strong> apoio. Setor técnico. Psicólogo. Principalmente as<br />

palestras. Às vezes, até remédio. / Eu tô preso aqui mas tirei proveito.<br />

Eles tão proporcionan<strong>do</strong> um curso profissionalizante pra mim. Quan<strong>do</strong> ele<br />

sair já sai com idéias boas. / Pra mudar, basta cair numa FEBEM.<br />

Mães A mão amiga é também essa onde eles estão. Os cursos<br />

que eles tão fazen<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> sair já sai com a vida melhor. / Os<br />

funcionários tiram ele <strong>do</strong> crime conversan<strong>do</strong>. / Muitas coisas que eles não<br />

vê na rua, vê aqui dentro.<br />

Vale registar que, além <strong>do</strong>s ganhos auferi<strong>do</strong>s na internação, as mães<br />

assinalaram um outro aspecto positivo relaciona<strong>do</strong> à importância <strong>do</strong> castigo. Embora<br />

em seus discursos anteriores não tenham valida<strong>do</strong> a punição como um caminho<br />

para a mudança, fizeram aqui essa associação, expressan<strong>do</strong> nas entrelinhas o alívio<br />

por alguém ter imposto ao filho o castigo que ela própria não conseguiu impor.<br />

É muito importante que ele sofra um pouquinho. Se tiver numa unidade<br />

pagan<strong>do</strong> seu crime ele vai refletir e deixar essa vida. Aí ele merece um<br />

voto de confiança. Fora, ele não pagou pelo que fez.<br />

O cerceamento da liberdade significa estar submeti<strong>do</strong> às regras<br />

institucionais que concedem pouco espaço para as transgressões. Os a<strong>do</strong>lescentes<br />

interna<strong>do</strong>s não dispõem <strong>do</strong> poder de escolha, necessitan<strong>do</strong> incorporar a seus<br />

hábitos a nova rotina que lhe é apresentada. A privação da liberdade é uma<br />

experiência de padronização da vida. O a<strong>do</strong>lescente obriga-se a freqüentar salas de<br />

aula, realizar atividades <strong>do</strong>mésticas, ouvir conselhos ou repreensões e a ser puni<strong>do</strong>.<br />

Sujeita-se a viver um novo ritmo que, para alguns, em alguns momentos, pode ser<br />

experiencia<strong>do</strong> com uma conotação positiva.<br />

Perspectiva de mudança ancorada na esfera familiar<br />

Esta subcategoria sinalizou a percepção <strong>do</strong>s grupos em relação à<br />

influência da família para a saída <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. Mães e<br />

a<strong>do</strong>lescentes assinalaram ser o apoio da família menos expressivo que os demais


fatores anteriormente cita<strong>do</strong>s. Entretanto, destacaram a importância da presença<br />

amorosa <strong>do</strong>s pais na vida <strong>do</strong>s filhos e de sua confiança neles.<br />

A<strong>do</strong>lescentes A maioria das vezes é os pais. Apoio da família. Não<br />

ficar contra ele quan<strong>do</strong> ele errou. Tem que chegar e conversar. ( ) A<br />

família precisa ajudar. Quan<strong>do</strong> ele sair vai se recuperar.<br />

Mães A mãe sempre tem um coração mais seguro naquele filho. ( )<br />

A mãe tem confiança nele. Que ele vai em frente( ) Tem que partir de<br />

casa. Eu visito e aconselho ele.<br />

A condição de estar priva<strong>do</strong> da liberdade também acaba por criar entre<br />

família e a<strong>do</strong>lescente um vínculo de proximidade. O direito legal à visita <strong>do</strong>s<br />

familiares é assegura<strong>do</strong> na internação e passa a fazer parte da rotina <strong>do</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente. Nos dias e horários regra<strong>do</strong>s, famílias e filhos experienciam um<br />

encontro que, muitas vezes, jamais fizera parte de sua vida. As visitas passam a<br />

fazer parte das expectativas <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, adquirin<strong>do</strong> valor considerável. No<br />

confinamento, mães e filhos estarão frente a frente para se olhar e ouvir-se, o que<br />

faz surgir a oportunidade para as confidências, os conselhos, as repreensões, as<br />

declarações de amor.<br />

A prática desse trabalho com a<strong>do</strong>lescentes também mostra que as mães<br />

e muitas vezes as avós são as pessoas mais presentes nesse perío<strong>do</strong> de<br />

internação, caracterizan<strong>do</strong>-se como frágeis figuras de autoridade feminina que<br />

procuram a to<strong>do</strong> custo vencer a prova que a vida lhes reservou.<br />

Perspectiva de mudança ancorada na esfera espiritual<br />

inspiração divina.<br />

Esta subcategoria revelou a concepção de mudança <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente por<br />

Se ele entrasse no caminho de Deus isso não acontecia./ Tu<strong>do</strong> Deus<br />

mandará. Tirar os maus pensamentos da cabeça dele. Muitos peleja pra<br />

corrigir a perdição mas só Deus é que muda essas coisas./ Nada pra<br />

Deus é impossível. Quem tem Deus tu<strong>do</strong> pode.<br />

Nesse ponto <strong>do</strong> questionamento, coube às mães quase a totalidade das<br />

respostas. Defenderam o poder da fé e a força de Deus para a transformação <strong>do</strong>


a<strong>do</strong>lescente, reiteran<strong>do</strong> que não bastaria aos a<strong>do</strong>lescentes apenas querer<br />

mudar,mas, antes de tu<strong>do</strong>, aceitar Jesus para que essa mudança fosse operada.<br />

4.1.4 Percepção <strong>do</strong> eu<br />

Durante muito tempo, o paradigma cartesiano inspirou a produção <strong>do</strong><br />

conhecimento científico, influencian<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> de pensar e compreender a vida. A<br />

separação indivíduo/sociedade foi conseqüência desse referencial, razão pela qual a<br />

psicologia não incluía a dimensão cultural na constituição <strong>do</strong> sujeito humano. A<br />

concepção de um sujeito distinto <strong>do</strong> social e a definição de identidade pessoal como<br />

conjunto de caracteres próprios de uma pessoa traziam embutida a lógica desse<br />

pensamento. A palavra identidade, que comportava a noção de semelhança,<br />

implicava, a partir de uma idéia de imutabilidade, um sujeito sempre igual a si<br />

próprio. Sawaia (2002) alertou para a importância de se pensar identidade como<br />

uma categoria política que torna possível a padronização <strong>do</strong>s cidadãos, a partir de<br />

suas relações de poder.<br />

A compreensão da interligação <strong>do</strong>s níveis individual e social, que tem<br />

orienta<strong>do</strong> a produção <strong>do</strong> conhecimento das ciências psicológica e social, tem<br />

expandi<strong>do</strong> esse senti<strong>do</strong> de estabilidade de um perfil <strong>do</strong> eu até a noção de<br />

subjetividade, atravessan<strong>do</strong> os contornos <strong>do</strong> indivíduo e <strong>do</strong> sujeito para mergulhar<br />

de forma integral no universo da cultura. Em relação a essa temática, Rey (2003,<br />

p.241) enfatizou que “a subjetividade individual mostra os processos de subjetivação<br />

associa<strong>do</strong>s à experiência social <strong>do</strong> sujeito concreto, assim como as formas de<br />

organização desta experiência por meio <strong>do</strong> curso da história <strong>do</strong> sujeito”. Ainda <strong>sobre</strong><br />

o assunto, Araújo (2002, p.81) afirmou que “contemporaneamente, a subjetividade é<br />

compreendida como o mo<strong>do</strong> de organizar as experiências <strong>do</strong> cotidiano, os universos<br />

de sensações e <strong>representações</strong>”.<br />

A quinta investigação deste estu<strong>do</strong> deteve-se no terreno da construção da<br />

subjetividade <strong>do</strong> sujeito, zona porosa pela qual transitam os conteú<strong>do</strong>s de natureza<br />

individual e coletiva, atrela<strong>do</strong>s às dimensões simbólica, histórica e cultural,<br />

produtores de significação e senti<strong>do</strong>, simultaneamente, para a vida social e para os


indivíduos que dela fazem parte e a constituem. Consideran<strong>do</strong>, pois, a importância<br />

da subjetividade individual materializada na percepção <strong>do</strong> eu, a exploração de<br />

conteú<strong>do</strong>s representacionais, parte dessa subcategoria, procurou apreender <strong>do</strong><br />

grupo de a<strong>do</strong>lescentes a maneira como vêem a si próprios, como gostariam de ser<br />

vistos e como acreditam estar sen<strong>do</strong> vistos.<br />

Na subcategoria Autopercepção, os a<strong>do</strong>lescentes procuraram descrever a si<br />

próprios, confirman<strong>do</strong> as características percebidas como qualidades ou defeitos e<br />

valoran<strong>do</strong> seu comportamento e a sua satisfação pessoal. O número de evocações<br />

dessa subcategoria foi bastante eleva<strong>do</strong> em comparação às demais, o que garantiu<br />

um percentual de 55.9% das respostas. A subcategoria Idealizada registrou o<br />

número mais baixo de respostas, corresponden<strong>do</strong> ao percentual de 19,24%. Os<br />

a<strong>do</strong>lescentes informaram seus projetos de vida a partir das mudanças que<br />

pretendem empreender, deixan<strong>do</strong> registra<strong>do</strong> um mo<strong>do</strong> de ser que não conseguiram<br />

alcançar. A subcategoria Heteropercepção expressou a apreensão <strong>do</strong>s sujeitos<br />

<strong>sobre</strong> o conceito que as pessoas têm de um a<strong>do</strong>lescente que comete atos<br />

infracionais, traduzi<strong>do</strong> em uma imagem negativa captada através das falas e gestos<br />

das pessoas, assim como de seus pensamentos expressos pelos meios da<br />

comunicação. Todas as respostas das mães foram condensadas nessa<br />

subcategoria, deven<strong>do</strong> o valor <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> ser compreendi<strong>do</strong> a partir desse<br />

da<strong>do</strong>. Vale ressaltar, ainda, que o número de respostas dessa subcategoria nos <strong>do</strong>is<br />

grupos foi quase similar, corrobora<strong>do</strong> pelo qui-quadra<strong>do</strong> de 0.34. A Tabela 5<br />

apresentará o agrupamento das respostas fornecidas.<br />

Tabela 5 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />

percepção <strong>do</strong> eu e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescentes autores de<br />

atos infracionais e de mães.<br />

Sujeitos A<strong>do</strong>lescentes Mães Total<br />

Subcategorias F % F % F %<br />

X 2


Autopercepção 221 55,9 - - 221 45,57 221<br />

Idealizada 76 19,24 - - 76 15,67 76<br />

Heteropercepção 98 24,81 90 100 188 38,76 0,34<br />

Total 395 100 90 100 485 100<br />

p < 0,01<br />

Autopercepção<br />

Nesta subcategoria, a<strong>do</strong>lescentes que cometeram homicídio e latrocínio,<br />

priva<strong>do</strong>s de liberdade e, portanto, oficialmente declara<strong>do</strong>s infratores, evocaram <strong>do</strong>is<br />

campos simultâneos: a<strong>do</strong>lescente e infrator. Essa confluência torna permeável a<br />

linha separatória entre ambos de tal forma que a distinção vai se tornan<strong>do</strong> turva e a<br />

identificação <strong>do</strong>s campos passa a ser uma questão tida como natural pelos sujeitos.<br />

Assim, os a<strong>do</strong>lescentes detiveram-se em descrever a sua forma de ser, sentir e<br />

comportar-se, em paralelo à afirmação de sua identidade marginal, uma colagem<br />

imperceptível, mas com poder de decretar uma sentença para o futuro.<br />

• Meu jeito é esse. Sou uma pessoa simples.<br />

• Eu me acho uma pessoa cari<strong>do</strong>sa. Sou também humilde.<br />

Sou órfã. Não sou falsa como falam. Não guar<strong>do</strong> rancor nem maldade<br />

no coração. Falo as coisas sem pensar.<br />

• Eu tenho um homicídio. Sou uma infratora, infelizmente.<br />

Qualquer coisa eu choro. Só que drogada eu fico violenta.<br />

• Nós somos menor infratores. Gostaria de ser difrente. Só<br />

que eu já tô seguin<strong>do</strong> meu caminho.<br />

Essa percepção que o a<strong>do</strong>lescente tem de si, atrelada a uma<br />

inalterabilidade da condição atual de infrator, ajusta-se à expectativa declarada<br />

socialmente de que não é uma pessoa de crédito e que pertence, portanto, à<br />

categoria daqueles que não têm mais jeito. A Teoria das Representações Sociais, ao<br />

abordar como estas se formam no espaço social, configura-se como verdade <strong>do</strong><br />

senso comum, oferecen<strong>do</strong> a explicação de como essa verdade torna-se um


elemento de senti<strong>do</strong> para o a<strong>do</strong>lescente e para o grupo mais amplo. Ainda nas<br />

palavras de Rey (2003, p.126),<br />

A realidade aparece para as pessoas por meio das RS e <strong>do</strong>s diferentes<br />

discursos que formam o teci<strong>do</strong> social, mediante os quais os sujeitos<br />

individuais, implica<strong>do</strong>s em um determina<strong>do</strong> espaço social, configuram o<br />

senti<strong>do</strong> subjetivo das diferentes esferas de suas vidas, e produzem<br />

significações em relação a si mesmos e aos outros.<br />

Outro aspecto importante na autodescrição <strong>do</strong>s sujeitos entrevista<strong>do</strong>s foi<br />

a contradição explícita presente em suas falas e em seus comportamentos.<br />

• Eu sou um elemento calmo. Penso muito antes de agir. Nunca usei<br />

drogas. Não gosto dessas coisas de marginalidade.<br />

• Sou boa. Meu jeito é criar amizade. Nada de violência.<br />

• Sou tranqüilo. Sou uma pessoa comum. O que eu queria ser eu já tô<br />

fortemente.<br />

• Tenho um temperamento esquenta<strong>do</strong>. Eu drogada as coisas nem me<br />

dói.<br />

• Eu sou um infrator. Fiz mal aos outros.<br />

• Meu jeito mesmo é to<strong>do</strong> cala<strong>do</strong>. Mas não deixo ninguém mexer<br />

comigo.<br />

• Gostaria de ser diferente. Eu me acho um pouco estranho. Eu sou um<br />

cara tatua<strong>do</strong> e com passagem em Febem.<br />

A longa lista <strong>do</strong>s adjetivos utiliza<strong>do</strong>s pelos sujeitos para qualificar a si<br />

próprios – calmo, pondera<strong>do</strong>, sensível, sincero, bom, humilde, correto, educa<strong>do</strong>,<br />

estudioso, maduro, dócil, amigo, alegre, simpático, legal, cari<strong>do</strong>so, interativo,<br />

comporta<strong>do</strong>, adulto, esportivo, tranqüilo, sem maldade, brincalhão, feliz, queri<strong>do</strong>,<br />

simples, pessoa que vale a pena - poderia levar à conclusão de que estão satisfeitos<br />

consigo próprios. Entretanto, o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime, que envolve o uso<br />

abusivo de drogas e a prática reiterada de violação <strong>do</strong>s direitos alheios, sinaliza um<br />

desajuste entre as características pessoais e a conduta real que, apesar disso,<br />

encontram-se entrelaçadas.<br />

A descrição de si também ganhou consistência quan<strong>do</strong> foi feita a partir de<br />

comparações grupais<br />

• Eu sou como to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Eu me comparo como uma pessoa normal


• Sou uma pessoa comum. Só não sou comum porque já usei droga,<br />

roubei e cometi um homicídio.<br />

O não envolvimento no crime foi lembra<strong>do</strong> pelos sujeitos como um critério<br />

para definir a inclusão/exclusão no ou <strong>do</strong> grupo das pessoas comuns/normais, o que<br />

auxilia o sombreamento da linha que demarca o lugar de cada um na sociedade.<br />

Idealizada<br />

Quan<strong>do</strong> os a<strong>do</strong>lescentes foram convida<strong>do</strong>s a pensar na pessoa que não<br />

são, mas que gostariam de ser, reportaram-se aos seus sonhos e às insatisfações<br />

consigo mesmos e com sua vida, o que os levou a se comparar com os outros,<br />

considera<strong>do</strong>s por eles mais valorosos.<br />

• Eu gostaria de ser diferente. Não quero mais a mesma vida. Não viver<br />

corren<strong>do</strong> da polícia. Não viver matan<strong>do</strong> os outros por aí.<br />

• Não quero mais agir pela emoção. Nunca mais entro nessa vida de<br />

usar droga.<br />

• Se eu pudesse mudaria minha vida toda. Queria ser um cara comum<br />

que nem os outros. Ser normal como as outras pessoas.<br />

Novamente, os sujeitos associam as pessoas comuns/normais àquelas<br />

que não praticam atos infracionais e que lhes servem de parâmetros para uma<br />

pretensão de mudança. Os projetos de mudança também incluíram referência a<br />

escola, trabalho e casamento. Esses aspectos foram concebi<strong>do</strong>s como ingredientes<br />

que garantem um suporte para o afastamento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime e a receita para a<br />

conquista <strong>do</strong> lugar ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s normais/comuns.<br />

• Quan<strong>do</strong> eu me soltar vou arrumar logo a minha escola e um trabalho.<br />

Arrumar uma mulher para mim.<br />

• Quan<strong>do</strong> eu sair lá fora vou me casar. Vou me dedicar a minha esposa<br />

e ao meu filho. Quero terminar meus estu<strong>do</strong>s .<br />

A idéia de ocupação e responsabilidade é tida como impedi<strong>do</strong>ra da<br />

prática infracional, estan<strong>do</strong> o casamento e a paternidade incluí<strong>do</strong>s neste patamar. A<br />

família esteve incluída nos projetos de mudança e os a<strong>do</strong>lescentes a ela se referiam


tanto no senti<strong>do</strong> de um resgate de vínculos quanto de uma parceria financeira para o<br />

sustento <strong>do</strong> grupo.<br />

• Quero levar uma vida normal com a minha família, quan<strong>do</strong> eu sair lá<br />

fora. Ajudar meu pai e minha mãe. Quero ir pra perto <strong>do</strong> meu pai e da<br />

minha mãe.<br />

A realidade <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong>s centros de internação é a de uma<br />

família biológica desfeita, sen<strong>do</strong> a mãe a pessoa que mais comumente está próxima<br />

ao filho. Apesar disso, a família evocada é a família nuclear, <strong>sobre</strong>posta à família<br />

real, formada por toda a variedade de arranjos nos quais, na maioria das vezes, o<br />

pai biológico já não está presente. O sonho da liberdade é o sonho imediato de sair<br />

<strong>do</strong> centro educacional.<br />

• Só quero mesmo sair daqui. Espero que minha liberdade chegue logo.<br />

Tu<strong>do</strong> que eu quero é ser livre. Liberdade.<br />

A falta de um sistema informatiza<strong>do</strong> no esta<strong>do</strong>, capaz de apresentar<br />

fidedignamente da<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> a reincidência na prática infracional, não reduz a<br />

veracidade da afirmação de que esses números são bastante eleva<strong>do</strong>s. Da<strong>do</strong>s<br />

isola<strong>do</strong>s da Unidade de Recepção de A<strong>do</strong>lescentes em Conflito com a Lei, em<br />

Fortaleza, apontam que cerca de 50% <strong>do</strong>s que ingressaram no sistema<br />

socioeducativo em 2003 eram reincidentes. O suspiro pela liberdade tem fôlego<br />

curto. O entrelaçamento de todas as complexas questões que fazem parte da vida<br />

desse a<strong>do</strong>lescente e a incorporação dessa identidade marginal, gestada pelas RS<br />

que compõem o universo simbólico <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> social, contribuem pata mantê-lo nessa<br />

condição.<br />

Heteropercepção<br />

No espaço social, os indivíduos se constituem em sujeitos. Nele, se<br />

encontram uma infinidade de histórias coletivas diferentes. Mas esse espaço é<br />

também uma realidade invisível na qual se organizam as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> de<br />

seus atores. Nas palavras de Bourdieu (2004, p.48-49),


Os seres aparentes, diretamente visíveis, quer se trate de indivíduos quer<br />

de grupos, existem e subsistem na e pela diferença, isto é, enquanto<br />

ocupam posições relativas em um espaço de relações que, ainda que<br />

invisível e sempre difícil de expressar empiricamente, é a realidade mais<br />

real (ens realissimum, como dizia a escolástica) e o princípio real <strong>do</strong>s<br />

comportamentos <strong>do</strong>s indivíduos e <strong>do</strong>s grupos.<br />

Esse também é um espaço tribal no qual os sujeitos se diferenciam e se<br />

agrupam em classes, de forma a se sentirem nitidamente diferentes <strong>do</strong>s integrantes<br />

das classes outras, mais próximas ou distantes. Esses ambientes simbólicos são<br />

engendra<strong>do</strong>s a partir da medição de forças antagônicas <strong>do</strong>s sujeitos que neles<br />

habitam. No mun<strong>do</strong> social, construí<strong>do</strong> pelos sujeitos, que comporta um universo de<br />

relacionamentos e de significa<strong>do</strong>s, transitam a linguagem e as imagens,<br />

componentes de um imaginário grupal <strong>do</strong> qual os atores <strong>sociais</strong> não escapam.<br />

Nessa subcategoria, as RS de a<strong>do</strong>lescente infrator, catalisadas pela fusão<br />

da fala e imagem, ganham corporeidade de tal forma nítida que tornam possível a<br />

quase visualização <strong>do</strong> ser que povoa a mente <strong>do</strong>s sujeitos <strong>sociais</strong> de todas as tribos.<br />

A<strong>do</strong>lescentes Uma pessoa desprezível, criminosa./ As pessoas vê<br />

como um monstro. Ladrão. Acha que a gente é perigoso./ Faz aquilo é<br />

por prazer. / Quan<strong>do</strong> vê a gente na rua diz olha o vagabun<strong>do</strong>./ Pra<br />

sociedade é marginal. Fuma<strong>do</strong>r de maconha./ Pensam logo que é um<br />

mata<strong>do</strong>r.<br />

Mães Quan<strong>do</strong> as pessoas vê um a<strong>do</strong>lescente mal vesti<strong>do</strong> ou sujo vai<br />

logo guardan<strong>do</strong> a bolsa. Dizem que é marginal. / O filho dela é um ladrão/<br />

Acha que eles são um bicho. /Pensam que eles são um ban<strong>do</strong> de<br />

monstros. / As pessoas têm me<strong>do</strong> deles.<br />

A concepção de a<strong>do</strong>lescente infrator, elaborada por ambos os grupos,<br />

apontou um tipo de pessoa que não merece voto de confiança pelo fato de que<br />

jamais mudará de vida.<br />

A<strong>do</strong>lescentes As pessoas pensa que ele nunca muda. Aquele menino<br />

ali não tem mais jeito. Ele não merece confiança./Desconfiam<br />

sempre/.Como passa muito na televisão, acha que ele vai sempre roubar<br />

aquela pessoa./ Pensam que ele vai ser assim pra sempre.


Mães Muitos pensa que aquilo ali não muda mais. Dali pra pior./ O<br />

povo diz que eles não quer nada de confiança. Pensa que to<strong>do</strong>s são<br />

iguais. A qualquer momento podem cometer o mesmo erro.Acha que não<br />

tem como se recuperar. Principalmente a alta sociedade.<br />

A mídia, presente na vida social de forma sofisticada, transformou-se em<br />

um potente canal de construção da própria realidade, forma<strong>do</strong>r de RS. Os canais de<br />

comunicação exibem a cara e a alma <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator, median<strong>do</strong> as emoções<br />

e reforçan<strong>do</strong> as identidades grupais. Consideran<strong>do</strong> ser as RS uma produção<br />

subjetiva desvencilhada <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> puramente cognitivo <strong>do</strong> conhecimento, os<br />

conteú<strong>do</strong>s representacionais são mobiliza<strong>do</strong>res de emoções . A representação<br />

social de a<strong>do</strong>lescente infrator carrega uma carga emocional significativa que provoca<br />

sentimentos frente a ela.<br />

A<strong>do</strong>lescentes As pessoas não sabe respeitar./ Deixa ele aí mesmo. O<br />

pessoal quase não gosta./ Não tem vontade de dar conselho, só critica.<br />

Mães A maioria só pensa em deixar na prisão direto./ Muitas não<br />

querem nada de melhor pro a<strong>do</strong>lescente. / Pensam que eles não têm<br />

direito a nada. Querem logo matar o menor.<br />

Vale ressaltar que os sentimentos provoca<strong>do</strong>s pelo jovem envolvi<strong>do</strong> com<br />

a prática infracional são naturalmente negativos. Entretanto, essa negatividade não<br />

se esgota no simples movimento de repúdio, mas vai além. Parece existir nesse<br />

imaginário social um desejo perverso de vingança não sacia<strong>do</strong>, motivo pelo qual não<br />

basta a privação de liberdade como sansão. A sociedade que deveria estar torcen<strong>do</strong><br />

pelos frutos positivos dessa medida disciplinar acomoda-se na posição crítica e<br />

desesperançosa. Na verdade, a crítica <strong>do</strong> seu olhar não está voltada para as<br />

lacunas das políticas públicas, para as falhas da organização <strong>do</strong> sistema<br />

socioeducativo ou para outras questões mais sutis, de natureza subjetiva, que se<br />

aglomeram nessa engrenagem produtora de violência. O desfecho da raiva<br />

produzida pelo sentimento de impotência encontra nesse a<strong>do</strong>lescente um alvo<br />

material que passa a ser sentencia<strong>do</strong> dessa vez à prisão perpétua na categoria <strong>do</strong>s<br />

marginais.


Joffe (1995, p.318), discutin<strong>do</strong> o processo formativo das RS que fazem<br />

parte da construção das identidades grupais, assinalou a tendência humana de<br />

identificar um “culpa<strong>do</strong>” para receber as projeções daquilo que não é suporta<strong>do</strong> pelo<br />

sujeito. Para ela, a projeção <strong>do</strong> inaceitável no outro estabelece a demarcação <strong>do</strong>s<br />

territórios <strong>do</strong> bem e <strong>do</strong> mal:<br />

E aqui é importante que se diga: as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> que constroem o<br />

“outro” como aberração têm conseqüência para a prática. Elas permitem<br />

que esse “outro” seja maltrata<strong>do</strong> e discrimina<strong>do</strong>: a subordinação daquelas<br />

pessoas, cujos sistemas de valores, práticas e identidades são diferentes,<br />

passa a ser apenas um des<strong>do</strong>bramento justo de uma lei considerada<br />

“natural”.<br />

O a<strong>do</strong>lescente infrator representa um la<strong>do</strong> palpável da ameaça<strong>do</strong>ra<br />

violência das cidades, reiteran<strong>do</strong> também nossa própria capacidade de ser cruel. Ele<br />

é o la<strong>do</strong> negro da sociedade <strong>do</strong> qual supomos não fazer parte, embora, por<br />

caminhos menos explícitos, revele a nossa incompetência social de cuidar de nossa<br />

juventude. Movi<strong>do</strong>s pela emotividade, podemos projetar nele a nossa raiva, o nosso<br />

me<strong>do</strong>, a nossa <strong>do</strong>r. Podemos até desejar a sua morte real ou executá-la<br />

simbolicamente pela <strong>estigma</strong>tização.<br />

Na fala <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, mesmo quan<strong>do</strong> fizeram alusão a si próprios<br />

como infratores, em nenhum momento utilizaram os adjetivos evoca<strong>do</strong>s pela<br />

sociedade para defini-los, to<strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res de extremo repúdio, tais como criminoso,<br />

marginal, desprezível, monstro, bicho, vagabun<strong>do</strong>, ladrão, perigoso, fuma<strong>do</strong>r de<br />

maconha, mata<strong>do</strong>r. Castells (2000) falou que minorias <strong>estigma</strong>tizadas desenvolvem<br />

uma “identidade de resistência” como forma de enfrentar a opressão e a<br />

desvalorização das maiorias <strong>do</strong>minantes. Essa estratégia de <strong>sobre</strong>vivência e<br />

legitimidade de sua existência demanda uma coesão interna <strong>do</strong> grupo marginaliza<strong>do</strong><br />

que incorpora o discurso que o desqualifica, dan<strong>do</strong>-lhe uma nova conotação com a<br />

qual passa a interagir no espaço social.<br />

4.1.6 Expressões subjetivas


A sexta investigação buscou apreender sentimentos e pensamentos<br />

relativos à experiência da infracionalidade, na percepção <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes e das<br />

mães. As opiniões expressas pelos sujeitos abrangeram a família, a conduta<br />

infracional, a internação e a discriminação social. Os sentimentos relaciona<strong>do</strong>s ao<br />

sofrimento vivi<strong>do</strong> pela família a partir da experiência em foco foram trazi<strong>do</strong>s pelos<br />

grupos como os mais significativos.<br />

Tabela 6 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />

expressões subjetivas e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescente autores de<br />

atos infracionais e de mães.<br />

Sujeitos A<strong>do</strong>lescentes Mães Total<br />

Subcategorias F % F % F %<br />

Sentimentos 20 31,25 90 76,27 110 60,44<br />

Pensamentos 44 68,75 28 23,73 72 39,56<br />

Total 64 100 118 100 182 100<br />

p < 0,01<br />

X 2<br />

44,54<br />

3,55<br />

A tabela 6 apresentou o panorama numérico das respostas, as diferenças<br />

entre os grupos em cada subcategoria e o valor <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> correspondente.<br />

Na subcategoria relativa aos sentimentos expressos, as mães contribuíram com a<br />

maioria das respostas, razão pela qual o qui-quadra<strong>do</strong> apresentou o eleva<strong>do</strong> valor<br />

de 44.54. Ao contrário desta, na subcategoria relativa aos pensamentos,<br />

prevaleceram as respostas <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes.<br />

Vale ressaltar que o número de respostas (90) das mães na subcategoria<br />

Sentimentos foi sensivelmente superior às demais respostas, em razão de a<br />

entrevista ter provoca<strong>do</strong> nelas uma resposta específica <strong>sobre</strong> seus sentimentos. As<br />

demais evocações, tanto das mães quanto <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, foram apreendidas <strong>do</strong><br />

conteú<strong>do</strong> de suas entrevistas, através das elaborações discursivas e linguagem não-<br />

verbal a elas associadas.


Sentimentos<br />

Nesta subcategoria, os sujeitos representaram a experiência da<br />

infracionalidade como gera<strong>do</strong>ra de sofrimento, cujo alvo principal é sempre a família.<br />

A<strong>do</strong>lescentes A família muitos vezes se sente incapaz de ajudar e<br />

sofre./ Eu mesmo gostaria que minha mãe fosse mais feliz. Ela diz que<br />

pensa em mim to<strong>do</strong> dia e nem consegue comer direito./ Porque aqui, ave<br />

maria, é muito ruim viver aqui dentro.<br />

Mães É uma coisa muito horrível para a família./ Quase eu não<br />

acreditava que o meu filho ia ser um menor desses. Quan<strong>do</strong> eu penso<br />

nessa arrumação meu coração dói. / Não suporto ver ele nessa vida./ Foi<br />

como se eu tivesse leva<strong>do</strong> uma facada. É muito <strong>do</strong>loroso, muito<br />

magoa<strong>do</strong>.<br />

Um da<strong>do</strong> que chama a atenção no trabalho com a<strong>do</strong>lescentes<br />

institucionaliza<strong>do</strong>s é o fato de que, nos abrigos, as visitas de familiares se dão com<br />

bem menos freqüência que nas unidades de privação de liberdade. O filho rebelde,<br />

castiga<strong>do</strong> pela privação de liberdade por mau comportamento, reflete também o<br />

resulta<strong>do</strong> de suas vivências familiares. Perante ele, a família se obriga a reconhecer<br />

suas culpas, incompetências e impotência, realidades e fantasias. Acompanhá-lo é<br />

registrar o seu empenho e sacrifício, é resgatar suas esperanças, é purgar os seus<br />

peca<strong>do</strong>s.<br />

Pensamentos<br />

Nessa subcategoria, os sujeitos deram voz a seus pensamentos,<br />

externan<strong>do</strong> as suas opiniões <strong>sobre</strong> a experiência vivenciada. A vida <strong>do</strong>s internos<br />

em um centro educacional é regrada pelos códigos e pactos que devem ser<br />

rapidamente compreendi<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong>s os que nele ingressam. Essa linguagem que


se desenrola paralela ao discurso institucional já existe na chegada de um novo<br />

interno e permanecerá após o seu desligamento. Viver com uma razoável margem<br />

de segurança implica procurar obedecer às regras de convivência, estan<strong>do</strong> atento<br />

para não violá-las. Esse esforço deixa os a<strong>do</strong>lescentes com a certeza cabal da<br />

impossibilidade de fazer amigos em uma instituição dessa natureza.<br />

Na internação qualquer coisa pode acontecer a to<strong>do</strong> momento./ Aqui o<br />

nêgo tem que ser irmão. O nego tá tu<strong>do</strong> no mesmo barco./ Não tem<br />

ninguém melhor <strong>do</strong> que ninguém. / Amigo mesmo a gente só tem o pai e<br />

a mãe da gente.<br />

A vida em um centro educacional é totalmente diferente daquela que<br />

levavam. As regras institucionais determinam o movimento coletivo <strong>do</strong>s corpos. O<br />

dia é rigidamente fraciona<strong>do</strong> para a execução das atividades previstas, a fim de que<br />

a experiência contenha o caráter sancionatório e disciplina<strong>do</strong>r.<br />

Aqui a gente tem tempo pra pensar muito. Pensa como arranjar um<br />

emprego lá fora. / Na internação o cara fica sem usar droga. Só comen<strong>do</strong><br />

e <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>. Estudan<strong>do</strong>. Trabalhan<strong>do</strong>, também. / Se você sair daqui e não<br />

mudar não muda nunca mais.<br />

As mães não fazem uma idéia exata <strong>do</strong> que experienciam seus filhos em<br />

uma internação. Intuem que o modelo atual não é o ideal, mas não fundamentam<br />

sua crítica. Voltam a abordar suas dificuldades para criar os filhos e de fazê-los<br />

obedientes, mas defendem que apenas a Deus ou à Justiça cabe o julgamento de<br />

sua conduta.<br />

• Eles fazen<strong>do</strong> essas coisas e vin<strong>do</strong> pra um colégio desses, não leva<br />

vantagem em nada. Aqui eles colocam to<strong>do</strong>s num canto só. Eu acho<br />

isso muito erra<strong>do</strong>. Toda a sociedade é culpada de tu<strong>do</strong> isso.<br />

• Antigamente era fácil lutar com os filhos a<strong>do</strong>lescentes. Hoje, filho não<br />

obedece mais não. A mãe precisa trabalhar.<br />

• A gente só pode ser julgada por Deus. Na terra só quem julga é o<br />

Juiz.<br />

Ficam em aberto grandes questões aqui colocadas pelo grupo. Por<br />

exemplo: Como a medida de internação poderá contribuir para a mudança <strong>do</strong>


a<strong>do</strong>lescente, consideran<strong>do</strong> que a resposta social é muito mais lenta <strong>do</strong> que o<br />

número cada vez maior de a<strong>do</strong>lescentes envolvi<strong>do</strong>s com a violência? Como<br />

reestruturar os modelos de atendimento em massa? Como as famílias pobres<br />

poderão cuidar de sua prole sem os riscos da desagregação? Como os pais<br />

aprenderão a ser autoridade para os filhos equacionan<strong>do</strong> obediência e liberdade<br />

individual? Poderá a sociedade aceitar a privação de liberdade como medida<br />

extrema e suficiente para a punição ou lhe parecerá natural a pena de morte e o<br />

tratamento desumano da<strong>do</strong> aos “condena<strong>do</strong>s”?<br />

Plano Fatorial <strong>do</strong>s Eixos 1 e 2 das Representações Sociais <strong>sobre</strong> A<strong>do</strong>lescente<br />

Infrator<br />

4.2 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE<br />

ADOLESCENTE INFRATOR A F2 PARTIR DA ANÁLISE FATORIAL DE<br />

_____________________________________________________________Discrimina<strong>do</strong><br />

CORRESPONDÊNCIA<br />

³ Pagar ³<br />

³<br />

³ ANALFABETO Desprezo ³<br />

³<br />

³ A exploração <strong>do</strong> Trabalhar material produzi<strong>do</strong> pelos sujeitos quan<strong>do</strong> da aplicação ³ <strong>do</strong><br />

³<br />

³ Teste de Associação Livre de Palavras foi feita a partir da utilização da técnica de<br />

³<br />

³ Análise Fatorial de Correspondência, ten<strong>do</strong> como base o programa Tri-Deux-Mots<br />

³<br />

³ (versão 2.2), Cibois (1998). Os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s e lança<strong>do</strong>s no Faz programa sem pensar foram<br />

³<br />

Faz distribuí<strong>do</strong>s o que dá na graficamente cabeça <strong>sobre</strong> <strong>do</strong>is eixos, tornan<strong>do</strong> possível Nós a leitura aqui ³ e a<br />

³<br />

interpretação das <strong>representações</strong> entre os grupos e dentro deles.<br />

³<br />

³ Desobediente ³<br />

Pessoa ruim Preso Sem compaixão<br />

Sem orientação____MÃES______________+__________ADOLESCENTES________________³ O plano fatorial apresentou <strong>do</strong>is aglomera<strong>do</strong>s de palavras dispostas <strong>sobre</strong> F1<br />

Inocente Desobedece a autoridade ³<br />

³ o Fator 1, opon<strong>do</strong>-se em campos distintos, que traduziram as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong><br />

Dana<strong>do</strong> ³<br />

³ <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescentes infrator, elaboradas pelos <strong>do</strong>is grupos de sujeitos Família entrevista<strong>do</strong>s.<br />

sofre<br />

Meu filho Más companhias Febem<br />

³ No Mãe eixo sofre negativo (esquer<strong>do</strong>), estão aglutinadas as <strong>representações</strong> das mães ³ e no<br />

³<br />

eixo positivo (direito), as <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes.<br />

³<br />

³<br />

³<br />

³ Carente ³<br />

³<br />

³<br />

³<br />

³<br />

³<br />

³<br />

³<br />

³<br />

³<br />

³<br />

³<br />

³<br />

³ 18-21 anos ³<br />

³<br />

³<br />

____________________________________________________________________Briga___


Legenda:<br />

Sujeitos<br />

Variáveis fixas<br />

Idade Escolaridade<br />

A<strong>do</strong>lescentes 16 – 18 Analfabeto<br />

Mães 18 – 21 Fundamental<br />

>21 Ensino médio<br />

O exame desse gráfico com as indicações de Contribuição por Fator –<br />

CPF demonstrou que, para as mães, a<strong>do</strong>lescente infrator significa ”Faz o que dá na<br />

cabeça” (CPF= 102), “Mãe sofre” (CPF = 94), “Desobediente” (CPF = 76), “Pessoa<br />

ruim” (CPF = 75), “Dana<strong>do</strong>” (CPF = 73), “Sem orientação” (CPF = 62), “Inocente”<br />

(CPF =37), “Meu filho” (CPF =30). Para os a<strong>do</strong>lescentes, a<strong>do</strong>lescente infrator<br />

significa “FEBEM” (CPF = 59), “Sem compaixão” (CPF = 44), “Família sofre” (CPF =


41), “Faz sem pensar” (CPF = 40), “Preso” (CPF = 38), “Nós aqui” (CPF = 31),<br />

“Desobedece à autoridade” (CPF = 39).<br />

Os da<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s na Tabela 7 demonstraram a freqüência das<br />

palavras produzidas pelos grupos e sinalizaram a correlação entre suas<br />

<strong>representações</strong>, que abordaram temas comuns relaciona<strong>do</strong>s à impulsividade,<br />

desobediência, sofrimento familiar, natureza má, privação de liberdade, inocência e<br />

carência de orientação. Vale ressaltar que este resulta<strong>do</strong> corroborou o da análise de<br />

conteú<strong>do</strong> realizada a partir das entrevistas, quan<strong>do</strong> os sujeitos significaram estas<br />

evocações através de suas produções discursivas.<br />

Apesar da correspondência de conteú<strong>do</strong>s, os sujeitos utilizaram-se de<br />

palavras diferentes para traduzi-los, o que contribuiu para reduzir a freqüência das<br />

evocações que apareceram na tabela. É possível observar que a representação<br />

social de a<strong>do</strong>lescente infrator elaborada pelos sujeitos que vivenciam diretamente<br />

esta realidade é correspondente na maior parte de seus aspectos, apresentan<strong>do</strong><br />

especificidades por grupos, em outros.


Tabela 7 – Freqüência de palavras evocadas pelos grupos de a<strong>do</strong>lescentes e de<br />

mães.<br />

ADOLESCENTES % MÃES %<br />

Preso 17,8 Desobediente 20,5<br />

Desobedece à autoridade 8,0 Mãe sofre 15,1<br />

FEBEM 7,1 Faz o que dá na cabeça 14,2<br />

Faz sem pensar 5,3 Dana<strong>do</strong> 10,7<br />

Sem compaixão 5,3 Pessoa ruim 10,7<br />

Família sofre 5,3 Sem orientação 8,9<br />

Nós aqui 4,4 Inocente 5,3<br />

Meu filho 4,4<br />

Conforme já aborda<strong>do</strong> anteriormente, quan<strong>do</strong> da análise das entrevistas,<br />

prevaleceu também na associação livre de palavras a idéia de um a<strong>do</strong>lescente<br />

infrator como uma pessoa impulsiva que desafia as regras de conduta social. Vale<br />

salientar, contu<strong>do</strong>, que a linguagem não verbal que atravessou essa descrição<br />

imagética apresentou um conteú<strong>do</strong> diferencia<strong>do</strong> nos grupos, apesar da utilização de<br />

termos similares. Assim, quan<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescentes falou “Faz sem pensar”,<br />

descreveu o a<strong>do</strong>lescente como um jovem que age sem ponderação ou racionalidade<br />

e que não mede ou se importa com as conseqüências de seus atos. A expressão<br />

empregada pelas mães “Faz o que dá na cabeça”, apesar de conter a conotação<br />

acima, agrega a esta descrição a idéia de desobediência como justificativa para a<br />

conduta infracional.<br />

A percepção materna da desobediência tem, prioritariamente, um foco<br />

<strong>do</strong>méstico, sen<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente infrator aquele que desconsidera os conselhos<br />

paternos. Para os a<strong>do</strong>lescentes, a desobediência está projetada no meio social,<br />

sen<strong>do</strong> a lei personalizada em uma figura de autoridade. A referência à<br />

desobediência, seja em relação a qualquer desses aspectos, acusa uma falha, a<br />

partir da infância, na introjeção <strong>do</strong>s limites que devem ser adquiri<strong>do</strong>s nas relações<br />

com as figuras parentais, o que favorece a expansão <strong>do</strong> comportamento<br />

transgressor na a<strong>do</strong>lescência. O vazio da autoridade, quan<strong>do</strong> internaliza<strong>do</strong>, deflagra<br />

o movimento de desafio às leis, <strong>do</strong>mésticas e <strong>sociais</strong> e gera uma incansável busca<br />

<strong>do</strong>s limites de que os a<strong>do</strong>lescentes foram poupa<strong>do</strong>s e um clamor pela punição da<br />

qual são supostamente merece<strong>do</strong>res.


A complexidade explicativa <strong>do</strong> ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

crime esteve presente no conteú<strong>do</strong> representacional das mães que procuraram<br />

ancorar suas explicações na bagagem sociocognitiva disponível em sua realidade,<br />

assim como em suas próprias experiências subjetivas. Assim, o a<strong>do</strong>lescente infrator<br />

foi percebi<strong>do</strong> ora como uma pessoa desobediente/dana<strong>do</strong>, ora como um jovem sem<br />

orientação.<br />

No primeiro caso, existe uma compreensão subjacente de<br />

responsabilidade individual <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente por sua conduta infratora; já no segun<strong>do</strong>,<br />

a representação traz embutida a culpabilidade familiar, uma vez que, para as mães,<br />

a falta de orientação esteve associada à ausência de diálogo e de atenção<br />

paterna/materna. Apesar de essa representação social de a<strong>do</strong>lescente infrator<br />

reportar-se à esfera relacional, o foco unidirecional da culpa deixa de fora um<br />

extenso feixe explicativo para o fenômeno da delinqüência juvenil.<br />

O esforço na busca da compreensão das inúmeras razões para a conduta<br />

anti-social <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente evidenciou-se ainda nas discordâncias representacionais<br />

<strong>do</strong>s grupos, quan<strong>do</strong>, por exemplo, as mães apontaram o a<strong>do</strong>lescente infrator ora<br />

como uma pessoa inocente, ora como uma pessoa ruim. A ingenuidade relacionada<br />

à fragilidade/imaturidade também esteve presente em suas falas, quan<strong>do</strong>, por<br />

ocasião das entrevistas, referiram-se ao a<strong>do</strong>lescente infrator como uma criança. Ao<br />

mesmo tempo, o a<strong>do</strong>lescente infrator foi descrito pelos grupos como uma pessoa de<br />

ín<strong>do</strong>le má, capaz de comprazer-se com a perversidade.<br />

Essa percepção encontra eco na representação social mais ampla,<br />

produzida pela mídia e que tem estrutura<strong>do</strong> uma postura de raiva e pouca<br />

sensibilidade social frente a uma crescente parcela da juventude pobre brasileira. A<br />

percepção <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator como um “jovem perverso” minimiza o<br />

comprometimento social de se discutir a questão de forma mais aprofundada para<br />

encontrar alternativas de como enfrentá-la. A culpa simplifica os fatos, imprimin<strong>do</strong>-<br />

lhes uma conotação de unilateralidade e a conseqüência disso passa a ser uma<br />

percepção naturalizada da realidade de tal forma que a sua leitura com outras lentes<br />

exige esforço daquele que se dispõe a fazê-la.


Nesse senti<strong>do</strong>, mães e a<strong>do</strong>lescentes acabaram por incorporar em suas<br />

<strong>representações</strong> essa idéia difundida no espaço social, mesclan<strong>do</strong> a elas as<br />

expressões de suas experiências de vida. Os sujeitos entrevista<strong>do</strong>s não apenas<br />

projetaram o a<strong>do</strong>lescente infrator no mun<strong>do</strong> externo, mas também absorveram-no<br />

como parte de suas vivências (“Nós aqui” / “Meu filho”), elaboran<strong>do</strong> a interface<br />

dessa realidade individual com a realidade sociocultural, uma vez que o processo de<br />

significação se desenrola a partir <strong>do</strong>s processos interacionais constitutivos/<br />

constituintes da subjetividade social.<br />

A evocação livre de palavras associadas ao a<strong>do</strong>lescente infrator também<br />

apresentou o sofrimento familiar já registra<strong>do</strong> na entrevista com os grupos. A idéia<br />

de sofrimento esteve diretamente voltada para a família/mãe, envolven<strong>do</strong> tanto a<br />

<strong>do</strong>r/raiva <strong>do</strong> filho, quanto o sofrimento de desgosto/vergonha causa<strong>do</strong> por ele.<br />

A privação de liberdade, materializada na idéia de FEBEM, esteve<br />

presente nas narrativas <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, figuran<strong>do</strong> como aspecto importante em<br />

sua composição. Assim, os sujeitos fizeram uma associação entre conduta<br />

infracional e privação de liberdade, elaboran<strong>do</strong> uma relação de conseqüência entre<br />

estas. A denominação de FEBEMCE – Fundação Estadual <strong>do</strong> Bem-Estar <strong>do</strong> Menor<br />

<strong>do</strong> Ceará – foi extinta em 1999, quan<strong>do</strong> todas as ações realizadas por essa<br />

fundação foram absorvidas pela atual Secretaria da Ação Social. Entretanto, cinco<br />

anos passa<strong>do</strong>s, permanece no imaginário social <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente cearense a antiga<br />

denominação. Isso se justifica não apenas pelo fato de a FEBEM ainda existir em<br />

alguns esta<strong>do</strong>s brasileiros e ser noticiada na mídia em diversos episódios de<br />

rebeliões, como também em razão de o reordenamento institucional no Ceará ainda<br />

não ter consegui<strong>do</strong> romper o modelo de atendimento massifica<strong>do</strong>, presente nas<br />

antigas unidades para “recuperação de menores”.<br />

Em relação ao Fator 2, visualiza<strong>do</strong> no Plano Fatorial como o eixo vertical<br />

azul, verificou-se que um número menor de palavras encontra-se disperso nos<br />

espaços superior e inferior, merecen<strong>do</strong> destaque as <strong>representações</strong> “carente” (CPF


=191), “más companhias” (CPF = 29) e “trabalhar” (CPF = 57), assinaladas pelos<br />

<strong>do</strong>is grupos entrevista<strong>do</strong>s.<br />

A primeira delas fez uma referência descritiva ao sujeito em sua<br />

individualidade; a segunda referiu-se ao sujeito no mun<strong>do</strong>, enfatizan<strong>do</strong> os vínculos<br />

<strong>sociais</strong> aponta<strong>do</strong>s como indutores para o seu ingresso na criminalidade e a terceira<br />

representação apontou para uma lacuna de vínculos, sinalizan<strong>do</strong> uma solução viável<br />

para a resolução de sua problemática.<br />

Vale destacar que a palavra com maior freqüência (48,2%) no Teste de<br />

Associação Livre de Palavras e que, por conseguinte, configurou-se como forte<br />

representação <strong>do</strong>s grupos foi “coisa errada”, apesar de não ter apareci<strong>do</strong> no Plano<br />

Fatorial. Isso é indicativo de que os sujeitos fizeram uma associação imediata <strong>do</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente infrator à prática infracional, antecipan<strong>do</strong>-a a outros posicionamentos<br />

emotivos e a todas as outras evocações já registradas que priorizaram a imagem de<br />

um a<strong>do</strong>lescente rebelde, desprotegi<strong>do</strong>, inocente ou perverso.<br />

Em virtude de as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> extrapolarem a dimensão <strong>do</strong><br />

psiquismo individual para imergirem na subjetividade <strong>do</strong> espaço social e, assim, se<br />

constituírem como saber <strong>do</strong> senso comum, a representação <strong>do</strong>s grupos que vincula<br />

o sujeito ao ato amplia-se, com o propósito de aglutinar o universo simbólico, afetivo,<br />

cultural e psicossocial, dan<strong>do</strong>-lhe novos contornos. A utilização <strong>do</strong> Teste de<br />

Associação Livre de Palavras em conjunto com a entrevista semi-estruturada para a<br />

apreensão das RS de a<strong>do</strong>lescente infrator ofereceu um campo de visualização<br />

semântico mais amplia<strong>do</strong>, favorecen<strong>do</strong> tanto a corroboração de da<strong>do</strong>s quanto a<br />

emersão de novos elementos que se agregaram aos demais, o que facilitou e<br />

enriqueceu a investigação <strong>do</strong> objeto deste estu<strong>do</strong>.


Caminhante, são tuas pegadas o caminho, e nada mais.<br />

Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao andar.<br />

Ao andar, se faz o caminho e, ao voltar a vista atrás,<br />

Vê-se a senda que nunca se voltará a pisar.<br />

Caminhante, não há caminho, há apenas sulcos no mar.<br />

Antônio Macha<strong>do</strong>.


CAPÍTULO 5


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O presente estu<strong>do</strong> percorreu a área onde as idéias partilhadas e<br />

trespassadas pelas paixões constroem o conhecimento cotidiano da vida humana.<br />

As <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> que povoam o mun<strong>do</strong> falam <strong>do</strong>s sujeitos <strong>sociais</strong>, de suas<br />

histórias individual e coletiva. Este estu<strong>do</strong> adentrou o terreno inculto das minorias<br />

<strong>sociais</strong>, de lá extrain<strong>do</strong> o seu objeto de investigação e para lá retornan<strong>do</strong> na eleição<br />

de seus grupos de sujeitos.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s deste estu<strong>do</strong> foram enriqueci<strong>do</strong>s pela utilização de uma<br />

abordagem de multiméto<strong>do</strong>s, o que favoreceu a complementação de informações,<br />

corroboran<strong>do</strong> as muitas possibilidades de vínculos entre as ciências <strong>sociais</strong>, <strong>do</strong>s<br />

fenômenos psíquicos, da saúde e da educação.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s revelam a existência de conceitos figurativos<br />

entre a<strong>do</strong>lescente e infrator de tal forma fusiona<strong>do</strong>s que os sujeitos não mais se<br />

dão conta dessa confluência, apesar de ser esta uma condição que favorece a<br />

demarcação de uma “identidade marginal”.<br />

A caracterização de “a<strong>do</strong>lescente” está impregnada da conotação de<br />

“infrator”, de mo<strong>do</strong> que o conteú<strong>do</strong> dessa produção discursiva traduz o nível de<br />

proximidade entre sujeito e objeto. A caracterização de “a<strong>do</strong>lescente infrator”, além<br />

<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> descritivo, traz marcas depreciativas embutidas na linguagem verbal e<br />

não-verbal <strong>do</strong>s sujeitos. A representação social de a<strong>do</strong>lescente infrator emerge


<strong>sobre</strong> pólos distintos que, contu<strong>do</strong>, se entrelaçam na encruzilhada da subjetividade<br />

individual e social.<br />

No pólo descritivo, os sujeitos não escapam à descrição <strong>do</strong><br />

comportamento anti-social, realidade <strong>sobre</strong> a qual sedimentam as suas concepções<br />

de certo e erra<strong>do</strong>, bom e mau, e que também fornece o referencial que lhes informa<br />

a condição de infracionalidade. Igualmente procuram se amparar no viés descritivo<br />

para representar o a<strong>do</strong>lescente infrator, partin<strong>do</strong> de características que agregam<br />

recortes <strong>do</strong> conhecimento pensa<strong>do</strong> e <strong>do</strong> conhecimento vivi<strong>do</strong>. Assim, falam de<br />

características pessoais nas quais se reconhecem e de outras comuns a to<strong>do</strong>s os<br />

a<strong>do</strong>lescentes, pelas quais procuram justificar sua conduta.<br />

Um outro pólo no qual se enraíza essa representação social é o terreno<br />

mina<strong>do</strong> da <strong>estigma</strong>tização que comporta a dimensão das emoções e dá cor aos<br />

olhares, pensamentos e gestos <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A acusação explícita que<br />

carrega reescreve a versão explicativa anterior <strong>sobre</strong> a prática de atos infracionais e,<br />

de forma inflexível, encurrala o sujeito nas amarras que passam a justificar a<br />

inversão da violência, dessa vez, contra ele próprio.<br />

Os sujeitos oscilam entre a imagem de um a<strong>do</strong>lescente infrator impulsivo/<br />

desobediente ou carente/monstro, exprimin<strong>do</strong> a dinâmica para<strong>do</strong>xal por meio da<br />

qual procuram compreender o comportamento anti-social <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. Esses<br />

pares de qualidades expõem os eixos justifica<strong>do</strong>r e acusativo que tanto absolvem o<br />

sujeito quanto o arrastam para o banco <strong>do</strong>s réus.<br />

Sentimentos contraditórios, permea<strong>do</strong>s pelo prazer das aventuras<br />

perigosas, pelo me<strong>do</strong> gera<strong>do</strong>r de submissão aos amigos ou às drogas, pela angústia<br />

<strong>do</strong>s vazios que marcam sua vida, pelo repúdio ou comunhão inconsciente com os<br />

<strong>estigma</strong>s que os nomeiam como pessoas, são revela<strong>do</strong>res da trajetória rumo ao<br />

mun<strong>do</strong> da criminalidade.<br />

A ambivalência incrustada no território <strong>do</strong>s afetos e expressa nas suas<br />

falas revela-se também nas explicações buscadas para ancorar as causas da<br />

conduta anti-social. Por vezes, os sujeitos assumem a responsabilidade <strong>do</strong>s fatos,


mas lhes imprimem, defensivamente, uma certa <strong>do</strong>se de leveza; por vezes, a<br />

projeção defensiva da responsabilidade <strong>sobre</strong> os objetos externos exime mais<br />

claramente o comprometimento pessoal com as escolhas e coloca o sujeito na<br />

condição de vitima<strong>do</strong>. O apelo subjacente a esse posicionamento intenta justificar o<br />

comportamento e inverter a imagem negativa.<br />

Existe uma estreita relação entre representação social e causalidade. As<br />

pessoas organizam explicações para descrever os fatos da vida e as partilham no<br />

cotidiano, proceden<strong>do</strong> à sua interpretação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A ligação entre causa e efeito,<br />

ancorada em aspectos psicoafetivos e sociorrelacionais, justifica o comportamento<br />

social, estruturan<strong>do</strong> o conhecimento <strong>do</strong> senso comum e tornan<strong>do</strong> a realidade menos<br />

misteriosa e mais familiar. Os sujeitos deste estu<strong>do</strong> são procedentes <strong>do</strong> mesmo<br />

contexto sociocultural e têm um vínculo considerável com o objeto de investigação<br />

escolhi<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> suas <strong>representações</strong> coincidentes em muitos aspectos. No<br />

processo de objetivação, imprimem concretude ao objeto e revelam facetas não<br />

representadas por outros sujeitos <strong>sociais</strong>. Segun<strong>do</strong> Moscovici (2003, p.71), “a<br />

materialização de uma abstração é uma das características mais misteriosas <strong>do</strong><br />

pensamento e da fala”.<br />

Esta pesquisa buscou apreender as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente infrator e verificar até que ponto se revestem de importância nas trocas<br />

interativas <strong>do</strong>s sujeitos. De pronto, foi possível observar que as <strong>representações</strong><br />

esgarçam percepções e sentimentos <strong>do</strong>s sujeitos que, se por um la<strong>do</strong>, trazem à tona<br />

o universo das subjetividades individuais, por outro, exibem a demarcação <strong>do</strong>s<br />

espaços <strong>sociais</strong> nos quais minorias e maiorias constroem, em meio a um duelo por<br />

vezes silencioso e sutil ou mesmo violento e rui<strong>do</strong>so, as suas visões de mun<strong>do</strong>,<br />

(re)apresentan<strong>do</strong> e (re)crian<strong>do</strong> as suas versões da vida.<br />

Nenhuma representação social é vazia de significa<strong>do</strong> afetivo. A<br />

representação de a<strong>do</strong>lescente infrator resultante deste estu<strong>do</strong>, elaborada por<br />

a<strong>do</strong>lescentes infratores e mães, está eivada de conteú<strong>do</strong>s afetivos e cognitivos de<br />

suas histórias, assim como comporta os preconceitos que habitam os ambientes<br />

<strong>sociais</strong> nos quais os sujeitos se movimentam.


Assim, consideran<strong>do</strong> que a representação pessoal constitui-se solo <strong>sobre</strong><br />

o qual se consolida o autoconceito, ergue-se nos arre<strong>do</strong>res desse sujeito um cárcere<br />

sem grades dentro <strong>do</strong> qual desenha sua subjetividade. Os profissionais que<br />

trabalham com esse a<strong>do</strong>lescente e suas famílias nas diversas áreas estão<br />

igualmente submersos nesse ambiente social, geograficamente dividi<strong>do</strong>, ajudan<strong>do</strong>-<br />

os a construir as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> a serem assimiladas, com base no<br />

inesgotável processo da comunicação humana. Muitas vezes, encontram-se<br />

também eles aprisiona<strong>do</strong>s pelo <strong>estigma</strong> que impregna o ar, razão por que contribuir<br />

de forma significativa para a consolidação ou não <strong>do</strong> preconceito dependerá <strong>do</strong> seu<br />

nível de consciência ou interesse.<br />

A mídia é poderosa e repleta de interesses específicos a partir <strong>do</strong>s quais<br />

direciona os discursos sonoros e imagéticos que ditam as verdades de um povo.<br />

Assim sen<strong>do</strong>, sua correnteza veloz e rui<strong>do</strong>sa procurará abafar a voz das minorias<br />

que passam a desenvolver estratégias para não sucumbir a sua passagem.<br />

A existência de a<strong>do</strong>lescentes como protagonistas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime é<br />

uma questão gera<strong>do</strong>ra de controverti<strong>do</strong>s sentimentos na platéia <strong>do</strong>s cidadãos que<br />

não se sentem personagens de um mesmo espetáculo social. Sentimentos<br />

extremistas de pena, me<strong>do</strong> ou raiva servem de substrato para a defesa de<br />

posicionamentos limita<strong>do</strong>s, relaciona<strong>do</strong>s à percepção da causalidade <strong>do</strong> fenômeno.<br />

A visão crítica permite compreender a estreita ligação entre a prática de atos<br />

infracionais e o contexto social, tornan<strong>do</strong> possível a luta pela garantia de direitos e<br />

inclusão social se <strong>sobre</strong>por a atitudes passionais.<br />

Programas de qualificação que comportem as considerações aqui<br />

levantadas volta<strong>do</strong>s aos profissionais das diversas áreas, pública e privada, que<br />

atuam junto a a<strong>do</strong>lescentes, sejam estes pertencentes ou não às camadas<br />

pauperizadas, por certo favorecerão posições mais maduras <strong>sobre</strong> todas as<br />

questões pertinentes ao tema, incluin<strong>do</strong> a proposta de rebaixamento da idade penal.<br />

A teoria das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> fornece embasamento para a leitura<br />

<strong>do</strong> conhecimento circulante nos espaços <strong>sociais</strong>, abre frestas nos pilares <strong>sobre</strong> os<br />

quais se assenta a percepção da realidade naturalizada e ajuda a refletir <strong>sobre</strong> como


as pessoas compreendem e constroem a sua subjetividade num da<strong>do</strong> cenário. Este<br />

trabalho pretende adubar o terreno dessas reflexões, a partir <strong>do</strong> esquadrinhamento<br />

<strong>do</strong> objeto de investigação e, assim, sugerir novas possibilidades de se pensar o<br />

fazer profissional.


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Aids. In: GUARESCHI, P.; JOVECHELOVITCH, S. (Org.). Textos em<br />

<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.<br />

JOVEHELOVITCH, S. Viven<strong>do</strong> a vida como os outros: intersubjetividade, espaço<br />

público e <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. In: GUARESCHI, P. ; JOVHELOVITCH, S. ( Orgs).<br />

Textos em <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. 2. ed. Petrópoles, RJ: Vozes, 1995. p. 63-83.<br />

LIMA, S. C .P .de.; SANTOS, Mª. F. S.; ALMEIDA, A. Mª.º A representação social<br />

<strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes infratores <strong>sobre</strong> as medidas socio-educativas em seu processo de<br />

cumprimento. In: JORNADA INTERNACIONAL SOBRE REPRESENTAÇÕES<br />

SOCIAIS, 3., 2003, Rio de Janeiro. Livro de Resumos: Uerj, Observatório de<br />

Pesquisas e Estu<strong>do</strong>s em Memória e Representações Sociais, 2003, p.59-60.<br />

MARCHON, Paulo. Violência e psicanálise. In: LOBO, S. ( Org.) Violência: um<br />

estu<strong>do</strong> psicanalítico e multidisciplinar. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha,<br />

2003.<br />

MELLO, S.L.de. A violência urbana e a exclusão <strong>do</strong>s jovens. In: SAWAIA, B. (Org.).<br />

4ª edição. As artimanhas da exclusão. Petrópolis: Vozes, 2002.<br />

MERCY, J.A; BUTCHART, A; FARRINGTON, D; CERDÁ, M. Violência Juvenil. In:<br />

Relatório Mundial Sobre Violência e Saúde. Organização Mundial da Saúde;<br />

Genebra: 2002.


MINAYO, M.C.S. (Org). O desafio <strong>do</strong> conhecimento: pesquisa qualitativa em<br />

saúde. 7. ed. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasca. 2000.<br />

MOSCOVICI, S. A Representação social da psicanálise. Trad. por Álvaro<br />

Cabral . Rio de Janeiro: Zahar, 1978.<br />

_____. Psicología de las minorías activas. 2 ed. Madrid: Ediciones Morata, 1996.<br />

_____. Das <strong>representações</strong> coletivas às <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>: elementos para<br />

uma história. In: JODELET, D. (Org.). Representações <strong>sociais</strong>. Rio de Janeiro:<br />

Uerj, 2001.<br />

_____. Representações <strong>sociais</strong>: investigações em psicologia social. Tradução<br />

de: Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: Vozes, 2003.<br />

NOBREGA, S. M. da. Sobre a teoria das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. In: MOREIRA,<br />

A.S.P. (Org.). Representações Sociais: teoria e prática. João Pessoa:<br />

Universitária, 2001. p. 55-85. Série Autor Associa<strong>do</strong>.<br />

REY, F.G. Sujeito e subjetividade. São Paulo: Thompson, 2003.<br />

SÁ, Celso Pereira. Núcleo central das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. Petrópolis, RJ:<br />

Vozes, 1996.<br />

________. A construção <strong>do</strong> objeto de pesquisa em <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. Rio<br />

de Janeiro: Editora Verj, 1998.<br />

SAWAIA, Bader. (Org.). As artimanhas da exclusão. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.<br />

SILVA, HÉLIO R.S. A Língua geral da violência. In: GAUER, G.J.C; GAUER, R.M.C.<br />

(Orgs). A fenomenologia da violência. Curitiba: Juruá, 2001.<br />

SPOSATO, K. B. Pedagogia <strong>do</strong> me<strong>do</strong>: a<strong>do</strong>lescentes em conflito com a lei e as<br />

propostas de redução da idade penal. In: Cadernos Adenauer II v. 6, 2001. São<br />

Paulo: Fundação Konrad Adenauer.<br />

SCHULZE, C.M.N. Representações de germanidade, identidade étinica, vitalidade<br />

etnolinguística. In: NASCIMENTO-SCHULZE, C.M. (Org). Novas contribuições<br />

para a teorização e pesquisa em representação social. Florianópoles: Coletâneas<br />

da ANPETP, v. 1, n. 10, set. 1996. 109 p.<br />

VALA, Jorge. Análise de conteú<strong>do</strong>. In: SILVA. A; PINTO, J.M. Meto<strong>do</strong>logia das<br />

ciências <strong>sociais</strong>. 10. ed. Porto: Afrontamento, 1999. P. 101-126.<br />

VOLPI, M. (Org.). O a<strong>do</strong>lescente e o ato infracional. 4 ed. São Paulo: Cortez,<br />

2002.<br />

WAISELFISZ, J.J. et. al.. Mapa da violência: os jovens <strong>do</strong> Brasil. Rio de Janeiro:<br />

Garamand, 1998.


WATZLAWICK, Paul.; BEAVIN, Janet Helmick.; JACKSON, Don D. Pragmática da<br />

comunicação humana. São Paulo: Cultrix, 1967.<br />

WINNICOTT, D.W. Privação e delinquência. São Paulo: Martins Fontes, 1994.


ANEXOS


BANCO DE DADOS – MÃE<br />

231CAREN MACOM MUDAR DESPR*<br />

232DESOB SEMOR ESTUD SEORA*<br />

231DESOB PRUIM DESPR DANAD*<br />

232MEUFI DESOB COIER FDCAB*<br />

232MASOF ROUBA DROGA PRUIM*<br />

232MEUFI MASOF PRESO MORTE*<br />

232MACOM COIER INOCE PRUIM*<br />

232ROUBA DROGA MATAR FDCAB*<br />

232MEUFI ESTUD MUDAR DESOB*<br />

231COIER ESTUD TRABA FDCAB*<br />

232DANAD DANAD DANAD FDCAB*<br />

232INOCE PRUIM INOCE INOCE*<br />

232CAREN TRABA COIER DESOB*<br />

231ESTUD DESOB DESOB COEIR*<br />

232DANAD PRUIM MUDAR MUDAR*<br />

231PRUIM FDCAB MACOM ROUBA*<br />

232CAREN CAREN MACOM DROGA*<br />

232COIER DROGA DANAD SEPAZ*<br />

231MATAR COIER PRUIM VIOLE*<br />

233DESOB CAREN COIER DROGA*<br />

232VIOLE FDESE PRESO MORTE*<br />

232MEUFI MASOF DANAD MASOF*<br />

232FDCAB FDCAB DROGA MACOM*<br />

231MUDAR TRABA COIER MUDAR*<br />

232MEUFI DANAD DANAD DANAD*<br />

232COIER DESOB DESOB DANAD*<br />

232COIER JUIZ PSICO PROMO*<br />

232ROUBA PRUIM FDCAB PRESO*<br />

232COIER PAGAR PRESO CAREN*<br />

233COIER MACOM MACOM MUDAR*<br />

231COIER COIER COIER DESAU*<br />

231DESOB INOCE COIER FDCAB*<br />

231FDCAB MACOM SEMOR SEMOR*<br />

232MASOF PRUIM PRUIM MASOF*<br />

232MASOF SEPAZ MATAR CAREN*<br />

232SEMOR SEMOR SEORA INOCE*<br />

232MASOF MASOF APANH CAREN*<br />

232DANAD DESOB DESOB DESOB*<br />

233MASOF MASOF MASOF MASOF*<br />

231COIER DESOB DESOB MACOM*<br />

232DROGA ROUBA MATAR COIER*<br />

232SEMOR CAREN SEMOR PAGAR*<br />

232COIER DROGA DESOB ESTUD*<br />

231 FDCAB MASOF COIER FDCAB*<br />

231ROUBA MACOM DROGA PRESO*<br />

231COIER MENOR ROUBA MATAR*<br />

232COIER CAREN SEMOR DESOB*<br />

232ROUBA PRUIM ROUBA PRUIM*<br />

232COIER MATAR ROUBA COIER*<br />

232CAREN CAREN SEMOR FDCAB*<br />

232FDCAB FDCAB FDCAB ARREP*<br />

232MASOF DROGA DESOB MASOF*<br />

232COIER ESTUD SEMOR FDESE*<br />

232MASOF SAUDA APANH ARREP*<br />

232ESTUD CAREN DESOB DROGA*<br />

232COIER MUDAR MUDAR MUDAR<br />

Anexo I


BANCO DE DADOS - ADOLESCENTE<br />

122COIER ROUBA MATA DESAU*<br />

112COIER VIOLE ARREP PRESO*<br />

112DISCR NQNAD COIER FQUER*<br />

112PRESO COIER ROUBA DESAU*<br />

112FSPEN FQUER MORTE NFVON*<br />

112ROUBA MORTE PRESO FALEI*<br />

112COIER FSPEN SAUDA SAUDA*<br />

112COIER PRESO DROGA FUGIR*<br />

112MACOM DESOB FQUER DROGA*<br />

112COIER DESOB MACOM DROGA*<br />

112ROUBA DESAU PRESO FASOF*<br />

112COIER ARREP MUDAR FSPEN*<br />

122DESUN BRIGA MUDAR FEBEM*<br />

123CAREN DROGA MACOM MACOM*<br />

122FASOF BRIGA BRIGA CAREN*<br />

122MACOM FQUER DROGA CAREN*<br />

122COIER DEJUS COIER ROUBA*<br />

122INJUS CAREN CAREN CAREN*<br />

122DROGA MACOM MORTE ROUBA*<br />

113DEJUS PRESO SAUDA PRESO*<br />

112MUDAR MUDAR ESTUD AJMAE*<br />

112COIER ROUBAR DROGA MACOM*<br />

113COIER MENOR MUDAR COIER*<br />

113 PRESO FEBEM DESAU INIMI*<br />

112FSPEN PRESO DESAU FDEUS*<br />

112COIER DROGA CAREN CAREN*<br />

113DROGA FEBEM MACOM SEMCO*<br />

112DROGA VIOLE ROUBA COIER*<br />

112ROUBA CAREN MATAR PRESO*<br />

112MACOM DROGA MACOM ROUBA*<br />

112SEMCO DROGA DROGA COEIR*<br />

121NOSAQ COIER PRESO MUDAR*<br />

112FSPEN COEIR DROGA MATAR*<br />

112COIER FEBEM DESPR ESTUD*<br />

111PAGAR TRABA ESTUD AJMAE*<br />

112NOSAQ COIER FASOF ROUBA*<br />

112COIER MUDAR MUDAR MORTE*<br />

112SEMCO CAREN SEMCO INIMI*<br />

112COIER MUDAR ESTUD PRESO*<br />

112NOSAQ COIER MUDAR DESOB*<br />

112ROUBA PROBL DIFIN DROGA*<br />

112MUDAR DESPR FASOF ARREP*<br />

112ROUBA COIER FEBEM SEMCO*<br />

112NOSAQ ESTUD TRABA AJMAE*<br />

112VIOLE FEBEM DESAU SEMCO*<br />

112COIER SERHU FASOF FASOF*<br />

112DISCR COEIR DEJUS DROGA*<br />

112DESAU DROGA MACOM COIER*<br />

112PRESO SAUDA CAREN COIER*<br />

111ROUBA DROGA MATAR DROGA*<br />

111COIER FSPEN PAGAR MUDAR*<br />

112FEBEM BRIGA AUDIE FEBEM*<br />

111NOSAQ COIER PAGAR MUDAR*<br />

111COIER DISCR DISCR DISCR*<br />

111PRESO PAGAR CURTI DESPR*<br />

112ROUBA PRESO APANH DESAU*<br />

Anexo II


Anexo III<br />

TRI-DEUX Version 2.2<br />

Analyse des ‚carts … l'ind‚pendance - mars 1995<br />

Renseignements Ph.Cibois UFR Sciences sociales Paris V<br />

12 rue Cujas - 75005 PARIS<br />

Programme ANECAR<br />

Le nombre total de lignes du tableau est de 34<br />

Le nombre total de colonnes du tableau est de 8<br />

Le nombre de lignes suppl‚mentaires est de 0<br />

Le nombre de colonnes suppl‚mentaires est de 0<br />

Le nombre de lignes actives est de 34<br />

Le nombre de colonnes actives est de 8<br />

M‚moire disponible avant dimensionnement 470592<br />

M‚moire restante aprŠs dim. fichiers secondaires 468678<br />

M‚moire restante aprŠs dim. fichier principal 467590<br />

AFC : Analyse des correspondances<br />

*********************************<br />

Le phi-deux est de : 0.367360<br />

Pr‚cision minimum (5 chiffres significatifs)<br />

Le nombre de facteurs … extraire est de 5<br />

Facteur 1<br />

Valeur propre = 0.252950<br />

Pourcentage du total = 68.9<br />

Facteur 2<br />

Valeur propre = 0.057888<br />

Pourcentage du total = 15.8<br />

Facteur 3<br />

Valeur propre = 0.031162<br />

Pourcentage du total = 8.5<br />

Facteur 4<br />

Valeur propre = 0.025361


Pourcentage du total = 6.9<br />

Facteur 5<br />

Valeur propre = 0.000000<br />

Pourcentage du total = 0.0<br />

Coor<strong>do</strong>nn‚es factorielles (F= ) et contributions pour le facteur (CPF)<br />

Lignes du tableau<br />

*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />

ACT. F=1 CPF F=2 CPF F=3 CPF F=4 CPF F=5 CPF<br />

*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />

ARRE 195 2 -18 0 -141 8 381 70 -0 6 ARREP<br />

BRIG 805 25 -1058 188 898 252 -161 10 -0 20 BRIGA<br />

CARE -43 0 -435 191 143 38 -25 1 -0 3 CAREN<br />

COEI 422 7 277 13 -11 0 178 12 -0 10 COEIR<br />

COIE 48 1 77 13 23 2 -55 15 -0 0 COIER<br />

DANA -793 73 -115 7 -34 1 221 56 0 67 DANAD<br />

DESA 668 39 -31 0 -96 7 35 1 -0 17 DESAU<br />

DES1 -587 76 87 7 -3 0 3 0 0 49 DESOB<br />

DES2 151 1 583 71 206 17 -157 12 -0 0 DESPR<br />

DISC 806 31 703 104 166 11 -101 5 -0 12 DISCR<br />

DROG 250 18 -98 12 -79 14 38 4 -0 31 DROGA<br />

ESTU -123 2 177 16 22 0 131 20 0 2 ESTUD<br />

FASO 840 41 -155 6 60 2 305 53 -0 8 FASOF<br />

FDCA -814 102 177 21 134 23 -40 3 0 60 FDCAB<br />

FEBE 876 59 -179 11 -340 72 -108 9 -0 59 FEBEM<br />

FQUE 835 27 -284 14 179 10 238 22 -0 31 FQUER<br />

FSPE 837 40 269 18 -84 3 288 48 -0 23 FSPEN<br />

INOC -799 37 -32 0 14 0 146 12 0 47 INOCE<br />

MACO 74 1 -180 29 -46 3 -420 356 -0 1 MACOM<br />

MASO -759 94 -222 35 -368 180 -177 51 0 223 MASOF<br />

MAT1 -266 6 235 21 78 4 44 2 0 7 MATAR<br />

MEUF -787 30 -199 8 -82 3 296 42 0 16 MEUFI<br />

MORT 294 5 -256 17 92 4 257 38 -0 14 MORTE<br />

MUD1 167 6 80 6 25 1 -100 21 -0 13 MUDAR<br />

NOSA 809 31 194 8 338 45 -81 3 -0 34 NOSAQ<br />

PAGA 256 4 670 113 238 26 -208 25 0 1 PAGAR<br />

PRES 447 38 47 2 -201 63 -40 3 -0 51 PRESO<br />

PRUI -805 75 52 1 62 4 72 6 0 47 PRUIM<br />

ROUB 148 5 -50 2 137 35 129 39 -0 0 ROUBA<br />

SAUD 550 15 -28 0 -432 73 52 1 -0 11 SAUDA<br />

SEMC 872 44 44 0 -407 77 140 11 -0 20 SEMCO<br />

SEM1 -802 62 1 0 33 1 117 13 0 111 SEMOR<br />

TRAB -176 1 523 57 225 20 -186 17 0 5 TRABA<br />

VIOL 180 2 182 7 -25 0 201 19 -0 1 VIOLE<br />

*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />

* * *1000* *1000* *1000* *1000* *1000*


*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />

Modalit‚s en colonne<br />

*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />

ACT. F=1 CPF F=2 CPF F=3 CPF F=4 CPF F=5 CPF<br />

*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />

0151 630 255 10 0 18 2 2 0 0 259<br />

0152 -597 241 -9 0 -17 2 -2 0 -0 279<br />

0161 644 224 189 84 -104 47 63 21 0 154<br />

0162 556 32 -928 386 657 360 -318 104 0 23<br />

0163 -597 241 -9 0 -17 2 -2 0 -0 279<br />

0171 -102 3 598 406 296 185 -284 209 -0 3<br />

0172 7 0 -125 66 -9 1 145 201 -0 2<br />

0173 214 4 -377 58 -730 402 -708 465 0 2<br />

*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />

* * *1000* *1000* *1000* *1000* *1000*<br />

*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />

Fin normale du programme


Anexo IV<br />

TRI-DEUX Version 2.2<br />

IMPortation des MOTs d'un fichier de questions ouvertes<br />

ou de mots associ‚s … un stimulus - janvier 1995<br />

Renseignements Ph.Cibois UFR Sciences sociales Paris V<br />

12 rue Cujas - 75005 PARIS<br />

Programme IMPMOT<br />

Le fichier de sortie mots courts tri‚s est lucita.DAT<br />

et servira d'entr‚e pour TABMOT<br />

Le fichier de position en sortie sera lucita.POS<br />

et servira d'entr‚e pour TABMOT<br />

Le fichier d'impression est lucita.IMP<br />

Position de fin des caract‚ristiques 3<br />

Nombre de lignes maximum par individu 1<br />

Le stimulus est le mˆme pour tous les mots<br />

Nombre de lignes lues en entr‚e 112<br />

Nombre de mots ‚crits en sortie 448<br />

Nombre de mots de longueur sup‚rieure … 10 = 0<br />

seuls les 10 premiers sont ‚t‚ imprim‚s<br />

D‚coupage en mots termin‚<br />

Tri termin‚<br />

Les mots sont mis en 4 caractŠres<br />

Impression de la liste des mots<br />

AJMAE AJMA 3 APANH APAN 3 ARREP ARRE 5 AUDIE AUDI<br />

1<br />

BRIGA BRIG 4 CAREN CARE 24 COEIR COEI 4 COIER COIE<br />

54<br />

CURTI CURT 1 DANAD DANA 12 DEJUS DEJU 3 DESAU DESA<br />

9<br />

DESOB DES1 23 DESPR DES2 5 DESUN DES3 1 DIFIN DIFI<br />

1<br />

DISCR DISC 5 DROGA DROG 30 ESTUD ESTU 12 FALEI FALE<br />

1<br />

FASOF FASO 6 FDCAB FDCA 16 FDESE FDES 2 FDEUS FDE1<br />

1<br />

FEBEM FEBE 8 FQUER FQUE 4 FSPEN FSPE 6 FUGIR FUGI<br />

1<br />

INIMI INIM 2 INJUS INJU 1 INOCE INOC 6 JUIZ JUIZ<br />

1<br />

MACOM MACO 21 MASOF MASO 17 MATA MATA 1 MATAR MAT1<br />

9<br />

MENOR MENO 2 MEUFI MEUF 5 MORTE MORT 6 MUDA MUDA<br />

1<br />

MUDAR MUD1 22 NFVON NFVO 1 NOSAQ NOSA 5 NQNAD NQNA<br />

1<br />

PAGAR PAGA 6 PRESO PRES 20 PROBL PROB 1 PROMO PRO1<br />

1<br />

PRUIM PRUI 12 PSICO PSIC 1 ROUBA ROUB 24 ROUBAR ROU1<br />

1<br />

SAUDA SAUD 5 SEMCO SEMC 6 SEMOR SEM1 10 SEORA SEOR<br />

2<br />

SEPAZ SEPA 2 SERHU SERH 1 TRABA TRAB 5 VIOLE VIOL<br />

5<br />

Nombre de mots entr‚s 448<br />

Nombre de mots diff‚rents 60<br />

Impression des tris … plat


Question 015 Position 15 Code-max. 2<br />

Tot. 1 2<br />

448 224 224<br />

100 50.0 50.0<br />

Question 016 Position 16 Code-max. 3<br />

Tot. 1 2 3<br />

448 188 36 224<br />

100 42.0 8.0 50.0<br />

Question 017 Position 17 Code-max. 3<br />

Tot. 1 2 3<br />

448 84 332 32<br />

100 18.8 74.1 7.1


Teste de Associação Livre de Palavras<br />

Anexo V<br />

COLETA DE DADOS - ADOLESCENTES<br />

Diga quatro palavras que lhe venham à mente quan<strong>do</strong> digo a expressão<br />

a<strong>do</strong>lescente infrator.<br />

Da<strong>do</strong>s sociodemográficos<br />

Idade: ___________________<br />

Escolaridade:_______________________<br />

Entrevista semi-estruturada<br />

• O que é um a<strong>do</strong>lescente para você?<br />

O que é a<strong>do</strong>lescente infrator para você?<br />

Porque um a<strong>do</strong>lescente entra no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime?<br />

Você acha que ele pode mudar de vida? Como?<br />

Você acha que um a<strong>do</strong>lescente infrator merece confiança? Por que?<br />

O que as pessoas pensam <strong>sobre</strong> um a<strong>do</strong>lescente infrator?<br />

Fale um pouco <strong>sobre</strong> você. Come é o seu jeito.<br />

Você está satisfeito com o jeito como você é?<br />

Como você gostaria de ser?<br />

Observação assistemática<br />

Linguagem não verbal


Teste de Associação Livre de Palavras<br />

Anexo VI<br />

COLETA DE DADOS - MÃES<br />

Diga quatro palavras que lhe venham à mente quan<strong>do</strong> digo a expressão<br />

a<strong>do</strong>lescente infrator.<br />

Da<strong>do</strong>s sociodemográficos<br />

Idade: ___________________<br />

Escolaridade:________________________<br />

Entrevista semi-estruturada<br />

O que é a<strong>do</strong>lescente para você?<br />

O que é um a<strong>do</strong>lescente infrator para você?<br />

Porque um a<strong>do</strong>lescente entra no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime?<br />

Você acha que ele pode mudar de vida? Como?<br />

Você acha que um a<strong>do</strong>lescente infrator merece confiança? Por que?<br />

O que as pessoas pensam <strong>sobre</strong> um a<strong>do</strong>lescente infrator?<br />

O que é para você ter um filho a<strong>do</strong>lescente infrator?<br />

Observação assistemática<br />

Linguagem não verbal.


Anexo VII<br />

a) Distribuição das unidades de análise temáticas <strong>sobre</strong> DESCRIÇÕES SOBRE<br />

ADOLESCENTE<br />

COMPORTAMENTAIS<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“ A<strong>do</strong>lescente é uma pessoa impulsiva ( ) Não pensa antes de fazer as coisas ( ) Não pensa nas<br />

conseqüências ( ) Não pensa no futuro ( ) Pensa só no momento ( ) Faz seus atos sem pensar ( )<br />

Prejudica as pessoas ( ) Sempre alegre ( ) Humilde ( ) Não com drogas ou violência ( ) Quer se sentir o<br />

<strong>do</strong>no da razão ( )Não segue conselho <strong>do</strong>s pais ( ) Quer se sentir adulto ( ) Dono de si ( ) Faz o que vem na<br />

cabeça ( ) Não pensa nas conseqüências ( ) É estudioso ( ) É saber viver ( ) Não fazer coisa errada ( )<br />

Crer na palavra de Deus ( ) É viver ( ) É liberdade ( ) Não resolve suas coisas ( ) Não pode ser<br />

independente ( ) Tem que dar informação ( ) Satisfação ( ) Dizer o vai fazer ( ) Pedir autorização ( )É viver<br />

cada dia ( ) É conhecer as coisas ( ) É viver livre ( ) Quan<strong>do</strong> ficar maior não faz mais o mesmo ( ) Quan<strong>do</strong><br />

ficar maior já é adulto ( ) Faz outras coisas mais pior ( ) É uma pessoa menor( ) É arrumar escola ( )<br />

Arrumar trabalho ( )Fazer a vida ( ) O jovem ( ) Irresponsável ( ) Faz sem pensar ( ) Pessoa normal ( ) Igual<br />

a pessoa normal ( ) Tem várias amizades ( ) Liberdade( ) Tem responsabilidade que não é pra ter ( )<br />

Respeita<strong>do</strong>r( ) Estudioso ( ) Amigo ( ) Alegre ( ) Namora<strong>do</strong>r ( ) Normal ( ) Estudar ( )Saber brincar ( )<br />

Inexperiente ( ) Criança ( ) Infantil ( ) Se arrepende ( )Vive o instante ( ) Age por impulso ( ) É viver uma<br />

fase boa ( ) Conhece as coisas ( ) Quan<strong>do</strong> ficar maior muda ( ) Faz coisas pior ( ) Pessoa menor ( )<br />

Irresponsável ( ) É o começo de uma vida ( )Tá na flor da idade ( ) Fase muito legal ( ) A<strong>do</strong>lescência é uma<br />

coisa que tem de ser valorizada ( ) Coisas boa como a escola ( ) Como a família ¨<br />

Mães<br />

“ A<strong>do</strong>lescente é estudar ( ) Deixar de andar nas ruas ( ) Acha que é <strong>do</strong>no da vida deles ( ) Faz o que dá na<br />

cabeça ( ) Deixar as amizades ruins( ) Não pensa direito ( ) Não atende conselhos ( ) Os outros chama e ele<br />

vai ( ) Só pensa <strong>do</strong> la<strong>do</strong> erra<strong>do</strong> ( ) É totalmente uma criança ( ) Não tá nem aí com a vida ( ) Só pensa neles<br />

( ) Não pensa na família ( ) Não pensa nos pais ( ) Faz coisa errada ( ) Anda no mun<strong>do</strong> ( ) Começa a furtar<br />

( ) Usa droga ( ) Não tão nem aí pra família ( ) Não escuta nem o pessoal da rua ( ) Ser mais educa<strong>do</strong> ( )Se<br />

comportar ( ) Saber conviver ( ) Aprender mais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ( ) Não tem juízo pronto ( ) Faz coisa errada sem<br />

precisão ( ) Faz o que os outros botar na memória dele ( ) Não tem a mente formada ( ) Não pensa como<br />

adulto ( ) Faz sem pensar ( ) Tem que ser mais calmo ( ) Tem que ser um menino bom ( ) Tem que ser<br />

pensativo ( ) Não fazer coisa ruim ( ) Anda nas ruas ( ) Rouba pai de família ( ) Se mistura com quem não<br />

presta ( ) Não quer conselhos ( ) Se mistura com os ladrões velhos ( ) Usa arma (( ) Faz o que não presta ( )<br />

Desobediente ( ) Trabalhoso ( ) Não obedece a mãe ( ) Acha que os amigos é a vida deles ( ) Não quer<br />

saber de mãe ( ) Nem de pai ( ) Não pensa em nada ( ) Quan<strong>do</strong> quer fazer faz ( ) Não sabe o que é bom e<br />

ruim ( ) Pessoa crescen<strong>do</strong> ( ) Cresce pra ser homem ( ) Não é só ter 18 anos ( ) A<strong>do</strong>lescente vai até 20<br />

anos ( ) Quan<strong>do</strong> tem 20 anos sabe pensar ( ) É o jovem na a<strong>do</strong>lescência ( ) Complica<strong>do</strong> ( ) Não tem noção<br />

das coisas ( ) É desespero ( ) Dá preocupação ( ) É difícil ( ) Dá desgosto ( ) Jovem ( ) Faz o erro”<br />

VIVENCIAIS<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“É uma pessoa confusa “<br />

Mães<br />

” Criança que precisa de amor ( ) Precisa de educação <strong>do</strong>s pais ( ) Criança sofrida ( ) Cria<strong>do</strong> só ( ) Sem a<br />

companhia <strong>do</strong> pai ( ) Com pouca companhia da mãe ( ) Não formou a mente ( ) É um menino desprepara<strong>do</strong><br />

( ) Precisa de compreensão ( ) Precisa de carinho ( ) Criança despreparada ( ) Pessoa com problema (<br />

) Precisa de escola ( ) Rapaz com problema na família ( ) Tem uma carência “


) Distribuição das unidades de análise temáticas <strong>sobre</strong> DESCRIÇÕES SOBRE<br />

ADOLESCENTE INFRATOR<br />

COMPORTAMENTAIS<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“Infrator é uma pessoa que comete coisas erradas ( ) Não respeita a lei ( ) Usa droga ( ) Vai por esse<br />

caminho ai ( ) Considera<strong>do</strong> um ladrão ( ) Um cara que entra no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime( ) Não obedece os pais ( )<br />

Procura fazer coisa errada ( ) Rouba sempre ( ) Usa muita droga ( ) Age por impulso ( ) Não vai pelo<br />

caminho certo ( ) Procura caminho mais fácil ( ) Um caminho que tem as drogas( ) Pessoa manipulada pelos<br />

amigos ( ) Pessoa manipulada pelas drogas ( ) Pessoa diferente ( )E aquele que faz coisa errada ( ) Vive<br />

rouban<strong>do</strong> ( ) Faz baderna no meio da rua ( ) Faz sem precisão ( ) não respeita ninguém ( ) não respeita<br />

nem a família ( ) Faz muita coisa grave ( ) faz coisa grave ( ) É tipo uma maquina ( ) Maquina destrui<strong>do</strong>ra ( )<br />

Destroi as coisas ( ) E quan<strong>do</strong> a gente erra ( ) Quan<strong>do</strong> a gente erra e paga ( ) Agente A gente não tem amigo<br />

( ) É aquele que não vai corretamente com a lei ( ) Não anda correto com as leis ( ) Aquele que mata ( )<br />

Aquele que rouba ( ) faz um boca<strong>do</strong> de putaria ( ) É essas coisas que a gente comete ( ) Quem mexe nas<br />

coisas <strong>do</strong>s outros ( ) faz o que não e para fazer ( ) Se mete em vagabundagem ( ) E um a<strong>do</strong>lescente que<br />

comete erro ( ) Tá numa unidade pagan<strong>do</strong> ( ) falta pensamento ( ) Não para pensa ( ) Ele só faz coisa<br />

errada ( ) Mata e rouba ( ) conhece o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime ( ) É crime ( ) É rouba É matar ( ) É se drogar ( )<br />

Vive no crime ( ) vive rouban<strong>do</strong> ( ) Comete delitos ( ) É aquele que cometeu delito ( ) Não anda no caminho<br />

certo ( ) Não anda na lei ( ) Não sabe respeitar uns aos outros ( ) Pessoa de estilo de vida diferente ( ) Faz<br />

muita besteira ( ) Não respeita a lei ( ) Rouba ( ) Mata ( ) Usa droga ( ) é um a<strong>do</strong>lescente mima<strong>do</strong> ( )<br />

Possuí<strong>do</strong> pela droga ( ) Possuí<strong>do</strong> pelo álcool¨ .<br />

Mães<br />

Esses que só procura o la<strong>do</strong> erra<strong>do</strong> ( ) Eles roubam ( ) Eles matam ( ) Faz coisa que não é pra fazer ( ) Faz<br />

assalto ( ) Usa droga ( ) É esses que tão preso ( ) Bole nas coisas ( ) Faz coisa mim ( ) Negócio de droga (<br />

) Faz o erro e se prejudica ( ) bole no alheio ( ) Não tem amor pelas pessoas ( ) Faz diz o bem ( ) Só faz o<br />

mal ( ) Eles pensa que vão ser melhor no futuro ( ) Tem outro que não pensa nisso ( ) Faz maldade ( ) Faz<br />

o mal ( )Mata pai de família ( ) Faz o que o mun<strong>do</strong> velho manda ( ) Vive no mun<strong>do</strong> das drogas ( ) Rouba ( )<br />

assalta ( ) Não pensa ( ) Uma criança sem pensa ( ) É não fazer o erra<strong>do</strong> ( )É não usar drogas ( ) E não<br />

mexer com os outros ( ) Aquele que mata ( ) Jovem que entra no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime ( ) Se envolve com coisa<br />

errada ( ) Drogas ( ) Roubo ( ) Confusão ( ) Pessoa malvada ( ) Perversa ( ) Tem o pensamento no mun<strong>do</strong><br />

da lua ( ) Mesmo não usa<strong>do</strong>res de drogas ( ) Não obedece pai e mãe ( ) É um louco ( ) Não entende pai<br />

nem mãe ( ) Não obedece ninguém ( ) O futuro e o cemitério ( ) Cadeia ( ) Não quer nada na vida ( ) Erro<br />

( ) Desobediente ¨.<br />

VIVENCIAIS<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

” Um cara que não teve uma chance na vida ( ) Que nem nos aqui não teve chance na vida( ) E uma pessoa<br />

que se encontra comum vazio ( ) E uma pessoa que tem um problema ( ) Tem problema e não sabe como<br />

resolver ( ) E uma pessoa com muitos problemas ( ) E uma pessoa que na infância passou por problemas ( )<br />

Tem um vazio ( ) Não tem apoio familiar ( ) Não tem escola ( ) Pessoa sem apoio ( ) Tem que ter o cuida<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> pai e da mãe ( ) Não tem o dialogo de ninguém ( ) Pra lhe explicar o certo ( ) E uma pessoa com muitos<br />

problemas ( ) Tem uma carência ( ) É aquela sem carinhos <strong>do</strong>s pais ” .<br />

Mães<br />

“ Pessoa revoltada com a vida ( ) Não tem amor por deus ( ) É aquela que e perdida ( ) Não tem uma<br />

estrutura mental boa Não tem acompanhamento ( ) Não tem instrução familiar ( ) Não e acompanhada<br />

desde pequena ( ) Se ensina ele não faz erra<strong>do</strong> ( ) Não tem apoio <strong>do</strong>s pais ( ) Dos irmãos ( ) Da família ( )<br />

É uma criança só ¨.


c) Distribuição das unidades de análise temáticas <strong>sobre</strong> CAUSAS DO INGRESSO<br />

NO MUNDO DO CRIME<br />

SOCIOINTERACIONAIS<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“Uso <strong>do</strong> drogas( ) Fui perdi<strong>do</strong> pelas drogas( ) Me tornei um dependente químico( ) Não valorizava minha<br />

juventude( ) Iludi<strong>do</strong> por droga( ) Manipula<strong>do</strong> pelas drogas( ) A pessoa conhece coisas novas( ) Tu<strong>do</strong> é<br />

euforia( ) No começo tu<strong>do</strong> é bom( ) Era só as drogas( ) Era tu<strong>do</strong> pra mim( ) Aí surgiram os problemas( )<br />

Perdi o controle( ) Fui degradan<strong>do</strong> aos poucos( ) Manipulação da mente( ) Se envolvi com colegas<br />

erra<strong>do</strong>s( ) Colegas que me colocou no roubo( ) Má influência de más amizades( ) Aí mata só porque é de<br />

menor( ) Muita droga( ) Acaba se envolven<strong>do</strong>( ) Pessoas usuárias( ) Acaba se destruin<strong>do</strong> com drogas( )<br />

Principalmente por isso( ) Elas influenciam o erro( ) Eu acho que elas influem tu<strong>do</strong>( ) Muitas vezes pelos<br />

amigos( ) Drogas( ) Bebidas( ) Amizades é o que mais influi ( ) Tem muita droga solta( ) Acho que os<br />

colegas( ) Companhias erradas( ) A rua( 0 O amigo chama e ele vai( ) Ele muito <strong>do</strong>i<strong>do</strong> vai e faz( ) Os maior<br />

faz os de menor laranja( ) Muitos tá aqui por isso( ) As gangues( ) Aí entra no crime( ) É obriga<strong>do</strong> a fazer( )<br />

Pega corda( ) Os outros manda( ) Pega corda <strong>do</strong>s maior( ) Vai provar de uma coisa nova( ) Um sujeito<br />

atravessou minha vida( ) Se transformou num inferno( ) Eu acho as drogas( ) Droga faz tu<strong>do</strong> na vida( ) O<br />

roubo( ) As companhias( ) Através das drogas( ) Amizades( ) Maus amigos( ) Começa a beber( ) Amigos<br />

da rua( ) Provocação( ) O cara é convida<strong>do</strong>( ) Droga causa violência( ) Ele passa a ser infrator( ) Se<br />

entrega às drogas( ) Influência( ) Só isso mesmo( ) Curiosidade( ) Convite( ) Vontade de conhecer o<br />

novo( ) Nossos amigos( ) O começo é as drogas( ) Quan<strong>do</strong> tá dragada não sabe o que faz( ) Drogada faz<br />

tu<strong>do</strong>( ) Assassinar( ) Assaltar( ) Faz lesões( ) A droga não leva a nada( ) Só pro buraco( ) Você se<br />

prostitui( ) A droga é o fim da vida( ) Os companheiros( ) Por isso eu tô nessa( ) Matei e fui presa( ) Tu<strong>do</strong><br />

acontece na rua”<br />

Mães<br />

“ É pelas companhias( ) O meu foi pelas amizades( ) Se acompanhar com más amizades( ) As amizades<br />

que se envolve( ) Cresce no meio de amigos( ) Os outros é que incentiva( ) Os amigos têm coisa mais<br />

prática( ) Aí ele faz também( ) Muitas amizades ruim no nosso meio( ) Os de maior usa os menor( ) Os de<br />

maior incentiva( ) Muita droga( ) Outra coisa é a droga( ) Depois que usa não sabe o que faz( ) Pelas<br />

amizades( ) Não procura amizades com pessoas ótimas( ) Só procura o la<strong>do</strong> erra<strong>do</strong>( ) Os amigos que<br />

convive( ) Bota na cabeça dele o que não é pra fazer( ) Os amigos( ) As drogas( ) Pessoas erradas( ) A<br />

rua( ) Os amigos da rua( ) Por viver dessa maneira na rua( ) Se junta com amigos pra fazer besteira( )<br />

Companhias( ) Más companhias( ) Influência de amigos( ) Os de maior pega as crianças inocentes( ) Tu<strong>do</strong><br />

é a rua( ) Se acompanha <strong>do</strong>s de maior( ) Os de maior manda( ) Os amigos ruins( ) Tem muito amigo que<br />

bota ele na perdição( ) O meu entrou sem dever( ) O meu diz que matou mas é inocente( ) Tá aqui sem<br />

dever( ) Foi o amigo dele( ) Tá preso de graça ( ) Só as más companhias( ) Começa a se envolver com<br />

eles( ) Influência ruim( ) Os amigos faz a cabeça deles( ) Os amigos dão conselhos ruins( ) Só entendem os<br />

amigos( ) Ele se influencia pra fazer o ruim( ) Tu<strong>do</strong> é influência negativa”<br />

FAMILIARES<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“ Depende <strong>do</strong> pai e da mãe( ) Não dão bom exemplo( ) Ele cresce pra seguir esse exemplo( ) Porque os<br />

pais não dão conselho( ) Não encaminha os filhos( ) Não ensina o certo( ) Não ensina a ser humilde( ) Pai e<br />

mãe são usuários( ) Mais é a relação <strong>do</strong>s pais”<br />

Mães<br />

“ Eu procurava tirar e ele não aceitava( ) Não aceitava conselhos( ) Depende da criação( ) Afasta os<br />

conselhos( ) A gente aconselha mas ele faz erra<strong>do</strong> de novo( ) Não ouve conselhos( ) Não atende<br />

ninguém( ) Os pais tentam e eles não querem( ) Eles entra no mun<strong>do</strong> da marginalização( ) Eu não podia<br />

cuidar dele( ) Vivia no trabalho e ele na rua( ) Depende de casa( ) Pais separa<strong>do</strong>s( ) Eles se soltam depois(<br />

) Ele cai na vida depois( ) Não escuta conselhos da mãe( ) Se ouvisse a mãe não errava( ) A gente peleja e<br />

eles não querem( ) Eles não tão nem aí( ) Falta de carinho <strong>do</strong>s pais( ) Desobediência( ) Não aceita os pais(<br />

) Se aborrece com conselhos( ) Aí pronto( ) Não aceita nossas idéias( ) Não ouve ninguém de casa( ) Tu<strong>do</strong><br />

gera incompreensão( ) A pessoa acaba fazen<strong>do</strong>( )Mnem sabe porque( ) Gera tu<strong>do</strong> de ruim( ) Pega no<br />

alheio( ) Agride os outros( ) Falta de apoio familiar( ) Os pais não ensinam eles( ) A estrutura familiar não é<br />

boa( ) Nada de bom acontece em casa( ) Falta acompanhamento( ) Eles mata( ) Rouba( ) Usa droga( )<br />

Não tem uma pessoa pra apoiar em casa”


PSICOLÓGICAS<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“Outros é porque quer aparecer( ) Pra ficar respeita<strong>do</strong>( ) Porque não sabe pensar direito( ) Errar a gente erra<br />

porque errar é humano( ) To<strong>do</strong> ser humano tem o direito de errar( ) To<strong>do</strong> homem erra( ) O cara entra sem<br />

saber porque( ) Mesmo saben<strong>do</strong> que é erra<strong>do</strong>( ) O cara é inseguro( ) Maus pensamentos( ) Maus<br />

sentimentos( ) Desconfiança( ) To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> falha( ) Do jeito que eu errei sem nem saber direito( ) Qualquer<br />

pessoa pode errar( ) Isso é só uma fase( ) Por fraqueza da cabeça( ) É da vida( ) É <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>( ) Faz parte<br />

da idade( ) Doidice( ) Dá uma <strong>do</strong>ida na cabeça( ) Um jogo da cabeça( ) O cara gosta desse negócio( ) Por<br />

aventura( ) Faz por gostar( ) Tem vontade( ) Dá prazer fazer( ) Sente prazer( ) Erro humano( ) Costume( )<br />

Faz porque quer( ) Rouba e mata( ) Vai preso( ) Fraqueza <strong>do</strong> espírito( ) Se faz é porque quer( ) Não sei<br />

exato( ) Não pensa nas consequências da vida( ) O cara nem sabe porque faz”<br />

Mães<br />

“ Faz porque dá na cabeça( ) Porque não sabe pensar( ) Não sabe defender suas idéias( ) Natureza de<br />

fazer o mal( ) O demônio chama( ) O demônio acusa( ) Pro diabo tu<strong>do</strong> é fácil( ) O diabo bota isso na cabeça<br />

deles( ) O diabo acusa pra ele fazer o que não deve( ) Não tem juízo( ) Não pensa( ) Falta juízo na cabeça(<br />

) Não quer pensar( ) Revolta( ) Não tem precisão e faz( ) Faz maldade porque quer( ) É confuso( ) Pega no<br />

alheio( ) Ataca pai de família( ) Briga( ) Bate( ) Não precisa disso e ele faz( ) Tem sina de fazer o mal( ) É a<br />

natureza dele( ) Mesmo que não queira fazer( ) A pessoa as vezes obriga ele a fazer( ) A própria pessoa<br />

insiste( ) Insiste até ele fazer o mal( ) Natureza <strong>do</strong> demônio( ) Maldade( ) Ele se obriga e faz”<br />

SOCIOECONÔMICAS<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“Tem uns que entra por necessidade( ) Falta emprego( ) Falta tu<strong>do</strong>( ) Por causa da condição financeira( )<br />

Quer uma roupa( ) Quer curtir( ) A mãe e o pai não tem dinheiro pra ajudar( ) Até quer ajudar mas não tem<br />

como( ) Aí ele rouba( ) Não tem escola( ) Dificuldade financeira( ) Tu<strong>do</strong> isso influi( ) Não tem dinheiro e faz(<br />

) Em casa não tem nada( ) Porque o mun<strong>do</strong> é sem trabalho( ) Falta muita coisa( ) Não tem condição aí<br />

vai( ) Não tem de onde ter dinheiro( ) Tem que ter escola( ) Trabalho( ) Pra não se envolver( ) Quan<strong>do</strong> se<br />

soltar tem de ter escola( ) Tem de ter trabalho( ) Se não tiver ele faz de novo( ) Só por precisão( ) Faz<br />

besteira por precisão( ) Tenta roubar de novo( ) Comete até homicídio( ) Quan<strong>do</strong> a mãe não dá dinheiro”.<br />

Mães<br />

“ A gente ele querer as coisas e a gente não poder dá( ) Não tem emprego pra esses a<strong>do</strong>lescentes( ) Se<br />

tivesse emprego eles botaria a cabeça no lugar( ) Não tem trabalho( ) O mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime é mais fácil( )<br />

Emprego é muito difícil( ) Sem o segun<strong>do</strong> grau não se emprega( ) O crime não precisa de diploma( ) No<br />

crime o dinheiro é fácil( ) Corre frouxo( ) Não precisa sacrifício nem suor( ) Coisa ruim é só o que tem a<br />

nossa volta( )O meio é baixo( ) Nosso meio social”


d) Distribuição das unidades de análise temáticas <strong>sobre</strong> PERSPECTIVA DE<br />

MUDANÇA<br />

PESSOAL<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“ Se tiver força de vontade( ) Basta querer( ) Dizer não às drogas( ) Muita força de vontade( ) Só se ele<br />

quiser( ) Tem que querer mudar( ) Vontade própria( ) É só querer( ) Erguer a cabeça( ) Depende da<br />

pessoa( ) Muita vontade( ) Estudar( ) Ser uma pessoa boa( ) Arranjar emprego( ) Formar uma família( )<br />

Tem que partir de le( ) Depende dele( ) Procurar um meio de vida( ) Casar( ) Ter responsabilidade( )<br />

Batalhar( ) Isolar as más companhias( ) As drogas( ) Não fazer mal aos outros( ) Deixan<strong>do</strong> os a,igos( )<br />

Escutan<strong>do</strong> os pais( ) Deixan<strong>do</strong> as drogas( ) Procurar trabalho( ) Ganhar dinheiro sem roubar( ) Decidir que<br />

vai mudar( ) Depende só dele( ) Não depende de ninguém mais( ) Se tiver capacidade( ) Sozinho( ) Ele<br />

muda só( ) Depende <strong>do</strong> que ele faz( ) Se ele fizer por onde, muda( ) Se quiser mostrar, pode( ) Fazer o que<br />

é certo( ) Fazer coisas boas( ) Assim ele muda( ) Só depende dele( ) Se ele diz eu vou conseguir isso( ) Só<br />

eu consigo isso( ) Não praticar o erro( ) Andar sempre na linha( ) Se ele quiser de verdade( ) Se não fizer<br />

mais coisa errada( ) Depende de ter consciência( ) Deixar as coisas pra trás( )A boa vontade dele( ) Tem<br />

toda possibilidade( ) Basta ele decidir( ) Deve se afastar de tu<strong>do</strong>( ) Decidir mudar( ) A maneira é deixar as<br />

drogas( ) Deixar os maus amigos( ) Andar só( ) Sair <strong>do</strong>s grupos( ) Só basta ele querer( ) Força de vontade<br />

é a razão( ) Aban<strong>do</strong>nar as drogas( ) Ficar sozinho( ) Depende <strong>do</strong> esforço dele( ) Basta ele querer ser<br />

direito( ) Querer é tu<strong>do</strong>( ) Depende só de mim( ) O próprio cara tem o poder”<br />

Mães<br />

“ Se ficar um rapaz direito( ) Trabalha<strong>do</strong>r( ) Estudioso( ) Se cuidar da sua família( ) Depende só dele( ) Se<br />

ele quiser, muda( ) Se fizer esforço( ) É só ele querer mudar demais( ) Se quiser vai estudar( ) Vai ser<br />

obediente( ) Andar no caminho direitinho( ) To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> pode mudar( ) Se for obediente( ) Se obedecer a<br />

família( ) Ele larga dessa vida( ) Se ele é obediente merece confiança( ) Se ele atender a família, muda( )<br />

Pode, ele queren<strong>do</strong>( ) O meu já está decidin<strong>do</strong>( ) Aí ele vai mudar( ) É só eles querer( ) Sain<strong>do</strong> da rua( )<br />

In<strong>do</strong> trabalhar( ) Procurar escola( ) Deixar as drogas( ) Se ele se ajeitar( ) Se recuperar( ) Se for um menino<br />

que escute( ) Assim ele queira( ) Ele queren<strong>do</strong> pode ser alguém( ) Pode até ser <strong>do</strong>utor( ) Ele pode mudar<br />

de vida( ) Queren<strong>do</strong>( ) Basta resolver( ) Queren<strong>do</strong> vai em frente( ) Depende deles( ) Só ele pode( ) Deve<br />

se aconselhar( ) Pensar mais( ) Querer mesmo mudar( ) Assim ele bote na cabeça( ) Se quiser obedecer( )<br />

Colocar na cabeça que vai mudar( ) Queren<strong>do</strong>, sim( ) Depende muito dele( ) Quan<strong>do</strong> ele quer mesmo( )<br />

Quan<strong>do</strong> ele entende querer( ) Ele não queren<strong>do</strong>, nada feito( ) Se ele entender mudar, ele muda( ) Depende<br />

da vontade de cada um( ) Só isso é o bastante( ) Ele vai ver que essa vida é sem futuro( ) Vai procurar coisa<br />

melhor( ) Procurar o caminho certo( ) Deixar esse caminho erra<strong>do</strong>”<br />

SOCIAL<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“A sociedade deve confiar( ) O pessoal deve confiar( ) Apostar na gente( ) Fazer um futuro pra gente( ) Dar<br />

força( ) Se ninguém confia nele, ele não muda( ) Compreensão( ) A gente tem que ter crédito( ) Tem que ter<br />

confiança( ) É sempre bom confiar( ) Aos poucos a pessoa muda( ) Basta dar uma chance( ) To<strong>do</strong>s<br />

merecem chance( ) A pessoa deve acreditar nele( ) Nós merecemos chance( ) To<strong>do</strong>s devem fazer isso( )<br />

Ten<strong>do</strong> uma pessoa pra explicar as coisas( ) Dar ajuda( ) Dar uma força( ) Dar apoio( ) O menor precisa de<br />

chance( ) A pessoa deve dar seu voto( ) Olhar que ele mu<strong>do</strong>u( ) Acreditar( ) A sociedade deve incentivar( )<br />

Dar uma oferta( ) Ele vai e responde bem( ) Se a pessoa confia isso mexo com o menor( ) Ele se esforça<br />

mais( ) Quer agradar aquela pessoa( ) Se a pessoa depositar confiança( ) Ele percebe a mudança( ) To<strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> quer confiança( ) To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> se ajeita( ) As pessoas devem crer no menor( ) Isso é muito<br />

importante( ) As pessoas devem depositar fé( ) Se não, ele não muda( ) Ten<strong>do</strong> alguém que apoie( ) Dan<strong>do</strong><br />

uma condição( ) Dan<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>( ) Depende de to<strong>do</strong>s( ) Dar chance pro infrator( ) Dar emprego( ) Dar<br />

oportunidades( ) Não adianta só eu querer( ) Não deixar ele passar fome( ) Com oiportunidade ele muda( )<br />

Tem que apostar( ) Isso é tu<strong>do</strong>( ) Só dan<strong>do</strong> crédito( ) Ele se esforça com a confiança( ) Alguém tem de<br />

confiar( ) Se não, ele fica igual( ) To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> é digno de confiança( ) Se eu ficar só tranca<strong>do</strong>, não mu<strong>do</strong>”<br />

Mães<br />

“Tu<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> tem sua vez( ) Seu voto de confiança( ) A gente deve dar sempre confiança( ) Por mais<br />

erra<strong>do</strong> que ele seja( ) Eu penso que isso faz ele mudar( ) Tem que ter chance( ) O apoio pra ele serve


muito( ) Ten<strong>do</strong> trabalho pra ele( ) Ele não fica pensan<strong>do</strong> besteira( ) Se tiver estudan<strong>do</strong>( ) Se aprender um<br />

curso( ) Não tem tempo pra bobagem( ) Hoje os empregos são poucos( ) O a<strong>do</strong>lescente tem de ter<br />

formatura( ) Depende da sociedade acreditar nele( ) To<strong>do</strong>s têm direito a uma chance( ) Merece mais chance<br />

da sociedade( ) Merece confiança <strong>do</strong> povo( ) Muito conselho das pessoas( ) Muita conversa( ) Ele é um ser<br />

humano( ) Primeiro, ele é um a<strong>do</strong>lescente( ) A sociedade deve fazer por ele( ) Deve dar chance( )<br />

Confiança( ) As pessoas conversan<strong>do</strong>( ) Orientan<strong>do</strong>( ) Mostran<strong>do</strong> o caminho( ) Merece uma<br />

oportunidade( ) Toda pessoa merece fé( ) Receber conselhos de to<strong>do</strong>s( ) O governo dan<strong>do</strong> mais chances( )<br />

Estu<strong>do</strong> e trabalho( ) Se ele tiver um estu<strong>do</strong> melhor( ) Conversar com os profissionais( ) Depende das<br />

pessoas( ) To<strong>do</strong>s têm que ajudar( ) Devemos cuidar <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente( ) Ajuda das pessoas( ) Um<br />

empurrãozinho( ) Uma força( ) As pessoas devem fazer sua parte( ) Se as autoridades estendem a mão<br />

amiga( ) Dar emprego( ) Dar oportunidade( ) Muitas escolas( ) To<strong>do</strong>s merecem sua vez( ) Merecem nova<br />

chance( ) Não devemos perder a confiança( ) A gente tem que estender a mão( ) Se a gente não confiar, é<br />

pior( ) A sociedade deve dar apoio( ) Deve dar uma veizinha”<br />

FAMILIAR<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“Apoio da família( ) Compreensão <strong>do</strong>s pais( ) Ajuda( ) Ajuda <strong>do</strong>s pais( ) Os pais apoian<strong>do</strong>( ) É preciso a<br />

família olhar o menor( ) Não ficar contra ele( ) Conversar com ele( ) A conversa é importante( ) É o melhor<br />

caminho( ) A confiança <strong>do</strong>s pais( ) Eles confian<strong>do</strong> é bom( ) Quan<strong>do</strong> ele sair vai se recuperar( ) A família<br />

torce pelo filho( ) Os pais acompanhan<strong>do</strong> o filho”<br />

Mães<br />

“ Se os pais não acompanhar, é difícil( ) A mãe tem um coração mais seguro naquele filho( ) Tem confiança<br />

nele( ) Que ele vai fazer direitinho( ) Que ele vai em frente( ) A mãe luta pelo filho( ) Ter muita compreensão<br />

da família( ) Tem de partir de casa( ) Eu confio no meu filho( ) Eu aconselho ele”<br />

INSTITUCIONAL<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“Com o trabalho das unidades( ) Apoio da unidade( ) Setor técnico( ) As palestras, principalmente( )<br />

Psicóloga( ) Os técnicos da unidade( ) Às vezes até remédio( ) Pra mudar basta cair numa Febem( ) A<br />

Febem ajuda o menor( ) Aprende a pensar( ) A ajuda vem desse la<strong>do</strong>( ) Ficar refletin<strong>do</strong>( ) Ouvir os<br />

conselhos( ) Tirar proveito de estar preso( ) Curso profissionalizante( ) Formar outras idéias( ) Idéias boas( )<br />

Quan<strong>do</strong> sair, tá muda<strong>do</strong> ( ) Não erra mais”<br />

Mães<br />

“Se for bem acompanha<strong>do</strong> muda( ) Se ficar numa unidade, pagan<strong>do</strong>( ) Se for acompanha<strong>do</strong> por uma equipe<br />

( ) Se tiver pagan<strong>do</strong> seu crime( ) Tem que ter bom acompanhamento( ) Aprender uma profissão na unidade<br />

( ) Assim, ele muda( ) Deve pagar pelo que fez( ) Sofrer um pouquinho( ) Isso é importante( ) Ele vai refletir<br />

e mudar( ) Muitos sai com a vida melhor( ) Eles têm coisas boas aqui que a rua não dá( ) Os coordena<strong>do</strong>res<br />

ajudam( ) Cuidam deles( ) Os funcionários tiram eles <strong>do</strong> crime, conversan<strong>do</strong>( ) A mão amiga é também<br />

essas casas( ) Os cursos que ele faz aqui”<br />

ESPIRITUAL<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“Nada é impossível pra Deus”<br />

Mães<br />

“ Só pelo poder de Deus( ) Em primeiro lugar está Jesus( ) Nada pra Deus é impossível( ) Se tiver Deus no<br />

coração, ele muda( ) Quem tem Deus tu<strong>do</strong> pode( ) Se entrar no caminho de Deus( ) Ouvir a palavra de<br />

Deus( ) Rezar pelos maus pensamentos( ) Tu<strong>do</strong> Deus mandará( ) Só Deus muda tu<strong>do</strong>( ) Só Deus corrige a<br />

perdição( ) Deus está em primeiro lugar”


e) Distribuição das unidades de análise temáticas <strong>sobre</strong> PERCEPÇÃO DO EU<br />

AUTOPERCEPÇÃO<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“Sou tranquilo( ) Pessoa tranquila( ) Alegre( ) Comum( ) Já usei droga( ) Roubei( ) Fiz muitas coisas( ) Me<br />

comparo com uma pessoa normal( ) Não fumo cigarro( ) Sou igual a to<strong>do</strong>s( ) Não uso drogas( ) Sou da paz(<br />

) Não gosto de polícia( ) Não gosto de maldade( ) Não gosto de violência( ) Sou envolvi<strong>do</strong> com droga( )<br />

Gosto da vida calma( ) Gosto da alegria( ) Gosto da liberdade( ) Sou esquenta<strong>do</strong>( ) Não tenho muito apoio<br />

da família( ) Do meu pai( ) As vezes não mereço confiança( ) Sou carente( ) Gosto da minha mãe( ) Gosto<br />

da liberdade( ) Eu não bebo( ) Gosto de brincar( ) Me acho legal( ) Gosto de conversar( ) Sou ambicioso( )<br />

Gosto das minhas coisas( ) Não quero mudar( ) Não mereço confiança( )Eu devia ter mais juízo( ) Sou mais<br />

cabeça( ) Tenho um filho( ) Sou mais crânio( ) Sou um cara amigo( ) Legal( ) Sou amigo( ) Não procuro<br />

confusão( ) Sincero( ) Cari<strong>do</strong>so( ) Tento ajudar os outros( ) O que eu quero ser já tô fortemente( ) Não<br />

tenho mais nada pra mudar( ) Eu me identifico como infrator( ) Sou maduro( ) Amadureci( ) Tenho um<br />

problema( ) Não ajo mais por impulso( ) Sou simples( ) Sou de uma família simples( ) Uma família cari<strong>do</strong>sa(<br />

) Já fui dependente químico( ) Não completei os estu<strong>do</strong>s( ) Entrei no mun<strong>do</strong> das drogas( ) Não preciso mais<br />

de droga( ) Tenho um vazio( ) Sei me fazer feliz( ) Vou conforme a necessidade( ) Sou amigo( ) Legal( )<br />

Faço amigos( ) Não brigo( ) Procuro amizades( ) Aju<strong>do</strong> os outros( ) Não tem mais pra mudar( ) Já sou<br />

como quero( ) Já sou a pessoa certa( ) Estou muda<strong>do</strong>( ) Infrator( ) Sou um infrator( ) Sou um elemento<br />

calmo( ) Não faço mal a ninguém( ) Sou humilde( ) Gosto <strong>do</strong> certo( ) Não <strong>do</strong>u valor coisa errada( ) Gosto<br />

de ajudar( ) Gosto de mim( ) Minha família gosta de mim( ) Estou muda<strong>do</strong>( ) Sou um ser humano( ) Tenho<br />

tatuagem( ) Passagem pela Febem( ) Tenho outra mente( ) Tenho outros pensamentos( ) Sou maior de<br />

idade( ) Eu vivo tranca<strong>do</strong>( ) Sofren<strong>do</strong>( ) Sou namora<strong>do</strong>r( ) Brincalhão( ) Sou pensativo( ) Não sou droga<strong>do</strong>(<br />

) Não sou usuário( ) Pensativo( ) Meu jeito é calmo( ) Penso muito antes de agir( ) Tenho um jeito<br />

esquenta<strong>do</strong>( ) Não consigo me controlar( ) Faço e depois me arrepen<strong>do</strong>( ) Tenho um homicídio( ) Sou<br />

preso( ) Antes eu era rebelde( ) Tinha vida desgraçada( ) Hoje sou calmo( ) Paciente( ) No meu normal sou<br />

sensível( ) Qualquer coisa eu choro( ) Eu drogada sou violenta( ) Chata( ) No consciente sou legal( )<br />

Qualquer coisa me magôo( ) Droga, nada me dói( ) Sou impulsiva( ) Faço sem pensar( ) Não sou falsa( )<br />

Falo sem pensar( ) Não vejo as consequências( ) Mereço confiança( ) De verdade( ) Sou mãe( ) Sou uma<br />

infratora( ) Não uso droga( ) Sou boa( ) Órfã( ) Humilde( ) Sensível( ) Não tenho maldade( ) Não guar<strong>do</strong><br />

rancor( ) Não gosto de marginalidade( ) Não uso álcool( ) Tive educação boa( ) Sou educada( )<br />

Estudiosa( ) Sou madura( ) Ninguém reclama de mim( ) Sou satisfeita comigo( ) To<strong>do</strong>s gostam de mim( )<br />

Sei entrar e sair( ) Ninguém tem rancor de mim( ) Entro em união com to<strong>do</strong>s( ) Sou querida( ) Amo meus<br />

irmãos( ) Sou uma pessoa que vale a pena( ) Não quero mudar( ) Sou legal( ) Sou simpática( ) Não faço<br />

mal aos outros( ) Não pego droga( ) Bebo pouco( ) Me <strong>do</strong>u bem com to<strong>do</strong>s( ) Sou legal( ) Meu jeito é criar<br />

amigos( ) Falo com to<strong>do</strong>s( ) Sou to<strong>do</strong> cala<strong>do</strong>( ) Não <strong>do</strong>u papo( ) Pensativo( ) Gosto de refletir( ) Tô<br />

satisfeito comigo( ) Sou sempre igual( ) O povo me acha legal( ) Desobediente( ) Preso( ) Tô sem<br />

liberdade( ) Sem família( ) Sou infrator( ) Nós somos infratores( ) Sou menor de idade( ) Sou trabalha<strong>do</strong>r( )<br />

Já fumei maconha( ) Hoje mais não( ) Sou gente fina( ) Gosto de mim( ) Muito sensível( ) Gosto de<br />

estudar( ) Ia pra aula to<strong>do</strong> dia( ) Não fazia coisa errada( ) Me arrepen<strong>do</strong> <strong>do</strong> que fiz( ) Arrependida( ) Sou<br />

calmo( ) Sou mais eu( ) Calmo( ) Penso muito( ) Pensativo( ) Me arrepen<strong>do</strong> muito( ) Sou simpático( ) Faço<br />

coisas boas( ) Sou capaz de ser bom( ) Sou simples( ) Sou um a<strong>do</strong>lescente( ) Sou a minha vida( ) Os meus<br />

crimes( ) Mas eu mereço fé( ) Estou muda<strong>do</strong>( ) Cometi um crime( ) Sou comporta<strong>do</strong>( ) Nada de violência( )<br />

Só na paz( ) Não deixo ninguém mexer comigo( ) Não gosto de briga( ) Fiz o erra<strong>do</strong>( ) Sou um estranho( )<br />

Me sinto outra pessoa( ) Só que já tô seguin<strong>do</strong> meu caminho( ) Sou infrator( ) Adulto( ) As vezes sou calmo(<br />

) Só na minha( ) Não gosto de confusão( ) Rezo to<strong>do</strong> dia( ) Meu jeito é assim( ) Dou valor jogar bola( ) Ir<br />

pra escola( ) Já mudei demais( ) Eu era diferente( ) Agora sou outro( ) Sou mais eu”<br />

IDEALIZADA<br />

“Preten<strong>do</strong> mudar de vida( ) Terminar meus estu<strong>do</strong>s( ) Trabalhar( ) Renovar minha vida( ) Gostaria de ser<br />

estudiosa( ) Trabalha<strong>do</strong>ra( ) Ganhar a vida com dignidade( ) Ser digna( ) Não queria ser impulsiva( ) Queria<br />

pensar mais( ) Vou melhorar( ) Quero casar( ) Me dedicar a minha esposa( ) Meu trabalho( ) Minha família(<br />

) Quero ser livre( ) Mudar( ) Casar( ) Cuidar <strong>do</strong> meu filho( ) Ser diferente( ) Quero pensar menos( ) Ser<br />

obediente( ) Obedecer pai e mãe( ) Deixar os maus pensamentos( ) Gostaria de ser mais alegre( ) Ganhar<br />

dinheiro sua<strong>do</strong>( ) Dignamente( ) Ajudar minha mãe( ) Só ajudar ela( ) Não quero mais roubar( ) Não fazer<br />

coisa errada( ) Nem usar droga( ) Quero ficar melhor( ) Não fazer mais besteira( ) Não errar de novo( )<br />

Quero ser certo( ) Gostaria de mudar( ) Vou procurar escola( ) Trabalho( ) Arrumar uma mulher( ) Ajudar<br />

meu pai e minha mãe( ) Quero minha liberdade( ) Quero ir pra perto <strong>do</strong> meu pai e minha mãe( ) Quero ser<br />

livre( ) Peço a Deus ser livre( ) Tô tentan<strong>do</strong> ser diferente( ) Aliás, quero ser( ) Ser normal( ) Pra cá não volto<br />

mais( ) Nunca mais vou roubar( ) Nem usar droga( ) Vou voltar pra escola( ) Pegar um pouco a palavra de


Deus( ) Quero ser comum( ) Igual aos outros( ) Não vou mais vacilar( ) Tenho muitos objetivos( ) Quero pôr<br />

em prática( ) Mudar a vida( ) Não quero ser mais desobediente( ) Não vou errar( ) Vou praticar o que<br />

aprendi( ) Preten<strong>do</strong> ser livre( ) Trabalhar( ) Levar uma vida normal( ) Diferente( ) Ser outro( ) Um cara igual<br />

a to<strong>do</strong>s( ) Estudar muito( ) Trabalhar bastante( ) Não correr da polícia( ) Não matar os outros( ) Nem<br />

roubar( ) Gostaria de ser mais bom( ) Quero só fazer o certo( ) Ser obediente”<br />

HETEROPERCEPÇÃO<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“As pessoas pensam que ele nunca muda( ) Que ele só quer fazer o mal( ) Não pensam o que passa na<br />

cabeça dele( ) Pensam que ele só pensa o ruim( ) Não pensa que a gente sofre( ) Vê como um monstro( )<br />

Marginal( ) Vagabun<strong>do</strong>( ) Não confia( ) Não respeita( ) Vagabun<strong>do</strong>( ) Ladrão( ) Por onde a pessoa passa,<br />

comenta( ) Já foi presidiário( ) Nunca respeita( ) Pensa que não muda mais( ) Não tem mais jeito( ) Deixa<br />

ele aí mesmo( ) Não acredita( ) Pensa só besteira( ) Vê como perigoso( ) Acha muita coisa( ) Mal visto pela<br />

sociedade( ) Vê como ladrão( ) Desconfia( ) Mal visto pela polícia( ) O cara tá ali porque quer( ) Não gosta<br />

de ninguém( ) Faz aquilo por prazer( ) Quase não gosta( ) Chama a gente de vagabun<strong>do</strong>( ) Quan<strong>do</strong> vê a<br />

gente na rua, fala( ) Sai de perto( ) Não confia( ) Tem me<strong>do</strong>( ) Não gosta( ) O menor é isso e isso outro( )<br />

Que pode fazer qualquer coisa( ) Besteira( ) É marginal( ) Como sai na televisão( ) Ladrão( ) Fuma<strong>do</strong>r de<br />

maconha( ) Mata<strong>do</strong>r( ) Não mereçe confiança( ) Senão ele rouba de novo( ) Sai de perto( ) Vê como<br />

monstro( ) Preconceito( ) Olham diferente( ) Eu me sinto até mal( ) Pensa que ele não muda( ) Não merece<br />

mais chance( ) Critica ele( ) Não ajuda( ) Discriminam( ) Falam mal( ) Acha que é dependente( ) Comete<br />

delitos( ) Olha diferente( ) Muita discriminação( ) Pensa que vai ser sempre ruim( ) Permanecer no erro( )<br />

Não tem jeito( ) Não ligam pra infância dele( ) A sociedade discrimina( ) O mun<strong>do</strong> também( ) Infrator( ) Não<br />

liga( ) Não se importa( ) Pensa o pior possível( ) Pra sociedade tanto faz( ) Acha bom que ele vá preso( )<br />

Não tá nem ven<strong>do</strong>( ) Pensa o pior <strong>do</strong> elemento( ) Vagabun<strong>do</strong>( ) Não tem crédito( ) Merece morrer( ) Não<br />

acredita( ) Pensa que é ruim( ) Monstros( ) Só pensa besteira( ) Não aceita( ) Não gosta( ) Imagina coisas<br />

ruins( ) Não bota fé( ) Não quer por perto( ) Pensa que é perigoso( ) Sem coração( ) Sem amor( ) Quer o<br />

mal pra ele( ) Evita ele( ) Vê como monstro( ) Marginal( ) Merece a morte( ) Tem me<strong>do</strong> dele( ) Não aposta<br />

nele”<br />

Mães<br />

“ Eu não confio no que eu não conheço( ) Só pensam coisa errada( ) Fulano é filho de fulano( ) Fulano faz<br />

aquilo( ) Só pensa maldade( ) Não dão força( ) Ninguém apoia( ) Critica( ) O filho dela faz aquilo( ) Pensa<br />

que ele faz erra<strong>do</strong>( ) Rouba( ) Assalta( ) Mata( ) Discriminam( ) Não têm direito a nada( ) Discriminam as<br />

crianças( ) Que ele só faz o erro( ) Querem agredir o menor( ) Não dão confiança( ) Não aceita( ) Não<br />

apostam( ) Pensam que ele só erra( ) Não quer por perto( ) Pensa que ele só faz o mal( ) Tem me<strong>do</strong>( )<br />

Tem cuida<strong>do</strong>( ) Sai de perto( ) Rouba as coisas( ) Não deseja nada de bom pra ele( ) Uma pessoa<br />

qualquer( ) Querem fazer o mal( ) Ban<strong>do</strong> de monstros( ) Não merece direito a nada( ) Querem colocar ele no<br />

xadrez( ) Querem logo matar ele( ) Não aceita( ) Teme( ) Não quer confiar( ) Não tem merecimento( )<br />

Menino perdi<strong>do</strong>( ) Critica( ) Difícil( ) Não quer saber( ) Tem me<strong>do</strong>( ) Acha traiçoeiro( ) Pode atacar( )<br />

Malha( ) Malda( ) Julga( ) Bichos( ) Principalmente a alta sociedade( ) Marginal( ) Fica julgan<strong>do</strong>( ) O filho<br />

dela é ladrão( ) Condenam( ) A mãe não liga( ) To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> me olha( ) Diz coisas ruins( ) Coisas más( )<br />

Diz que é marginal( ) Pensa o que não é( ) Pensa coisa errada( ) Bota o nome dele em to<strong>do</strong> canto( ) Só<br />

pensa mal( ) Quer que ele fique preso direto( ) Tranca<strong>do</strong>( ) Acha que ele não se recupera( ) Não aposta<br />

mais( ) Que to<strong>do</strong>s são iguais( ) To<strong>do</strong>s ruins( ) Torce pra ele morrer( ) Diz que ele só anda no erro( ) Seu<br />

caminho deve ser a morte( ) Só diz isso( ) Me<strong>do</strong>( ) Quan<strong>do</strong> vê um a<strong>do</strong>lescente mal vesti<strong>do</strong> e sujo, guarda<br />

logo a bolsa( ) Guarda as coisas( ) Muito me<strong>do</strong>( ) Pensa assim( ) Não gosta( ) Não quer ver( ) Que não<br />

muda nunca( ) Eles não mudam( ) Dali pra pior( ) Muita raiva( ) Não sabe a reação dele( ) Vagabun<strong>do</strong>( )<br />

Monstro¨.


f) Distribuição das unidades de análise temáticas <strong>sobre</strong> EXPRESSÕES<br />

SUBJETIVAS<br />

SENTIMENTOS<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“Gostaria que minha mãe fosse mais feliz( ) Me sinto egoísta( ) Minha família sofre( ) Eu sofro aqui( ) As<br />

pessoas que gostam de mim sofren<strong>do</strong>( ) É ruim viver aqui( ) É ruim viver preso( ) Eu sinto viver a metade da<br />

minha a<strong>do</strong>lescência preso( ) Eu sofro por estar puni<strong>do</strong>( ) É muito ruim isto( ) Eu me emociono com a minha<br />

mãe( ) Eu tenho saudade dela( ) Ela pensa em mim e nem come direito( ) O menor fica com mais raiva( ) O<br />

menor fica <strong>do</strong>idinho( ) Fica cheio de raiva( ) Fica cheio de <strong>do</strong>r( ) Porque aqui, ave maria, é muito ruim( ) É<br />

muito triste ser infrator( ) A família muitas vezes se sente incapaz de ajudar e sofre”<br />

Mães<br />

“Eu acho triste ver um a<strong>do</strong>lescente droga<strong>do</strong>( ) É uma tristeza( ) Doloroso( ) Muita <strong>do</strong>r( ) É muito difícil pra<br />

mim( ) Sofro muito com isso( ) Faço sacrifício pra acompanhar ele aqui( ) É horrível ver ele preso( ) Eu<br />

sofro( ) As mães sofrem( ) Os pais sofrem quan<strong>do</strong> vêem o filho na pior( ) Esse menino sempre foi muito<br />

trabalhoso( ) Estou cansada de lutar com ele( ) Ele nunca obedece( ) Cansaço( ) Eu sinto pesa<strong>do</strong>( ) É um<br />

peso( ) Eu estou pra morrer( ) Eu canso de tentar( ) É muito pesa<strong>do</strong> mesmo( ) Pra mim é uma tristeza( )<br />

Um sofrimento( ) Desde que aconteceu isso eu vivo assim( ) Esse é meu maior sofrimento( ) A minha <strong>do</strong>r( )<br />

Uma <strong>do</strong>r grande( ) Só sabe quem passa o mesmo( ) Hoje eu tô sofren<strong>do</strong> e ele também( ) Ele sabe que eu tô<br />

sofren<strong>do</strong>( ) A gente fica magoada( ) A mãe fica sentida( ) Nem sabe mais o que faz( ) Eu cansei de dar lição<br />

a ele( ) A mãe leva culpa( ) Se sente culpada( ) Eu não tenho culpa se ele é assim( ) Tenho é vergonha( )<br />

Muita vergonha( ) A pessoa fica angustisada( ) Preocupada( ) A pessoa fica <strong>do</strong>ente( ) Triste( ) Tanto amor<br />

eu dei pra ele( ) Uma peça rara que saiu de dentro de mim( ) Foi um golpe( ) Um choque maior <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>( )<br />

Como se eu tivesse leva<strong>do</strong> uma facada( ) A polícia quase mata meu filho( ) Foi um choque horrível( ) É a<br />

maior <strong>do</strong>r( ) Pra mim e pra todas as mães daqui( ) Preocupada( ) Muita preocupação( ) Sofrimento vivo( )<br />

Muito magoa<strong>do</strong>( ) Pra mim é o fim( ) Um golpe miserável( ) Não suporto ver ele nessa vida( ) É uma cruz<br />

que carrego( ) Os pais sofrem demais( ) Tá sen<strong>do</strong> muito difícil( ) Uma dureza de vida( ) Acho isso uma<br />

<strong>do</strong>r( ) Nunca imaginei andar por certos cantos( ) Tô lutan<strong>do</strong> muito( ) Oran<strong>do</strong>( ) Peço ajuda de Deus( ) Me<br />

dê força( ) Eu me sinto mal( ) A vida ficou pior pra nós( ) Esse prejuízo me faz sofrer( ) É um martírio( ) Meu<br />

maior desgosto( ) Meu coração dói com essa arrumação( ) É muito ruim passar por isso( ) As coisas tá muito<br />

difícil( ) É ruim demais( ) Nós não temos paz( ) Me falta paz( ) Me falta alegria( ) Quase não acredito que<br />

meu filho ia ser um menor desses( ) Eu sofro to<strong>do</strong> dia( ) Ninguém sabe o tanto( ) Só Deus tem misericórdia<br />

de nós( ) É uma coisa horrível pra família( ) Minha família sofre( ) Porque a família também sofre( ) É muita<br />

vergonha( ) Humilhação”<br />

PENSAMENTOS<br />

A<strong>do</strong>lescentes<br />

“Ninguém é obriga<strong>do</strong> ser o mesmo( ) A gente muda o mo<strong>do</strong> de pensar( ) Negócio de confusão leva ninguém<br />

a nada( ) O nêgo tá tu<strong>do</strong> no mesmo barco( ) Aqui o nêgo tem que ser irmão( ) Amigo é o pai e a mãe da<br />

gente( ) Ninguém é diferente de ninguém( ) Ninguém é mais que ninguém( ) Ninguém sabe mais que<br />

ninguém( ) Não concor<strong>do</strong> com a discriminação( ) Tem muita droga no mun<strong>do</strong>( ) Muito infrator tá aqui de<br />

inocente( ) Não sei o que pode acontecer daqui pra frente( ) Na liberdade o cara deve refletir( ) Não vale a<br />

pena usar droga( ) Ato infracional é uma coisa negativa( ) O mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime não leva ninguém a nada( ) A<br />

pessoa tem valor( ) Ato infracional é viver no mun<strong>do</strong> das drogas( ) Tem muitos fora que era pra tá qui( ) Tem<br />

muitos aqui que era pra tá lá fora( ) É preciso procurar emprego( ) O mun<strong>do</strong> é mais de a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> que<br />

de adultos( ) O a<strong>do</strong>lescente devia ter mais paz( ) Deixar as drogas( ) Se unir à família( ) Se você sair daqui<br />

e não mudar, não muda nunca( ) Aquilo que a gente faz atinge muito nosso futuro( )Muitas vezes<br />

prejudica( ) Com experiência vai aprenden<strong>do</strong>( ) Se não aprender o mun<strong>do</strong> ensina( ) Acho que 6 meses não<br />

ajeita ninguém( ) 2 anos é tempo suficiente pro a<strong>do</strong>lescente se erguer( ) Erguer a cabeça e mudar de vida( )<br />

Na internação, qualquer coisa pode acontecer a to<strong>do</strong> momento( ) Não tem ninguém melhor <strong>do</strong> que<br />

ninguém( ) Aqui a gente tem tempo pra pensar muito( ) Pensa como arranjar um emprego lá fora( ) Na<br />

internação o cara fica sem usar droga( ) Só comen<strong>do</strong> e <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>( ) Estudan<strong>do</strong>( ) Trabalhan<strong>do</strong> também( )<br />

Eles ensinam a pessoa a pensar a sua vida( ) Muitos aprendem a lição”


Mães<br />

“ É importante que eles mudem( ) O diálogo é importante( ) Antigamente era fácil lutar com os filhos( ) Hoje<br />

filho não obedece mais( ) As mães lutam pra educar os filhos( ) Muitos têm lugar de pai e mãe( ) As mães<br />

sempre educam seus filhos( ) Eu tenho 9 filhos( ) Eu respon<strong>do</strong> por pai e mãe( ) A mãe precisa trabalhar( )<br />

As mães dão conselho pro bem( ) A mãe sempre quer o bem <strong>do</strong> filho( ) Muitos filhos mudam( ) As vezes a<br />

mãe cria o filho sem pai( ) A gente só pode ser julgada por Deus( ) Na terra só quem pode julgar é o Juiz( )<br />

Como ser humano a gente é um pedaço de carne( ) Não pode julgar os outros( ) Esse mun<strong>do</strong> não tem o que<br />

dar pro a<strong>do</strong>lescente( ) Se o mun<strong>do</strong> novo não der o mun<strong>do</strong> velho não dá( ) Aqui eles misturam to<strong>do</strong>s os<br />

a<strong>do</strong>lescentes( ) Eles colocam to<strong>do</strong>s num canto só( ) Não separam os maior <strong>do</strong>s menor( ) Tirar a vida de uma<br />

pessoa é crime( ) Crime merece castigo( ) Muitos a<strong>do</strong>lescentes erram( ) Eles fazen<strong>do</strong> essas coisas e vin<strong>do</strong><br />

pra um colégio desses não leva vantagem( ) Toda sociedade é culpada de tu<strong>do</strong> isso”

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