prisioneiros do estigma: representações sociais sobre ... - STDS
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Universidade Estadual <strong>do</strong> Ceará<br />
Lucita Cunha Matos<br />
PRISIONEIROS DO ESTIGMA: REPRESENTAÇÕES<br />
SOCIAIS SOBRE ADOLESCENTE INFRATOR<br />
Fortaleza – Ceará<br />
2004
M425p Matos, Lucita Cunha.<br />
Prisioneiros <strong>do</strong> <strong>estigma</strong>: <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente infrator / Lucita Cunha Matos. – 2004.<br />
148p.<br />
Orienta<strong>do</strong>ra: Profa. Dra. Maria Lúcia Duarte Pereira.<br />
Projeto de Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Saúde da Criança e <strong>do</strong><br />
A<strong>do</strong>lescente) – Universidade Estadual <strong>do</strong> Ceará, Centro de<br />
Ciências da Saúde.<br />
1. A<strong>do</strong>lescente. 2. Representações <strong>sociais</strong>. 3. Estigma. I.<br />
Universidade Estadual <strong>do</strong> Ceará, Centro de Ciências da Saúde.<br />
CDD:155.5
Universidade Estadual <strong>do</strong> Ceará<br />
Lucita Cunha Matos<br />
PRISIONEIROS DO ESTIGMA: REPRESENTAÇÕES<br />
SOCIAIS SOBRE ADOLESCENTE INFRATOR<br />
Dissertação apresentada ao Curso de Mestra<strong>do</strong> Profissional<br />
em Saúde da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente, da Universidade<br />
Estadual <strong>do</strong> Ceará, como requisito parcial para obtenção <strong>do</strong><br />
grau de Mestre em Saúde da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente.<br />
Orienta<strong>do</strong>ra: Profª Drª Maria Lúcia Duarte Pereira<br />
Fortaleza – Ceará<br />
2004
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ<br />
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE<br />
MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE<br />
Título <strong>do</strong> Trabalho: Prisioneiros <strong>do</strong> <strong>estigma</strong>: <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente infrator<br />
Autora: Lucita Cunha Matos<br />
Defesa em: _____/____/_____<br />
Banca Examina<strong>do</strong>ra<br />
_________________________________________<br />
Profª Drª Maria Lúcia Duarte Pereira – Orienta<strong>do</strong>ra<br />
_________________________________________<br />
Profª Drª Antônia Silva Paredes Moreira - UFPB<br />
_________________________________________<br />
Profª Drª Sheva Maia da Nóbrega - UFPE
Dedico este trabalho aos meus filhos Camille e Thiago.<br />
Que os anos jamais lhes roubem a sensibilidade com<br />
que hoje olham para os muitos a<strong>do</strong>lescentes que<br />
percorrem os tortuosos descaminhos da vida e que<br />
jamais desistam <strong>do</strong> compromisso com a construção de<br />
um mun<strong>do</strong> mais justo.
AGRADECIMENTOS<br />
À Profª Drª Maria Lúcia Duarte Pereira, orienta<strong>do</strong>ra e amiga, pela<br />
dedicada atenção a mim dispensada na elaboração deste trabalho.<br />
À Profª Drª Sheva Maia da Nóbrega que, com extrema competência,<br />
emprestou valiosa contribuição às reflexões aqui empreendidas.<br />
À Walhirtes Frota de Albuquerque, amiga querida, pelo incentivo e<br />
confiança.<br />
À Mirlânia Sâmara Maciel, pelo apoio incondicional à realização deste<br />
trabalho.<br />
Aos muitos colegas de trabalho, que gentilmente colaboraram para o<br />
processo de coleta de da<strong>do</strong>s e, em especial, à Mônica Araújo Gomes, por<br />
sua incansável disposição para partilhar idéias.<br />
Aos a<strong>do</strong>lescentes e mães, sujeitos deste estu<strong>do</strong>, por dividirem comigo<br />
fragmentos de sua vida.
RESUMO<br />
A crescente participação de a<strong>do</strong>lescentes no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime transformou-se em<br />
fenômeno contemporâneo de grandes proporções, sen<strong>do</strong> resultante <strong>do</strong> complexo quadro da<br />
violência que impregna o cotidiano das relações humanas em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. A partir de<br />
então, a sociedade mobilizou-se para compreender este fenômeno e elegeu a categoria<br />
“a<strong>do</strong>lescente infrator” para nela acomodar as suas explicações e organizar o mo<strong>do</strong> de se<br />
posicionar perante a nova realidade. O presente estu<strong>do</strong> teve por objetivo apreender as<br />
<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator, elaboradas por a<strong>do</strong>lescentes autores de<br />
homicídios ou latrocínios, priva<strong>do</strong>s de liberdade por sentença judicial, e por mães de<br />
a<strong>do</strong>lescentes infratores, recortan<strong>do</strong> <strong>do</strong> contexto social mais amplo um grupo de sujeitos que<br />
têm sua vida diretamente vinculada a esse objeto de investigação. Trata-se de um estu<strong>do</strong> de<br />
campo de tipo exploratório, com abordagem quantitativa e qualitativa, ten<strong>do</strong> por base a<br />
teoria das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. A pesquisa foi realizada em três centros de internação<br />
para a<strong>do</strong>lescentes, coordena<strong>do</strong>s pela Secretaria de Ação Social, localiza<strong>do</strong>s em Fortaleza-<br />
Ceará. Os instrumentos utiliza<strong>do</strong>s para a coleta de da<strong>do</strong>s foram: Teste de Associação Livre<br />
de Palavras, aplica<strong>do</strong> a 112 sujeitos, e entrevista semi-estruturada, aplicada a 32 sujeitos.<br />
Os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s no teste foram processa<strong>do</strong>s no soft Tri-Deux Mots e as entrevistas,<br />
submetidas à análise de conteú<strong>do</strong> temática. Os resulta<strong>do</strong>s dessa análise apontaram seis<br />
categorias (caracterização <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, caracterização <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator, causas<br />
para o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime, percepção <strong>do</strong> eu, perspectivas de mudança e<br />
expressões subjetivas) e sinalizaram <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> coincidentes entre os grupos,<br />
expon<strong>do</strong> sentimentos ambivalentes, revela<strong>do</strong>res <strong>do</strong> processo de incorporação <strong>do</strong> <strong>estigma</strong> na<br />
construção <strong>do</strong> autoconceito.<br />
Palavras-chave: A<strong>do</strong>lescente infrator. Estigma. Representação social.
ABSTRACT<br />
The increasing participation of teenagers in the world of crime has become a<br />
contemporary phenomenon of great proportions resulting from the complex violence situation<br />
that impregnates the day-to-day of the human relations all over the world. From that point,<br />
the society started to <strong>do</strong> something in order to understand this phenomenon and elected the<br />
“violator teenager” category for it to accommodate its explanations and organize the way of<br />
placing itself before the new reality. The present study has as an objective to apprehend the<br />
social representations about the violator teenager elaborated by the a<strong>do</strong>lescents who commit<br />
crimes or armed robberies, deprived of free<strong>do</strong>m due to judicial sentence and by mothers of<br />
violator teenagers, abstracting from the more ample social context a group of subjects that<br />
have their lives directly connected to the investigation objective. This an exploratory field<br />
study with a quantitative and qualitative approach, having as a base the theory of the social<br />
representations. The research was performed in three centers of confinement for<br />
a<strong>do</strong>lescents, coordinated by the Social Action State Secretary located in Fortaleza, Ceará.<br />
The tools used for collecting the data were: Test of Free Association of Words applied for<br />
112 subjects and a semi-structured interview applied for 32 subjects. The collected data<br />
during the test were processed using the software Tri-Deux-Mots and the interviews were<br />
pointed six categories (Characterization of the teenager, Characterization of the Violator<br />
Teenager, Causes for Entering the World of Crime, Perception of the “I”, Perspectives of<br />
Changes and Subjective Expressions) and signaled social representations coinciding within<br />
the groups, exposing ambivalent feelings revealing a process of incorporation of the stigma<br />
in the construction of the self-concept.<br />
Key-words: Violator Teenager. Stigma. Social Representation.
SUMÁRIO<br />
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..........................................................................12<br />
LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS..............................................................13<br />
APRESENTAÇÃO................................................................................................13<br />
CAPÍTULO 1.......................................................................................................18<br />
DO FENÔMENO AO OBJETO: O RECORTE DE UMA SUBJETIVIDADE.......19<br />
CAPÍTULO 2........................................................................................................34<br />
REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................35<br />
2.1 SOBRE A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS........................................35<br />
2.2 SOBRE A FUNÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.......................................39<br />
2.3 SOBRE O PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS......42<br />
CAPÍTULO 3........................................................................................................47<br />
CAMINHO METODOLÓGICO..............................................................................48<br />
3.1 NATUREZA DO ESTUDO........................................................................................48<br />
3.2 O CAMPO DE ESTUDO...........................................................................................49<br />
3.3 OS SUJEITOS.........................................................................................................51<br />
3.4 OS INSTRUMENTOS...............................................................................................52<br />
3.5 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS...................................................55<br />
3.6 ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS..............................................................57<br />
3.6.1 Análise de conteú<strong>do</strong>................................................................................................57<br />
3.6.2 Análise Fatorial de Correspondência.......................................................................65<br />
CAPÍTULO 4........................................................................................................68<br />
CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE ADOLESCENTE<br />
INFRATOR............................................................................................................69<br />
4.1 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE ADOLESCENTE<br />
INFRATOR A PARTIR DA ANÁLISE DE CONTEÚDO..................................................71
4.1.1 Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente.................................................................................71<br />
4.1.2 Descrições <strong>sobre</strong> A<strong>do</strong>lescente Infrator...................................................................78<br />
4.1.3 Causas <strong>do</strong> Ingresso no Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Crime...............................................................83<br />
4.1.4 Perspectiva de mudança......................................................................................91<br />
4.1.4 Percepção <strong>do</strong> eu...................................................................................................98<br />
4.1.6 Expressões subjetivas.........................................................................................106<br />
4.2 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE ADOLESCENTE<br />
INFRATOR A PARTIR DA ANÁLISE FATORIAL DE CORRESPONDÊNCIA..............110<br />
CAPÍTULO 5......................................................................................................118<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................119<br />
REFERÊNCIAS..................................................................................................124<br />
ANEXOS.............................................................................................................130<br />
COMPORTAMENTAIS.................................................................................................140<br />
Mães..............................................................................................................................140<br />
VIVENCIAIS.................................................................................................................140<br />
A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................140<br />
Mães..............................................................................................................................140<br />
COMPORTAMENTAIS...................................................................................................141<br />
A<strong>do</strong>lescentes..................................................................................................................141<br />
Mães..............................................................................................................................141<br />
VIVENCIAIS...................................................................................................................141<br />
A<strong>do</strong>lescentes..................................................................................................................141<br />
Mães..............................................................................................................................141<br />
SOCIOINTERACIONAIS................................................................................................142<br />
A<strong>do</strong>lescentes..................................................................................................................142<br />
Mães...............................................142<br />
FAMILIARES..................................................................................................................142<br />
A<strong>do</strong>lescentes..................................................................................................................142<br />
PSICOLÓGICAS.........................................................................................................143<br />
A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................143<br />
Mães..............................................................................................................................143<br />
SOCIOECONÔMICAS.................................................................................................143<br />
A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................143<br />
Mães..............................................................................................................................143<br />
PESSOAL....................................................................................................................144<br />
A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................144<br />
Mães..............................................................................................................................144<br />
SOCIAL........................................................................................................................144
A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................144<br />
Mães..............................................................................................................................144<br />
FAMILIAR.....................................................................................................................145<br />
A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................145<br />
Mães..............................................................................................................................145<br />
INSTITUCIONAL..........................................................................................................145<br />
A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................145<br />
Mães..............................................................................................................................145<br />
ESPIRITUAL................................................................................................................145<br />
A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................145<br />
Mães..............................................................................................................................145<br />
AUTOPERCEPÇÃO.....................................................................................................146<br />
A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................146<br />
IDEALIZADA..................................................................................................................146<br />
HETEROPERCEPÇÃO................................................................................................147<br />
A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................147<br />
Mães..............................................................................................................................147<br />
SENTIMENTOS...........................................................................................................148<br />
A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................148<br />
Mães..............................................................................................................................148<br />
PENSAMENTOS..........................................................................................................148<br />
A<strong>do</strong>lescentes................................................................................................................148<br />
Mães..............................................................................................................................149
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />
AFC – Análise Fatorial de Correspondência<br />
CONEP – Conselho Nacional de Saúde <strong>sobre</strong> Pesquisas envolven<strong>do</strong> Seres<br />
Humanos<br />
CPF – Contribuição por Fator<br />
ECA – Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente<br />
FEBEMCE – Fundação Estadual <strong>do</strong> Bem-Estar <strong>do</strong> Menor <strong>do</strong> Ceará<br />
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />
ONU – Organização das Nações Unidas<br />
RS – Representação Social<br />
SAS – Secretaria da Ação Social<br />
TRS – Teoria das Representações Sociais<br />
UNESCO – Organização Educacional Científica e Cultural das Nações Unidas<br />
UNICEF – Fun<strong>do</strong> das Nações Unidas para a Infância
LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS<br />
Figura 1 – Plano de análise............................................................................................59<br />
Figura 2 – Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente......................................................................62<br />
Figura 3 – Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator..........................................................63<br />
Figura 4 – Causas <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime.......................................................63<br />
Figura 5 – Percepção <strong>do</strong> eu...........................................................................................64<br />
Figura 6 – Perspectiva de mudança...............................................................................64<br />
Figura 7 – Expressões subjetivas...................................................................................65<br />
Quadro 1 – Perfil <strong>do</strong>s sujeitos segun<strong>do</strong> as variáveis sociodemográficas........................52<br />
Quadro 2 – Distribuição das categorias e subcategorias simbólicas <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />
infrator............................................................................................................................61<br />
................................................................................................................................140<br />
Tabela 2 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />
descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de<br />
a<strong>do</strong>lescentes autores de atos infracionais e mães.........................................................79<br />
Tabela 3 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />
causas <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de<br />
a<strong>do</strong>lescentes autores de atos infracionais e mães.........................................................84<br />
Tabela 4 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />
perspectiva de mudança e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescente autores de<br />
atos infracionais e de mães............................................................................................92<br />
Tabela 5 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />
percepção <strong>do</strong> eu e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescentes autores de atos<br />
infracionais e de mães...................................................................................................99<br />
Tabela 6 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />
expressões subjetivas e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescente autores de<br />
atos infracionais e de mães..........................................................................................107<br />
Tabela 7 – Freqüência de palavras evocadas pelos grupos de a<strong>do</strong>lescentes e de mães.<br />
.....................................................................................................................................113
Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim. Então disse: adquiri um varão<br />
com o auxílio <strong>do</strong> SENHOR.<br />
Depois deu à luz a Abel, seu irmão. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavra<strong>do</strong>r.<br />
Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim <strong>do</strong> fruto da terra uma oferta ao SENHOR.<br />
Abel, por sua vez, trouxe das primícias <strong>do</strong> seu rebanho, e da gordura deste. Agra<strong>do</strong>u-se o SENHOR de Abel<br />
e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agra<strong>do</strong>u. Irou-se, pois, <strong>sobre</strong>maneira Caim, e<br />
descaiu-lhe o semblante.<br />
Então lhe disse o SENHOR: Por que andas ira<strong>do</strong>? E por que descaiu o teu semblante?<br />
Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o peca<strong>do</strong> jaz à porta; o<br />
seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre <strong>do</strong>miná-lo.<br />
Disse Caim a Abel, seu irmão: Vamos ao campo. Estan<strong>do</strong> eles no campo, sucedeu que se levantou Caim<br />
contra Abel, seu irmão, e o matou.<br />
Disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei. Acaso sou eu tutor de meu<br />
irmão?<br />
E disse Deus: Que fizeste? A voz <strong>do</strong> sangue <strong>do</strong> teu irmão clama da terra a mim.<br />
És agora, pois, maldito por <strong>sobre</strong> a terra cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão.<br />
Quan<strong>do</strong> lavrares o solo não te dará ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra.<br />
Então disse Caim ao SENHOR: É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo.<br />
Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me; serei fugitivo e errante pela<br />
terra; quem comigo se encontrar me matará.<br />
O SENHOR, porém, lhe disse: Assim qualquer que matar a Caim será vinga<strong>do</strong> sete vezes. E pôs o SENHOR<br />
um sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse.<br />
Retirou-se Caim da presença <strong>do</strong> SENHOR, e habitou na terra de Node, ao Oriente <strong>do</strong> Éden.<br />
Livro de Gêneses, cap. 4, 1-16
APRESENTAÇÃO
Estamos construin<strong>do</strong> um mun<strong>do</strong> cada vez mais violento; exercitamos no<br />
cotidiano a violência. Tratamos sem carinho o nosso planeta e não nos importamos<br />
com a sua mutilação; tratamos sem carinho os nossos irmãos, nossos semelhantes<br />
e não nos importamos com a sua <strong>do</strong>r. Estamos nos acostuman<strong>do</strong> à violência que<br />
não mais nos indigna ou sequer nos surpreende.<br />
Os nossos a<strong>do</strong>lescentes são os filhos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Estão aprenden<strong>do</strong> a<br />
lição que não ousamos escrever de forma diferente e nem nos damos conta de que<br />
precisamos fazê-lo. O preço que pagamos é alto. Estamos de luto pelo crescente<br />
número de jovens em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> que adentram o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime e dele muitas<br />
vezes não podem sair. Estes ocultam-se por detrás da máscara de marginais,<br />
endurecem o olhar, a expressão <strong>do</strong> rosto, sufocam a sensibilidade de tal forma que<br />
já não parece possível se perceberem e serem percebi<strong>do</strong>s de outro mo<strong>do</strong>. Mas, se<br />
nos dispusermos a olhar seus olhos, a escutar sua alma, procuran<strong>do</strong> esgarçar as<br />
fronteiras <strong>do</strong> que está posto, poderemos, talvez, descortinar novos horizontes e<br />
convidá-los a fazer o mesmo.<br />
Em 1982, recém-formada em Psicologia, ingressei no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho<br />
na extinta Fundação Estadual <strong>do</strong> Bem-Estar <strong>do</strong> Menor <strong>do</strong> Ceará – FEBEMCE – que<br />
desenvolvia a política social de assistência a crianças e a<strong>do</strong>lescentes caracteriza<strong>do</strong>s<br />
como carentes, perdi<strong>do</strong>s, aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s e infratores. Ainda regi<strong>do</strong>s pelo antigo<br />
Código de Menores, já deparávamos naquela época com garotos e garotas que<br />
praticavam a violência e que eram retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> convívio sociofamiliar e recolhi<strong>do</strong>s<br />
em unidades estaduais de privação de liberdade. O fato é que esses a<strong>do</strong>lescentes,<br />
chama<strong>do</strong>s “menores”, eram em número pequeno e só alguns deles cometiam atos<br />
muito graves como homicídio ou latrocínio.<br />
14
Muitas indagações surgidas da prática profissional como psicóloga de<br />
uma instituição pública voltada para a área social suscitaram o interesse de<br />
investigar os fatores subjacentes ao ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime,<br />
em busca de respostas que poderiam estar não somente no saber das ciências, mas<br />
também sen<strong>do</strong> gestadas no imaginário <strong>do</strong>s sujeitos que vivenciam essa realidade,<br />
através de suas relações no mun<strong>do</strong>.<br />
As <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> enprenham o contexto social e são patrimônio<br />
comum <strong>do</strong>s seus vários atores, constituin<strong>do</strong>-se um conhecimento partilha<strong>do</strong> a partir<br />
<strong>do</strong> qual os sentimentos e comportamentos são organiza<strong>do</strong>s. O aumento <strong>do</strong> número<br />
de jovens autores de atos infracionais fez nascer a representação social a<strong>do</strong>lescente<br />
infrator. Assim, a compreensão e a socialização <strong>do</strong> fenômeno passam a servir de<br />
base para orientar a comunicação <strong>do</strong>s homens. Apoiar este estu<strong>do</strong> na Teoria das<br />
Representações Sociais torna possível perceber os sujeitos <strong>sociais</strong> no emaranha<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> significante, construí<strong>do</strong> na teia relacional da história humana. As<br />
considerações que serão feitas a partir de seus resulta<strong>do</strong>s certamente ampliarão o<br />
conhecimento na área das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente autor de ato<br />
infracional.<br />
Este trabalho encontra-se dividi<strong>do</strong> em cinco capítulos. O primeiro aborda<br />
a violência de um mo<strong>do</strong> geral e ajusta o foco para o fenômeno <strong>do</strong> ingresso <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime, realidade que a sociedade científica e leiga busca<br />
compreender. O capítulo aborda, ainda, da<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> a situação <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />
envolvi<strong>do</strong> com a prática infracional, no país e no esta<strong>do</strong>, discutin<strong>do</strong> o processo de<br />
construção de sua identidade marginal. O segun<strong>do</strong> capítulo faz considerações gerais<br />
<strong>sobre</strong> a Teoria das Representações Sociais, suas funções e processos de formação,<br />
incluin<strong>do</strong> reflexões <strong>sobre</strong> a representação social de a<strong>do</strong>lescente infrator e suas<br />
interfaces em cada um desses momentos. O terceiro capítulo discorre <strong>sobre</strong> a<br />
meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, situa a sua natureza e o campo de pesquisa e descreve os<br />
sujeitos e os procedimentos a serem a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para a sua realização. O quarto<br />
capítulo apresenta a elaboração das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> feitas pelos sujeitos,<br />
primeiramente a partir da descrição e análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s das entrevistas e, em<br />
seguida, por meio <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Teste de Associação Livre de Palavras. As<br />
respostas referenciadas pelos grupos foram consideradas à luz da Teoria das<br />
15
Representações Sociais e relacionadas a conteú<strong>do</strong>s teóricos que ampliaram a sua<br />
análise. O quinto capítulo contempla questionamentos <strong>sobre</strong> os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
trabalho e a sua aplicabilidade.<br />
16
Não haverá pré-disposições; haverá disposições, isto é, capacidades disponíveis<br />
para viver a história e capacidades disponíveis para deformar o registro da<br />
história, tornan<strong>do</strong>-a estória.<br />
Não haverá, na mente <strong>do</strong> homem, virtude ou peca<strong>do</strong> original.<br />
Ninguém herdará <strong>do</strong>s ancestrais sua estória, pois a construção da própria estória<br />
será o fator humano <strong>do</strong> homem. Que não falte à mente <strong>do</strong> homem nenhum<br />
instrumento e nenhuma ferramenta para construir a estória <strong>sobre</strong> a história:<br />
nenhuma magia lhe seja negada, desde inocentes devaneios até a criação <strong>do</strong><br />
inexistente.<br />
Di Loreto
CAPÍTULO 1
DO FENÔMENO AO OBJETO: O RECORTE DE UMA<br />
SUBJETIVIDADE<br />
A história da humanidade, ao longo <strong>do</strong> tempo, tem marcas de sentimentos<br />
como ódio, solidariedade, ambição, generosidade, assim como, de uma gama<br />
infinita de ações imersas na dimensão ora explícita, ora inconsciente <strong>do</strong> desejo. De<br />
tal forma o homem recria a sua realidade que, embora o longo caminho trilha<strong>do</strong> se<br />
faça parecer perdi<strong>do</strong> tamanha a sua vastidão, um fio condutor jamais rompi<strong>do</strong><br />
garante a nossa irmandade. Parece haver uma memória sensorial biológica que nos<br />
dá a sensação de que partilhamos atitudes e emoções comuns desde o início <strong>do</strong>s<br />
tempos e que carregamos no rosto um pouco de to<strong>do</strong>s os outros humanos.<br />
A violência não é uma invenção da contemporaneidade. Para além <strong>do</strong>s<br />
estu<strong>do</strong>s científicos que informam <strong>sobre</strong> os infindáveis conflitos humanos e disputas<br />
por bens materiais ou simbólicos, a própria narrativa bíblica também fala <strong>do</strong> primeiro<br />
homicídio da humanidade, pratica<strong>do</strong> por Caim contra seu irmão Abel. Movi<strong>do</strong> por<br />
sentimento misto de inveja e raiva, Caim cometeu o assassinato pelo qual recebeu a<br />
maldição de Deus e o transmitiu como lega<strong>do</strong> aos seus descendentes. A versão<br />
bíblica desse fratricídio põe por terra a utopia de um mun<strong>do</strong> de homens apenas<br />
amorosos e solidários e autoriza a possibilidade de sua natureza também cruel.<br />
Se, para a <strong>sobre</strong>vivência da espécie, o homem necessita estabelecer<br />
pactos de cooperação – o fato inconteste de estarmos nos multiplican<strong>do</strong> a cada dia<br />
prova isso – as trocas interacionais também estão inevitavelmente sujeitas aos<br />
conflitos a ela inerentes. A agressividade faz parte da condição humana, vez que<br />
19
possibilita ao organismo a sua defesa. Gaiarsa (1993) destacou essa importância,<br />
dan<strong>do</strong> ênfase não apenas ao la<strong>do</strong> concreto da conservação da vida, mas ao fato de<br />
que, pela agressividade, podemos investir na conquista de nossos ideais, naquilo<br />
que identificamos como significativo para o nosso crescimento e amadurecimento.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, é oportuno questionar: o que motiva o homem a a<strong>do</strong>tar<br />
comportamentos destrutivos, a ser preda<strong>do</strong>r de si próprio? Na verdade, nenhuma<br />
explicação linear poderia dar conta de sua abrangência multifatorial. Se recortes<br />
podem ser feitos para compreender a violência focalizan<strong>do</strong> prismas biológicos,<br />
psicológicos ou <strong>sociais</strong>, ainda assim não seria possível fazer uma ruptura entre as<br />
dimensões individuais e relacionais para localizá-la. A violência parece atravessar o<br />
homem-corpo e o corpo social, alinhavan<strong>do</strong>-os em suas fissuras, lançan<strong>do</strong> no ar o<br />
questionamento <strong>sobre</strong> os limites de seu território.<br />
Inúmeros são os caminhos que têm si<strong>do</strong> percorri<strong>do</strong>s para a compreensão<br />
desse fenômeno no intuito de se chegar a uma identificação <strong>do</strong>s fatores que, pelo<br />
menos em parte, expliquem a violência que aí está posta. Estudiosos de várias<br />
áreas vêm contribuin<strong>do</strong> nesse senti<strong>do</strong>, agregan<strong>do</strong> a esse esforço coletivo o saber<br />
particular de suas ciências. Assim sen<strong>do</strong>, psicólogos, psicanalistas, sociólogos,<br />
antropólogos, neurofisiologistas, filósofos, cientistas políticos, entre outros,<br />
participam da inesgotável busca de tornar a violência um fenômeno compreensível e<br />
passível de sofrer interferência.<br />
A psicanálise trouxe importante contribuição para a compreensão <strong>do</strong><br />
psiquismo humano. Freud (1997) afirmou que o homem tem uma tendência natural à<br />
agressão, o que acabaria pon<strong>do</strong> em risco a integridade e a existência da civilização.<br />
Diante da impossibilidade de anulação dessa força destrutiva, ao invés de dirigi-la<br />
contra o semelhante, aos homens cabe canalizá-la para outros focos, de mo<strong>do</strong> que<br />
seja investida de forma positiva nos objetos <strong>do</strong> seu mun<strong>do</strong>. Esse mecanismo de<br />
controle <strong>do</strong> instinto agressivo cria a condição para a convivência <strong>do</strong>s homens,<br />
manti<strong>do</strong>s sob um permanente esta<strong>do</strong> de tensão, o que exige um eleva<strong>do</strong> gasto de<br />
energia por parte de to<strong>do</strong>s. Segun<strong>do</strong> enfatizou Freud (1997, p. 67).<br />
20
o elemento de verdade por trás disso tu<strong>do</strong>, elemento que as pessoas estão<br />
tão dispostas a repudiar, é que os homens não são criaturas gentis que<br />
desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quan<strong>do</strong><br />
atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos <strong>do</strong>tes instintivos deve-se<br />
levar em conta uma poderosa cota de agressividade.<br />
Assim, na teoria psicanalítica, o sonho de uma sociedade pacífica, de<br />
uma aldeia global onde to<strong>do</strong>s partilhem a vida fraternalmente, expresso na poesia de<br />
canções que emocionam gerações, é uma utopia. É certo que a humanidade tem<br />
consegui<strong>do</strong> fazer pre<strong>do</strong>minar o espírito de convivência e realizações entre os<br />
humanos, entretanto, jamais conseguirá, com êxito, silenciar os demônios que<br />
aguardam irrequietos a oportunidade de emergir por entre as fendas de seus<br />
superegos. Enquanto a psicanálise prevê a imortalidade da violência, os homens<br />
continuam sonhan<strong>do</strong> com o amor e a harmonia em suas relações e, igualmente,<br />
imortalizan<strong>do</strong> a esperança de que conseguirão construir um mun<strong>do</strong> de paz.<br />
Apesar de a disposição agressiva poder ser pensada como instintiva, o<br />
mesmo não se pode dizer da violência. Esta é construída no cotidiano da vida,<br />
ensinada pelos nossos pares e com eles aprendida, ou melhor, é a transformação<br />
da agressividade em sua face mais escura. Para Costa (1999, p. 31), a violência “é o<br />
emprego deseja<strong>do</strong> da agressividade, com fins destrutivos”. O reconhecimento dessa<br />
dimensão genuinamente humana <strong>do</strong> desejo e <strong>do</strong> prazer com o sofrimento alheio,<br />
quer como autores, quer como especta<strong>do</strong>res, exige de nós bem mais que uma<br />
postura crítica mas coloca-nos diante da responsabilidade individual pelo destino <strong>do</strong><br />
nosso mun<strong>do</strong>.<br />
Se o recuo no tempo nos faz conhece<strong>do</strong>res de que a violência nasceu<br />
com o homem, então por que nossa inclinação para apontá-la como um <strong>do</strong>s<br />
fenômenos <strong>sociais</strong> mais perturba<strong>do</strong>res da atualidade? Cabe aqui atentar para o fato<br />
de que hoje vivemos num planeta extremamente populoso, segun<strong>do</strong> a Organização<br />
das Nações Unidas – ONU (IBGE,2000), com mais de 6 bilhões de pessoas,<br />
população esta que aumenta anualmente em 75 milhões, sen<strong>do</strong> que a metade tem<br />
menos de 25 anos de idade. É no século XX que acontece a explosão demográfica,<br />
principalmente nos países <strong>do</strong> terceiro mun<strong>do</strong>. No Brasil, as estatísticas <strong>do</strong> Instituto<br />
21
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2000) <strong>sobre</strong> a população revelaram um<br />
país com quase 170.000.000 de pessoas.<br />
Além disso, aprendemos a divulgar informações com uma velocidade<br />
jamais imaginada, o que nos deixa atualiza<strong>do</strong>s em relação a to<strong>do</strong>s os feitos<br />
humanos em to<strong>do</strong>s os lugares, no quase exato momento em que ocorrem. As<br />
notícias <strong>sobre</strong> as conquistas de nossos semelhantes nos unem num sentimento<br />
positivo de orgulho, mas as notícias <strong>sobre</strong> a violência cotidiana nos deixam a<br />
assusta<strong>do</strong>ra sensação de que temos uma incapacidade de cuidar de nossa vida e<br />
<strong>do</strong> nosso habitat. Amargamos a sensação de que somos uma sociedade cruel que<br />
se compraz com a destruição e o sofrimento <strong>do</strong> outro. Para Gauer (2001, p.14) essa<br />
situação traz “como resulta<strong>do</strong> um esta<strong>do</strong> geral de indiferença, na qual o bem e o mal<br />
expostos ao olhar, sem intermediação, tornam-se um simples da<strong>do</strong> <strong>do</strong> cotidiano,<br />
entre tantos outros, e talvez não o menos incômo<strong>do</strong>”.<br />
A violência em rede que ora testemunhamos sugere ainda a análise de<br />
outros componentes, partin<strong>do</strong> da premissa de que a nova ordem social decorrente<br />
da revolução digital que sucedeu a modernidade trouxe profundas mudanças na<br />
visão de mun<strong>do</strong> e no comportamento <strong>do</strong>s homens. Os alicerces ergui<strong>do</strong>s pela<br />
sociedade moderna, ancora<strong>do</strong>s na concepção da ordem e da disciplina e que<br />
objetivavam estabilizar o desequilíbrio gera<strong>do</strong> pela revolução industrial, ruíram.<br />
Entramos na era da velocidade. Em um curto espaço de tempo, tivemos<br />
que ajustar o ritmo de nossa vida às transformações radicais introduzidas no<br />
efêmero social. A sociedade pós-moderna cunhou para si a marca da transgressão.<br />
Transgredimos todas as conhecidas e estáveis fronteiras temporais e geográficas e,<br />
ao rompermos essas barreiras seculares, ampliamos o nosso desejo inquieto de<br />
poder e liberdade, embora tenhamos de pagar um preço alto por essa conquista. O<br />
usufruto desse prazer nos fez também acua<strong>do</strong>s pelo me<strong>do</strong> e insegurança diante <strong>do</strong><br />
desconheci<strong>do</strong> que se descortinou, convin<strong>do</strong> avaliar os reflexos de toda essa<br />
angústia <strong>do</strong> homem pós-moderno que ainda não incorporou os novos referenciais da<br />
vida contemporânea.<br />
22
Nessa reflexão, certamente não podemos deixar de considerar a<br />
globalização da economia e os seus significativos impactos na formação da<br />
subjetividade social <strong>do</strong> homem. A falta de oportunidades de emprego, o<br />
empobrecimento das populações, o acirramento das desigualdades <strong>sociais</strong> fazem<br />
parte dessa macroestrutura que passa, por sua vez, a afetar os próprios sujeitos, na<br />
sua individualidade, na sua forma de pensar e sentir a vida. Esse quadro, acima de<br />
tu<strong>do</strong>, tem se agrava<strong>do</strong> com o sério problema das drogas, aqui entendi<strong>do</strong> desde o<br />
uso abusivo até o tráfico.<br />
Silva (2001, p.38), em sua análise <strong>sobre</strong> a violência, insistiu na<br />
impossibilidade de se apreender a sua essência em razão da existência de suas<br />
múltiplas e difusas camadas constitutivas. Na tentativa de definir seus contornos,<br />
afirmou que<br />
um complexo simbólico e social só se torna inteligível quan<strong>do</strong> as<br />
explicações para entendê-lo e as propostas para resolvê-lo não são isoladas<br />
analiticamente, mas integradas compreensivamente ao próprio objeto<br />
constituí<strong>do</strong>. O conjunto de tais versões agrega necessariamente novas<br />
propriedades ao objeto, tornan<strong>do</strong> inócua e ingênua toda tentativa de<br />
isolamento <strong>do</strong> fenômeno em suas manifestações estruturais. É exatamente<br />
no interior contraditório de suas multiplicidades interpretativas que o<br />
complexo se esclarece em suas propriedades multi – facetadas e permite<br />
identificar as múltiplas causas que o condicionam.<br />
Conceituar a violência é tarefa complexa uma vez que o seu significa<strong>do</strong> é<br />
uma construção social modela<strong>do</strong> pela linguagem na qual estamos to<strong>do</strong>s<br />
mergulha<strong>do</strong>s. Se o ato em si é tão antigo quan<strong>do</strong> o próprio homem a sua conotação<br />
simbólica é relativamente recente. Escobar (2003, p.192) procurou definir a<br />
violência, extrain<strong>do</strong>-a <strong>do</strong> território da agressividade e destacou o desequilíbrio das<br />
forças empregadas pelos sujeitos envolvi<strong>do</strong>s, tanto no nível físico quanto no<br />
psicológico, afirman<strong>do</strong> que<br />
podemos falar, portanto, de uma ação que leva à coisificação <strong>do</strong> sujeito<br />
humano, um assujeitamento <strong>do</strong> ser ou de seres que desta forma perdem<br />
visibilidade enquanto sujeitos iguais nos seus direitos e demarca<strong>do</strong>s por<br />
suas singulares diferenças.<br />
Como fenômeno <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> moderno e globaliza<strong>do</strong>, a violência é hoje um<br />
mo<strong>do</strong> de relação, um modelo educativo, perpetua<strong>do</strong> e ensina<strong>do</strong> pelos próprios<br />
atores <strong>sociais</strong>, nos seus diversos ciclos de vida. Além de mobilizar as pessoas em<br />
23
torno de tragédias cotidianas, é cantada em músicas populares e maquiada pelos<br />
programas televisivos, despertan<strong>do</strong> risos e aplausos de uma platéia meio<br />
anestesiada e pouco questiona<strong>do</strong>ra. Mello (2002) chamou a atenção para a relação<br />
entre vida urbana, violência e representação das identidades <strong>do</strong>s sujeitos, afirman<strong>do</strong><br />
que a distribuição geográfica <strong>do</strong>s ricos e pobres na cidade, exibin<strong>do</strong> entre si luxo e<br />
miséria, incomodan<strong>do</strong> uns aos outros e ten<strong>do</strong> acesso desigual aos objetos de desejo<br />
oferta<strong>do</strong>s, influencia profundamente a forma como cada grupo se percebe. O fosso<br />
existente entre os ideais democráticos e essa violência estrutural impregnada nas<br />
relações <strong>sociais</strong>, que naturaliza o direito de cidadania para apenas alguns, contribui<br />
para a distorção <strong>do</strong>s olhares que entre si trocam ricos e pobres. O segmento pobre,<br />
ti<strong>do</strong> como inferior, arrasta outros adjetivos como diferente e perigoso, designações<br />
tomadas, nesse caso, como sinônimas.<br />
Tem-se por certo que a violência em nossos dias não é particularidade <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> adulto. No meio desse turbilhão mundano, a juventude, aberta às novas<br />
aprendizagens e emoções, cercada pela sedução das drogas, tem si<strong>do</strong> atingida em<br />
cheio. O preocupante aumento <strong>do</strong> consumo de drogas e o paralelo crescimento <strong>do</strong><br />
número de a<strong>do</strong>lescentes no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime parecem haver se torna<strong>do</strong> uma<br />
questão de abrangência planetária. No Brasil, a gritante desigualdade social e o<br />
aumento de sua população infanto-juvenil pobre trouxeram como conseqüência, a<br />
partir da década de 80, a invasão da esfera pública por crianças e a<strong>do</strong>lescentes que<br />
passaram a demarcar novos territórios de socialização, mostran<strong>do</strong> cabalmente que o<br />
lar não conseguia cumprir a sua missão de <strong>do</strong>mesticar os cidadãos <strong>do</strong> futuro.<br />
Viola<strong>do</strong>s em seus direitos fundamentais, foram batiza<strong>do</strong>s pelo <strong>estigma</strong> de “menores<br />
de rua“, o que abriu para a sociedade um fértil campo simbólico. Essa denominação,<br />
tida a partir de então como uma categoria analítica no discurso científico, facilitou a<br />
instalação de toda sorte de práticas, consubstanciadas na exploração desses<br />
menores pelos adultos.<br />
O <strong>estigma</strong> comportava uma longa lista de vocábulos (pivetes, prostitutas,<br />
vagabun<strong>do</strong>s, marginais) que acabavam por direcionar para a minoria explorada a<br />
responsabilidade pela sua existência, ocultan<strong>do</strong>, estrategicamente, seu mecanismo<br />
de produção. O <strong>estigma</strong> provoca uma demarcação clara de espaços, hierarquizan<strong>do</strong><br />
as relações através das práticas discursivas que o sustentam. Segun<strong>do</strong> Foucault<br />
24
(1999, p.164), “a formação <strong>do</strong>s discursos e a genealogia <strong>do</strong> saber devem ser<br />
analisa<strong>do</strong>s a partir não <strong>do</strong>s tipos de consciência, das modalidades de percepção ou<br />
das formas de ideologia, mas das táticas e estratégias de poder“. A fronteira entre o<br />
exercício <strong>do</strong> poder e a violência é tênue. Se, de uma forma escancarada, alguns<br />
“menores de rua” ingressaram na marginalidade, reescreven<strong>do</strong> e reafirman<strong>do</strong> seu<br />
autoconceito <strong>estigma</strong>tiza<strong>do</strong> – que em última instância é o único viés que lhes<br />
confirma como pessoas – por outro la<strong>do</strong>, um novo fenômeno se desenrolava,<br />
protegi<strong>do</strong> pelo silêncio da classe social favorecida: o fato de que um grande número<br />
de a<strong>do</strong>lescentes considera<strong>do</strong>s ricos passavam a cometer atos infracionais graves<br />
cada vez com mais freqüência. E assim, a violência praticada por a<strong>do</strong>lescentes<br />
deixava exposta a dura realidade <strong>do</strong> país.<br />
Volpi (2002) apresentou uma pesquisa quantitativa <strong>sobre</strong> o perfil <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente brasileiro priva<strong>do</strong> de liberdade, no perío<strong>do</strong> de outubro de 1995 a abril de<br />
1996, envolven<strong>do</strong> vinte e seis esta<strong>do</strong>s e o Distrito Federal, realizada pelo Movimento<br />
Nacional de Meninos e Meninas de Rua/DF, com apoio <strong>do</strong> UNICEF. Os resulta<strong>do</strong>s<br />
informaram que 73,3% <strong>do</strong> universo pesquisa<strong>do</strong> era procedente de famílias que<br />
tinham uma renda de até <strong>do</strong>is salários mínimos; 82,8% encontravam-se na faixa<br />
etária de 15 a 18 anos; 94,8% eram <strong>do</strong> sexo masculino; 15,4% eram analfabetos;<br />
53% eram usuários de drogas; 42% eram procedentes das capitais. Segun<strong>do</strong> essa<br />
pesquisa, o roubo foi a prática infracional que mais ocasionou a privação de<br />
liberdade, corresponden<strong>do</strong> a um percentual de 33,4%, contra um percentual de<br />
19,1% de atos pratica<strong>do</strong>s contra a pessoa humana.<br />
Go<strong>do</strong>y (2002) fez referência no jornal O Esta<strong>do</strong> de São Paulo a um<br />
estu<strong>do</strong> feito pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo <strong>sobre</strong> os principais<br />
crimes cometi<strong>do</strong>s exclusivamente por menores de idade, nessa capital, em 2001. O<br />
estu<strong>do</strong> destacou que, sozinhos, eles foram responsáveis por 2,7% <strong>do</strong> total de crimes<br />
registra<strong>do</strong>s pela Polícia Civil, com participação importante na estatística de<br />
homicídios e latrocínios, responden<strong>do</strong> por 4,8% <strong>do</strong> total <strong>do</strong>s casos. Ainda com<br />
relação ao mesmo ano, a Polícia Militar paulista informou que foram registra<strong>do</strong>s<br />
29.107 casos qualifica<strong>do</strong>s de atos infracionais pratica<strong>do</strong>s por menores de idade, em<br />
um total de quatro milhões de ocorrências atendidas no esta<strong>do</strong>.<br />
25
Em relação ao Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ceará, no que tange à violência praticada por<br />
a<strong>do</strong>lescentes, constata-se que o perfil <strong>do</strong> autor de ato infracional não se distancia <strong>do</strong><br />
perfil <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente brasileiro nessa condição, o que se comprova nos diferentes<br />
estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s. O crescimento da capital cearense tem si<strong>do</strong> grande nos últimos<br />
anos e a condição de miséria da maioria de seus habitantes se expande em igual<br />
medida. A urbanização de seus espaços e o fortalecimento <strong>do</strong> turismo têm atraí<strong>do</strong><br />
não só o turista, mas também um eleva<strong>do</strong> número de famílias pobres das zonas<br />
rurais. A lacuna nas políticas <strong>sociais</strong> básicas – habitação, trabalho, educação,<br />
saúde, lazer, etc – e a proliferação de favelas têm ti<strong>do</strong> como conseqüências graves<br />
a elevação <strong>do</strong>s níveis de violência de um mo<strong>do</strong> geral e a facilitação <strong>do</strong> ingresso <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente cearense no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime.<br />
A transcrição numérica da realidade cearense nessa área pode ser<br />
melhor compreendida a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s estatísticos 1 <strong>do</strong> ano de 2003, relativos ao<br />
a<strong>do</strong>lescente envolvi<strong>do</strong> com a prática infracional. Foram encaminha<strong>do</strong>s para a<br />
Unidade de Recepção Luís Barros Montenegro da Secretaria da Ação Social 1875<br />
a<strong>do</strong>lescentes acusa<strong>do</strong>s da prática de ato infracional, <strong>do</strong>s quais 1444 encontravam-<br />
se na faixa etária de 15 a 17 anos, o que correspondeu a um percentual de 77%<br />
desse universo. Vale ressaltar, ainda, que os a<strong>do</strong>lescentes dessa faixa de idade<br />
foram responsáveis por 84 crimes que culminaram com a morte da vítima.<br />
A violência extrema, como expressão da ação humana, revela a visão de<br />
mun<strong>do</strong> e de homem que banaliza a vida e elimina a ética como suporte para as<br />
relações pessoais. A consolidação <strong>do</strong> padrão relacional centra<strong>do</strong> na violência que<br />
parece naturaliza<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> moderno é hoje o modelo de educação de uma<br />
sociedade que, apesar de perpetuá-lo, recrimina-o e exige a sua erradicação.<br />
Verificamos, com base nesses da<strong>do</strong>s, que a quase totalidade <strong>do</strong>s<br />
a<strong>do</strong>lescentes atendi<strong>do</strong>s eram <strong>do</strong> sexo masculino, perfazen<strong>do</strong> um total de 90,6%.<br />
Podemos buscar na construção <strong>do</strong>s papéis de gênero uma das explicações para<br />
esse fato. A agressividade é eleita para compor a identidade masculina sen<strong>do</strong>,<br />
diretamente, associada à violência. O resulta<strong>do</strong> desse movimento culturalmente<br />
1 Unidade de Recepção Luís B. Montenegro/SAS – Estatística anual<br />
26
construí<strong>do</strong>, ampara<strong>do</strong> pelos parâmetros da competitividade e sucesso, é a formação<br />
de homens condena<strong>do</strong>s a ser violentos porque retiraram da agressividade seu<br />
conteú<strong>do</strong> positivo.<br />
A realidade institucional mostra que a quase totalidade <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes<br />
priva<strong>do</strong>s de liberdade pertencem à classe social menos favorecida, embora existam<br />
registros de garotos sentencia<strong>do</strong>s com medida de internação, provenientes de<br />
famílias com boa condição financeira. Igualmente é verdade que um número<br />
significativo deles são procedentes de famílias cujos pais biológicos não vivem<br />
juntos e a mãe assume um papel expressivo quanto à responsabilidade financeira<br />
da casa. O enfraquecimento ou a ausência da figura paterna na vida desse<br />
a<strong>do</strong>lescente e o maior espaço que a figura materna passa a ocupar na sua vida<br />
parecem explicar a maior aproximação desta no seu acompanhamento durante o<br />
perío<strong>do</strong> de internação.<br />
Apesar de ainda ser o adulto o maior responsável pelo cometimento da<br />
violência, os destaques da imprensa para a realidade acima descrita e os enfoques<br />
errôneos feitos pela mesma <strong>sobre</strong> o Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente estão<br />
contribuin<strong>do</strong> <strong>sobre</strong>maneira para a formação de uma atitude de revolta social para<br />
com o “a<strong>do</strong>lescente infrator” e para a imagem que tem si<strong>do</strong> elaborada <strong>sobre</strong> ele e<br />
por ele próprio. De tal forma essa situação se consolida no imaginário social que,<br />
apesar de a realidade numérica informar que o a<strong>do</strong>lescente é muito mais vítima <strong>do</strong><br />
que autor de violência, o mito de sua periculosidade e impunidade tem se<br />
<strong>sobre</strong>posto aos fatos. A população credita ao a<strong>do</strong>lescente uma elevada parcela <strong>do</strong>s<br />
crimes pratica<strong>do</strong>s no país, deixan<strong>do</strong> de se indignar com o índice eleva<strong>do</strong> da<br />
violência a que é submeti<strong>do</strong>.<br />
Estu<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> violência, realiza<strong>do</strong> pela UNESCO, relativo aos anos de<br />
1979 a 1996, constatou que é significativamente superior o percentual de mortes por<br />
homicídios e outras violências entre jovens de 15 a 24 anos, se considerada a<br />
população em geral. Em relação aos da<strong>do</strong>s colhi<strong>do</strong>s por esse estu<strong>do</strong>, Waiselfisz<br />
(1998, p.37) informou que “no país, em 1996, 35% das mortes de jovens tiveram sua<br />
origem em homicídios e outras violências, quan<strong>do</strong> para o conjunto das idades essa<br />
taxa foi de 6,4%. Nesse campo adquiriram trágica relevância as regiões Sudeste e<br />
27
Nordeste, onde 40.3 e 33,1% <strong>do</strong>s jovens, respectivamente, morreram por essa<br />
causa”.<br />
Além da violência concreta, física, que muitas vezes ceifa a vida de<br />
muitos a<strong>do</strong>lescentes brasileiros, podemos voltar o pensamento para a violência<br />
difusa, não nomeada, mas estampada no rosto <strong>do</strong> país, aquela que é fruto da nossa<br />
gritante desigualdade social. Brandão (2000) acrescentou a essas considerações<br />
uma reflexão <strong>sobre</strong> o processo de vitimização indireta a que estão submeti<strong>do</strong>s os<br />
a<strong>do</strong>lescentes, em decorrência de a sua condição de exclusão social oferecer uma<br />
baixa proteção contra seu ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. Assim sen<strong>do</strong>, seu trabalho<br />
mostrou que um eleva<strong>do</strong> número de a<strong>do</strong>lescentes interna<strong>do</strong>s na Febem de São<br />
Paulo tinha baixa escolaridade (apenas 2,7% estavam acima da 8ª série) e que um<br />
expressivo número de a<strong>do</strong>lescentes negros eram pertencentes a famílias com renda<br />
mensal inferior às médias <strong>do</strong> município.<br />
Segun<strong>do</strong> o pesquisa<strong>do</strong>r, o número de internos na Febem de São Paulo<br />
em 1995 era de 2104, chegan<strong>do</strong> a 3968 em 1999, o que representou cerca de 53%<br />
<strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes interna<strong>do</strong>s no país. Avançan<strong>do</strong> na análise dessa violência<br />
estrutural que se abate <strong>sobre</strong> aqueles de baixo poder aquisitivo, Brandão levantou a<br />
hipótese de que esse crescente numérico registra<strong>do</strong> também pode ser devi<strong>do</strong>, entre<br />
outras causas, ao reduzi<strong>do</strong> número de procura<strong>do</strong>res que o Poder Judiciário<br />
disponibiliza para a defesa <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes.<br />
O Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente – ECA, promulga<strong>do</strong> em 1990,<br />
reconhece como a<strong>do</strong>lescente toda pessoa que se encontra no intervalo etário entre<br />
12 e 18 anos, poden<strong>do</strong>, excepcionalmente, ser aplica<strong>do</strong> a pessoas entre 18 e 21<br />
anos de idade. Por essa razão, somente a partir <strong>do</strong> limite mínimo de 12 anos,<br />
poderá uma pessoa estar sujeita a uma medida privativa de liberdade. Essa medida<br />
só é determinada diante <strong>do</strong> cometimento de ato infracional grave correspondente a<br />
outro defini<strong>do</strong> como crime no mun<strong>do</strong> adulto. Após essa sentença judicial, o<br />
sentencia<strong>do</strong> poderá passar até três anos em uma unidade fechada, perío<strong>do</strong> que<br />
chega a corresponder à metade de sua a<strong>do</strong>lescência.<br />
28
Uma instituição cercea<strong>do</strong>ra da liberdade e detentora <strong>do</strong> controle <strong>do</strong> corpo<br />
já tem por si só o peso da definição daqueles que abriga. Embora as diretrizes legais<br />
exijam que as unidades de atendimento ao a<strong>do</strong>lescente infrator sejam espaços<br />
educativos e facilita<strong>do</strong>res <strong>do</strong> seu desenvolvimento (Brasil, 1990), estas, em geral,<br />
são a face concreta e cruel <strong>do</strong> poder. Segun<strong>do</strong> Foucault (1999, p.73), a sua<br />
existência é a prova da “<strong>do</strong>minação serena <strong>do</strong> Bem <strong>sobre</strong> o Mal, da ordem <strong>sobre</strong> a<br />
desordem”. O contato com o a<strong>do</strong>lescente que se encontra priva<strong>do</strong> de liberdade por<br />
prática de ato infracional revela nas entrelinhas o seu auto-retrato, cujo processo de<br />
elaboração se dá de forma inconsciente.<br />
Uma grande inquietação de to<strong>do</strong>s aqueles que trabalham com esses<br />
a<strong>do</strong>lescentes é a reincidência. É difícil entender por que a opressão de um centro<br />
educacional, a solidão, as <strong>do</strong>res experienciadas, os inúmeros planos de fuga e,<br />
finalmente, a tão esperada alegria pela conquista da liberdade, não são suficientes<br />
para afastar a escolha de retornar ao mesmo lugar e por que o a<strong>do</strong>lescente comete<br />
novas infrações graves, expon<strong>do</strong>-se ao risco tangível da volta. As razões podem ser<br />
complexas, mas há algo que certamente é parte intrínseca desse retorno: a<br />
autodefinição. O autoconceito, quan<strong>do</strong> está alicerça<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> um <strong>estigma</strong>, parece<br />
recair <strong>sobre</strong> a pessoa como uma profecia negra, minan<strong>do</strong>-lhe a crença em suas<br />
potencialidades, levan<strong>do</strong>-a à exaustão e, finalmente, à desistência de se “redimir”<br />
perante o outro. A auto-estima atingida poderá esmagar o homem que, muitas<br />
vezes, para evitar isso, transforma a sua identidade negativa em força propulsora<br />
para sua vida.<br />
A identidade marginal adquire um valor inverti<strong>do</strong>, motivo de orgulho e<br />
reconhecimento <strong>do</strong> jovem entre seus pares, ao mesmo tempo em que se transforma<br />
em cárcere dentro <strong>do</strong> qual ele abdica de suas esperanças de libertação. Watzlawick<br />
(1967, p.76) ressaltou que “as pessoas, no nível de relação, não comunicam <strong>sobre</strong><br />
os fatos situa<strong>do</strong>s fora de suas relações, mas oferecem-se mutuamente definições<br />
dessa relação e, por implicação, delas próprias”. Segun<strong>do</strong> o autor, a percepção que<br />
uma pessoa tem de outra e a forma como ela a expressa influenciará a<br />
autopercepção. Esse é um processo dinâmico e contínuo que se estabelece em<br />
todas as trocas relacionais, além de ser um elemento estruturante de toda definição<br />
de eu em nível coletivo e individual.<br />
29
A sociedade, pressionada por esse crescente de violência e acuada<br />
diante de seus jovens infratores, tem passa<strong>do</strong> a desacreditar neles, também<br />
forman<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> eles um conceito negativo que lhes é transmiti<strong>do</strong> ininterruptamente.<br />
Assim, esses a<strong>do</strong>lescentes estão condena<strong>do</strong>s, até por si próprios, a se movimentar<br />
nos limites de um <strong>estigma</strong> perverso cada vez mais difícil de romper. Quan<strong>do</strong> se<br />
<strong>estigma</strong>tiza alguém, estabelece-se uma linha separatória entre ele e os demais,<br />
ditos normais. Vejam-se as palavras de Goffman (1988, p.15) a esse respeito:<br />
“acreditamos que alguém com um <strong>estigma</strong> não seja completamente humano“.<br />
O cotidiano desse trabalho nos fez testemunhar uma série de aspectos<br />
que são indicativos <strong>do</strong> funcionamento dessa identidade marginal. Além <strong>do</strong> eleva<strong>do</strong><br />
número de a<strong>do</strong>lescentes que reincidem na prática infracional, verificamos que os<br />
apeli<strong>do</strong>s com os quais são batiza<strong>do</strong>s também traduzem esse autoconceito. A quase<br />
totalidade <strong>do</strong>s apeli<strong>do</strong>s são de cunho depreciativo, absolutamente distintos daqueles<br />
com os quais são apelida<strong>do</strong>s os a<strong>do</strong>lescentes de classe social mais favorecida.<br />
Verificamos também que seus corpos são tatua<strong>do</strong>s com imagens e palavras que<br />
destacam o tema violência e morte. Assim, fica expresso na linguagem verbal e não-<br />
verbal de cada jovem que cometeu ato infracional a denominação de infrator.<br />
Quan<strong>do</strong> um a<strong>do</strong>lescente pratica um ato infracional, o que passa a ser<br />
considera<strong>do</strong> não é mais a sua ação, que tem um senti<strong>do</strong> circunstancial, mas ele<br />
próprio, rotula<strong>do</strong> pela ação que o adjetivará a partir de então. Esse movimento se<br />
fará no sutil contorno entre as esferas <strong>do</strong> ESTAR e <strong>do</strong> SER e terá conseqüências<br />
importantes em sua vida. O grande desafio de um a<strong>do</strong>lescente priva<strong>do</strong> de liberdade<br />
passa a ser, em primeira instância, a desconstrução <strong>do</strong> <strong>estigma</strong> que <strong>sobre</strong> ele pesa<br />
para que possa em seguida resignificar sua identidade negativa. O espaço relacional<br />
é o espaço da comunicação. Através da linguagem, os homens expressam<br />
pensamentos, percepções e sentimentos <strong>sobre</strong> si próprios e <strong>sobre</strong> a realidade que<br />
os envolve, tornan<strong>do</strong> possível a elaboração das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>,<br />
conhecimento comum que possibilita aos grupos a criação de laços identificatórios, a<br />
partir da visão de mun<strong>do</strong> que partilham e que lhes orienta e justifica a conduta.<br />
A<strong>do</strong>lescente infrator é uma das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> criadas para<br />
responder ao fenômeno crescente <strong>do</strong> ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime.<br />
30
Na condição de sistema de valores, idéias e práticas, essa representação permite<br />
aos homens a construção da alteridade, ou seja, daquilo que passam a definir como<br />
diferente de si. Trata-se, pois, de um emaranha<strong>do</strong> simbólico que vai além <strong>do</strong><br />
concreto para adentrar as dimensões psicológica, social e cultural <strong>do</strong>s grupos,<br />
conten<strong>do</strong> em seu bojo a articulação entre a realidade e a lenda, a racionalidade e a<br />
emoção <strong>do</strong>s homens.<br />
Nesse processo de mesclagem entre o individual e o coletivo que recorta<br />
de cada um o consciente e o inconsciente, torna-se possível a elaboração de<br />
símbolos que servirão de base para que os sujeitos <strong>sociais</strong> signifiquem o mun<strong>do</strong> e<br />
possam apreendê-lo, ao mesmo tempo em que nele descobrem seu território e o<br />
lugar <strong>do</strong> outro. Jodelet (2001, p.22) procurou simplificar o complexo que existe na<br />
definição das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>, sintetizan<strong>do</strong>-a como “uma forma de<br />
conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que<br />
contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social“.<br />
O fato de o Brasil possuir um avança<strong>do</strong> instrumento jurídico na área <strong>do</strong>s<br />
direitos da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente tem provoca<strong>do</strong> um crescente interesse por esse<br />
segmento da população em diversos ramos <strong>do</strong> conhecimento, tais como o direito, a<br />
psicologia, a pedagogia, a sociologia, entre tantos. O ECA foi gesta<strong>do</strong> em um tempo<br />
que testemunha a marcha <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes brasileiros no território <strong>do</strong> crime, o que<br />
é, no mínimo, um convite a uma pausa para reflexão. Em paralelo, o correspondente<br />
aprofundamento no estu<strong>do</strong> das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> por pesquisa<strong>do</strong>res brasileiros<br />
tem oportuniza<strong>do</strong> a realização de um espesso número de pesquisas amparadas por<br />
esse referencial teórico que elegem como objetos de investigação o a<strong>do</strong>lescente<br />
infrator, seus familiares ou educa<strong>do</strong>res (ALVES e OLIVEIRA, 2003; LIMA et al, 2003;<br />
GOMES et al, 2003; BARROS e GONTIÉS, 2003; ESPÍNDULA e SANTOS, 2003).<br />
Estu<strong>do</strong>s dessa natureza vêm tornan<strong>do</strong> possível ampliar o entendimento de como<br />
esses atores <strong>sociais</strong> elaboraram sua compreensão <strong>sobre</strong> temáticas relacionadas aos<br />
a<strong>do</strong>lescentes envolvi<strong>do</strong>s com a prática infracional, produzida no campo <strong>do</strong>s<br />
encontros humanos e mediada pelo complexo sistema midiático de informações.<br />
Em relação, portanto, à produção e circulação da representação social de<br />
a<strong>do</strong>lescente infrator, a mídia tem exerci<strong>do</strong> esse papel com mereci<strong>do</strong> destaque<br />
31
através da imprensa falada e escrita, na medida em que anuncia estatísticas,<br />
comentários e imagens <strong>sobre</strong> o jovem autor de ato infracional, apoiada na própria<br />
realidade <strong>do</strong> aumento de sua participação no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. A circulação dessa<br />
representação dá vazão a uma elaborada teoria de causalidade que muitas vezes<br />
adentra o campo moralista <strong>do</strong> senso comum, deixan<strong>do</strong> de fora a leitura crítica de<br />
seu mecanismo de elaboração. Por oportuno, convém aqui indagar: Qual a idéia que<br />
infratores e suas mães têm <strong>sobre</strong> as causas gera<strong>do</strong>ras de um “a<strong>do</strong>lescente<br />
infrator”? Até que ponto ambos os grupos consideram possível que o a<strong>do</strong>lescente<br />
que cometeu ato infracional seja capaz de elaborar um projeto de vida que não<br />
perpasse pela infracionalidade?<br />
As indagações acima podem ser agrupadas em torno de<br />
questionamentos mais amplos, cujas respostas sejam buscadas na seara das<br />
ciências. Nesse senti<strong>do</strong>, elegemos como objetivo desse estu<strong>do</strong> apreender as<br />
<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong> “a<strong>do</strong>lescente infrator” elaboradas por<br />
a<strong>do</strong>lescentes infratores e suas mães, assim como verificar a importância<br />
dessas <strong>representações</strong> nos espaços comunicacionais e como diretriz para<br />
seus comportamentos.<br />
Destacamos a relevância deste trabalho à medida que poderá ser<br />
utiliza<strong>do</strong> como instrumento pedagógico para se trabalhar com a<strong>do</strong>lescentes, vez que<br />
sugere pistas para uma reflexão crítica <strong>sobre</strong> o processo de formação das<br />
<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>, levan<strong>do</strong> em conta a possibilidade de sua desconstrução,<br />
razão por que constitui um caminho para a transformação <strong>do</strong>s atores <strong>sociais</strong>.<br />
Ressalte-se ainda que poderá contribuir para a orientação de programas oficiais<br />
volta<strong>do</strong>s a a<strong>do</strong>lescentes que cometem atos infracionais, possibilitan<strong>do</strong> a<br />
conscientização <strong>do</strong>s atores institucionais <strong>sobre</strong> as conseqüências <strong>do</strong> <strong>estigma</strong> na<br />
formação da personalidade.<br />
32
Uma, e apenas uma capacidade será negada ao homem: a de ser inconseqüente.<br />
Portanto, não lhe será facultada a capacidade de fazer desaparecer os efeitos e as<br />
conseqüências das magias. Haverá sempre um débito a ser pago pela mente, e / ou<br />
pelo corpo, e / ou pelos outros homens.<br />
A estória será construída <strong>sobre</strong> o enre<strong>do</strong> da história: será a sua versão trágica ou<br />
sua versão cômica, mas será sempre a sua versão. Não será, portanto, o homem,<br />
produto mecânico e automático, nem de sua particular história, nem da História.<br />
Quan<strong>do</strong> a construção da história for insuportavelmente <strong>do</strong>lorosa, vazia ou<br />
vergonhosa, os afastamentos poderão ser tão extremos que a estória resultante<br />
costuma chamar-se insana.<br />
Di Loreto.
CAPÍTULO 2
REFERENCIAL TEÓRICO<br />
2.1 SOBRE A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS<br />
Este estu<strong>do</strong> terá como eixo central de suas reflexões a Teoria das<br />
Representações Sociais formulada por Serge Moscovici (1978), com o intuito de<br />
contribuir para uma maior compreensão da problemática <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente autor de<br />
ato infracional. A escolha desse referencial teórico se deu em razão de estarmos<br />
lidan<strong>do</strong> nesse estu<strong>do</strong> com a dimensão simbólica elaborada pelos atores <strong>sociais</strong> nos<br />
espaços comunicacionais e por ser esta, em tese, determinante de suas atitudes nos<br />
aspectos afetivo, cognitivo e comportamental.<br />
A violência praticada por a<strong>do</strong>lescentes é, na verdade, o fenômeno aqui<br />
estuda<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> dele recorta<strong>do</strong> um aspecto específico para se constituir como tema<br />
de investigação. Em razão de sua amplitude, o fenômeno é impalpável, poden<strong>do</strong> ser<br />
apreendi<strong>do</strong> apenas parcialmente, a partir da delimitação de seus múltiplos aspectos<br />
submeti<strong>do</strong>s ao controle da investigação. O objeto de representação social deste<br />
estu<strong>do</strong> será o a<strong>do</strong>lescente infrator, dada a importância que essa temática vem<br />
adquirin<strong>do</strong> no contexto cultural <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro, o que tem lhe da<strong>do</strong> uma<br />
significativa espessura social.<br />
No final <strong>do</strong> séc. XIX, Durkheim escreveu o livro O Suicídio, no qual<br />
reconhecia o crescente da força individual <strong>sobre</strong> o to<strong>do</strong> social, em razão <strong>do</strong><br />
desmonte <strong>do</strong> feudalismo, que se deu após a Revolução Industrial. Apesar dessa<br />
35
constatação, no século seguinte, o autor elaborou o conceito de representação<br />
coletiva, situan<strong>do</strong>-o como um conhecimento comum, gesta<strong>do</strong> socialmente, que<br />
possibilita uma forma homogênea de pensamento e comportamento entre os grupos<br />
humanos. Permaneceu fiel à concepção da primazia <strong>do</strong> coletivo <strong>sobre</strong> o indivíduo,<br />
provavelmente em razão de viver em uma época de pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong>s referenciais<br />
positivistas das ciências psicológica e social, quan<strong>do</strong> qualquer abordagem <strong>do</strong><br />
homem e <strong>do</strong> ambiente social passava por uma vertente explicativa mecanicista.<br />
O seu pensamento sofreu forte influência da perspectiva dicotômica que<br />
fazia uma nítida demarcação entre pessoa e sociedade. Para ele, a sociedade era<br />
entendida como um ente vivo, capaz de sentimentos e idéias próprias e, por esse<br />
prisma, capaz de fazer valer a sua verdade <strong>sobre</strong> as verdades menores de cada<br />
homem. Conforme Durkheim (1978, p.79),<br />
as <strong>representações</strong> coletivas traduzem a maneira como o grupo se pensa<br />
nas suas relações com os objetos que o afetam. Para compreender como a<br />
sociedade se representa a si própria e ao mun<strong>do</strong> que a rodeia, precisamos<br />
considerar a natureza da sociedade e não a <strong>do</strong>s indivíduos.<br />
Na separação que fez entre as <strong>representações</strong> coletivas e as individuais,<br />
o sociólogo procurou demarcar os campos da sociologia e da psicologia, voltan<strong>do</strong><br />
seu interesse para a primeira, porquanto acreditava ser possível analisar e<br />
compreender a realidade social à luz da objetividade científica. Apesar de suas<br />
idéias terem a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong> silenciosas por algumas décadas, Durkheim contribuiu, de<br />
forma significativa, para o estabelecimento das relações entre a sociologia e a<br />
psicologia social.<br />
Moscovici (2001), reconhecen<strong>do</strong> a importância <strong>do</strong> pensamento <strong>do</strong><br />
sociólogo atrás menciona<strong>do</strong> para o estu<strong>do</strong> da relação entre o conhecimento <strong>do</strong><br />
senso comum e o comportamento humano, passou a considerar que, na gênese<br />
dessa teoria, seria possível buscar uma nova verdade para a ciência <strong>do</strong>s homens. A<br />
sua percepção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> moderno, caracteriza<strong>do</strong> pelo dinamismo de constantes<br />
mudanças, foi decisiva para a leitura crítica que fez das idéias de Durkheim <strong>sobre</strong> as<br />
36
epresentações coletivas, elaboran<strong>do</strong>, a partir de então, o conceito de<br />
<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>.<br />
Para Moscovici (2003, p.49), as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> são “fenômenos<br />
específicos que estão relaciona<strong>do</strong>s com um mo<strong>do</strong> particular de compreender e de se<br />
comunicar – um mo<strong>do</strong> que cria tanto a realidade como o senso comum”. No<br />
contínuo processo das trocas interacionais, os sujeitos <strong>sociais</strong> vão produzin<strong>do</strong><br />
práticas cotidianas que estruturam a formação de valores e comportamentos,<br />
através <strong>do</strong>s quais cada indivíduo apreende o mun<strong>do</strong> e o significa. Assinalou com<br />
isso o poder <strong>do</strong> homem <strong>sobre</strong> seu mun<strong>do</strong>, enfatizan<strong>do</strong> seu potencial cria<strong>do</strong>r e<br />
transforma<strong>do</strong>r e sua capacidade de participar ativamente da construção da história.<br />
O autor pensou nas <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> como um fenômeno social<br />
teci<strong>do</strong> pelo homem, sen<strong>do</strong> que, ao mesmo tempo em que o antecede, o sucede no<br />
curso da história, renovan<strong>do</strong>-se como uma criação contínua, porta<strong>do</strong>ra das marcas<br />
de to<strong>do</strong>s os outros saberes que procuram explicar as indagações humanas. Nesse<br />
senti<strong>do</strong>, estamos “condena<strong>do</strong>s” a produzir e reproduzir <strong>representações</strong>, uma vez que<br />
estamos inscritos no ambiente sociocultural de uma dada sociedade, no seu<br />
substrato lingüístico, na rede de signos e símbolos eleitos para ver, sentir e interagir<br />
com o mun<strong>do</strong>. Cotejan<strong>do</strong> as dimensões psicológica e social das <strong>representações</strong>,<br />
Moscovici (2003, p.211) afirmou que<br />
elas possuem um aspecto impessoal, no senti<strong>do</strong> de pertencer a to<strong>do</strong>s; elas<br />
são a representação de outros, pertencentes a outras pessoas ou a outro<br />
grupo; e elas são uma representação pessoal, percebida afetivamente como<br />
pertencente ao ego.<br />
De acor<strong>do</strong> com Farr (1995, p.44), “a teoria de Moscovici é freqüentemente<br />
classificada, com muita propriedade, como uma forma sociológica da Psicologia<br />
Social”. O estreito intercâmbio estabeleci<strong>do</strong> por Moscovici entre as duas ciências<br />
nos aspectos individual e social, zonas indivisíveis na produção <strong>do</strong> saber popular,<br />
serviu para abrir um novo campo de estu<strong>do</strong>s interdisciplinares dentro da Psicologia<br />
Social, constituin<strong>do</strong>-se hoje uma referência teórica para um grande número de<br />
trabalhos desenvolvi<strong>do</strong>s por psicólogos nas áreas das relações <strong>sociais</strong>,<br />
37
comunicação, linguagem, difusão de saberes, entre outras. O processo de<br />
transformação de representação coletiva em social traduz, certamente, o próprio<br />
caminho da humanidade. Além das fronteiras que delineiam uma verdade defendida,<br />
faísca algo que não é particularidade de um determina<strong>do</strong> autor, mas faz parte <strong>do</strong><br />
lega<strong>do</strong> atemporal <strong>do</strong> homem para o homem. É assim no campo científico, filosófico,<br />
religioso e artístico.<br />
Jodelet (2001, p.22) reconheceu a complexidade de elementos que se<br />
agregam na composição das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> e criou uma definição que<br />
procura dar conta de sua totalidade, afirman<strong>do</strong> que<br />
como fenômenos cognitivos, envolvem a pertença social <strong>do</strong>s indivíduos com<br />
as implicações afetivas e normativas, com as interiorizações de<br />
experiências, práticas, modelos de condutas e pensamento, socialmente<br />
inculca<strong>do</strong>s ou transmiti<strong>do</strong>s pela comunicação social, que a ela estão<br />
liga<strong>do</strong>s.<br />
As <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> articulam a realidade externa e interna <strong>do</strong><br />
sujeito, estan<strong>do</strong> por essa razão prenhes das emoções através das quais ele<br />
consegue perceber o mun<strong>do</strong> e lhe atribuir senti<strong>do</strong>s de verdade. Assim sen<strong>do</strong>,<br />
podemos destacar a sua dupla natureza: como <strong>sociais</strong>, são a produção consensual<br />
<strong>do</strong>s humanos; como restrita aos afetos individuais, são testemunho da sua<br />
capacidade de recriação da realidade.<br />
O cometimento de ato infracional por a<strong>do</strong>lescentes passou a exigir um<br />
olhar especial <strong>do</strong>s estudiosos, uma vez que, pela sua magnitude, encontra-se hoje<br />
nas <strong>representações</strong> não só <strong>do</strong>s diversos segmentos <strong>sociais</strong>, mas também nas <strong>do</strong>s<br />
próprios a<strong>do</strong>lescentes denomina<strong>do</strong>s infratores e de seus familiares mais próximos.<br />
O ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime e a criação da representação social<br />
de “a<strong>do</strong>lescente infrator” obrigaram a sociedade a elaborar um conhecimento <strong>sobre</strong><br />
o problema em si, na tentativa de compreendê-lo e assim poder conviver com a sua<br />
concretude. A sua realidade toma forma emergin<strong>do</strong> da pluralidade <strong>do</strong> social ao<br />
mesmo tempo em que se materializa, fazen<strong>do</strong> a travessia pela subjetividade <strong>do</strong><br />
homem,ou seja, penetran<strong>do</strong> na fronteira <strong>do</strong>s afetos, <strong>do</strong>s desejos e das ilusões.<br />
38
2.2 SOBRE A FUNÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS<br />
Moscovici (2001, p.63), ao falar das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> nas<br />
sociedades modernas, afirmou que elas ocuparam a lacuna <strong>do</strong>s mitos e lendas.<br />
Durante um longo intervalo de tempo, esses saberes ofereceram aos povos as<br />
explicações para a origem da vida e <strong>do</strong> universo, sen<strong>do</strong> transmiti<strong>do</strong>s por aqueles a<br />
quem era conferi<strong>do</strong> o direito de fazê-lo. A contemporaneidade dispõe de uma<br />
poderosa tecnologia para a produção e transmissão <strong>do</strong> conhecimento. Se por um<br />
la<strong>do</strong> a ciência supera a cada dia seus próprios limites, reelaboran<strong>do</strong> as noções de<br />
verdade já estabelecidas, por outro, a dinâmica da comunicação, cada vez mais<br />
ousada e criativa, dilata os contornos da linguagem humana, permitin<strong>do</strong> à<br />
imaginação um vôo inimaginável.<br />
Nóbrega (1990) citou as duas grandes funções atribuídas por Moscovici<br />
em 1961 às <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>, que justificavam a sua importância para a vida<br />
social: função <strong>do</strong> saber e função de orientação. Os homens precisam fazer uma<br />
leitura comum da complexa realidade social, ten<strong>do</strong> uma certeza razoável de que a<br />
compreendem e podem lidar com ela. De outra forma, não seria suportável viver a<br />
vida, em razão de que seriam invadi<strong>do</strong>s pela angústia <strong>do</strong> estranhamento frente aos<br />
estímulos recebi<strong>do</strong>s. As <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> funcionam, pois, como um anteparo<br />
protetor, permitin<strong>do</strong> aos homens que elaborem um saber comum por meio <strong>do</strong> qual<br />
explicam os fatos com que deparam no cotidiano. A explicação da realidade dá<br />
senti<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong> e, estan<strong>do</strong> posta aos olhos de to<strong>do</strong>s, os homens não podem<br />
aguardar que aqueles legitima<strong>do</strong>s a proclamar a verdade o façam, para,<br />
posteriormente, apenas aceitarem-na. Eles precisam da verdade, imediatamente,<br />
razão pela qual se antecipam na sua gestação e a partilham. É nesse senti<strong>do</strong> que<br />
podemos pensar a função <strong>do</strong> saber das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>.<br />
De acor<strong>do</strong> com Abric (1998), a função de orientação da conduta está<br />
relacionada ao complexo cognitivo que envolve a formação das <strong>representações</strong><br />
<strong>sociais</strong>. Nesse senti<strong>do</strong>, a sociedade organiza o seu conjunto de valores que lhe<br />
permite um horizonte de pensamentos, sentimentos e comportamentos a serem<br />
a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s diante da realidade.<br />
39
O autor acrescentou mais duas funções às <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>: a<br />
identitária e a justifica<strong>do</strong>ra. Em relação à primeira, trabalhou a idéia de que as<br />
<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> mobilizam o senti<strong>do</strong> de pertença, vital para to<strong>do</strong>s os homens.<br />
As duas funções, inicialmente propostas por Moscovici, conduzem à terceira, à<br />
medida que a partilha de explicações da realidade e <strong>do</strong> sistema de valores que<br />
orientam as práticas permite a criação de laços grupais que identificam os grupos e<br />
seus membros. A propósito da função justifica<strong>do</strong>ra, pode-se afirmar que, se através<br />
das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>, os indivíduos podem antecipar sua ação <strong>sobre</strong> a<br />
realidade, da mesma forma, podem justificá-la após realizada. Nesse senti<strong>do</strong>, Abric<br />
(1998, p.30) assinalou que “a representação tem por função preservar e justificar a<br />
diferenciação social, e ela pode estereotipar as relações entre os grupos, contribuir<br />
para a discriminação ou para a manutenção da distância social entre eles”.<br />
Cabe aqui um parêntese para tratar <strong>do</strong>s estereótipos e da forma como<br />
interferem nas relações intergrupais. Schulze (1996, p.114) os incluiu num amplo<br />
processo de categorização, afirman<strong>do</strong> que “este processo tem, como sua principal<br />
função, simplificar ou tornar sistemática a abundante e complexa quantidade de<br />
informações que o organismo humano recebe <strong>do</strong> ambiente”. Dessa forma, a<br />
categorização se presta à demarcação <strong>do</strong>s territórios grupais e fornece diretrizes de<br />
como os homens devem agir uns com os outros.<br />
Os estereótipos, se atrela<strong>do</strong>s a preconceitos, intensificam o nível de<br />
conflito entre esses espaços, enrijecen<strong>do</strong> as fronteiras que os separam, crian<strong>do</strong> para<br />
cada grupo um sistema de valores próprios e produzin<strong>do</strong> a formação de uma<br />
identidade grupal. A categorização de uma pessoa por um <strong>estigma</strong> está imersa<br />
nessa reflexão <strong>sobre</strong> as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. Assim, a imputação de um <strong>estigma</strong><br />
será feita mediante toda a incorporação já realizada das estruturas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> social<br />
– nesse senti<strong>do</strong>, um produto delas – e também contribuirá para o reforço e<br />
manutenção dessas estruturas, sen<strong>do</strong>, por esse ângulo, produtora da<br />
representação. O indivíduo <strong>estigma</strong>tiza<strong>do</strong> tenderá a incorporar à sua identidade a<br />
mesma crença que o outro tem dele. Segun<strong>do</strong> Goffman (1988, p.16),<br />
40
os seus sentimentos mais profun<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> o que ele é podem confundir a<br />
sua sensação de ser uma pessoa normal, um ser humano como qualquer<br />
outro, uma criatura, portanto, que merece um destino agradável e uma<br />
oportunidade legítima .<br />
Estereótipos e <strong>estigma</strong>s contribuem para intensificar conflitos e polarizar<br />
os grupos <strong>sociais</strong>, delinean<strong>do</strong> a alteridade. Esse “outro” negativo adquire uma<br />
importância fundamental nas sociedades humanas, pois funciona como o lugar no<br />
qual podemos depositar aquilo que não aceitamos em nós ou que não queremos<br />
para nós. Possibilita-nos, pois, usufruir a sensação de consciência tranqüila de que<br />
somos homens de bem. A partir <strong>do</strong> que está sen<strong>do</strong> aqui discuti<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> as<br />
<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> e suas funções e, em especial, a essa referência aos<br />
des<strong>do</strong>bramentos da função justifica<strong>do</strong>ra, entendemos que as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong><br />
<strong>sobre</strong> o a<strong>do</strong>lescente que cometeu ato infracional e a que ele próprio forma de si<br />
mesmo estarão evidentes em to<strong>do</strong>s os discursos lingüísticos, atitudes e expressões<br />
corporais a ele relaciona<strong>do</strong>s e por ele assumi<strong>do</strong>s.<br />
Moscovici (1996) assinalou que todas as pessoas e grupos <strong>sociais</strong><br />
buscam o reconhecimento de sua existência e, mais que isso, buscam a aprovação<br />
e o bem-querer. A grande questão é que, quan<strong>do</strong> pessoas ou grupos se tornam<br />
transparentes como minorias <strong>sociais</strong>, perdem as chances de aprovação e afeto<br />
pelas maiorias. Ainda assim, muitas vezes, correm os riscos inerentes a essa<br />
desqualificação, construin<strong>do</strong> forças ativas e estratégicas, tiran<strong>do</strong> disso proveito<br />
próprio. Em razão da descrença que <strong>sobre</strong> elas se abate, as minorias aprendem a<br />
criar couraças resistentes que as habilitam a conviver com essas situações de<br />
desconforto, passan<strong>do</strong> a ignorar sua falta de crédito e apreciação.<br />
Vale lembrar que a representação que delimita os grupos pelo<br />
estabelecimento da alteridade acontece ao mesmo tempo nos diferentes espaços<br />
que se criam. A partir disso, cada uma dessas funções citadas será posta em<br />
movimento paralelo. Cada grupo se instrumentalizará com seus próprios recursos,<br />
construin<strong>do</strong> seus confins e seu pertencimento, perceben<strong>do</strong> a si e ao outro com o<br />
olhar que tomaram por empréstimo <strong>do</strong> substrato cognitivo-afetivo <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> social<br />
que já está, por sua vez, modela<strong>do</strong> pela contribuição individual subjetiva de cada<br />
sujeito. A compreensão de como o a<strong>do</strong>lescente autor de ato infracional e sua mãe<br />
41
elaboram a representação “a<strong>do</strong>lescente infrator” permitirá melhor entender os seus<br />
processos comunicacionais, os seus comportamentos e o seu movimento dentro <strong>do</strong><br />
palco das minorias.<br />
2.3 SOBRE O PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS<br />
Ao criar a sua teoria <strong>sobre</strong> o saber <strong>do</strong> senso comum, Moscovici (2003)<br />
também se ocupou em analisar a forma como as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> se<br />
estruturam, conceben<strong>do</strong> duas etapas gerais nesse processo: objetivação e<br />
ancoragem. Essas etapas, na verdade, não estão separadas ou hierarquizadas, mas<br />
articuladas, sen<strong>do</strong> estudadas individualmente apenas com fins didáticos. Envolvem<br />
os aspectos figurativo e simbólico, a articulação entre as dimensões psicológica e<br />
social, o esforço e a necessidade humana de lidar com o real, o concreto, o familiar,<br />
de mo<strong>do</strong> a dar senti<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong>. Na possibilidade de desmembramento desses<br />
processos, poderíamos caracterizar a objetivação como o processo de formação de<br />
imagens, no qual o sujeito dá corpo visual ao que lhe é abstrato; relativamente à<br />
ancoragem, podemos caracterizá-la como o processo de tornar familiar o<br />
desconheci<strong>do</strong>, no qual o sujeito integra o novo ao sistema cognitivo já existente.<br />
Vala (2000, p.465) discorreu <strong>sobre</strong> a objetivação e as fases de construção<br />
seletiva, esquematização e naturalização, destacan<strong>do</strong> que o sujeito apreende <strong>do</strong><br />
conteú<strong>do</strong> teórico <strong>do</strong> objeto alguns elementos para relacioná-los com os outros,<br />
agregan<strong>do</strong>-os em um sistema de imagens antes de atribuir ao objeto o caráter de<br />
natural, guardan<strong>do</strong> uma relativa coerência. Segun<strong>do</strong> suas palavras, “não só o<br />
abstrato se torna concreto através da sua expressão em imagens e metáforas, como<br />
o que era percepção se torna realidade, tornan<strong>do</strong> equivalente a realidade e os<br />
conceitos".<br />
É esse um desenho mental que fazemos, metaforicamente, da realidade<br />
externa que nos circunda, em nossa incansável tentativa de internalizar o que é<br />
palpável no mun<strong>do</strong>. Em relação à ancoragem, Vala lembrou que esta pode,<br />
42
igualmente, ser considerada anterior ou posterior à objetivação, enfatizan<strong>do</strong> a<br />
articulação dialética que as mantém unidas. Justifican<strong>do</strong> a posição anterior da<br />
ancoragem, o autor ressalta que, à medida que o sujeito não se encontra inseri<strong>do</strong><br />
em um vazio mental, mas contamina<strong>do</strong> pelo seu universo simbólico, antes de<br />
desenhar o esquema icônico <strong>do</strong> objeto, já o faz ancora<strong>do</strong> em esquemas conceituais<br />
já consolida<strong>do</strong>s em seu meio. No que tange à posição posterior, o autor a situou<br />
como etapa subseqüente ao movimento <strong>do</strong> sujeito de construir sua estrutura<br />
imagética para, em seguida, ancorá-la na bagagem conceitual já existente no seu<br />
contexto social. Jovchelovitch (2000, p.82) enriqueceu a compreensão desses<br />
processos que estão na gênese das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> afirman<strong>do</strong> que<br />
Objetivar é condensar significa<strong>do</strong>s - diferentes que podem ser<br />
ameaça<strong>do</strong>res, ou indizíveis – para fazê-los familiares, <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong>s. Ao<br />
assim fazer, sujeitos <strong>sociais</strong> ancoram o desconheci<strong>do</strong> em uma realidade já<br />
institucionalizada e deslocam a geografia de significa<strong>do</strong>s estabeleci<strong>do</strong>s que<br />
as sociedades lutam para perpetuar.<br />
Objetivan<strong>do</strong> e ancoran<strong>do</strong>, os sujeitos fazem investimentos simbólicos<br />
<strong>sobre</strong> os fenômenos emergentes <strong>do</strong> seu contexto social, favorecen<strong>do</strong> o intercâmbio<br />
entre o senso comum e a ciência, dada a porosidade de suas fronteiras. Pela<br />
comunicação interpessoal e intergrupal, fazem circular as <strong>representações</strong> que<br />
conseguem elaborar <strong>sobre</strong> a novidade, sacia<strong>do</strong>s pela sensação de <strong>do</strong>minação <strong>do</strong><br />
desconheci<strong>do</strong>. Apesar de não se dar conta, o homem é o cria<strong>do</strong>r da realidade que<br />
não existe em si, mas guarda consistência e significa<strong>do</strong> pela tradução que lhe é<br />
dada, no inesgotável processo comunicacional das criaturas <strong>sociais</strong>.<br />
Quan<strong>do</strong> Vala (2000) fez referência à ancoragem das <strong>representações</strong><br />
<strong>sociais</strong> no sistema de comunicação, citan<strong>do</strong> a difusão, a propagação e a<br />
propaganda como as formas pelas quais circulam, igualmente ressaltou o caráter<br />
consensual, hegemônico ou polêmico que assumem a partir de então. Pela difusão,<br />
as mensagens são lançadas sem vínculo entre o emissor e o receptor, atingin<strong>do</strong><br />
vários públicos e suscitan<strong>do</strong> pontos de vista varia<strong>do</strong>s, o que possibilita a formação<br />
de opiniões.<br />
43
Pela propagação, as mensagens, já estruturadas, são dirigidas a um<br />
grupo específico como argumento de defesa da idéia, possibilitan<strong>do</strong> a formação de<br />
atitudes em relação a determina<strong>do</strong> fenômeno e a antecipação <strong>do</strong> comportamento, de<br />
mo<strong>do</strong> a manter o vínculo entre emissor e receptor. Pela propaganda, a mensagem<br />
circula, geran<strong>do</strong> conflitos, separan<strong>do</strong> grupos e atribuin<strong>do</strong>-lhes uma identidade<br />
positiva ou negativa. É nesse trâmite que se dá a formação de estereótipos não<br />
como uma categoria criada pelo grupo, mas para ele.<br />
Vala (2000, p.493) comentou ainda o crescente papel da televisão na<br />
estruturação <strong>do</strong> caráter hegemônico de determinadas <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> e a<br />
forma como essa modalidade de pressão influencia os comportamentos humanos.<br />
Em sua visão, “a expressão <strong>do</strong> audiovisual mergulhou-nos num mun<strong>do</strong> de rostos,<br />
imagens e símbolos, nos quais se inscrevem as idéias mais abstratas, conferin<strong>do</strong>-<br />
lhes a materialidade de que necessitam para viver, reproduzir-se e tornar-se<br />
realidade”.<br />
A televisão, como o meio de comunicação de massa mais popular,<br />
incrustrada no seio de milhares de lares, veicula para uma infinidade de<br />
telespecta<strong>do</strong>res o rosto da violência praticada por a<strong>do</strong>lescentes. Esse fenômeno<br />
adquire, então, uma face material para a qual convergirão significações emocionais<br />
da população e <strong>sobre</strong> a qual se formará uma teia de argumentações que ajudarão<br />
na sua descrição, na explicação de suas causas e no modelo de conduta esperada<br />
para fazer-lhe frente.<br />
Se as explicações de causalidade encontradas são de natureza<br />
individual, entendemos que isso influenciará as opiniões e atitudes <strong>sociais</strong> no<br />
tocante à defesa da redução da maioridade penal e o conseqüente encarceramento<br />
<strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no quase limite da infância, manifestadas pelo regozijo frente às<br />
torturas infligidas aos a<strong>do</strong>lescentes por policiais ou populares. Ressalte-se que já<br />
ganha corpo na sociedade a defesa da prisão perpétua ou pena de morte como<br />
crença de que aí reside a eliminação <strong>do</strong> problema. Se, por outro la<strong>do</strong>, as pessoas<br />
ancoram as explicações <strong>sobre</strong> o fenômeno em causas <strong>sociais</strong>, a<strong>do</strong>tam atitudes e<br />
condutas diferentes daquelas, numa flagrante mudança de ótica. Segue, a esse<br />
respeito, o pensamento de Vala (2000, p.481):<br />
44
Ora, quan<strong>do</strong> os indivíduos se questionam <strong>sobre</strong> fenômenos <strong>sociais</strong> como a<br />
pobreza, o desemprego, a saúde, a violência ou o insucesso escolar,<br />
acionam as teorias que coletivamente construíram <strong>sobre</strong> estes mesmos<br />
fenômenos, e é no quadro dessas teorias que procuram e estruturam as<br />
explicações.<br />
Marchon (2003), em uma reflexão <strong>sobre</strong> a violência <strong>do</strong>s dias atuais,<br />
dentro de uma leitura psicanalítica que articula o registro <strong>do</strong> inconsciente com o<br />
comportamento manifesto, observou que a nossa iniqüidade social custa caro.<br />
Fabricamos miséria, corrupção e violência e internalizamos a culpa pela nossa<br />
insanidade. Nos confins <strong>do</strong> interior humano, o reflexo da responsabilidade pelas<br />
raízes <strong>sociais</strong> da violência conduz a uma postura que às vezes oscila entre a<br />
crueldade e a impunidade. Somos seres cruéis quan<strong>do</strong> nos esmeramos em tratar<br />
desumanamente os humanos, nossos irmãos. Construímos cárceres indignos para<br />
prender os violentos e não volvemos nosso olhar para os que ali se contorcem. Por<br />
outro la<strong>do</strong>, somos negligentes quan<strong>do</strong> aceitamos tacitamente a impunidade como se<br />
desejássemos conceder-lhes a liberdade, para sermos castiga<strong>do</strong>s pelo me<strong>do</strong> que<br />
nos provoca a sua soltura. Afirmou Marchon (2003, p.50) que<br />
Como nós sabemos que temos estas culpas, <strong>do</strong>entiamente deixamos<br />
milhares de criminosos sem punição e permitimos que os que são presos<br />
possam fugir com a maior facilidade. Não há como escapar de nossa<br />
responsabilidade pessoal pelo que acontece no mun<strong>do</strong> social de que<br />
participamos.<br />
A partir <strong>do</strong> que foi aborda<strong>do</strong> acima <strong>sobre</strong> as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>,<br />
podemos destacar como eixo fundamental de sua definição o fato de que consistem<br />
no saber <strong>do</strong> senso comum, intimamente liga<strong>do</strong> à comunicação. Se um determina<strong>do</strong><br />
fato social ganha consistência, os sujeitos <strong>sociais</strong> tecem a sua própria teoria <strong>sobre</strong><br />
ele, orienta<strong>do</strong>s por um modelo de pensamento prático. Esse pensamento lhes<br />
permitirá edificar um substrato comum, a partir <strong>do</strong> qual poderão compreendê-lo,<br />
<strong>do</strong>miná-lo e se posicionar. Para usar a expressão weberiana, os grupos constroem<br />
uma “visão de mun<strong>do</strong>” que aplaca a angústia frente ao novo, tornan<strong>do</strong>-o familiar,<br />
fortalecen<strong>do</strong> laços entre os indivíduos e demarcan<strong>do</strong> suas fronteiras.<br />
45
O que é então a verdade? Uma multidão movente de metáforas, de metonímias,<br />
de antropomorfismos, em resumo, um conjunto de relações poética e<br />
retoricamente erguidas, transpostas, enfeitadas, e que, depois de um longo uso,<br />
parecem a um povo firmes, canoniais e constrange<strong>do</strong>ras: as verdades são ilusões<br />
que nós esquecemos que o são, metáforas que foram usadas e que perderam a sua<br />
força sensível, moedas que perderam seu cunho e que a partir de então entram<br />
em consideração, já não como moeda, mas apenas como metal.<br />
Nietzsche
CAPÍTULO 3
CAMINHO METODOLÓGICO<br />
3.1 NATUREZA DO ESTUDO<br />
Realizar-se-á um estu<strong>do</strong> de campo exploratório, de caráter quantitativo e<br />
qualitativo, embasa<strong>do</strong> no referencial teórico das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>, atribuin<strong>do</strong>-<br />
se absoluta prioridade ao discurso <strong>do</strong>s sujeitos como fonte de informação para a<br />
análise das <strong>representações</strong> que elaboram.<br />
Respeitante a estu<strong>do</strong> exploratório, cite-se a posição de Gil (1999, p.43):<br />
“as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e<br />
modificar conceitos e idéias, ten<strong>do</strong> em vista, a formulação de problemas mais<br />
precisos ou hipóteses pesquisáveis para estu<strong>do</strong>s posteriores”.<br />
A importância <strong>do</strong>s aspectos quantitativos e qualitativos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> reside<br />
na incompletude de cada um deles, em separa<strong>do</strong>. Minayo (2000) destacou que<br />
esses aspectos não são excludentes, mas, ao contrário, a sua composição<br />
complementar amplia a riqueza <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s. Se a pretensão de desvelar a verdade é<br />
o anseio de to<strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r e se igualmente ele sabe ser verdadeira a ilusão de<br />
sua busca, que também procure naquilo que se manifesta o não dito, ou seja, o<br />
oculto <strong>do</strong> aparente, deixan<strong>do</strong> o concreto ser atravessa<strong>do</strong> pela subjetividade, não<br />
esquecen<strong>do</strong> o rigor que qualquer trabalho científico exige.<br />
48
3.2 O CAMPO DE ESTUDO<br />
Este estu<strong>do</strong> foi desenvolvi<strong>do</strong> em três centros educacionais destina<strong>do</strong>s ao<br />
atendimento de a<strong>do</strong>lescentes priva<strong>do</strong>s de liberdade por sentença judicial, sen<strong>do</strong> um<br />
feminino e <strong>do</strong>is masculinos, to<strong>do</strong>s eles vincula<strong>do</strong>s à Secretaria da Ação Social da<br />
cidade de Fortaleza – Ceará. A escolha desses campos deu-se em razão de ser<br />
esta secretaria o órgão estadual que tem a responsabilidade legal pela<br />
implementção das medidas socioeducativas privativas e restritivas de liberdade,<br />
pautan<strong>do</strong> suas ações nos parâmetros legais preconiza<strong>do</strong>s pelo Estatuto da Criança<br />
e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente – ECA (BRASIL, 1990).<br />
As ações institucionais voltadas para esse a<strong>do</strong>lescente procuram atender<br />
integralmente o art. 124 <strong>do</strong> ECA que trata <strong>do</strong> resguar<strong>do</strong> de seus direitos enquanto<br />
interno, assim como procuram priorizar o enfoque na pedagogia da presença que,<br />
segun<strong>do</strong> Costa (1997), tem no acompanhamento construtivo, aberto e solidário <strong>do</strong><br />
educa<strong>do</strong>r ao educan<strong>do</strong> sua finalidade primeira.<br />
Em Fortaleza, a rede de unidades para atendimento ao a<strong>do</strong>lescente em<br />
conflito com a lei é formada por oito unidades, sen<strong>do</strong> uma de recepção, para<br />
a<strong>do</strong>lescentes de ambos os sexos, uma de semiliberdade masculina, cinco de<br />
internação masculina e uma unidade feminina para atender as medidas privativas e<br />
restritivas de liberdade. Além da separação por sexo, as unidades se destinguem<br />
pela natureza <strong>do</strong> atendimento presta<strong>do</strong>, faixa etária <strong>do</strong>s internos e gravidade <strong>do</strong> ato<br />
infracional pratica<strong>do</strong>.<br />
Cada uma das cinco unidades de internação masculina tem capacidade<br />
para 60 internos, entretanto, a maioria delas atende uma média de 100 rapazes, o<br />
que traduz, numericamente, o índice acentua<strong>do</strong> de a<strong>do</strong>lescentes que adentraram o<br />
mun<strong>do</strong> da criminalidade. A unidade feminina, com capacidade para 30 garotas,<br />
atende cerca de 25 a<strong>do</strong>lescentes mensalmente, realidade que reitera a diferença<br />
significativa na relação entre sexo e prática infracional.<br />
49
As unidades masculinas escolhidas para a realização <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> foram o<br />
Centro Educacional Cardeal Aloísio Lorscheider e o Centro Educacional São Miguel,<br />
eleitos pela Secretaria da Ação Social – SAS – para o atendimento ao a<strong>do</strong>lescente a<br />
partir de 16 anos, autor de ato infracional mais grave e de compleição física mais<br />
robusta. Em razão da natureza <strong>do</strong> ato infracional pratica<strong>do</strong>, os internos dessas<br />
unidades permanecem um tempo mais longo priva<strong>do</strong>s de liberdade, sen<strong>do</strong>, portanto,<br />
nesses centros que se encontra a quase totalidade <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes e jovens<br />
adultos autores de homicídio e latrocínio. A unidade feminina foi o Centro<br />
Educacional Aldaci Barbosa Mota que atende garotas de 12 a 21 anos. À época da<br />
realização deste estu<strong>do</strong>, contava com 5 internas autoras de homicídio ou latrocínio.<br />
Os a<strong>do</strong>lescentes priva<strong>do</strong>s de liberdade vivem em unidades nas quais<br />
dividem espaços de alimentação, lazer, escolaridade, <strong>do</strong>rmida, higienização e<br />
recepção de visitas. O acesso ao ambiente social externo obedece à rigorosa<br />
apreciação e autorização da direção, equipe técnica ou Juiz da Infância e Juventude.<br />
Da mesma forma que em outras instituições dessa natureza, a vida é dirigida por<br />
regras que priorizam o coletivo em detrimento <strong>do</strong> individual, a fim de que a ordem<br />
possa ser mantida. Os espaços físicos internos das unidades masculinas são<br />
<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de grades de ferro, fechadas a cadea<strong>do</strong>, além de serem cerca<strong>do</strong>s por<br />
muros altos, onde, estrategicamente, há guaritas ocupadas por policiais.<br />
Goffman (1992), abordan<strong>do</strong> a questão das “instituições totais”, incluiu os<br />
presídios nessa categoria e procurou descrever atributos comuns que as distinguem<br />
das demais instituições <strong>sociais</strong>. Nas instituições fechadas, os homens vivem em<br />
grupos numerosos, tornan<strong>do</strong>-se, em conseqüência disso, seres transparentes, uma<br />
vez que não são percebi<strong>do</strong>s na sua individualidade. A padronização das atividades<br />
cotidianas e a fiscalização sistemática <strong>do</strong> interno passam a fazer parte <strong>do</strong> penoso<br />
processo de tortura a que terá de se submeter. Segun<strong>do</strong> o autor, “a barreira que as<br />
instituições totais colocam entre o interna<strong>do</strong> e o mun<strong>do</strong> externo assinala a primeira<br />
mutilação <strong>do</strong> eu” (GOFFMAN, 1992, p.24).<br />
A reconhecida consideração de ser o a<strong>do</strong>lescente um ser em<br />
desenvolvimento e, portanto, com direito a uma abordagem educativa <strong>sobre</strong>posta ao<br />
aspecto punitivo, mesmo quan<strong>do</strong> sentencia<strong>do</strong> com privação de liberdade, tem si<strong>do</strong><br />
50
explicitada legalmente a partir da exigência de que as unidades de internação se<br />
distanciem <strong>do</strong> modelo secular das instituições totais. Para tanto, os referi<strong>do</strong>s centros<br />
contam com profissionais das áreas de serviço social, pedagogia, psicologia,<br />
medicina, enfermagem e o<strong>do</strong>ntologia, além de uma equipe de apoio que trabalha em<br />
regime diuturno, de mo<strong>do</strong> a acompanhar o a<strong>do</strong>lescente, ininterruptamente. Durante<br />
o dia, os a<strong>do</strong>lescentes participam de atividades de escolarização, através de<br />
convênio firma<strong>do</strong> entre a Secretaria de Ação Social e a Secretaria de Educação, de<br />
oficinas profissionalizantes, e ainda de atividades lúdicas, culturais, espirituais,<br />
dispon<strong>do</strong> também de atendimento individual e grupal.<br />
3.3 OS SUJEITOS<br />
Fizeram parte deste estu<strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescentes priva<strong>do</strong>s de liberdade por<br />
sentença judicial, interna<strong>do</strong>s nos três centros retromenciona<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s sob a<br />
responsabilidade da SAS, os quais compõem o grupo A, e mães de a<strong>do</strong>lescentes<br />
na mesma situação, também internos nesses três centros, que passaram a compor<br />
o grupo B. Os critérios de inclusão na constituição destes grupos foram assim<br />
defini<strong>do</strong>s:<br />
Grupo A<br />
• Estar priva<strong>do</strong> de liberdade por cometimento de homicídio ou latrocínio.<br />
• Ter entre 16 e 21 anos.<br />
• Aceitar participar da pesquisa, com assinatura <strong>do</strong> consentimento livre e<br />
esclareci<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com a Resolução nº196/96 <strong>do</strong> Conselho<br />
Nacional de Saúde, seção Pesquisas Envolven<strong>do</strong> Seres Humanos<br />
(Brasil, 1998).<br />
Grupo B<br />
• Ser mãe de a<strong>do</strong>lescente priva<strong>do</strong> de liberdade por sentença judicial em<br />
um <strong>do</strong>s três centros já cita<strong>do</strong>s.<br />
51
• Aceitar participar da pesquisa, com assinatura <strong>do</strong> consentimento livre e<br />
esclareci<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com a Resolução nº196/96 <strong>do</strong> Conselho<br />
Nacional de Saúde, seção Pesquisas Envolven<strong>do</strong> Seres Humanos<br />
(Brasil, 1998).<br />
O Teste de Associação Livre de Palavras foi realiza<strong>do</strong> em uma amostra<br />
de 112 sujeitos, sen<strong>do</strong> 56 a<strong>do</strong>lescentes e 56 mães. A entrevista semi-estruturada foi<br />
realizada com 16 a<strong>do</strong>lescentes e 16 mães, sen<strong>do</strong> esse recorte de 32 sujeitos<br />
determina<strong>do</strong> pela saturação teórica das informações colhidas. A coleta de da<strong>do</strong>s foi<br />
realizada em um intervalo de 2 meses. O Quadro 1 abaixo expõe o perfil<br />
sociodemográfico <strong>do</strong>s sujeitos da amostra.<br />
Quadro 1 – Perfil <strong>do</strong>s sujeitos segun<strong>do</strong> as variáveis sociodemográficas.<br />
Sujeitos A<strong>do</strong>lescentes Mães<br />
Variáveis F % F %<br />
Sexo<br />
Total<br />
• Masculino 51 91 - - 51<br />
• Feminino 5 9 56 100 61<br />
Idade<br />
• 16-18 47 84 - - 47<br />
• 18-21 9 16 - - 9<br />
• > 21 - - 56 100 56<br />
Escolaridade<br />
• Analfabeto 7 12,5 14 25 21<br />
• Fundamental 44 78,5 39 69,7 83<br />
• Ensino Médio 5 9 3 5,3 8<br />
3.4 OS INSTRUMENTOS<br />
52
A escolha <strong>do</strong>s instrumentos para a coleta de da<strong>do</strong>s é fundamental para a<br />
construção <strong>do</strong> objeto de pesquisa que conduzirá às <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. Sobre<br />
essa etapa, Sá (1996, p. 100 -101) comenta que<br />
um primeiro problema que se coloca a to<strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r, mesmo que não<br />
adverti<strong>do</strong> nesses termos, diz respeito à coleta de da<strong>do</strong>s. Embora tal<br />
atividade tenha obrigatoriamente que ser complementada pelo tratamento<br />
ou análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, parece oportuno enfatizar sua importância na<br />
construção <strong>do</strong> objeto, bem como sua dependência em relação a eleições<br />
teórico-conceituais prévias.<br />
Este estu<strong>do</strong> foi desenvolvi<strong>do</strong> a partir de uma abordagem meto<strong>do</strong>lógica<br />
múltipla, priorizan<strong>do</strong> instrumentos que favorecessem a interação entre pesquisa<strong>do</strong>r e<br />
sujeitos e viabilizassem a expressão de seus conteú<strong>do</strong>s cognitivos, atitudinais e<br />
afetivos. Os instrumentos seleciona<strong>do</strong>s foram o Teste de Associação Livre de<br />
Palavras, a entrevista semi-estruturada e a observação assistemática. O uso<br />
combina<strong>do</strong> desses três instrumentos objetivou tornar possível a leitura e apreensão<br />
<strong>do</strong> objeto investiga<strong>do</strong> pela análise qualitativa e quantitativa <strong>do</strong> material expresso.<br />
Teste de Associação Livre de Palavras<br />
O Teste de Associação Livre de Palavras tem adquiri<strong>do</strong> importância<br />
crescente no campo de pesquisas em ciências <strong>sociais</strong> e humanas, dada a sua<br />
funcionalidade como instrumento de investigação <strong>do</strong>s elementos que dão<br />
configuração ao objeto da representação. A liberdade de expressão favorecida por<br />
essa técnica cria um terreno favorável às projeções <strong>do</strong> sujeito, oferen<strong>do</strong> ao<br />
pesquisa<strong>do</strong>r uma base de informações que dão acesso ao fenômeno<br />
representacional. As respostas evocadas devem ser entendidas além de sua<br />
simples significação vocabular. Moscovici (2003, p. 100) ressaltou que<br />
nós reagimos a um estímulo à medida em que, ao menos parcialmente, nós<br />
o objetivamos e o recriamos, no momento de sua constituição. O objeto ao<br />
qual nós respondemos pode assumir diversos aspectos e o aspecto<br />
específico que ele realmente assume depende da resposta que nós<br />
associamos a ele antes de defini-lo.<br />
53
O presente estu<strong>do</strong> utilizou a expressão “a<strong>do</strong>lescente infrator” como<br />
estímulo indutor, sen<strong>do</strong> solicita<strong>do</strong> a cada sujeito que respondesse à seguinte<br />
questão: Quais as quatro primeiras palavras que lhe vêm à mente quan<strong>do</strong> eu falo a<br />
expressão a<strong>do</strong>lescente infrator? As respostas a essa pergunta foram registradas na<br />
ordem em que foram proferidas. A partir disso, foi construí<strong>do</strong> um dicionário com 448<br />
respostas que variaram entre palavras e expressões evocadas pelos sujeitos.<br />
Os da<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s pelo teste e processa<strong>do</strong>s pelo software Tri-Deux-<br />
Mots tornaram possível, no aspecto quantitativo, uma representação gráfica das<br />
variáveis fixas (grupo de a<strong>do</strong>lescentes e de mães, idade e escolaridade) e variáveis<br />
de opiniões (respostas evocadas). No aspecto qualitativo, através da técnica da<br />
análise fatorial de correspondência, os da<strong>do</strong>s retrata<strong>do</strong>s no território gráfico puderam<br />
ser compreendi<strong>do</strong>s pela leitura <strong>do</strong>s espaços que entre si estabeleceram essas<br />
variáveis.<br />
Na ocasião da realização desse levantamento de da<strong>do</strong>s, os três centros<br />
educacionais escolhi<strong>do</strong>s contavam com um total de 56 a<strong>do</strong>lescentes priva<strong>do</strong>s de<br />
liberdade por homicídio ou latrocínio, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong> o teste em 100% desse<br />
universo. Após a conclusão dessa etapa, aplicou-se o teste a igual número de mães<br />
que visitavam seus filhos durante as internações.<br />
Entrevista Semi-estruturada<br />
As entrevistas foram feitas em etapa posterior à aplicação <strong>do</strong> Teste de<br />
Associação Livre de Palavras, sen<strong>do</strong> estruturadas em torno de questões que<br />
procuraram desnudar elementos <strong>do</strong> universo subjetivo <strong>do</strong>s sujeitos, invariavelmente<br />
impregna<strong>do</strong>s <strong>do</strong> colori<strong>do</strong> cognitivo e afetivo de suas vivências. Embora a pergunta<br />
central tenha si<strong>do</strong> Para você o que é a<strong>do</strong>lescente infrator? uma outra pergunta <strong>sobre</strong><br />
“a<strong>do</strong>lescente” a antecedeu, com o objetivo de facilitar o ingresso <strong>do</strong> sujeito na<br />
temática investigada.<br />
54
Sá (1998) esclareceu que a quantidade de entrevistas necessárias a uma<br />
investigação <strong>sobre</strong> o conteú<strong>do</strong> representacional não deve ser determinada a priori.<br />
Ao longo da coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, o pesquisa<strong>do</strong>r facilmente identificará o momento em<br />
que os temas expressos pelos sujeitos começarão a se repetir, o que sinalizará o<br />
limite <strong>do</strong> número de entrevistas.<br />
Observação Assistemática<br />
Podemos considerá-la como uma observação sem validação quantitativa<br />
que consistiu em observações espontâneas de aspectos considera<strong>do</strong>s significativos<br />
ao longo <strong>do</strong> procedimento de coleta de da<strong>do</strong>s.<br />
3.5 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS<br />
O Teste de Associação Livre de Palavras foi o primeiro instrumento<br />
utiliza<strong>do</strong> na etapa de coleta de da<strong>do</strong>s. O contato com cada a<strong>do</strong>lescente foi feito<br />
seguin<strong>do</strong> as normas de segurança das unidades onde se encontravam. Nas<br />
internações masculinas, cada a<strong>do</strong>lescente foi leva<strong>do</strong> até a sala reservada para a<br />
entrevista por um funcionário de plantão que aguardava no corre<strong>do</strong>r a conclusão da<br />
aplicação <strong>do</strong> teste. O cuida<strong>do</strong> e o esta<strong>do</strong> de alerta <strong>do</strong> funcionário estiveram<br />
diretamente relaciona<strong>do</strong>s a sua responsabilidade em evitar fuga ou violência por<br />
parte <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente.<br />
Na internação feminina, a geografia <strong>do</strong>s espaços e o baixo número de<br />
internas tornaram menos necessários os protocolos de segurança. As a<strong>do</strong>lescentes<br />
circulam com mais liberdade na unidade e têm considerável acesso aos<br />
funcionários. A aplicação <strong>do</strong> teste prescindiu, pois, de maiores tensões no contato<br />
com as a<strong>do</strong>lescentes. Após a conclusão da aplicação <strong>do</strong> teste aos cinqüenta e seis<br />
55
a<strong>do</strong>lescentes, foi iniciada a aplicação desse instrumento às mães, nas próprias<br />
unidades, por ocasião de suas visitas aos filhos.<br />
A etapa seguinte, realização das entrevistas, também transcorreu da<br />
mesma forma anteriormente descrita. Os a<strong>do</strong>lescentes convida<strong>do</strong>s para ser<br />
entrevista<strong>do</strong>s foram escolhi<strong>do</strong>s conforme a facilidade de expressão e comunicação<br />
que demostraram na oportunidade da aplicação <strong>do</strong> teste. As mães entrevistadas<br />
foram aquelas que, no dia da visita, aceitaram participar <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>. As entrevistas<br />
foram todas gravadas, não ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> defini<strong>do</strong> tempo para a sua duração. Vale<br />
salientar que as mães entrevistadas não foram as mesmas que responderam ao<br />
teste, ao contrário <strong>do</strong> procedimento a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> com os a<strong>do</strong>lescentes, dada a<br />
dificuldade em garantir as mesmas mães para as entrevistas em virtude de algumas<br />
delas residirem no interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> ou em bairros afasta<strong>do</strong>s, o que impediria a<br />
conclusão <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> no tempo previsto para a sua realização.<br />
To<strong>do</strong>s os a<strong>do</strong>lescentes responderam às perguntas de forma<br />
descontraída, expressan<strong>do</strong> contentamento por estarem sen<strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>s e<br />
demonstraram interesse em escutar a gravação de seus pensamentos. Tanto a<br />
entonação da voz quanto as palavras utilizadas em seus discursos guardam estreita<br />
semelhança entre si. Muitas palavras são pronunciadas pela metade e coladas à<br />
palavra seguinte, dan<strong>do</strong> a impressão de que formam uma espécie de dialeto próprio<br />
que soa incompreensível a ouvi<strong>do</strong>s leigos. As mães falaram com mais emoção e,<br />
quan<strong>do</strong> perguntadas <strong>sobre</strong> o significa<strong>do</strong> de ter um filho a<strong>do</strong>lescente infrator,seus<br />
discursos se interromperam pela <strong>do</strong>r e pelo choro. Todas elas registraram<br />
fragmentos de suas idéias e vivências gestadas na dureza de seu cotidiano de<br />
mulher sofrida.<br />
Os da<strong>do</strong>s de identificação sociodemográfica coleta<strong>do</strong>s nas entrevistas<br />
contextualizaram os sujeitos atores desse estu<strong>do</strong>. As suas expressões, anotadas em<br />
diário de campo, traduziram sua linguagem analógica, fonte rica de informações<br />
complementares ao conteú<strong>do</strong> verbal grava<strong>do</strong>.<br />
56
3.6 ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS<br />
Os diferentes instrumentos utiliza<strong>do</strong>s no presente estu<strong>do</strong> forneceram uma<br />
variedade de da<strong>do</strong>s que passaram a requerer a elaboração de um plano para tornar<br />
viável seu tratamento e análise. Para tanto, foram selecionadas a técnica de análise<br />
fatorial de correspondência e a de análise de conteú<strong>do</strong> que passam a ser<br />
apresentadas a partir de algumas considerações teóricas.<br />
3.6.1 Análise de conteú<strong>do</strong><br />
Bardin (1977) fez um apura<strong>do</strong> levantamento cronológico <strong>sobre</strong> a história<br />
da técnica de análise de conteú<strong>do</strong> e localizou sua origem nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, no<br />
início <strong>do</strong> século XX, contextualizan<strong>do</strong> seu crescimento na área das comunicações,<br />
atrelada às diretrizes de objetividade da psicologia comportamental.<br />
O reconhecimento dessa técnica investigativa fê-la adentrar as ciências<br />
políticas, literárias e psicológicas para, a partir de então, expandir-se a outros<br />
<strong>do</strong>mínios <strong>do</strong> conhecimento, exigin<strong>do</strong> cada vez mais empenho <strong>do</strong>s estudiosos na<br />
elaboração de sua definição. Esse avanço foi fruto <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> pós-guerra, quan<strong>do</strong><br />
a abordagem qualitativa <strong>do</strong>s fenômenos forçou a ruptura entre objetividade e<br />
ciência.<br />
Desde a sua concepção, a análise de conteú<strong>do</strong> foi sempre empregada<br />
com a intenção de objetivar e sistematizar o conteú<strong>do</strong> da comunicação, de forma a<br />
assegurar o rigor científico ao material que não se encontra no território <strong>do</strong><br />
concreto. Bardin (1977, p.42) trabalhou a idéia de ser análise de conteú<strong>do</strong> um<br />
conjunto de técnicas e <strong>sobre</strong> ela fez a seguinte declaração:<br />
Pertencem, pois, ao <strong>do</strong>mínio da análise de conteú<strong>do</strong>, todas as iniciativas<br />
que, a partir de um conjunto de técnicas parciais, mas complementares<br />
consistam na explicitação e sistematização <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> das mensagens e<br />
da expressão deste conteú<strong>do</strong>, com o contributo de índices passíveis ou não<br />
de quantificação, a partir de um conjunto de técnicas que, embora parciais,<br />
são complementares.<br />
57
O estu<strong>do</strong> em questão lançou mão da análise de conteú<strong>do</strong> para percorrer<br />
o terreno discursivo <strong>do</strong>s sujeitos, objetivan<strong>do</strong> fazer inferências <strong>sobre</strong> suas<br />
mensagens inventariadas e sistematizadas. Para tanto, foram catalogadas as<br />
seguintes etapas operacionais: constituição <strong>do</strong> corpus, composição das unidades<br />
de análise, inventário, categorização, tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e descrição das<br />
categorias. Através dessa técnica, o pesquisa<strong>do</strong>r transpõe a barreira daquilo que<br />
foi objetivamente expresso pelo pensamento verbal e vasculha o que se deixou<br />
ocultar.<br />
58
Figura 1 – Plano de análise<br />
PLANO DE ANÁLISE<br />
CORPUS<br />
2. UNIDADES DE ANÁLISE<br />
3. INVENTÁRIO<br />
4. CATEGORIZAÇÃO<br />
5. DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS<br />
6. TRATAMENTRO DOS DADOS<br />
7. RS SOBRE ADOLESCENTE INFRATOR<br />
59
1. Constituição <strong>do</strong> corpus<br />
O corpus é forma<strong>do</strong> por to<strong>do</strong> o material <strong>sobre</strong> o qual se debruçará o<br />
pesquisa<strong>do</strong>r. Neste estu<strong>do</strong>, foi constituí<strong>do</strong> por 112 Testes de Associação Livre de<br />
Palavras e 32 entrevistas, ambos os instrumentos aplica<strong>do</strong>s aos grupos de<br />
a<strong>do</strong>lescentes e mães.<br />
2. Composição das unidades de análise<br />
As unidades de análise escolhidas foram a frase e o parágrafo que<br />
corresponderam, respectivamente, às unidades de registro e de contexto. Essas<br />
unidades são frações de senti<strong>do</strong> extraídas <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> a ser investiga<strong>do</strong> e definidas<br />
pelo pesquisa<strong>do</strong>r, com vistas a viabilizar a quantificação e o estu<strong>do</strong> avaliativo <strong>do</strong><br />
material produzi<strong>do</strong>.<br />
3. Constituição <strong>do</strong> inventário<br />
O inventário é o corpus decomposto em unidades de análise, modelo de<br />
reordenamento <strong>do</strong> material de estu<strong>do</strong> que favorece uma maior visibilidade de seu<br />
conteú<strong>do</strong> para que se proceda ao agrupamento dessas unidades em subcategorias<br />
e categorias simbólicas.<br />
4. Categorização<br />
Uma categoria é um aglomera<strong>do</strong> de respostas com a mesma significação<br />
denominadas por um título que expressa o conceito central daquele conjunto de<br />
idéias. Cada categoria é formada por um conjunto de subcategorias e esse processo<br />
de fusão de palavras torna possível a sua relevância estatística. Segun<strong>do</strong> Vala<br />
(1999, p.111), “o que importa ao analista são os conceitos, e a passagem <strong>do</strong>s<br />
indica<strong>do</strong>res aos conceitos é, portanto, uma operação de atribuição <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>, cuja<br />
validade importará controlar¨.<br />
Neste estu<strong>do</strong>, o mesmo conjunto de categorias foi defini<strong>do</strong> para os <strong>do</strong>is<br />
grupos estuda<strong>do</strong>s, a fim de tornar possível a análise comparativa das<br />
60
epresentações <strong>sociais</strong>. O quadro 2 mostra a classificação das categorias e<br />
subcategorias selecionadas e a quantificação de suas unidades de análise.<br />
Quadro 2 – Distribuição das categorias e subcategorias simbólicas <strong>sobre</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente infrator<br />
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS<br />
1.Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente • Comportamentais<br />
2. Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />
infrator<br />
3. Causas <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> crime<br />
• Vivenciais<br />
• Comportamentais<br />
• Vivenciais<br />
• Sociointeracionais<br />
• Familiares<br />
• Psicológicas<br />
• Socioeconômicas<br />
4. Percepção <strong>do</strong> eu • Autopercepção<br />
• Heteropercepção<br />
• Idealizada<br />
5. Perspectiva de mudança • Pessoal<br />
• Social<br />
• Institucional<br />
• Familiar<br />
• Espiritual<br />
6. Expressões subjetivas • Sentimentos<br />
• Pensamentos<br />
Nº DE<br />
UNIDADES DE<br />
ANÁLISE<br />
137<br />
16<br />
117<br />
TOTAL<br />
153<br />
26 143<br />
134<br />
83<br />
70<br />
45<br />
221<br />
188<br />
76<br />
124<br />
109<br />
37<br />
25<br />
13<br />
117<br />
66<br />
332<br />
485<br />
308<br />
183<br />
61
5. Descrição das categorias<br />
As respostas que emergiram das entrevistas realizadas, recortadas em<br />
1604 unidades de análise temática, tornaram possível a definição de um conjunto de<br />
seis categorias e dezoito subcategorias.<br />
• Categoria 1 – Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />
Esta categoria abrange 153 unidades de análise temática que revelam as<br />
descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente elaboradas pelos sujeitos entrevista<strong>do</strong>s, agrupadas<br />
em duas subcategorias: comportamentais e vivenciais.<br />
DESCRIÇÕES SOBRE ADOLESCENTE<br />
COMPORTAMENTAIS VIVENCIAIS<br />
Figura 2 – Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />
• Categoria 2 – Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator<br />
Esta categoria abrange 143 unidades de análise temática que revelam as<br />
descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator elaboradas pelos sujeitos entrevista<strong>do</strong>s,<br />
agrupadas em duas subcategorias: comportamentais e vivenciais.<br />
62
DESCRIÇÕES SOBRE ADOLESCENTE<br />
INFRATOR<br />
COMPORTAMENTAIS VIVENCIAIS<br />
Figura 3 – Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator<br />
• Categoria 3 – Causas <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> de crime<br />
Esta categoria abrange 332 unidades de análise temática por meio das<br />
quais os sujeitos apontam as suas versões <strong>sobre</strong> os fatores que favorecem a<br />
entrada <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. As respostas emitidas foram agrupadas<br />
em 4 subcategorias: sociointeracionais, familiares, psicológicas, socioeconômicas.<br />
CAUSAS DO INGRESSO NO MUNDO DO<br />
CRIME<br />
SOCIOECONÔMICAS PSICOLÓGICAS<br />
SOCIOINTERACIONAIS<br />
Figura 4 – Causas <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime<br />
• Categoria 4 – Percepção <strong>do</strong> Eu<br />
Esta categoria abrange 485 unidades de análise temática em que os<br />
sujeitos expressam como se percebem, como acreditam serem percebi<strong>do</strong>s e como<br />
gostariam de ser. Estão contidas nessa categoria três subcategorias a saber:<br />
autopercepção, idealizada e heteropercepção.<br />
FAMILIARES<br />
63
Figura 5 – Percepção <strong>do</strong> eu<br />
• Categoria 5 – Perspectiva de mudança<br />
Esta categoria abrange 308 unidades de análise temática que mostram as<br />
alternativas pensadas pelos sujeitos, capazes de interromper o ciclo da reiteração da<br />
prática infracional e o conseqüente aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. É formada por<br />
cinco subcategorias: pessoal, social, institucional, familiar e espiritual.<br />
Figura 6 – Perspectiva de mudança<br />
• Categoria 6 – Expressões subjetivas<br />
Esta categoria é formada por 183 unidades de análise temática nas quais<br />
os sujeitos elaboram pensamentos e sentimentos em torno de suas experiências<br />
relativas à infracionalidade.<br />
PERCEPÇÃO DO EU<br />
AUTOPERCEPÇÃO HETEROPERCEPÇÃO<br />
IDEALIZADA<br />
PERSPECTIVA DE MUDANÇA<br />
PESSOAL FAMILIAR<br />
ESPIRITUAL<br />
SOCIAL<br />
INSTITUCIONAL<br />
64
Figura 7 – Expressões subjetivas<br />
6. Tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />
Os da<strong>do</strong>s levanta<strong>do</strong>s pelo estu<strong>do</strong>, submeti<strong>do</strong>s ao tratamento estatístico,<br />
com indicação de freqüência das unidades de análise, cálculos percentuais e qui-<br />
quadra<strong>do</strong>, serviram para constatar semelhanças ou diferenças das RS <strong>sobre</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente infrator entre os <strong>do</strong>is grupos, possibilitan<strong>do</strong> a análise e as inferências<br />
quantitativas e qualitativas <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s.<br />
3.6.2 Análise Fatorial de Correspondência<br />
A Análise Fatorial de Correspondência – AFC – é uma das técnicas de<br />
análise fatorial por meio da qual um conjunto de da<strong>do</strong>s estatísticos é submeti<strong>do</strong> a<br />
uma análise descritiva. O seu grau de confiabilidade, conquista<strong>do</strong> ao longo de<br />
quase meio século de existência, tem lhe rendi<strong>do</strong> indicações para sua utilização em<br />
estu<strong>do</strong>s com vários tipos de da<strong>do</strong>s (questões abertas ou não) e, em especial, tem<br />
si<strong>do</strong> largamente utilizada em pesquisa <strong>sobre</strong> representação social.<br />
Segun<strong>do</strong> Deschamps (2003), essa técnica torna possível ao pesquisa<strong>do</strong>r<br />
formar uma idéia geral <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s levanta<strong>do</strong>s, a partir das descrições que vai<br />
fazen<strong>do</strong> relativas às ligações entre as variáveis qualitativas. O leque de<br />
combinações que vai sen<strong>do</strong> monta<strong>do</strong> entre as variáveis imprime um caráter<br />
exploratório à técnica, permitin<strong>do</strong> uma maior aproximação <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r ao<br />
conjunto de informações recolhidas.<br />
EXPRESSÕES SUBJETIVAS<br />
SENTIMENTOS PENSAMENTOS<br />
65
A organização de uma tabela de freqüência ou tabela de contingência, em<br />
que as variáveis independentes e a produção léxica <strong>do</strong>s sujeitos estão distribuídas<br />
em colunas e linhas, dá flexibilidade ao cruzamento das informações e maior<br />
riqueza à interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s. A freqüência das modalidades mais<br />
evocadas contribui para a construção <strong>do</strong>s eixos que compõem o plano fatorial.<br />
A representação gráfica <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s aparece disposta no Plano<br />
Fatorial com <strong>do</strong>is eixos que, por convenção, são denomina<strong>do</strong>s F1 (horizontal) e F2<br />
(vertical), cada um deles forma<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is pólos. Igualmente por convenção,<br />
atribui-se a denominação de negativo ao la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> de F1 e inferior de F2 e de<br />
positivo, o la<strong>do</strong> direito de F1 e superior de F2. A AFC permite interpretar os da<strong>do</strong>s,<br />
porquanto ressalta as ligações de aproximação e distanciamento existentes entre<br />
diferentes grupos de sujeitos, a partir de suas respostas agrupadas nos espaços<br />
fatorais distintos e opostos de F1 e F2.<br />
66
O UNIVERSO não é uma idéia minha.<br />
A minha idéia <strong>do</strong> UNIVERSO é que é uma idéia minha.<br />
A noite não acontece pelos meus olhos.<br />
A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos.<br />
Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos,<br />
a noite acontece concretamente<br />
e o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso.<br />
Fernan<strong>do</strong> Pessoa
CAPÍTULO 4
CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE<br />
ADOLESCENTE INFRATOR<br />
É parte integrante <strong>do</strong> homem a necessidade de expressão e de<br />
relacionamento. A comunicação não pode ser separada da vida, ten<strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, ao<br />
longo <strong>do</strong>s tempos, por um processo de evolução até chegar à linguagem oral que foi<br />
a primeira forma organizada da comunicação humana. Pela linguagem, os homens<br />
se definem como seres <strong>sociais</strong> e individuais e assim o fazem em relação a seus<br />
pares; pela linguagem falada e escrita, produzem e reproduzem mensagens através<br />
<strong>do</strong>s meios de comunicação, interpretam e modificam a realidade que os envolve.<br />
Diferentemente <strong>do</strong> animal, o homem introduz em sua comunicação a força de suas<br />
emoções de tal mo<strong>do</strong> que a linguagem não é somente a linguagem <strong>do</strong>s signos, mas<br />
também, e com igual poder, a linguagem <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s.<br />
Cada sociedade constrói para si um vasto sistema de códigos de<br />
comunicação que funciona como diretriz para a percepção e interpretação da<br />
realidade. De forma mais reduzida, cada grupo social igualmente cria seus próprios<br />
códigos, responsáveis pela demarcação das fronteiras que favorecem o senti<strong>do</strong> de<br />
pertencimento e identidade. Ficam, dessa maneira, delimita<strong>do</strong>s os territórios<br />
subjetivos nos quais os membros <strong>do</strong>s grupos se reconhecem como seres iguais e<br />
definem entre si o familiar e o estranho, crian<strong>do</strong> a confortável e vital sensação de<br />
sua legitimidade social. Nesse inevitável processo de formação de minorias, cada<br />
segmento vai construin<strong>do</strong> sua linguagem particular que, por sua vez, incide no<br />
estabelecimento <strong>do</strong>s valores e comportamentos.<br />
69
Quan<strong>do</strong> se pertence a uma minoria qualificada negativamente pelo<br />
conjunto mais amplo, a pressão para o seu aniquilamento provoca uma força reativa<br />
que acaba por criar um campo de poder capaz de garantir a <strong>sobre</strong>vivência <strong>do</strong>s<br />
grupos. Os grupos falam, escutam, sentem e vêem a si a ao outro através de um<br />
prisma comum, media<strong>do</strong> por uma linguagem idiossincrática. Essas minorias não<br />
qualificadas são formadas por seres transparentes que não conseguem ter<br />
visibilidade, razão por que precisam lançar mão de estratégias para marcar sua<br />
presença na história. Necessitam, pois, fazer barulho para serem ouvi<strong>do</strong>s, embora,<br />
muitas vezes, sua voz só seja reconhecida dentro <strong>do</strong>s índices estatísticos que mais<br />
ainda reforçam o seu menor valor.<br />
O a<strong>do</strong>lescente que comete ato infracional pertence a essa categoria de<br />
seres desprezíveis que lutam contra o anonimato e, ao expressar a sua<br />
subjetividade por meio de atividades criminosas, acentua os contornos <strong>do</strong> espaço<br />
reserva<strong>do</strong> a sua existência. Em cada la<strong>do</strong> da fronteira, os sujeitos tecem universos<br />
representacionais. Segun<strong>do</strong> Mello (2002, p. 133), “há uma troca de olhares, mas a<br />
reciprocidade deles está carregada de significa<strong>do</strong>s diferentes“. Eis por que deixar<br />
falar as minorias é ouvir os seus olhares e entender de que forma as suas<br />
experiências são gera<strong>do</strong>ras de <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>.<br />
Ao deparar com o desconheci<strong>do</strong>, o homem necessita <strong>do</strong>miná-lo para<br />
aplacar a sensação de angústia que o invade. É através desse processo de<br />
apreensão <strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong> que tem início a formação das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>,<br />
um saber socialmente partilha<strong>do</strong>. Sobre as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>, Jovchelovitch<br />
(2000, p. 81) assinalou que “elas expressam por excelência o espaço <strong>do</strong> sujeito, em<br />
sua relação com a alteridade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, lutan<strong>do</strong> para dar senti<strong>do</strong>, interpretar e<br />
construir os espaços nos quais se encontra”.<br />
A partir desse referencial teórico, o presente capítulo procurou investigar<br />
as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator, elaboradas por a<strong>do</strong>lescentes<br />
autores de atos infracionais e por suas mães, identifican<strong>do</strong> nesse conhecimento <strong>do</strong><br />
senso comum as suas interfaces com as ciências jurídica, psicológica e social. Ainda<br />
consideran<strong>do</strong> o leque <strong>do</strong> conhecimento leigo teoriza<strong>do</strong>, foi possível vislumbrar os<br />
matizes das singularidades das vivências <strong>do</strong>s sujeitos.<br />
70
Para conhecer esses matizes, fez-se necessária a leitura <strong>do</strong>s seus<br />
discursos que denunciam o mo<strong>do</strong> pelo qual entendem, interpretam e transformam<br />
esse fenômeno psicossocial das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. A linguagem torna possível<br />
a codificação <strong>do</strong>s mun<strong>do</strong>s concreto e abstrato <strong>do</strong>s sujeitos <strong>sociais</strong>, razão pela qual<br />
constitui-se em importante instrumento de acesso às <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>.<br />
4.1 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE<br />
ADOLESCENTE INFRATOR A PARTIR DA ANÁLISE DE CONTEÚDO<br />
A exploração <strong>do</strong> material produzi<strong>do</strong> pelos sujeitos resultante da aplicação<br />
das entrevistas foi feita a partir da utilização da técnica de análise de conteú<strong>do</strong>, o<br />
que possibilitou a emersão de 6 categorias e 18 subcategorias, apresentadas a<br />
seguir.<br />
4.1.1 Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />
A primeira investigação feita junto aos sujeitos procurou apreender as<br />
suas descrições <strong>sobre</strong> o ser a<strong>do</strong>lescente, introduzin<strong>do</strong> a temática desvinculada de<br />
conceitos prévios. Nesse senti<strong>do</strong>, a focalização inicial no ser a<strong>do</strong>lescente pretendeu<br />
desconectar as ligações que porventura existam entre os conceitos de a<strong>do</strong>lescente e<br />
infrator. Verificou-se pelas respostas evocadas que as descrições priorizaram<br />
aspectos gerais relaciona<strong>do</strong>s a seu comportamento e a suas vivências.<br />
71
Tabela 1 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />
descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescentes<br />
autores de atos infracionais e mães.<br />
SUJEITOS ADOLESCENTES MÃES TOTAL X2 SUBCATEGORIAS F % f % f %<br />
Comportamentais 72 98.63 65 81.25 137 89.54 0,35<br />
Vivenciais<br />
01 1.37 15 18.75 16 10.46<br />
TOTAL<br />
p < 0,01<br />
73 100 80 100 153 100<br />
A Tabela 1 sinalizou que ambos os grupos fizeram referências aos<br />
aspectos comportamentais como os mais significativos para descrever o<br />
a<strong>do</strong>lescente, mostran<strong>do</strong> freqüências superiores a 80%. O valor <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> de<br />
0.35 indicou não existir diferença estatística significativa no número de unidades<br />
temáticas expressas pelos grupos. Em relação à subcategoria vivenciais, verifica-se<br />
uma diferença importante no percentual das evocações. O eleva<strong>do</strong> valor <strong>do</strong> qui-<br />
quadra<strong>do</strong> (12.25), para um nível de significância de 5%, assinala a contribuição<br />
quase integral das mães nas respostas.<br />
O a<strong>do</strong>lescente como sujeito universal não existe. Existe sim um ser que,<br />
em da<strong>do</strong> momento da vida, vivencia um complexo processo de desenvolvimento e<br />
mudanças. O desenvolvimento cognitivo e a organização da personalidade se<br />
integram às vivências <strong>do</strong> corpo e marcam a a<strong>do</strong>lescência como uma etapa<br />
experienciada por to<strong>do</strong>s, embora de maneira diferente por cada indivíduo. Assim, os<br />
processos da a<strong>do</strong>lescência não podem ser considera<strong>do</strong>s universais, pois essa etapa<br />
recebe o imprint <strong>do</strong> contexto histórico onde acontece.<br />
.<br />
A seguir, serão recorta<strong>do</strong>s os diferentes significa<strong>do</strong>s de a<strong>do</strong>lescente,<br />
elabora<strong>do</strong>s por jovens que cometeram homicídio e latrocínio e por mães de<br />
a<strong>do</strong>lescentes autores de ato infracional grave. Vale ressaltar que nas duas<br />
subcategorias eleitas para a análise ficaram evidenciadas diferenças significativas<br />
nas <strong>representações</strong> de cada um <strong>do</strong>s grupos.<br />
Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente ancoradas em aspectos comportamentais<br />
72<br />
12,25
As descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente, expressas a partir <strong>do</strong>s elementos<br />
apreendi<strong>do</strong>s pela entrevista, foram relacionadas, fundamentalmente, a seu<br />
comportamento, qualifica<strong>do</strong> através <strong>do</strong>s seguintes aspectos: jovialidade,<br />
impulsividade/desobediência, inexperiência, situação de risco/conduta infracional.<br />
Apesar de a descoberta da vida ser uma tarefa excitante, os temporais da<br />
a<strong>do</strong>lescência não são uma invenção <strong>do</strong> vazio. Gunther (1999, p.89), comentan<strong>do</strong> o<br />
fato de que os a<strong>do</strong>lescentes comumente deparam com a constatação de que o seu<br />
poder é uma falácia, assim se expressou:<br />
É como se a natureza descarregasse nos a<strong>do</strong>lescentes os apetrechos da<br />
idade adulta, mas a sociedade não os ensinasse a lidar com as novidades,<br />
com as transformações. Assim, no caminho para a idade adulta, os jovens<br />
vivenciam dúvidas, desilusão, solidão.<br />
Efetivamente, a a<strong>do</strong>lescência não é um perío<strong>do</strong> conturba<strong>do</strong> tão-somente<br />
em razão das transformações físicas e psicológicas durante o qual o a<strong>do</strong>lescente<br />
luta com o mun<strong>do</strong> interno e externo para formar a sua identidade. Na verdade, o<br />
novo ciclo vital que se descortina no final da infância sinaliza a chegada a um<br />
território de conquistas.<br />
As fissuras nos contornos que demarcam as relações <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente com<br />
o universo familiar vão se alargan<strong>do</strong>. Os amigos acenam com novos e promissores<br />
relacionamentos e a participação em grupo pode suscitar uma nova imagem ideal de<br />
si. Através das alianças com os grupos de amigos, o a<strong>do</strong>lescente procura afirmar-se<br />
e essa sensação de estar no mun<strong>do</strong> como protagonista de sua história pode<br />
funcionar como uma mola propulsora da jovialidade.<br />
Os a<strong>do</strong>lescentes que participaram deste estu<strong>do</strong> materializaram em suas<br />
falas as considerações teóricas acima levantadas, conceituan<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente por<br />
meio de descrições que agregaram a sua jovialidade ao conturba<strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />
emocional que vivenciam.<br />
• A<strong>do</strong>lescente pra mim é uma pessoa sempre alegre. A<br />
gente vai conhecen<strong>do</strong> as coisas novas.<br />
73
• É um rapaz amigo, alegre, namora<strong>do</strong>r.<br />
• A<strong>do</strong>lescente é liberdade, curtir a vida lá fora. É saber<br />
brincar. Ter várias amizades. A<strong>do</strong>lescente é saber viver.<br />
• É uma pessoa confusa. Um cara confuso. É outras coisas<br />
mais pior.<br />
Entretanto, os elementos sociocognitivos que compõem essa<br />
representação social também adentraram o terreno da idealização, quan<strong>do</strong> os<br />
sujeitos desconsideraram sua própria condição de infrator e as especificidades<br />
relativas a essa condição. Convém ressaltar que os a<strong>do</strong>lescentes que ingressam no<br />
mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime tendem a aban<strong>do</strong>nar a escola e a introduzir a droga em seus<br />
hábitos de vida, o que imprime um esta<strong>do</strong> de euforia não correspondente à alegria<br />
genuína, mas sim a uma falsa sensação de liberdade.<br />
• A<strong>do</strong>lescente pra mim é uma pessoa estudiosa.<br />
• É liberdade.<br />
• Eu acho que a<strong>do</strong>lescente é um rapaz respeita<strong>do</strong>r.<br />
• É uma pessoa humilde.<br />
• Uma pessoa que crê na palavra de Deus.<br />
• Não fazer coisa errada.<br />
• A<strong>do</strong>lescente é uma pessoa normal, igual aos outros.<br />
• A<strong>do</strong>lescente é não com drogas ou violência.<br />
Em relação à jovialidade, vale destacar que nenhuma mãe fez qualquer<br />
referência a esse aspecto nas suas descrições <strong>sobre</strong> o a<strong>do</strong>lescente. É bastante<br />
provável que esse fato seja devi<strong>do</strong> a uma imediata associação entre a<strong>do</strong>lescente e<br />
a<strong>do</strong>lescente infrator, experiência <strong>do</strong>lorosa da qual participam diretamente. Mesmo<br />
aquelas mães de outros a<strong>do</strong>lescentes não infratores – o que poderia possibilitar uma<br />
visão positiva <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente – tenderam a fazer a mesma associação. Assim,<br />
nenhum traço da jovialidade <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente ficou em seu registro de memória. Essa<br />
lacuna foi preenchida com imagens de a<strong>do</strong>lescentes educa<strong>do</strong>s, responsáveis e<br />
sérios, sempre muito distantes <strong>do</strong> filho real que conseguiram criar.<br />
• A<strong>do</strong>lescente é estudar.<br />
• A<strong>do</strong>lescente é ser mais educa<strong>do</strong>, saber se comportar.<br />
• A<strong>do</strong>lescente é saber conviver com os outros.<br />
74
• A<strong>do</strong>lescente tem que ser mais calmo. Tem que ser um menino bom.<br />
Tem que ser um menino pensativo.<br />
A travessia para a vida adulta é um caminho de construção da identidade.<br />
Faz parte desse processo a busca da singularidade e a tentativa de diferenciação<br />
<strong>do</strong>s pais, intento que adquire uma importância relevante para o a<strong>do</strong>lescente. A<br />
contestação passa a fazer parte <strong>do</strong> seu repertório comportamental, poden<strong>do</strong><br />
transformar-se em desobediência. É, portanto, uma das causas de a a<strong>do</strong>lescência<br />
ser rotulada uma fase difícil, terreno fértil para as afiadas culpabilizações trocadas<br />
entre pais e filhos.<br />
O a<strong>do</strong>lescente também está sedento de usufruir a vida que se desvela<br />
diante de seus olhos. Para ele, a construção de um plano para o futuro é incogitável,<br />
haja vista que o presente é o concreto e, como ele ainda não elaborou o imediatismo<br />
que o marcava na infância, o seu investimento está volta<strong>do</strong> para o aqui e o agora.<br />
Esses aspectos estiveram presentes na concepção colhida <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente,<br />
amplian<strong>do</strong> novos aspectos de sua representação social. Referências <strong>sobre</strong> a<br />
impulsividade e a autonomia traduziram o senti<strong>do</strong> de independência, desafio e<br />
inconseqüência atribuí<strong>do</strong>s ao a<strong>do</strong>lescente, traduzidas em imagens de um sujeito<br />
arrogante e imperioso, de alguém que reivindica para si a verdade <strong>do</strong>s fatos.<br />
• Ele faz seus atos sem pensar.<br />
• A<strong>do</strong>lescente é uma pessoa impulsiva, não pensa antes de fazer as<br />
coisas. Nunca pensa nas conseqüências. Não pensa no futuro, pensa<br />
só naquele momento.<br />
• O a<strong>do</strong>lescente quer se sentir o <strong>do</strong>no da razão. Ele não segue<br />
conselho de pai nem de mãe. Faz o que vem na cabeça. Quer se<br />
sentir já adulto, quer ser <strong>do</strong>no de si.<br />
Vale destacar que os a<strong>do</strong>lescentes entrevista<strong>do</strong>s, ao descreverem o<br />
sujeito a<strong>do</strong>lescente com as mesmas características que adiante atribuem ao infrator,<br />
deixam vislumbrar a vinculação que estabelecem entre os <strong>do</strong>is conceitos e reiteram<br />
a identidade dúbia com a qual convivem. O adjetivo infrator que qualifica o<br />
substantivo a<strong>do</strong>lescente passa a ser compreendi<strong>do</strong>, ele também, como um<br />
substantivo que dá novo senti<strong>do</strong> ao eu.<br />
75
As mães também apresentaram o a<strong>do</strong>lescente como um sujeito impulsivo<br />
e desobediente, entretanto, suas falas contêm traços distintos das anteriores. Na<br />
confluência entre as esferas conceitual e vivencial, a concepção <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />
expressa pelas mães está impregnada das opiniões que têm de seus filhos.<br />
Algumas de suas respostas deixam entrever os seus sentimentos de mágoa e<br />
cansaço, soma<strong>do</strong>s ao ressentimento por sentir que a família que construíram foi<br />
colocada em plano secundário e pelo grande pesar de não mais conseguir impor ao<br />
filho a sua autoridade.<br />
• A<strong>do</strong>lescente acha que é o <strong>do</strong>no da vida deles. Faz o que bem dá na<br />
cabeça. A gente dá muito conselho e ele não aceita, ele só diz não.<br />
• Eles não tão nem aí com a vida, só pensa neles. Não pensa na<br />
família, nos pais. A mãe fala e eles não tão nem aí.<br />
• Eles não querem mais saber da mãe. Eles acha que os amigos é que<br />
é a vida deles.<br />
• A<strong>do</strong>lescente é uma pessoa muito trabalhoso.<br />
A metamorfose para a fase adulta é inegavelmente um processo de<br />
amadurecimento. Significa dizer que o a<strong>do</strong>lescente que se pretende adulto<br />
comporta-se ainda, em muitos momentos, como criança. Essa realidade ficou<br />
registrada nas narrativas <strong>do</strong>s sujeitos desse estu<strong>do</strong> que fizeram descrições <strong>sobre</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente em bases de justificativa, compreensão e perdão. Assim, é possível<br />
apreender no grupo de a<strong>do</strong>lescentes que a imaturidade a ele e por ele atribuída tem<br />
uma intenção justifica<strong>do</strong>ra de sua conduta, da mesma forma que as mães<br />
entrevistadas, ao descrevê-la, oferecem explicações para o comportamento rebelde<br />
<strong>do</strong> jovem, o que facilita compreendê-lo e prepara o terreno para o perdão.<br />
A<strong>do</strong>lescentes O a<strong>do</strong>lescente é uma pessoa inexperiente. Depois ele<br />
se arrepende <strong>do</strong> que faz / Ele é uma pessoa ainda criança, infantil.<br />
Mães O a<strong>do</strong>lescente é totalmente uma criança. É uma pessoa que<br />
ainda não pensa como os adultos. Não formou completamente a sua<br />
mente / Eles são pessoas que não tem ainda o juízo pronto /<br />
Eles ainda não conseguem saber o que é bom e o que é ruim.<br />
76
A contaminação <strong>do</strong> pensa<strong>do</strong> pelo vivi<strong>do</strong> chamou a atenção quan<strong>do</strong>,<br />
diante da indagação <strong>sobre</strong> o que é a<strong>do</strong>lescente, as mães buscaram associações<br />
diretas com a conduta infracional ou com a situação de risco. Esta associação é<br />
fruto direto de sua experiência e traduz o passo em falso e não percebi<strong>do</strong> que é<br />
da<strong>do</strong> em direção ao <strong>estigma</strong>. A fusão desses conteú<strong>do</strong>s alicerça o mo<strong>do</strong> de sentir e<br />
agir em relação a esse sujeito. Por outro la<strong>do</strong>, a relação feita entre comportamento<br />
de risco (estar nas ruas) e conduta infracional faz parte das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong><br />
da sociedade que comunga com a idéia de que “menino de rua” é marginal.<br />
• Os a<strong>do</strong>lescentes são pessoas que só pensam <strong>do</strong> la<strong>do</strong> erra<strong>do</strong>. Eles<br />
fazem muita coisa errada mesmo, começam a furtar e usar droga.<br />
• É aquele que rouba. Se mistura com os ladrões que manda ele<br />
roubar. Usa arma.<br />
• O a<strong>do</strong>lescente é aquele que rouba pai de família. Só faz o que não<br />
presta.<br />
• É aquele que anda nas ruas e se mistura com quem não é pra se<br />
misturar. Anda pelo meio <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> com amigos que não serve.<br />
Segun<strong>do</strong> Centurião (2001), apesar de nem todas as crianças e<br />
a<strong>do</strong>lescentes que vivem em situação de rua estarem envolvidas com a<br />
criminalidade, existe uma elevada chance de que trilhem esse caminho caso<br />
permaneçam nessa situação, fato que favorece a confluência das <strong>representações</strong><br />
anteriormente mencionadas.<br />
Vale ressaltar, ainda, que os a<strong>do</strong>lescentes, em alguns momentos,<br />
relacionaram a<strong>do</strong>lescente e a<strong>do</strong>lescência. A mesma constatação foi feita por<br />
Albuquerque (2003) em seu estu<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> de<br />
a<strong>do</strong>lescentes grávidas <strong>sobre</strong> gravidez. Os a<strong>do</strong>lescentes deste estu<strong>do</strong>, procuraram<br />
positivar o comportamento <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente diferencian<strong>do</strong>-o, defensivamente, da<br />
conduta infratora que a<strong>do</strong>tam quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> das drogas.<br />
• A<strong>do</strong>lescência é uma coisa que tem de ser valorizada. Coisas boa<br />
como a escola, a família. É uma fase muito legal.<br />
• A<strong>do</strong>lescência é estar na flor da idade, é viver cada instante. É viver a<br />
vida.
Essa descrição projetada no território <strong>do</strong> não-eu resguarda o sujeito de<br />
uma tomada de consciência que poderia desnudar o eu real.<br />
Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente ancoradas em aspectos vivenciais<br />
Nessa subcategoria os grupos elaboraram suas descrições a partir de<br />
aspectos vivenciais <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. A idéia <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente como um ser vulnerável<br />
foi trazida apenas pelas mães. As imagens <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente como uma criança foram<br />
transportadas para a infância <strong>do</strong> filho, incluin<strong>do</strong> recordações <strong>sobre</strong> a dureza de sua<br />
vida e as lacunas afetivas que foram cavadas pelas necessidades vividas,<br />
demonstran<strong>do</strong> o entendimento de que a solidão experimentada pelo filho tornaram-<br />
no um ser exposto às influências daqueles que ocuparam os espaços vazios. A<br />
consciência e a culpa pelo aban<strong>do</strong>no que impuseram ao filho são fotografadas nas<br />
<strong>representações</strong> tecidas.<br />
• A<strong>do</strong>lescente é uma pessoa que precisa de amor e carinho. Precisa de<br />
educação <strong>do</strong>s pais e também da escola.<br />
• A<strong>do</strong>lescente é uma criança sofrida. Uma criança criada totalmente só,<br />
sem a companhia <strong>do</strong> pai e com pouca companhia da mãe. Ele precisa<br />
de muita compreensão <strong>do</strong>s pais.Ele faz o que os outros botarem na<br />
memória dele<br />
Vê-se que a idéia genérica de a<strong>do</strong>lescente está impregnada <strong>do</strong>s matizes<br />
de sua vida vez que as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> de um objeto social contém a<br />
subjetividade <strong>do</strong>s sujeitos.<br />
4.1.2 Descrições <strong>sobre</strong> A<strong>do</strong>lescente Infrator<br />
A segunda investigação feita junto aos sujeitos introduziu diretamente o<br />
tema de interesse desse estu<strong>do</strong>, procuran<strong>do</strong>, nesse momento, apreender como<br />
representam o a<strong>do</strong>lescente que comete ato infracional por meio da verbalização <strong>do</strong>
desenho mental internaliza<strong>do</strong>. Verificou-se pelas respostas que os sujeitos<br />
descreveram o a<strong>do</strong>lescente infrator com foco, novamente, em aspectos<br />
comportamentais e vivenciais.<br />
Tabela 2 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />
descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de<br />
a<strong>do</strong>lescentes autores de atos infracionais e mães.<br />
Sujeitos A<strong>do</strong>lescentes Mães Total<br />
Subcategorias F % F % F %<br />
Comportamentais<br />
68 80<br />
48 80<br />
116 80<br />
Vivenciais<br />
17 20 12 20 29 20<br />
Total<br />
p < 0,01<br />
85 100 60 100 145 100<br />
X 2<br />
3.44<br />
0.86<br />
A Tabela 2 mostrou que ambos os grupos destacaram aspectos <strong>do</strong><br />
comportamento como os mais significativos para descrever o a<strong>do</strong>lescente infrator e,<br />
apesar <strong>do</strong> número diferente de unidades temáticas expressas pelos grupos, as<br />
freqüências foram elevadas e coincidentes em 80%. A seguir, serão recorta<strong>do</strong>s os<br />
significa<strong>do</strong>s de a<strong>do</strong>lescente infrator elabora<strong>do</strong>s por a<strong>do</strong>lescentes que cometeram<br />
homicídio ou latrocínio e por mães de a<strong>do</strong>lescentes autores de ato infracional grave.<br />
Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator ancoradas em aspectos<br />
comportamentais<br />
O Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente considera ato infracional grave<br />
toda conduta que corresponde ao crime ou contravenção penal. A partir dessa<br />
prática, o a<strong>do</strong>lescente apreendi<strong>do</strong> pela polícia ingressa no sistema socioeducativo,<br />
apenas sen<strong>do</strong> priva<strong>do</strong> de liberdade quan<strong>do</strong> a Justiça não dispuser de medida mais<br />
adequada.
Na descrição <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator baseada em aspectos<br />
comportamentais, verificou-se que a<strong>do</strong>lescentes e mães incluíram em seus<br />
discursos termos da linguagem jurídica <strong>sobre</strong> a prática infracional. É possível<br />
identificar nessas falas uma diferença de posicionamento implícita no conteú<strong>do</strong> das<br />
mensagens. No primeiro caso, o a<strong>do</strong>lescente infrator foi associa<strong>do</strong> diretamente ao<br />
ato infracional ; já no segun<strong>do</strong>, os sujeitos emitiram um juízo de valor <strong>sobre</strong> o<br />
a<strong>do</strong>lescente infrator quan<strong>do</strong> descreveram o seu comportamento.<br />
A<strong>do</strong>lescentes A<strong>do</strong>lescente infrator é aquele que comete delitos. / É<br />
aquele que rouba, usa drogas. / É aquele que mata. / É uma a<strong>do</strong>lescente<br />
que comete crimes. / Infrator é essas coisas que a gente comete. / Uma<br />
pessoa que comete alguma coisa grave. / É uma pessoa que não respeita<br />
as pessoas.<br />
A<strong>do</strong>lescentes Considero um ladrão. / Procura fazer coisa errada em<br />
vez de viver numa boa. / É o a<strong>do</strong>lescente que comete um erro. Faz um<br />
boca<strong>do</strong> de putaria. Se mete em negócio de vagabundagem com coisas<br />
que não é pra fazer. / É aquele que só faz besteira. / Acho ele uma<br />
máquina destrui<strong>do</strong>ra.<br />
Mães É esses que roubam, assaltam e matam as pessoas. / É<br />
aquele que usa muita droga. / É o jovem que entra no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. /<br />
É aquele que bole nas coisas <strong>do</strong>s outros. Não tem respeito pelas pessoas<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. / É aquele que mata um pai de família.<br />
Mães É aquele que só procura o la<strong>do</strong> erra<strong>do</strong>. /Aqueles que vivem<br />
fazen<strong>do</strong> maldade. / É uma pessoa perversa. Se envolve com coisas que<br />
não prestam pra nada. Só se mete em confusão sem motivo. / É essas<br />
pessoas que não quer nada com a vida.<br />
A apresentação <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator contém a autodescrição. As<br />
definições que formam <strong>sobre</strong> si próprio, emergidas das <strong>representações</strong> que circulam<br />
no meio social, são objetivadas de forma espontânea. A imagem de uma “máquina<br />
destrui<strong>do</strong>ra” para falar de uma pessoa está prenhe de to<strong>do</strong>s os repúdios que a<br />
sociedade alimenta <strong>sobre</strong> o jovem que cometeu um ato de transgressão às leis.<br />
Essas definições convertidas em imagens (“O a<strong>do</strong>lescente infrator é um ladrão, uma<br />
pessoa que só faz besteira”) também comportam uma noção de imobilidade,<br />
atreladas mais à condição de ser <strong>do</strong> que de estar.
O a<strong>do</strong>lescente infrator também foi apresenta<strong>do</strong> como uma pessoa<br />
desobediente, sen<strong>do</strong> que essa desobediência adquiriu significa<strong>do</strong>s diferentes entre<br />
os grupos. Para os a<strong>do</strong>lescentes, o ato esteve relaciona<strong>do</strong> às leis, ao passo que,<br />
para as mães, restringiu-se à desobediência aos pais. O enfraquecimento da<br />
autoridade <strong>do</strong>s pais, em paralelo ao recrudescimento <strong>do</strong> espírito de autonomia <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente, nega àqueles a legitimidade <strong>do</strong> poder de imposição de normas, base<br />
de confronto necessária à construção de limites. Nesse vazio de cobranças que se<br />
cria, o a<strong>do</strong>lescente avança, adentran<strong>do</strong> muitas vezes o campo da transgressão das<br />
regras de convivência social. É quan<strong>do</strong> o juiz, na condição de autoridade legitimada,<br />
julgará sua conduta, num explícito demonstrativo da hierarquia <strong>do</strong> poder. Por ser o<br />
juiz a autoridade real da qual o a<strong>do</strong>lescente não pode escapar, a desobediência à lei<br />
adquire concretude. Aos pais, cabe o lamento da sua impotência perante a rebeldia<br />
<strong>do</strong> filho, recua<strong>do</strong>s à posição de especta<strong>do</strong>res dessa trajetória.<br />
A<strong>do</strong>lescentes Infrator é aquele que não vai corretamente com a lei.<br />
Não vai direito nas leis. / É aquele que erra e paga numa unidade dessas.<br />
/ Infrator é a pessoa que despreza as leis. / É aquele que não anda no<br />
caminho das leis. Não vai pelo caminho certo.<br />
Mães É aquele que não obedece pai nem mãe. / É desobediente. / É<br />
aquele que não entende pai nem mãe nem ninguém. / Infrator é aquele<br />
que não escuta conselho. / É aquele que faz as coisas que o mun<strong>do</strong><br />
velho manda (amigos).<br />
A percepção <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator como uma pessoa impulsiva foi<br />
elaborada por eles próprios, uma vez que apenas em uma das respostas <strong>do</strong> grupo<br />
de mães esteve presente.<br />
• É a pessoa que não pára pra pensar.<br />
• Infrator é uma pessoa que falta pensamento.<br />
• É aquele que age por impulso. Faz coisa errada e não pode voltar<br />
atrás. Procura logo um caminho que dê tu<strong>do</strong> mais fácil.<br />
Um olhar mais demora<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> esses depoimentos torna possível<br />
identificar na conduta transgressora uma interseção <strong>do</strong>s aspectos <strong>do</strong><br />
comportamento imediatista da criança com o comportamento desafia<strong>do</strong>r <strong>do</strong>
a<strong>do</strong>lescente. A utilização desse recurso discursivo acaba por justificar e naturalizar<br />
a transgressão, poupan<strong>do</strong> o sujeito de um confronto direto com sua autocrítica.<br />
Descrições <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator ancoradas em aspectos vivenciais<br />
Na descrição <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator baseada em aspectos vivenciais,<br />
uma outra versão desse a<strong>do</strong>lescente, apresentada não mais através de seu<br />
comportamento e sim de sua história, desvelou uma nova faceta de sua imagem.<br />
Um a<strong>do</strong>lescente tatua<strong>do</strong> pelas faltas da vida, a quem foram negadas oportunidades<br />
<strong>sociais</strong> e familiares, emergiu nas falas <strong>do</strong>s sujeitos entrevista<strong>do</strong>s, como registros de<br />
uma experiência cujas marcas não ficaram para trás.<br />
Ambos os grupos reconheceram a ausência da família, mais<br />
especificamente <strong>do</strong>s pais no cuida<strong>do</strong> <strong>do</strong>s filhos, como um fator relevante para<br />
desencadear o comportamento transgressor futuro <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. A precariedade<br />
desse cuida<strong>do</strong> tanto pode estar relacionada à ausência quanto à inadequação da<br />
conduta paterna, um drama que se torna mais severo quan<strong>do</strong> se trata de família de<br />
baixa renda, em que o enfrentamento <strong>do</strong>s problemas cotidianos, na maioria das<br />
vezes, é bem mais difícil e as alternativas de compensação que os filhos podem<br />
encontrar, mais escassas. Mercy et al (2003, p.33) destacaram que o<br />
“monitoramento e a supervisão deficientes em relação à criança por parte <strong>do</strong>s pais e<br />
o uso de punições severas para disciplinar as crianças são fortes prognósticos de<br />
violência durante a a<strong>do</strong>lescência e fase adulta“.<br />
A<strong>do</strong>lescentes A<strong>do</strong>lescente infrator é uma pessoa que não tem<br />
apoio familiar. Uma pessoa que não tem o diálogo com alguém pra lhe<br />
explicar o que é certo e o que é erra<strong>do</strong>. / É uma criança que tem de ter o<br />
cuida<strong>do</strong> <strong>do</strong> pai e da mãe. / É o cara que não teve uma chance na vida.<br />
Uma pessoa que não tem escola nem amigos.<br />
Mães É esses que não têm apoio <strong>do</strong>s pais. Ele não tem apoio<br />
da família nem <strong>do</strong>s irmãos. / É uma pessoa que não tem um<br />
acompanhamento, não tem uma instrução familiar. / É aquele que não é<br />
acompanha<strong>do</strong> desde pequeno. Se você ensinar, ele não vai fazer coisa<br />
errada.
O a<strong>do</strong>lescente infrator pari<strong>do</strong> dessas vivências é uma pessoa rebelde e<br />
sofrida. É lembra<strong>do</strong> também como uma criança, provavelmente pela compreensão<br />
que os sujeitos construíram de que o aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> qual foi vítima não lhe ofereceu<br />
suporte para ultrapassar a etapa da infância.<br />
A<strong>do</strong>lescentes A<strong>do</strong>lescente infrator é uma pessoa que se encontra com<br />
um vazio. / Uma pessoa com um problema que não sabe como resolver. /<br />
Uma pessoa que na sua infância passou por muitos problemas.<br />
Mães Um infrator é aquele que é revolta<strong>do</strong> com a vida. Um cara<br />
perdi<strong>do</strong>. Uma criança que não pensa.<br />
A descrição de a<strong>do</strong>lescente infrator comporta em seu interior os próprios<br />
sujeitos com suas <strong>do</strong>res, os seus conflitos, além de suas crenças de causalidade <strong>do</strong><br />
fenômeno. Ao se referir ao processo de ancoragem, Moscovici (2003, p.61)<br />
imprimiu-lhe uma qualidade icônica afirman<strong>do</strong> que “é quase como que ancorar um<br />
bote perdi<strong>do</strong> em um <strong>do</strong>s boxes (pontos sinaliza<strong>do</strong>res) de nosso espaço social”.<br />
4.1.3 Causas <strong>do</strong> Ingresso no Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Crime<br />
A terceira investigação procurou apreender a compreensão <strong>do</strong>s sujeitos<br />
no que tange aos fatores determinantes para o ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> crime, através de uma indagação que os convi<strong>do</strong>u a encontrar explicações para<br />
essa realidade. O grande número das explicações dadas abrangeu os mun<strong>do</strong>s<br />
interno e externo <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator, esforço empreendi<strong>do</strong> pelos sujeitos para<br />
dar conta <strong>do</strong> complexo multifatorial que desenha a trajetória da conduta infracional.<br />
A relação entre fatores individuais e contextuais que influenciam o<br />
comportamento humano compôs o quadro de razões que os sujeitos modelaram em<br />
busca da definição da verdade. Assim, as quatro subcategorias nomeadas para<br />
retratar o pensamento <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grupos entrevista<strong>do</strong>s condensaram as explicações<br />
diversas contidas em suas respostas, visão que a Tabela 3 apresenta, transcrita<br />
numericamente
Tabela 3 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />
causas <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de<br />
a<strong>do</strong>lescentes autores de atos infracionais e mães.<br />
Sujeitos A<strong>do</strong>lescentes Mães Total<br />
Subcategoria F % F % F %<br />
Sociointeracionais 81 42,87 53 37,07 134 40,37 5,85<br />
Familiares 40 21,16 43 30,07 83 25,00 0,10<br />
Psicológicas 39 20,63 31 21,68 70 21,08 0,91<br />
29 15,34 16 11,18 45 13,55 3,75<br />
Socioeconômicas<br />
Total<br />
p < 0,01<br />
189 100 143 100 332 100<br />
Na subcategoria Sociointeracionais, a<strong>do</strong>lescentes e mães destacaram a<br />
importância da influência exercida pelos amigos, ampliada pela experiência de vida<br />
nas ruas e pelas muitas circunstâncias a ela relacionadas, fazen<strong>do</strong> uma relação<br />
direta entre uso de drogas e prática infracional. Na subcategoria Familiares, os<br />
sujeitos citaram o ambiente familiar, suas crises relacionais e lacunas afetivas como<br />
fonte <strong>do</strong>s conflitos vivi<strong>do</strong>s pelos a<strong>do</strong>lescentes, atribuin<strong>do</strong> a esses fatores a razão <strong>do</strong><br />
desapego ao lar, saída para a rua e ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. Na subcategoria<br />
Psicológicas, os grupos ancoraram as explicações para o comportamento anti-<br />
social <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente em fatores que levam em conta características psicológicas e<br />
comportamentais. Já na subcategoria Socioeconômicas, vincularam as suas<br />
justificativas aos fatores <strong>sociais</strong> mais amplos que influenciam o seu comportamento,<br />
diretamente relaciona<strong>do</strong>s as suas carências <strong>sociais</strong> e financeiras.<br />
A leitura da Tabela 3 demonstra que ambos os grupos apontaram os<br />
fatores sociointeracionais como os que mais influenciam o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
crime e o valor <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> (5.85) informa que foram os a<strong>do</strong>lescentes que mais<br />
contribuíram nas respostas. Os fatores familiares e psicológicos apresentaram uma<br />
diferença estatística menos significativa nas respostas <strong>do</strong>s grupos, o que pode ser<br />
confirma<strong>do</strong> pelos valores <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> (0.10 e 0.91). Mães e a<strong>do</strong>lescentes<br />
procuraram considerar fatores amplos e importantes na determinação <strong>do</strong><br />
X 2
envolvimento <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente com a criminalidade, extrain<strong>do</strong> de sua história de vida<br />
e <strong>do</strong>s saberes eruditos circulantes as suas explicações. De um mo<strong>do</strong> geral,<br />
creditaram aos fatores socioeconômicos o menor peso nessa determinação.<br />
Sposato (2001, p.41), comentan<strong>do</strong> as falhas <strong>do</strong> sistema socioeducativo e<br />
os resulta<strong>do</strong>s de uma pesquisa junto a a<strong>do</strong>lescentes acusa<strong>do</strong>s da autoria de atos<br />
infracionais na cidade de São Paulo, abrangen<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s relativos à escolaridade,<br />
procedência e renda, afirmou:<br />
Talvez seja justamente essa exclusão social e jurídica a principal causa<br />
para o envolvimento com o crime, e não fatores pessoais e<br />
comportamentais <strong>do</strong>s jovens, como se procurou afirmar também<br />
historicamente através da medicina, psiquiatria e pedagogia.<br />
Considera<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s esses pontos, em seguida, serão apresentadas as<br />
<strong>representações</strong> <strong>do</strong>s grupos pela descrição mais detalhada de cada uma das<br />
subcategorias.<br />
Causas para o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime ancoradas em fatores<br />
sociointeracionais<br />
Nesta subcategoria os sujeitos elaboraram suas explicações para o<br />
ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente na criminalidade, creditan<strong>do</strong> aos fatores sociointeracionais<br />
a cota mais elevada. Na a<strong>do</strong>lescência a vinculação ao grupo de amigos adquire<br />
grande significa<strong>do</strong> para os jovens em razão de seu interesse de se diferenciar da<br />
família. Famílias agrega<strong>do</strong>ras certamente oferecem um suporte mais seguro para<br />
que o a<strong>do</strong>lescente adentre os grupos de iguais e retorne ao seu grupo <strong>do</strong>méstico,<br />
vivencian<strong>do</strong> os conteú<strong>do</strong>s de cada espaço sem perder as referências positivas de<br />
cada um deles. Quan<strong>do</strong>, por razões múltiplas, a família não mais se configura como<br />
um lugar acolhe<strong>do</strong>r, o a<strong>do</strong>lescente não faz o caminho de volta, fican<strong>do</strong> muito mais<br />
vulnerável às influências <strong>do</strong>s grupos.<br />
A convivência com os amigos pode ser considerada bastante positiva na<br />
a<strong>do</strong>lescência e fortalece to<strong>do</strong> o processo de socialização já inicia<strong>do</strong> na infância.
Entretanto, a convivência com amigos delinqüentes ou mesmo com aqueles que<br />
estão em situação de risco iminente para a delinqüência (aban<strong>do</strong>no escolar, uso de<br />
drogas, porte de arma) pode ter efeitos deletérios <strong>sobre</strong> o a<strong>do</strong>lescente.<br />
Um outro aspecto também importante a ser considera<strong>do</strong> como defini<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime é a presença de adultos<br />
delinqüentes no seu grupo de convivência. Estes, na maioria das vezes, passam a<br />
exercer uma influência mais marcante no grupo, legitiman<strong>do</strong> a soberania da idade<br />
no status <strong>do</strong> poder. Dessa posição de autoridade emana a imposição de normas e a<br />
obediência ao líder passa a ser uma questão de <strong>sobre</strong>vivência. Referendan<strong>do</strong> essa<br />
realidade, os grupos aqui estuda<strong>do</strong>s reconheceram a força <strong>do</strong> adulto, chegan<strong>do</strong> a<br />
isentar o a<strong>do</strong>lescente de sua responsabilidade pelos seus atos.<br />
A<strong>do</strong>lescentes Às vezes é quase porque foi obriga<strong>do</strong> a fazer aquilo. /<br />
Eu acho que é porque ele pega corda <strong>do</strong>s mais grande. / É os outros que<br />
manda e ele faz. Muitos de menor tá aqui preso por causa disso. Tá de<br />
inocente mesmo.<br />
Mães Tem muito de maior que bota a criança na perdição. Mesmo que<br />
eles não queira os de maior incentiva. / Os de maior pega as crianças<br />
inocentes e joga no crime. / O meu entrou aqui sem dever. Esse meu diz<br />
que matou, mas não fez isso. Tá aqui de inocente.<br />
As respostas <strong>do</strong>s grupos estuda<strong>do</strong>s, no que tange à investigação da<br />
causalidade, contêm diversas considerações, com destaque especial para um<br />
elemento comum de suas experiências: a rua. Como amplo espaço de socialização<br />
<strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, esta comporta to<strong>do</strong>s os demais elementos que,agrega<strong>do</strong>s, são<br />
determinantes da prática infracional .<br />
A<strong>do</strong>lescentes Amizades é o que mais influi .Se envolve com colegas<br />
que não são amigos./ A rua é muito importante. Aí, entra no crime que<br />
não é pra entrar. Aí vai provar uma coisa que ainda não é provada. Um<br />
sujeito atravessou minha vida que se transformou num inferno./Muitos de<br />
maior bota os menor de laranja. Cometi muita besteira por influência de<br />
amigos./ Devi<strong>do</strong> às minhas companhias eu roubei e matei.<br />
Mães Se ele andar de turminha nunca dá certo. Só faz coisa errada.<br />
Só os amigos que faz a cabeça deles./ Muitos não procura amizades com<br />
pessoas ótimas. A gente fala pra eles saírem das ruas mas eles cresce
no meio <strong>do</strong>s amigos/. Porque eles se acompanha <strong>do</strong>s de maior que<br />
manda eles fazer o que não é pra fazer.<br />
As drogas se agregam aos elementos rua e amizades acima<br />
menciona<strong>do</strong>s, passan<strong>do</strong> a fazer parte desse importante tripé explicativo para a<br />
prática infracional. O uso de drogas, hoje parte da rotina de muitos a<strong>do</strong>lescentes,<br />
pode facilmente transformar-se em uso abusivo, o que, soma<strong>do</strong> aos fatores já<br />
menciona<strong>do</strong>s, pode configurar-se como um passo definitivo em direção à<br />
criminalidade. Um outro indica<strong>do</strong>r que se agrega a esse cenário é o fato de que,<br />
cada vez mais ce<strong>do</strong>, os jovens vêm ten<strong>do</strong> acesso a armas de fogo, combinação<br />
perigosa e de impacto nas estatísticas referentes à prática infracional.<br />
A<strong>do</strong>lescentes Tu<strong>do</strong> começa pelas drogas. Começa a beber. Aí eles<br />
passam a ser infratores. Assassinar, roubar, fazer lesões sérias. / Uma<br />
pessoa drogada faz qualquer ato infracional. A droga é o fim da vida de<br />
uma pessoa. Você se prostitui. / Fui se degradan<strong>do</strong> aos poucos.<br />
Mães Muita droga. / Outra coisa é a droga. / Depois que ele usa<br />
droga não sabe mais o que fazer. Começa a usar droga e aí vai.<br />
Os a<strong>do</strong>lescentes que participaram deste estu<strong>do</strong> conceberam o<br />
a<strong>do</strong>lescente infrator como um usuário de drogas, estabelecen<strong>do</strong> uma associação<br />
estreita entre drogas e infração. A experiência <strong>do</strong> trabalho com a<strong>do</strong>lescentes<br />
priva<strong>do</strong>s de liberdade revela que o contato com as drogas é fato comum em sua<br />
vida. No ambiente <strong>do</strong>méstico, já se desenham as primeiras lições que em seguida<br />
serão reforçadas pelo ambiente social mais próximo. As mães fizeram pouca<br />
referência às drogas como causa <strong>do</strong> ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. Assim, não<br />
comprometeram esta realidade de suas casas com a cadeia sucessiva de eventos<br />
que pode ser deflagrada a partir daí, ten<strong>do</strong> em vista que o uso de drogas por parte<br />
<strong>do</strong>s pais, freqüentemente, está acompanha<strong>do</strong> pela violência <strong>do</strong>méstica, sen<strong>do</strong> esta<br />
um estímulo inexorável à permanência de crianças e a<strong>do</strong>lescentes na rua.<br />
Causas para o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime ancoradas em fatores<br />
familiares
O ambiente familiar é um fator preponderante para o desenvolvimento <strong>do</strong>s<br />
filhos e influi decisivamente no comportamento <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes. Um baixo nível de<br />
coesão familiar e a presença <strong>do</strong>s conflitos constantes entre pais e filhos afetam<br />
sensivelmente o comportamento social e emocional deste últimos.<br />
A<strong>do</strong>lescentes e mães visualizaram um conjunto similar de vivências<br />
familiares que, segun<strong>do</strong> suas percepções, culminam com o ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />
no mun<strong>do</strong> crime. Certo é que, no perfil de uma família, muitas outras se enquadram.<br />
A desarmonia das relações que obscurecem e eliminam o lugar <strong>do</strong> afeto; as<br />
separações <strong>do</strong>s casais que dão lugar a novos e, às vezes, não deseja<strong>do</strong>s rearranjos<br />
familiares; as muitas ausências <strong>do</strong>s pais relacionadas por vezes a motivos evidentes<br />
e justifica<strong>do</strong>s, outras não, mas que igualmente cavam um vazio real; a inevitável<br />
desobediência da juventude, eterna medição de forças e gera<strong>do</strong>ra de desconforto<br />
em ambos os la<strong>do</strong>s; a rua, eleita pelos a<strong>do</strong>lescentes como um espaço de<br />
convivência e aprendizagem são fatores reconhecidamente desagrega<strong>do</strong>res.<br />
A<strong>do</strong>lescentes Mais é a criação <strong>do</strong>s pais, os problemas. Eles não<br />
convive bem no mesmo habitat. O cara precisa de apoio e não tem. Aí<br />
fica mais revolta<strong>do</strong>. / Às vezes o pai é alcoólatra e a mãe também. / Pais<br />
separa<strong>do</strong>s não tão ali encaminhan<strong>do</strong> pra ele estudar.<br />
Mães No caso <strong>do</strong> meu filho, eu não podia cuidar dele. Vivia<br />
trabalhan<strong>do</strong> e ele mais na rua. / Se for bem preparada a estrutura familiar,<br />
nada vai acontecer. / Quan<strong>do</strong> falta apoio acontece muita coisa ruim na<br />
vida deles. Até por falta de carinho <strong>do</strong>s pais. E assim eles vão se<br />
soltan<strong>do</strong>.<br />
A<strong>do</strong>lescentes Só quer que seja suas opiniões. Ele só quer ser o centro.<br />
Ele é o ego. Não sabe aceitar as pessoas como tem de ser. / Ele se torna<br />
uma pessoa rígida e não aceita crítica positiva. É só a vontade dele. Tu<strong>do</strong><br />
tem de ser da minha forma.<br />
Mães Eu procurava tirar da rua e ele não aceitava. / A gente<br />
aconselha mas ele faz erra<strong>do</strong> de novo. Porque eles não ouvem nossos<br />
conselhos. / Eles começam a entrar no mun<strong>do</strong> da marginalização.<br />
Exatamente porque não obedece os pais. Isso gera incompreensão, tu<strong>do</strong><br />
isso de ruim.<br />
Mais uma vez, é possível verificar a ênfase dada pelas mães à<br />
desobediência <strong>do</strong>s filhos e ao descaso com os conselhos paternos, itens aponta<strong>do</strong>s
como motivo importante para o ingresso <strong>do</strong>s jovens no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime, questão<br />
que já havia si<strong>do</strong> destacada quan<strong>do</strong> descreveram o a<strong>do</strong>lescente infrator.<br />
Causas para o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime ancoradas em fatores<br />
psicológicos<br />
A referência a fatores psicológicos como explicação para a entrada no<br />
mun<strong>do</strong> da criminalidade demonstrou o esforço que os sujeitos realizaram para<br />
compreender o fenômeno aborda<strong>do</strong>. Os elementos utiliza<strong>do</strong>s para dar conta da<br />
problemática (prazer, natureza humana, demônio, impulsividade) simplificaram a<br />
questão e deixaram ao cargo de outros saberes o desvelamento de novos<br />
determinantes. Para os a<strong>do</strong>lescentes, os motivos pessoais estiveram relaciona<strong>do</strong>s<br />
ao prazer/desejo, alcança<strong>do</strong>s através da conduta anti-social. Quan<strong>do</strong> se referiram às<br />
razões que lhes escapam ao controle, os a<strong>do</strong>lescentes consideraram o<br />
comportamento anti-social como algo intrínseco à fase da a<strong>do</strong>lescência.<br />
• Outros entra só por aventura. Outros faz por gostar. Tem vontade.<br />
Dá prazer fazer aquilo. Quan<strong>do</strong> prova se acostuma. Aí vai até<br />
continuar. Rouba, mata. Faz porque quer aparecer, pra ficar mais<br />
respeita<strong>do</strong>.<br />
• Errar a gente erra, porque errar é humano. Isso é uma fase que a<br />
gente passa na vida. Eu acho que é coisa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> mesmo. É da<br />
vida. O que eu fiz é porque antes eu não pensava. A gente faz isso<br />
por fraqueza da cabeça.<br />
As mães ofereceram explicações relacionadas ora à natureza humana,<br />
ora a sua religiosidade, insistin<strong>do</strong> na isenção de culpa <strong>do</strong> filho infrator e colocan<strong>do</strong>-o,<br />
por meio da inversão de papéis, na condição de vítima.<br />
• Às vezes ele já tem aquela sina de fazer o mal. É da natureza deles.<br />
Às vezes não é nem que eles queira fazer. É porque o demônio<br />
chama. Porque pro diabo, tu<strong>do</strong> é fácil.<br />
• Às vezes a pessoa obriga eles a fazer. Quan<strong>do</strong> eles mata, às vezes é<br />
a pessoa que insiste. A própria pessoa que morre insiste. Insiste até<br />
ele fazer o que não era pra fazer. Exatamente porque o a<strong>do</strong>lescente<br />
não tem juízo na cabeça.
O comportamento humano é muito complexo e resultante da interação de<br />
fatores biológicos, psicológicos e <strong>sociais</strong>. O discurso científico esclarece, de forma<br />
elaborada e fundamentada em estu<strong>do</strong>s e pesquisas, os elementos que determinam<br />
a conduta anti-social <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, relacionan<strong>do</strong>-a a cada um <strong>do</strong>s componentes<br />
da dimensão biopsicossocial, em separa<strong>do</strong> ou a partir de suas interconexões. Na<br />
mesma direção, em relação aos fatores biológicos, Mercy et al (2002) fizeram<br />
referência a estu<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> danos neurológicos associa<strong>do</strong>s à gravidez e ao parto que<br />
podem levar ao comportamento violento, assim como Ballone (2003) destacou o<br />
transtorno de conduta na psiquiatria da infância e a<strong>do</strong>lescência como responsável<br />
pela prática de atividades delituosas. Por fim, Winnicott (1994) enfatizou aspectos<br />
psicodinâmicos, afirman<strong>do</strong> que crianças submetidas à privação de afetos podem<br />
desenvolver comportamentos anti-<strong>sociais</strong>.<br />
A literatura internacional aborda o tema <strong>do</strong> comportamento anti-social,<br />
levan<strong>do</strong> em consideração aspectos legais e psíquicos. De uma forma ou outra, esse<br />
conhecimento circula no espaço social, sen<strong>do</strong> apropria<strong>do</strong> pelo cidadão leigo que<br />
procura atribuir-lhe um tom de familiaridade e elabora as mais diversas<br />
interpretações da realidade.<br />
Causas para o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime ancoradas em fatores<br />
socioeconômicos<br />
O crescimento econômico, em movimento inverso à distribuição de renda,<br />
gera a expansão <strong>do</strong> empobrecimento de camadas significativas da população. A<br />
instalação de políticas de proteção social como paliativo para a pobreza e não como<br />
estratégia de enfrentamento dessa condição produz um sentimento latente de<br />
tensão e revolta que tenderá a se manifestar de uma forma explícita ou não. A<br />
realidade nacional apresenta ainda a existência de um clima generaliza<strong>do</strong> de<br />
corrupção e impunidade, e as muitas interconexões que são formadas a partir daí<br />
repercutem no comportamento <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes brasileiros.<br />
Os sujeitos deste estu<strong>do</strong> visualizaram o a<strong>do</strong>lescente infrator como<br />
membro de uma família que vivencia dificuldades financeiras e que, por conseguinte,<br />
não consegue prover as necessidades <strong>do</strong> filho. O resulta<strong>do</strong> é que a perspectiva
sedutora de dinheiro por meios ilícitos ganha consistência. Atente-se para o fato de<br />
que o padrão consumista que cria o desejo por uma busca de acumulação infinita de<br />
bens materiais, ao la<strong>do</strong> da dura realidade de um mun<strong>do</strong> cada vez com menos<br />
empregos, encarrega-se de inviabilizar o direito de sonhar para grande parte da<br />
população. O a<strong>do</strong>lescente, desacredita<strong>do</strong> de esperar pela família, decide ele próprio<br />
modificar sua realidade.<br />
A<strong>do</strong>lescentes Muitos entra por necessidade, por causa da condição<br />
financeira. Quer uma roupa. Quer curtir. A mãe e o pai não tem como<br />
ajudar. Aí ele vai e rouba e até mesmo comete latrocínio.<br />
Mães Ele sente querer as coisas e a gente não poder dar. A gente<br />
vive num meio muito baixo./ O mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime é mais fácil <strong>do</strong> que<br />
arranjar emprego. Não precisa de sacrifício nem suor. Corre frouxo./ O<br />
crime não precisa de diploma.<br />
Os sujeitos também entenderam que a ociosidade <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente é um<br />
indicativo para a criminalidade. Reportaram-se à falta de escola e emprego, mas<br />
nenhum <strong>do</strong>s sujeitos levou em consideração o desemprego <strong>do</strong>s pais, o que, na<br />
verdade, lhes mina a condição de prover suas famílias.<br />
A<strong>do</strong>lescente Tu<strong>do</strong> influi pro cara entrar nessa vida. Falta emprego.<br />
Deixei de estudar. As vezes um infrator comete atos infracionais porque<br />
falta alguma coisa. Tem que arrumar escola.<br />
Mãe Não tem emprego pra esses a<strong>do</strong>lescentes. Se tivesse emprego<br />
eles botaria a cabeça no lugar. Se você não tiver o 2º grau não se<br />
emprega.<br />
O crescente populacional, em descompasso com a capacidade de<br />
empregabilidade <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, faz com que o investimento das políticas públicas em<br />
profissionalização acabe por cair no vazio. Enfatize-se que o suporte financeiro das<br />
famílias das classes mais favorecidas evita que o a<strong>do</strong>lescente dependa <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />
de trabalho muito ce<strong>do</strong>, razão por que, apesar de outros conflitos que possam<br />
vivenciar, permanecem nas suas casas.<br />
4.1.4 Perspectiva de mudança<br />
A quarta investigação explorou a percepção <strong>do</strong>s sujeitos <strong>sobre</strong> a<br />
possibilidade de o a<strong>do</strong>lescente infrator mudar de vida. Os grupos identificaram cinco
opções nesse senti<strong>do</strong> que incluíram tanto o esforço individual de mudança quanto as<br />
redes ampliadas de apoio, constituídas pela família, instituição socioeducativa e<br />
sociedade, ainda consideran<strong>do</strong> em menor proporção, a ajuda espiritual.<br />
Nessa categoria, os sujeitos registraram as suas crenças e descrenças na<br />
mudança, procuran<strong>do</strong> demonstrar os meios que vislumbram necessários para tanto.<br />
A mudança nesse caso é, na verdade, mais complexa <strong>do</strong> que lhes possa parecer.<br />
Deixar de ser infrator é bem mais <strong>do</strong> que aban<strong>do</strong>nar o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime; é também<br />
mostrar a si próprio e ao outro ser capaz de romper com o carimbo da identidade<br />
marginal. Ao sair da argumentação teórica para a prática, a mudança envolve mais<br />
que as receitas simplificadas atreladas ao poder da boa vontade ou oportunidades<br />
externas. As subcategorias nomeadas agruparam as respostas <strong>do</strong>s grupos,<br />
apresentadas na Tabela 4, da qual consta um panorama numérico geral dessas<br />
<strong>representações</strong>.<br />
Tabela 4 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />
perspectiva de mudança e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescente autores<br />
de atos infracionais e de mães.<br />
Sujeitos A<strong>do</strong>lescentes Mães Total<br />
Subcategorias F % F % F %<br />
Pessoal 69 43,12 55 37,17 124 40,26 1,58<br />
Social 56 35,00 53 35,81 109 35,40 0,08<br />
Familiar 15 9,38 10 6,75 25 8,11 1,00<br />
Institucional 19 11,88 18 12,17 37 12,00 0,02<br />
Espiritual 1 0,62 12 8,10 13 4,23 9,30<br />
Total 160 100 148 100 308 100<br />
p < 0,01<br />
Nessa categoria, de um mo<strong>do</strong> geral, as respostas numéricas <strong>do</strong>s sujeitos,<br />
podem ser visualizadas em <strong>do</strong>is blocos que demonstram o valor que eles atribuíram<br />
a cada uma das opções de mudança de comportamento. No primeiro bloco, e com<br />
um número similar de respostas e percentuais mais eleva<strong>do</strong>s, estão as<br />
subcategorias Pessoal e Social, sen<strong>do</strong> que o valor <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> nesta segunda<br />
assinala que não existiu diferença estatística importante nas respostas.<br />
X 2
O segun<strong>do</strong> bloco apresentou um número baixo de respostas nas<br />
subcategorias Institucional, Familiar e Espiritual. O valor <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> (0.02)<br />
para a subcategoria Familiar informou, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, que a diferença estatística<br />
entre as respostas <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grupos foi insignificante. A última subcategoria teve uma<br />
freqüência total de respostas de 4.23, contan<strong>do</strong> com uma contribuição quase integral<br />
<strong>do</strong> grupo de mães, confirmada pelo qui-quadra<strong>do</strong> de 9.30.<br />
A compreensão que os sujeitos elaboraram <strong>sobre</strong> a perspectiva de<br />
mudança de vida de um a<strong>do</strong>lescente infrator, quan<strong>do</strong> se reportam à interferência<br />
externa, foi alicerçada no grande eixo da confiança. Quan<strong>do</strong>, por outro la<strong>do</strong>,<br />
acreditaram na mudança a partir de uma perspectiva pessoal, deram ênfase ao<br />
esforço individual alicerça<strong>do</strong> no desejo. Na apresentação das subcategorias, serão<br />
feitas considerações mais detalhadas <strong>sobre</strong> estas <strong>representações</strong>.<br />
Perspectiva de mudança ancorada na esfera pessoal<br />
Na compreensão <strong>do</strong>s grupos entrevista<strong>do</strong>s, um a<strong>do</strong>lescente infrator pode<br />
aban<strong>do</strong>nar o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime se assim o desejar, fican<strong>do</strong> essa mudança<br />
condicionada à opção por novos hábitos de vida. Corroboran<strong>do</strong> essa premissa,<br />
acreditaram ser fundamental o afastamento das ruas, das drogas e das amizades<br />
com pessoas delinqüentes e a a<strong>do</strong>ção de uma postura responsável que envolve o<br />
investimento no estu<strong>do</strong>, na busca de emprego e até na formação de uma família<br />
para si próprio. As mães associaram também a mudança à disposição <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente para obedecer aos pais, aspecto ao qual sempre retornam.<br />
Acreditam que a obediência <strong>do</strong> filho é condição primordial para a sua<br />
mudança. As condições de vida das famílias de baixa renda impõem aos pais<br />
maiores limitações de cumprir a tarefa de educar a prole. A dificuldade em ocupar o<br />
espaço de prove<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s filhos e o esgarçamento <strong>do</strong>s vínculos dela decorrentes,<br />
entre outros fatores, torna-se um grande obstáculo para a garantia da legitimidade<br />
da autoridade paterna, o que incide diretamente na questão da obediência.<br />
A<strong>do</strong>lescentes To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> pode mudar, assim queira. Basta ter<br />
força de vontade. Erguer a cabeça. / Primeiro lugar, dizer não às drogas.
Arrumar um emprego. Formar família. Casar. Ter filhos. Ter<br />
responsabilidade./ Deve isolar as más amizades. Ganhar dinheiro sem<br />
roubar. Depende dele, sozinho.<br />
Mães Depende só dele mesmo . Ele não queren<strong>do</strong>, nada<br />
feito. / Ele queren<strong>do</strong>, pode ser alguém na vida. Pode até ser um <strong>do</strong>utor. /<br />
Sain<strong>do</strong> das ruas. In<strong>do</strong> trabalhar. Procuran<strong>do</strong> escola. Não usar mais<br />
drogas. / Se ele obedecer os conselhos <strong>do</strong>s pais vai pensar mais e ser<br />
um rapaz direitinho. / Deve obedecer os pais. É esse o caminho.<br />
A mudança nasce <strong>do</strong> desejo, este condição sine qua non para que aquela<br />
aconteça. A questão é que, quan<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente adentra o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime, uma<br />
gama de numerosos fatores contribuíram para que essa situação fosse instalada, os<br />
quais não surgiram de imediato, mas se agregaram na história <strong>do</strong> sujeito ao longo<br />
<strong>do</strong> tempo.<br />
Até que o a<strong>do</strong>lescente se afaste de casa para a rua, a<strong>do</strong>te os colegas<br />
como pontos de referência, envolva-se com drogas e aban<strong>do</strong>ne a escola, uma série<br />
de comprometimentos existiram como determinantes de sua conduta e motiva<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> seu desejo. Assim, mudar o comportamento não é somente uma questão de<br />
simples força de vontade. Além disso, a busca de novas oportunidades de<br />
socialização, tais como a escola pública e o emprego, na maioria das vezes inexiste,<br />
extrapola o empenho individual pela mudança, porque coloca o a<strong>do</strong>lescente frente<br />
às lacunas das políticas públicas <strong>do</strong> país.<br />
Nas unidades da SAS, que atendem a<strong>do</strong>lescentes em conflito com a lei,<br />
não existem estatísticas referentes ao número de a<strong>do</strong>lescentes que já são pais e<br />
mães, embora o cotidiano <strong>do</strong> trabalho informe que esse número é eleva<strong>do</strong> e até<br />
mesmo que muitos desses jovens vivem com companheiros(as) dentro de suas<br />
próprias famílias. Esse da<strong>do</strong> está conti<strong>do</strong> nas respostas <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes<br />
entrevista<strong>do</strong>s que assinalaram como alternativa para o aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
crime a construção de uma família para si, o que em seu entendimento significa<br />
assumir responsabilidade. A conseqüência desse equívoco tem si<strong>do</strong> a reedição de<br />
suas próprias histórias em muitas crianças que ce<strong>do</strong> passam a ser órfãos de pais<br />
vivos.
Perspectiva de mudança ancorada na esfera social<br />
Quan<strong>do</strong> os sujeitos vincularam a mudança <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente a fatores<br />
externos, estenderam a toda a sociedade a responsabilidade, destacan<strong>do</strong> a<br />
confiança como a base para essa transformação. Além de oportunidades mais<br />
especificas como escola e emprego, reconheceram igualmente importantes outros<br />
itens menos concretos que traduziriam essa credibilidade.<br />
A<strong>do</strong>lescentes A pessoa tem que dar uma chance ao menor. Se<br />
ninguém confia nele, ele não muda. / A pessoa deve dar uma força, dar<br />
uma oferta. / Quan<strong>do</strong> o menor tem alguém que confia nele isso mexe com<br />
ele. / A pessoa ter erra<strong>do</strong> não quer dizer que não vai mais mudar. Dar<br />
oportunidade como escola e emprego.<br />
Mães O apoio para o a<strong>do</strong>lescente serve muito. Se ele tiver<br />
trabalho e estu<strong>do</strong> não vai ter tempo para fazer besteira./ Muito conselho.<br />
Tem que partir da sociedade. Mostran<strong>do</strong> o caminho. / To<strong>do</strong>s devemos<br />
ajudar o a<strong>do</strong>lescente. / Se as autoridades estender a mão amiga ele sai<br />
dessa.<br />
Os a<strong>do</strong>lescentes marginaliza<strong>do</strong>s pela condição de infratores fazem parte<br />
de uma minoria social desacreditada e odiada, indigna de qualquer voto de<br />
confiança. Moscovici (1996) destacou a necessidade imanente ao ser humano de<br />
ser visível e admira<strong>do</strong>, anseios presentes em todas as relações interpessoais e<br />
<strong>sociais</strong>. Sentir-se queri<strong>do</strong> é importante e justifica a busca de aprovação social.<br />
Entretanto, a pessoa pode ser detestada e <strong>sobre</strong>viver nessa condição, ainda tiran<strong>do</strong><br />
vantagens dessa rejeição.<br />
Perspectiva de mudança ancorada na esfera institucional<br />
Mães e a<strong>do</strong>lescentes destacaram o sistema socioeducativo como a<br />
terceira opção mais importante para a mudança, ressaltan<strong>do</strong> o cotidiano <strong>do</strong> trabalho<br />
como elemento facilita<strong>do</strong>r desse processo. A ênfase na profissionalização e no
atendimento dispensa<strong>do</strong> pelos profissionais configurara-se como pontos de<br />
relevância para os grupos.<br />
A<strong>do</strong>lescentes Se tiver o trabalho de uma unidade como esta. /<br />
Aqui tenho to<strong>do</strong> apoio. Setor técnico. Psicólogo. Principalmente as<br />
palestras. Às vezes, até remédio. / Eu tô preso aqui mas tirei proveito.<br />
Eles tão proporcionan<strong>do</strong> um curso profissionalizante pra mim. Quan<strong>do</strong> ele<br />
sair já sai com idéias boas. / Pra mudar, basta cair numa FEBEM.<br />
Mães A mão amiga é também essa onde eles estão. Os cursos<br />
que eles tão fazen<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> sair já sai com a vida melhor. / Os<br />
funcionários tiram ele <strong>do</strong> crime conversan<strong>do</strong>. / Muitas coisas que eles não<br />
vê na rua, vê aqui dentro.<br />
Vale registar que, além <strong>do</strong>s ganhos auferi<strong>do</strong>s na internação, as mães<br />
assinalaram um outro aspecto positivo relaciona<strong>do</strong> à importância <strong>do</strong> castigo. Embora<br />
em seus discursos anteriores não tenham valida<strong>do</strong> a punição como um caminho<br />
para a mudança, fizeram aqui essa associação, expressan<strong>do</strong> nas entrelinhas o alívio<br />
por alguém ter imposto ao filho o castigo que ela própria não conseguiu impor.<br />
É muito importante que ele sofra um pouquinho. Se tiver numa unidade<br />
pagan<strong>do</strong> seu crime ele vai refletir e deixar essa vida. Aí ele merece um<br />
voto de confiança. Fora, ele não pagou pelo que fez.<br />
O cerceamento da liberdade significa estar submeti<strong>do</strong> às regras<br />
institucionais que concedem pouco espaço para as transgressões. Os a<strong>do</strong>lescentes<br />
interna<strong>do</strong>s não dispõem <strong>do</strong> poder de escolha, necessitan<strong>do</strong> incorporar a seus<br />
hábitos a nova rotina que lhe é apresentada. A privação da liberdade é uma<br />
experiência de padronização da vida. O a<strong>do</strong>lescente obriga-se a freqüentar salas de<br />
aula, realizar atividades <strong>do</strong>mésticas, ouvir conselhos ou repreensões e a ser puni<strong>do</strong>.<br />
Sujeita-se a viver um novo ritmo que, para alguns, em alguns momentos, pode ser<br />
experiencia<strong>do</strong> com uma conotação positiva.<br />
Perspectiva de mudança ancorada na esfera familiar<br />
Esta subcategoria sinalizou a percepção <strong>do</strong>s grupos em relação à<br />
influência da família para a saída <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime. Mães e<br />
a<strong>do</strong>lescentes assinalaram ser o apoio da família menos expressivo que os demais
fatores anteriormente cita<strong>do</strong>s. Entretanto, destacaram a importância da presença<br />
amorosa <strong>do</strong>s pais na vida <strong>do</strong>s filhos e de sua confiança neles.<br />
A<strong>do</strong>lescentes A maioria das vezes é os pais. Apoio da família. Não<br />
ficar contra ele quan<strong>do</strong> ele errou. Tem que chegar e conversar. ( ) A<br />
família precisa ajudar. Quan<strong>do</strong> ele sair vai se recuperar.<br />
Mães A mãe sempre tem um coração mais seguro naquele filho. ( )<br />
A mãe tem confiança nele. Que ele vai em frente( ) Tem que partir de<br />
casa. Eu visito e aconselho ele.<br />
A condição de estar priva<strong>do</strong> da liberdade também acaba por criar entre<br />
família e a<strong>do</strong>lescente um vínculo de proximidade. O direito legal à visita <strong>do</strong>s<br />
familiares é assegura<strong>do</strong> na internação e passa a fazer parte da rotina <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente. Nos dias e horários regra<strong>do</strong>s, famílias e filhos experienciam um<br />
encontro que, muitas vezes, jamais fizera parte de sua vida. As visitas passam a<br />
fazer parte das expectativas <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, adquirin<strong>do</strong> valor considerável. No<br />
confinamento, mães e filhos estarão frente a frente para se olhar e ouvir-se, o que<br />
faz surgir a oportunidade para as confidências, os conselhos, as repreensões, as<br />
declarações de amor.<br />
A prática desse trabalho com a<strong>do</strong>lescentes também mostra que as mães<br />
e muitas vezes as avós são as pessoas mais presentes nesse perío<strong>do</strong> de<br />
internação, caracterizan<strong>do</strong>-se como frágeis figuras de autoridade feminina que<br />
procuram a to<strong>do</strong> custo vencer a prova que a vida lhes reservou.<br />
Perspectiva de mudança ancorada na esfera espiritual<br />
inspiração divina.<br />
Esta subcategoria revelou a concepção de mudança <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente por<br />
Se ele entrasse no caminho de Deus isso não acontecia./ Tu<strong>do</strong> Deus<br />
mandará. Tirar os maus pensamentos da cabeça dele. Muitos peleja pra<br />
corrigir a perdição mas só Deus é que muda essas coisas./ Nada pra<br />
Deus é impossível. Quem tem Deus tu<strong>do</strong> pode.<br />
Nesse ponto <strong>do</strong> questionamento, coube às mães quase a totalidade das<br />
respostas. Defenderam o poder da fé e a força de Deus para a transformação <strong>do</strong>
a<strong>do</strong>lescente, reiteran<strong>do</strong> que não bastaria aos a<strong>do</strong>lescentes apenas querer<br />
mudar,mas, antes de tu<strong>do</strong>, aceitar Jesus para que essa mudança fosse operada.<br />
4.1.4 Percepção <strong>do</strong> eu<br />
Durante muito tempo, o paradigma cartesiano inspirou a produção <strong>do</strong><br />
conhecimento científico, influencian<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> de pensar e compreender a vida. A<br />
separação indivíduo/sociedade foi conseqüência desse referencial, razão pela qual a<br />
psicologia não incluía a dimensão cultural na constituição <strong>do</strong> sujeito humano. A<br />
concepção de um sujeito distinto <strong>do</strong> social e a definição de identidade pessoal como<br />
conjunto de caracteres próprios de uma pessoa traziam embutida a lógica desse<br />
pensamento. A palavra identidade, que comportava a noção de semelhança,<br />
implicava, a partir de uma idéia de imutabilidade, um sujeito sempre igual a si<br />
próprio. Sawaia (2002) alertou para a importância de se pensar identidade como<br />
uma categoria política que torna possível a padronização <strong>do</strong>s cidadãos, a partir de<br />
suas relações de poder.<br />
A compreensão da interligação <strong>do</strong>s níveis individual e social, que tem<br />
orienta<strong>do</strong> a produção <strong>do</strong> conhecimento das ciências psicológica e social, tem<br />
expandi<strong>do</strong> esse senti<strong>do</strong> de estabilidade de um perfil <strong>do</strong> eu até a noção de<br />
subjetividade, atravessan<strong>do</strong> os contornos <strong>do</strong> indivíduo e <strong>do</strong> sujeito para mergulhar<br />
de forma integral no universo da cultura. Em relação a essa temática, Rey (2003,<br />
p.241) enfatizou que “a subjetividade individual mostra os processos de subjetivação<br />
associa<strong>do</strong>s à experiência social <strong>do</strong> sujeito concreto, assim como as formas de<br />
organização desta experiência por meio <strong>do</strong> curso da história <strong>do</strong> sujeito”. Ainda <strong>sobre</strong><br />
o assunto, Araújo (2002, p.81) afirmou que “contemporaneamente, a subjetividade é<br />
compreendida como o mo<strong>do</strong> de organizar as experiências <strong>do</strong> cotidiano, os universos<br />
de sensações e <strong>representações</strong>”.<br />
A quinta investigação deste estu<strong>do</strong> deteve-se no terreno da construção da<br />
subjetividade <strong>do</strong> sujeito, zona porosa pela qual transitam os conteú<strong>do</strong>s de natureza<br />
individual e coletiva, atrela<strong>do</strong>s às dimensões simbólica, histórica e cultural,<br />
produtores de significação e senti<strong>do</strong>, simultaneamente, para a vida social e para os
indivíduos que dela fazem parte e a constituem. Consideran<strong>do</strong>, pois, a importância<br />
da subjetividade individual materializada na percepção <strong>do</strong> eu, a exploração de<br />
conteú<strong>do</strong>s representacionais, parte dessa subcategoria, procurou apreender <strong>do</strong><br />
grupo de a<strong>do</strong>lescentes a maneira como vêem a si próprios, como gostariam de ser<br />
vistos e como acreditam estar sen<strong>do</strong> vistos.<br />
Na subcategoria Autopercepção, os a<strong>do</strong>lescentes procuraram descrever a si<br />
próprios, confirman<strong>do</strong> as características percebidas como qualidades ou defeitos e<br />
valoran<strong>do</strong> seu comportamento e a sua satisfação pessoal. O número de evocações<br />
dessa subcategoria foi bastante eleva<strong>do</strong> em comparação às demais, o que garantiu<br />
um percentual de 55.9% das respostas. A subcategoria Idealizada registrou o<br />
número mais baixo de respostas, corresponden<strong>do</strong> ao percentual de 19,24%. Os<br />
a<strong>do</strong>lescentes informaram seus projetos de vida a partir das mudanças que<br />
pretendem empreender, deixan<strong>do</strong> registra<strong>do</strong> um mo<strong>do</strong> de ser que não conseguiram<br />
alcançar. A subcategoria Heteropercepção expressou a apreensão <strong>do</strong>s sujeitos<br />
<strong>sobre</strong> o conceito que as pessoas têm de um a<strong>do</strong>lescente que comete atos<br />
infracionais, traduzi<strong>do</strong> em uma imagem negativa captada através das falas e gestos<br />
das pessoas, assim como de seus pensamentos expressos pelos meios da<br />
comunicação. Todas as respostas das mães foram condensadas nessa<br />
subcategoria, deven<strong>do</strong> o valor <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> ser compreendi<strong>do</strong> a partir desse<br />
da<strong>do</strong>. Vale ressaltar, ainda, que o número de respostas dessa subcategoria nos <strong>do</strong>is<br />
grupos foi quase similar, corrobora<strong>do</strong> pelo qui-quadra<strong>do</strong> de 0.34. A Tabela 5<br />
apresentará o agrupamento das respostas fornecidas.<br />
Tabela 5 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />
percepção <strong>do</strong> eu e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescentes autores de<br />
atos infracionais e de mães.<br />
Sujeitos A<strong>do</strong>lescentes Mães Total<br />
Subcategorias F % F % F %<br />
X 2
Autopercepção 221 55,9 - - 221 45,57 221<br />
Idealizada 76 19,24 - - 76 15,67 76<br />
Heteropercepção 98 24,81 90 100 188 38,76 0,34<br />
Total 395 100 90 100 485 100<br />
p < 0,01<br />
Autopercepção<br />
Nesta subcategoria, a<strong>do</strong>lescentes que cometeram homicídio e latrocínio,<br />
priva<strong>do</strong>s de liberdade e, portanto, oficialmente declara<strong>do</strong>s infratores, evocaram <strong>do</strong>is<br />
campos simultâneos: a<strong>do</strong>lescente e infrator. Essa confluência torna permeável a<br />
linha separatória entre ambos de tal forma que a distinção vai se tornan<strong>do</strong> turva e a<br />
identificação <strong>do</strong>s campos passa a ser uma questão tida como natural pelos sujeitos.<br />
Assim, os a<strong>do</strong>lescentes detiveram-se em descrever a sua forma de ser, sentir e<br />
comportar-se, em paralelo à afirmação de sua identidade marginal, uma colagem<br />
imperceptível, mas com poder de decretar uma sentença para o futuro.<br />
• Meu jeito é esse. Sou uma pessoa simples.<br />
• Eu me acho uma pessoa cari<strong>do</strong>sa. Sou também humilde.<br />
Sou órfã. Não sou falsa como falam. Não guar<strong>do</strong> rancor nem maldade<br />
no coração. Falo as coisas sem pensar.<br />
• Eu tenho um homicídio. Sou uma infratora, infelizmente.<br />
Qualquer coisa eu choro. Só que drogada eu fico violenta.<br />
• Nós somos menor infratores. Gostaria de ser difrente. Só<br />
que eu já tô seguin<strong>do</strong> meu caminho.<br />
Essa percepção que o a<strong>do</strong>lescente tem de si, atrelada a uma<br />
inalterabilidade da condição atual de infrator, ajusta-se à expectativa declarada<br />
socialmente de que não é uma pessoa de crédito e que pertence, portanto, à<br />
categoria daqueles que não têm mais jeito. A Teoria das Representações Sociais, ao<br />
abordar como estas se formam no espaço social, configura-se como verdade <strong>do</strong><br />
senso comum, oferecen<strong>do</strong> a explicação de como essa verdade torna-se um
elemento de senti<strong>do</strong> para o a<strong>do</strong>lescente e para o grupo mais amplo. Ainda nas<br />
palavras de Rey (2003, p.126),<br />
A realidade aparece para as pessoas por meio das RS e <strong>do</strong>s diferentes<br />
discursos que formam o teci<strong>do</strong> social, mediante os quais os sujeitos<br />
individuais, implica<strong>do</strong>s em um determina<strong>do</strong> espaço social, configuram o<br />
senti<strong>do</strong> subjetivo das diferentes esferas de suas vidas, e produzem<br />
significações em relação a si mesmos e aos outros.<br />
Outro aspecto importante na autodescrição <strong>do</strong>s sujeitos entrevista<strong>do</strong>s foi<br />
a contradição explícita presente em suas falas e em seus comportamentos.<br />
• Eu sou um elemento calmo. Penso muito antes de agir. Nunca usei<br />
drogas. Não gosto dessas coisas de marginalidade.<br />
• Sou boa. Meu jeito é criar amizade. Nada de violência.<br />
• Sou tranqüilo. Sou uma pessoa comum. O que eu queria ser eu já tô<br />
fortemente.<br />
• Tenho um temperamento esquenta<strong>do</strong>. Eu drogada as coisas nem me<br />
dói.<br />
• Eu sou um infrator. Fiz mal aos outros.<br />
• Meu jeito mesmo é to<strong>do</strong> cala<strong>do</strong>. Mas não deixo ninguém mexer<br />
comigo.<br />
• Gostaria de ser diferente. Eu me acho um pouco estranho. Eu sou um<br />
cara tatua<strong>do</strong> e com passagem em Febem.<br />
A longa lista <strong>do</strong>s adjetivos utiliza<strong>do</strong>s pelos sujeitos para qualificar a si<br />
próprios – calmo, pondera<strong>do</strong>, sensível, sincero, bom, humilde, correto, educa<strong>do</strong>,<br />
estudioso, maduro, dócil, amigo, alegre, simpático, legal, cari<strong>do</strong>so, interativo,<br />
comporta<strong>do</strong>, adulto, esportivo, tranqüilo, sem maldade, brincalhão, feliz, queri<strong>do</strong>,<br />
simples, pessoa que vale a pena - poderia levar à conclusão de que estão satisfeitos<br />
consigo próprios. Entretanto, o ingresso no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime, que envolve o uso<br />
abusivo de drogas e a prática reiterada de violação <strong>do</strong>s direitos alheios, sinaliza um<br />
desajuste entre as características pessoais e a conduta real que, apesar disso,<br />
encontram-se entrelaçadas.<br />
A descrição de si também ganhou consistência quan<strong>do</strong> foi feita a partir de<br />
comparações grupais<br />
• Eu sou como to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Eu me comparo como uma pessoa normal
• Sou uma pessoa comum. Só não sou comum porque já usei droga,<br />
roubei e cometi um homicídio.<br />
O não envolvimento no crime foi lembra<strong>do</strong> pelos sujeitos como um critério<br />
para definir a inclusão/exclusão no ou <strong>do</strong> grupo das pessoas comuns/normais, o que<br />
auxilia o sombreamento da linha que demarca o lugar de cada um na sociedade.<br />
Idealizada<br />
Quan<strong>do</strong> os a<strong>do</strong>lescentes foram convida<strong>do</strong>s a pensar na pessoa que não<br />
são, mas que gostariam de ser, reportaram-se aos seus sonhos e às insatisfações<br />
consigo mesmos e com sua vida, o que os levou a se comparar com os outros,<br />
considera<strong>do</strong>s por eles mais valorosos.<br />
• Eu gostaria de ser diferente. Não quero mais a mesma vida. Não viver<br />
corren<strong>do</strong> da polícia. Não viver matan<strong>do</strong> os outros por aí.<br />
• Não quero mais agir pela emoção. Nunca mais entro nessa vida de<br />
usar droga.<br />
• Se eu pudesse mudaria minha vida toda. Queria ser um cara comum<br />
que nem os outros. Ser normal como as outras pessoas.<br />
Novamente, os sujeitos associam as pessoas comuns/normais àquelas<br />
que não praticam atos infracionais e que lhes servem de parâmetros para uma<br />
pretensão de mudança. Os projetos de mudança também incluíram referência a<br />
escola, trabalho e casamento. Esses aspectos foram concebi<strong>do</strong>s como ingredientes<br />
que garantem um suporte para o afastamento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime e a receita para a<br />
conquista <strong>do</strong> lugar ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s normais/comuns.<br />
• Quan<strong>do</strong> eu me soltar vou arrumar logo a minha escola e um trabalho.<br />
Arrumar uma mulher para mim.<br />
• Quan<strong>do</strong> eu sair lá fora vou me casar. Vou me dedicar a minha esposa<br />
e ao meu filho. Quero terminar meus estu<strong>do</strong>s .<br />
A idéia de ocupação e responsabilidade é tida como impedi<strong>do</strong>ra da<br />
prática infracional, estan<strong>do</strong> o casamento e a paternidade incluí<strong>do</strong>s neste patamar. A<br />
família esteve incluída nos projetos de mudança e os a<strong>do</strong>lescentes a ela se referiam
tanto no senti<strong>do</strong> de um resgate de vínculos quanto de uma parceria financeira para o<br />
sustento <strong>do</strong> grupo.<br />
• Quero levar uma vida normal com a minha família, quan<strong>do</strong> eu sair lá<br />
fora. Ajudar meu pai e minha mãe. Quero ir pra perto <strong>do</strong> meu pai e da<br />
minha mãe.<br />
A realidade <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong>s centros de internação é a de uma<br />
família biológica desfeita, sen<strong>do</strong> a mãe a pessoa que mais comumente está próxima<br />
ao filho. Apesar disso, a família evocada é a família nuclear, <strong>sobre</strong>posta à família<br />
real, formada por toda a variedade de arranjos nos quais, na maioria das vezes, o<br />
pai biológico já não está presente. O sonho da liberdade é o sonho imediato de sair<br />
<strong>do</strong> centro educacional.<br />
• Só quero mesmo sair daqui. Espero que minha liberdade chegue logo.<br />
Tu<strong>do</strong> que eu quero é ser livre. Liberdade.<br />
A falta de um sistema informatiza<strong>do</strong> no esta<strong>do</strong>, capaz de apresentar<br />
fidedignamente da<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> a reincidência na prática infracional, não reduz a<br />
veracidade da afirmação de que esses números são bastante eleva<strong>do</strong>s. Da<strong>do</strong>s<br />
isola<strong>do</strong>s da Unidade de Recepção de A<strong>do</strong>lescentes em Conflito com a Lei, em<br />
Fortaleza, apontam que cerca de 50% <strong>do</strong>s que ingressaram no sistema<br />
socioeducativo em 2003 eram reincidentes. O suspiro pela liberdade tem fôlego<br />
curto. O entrelaçamento de todas as complexas questões que fazem parte da vida<br />
desse a<strong>do</strong>lescente e a incorporação dessa identidade marginal, gestada pelas RS<br />
que compõem o universo simbólico <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> social, contribuem pata mantê-lo nessa<br />
condição.<br />
Heteropercepção<br />
No espaço social, os indivíduos se constituem em sujeitos. Nele, se<br />
encontram uma infinidade de histórias coletivas diferentes. Mas esse espaço é<br />
também uma realidade invisível na qual se organizam as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> de<br />
seus atores. Nas palavras de Bourdieu (2004, p.48-49),
Os seres aparentes, diretamente visíveis, quer se trate de indivíduos quer<br />
de grupos, existem e subsistem na e pela diferença, isto é, enquanto<br />
ocupam posições relativas em um espaço de relações que, ainda que<br />
invisível e sempre difícil de expressar empiricamente, é a realidade mais<br />
real (ens realissimum, como dizia a escolástica) e o princípio real <strong>do</strong>s<br />
comportamentos <strong>do</strong>s indivíduos e <strong>do</strong>s grupos.<br />
Esse também é um espaço tribal no qual os sujeitos se diferenciam e se<br />
agrupam em classes, de forma a se sentirem nitidamente diferentes <strong>do</strong>s integrantes<br />
das classes outras, mais próximas ou distantes. Esses ambientes simbólicos são<br />
engendra<strong>do</strong>s a partir da medição de forças antagônicas <strong>do</strong>s sujeitos que neles<br />
habitam. No mun<strong>do</strong> social, construí<strong>do</strong> pelos sujeitos, que comporta um universo de<br />
relacionamentos e de significa<strong>do</strong>s, transitam a linguagem e as imagens,<br />
componentes de um imaginário grupal <strong>do</strong> qual os atores <strong>sociais</strong> não escapam.<br />
Nessa subcategoria, as RS de a<strong>do</strong>lescente infrator, catalisadas pela fusão<br />
da fala e imagem, ganham corporeidade de tal forma nítida que tornam possível a<br />
quase visualização <strong>do</strong> ser que povoa a mente <strong>do</strong>s sujeitos <strong>sociais</strong> de todas as tribos.<br />
A<strong>do</strong>lescentes Uma pessoa desprezível, criminosa./ As pessoas vê<br />
como um monstro. Ladrão. Acha que a gente é perigoso./ Faz aquilo é<br />
por prazer. / Quan<strong>do</strong> vê a gente na rua diz olha o vagabun<strong>do</strong>./ Pra<br />
sociedade é marginal. Fuma<strong>do</strong>r de maconha./ Pensam logo que é um<br />
mata<strong>do</strong>r.<br />
Mães Quan<strong>do</strong> as pessoas vê um a<strong>do</strong>lescente mal vesti<strong>do</strong> ou sujo vai<br />
logo guardan<strong>do</strong> a bolsa. Dizem que é marginal. / O filho dela é um ladrão/<br />
Acha que eles são um bicho. /Pensam que eles são um ban<strong>do</strong> de<br />
monstros. / As pessoas têm me<strong>do</strong> deles.<br />
A concepção de a<strong>do</strong>lescente infrator, elaborada por ambos os grupos,<br />
apontou um tipo de pessoa que não merece voto de confiança pelo fato de que<br />
jamais mudará de vida.<br />
A<strong>do</strong>lescentes As pessoas pensa que ele nunca muda. Aquele menino<br />
ali não tem mais jeito. Ele não merece confiança./Desconfiam<br />
sempre/.Como passa muito na televisão, acha que ele vai sempre roubar<br />
aquela pessoa./ Pensam que ele vai ser assim pra sempre.
Mães Muitos pensa que aquilo ali não muda mais. Dali pra pior./ O<br />
povo diz que eles não quer nada de confiança. Pensa que to<strong>do</strong>s são<br />
iguais. A qualquer momento podem cometer o mesmo erro.Acha que não<br />
tem como se recuperar. Principalmente a alta sociedade.<br />
A mídia, presente na vida social de forma sofisticada, transformou-se em<br />
um potente canal de construção da própria realidade, forma<strong>do</strong>r de RS. Os canais de<br />
comunicação exibem a cara e a alma <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator, median<strong>do</strong> as emoções<br />
e reforçan<strong>do</strong> as identidades grupais. Consideran<strong>do</strong> ser as RS uma produção<br />
subjetiva desvencilhada <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> puramente cognitivo <strong>do</strong> conhecimento, os<br />
conteú<strong>do</strong>s representacionais são mobiliza<strong>do</strong>res de emoções . A representação<br />
social de a<strong>do</strong>lescente infrator carrega uma carga emocional significativa que provoca<br />
sentimentos frente a ela.<br />
A<strong>do</strong>lescentes As pessoas não sabe respeitar./ Deixa ele aí mesmo. O<br />
pessoal quase não gosta./ Não tem vontade de dar conselho, só critica.<br />
Mães A maioria só pensa em deixar na prisão direto./ Muitas não<br />
querem nada de melhor pro a<strong>do</strong>lescente. / Pensam que eles não têm<br />
direito a nada. Querem logo matar o menor.<br />
Vale ressaltar que os sentimentos provoca<strong>do</strong>s pelo jovem envolvi<strong>do</strong> com<br />
a prática infracional são naturalmente negativos. Entretanto, essa negatividade não<br />
se esgota no simples movimento de repúdio, mas vai além. Parece existir nesse<br />
imaginário social um desejo perverso de vingança não sacia<strong>do</strong>, motivo pelo qual não<br />
basta a privação de liberdade como sansão. A sociedade que deveria estar torcen<strong>do</strong><br />
pelos frutos positivos dessa medida disciplinar acomoda-se na posição crítica e<br />
desesperançosa. Na verdade, a crítica <strong>do</strong> seu olhar não está voltada para as<br />
lacunas das políticas públicas, para as falhas da organização <strong>do</strong> sistema<br />
socioeducativo ou para outras questões mais sutis, de natureza subjetiva, que se<br />
aglomeram nessa engrenagem produtora de violência. O desfecho da raiva<br />
produzida pelo sentimento de impotência encontra nesse a<strong>do</strong>lescente um alvo<br />
material que passa a ser sentencia<strong>do</strong> dessa vez à prisão perpétua na categoria <strong>do</strong>s<br />
marginais.
Joffe (1995, p.318), discutin<strong>do</strong> o processo formativo das RS que fazem<br />
parte da construção das identidades grupais, assinalou a tendência humana de<br />
identificar um “culpa<strong>do</strong>” para receber as projeções daquilo que não é suporta<strong>do</strong> pelo<br />
sujeito. Para ela, a projeção <strong>do</strong> inaceitável no outro estabelece a demarcação <strong>do</strong>s<br />
territórios <strong>do</strong> bem e <strong>do</strong> mal:<br />
E aqui é importante que se diga: as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> que constroem o<br />
“outro” como aberração têm conseqüência para a prática. Elas permitem<br />
que esse “outro” seja maltrata<strong>do</strong> e discrimina<strong>do</strong>: a subordinação daquelas<br />
pessoas, cujos sistemas de valores, práticas e identidades são diferentes,<br />
passa a ser apenas um des<strong>do</strong>bramento justo de uma lei considerada<br />
“natural”.<br />
O a<strong>do</strong>lescente infrator representa um la<strong>do</strong> palpável da ameaça<strong>do</strong>ra<br />
violência das cidades, reiteran<strong>do</strong> também nossa própria capacidade de ser cruel. Ele<br />
é o la<strong>do</strong> negro da sociedade <strong>do</strong> qual supomos não fazer parte, embora, por<br />
caminhos menos explícitos, revele a nossa incompetência social de cuidar de nossa<br />
juventude. Movi<strong>do</strong>s pela emotividade, podemos projetar nele a nossa raiva, o nosso<br />
me<strong>do</strong>, a nossa <strong>do</strong>r. Podemos até desejar a sua morte real ou executá-la<br />
simbolicamente pela <strong>estigma</strong>tização.<br />
Na fala <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, mesmo quan<strong>do</strong> fizeram alusão a si próprios<br />
como infratores, em nenhum momento utilizaram os adjetivos evoca<strong>do</strong>s pela<br />
sociedade para defini-los, to<strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res de extremo repúdio, tais como criminoso,<br />
marginal, desprezível, monstro, bicho, vagabun<strong>do</strong>, ladrão, perigoso, fuma<strong>do</strong>r de<br />
maconha, mata<strong>do</strong>r. Castells (2000) falou que minorias <strong>estigma</strong>tizadas desenvolvem<br />
uma “identidade de resistência” como forma de enfrentar a opressão e a<br />
desvalorização das maiorias <strong>do</strong>minantes. Essa estratégia de <strong>sobre</strong>vivência e<br />
legitimidade de sua existência demanda uma coesão interna <strong>do</strong> grupo marginaliza<strong>do</strong><br />
que incorpora o discurso que o desqualifica, dan<strong>do</strong>-lhe uma nova conotação com a<br />
qual passa a interagir no espaço social.<br />
4.1.6 Expressões subjetivas
A sexta investigação buscou apreender sentimentos e pensamentos<br />
relativos à experiência da infracionalidade, na percepção <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes e das<br />
mães. As opiniões expressas pelos sujeitos abrangeram a família, a conduta<br />
infracional, a internação e a discriminação social. Os sentimentos relaciona<strong>do</strong>s ao<br />
sofrimento vivi<strong>do</strong> pela família a partir da experiência em foco foram trazi<strong>do</strong>s pelos<br />
grupos como os mais significativos.<br />
Tabela 6 – Distribuição das freqüências, percentuais e qui-quadra<strong>do</strong> da categoria<br />
expressões subjetivas e subcategorias, segun<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescente autores de<br />
atos infracionais e de mães.<br />
Sujeitos A<strong>do</strong>lescentes Mães Total<br />
Subcategorias F % F % F %<br />
Sentimentos 20 31,25 90 76,27 110 60,44<br />
Pensamentos 44 68,75 28 23,73 72 39,56<br />
Total 64 100 118 100 182 100<br />
p < 0,01<br />
X 2<br />
44,54<br />
3,55<br />
A tabela 6 apresentou o panorama numérico das respostas, as diferenças<br />
entre os grupos em cada subcategoria e o valor <strong>do</strong> qui-quadra<strong>do</strong> correspondente.<br />
Na subcategoria relativa aos sentimentos expressos, as mães contribuíram com a<br />
maioria das respostas, razão pela qual o qui-quadra<strong>do</strong> apresentou o eleva<strong>do</strong> valor<br />
de 44.54. Ao contrário desta, na subcategoria relativa aos pensamentos,<br />
prevaleceram as respostas <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes.<br />
Vale ressaltar que o número de respostas (90) das mães na subcategoria<br />
Sentimentos foi sensivelmente superior às demais respostas, em razão de a<br />
entrevista ter provoca<strong>do</strong> nelas uma resposta específica <strong>sobre</strong> seus sentimentos. As<br />
demais evocações, tanto das mães quanto <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, foram apreendidas <strong>do</strong><br />
conteú<strong>do</strong> de suas entrevistas, através das elaborações discursivas e linguagem não-<br />
verbal a elas associadas.
Sentimentos<br />
Nesta subcategoria, os sujeitos representaram a experiência da<br />
infracionalidade como gera<strong>do</strong>ra de sofrimento, cujo alvo principal é sempre a família.<br />
A<strong>do</strong>lescentes A família muitos vezes se sente incapaz de ajudar e<br />
sofre./ Eu mesmo gostaria que minha mãe fosse mais feliz. Ela diz que<br />
pensa em mim to<strong>do</strong> dia e nem consegue comer direito./ Porque aqui, ave<br />
maria, é muito ruim viver aqui dentro.<br />
Mães É uma coisa muito horrível para a família./ Quase eu não<br />
acreditava que o meu filho ia ser um menor desses. Quan<strong>do</strong> eu penso<br />
nessa arrumação meu coração dói. / Não suporto ver ele nessa vida./ Foi<br />
como se eu tivesse leva<strong>do</strong> uma facada. É muito <strong>do</strong>loroso, muito<br />
magoa<strong>do</strong>.<br />
Um da<strong>do</strong> que chama a atenção no trabalho com a<strong>do</strong>lescentes<br />
institucionaliza<strong>do</strong>s é o fato de que, nos abrigos, as visitas de familiares se dão com<br />
bem menos freqüência que nas unidades de privação de liberdade. O filho rebelde,<br />
castiga<strong>do</strong> pela privação de liberdade por mau comportamento, reflete também o<br />
resulta<strong>do</strong> de suas vivências familiares. Perante ele, a família se obriga a reconhecer<br />
suas culpas, incompetências e impotência, realidades e fantasias. Acompanhá-lo é<br />
registrar o seu empenho e sacrifício, é resgatar suas esperanças, é purgar os seus<br />
peca<strong>do</strong>s.<br />
Pensamentos<br />
Nessa subcategoria, os sujeitos deram voz a seus pensamentos,<br />
externan<strong>do</strong> as suas opiniões <strong>sobre</strong> a experiência vivenciada. A vida <strong>do</strong>s internos<br />
em um centro educacional é regrada pelos códigos e pactos que devem ser<br />
rapidamente compreendi<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong>s os que nele ingressam. Essa linguagem que
se desenrola paralela ao discurso institucional já existe na chegada de um novo<br />
interno e permanecerá após o seu desligamento. Viver com uma razoável margem<br />
de segurança implica procurar obedecer às regras de convivência, estan<strong>do</strong> atento<br />
para não violá-las. Esse esforço deixa os a<strong>do</strong>lescentes com a certeza cabal da<br />
impossibilidade de fazer amigos em uma instituição dessa natureza.<br />
Na internação qualquer coisa pode acontecer a to<strong>do</strong> momento./ Aqui o<br />
nêgo tem que ser irmão. O nego tá tu<strong>do</strong> no mesmo barco./ Não tem<br />
ninguém melhor <strong>do</strong> que ninguém. / Amigo mesmo a gente só tem o pai e<br />
a mãe da gente.<br />
A vida em um centro educacional é totalmente diferente daquela que<br />
levavam. As regras institucionais determinam o movimento coletivo <strong>do</strong>s corpos. O<br />
dia é rigidamente fraciona<strong>do</strong> para a execução das atividades previstas, a fim de que<br />
a experiência contenha o caráter sancionatório e disciplina<strong>do</strong>r.<br />
Aqui a gente tem tempo pra pensar muito. Pensa como arranjar um<br />
emprego lá fora. / Na internação o cara fica sem usar droga. Só comen<strong>do</strong><br />
e <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>. Estudan<strong>do</strong>. Trabalhan<strong>do</strong>, também. / Se você sair daqui e não<br />
mudar não muda nunca mais.<br />
As mães não fazem uma idéia exata <strong>do</strong> que experienciam seus filhos em<br />
uma internação. Intuem que o modelo atual não é o ideal, mas não fundamentam<br />
sua crítica. Voltam a abordar suas dificuldades para criar os filhos e de fazê-los<br />
obedientes, mas defendem que apenas a Deus ou à Justiça cabe o julgamento de<br />
sua conduta.<br />
• Eles fazen<strong>do</strong> essas coisas e vin<strong>do</strong> pra um colégio desses, não leva<br />
vantagem em nada. Aqui eles colocam to<strong>do</strong>s num canto só. Eu acho<br />
isso muito erra<strong>do</strong>. Toda a sociedade é culpada de tu<strong>do</strong> isso.<br />
• Antigamente era fácil lutar com os filhos a<strong>do</strong>lescentes. Hoje, filho não<br />
obedece mais não. A mãe precisa trabalhar.<br />
• A gente só pode ser julgada por Deus. Na terra só quem julga é o<br />
Juiz.<br />
Ficam em aberto grandes questões aqui colocadas pelo grupo. Por<br />
exemplo: Como a medida de internação poderá contribuir para a mudança <strong>do</strong>
a<strong>do</strong>lescente, consideran<strong>do</strong> que a resposta social é muito mais lenta <strong>do</strong> que o<br />
número cada vez maior de a<strong>do</strong>lescentes envolvi<strong>do</strong>s com a violência? Como<br />
reestruturar os modelos de atendimento em massa? Como as famílias pobres<br />
poderão cuidar de sua prole sem os riscos da desagregação? Como os pais<br />
aprenderão a ser autoridade para os filhos equacionan<strong>do</strong> obediência e liberdade<br />
individual? Poderá a sociedade aceitar a privação de liberdade como medida<br />
extrema e suficiente para a punição ou lhe parecerá natural a pena de morte e o<br />
tratamento desumano da<strong>do</strong> aos “condena<strong>do</strong>s”?<br />
Plano Fatorial <strong>do</strong>s Eixos 1 e 2 das Representações Sociais <strong>sobre</strong> A<strong>do</strong>lescente<br />
Infrator<br />
4.2 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE<br />
ADOLESCENTE INFRATOR A F2 PARTIR DA ANÁLISE FATORIAL DE<br />
_____________________________________________________________Discrimina<strong>do</strong><br />
CORRESPONDÊNCIA<br />
³ Pagar ³<br />
³<br />
³ ANALFABETO Desprezo ³<br />
³<br />
³ A exploração <strong>do</strong> Trabalhar material produzi<strong>do</strong> pelos sujeitos quan<strong>do</strong> da aplicação ³ <strong>do</strong><br />
³<br />
³ Teste de Associação Livre de Palavras foi feita a partir da utilização da técnica de<br />
³<br />
³ Análise Fatorial de Correspondência, ten<strong>do</strong> como base o programa Tri-Deux-Mots<br />
³<br />
³ (versão 2.2), Cibois (1998). Os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s e lança<strong>do</strong>s no Faz programa sem pensar foram<br />
³<br />
Faz distribuí<strong>do</strong>s o que dá na graficamente cabeça <strong>sobre</strong> <strong>do</strong>is eixos, tornan<strong>do</strong> possível Nós a leitura aqui ³ e a<br />
³<br />
interpretação das <strong>representações</strong> entre os grupos e dentro deles.<br />
³<br />
³ Desobediente ³<br />
Pessoa ruim Preso Sem compaixão<br />
Sem orientação____MÃES______________+__________ADOLESCENTES________________³ O plano fatorial apresentou <strong>do</strong>is aglomera<strong>do</strong>s de palavras dispostas <strong>sobre</strong> F1<br />
Inocente Desobedece a autoridade ³<br />
³ o Fator 1, opon<strong>do</strong>-se em campos distintos, que traduziram as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong><br />
Dana<strong>do</strong> ³<br />
³ <strong>sobre</strong> a<strong>do</strong>lescentes infrator, elaboradas pelos <strong>do</strong>is grupos de sujeitos Família entrevista<strong>do</strong>s.<br />
sofre<br />
Meu filho Más companhias Febem<br />
³ No Mãe eixo sofre negativo (esquer<strong>do</strong>), estão aglutinadas as <strong>representações</strong> das mães ³ e no<br />
³<br />
eixo positivo (direito), as <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes.<br />
³<br />
³<br />
³<br />
³ Carente ³<br />
³<br />
³<br />
³<br />
³<br />
³<br />
³<br />
³<br />
³<br />
³<br />
³<br />
³<br />
³<br />
³ 18-21 anos ³<br />
³<br />
³<br />
____________________________________________________________________Briga___
Legenda:<br />
Sujeitos<br />
Variáveis fixas<br />
Idade Escolaridade<br />
A<strong>do</strong>lescentes 16 – 18 Analfabeto<br />
Mães 18 – 21 Fundamental<br />
>21 Ensino médio<br />
O exame desse gráfico com as indicações de Contribuição por Fator –<br />
CPF demonstrou que, para as mães, a<strong>do</strong>lescente infrator significa ”Faz o que dá na<br />
cabeça” (CPF= 102), “Mãe sofre” (CPF = 94), “Desobediente” (CPF = 76), “Pessoa<br />
ruim” (CPF = 75), “Dana<strong>do</strong>” (CPF = 73), “Sem orientação” (CPF = 62), “Inocente”<br />
(CPF =37), “Meu filho” (CPF =30). Para os a<strong>do</strong>lescentes, a<strong>do</strong>lescente infrator<br />
significa “FEBEM” (CPF = 59), “Sem compaixão” (CPF = 44), “Família sofre” (CPF =
41), “Faz sem pensar” (CPF = 40), “Preso” (CPF = 38), “Nós aqui” (CPF = 31),<br />
“Desobedece à autoridade” (CPF = 39).<br />
Os da<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s na Tabela 7 demonstraram a freqüência das<br />
palavras produzidas pelos grupos e sinalizaram a correlação entre suas<br />
<strong>representações</strong>, que abordaram temas comuns relaciona<strong>do</strong>s à impulsividade,<br />
desobediência, sofrimento familiar, natureza má, privação de liberdade, inocência e<br />
carência de orientação. Vale ressaltar que este resulta<strong>do</strong> corroborou o da análise de<br />
conteú<strong>do</strong> realizada a partir das entrevistas, quan<strong>do</strong> os sujeitos significaram estas<br />
evocações através de suas produções discursivas.<br />
Apesar da correspondência de conteú<strong>do</strong>s, os sujeitos utilizaram-se de<br />
palavras diferentes para traduzi-los, o que contribuiu para reduzir a freqüência das<br />
evocações que apareceram na tabela. É possível observar que a representação<br />
social de a<strong>do</strong>lescente infrator elaborada pelos sujeitos que vivenciam diretamente<br />
esta realidade é correspondente na maior parte de seus aspectos, apresentan<strong>do</strong><br />
especificidades por grupos, em outros.
Tabela 7 – Freqüência de palavras evocadas pelos grupos de a<strong>do</strong>lescentes e de<br />
mães.<br />
ADOLESCENTES % MÃES %<br />
Preso 17,8 Desobediente 20,5<br />
Desobedece à autoridade 8,0 Mãe sofre 15,1<br />
FEBEM 7,1 Faz o que dá na cabeça 14,2<br />
Faz sem pensar 5,3 Dana<strong>do</strong> 10,7<br />
Sem compaixão 5,3 Pessoa ruim 10,7<br />
Família sofre 5,3 Sem orientação 8,9<br />
Nós aqui 4,4 Inocente 5,3<br />
Meu filho 4,4<br />
Conforme já aborda<strong>do</strong> anteriormente, quan<strong>do</strong> da análise das entrevistas,<br />
prevaleceu também na associação livre de palavras a idéia de um a<strong>do</strong>lescente<br />
infrator como uma pessoa impulsiva que desafia as regras de conduta social. Vale<br />
salientar, contu<strong>do</strong>, que a linguagem não verbal que atravessou essa descrição<br />
imagética apresentou um conteú<strong>do</strong> diferencia<strong>do</strong> nos grupos, apesar da utilização de<br />
termos similares. Assim, quan<strong>do</strong> o grupo de a<strong>do</strong>lescentes falou “Faz sem pensar”,<br />
descreveu o a<strong>do</strong>lescente como um jovem que age sem ponderação ou racionalidade<br />
e que não mede ou se importa com as conseqüências de seus atos. A expressão<br />
empregada pelas mães “Faz o que dá na cabeça”, apesar de conter a conotação<br />
acima, agrega a esta descrição a idéia de desobediência como justificativa para a<br />
conduta infracional.<br />
A percepção materna da desobediência tem, prioritariamente, um foco<br />
<strong>do</strong>méstico, sen<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente infrator aquele que desconsidera os conselhos<br />
paternos. Para os a<strong>do</strong>lescentes, a desobediência está projetada no meio social,<br />
sen<strong>do</strong> a lei personalizada em uma figura de autoridade. A referência à<br />
desobediência, seja em relação a qualquer desses aspectos, acusa uma falha, a<br />
partir da infância, na introjeção <strong>do</strong>s limites que devem ser adquiri<strong>do</strong>s nas relações<br />
com as figuras parentais, o que favorece a expansão <strong>do</strong> comportamento<br />
transgressor na a<strong>do</strong>lescência. O vazio da autoridade, quan<strong>do</strong> internaliza<strong>do</strong>, deflagra<br />
o movimento de desafio às leis, <strong>do</strong>mésticas e <strong>sociais</strong> e gera uma incansável busca<br />
<strong>do</strong>s limites de que os a<strong>do</strong>lescentes foram poupa<strong>do</strong>s e um clamor pela punição da<br />
qual são supostamente merece<strong>do</strong>res.
A complexidade explicativa <strong>do</strong> ingresso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
crime esteve presente no conteú<strong>do</strong> representacional das mães que procuraram<br />
ancorar suas explicações na bagagem sociocognitiva disponível em sua realidade,<br />
assim como em suas próprias experiências subjetivas. Assim, o a<strong>do</strong>lescente infrator<br />
foi percebi<strong>do</strong> ora como uma pessoa desobediente/dana<strong>do</strong>, ora como um jovem sem<br />
orientação.<br />
No primeiro caso, existe uma compreensão subjacente de<br />
responsabilidade individual <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente por sua conduta infratora; já no segun<strong>do</strong>,<br />
a representação traz embutida a culpabilidade familiar, uma vez que, para as mães,<br />
a falta de orientação esteve associada à ausência de diálogo e de atenção<br />
paterna/materna. Apesar de essa representação social de a<strong>do</strong>lescente infrator<br />
reportar-se à esfera relacional, o foco unidirecional da culpa deixa de fora um<br />
extenso feixe explicativo para o fenômeno da delinqüência juvenil.<br />
O esforço na busca da compreensão das inúmeras razões para a conduta<br />
anti-social <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente evidenciou-se ainda nas discordâncias representacionais<br />
<strong>do</strong>s grupos, quan<strong>do</strong>, por exemplo, as mães apontaram o a<strong>do</strong>lescente infrator ora<br />
como uma pessoa inocente, ora como uma pessoa ruim. A ingenuidade relacionada<br />
à fragilidade/imaturidade também esteve presente em suas falas, quan<strong>do</strong>, por<br />
ocasião das entrevistas, referiram-se ao a<strong>do</strong>lescente infrator como uma criança. Ao<br />
mesmo tempo, o a<strong>do</strong>lescente infrator foi descrito pelos grupos como uma pessoa de<br />
ín<strong>do</strong>le má, capaz de comprazer-se com a perversidade.<br />
Essa percepção encontra eco na representação social mais ampla,<br />
produzida pela mídia e que tem estrutura<strong>do</strong> uma postura de raiva e pouca<br />
sensibilidade social frente a uma crescente parcela da juventude pobre brasileira. A<br />
percepção <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator como um “jovem perverso” minimiza o<br />
comprometimento social de se discutir a questão de forma mais aprofundada para<br />
encontrar alternativas de como enfrentá-la. A culpa simplifica os fatos, imprimin<strong>do</strong>-<br />
lhes uma conotação de unilateralidade e a conseqüência disso passa a ser uma<br />
percepção naturalizada da realidade de tal forma que a sua leitura com outras lentes<br />
exige esforço daquele que se dispõe a fazê-la.
Nesse senti<strong>do</strong>, mães e a<strong>do</strong>lescentes acabaram por incorporar em suas<br />
<strong>representações</strong> essa idéia difundida no espaço social, mesclan<strong>do</strong> a elas as<br />
expressões de suas experiências de vida. Os sujeitos entrevista<strong>do</strong>s não apenas<br />
projetaram o a<strong>do</strong>lescente infrator no mun<strong>do</strong> externo, mas também absorveram-no<br />
como parte de suas vivências (“Nós aqui” / “Meu filho”), elaboran<strong>do</strong> a interface<br />
dessa realidade individual com a realidade sociocultural, uma vez que o processo de<br />
significação se desenrola a partir <strong>do</strong>s processos interacionais constitutivos/<br />
constituintes da subjetividade social.<br />
A evocação livre de palavras associadas ao a<strong>do</strong>lescente infrator também<br />
apresentou o sofrimento familiar já registra<strong>do</strong> na entrevista com os grupos. A idéia<br />
de sofrimento esteve diretamente voltada para a família/mãe, envolven<strong>do</strong> tanto a<br />
<strong>do</strong>r/raiva <strong>do</strong> filho, quanto o sofrimento de desgosto/vergonha causa<strong>do</strong> por ele.<br />
A privação de liberdade, materializada na idéia de FEBEM, esteve<br />
presente nas narrativas <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, figuran<strong>do</strong> como aspecto importante em<br />
sua composição. Assim, os sujeitos fizeram uma associação entre conduta<br />
infracional e privação de liberdade, elaboran<strong>do</strong> uma relação de conseqüência entre<br />
estas. A denominação de FEBEMCE – Fundação Estadual <strong>do</strong> Bem-Estar <strong>do</strong> Menor<br />
<strong>do</strong> Ceará – foi extinta em 1999, quan<strong>do</strong> todas as ações realizadas por essa<br />
fundação foram absorvidas pela atual Secretaria da Ação Social. Entretanto, cinco<br />
anos passa<strong>do</strong>s, permanece no imaginário social <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente cearense a antiga<br />
denominação. Isso se justifica não apenas pelo fato de a FEBEM ainda existir em<br />
alguns esta<strong>do</strong>s brasileiros e ser noticiada na mídia em diversos episódios de<br />
rebeliões, como também em razão de o reordenamento institucional no Ceará ainda<br />
não ter consegui<strong>do</strong> romper o modelo de atendimento massifica<strong>do</strong>, presente nas<br />
antigas unidades para “recuperação de menores”.<br />
Em relação ao Fator 2, visualiza<strong>do</strong> no Plano Fatorial como o eixo vertical<br />
azul, verificou-se que um número menor de palavras encontra-se disperso nos<br />
espaços superior e inferior, merecen<strong>do</strong> destaque as <strong>representações</strong> “carente” (CPF
=191), “más companhias” (CPF = 29) e “trabalhar” (CPF = 57), assinaladas pelos<br />
<strong>do</strong>is grupos entrevista<strong>do</strong>s.<br />
A primeira delas fez uma referência descritiva ao sujeito em sua<br />
individualidade; a segunda referiu-se ao sujeito no mun<strong>do</strong>, enfatizan<strong>do</strong> os vínculos<br />
<strong>sociais</strong> aponta<strong>do</strong>s como indutores para o seu ingresso na criminalidade e a terceira<br />
representação apontou para uma lacuna de vínculos, sinalizan<strong>do</strong> uma solução viável<br />
para a resolução de sua problemática.<br />
Vale destacar que a palavra com maior freqüência (48,2%) no Teste de<br />
Associação Livre de Palavras e que, por conseguinte, configurou-se como forte<br />
representação <strong>do</strong>s grupos foi “coisa errada”, apesar de não ter apareci<strong>do</strong> no Plano<br />
Fatorial. Isso é indicativo de que os sujeitos fizeram uma associação imediata <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente infrator à prática infracional, antecipan<strong>do</strong>-a a outros posicionamentos<br />
emotivos e a todas as outras evocações já registradas que priorizaram a imagem de<br />
um a<strong>do</strong>lescente rebelde, desprotegi<strong>do</strong>, inocente ou perverso.<br />
Em virtude de as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> extrapolarem a dimensão <strong>do</strong><br />
psiquismo individual para imergirem na subjetividade <strong>do</strong> espaço social e, assim, se<br />
constituírem como saber <strong>do</strong> senso comum, a representação <strong>do</strong>s grupos que vincula<br />
o sujeito ao ato amplia-se, com o propósito de aglutinar o universo simbólico, afetivo,<br />
cultural e psicossocial, dan<strong>do</strong>-lhe novos contornos. A utilização <strong>do</strong> Teste de<br />
Associação Livre de Palavras em conjunto com a entrevista semi-estruturada para a<br />
apreensão das RS de a<strong>do</strong>lescente infrator ofereceu um campo de visualização<br />
semântico mais amplia<strong>do</strong>, favorecen<strong>do</strong> tanto a corroboração de da<strong>do</strong>s quanto a<br />
emersão de novos elementos que se agregaram aos demais, o que facilitou e<br />
enriqueceu a investigação <strong>do</strong> objeto deste estu<strong>do</strong>.
Caminhante, são tuas pegadas o caminho, e nada mais.<br />
Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao andar.<br />
Ao andar, se faz o caminho e, ao voltar a vista atrás,<br />
Vê-se a senda que nunca se voltará a pisar.<br />
Caminhante, não há caminho, há apenas sulcos no mar.<br />
Antônio Macha<strong>do</strong>.
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O presente estu<strong>do</strong> percorreu a área onde as idéias partilhadas e<br />
trespassadas pelas paixões constroem o conhecimento cotidiano da vida humana.<br />
As <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> que povoam o mun<strong>do</strong> falam <strong>do</strong>s sujeitos <strong>sociais</strong>, de suas<br />
histórias individual e coletiva. Este estu<strong>do</strong> adentrou o terreno inculto das minorias<br />
<strong>sociais</strong>, de lá extrain<strong>do</strong> o seu objeto de investigação e para lá retornan<strong>do</strong> na eleição<br />
de seus grupos de sujeitos.<br />
Os resulta<strong>do</strong>s deste estu<strong>do</strong> foram enriqueci<strong>do</strong>s pela utilização de uma<br />
abordagem de multiméto<strong>do</strong>s, o que favoreceu a complementação de informações,<br />
corroboran<strong>do</strong> as muitas possibilidades de vínculos entre as ciências <strong>sociais</strong>, <strong>do</strong>s<br />
fenômenos psíquicos, da saúde e da educação.<br />
Os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s revelam a existência de conceitos figurativos<br />
entre a<strong>do</strong>lescente e infrator de tal forma fusiona<strong>do</strong>s que os sujeitos não mais se<br />
dão conta dessa confluência, apesar de ser esta uma condição que favorece a<br />
demarcação de uma “identidade marginal”.<br />
A caracterização de “a<strong>do</strong>lescente” está impregnada da conotação de<br />
“infrator”, de mo<strong>do</strong> que o conteú<strong>do</strong> dessa produção discursiva traduz o nível de<br />
proximidade entre sujeito e objeto. A caracterização de “a<strong>do</strong>lescente infrator”, além<br />
<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> descritivo, traz marcas depreciativas embutidas na linguagem verbal e<br />
não-verbal <strong>do</strong>s sujeitos. A representação social de a<strong>do</strong>lescente infrator emerge
<strong>sobre</strong> pólos distintos que, contu<strong>do</strong>, se entrelaçam na encruzilhada da subjetividade<br />
individual e social.<br />
No pólo descritivo, os sujeitos não escapam à descrição <strong>do</strong><br />
comportamento anti-social, realidade <strong>sobre</strong> a qual sedimentam as suas concepções<br />
de certo e erra<strong>do</strong>, bom e mau, e que também fornece o referencial que lhes informa<br />
a condição de infracionalidade. Igualmente procuram se amparar no viés descritivo<br />
para representar o a<strong>do</strong>lescente infrator, partin<strong>do</strong> de características que agregam<br />
recortes <strong>do</strong> conhecimento pensa<strong>do</strong> e <strong>do</strong> conhecimento vivi<strong>do</strong>. Assim, falam de<br />
características pessoais nas quais se reconhecem e de outras comuns a to<strong>do</strong>s os<br />
a<strong>do</strong>lescentes, pelas quais procuram justificar sua conduta.<br />
Um outro pólo no qual se enraíza essa representação social é o terreno<br />
mina<strong>do</strong> da <strong>estigma</strong>tização que comporta a dimensão das emoções e dá cor aos<br />
olhares, pensamentos e gestos <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A acusação explícita que<br />
carrega reescreve a versão explicativa anterior <strong>sobre</strong> a prática de atos infracionais e,<br />
de forma inflexível, encurrala o sujeito nas amarras que passam a justificar a<br />
inversão da violência, dessa vez, contra ele próprio.<br />
Os sujeitos oscilam entre a imagem de um a<strong>do</strong>lescente infrator impulsivo/<br />
desobediente ou carente/monstro, exprimin<strong>do</strong> a dinâmica para<strong>do</strong>xal por meio da<br />
qual procuram compreender o comportamento anti-social <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. Esses<br />
pares de qualidades expõem os eixos justifica<strong>do</strong>r e acusativo que tanto absolvem o<br />
sujeito quanto o arrastam para o banco <strong>do</strong>s réus.<br />
Sentimentos contraditórios, permea<strong>do</strong>s pelo prazer das aventuras<br />
perigosas, pelo me<strong>do</strong> gera<strong>do</strong>r de submissão aos amigos ou às drogas, pela angústia<br />
<strong>do</strong>s vazios que marcam sua vida, pelo repúdio ou comunhão inconsciente com os<br />
<strong>estigma</strong>s que os nomeiam como pessoas, são revela<strong>do</strong>res da trajetória rumo ao<br />
mun<strong>do</strong> da criminalidade.<br />
A ambivalência incrustada no território <strong>do</strong>s afetos e expressa nas suas<br />
falas revela-se também nas explicações buscadas para ancorar as causas da<br />
conduta anti-social. Por vezes, os sujeitos assumem a responsabilidade <strong>do</strong>s fatos,
mas lhes imprimem, defensivamente, uma certa <strong>do</strong>se de leveza; por vezes, a<br />
projeção defensiva da responsabilidade <strong>sobre</strong> os objetos externos exime mais<br />
claramente o comprometimento pessoal com as escolhas e coloca o sujeito na<br />
condição de vitima<strong>do</strong>. O apelo subjacente a esse posicionamento intenta justificar o<br />
comportamento e inverter a imagem negativa.<br />
Existe uma estreita relação entre representação social e causalidade. As<br />
pessoas organizam explicações para descrever os fatos da vida e as partilham no<br />
cotidiano, proceden<strong>do</strong> à sua interpretação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A ligação entre causa e efeito,<br />
ancorada em aspectos psicoafetivos e sociorrelacionais, justifica o comportamento<br />
social, estruturan<strong>do</strong> o conhecimento <strong>do</strong> senso comum e tornan<strong>do</strong> a realidade menos<br />
misteriosa e mais familiar. Os sujeitos deste estu<strong>do</strong> são procedentes <strong>do</strong> mesmo<br />
contexto sociocultural e têm um vínculo considerável com o objeto de investigação<br />
escolhi<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> suas <strong>representações</strong> coincidentes em muitos aspectos. No<br />
processo de objetivação, imprimem concretude ao objeto e revelam facetas não<br />
representadas por outros sujeitos <strong>sociais</strong>. Segun<strong>do</strong> Moscovici (2003, p.71), “a<br />
materialização de uma abstração é uma das características mais misteriosas <strong>do</strong><br />
pensamento e da fala”.<br />
Esta pesquisa buscou apreender as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> <strong>sobre</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente infrator e verificar até que ponto se revestem de importância nas trocas<br />
interativas <strong>do</strong>s sujeitos. De pronto, foi possível observar que as <strong>representações</strong><br />
esgarçam percepções e sentimentos <strong>do</strong>s sujeitos que, se por um la<strong>do</strong>, trazem à tona<br />
o universo das subjetividades individuais, por outro, exibem a demarcação <strong>do</strong>s<br />
espaços <strong>sociais</strong> nos quais minorias e maiorias constroem, em meio a um duelo por<br />
vezes silencioso e sutil ou mesmo violento e rui<strong>do</strong>so, as suas visões de mun<strong>do</strong>,<br />
(re)apresentan<strong>do</strong> e (re)crian<strong>do</strong> as suas versões da vida.<br />
Nenhuma representação social é vazia de significa<strong>do</strong> afetivo. A<br />
representação de a<strong>do</strong>lescente infrator resultante deste estu<strong>do</strong>, elaborada por<br />
a<strong>do</strong>lescentes infratores e mães, está eivada de conteú<strong>do</strong>s afetivos e cognitivos de<br />
suas histórias, assim como comporta os preconceitos que habitam os ambientes<br />
<strong>sociais</strong> nos quais os sujeitos se movimentam.
Assim, consideran<strong>do</strong> que a representação pessoal constitui-se solo <strong>sobre</strong><br />
o qual se consolida o autoconceito, ergue-se nos arre<strong>do</strong>res desse sujeito um cárcere<br />
sem grades dentro <strong>do</strong> qual desenha sua subjetividade. Os profissionais que<br />
trabalham com esse a<strong>do</strong>lescente e suas famílias nas diversas áreas estão<br />
igualmente submersos nesse ambiente social, geograficamente dividi<strong>do</strong>, ajudan<strong>do</strong>-<br />
os a construir as <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> a serem assimiladas, com base no<br />
inesgotável processo da comunicação humana. Muitas vezes, encontram-se<br />
também eles aprisiona<strong>do</strong>s pelo <strong>estigma</strong> que impregna o ar, razão por que contribuir<br />
de forma significativa para a consolidação ou não <strong>do</strong> preconceito dependerá <strong>do</strong> seu<br />
nível de consciência ou interesse.<br />
A mídia é poderosa e repleta de interesses específicos a partir <strong>do</strong>s quais<br />
direciona os discursos sonoros e imagéticos que ditam as verdades de um povo.<br />
Assim sen<strong>do</strong>, sua correnteza veloz e rui<strong>do</strong>sa procurará abafar a voz das minorias<br />
que passam a desenvolver estratégias para não sucumbir a sua passagem.<br />
A existência de a<strong>do</strong>lescentes como protagonistas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime é<br />
uma questão gera<strong>do</strong>ra de controverti<strong>do</strong>s sentimentos na platéia <strong>do</strong>s cidadãos que<br />
não se sentem personagens de um mesmo espetáculo social. Sentimentos<br />
extremistas de pena, me<strong>do</strong> ou raiva servem de substrato para a defesa de<br />
posicionamentos limita<strong>do</strong>s, relaciona<strong>do</strong>s à percepção da causalidade <strong>do</strong> fenômeno.<br />
A visão crítica permite compreender a estreita ligação entre a prática de atos<br />
infracionais e o contexto social, tornan<strong>do</strong> possível a luta pela garantia de direitos e<br />
inclusão social se <strong>sobre</strong>por a atitudes passionais.<br />
Programas de qualificação que comportem as considerações aqui<br />
levantadas volta<strong>do</strong>s aos profissionais das diversas áreas, pública e privada, que<br />
atuam junto a a<strong>do</strong>lescentes, sejam estes pertencentes ou não às camadas<br />
pauperizadas, por certo favorecerão posições mais maduras <strong>sobre</strong> todas as<br />
questões pertinentes ao tema, incluin<strong>do</strong> a proposta de rebaixamento da idade penal.<br />
A teoria das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong> fornece embasamento para a leitura<br />
<strong>do</strong> conhecimento circulante nos espaços <strong>sociais</strong>, abre frestas nos pilares <strong>sobre</strong> os<br />
quais se assenta a percepção da realidade naturalizada e ajuda a refletir <strong>sobre</strong> como
as pessoas compreendem e constroem a sua subjetividade num da<strong>do</strong> cenário. Este<br />
trabalho pretende adubar o terreno dessas reflexões, a partir <strong>do</strong> esquadrinhamento<br />
<strong>do</strong> objeto de investigação e, assim, sugerir novas possibilidades de se pensar o<br />
fazer profissional.
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Aids. In: GUARESCHI, P.; JOVECHELOVITCH, S. (Org.). Textos em<br />
<strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.<br />
JOVEHELOVITCH, S. Viven<strong>do</strong> a vida como os outros: intersubjetividade, espaço<br />
público e <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. In: GUARESCHI, P. ; JOVHELOVITCH, S. ( Orgs).<br />
Textos em <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. 2. ed. Petrópoles, RJ: Vozes, 1995. p. 63-83.<br />
LIMA, S. C .P .de.; SANTOS, Mª. F. S.; ALMEIDA, A. Mª.º A representação social<br />
<strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes infratores <strong>sobre</strong> as medidas socio-educativas em seu processo de<br />
cumprimento. In: JORNADA INTERNACIONAL SOBRE REPRESENTAÇÕES<br />
SOCIAIS, 3., 2003, Rio de Janeiro. Livro de Resumos: Uerj, Observatório de<br />
Pesquisas e Estu<strong>do</strong>s em Memória e Representações Sociais, 2003, p.59-60.<br />
MARCHON, Paulo. Violência e psicanálise. In: LOBO, S. ( Org.) Violência: um<br />
estu<strong>do</strong> psicanalítico e multidisciplinar. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha,<br />
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MELLO, S.L.de. A violência urbana e a exclusão <strong>do</strong>s jovens. In: SAWAIA, B. (Org.).<br />
4ª edição. As artimanhas da exclusão. Petrópolis: Vozes, 2002.<br />
MERCY, J.A; BUTCHART, A; FARRINGTON, D; CERDÁ, M. Violência Juvenil. In:<br />
Relatório Mundial Sobre Violência e Saúde. Organização Mundial da Saúde;<br />
Genebra: 2002.
MINAYO, M.C.S. (Org). O desafio <strong>do</strong> conhecimento: pesquisa qualitativa em<br />
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MOSCOVICI, S. A Representação social da psicanálise. Trad. por Álvaro<br />
Cabral . Rio de Janeiro: Zahar, 1978.<br />
_____. Psicología de las minorías activas. 2 ed. Madrid: Ediciones Morata, 1996.<br />
_____. Das <strong>representações</strong> coletivas às <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>: elementos para<br />
uma história. In: JODELET, D. (Org.). Representações <strong>sociais</strong>. Rio de Janeiro:<br />
Uerj, 2001.<br />
_____. Representações <strong>sociais</strong>: investigações em psicologia social. Tradução<br />
de: Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: Vozes, 2003.<br />
NOBREGA, S. M. da. Sobre a teoria das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. In: MOREIRA,<br />
A.S.P. (Org.). Representações Sociais: teoria e prática. João Pessoa:<br />
Universitária, 2001. p. 55-85. Série Autor Associa<strong>do</strong>.<br />
REY, F.G. Sujeito e subjetividade. São Paulo: Thompson, 2003.<br />
SÁ, Celso Pereira. Núcleo central das <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. Petrópolis, RJ:<br />
Vozes, 1996.<br />
________. A construção <strong>do</strong> objeto de pesquisa em <strong>representações</strong> <strong>sociais</strong>. Rio<br />
de Janeiro: Editora Verj, 1998.<br />
SAWAIA, Bader. (Org.). As artimanhas da exclusão. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.<br />
SILVA, HÉLIO R.S. A Língua geral da violência. In: GAUER, G.J.C; GAUER, R.M.C.<br />
(Orgs). A fenomenologia da violência. Curitiba: Juruá, 2001.<br />
SPOSATO, K. B. Pedagogia <strong>do</strong> me<strong>do</strong>: a<strong>do</strong>lescentes em conflito com a lei e as<br />
propostas de redução da idade penal. In: Cadernos Adenauer II v. 6, 2001. São<br />
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SCHULZE, C.M.N. Representações de germanidade, identidade étinica, vitalidade<br />
etnolinguística. In: NASCIMENTO-SCHULZE, C.M. (Org). Novas contribuições<br />
para a teorização e pesquisa em representação social. Florianópoles: Coletâneas<br />
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VALA, Jorge. Análise de conteú<strong>do</strong>. In: SILVA. A; PINTO, J.M. Meto<strong>do</strong>logia das<br />
ciências <strong>sociais</strong>. 10. ed. Porto: Afrontamento, 1999. P. 101-126.<br />
VOLPI, M. (Org.). O a<strong>do</strong>lescente e o ato infracional. 4 ed. São Paulo: Cortez,<br />
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WINNICOTT, D.W. Privação e delinquência. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
ANEXOS
BANCO DE DADOS – MÃE<br />
231CAREN MACOM MUDAR DESPR*<br />
232DESOB SEMOR ESTUD SEORA*<br />
231DESOB PRUIM DESPR DANAD*<br />
232MEUFI DESOB COIER FDCAB*<br />
232MASOF ROUBA DROGA PRUIM*<br />
232MEUFI MASOF PRESO MORTE*<br />
232MACOM COIER INOCE PRUIM*<br />
232ROUBA DROGA MATAR FDCAB*<br />
232MEUFI ESTUD MUDAR DESOB*<br />
231COIER ESTUD TRABA FDCAB*<br />
232DANAD DANAD DANAD FDCAB*<br />
232INOCE PRUIM INOCE INOCE*<br />
232CAREN TRABA COIER DESOB*<br />
231ESTUD DESOB DESOB COEIR*<br />
232DANAD PRUIM MUDAR MUDAR*<br />
231PRUIM FDCAB MACOM ROUBA*<br />
232CAREN CAREN MACOM DROGA*<br />
232COIER DROGA DANAD SEPAZ*<br />
231MATAR COIER PRUIM VIOLE*<br />
233DESOB CAREN COIER DROGA*<br />
232VIOLE FDESE PRESO MORTE*<br />
232MEUFI MASOF DANAD MASOF*<br />
232FDCAB FDCAB DROGA MACOM*<br />
231MUDAR TRABA COIER MUDAR*<br />
232MEUFI DANAD DANAD DANAD*<br />
232COIER DESOB DESOB DANAD*<br />
232COIER JUIZ PSICO PROMO*<br />
232ROUBA PRUIM FDCAB PRESO*<br />
232COIER PAGAR PRESO CAREN*<br />
233COIER MACOM MACOM MUDAR*<br />
231COIER COIER COIER DESAU*<br />
231DESOB INOCE COIER FDCAB*<br />
231FDCAB MACOM SEMOR SEMOR*<br />
232MASOF PRUIM PRUIM MASOF*<br />
232MASOF SEPAZ MATAR CAREN*<br />
232SEMOR SEMOR SEORA INOCE*<br />
232MASOF MASOF APANH CAREN*<br />
232DANAD DESOB DESOB DESOB*<br />
233MASOF MASOF MASOF MASOF*<br />
231COIER DESOB DESOB MACOM*<br />
232DROGA ROUBA MATAR COIER*<br />
232SEMOR CAREN SEMOR PAGAR*<br />
232COIER DROGA DESOB ESTUD*<br />
231 FDCAB MASOF COIER FDCAB*<br />
231ROUBA MACOM DROGA PRESO*<br />
231COIER MENOR ROUBA MATAR*<br />
232COIER CAREN SEMOR DESOB*<br />
232ROUBA PRUIM ROUBA PRUIM*<br />
232COIER MATAR ROUBA COIER*<br />
232CAREN CAREN SEMOR FDCAB*<br />
232FDCAB FDCAB FDCAB ARREP*<br />
232MASOF DROGA DESOB MASOF*<br />
232COIER ESTUD SEMOR FDESE*<br />
232MASOF SAUDA APANH ARREP*<br />
232ESTUD CAREN DESOB DROGA*<br />
232COIER MUDAR MUDAR MUDAR<br />
Anexo I
BANCO DE DADOS - ADOLESCENTE<br />
122COIER ROUBA MATA DESAU*<br />
112COIER VIOLE ARREP PRESO*<br />
112DISCR NQNAD COIER FQUER*<br />
112PRESO COIER ROUBA DESAU*<br />
112FSPEN FQUER MORTE NFVON*<br />
112ROUBA MORTE PRESO FALEI*<br />
112COIER FSPEN SAUDA SAUDA*<br />
112COIER PRESO DROGA FUGIR*<br />
112MACOM DESOB FQUER DROGA*<br />
112COIER DESOB MACOM DROGA*<br />
112ROUBA DESAU PRESO FASOF*<br />
112COIER ARREP MUDAR FSPEN*<br />
122DESUN BRIGA MUDAR FEBEM*<br />
123CAREN DROGA MACOM MACOM*<br />
122FASOF BRIGA BRIGA CAREN*<br />
122MACOM FQUER DROGA CAREN*<br />
122COIER DEJUS COIER ROUBA*<br />
122INJUS CAREN CAREN CAREN*<br />
122DROGA MACOM MORTE ROUBA*<br />
113DEJUS PRESO SAUDA PRESO*<br />
112MUDAR MUDAR ESTUD AJMAE*<br />
112COIER ROUBAR DROGA MACOM*<br />
113COIER MENOR MUDAR COIER*<br />
113 PRESO FEBEM DESAU INIMI*<br />
112FSPEN PRESO DESAU FDEUS*<br />
112COIER DROGA CAREN CAREN*<br />
113DROGA FEBEM MACOM SEMCO*<br />
112DROGA VIOLE ROUBA COIER*<br />
112ROUBA CAREN MATAR PRESO*<br />
112MACOM DROGA MACOM ROUBA*<br />
112SEMCO DROGA DROGA COEIR*<br />
121NOSAQ COIER PRESO MUDAR*<br />
112FSPEN COEIR DROGA MATAR*<br />
112COIER FEBEM DESPR ESTUD*<br />
111PAGAR TRABA ESTUD AJMAE*<br />
112NOSAQ COIER FASOF ROUBA*<br />
112COIER MUDAR MUDAR MORTE*<br />
112SEMCO CAREN SEMCO INIMI*<br />
112COIER MUDAR ESTUD PRESO*<br />
112NOSAQ COIER MUDAR DESOB*<br />
112ROUBA PROBL DIFIN DROGA*<br />
112MUDAR DESPR FASOF ARREP*<br />
112ROUBA COIER FEBEM SEMCO*<br />
112NOSAQ ESTUD TRABA AJMAE*<br />
112VIOLE FEBEM DESAU SEMCO*<br />
112COIER SERHU FASOF FASOF*<br />
112DISCR COEIR DEJUS DROGA*<br />
112DESAU DROGA MACOM COIER*<br />
112PRESO SAUDA CAREN COIER*<br />
111ROUBA DROGA MATAR DROGA*<br />
111COIER FSPEN PAGAR MUDAR*<br />
112FEBEM BRIGA AUDIE FEBEM*<br />
111NOSAQ COIER PAGAR MUDAR*<br />
111COIER DISCR DISCR DISCR*<br />
111PRESO PAGAR CURTI DESPR*<br />
112ROUBA PRESO APANH DESAU*<br />
Anexo II
Anexo III<br />
TRI-DEUX Version 2.2<br />
Analyse des ‚carts … l'ind‚pendance - mars 1995<br />
Renseignements Ph.Cibois UFR Sciences sociales Paris V<br />
12 rue Cujas - 75005 PARIS<br />
Programme ANECAR<br />
Le nombre total de lignes du tableau est de 34<br />
Le nombre total de colonnes du tableau est de 8<br />
Le nombre de lignes suppl‚mentaires est de 0<br />
Le nombre de colonnes suppl‚mentaires est de 0<br />
Le nombre de lignes actives est de 34<br />
Le nombre de colonnes actives est de 8<br />
M‚moire disponible avant dimensionnement 470592<br />
M‚moire restante aprŠs dim. fichiers secondaires 468678<br />
M‚moire restante aprŠs dim. fichier principal 467590<br />
AFC : Analyse des correspondances<br />
*********************************<br />
Le phi-deux est de : 0.367360<br />
Pr‚cision minimum (5 chiffres significatifs)<br />
Le nombre de facteurs … extraire est de 5<br />
Facteur 1<br />
Valeur propre = 0.252950<br />
Pourcentage du total = 68.9<br />
Facteur 2<br />
Valeur propre = 0.057888<br />
Pourcentage du total = 15.8<br />
Facteur 3<br />
Valeur propre = 0.031162<br />
Pourcentage du total = 8.5<br />
Facteur 4<br />
Valeur propre = 0.025361
Pourcentage du total = 6.9<br />
Facteur 5<br />
Valeur propre = 0.000000<br />
Pourcentage du total = 0.0<br />
Coor<strong>do</strong>nn‚es factorielles (F= ) et contributions pour le facteur (CPF)<br />
Lignes du tableau<br />
*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />
ACT. F=1 CPF F=2 CPF F=3 CPF F=4 CPF F=5 CPF<br />
*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />
ARRE 195 2 -18 0 -141 8 381 70 -0 6 ARREP<br />
BRIG 805 25 -1058 188 898 252 -161 10 -0 20 BRIGA<br />
CARE -43 0 -435 191 143 38 -25 1 -0 3 CAREN<br />
COEI 422 7 277 13 -11 0 178 12 -0 10 COEIR<br />
COIE 48 1 77 13 23 2 -55 15 -0 0 COIER<br />
DANA -793 73 -115 7 -34 1 221 56 0 67 DANAD<br />
DESA 668 39 -31 0 -96 7 35 1 -0 17 DESAU<br />
DES1 -587 76 87 7 -3 0 3 0 0 49 DESOB<br />
DES2 151 1 583 71 206 17 -157 12 -0 0 DESPR<br />
DISC 806 31 703 104 166 11 -101 5 -0 12 DISCR<br />
DROG 250 18 -98 12 -79 14 38 4 -0 31 DROGA<br />
ESTU -123 2 177 16 22 0 131 20 0 2 ESTUD<br />
FASO 840 41 -155 6 60 2 305 53 -0 8 FASOF<br />
FDCA -814 102 177 21 134 23 -40 3 0 60 FDCAB<br />
FEBE 876 59 -179 11 -340 72 -108 9 -0 59 FEBEM<br />
FQUE 835 27 -284 14 179 10 238 22 -0 31 FQUER<br />
FSPE 837 40 269 18 -84 3 288 48 -0 23 FSPEN<br />
INOC -799 37 -32 0 14 0 146 12 0 47 INOCE<br />
MACO 74 1 -180 29 -46 3 -420 356 -0 1 MACOM<br />
MASO -759 94 -222 35 -368 180 -177 51 0 223 MASOF<br />
MAT1 -266 6 235 21 78 4 44 2 0 7 MATAR<br />
MEUF -787 30 -199 8 -82 3 296 42 0 16 MEUFI<br />
MORT 294 5 -256 17 92 4 257 38 -0 14 MORTE<br />
MUD1 167 6 80 6 25 1 -100 21 -0 13 MUDAR<br />
NOSA 809 31 194 8 338 45 -81 3 -0 34 NOSAQ<br />
PAGA 256 4 670 113 238 26 -208 25 0 1 PAGAR<br />
PRES 447 38 47 2 -201 63 -40 3 -0 51 PRESO<br />
PRUI -805 75 52 1 62 4 72 6 0 47 PRUIM<br />
ROUB 148 5 -50 2 137 35 129 39 -0 0 ROUBA<br />
SAUD 550 15 -28 0 -432 73 52 1 -0 11 SAUDA<br />
SEMC 872 44 44 0 -407 77 140 11 -0 20 SEMCO<br />
SEM1 -802 62 1 0 33 1 117 13 0 111 SEMOR<br />
TRAB -176 1 523 57 225 20 -186 17 0 5 TRABA<br />
VIOL 180 2 182 7 -25 0 201 19 -0 1 VIOLE<br />
*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />
* * *1000* *1000* *1000* *1000* *1000*
*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />
Modalit‚s en colonne<br />
*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />
ACT. F=1 CPF F=2 CPF F=3 CPF F=4 CPF F=5 CPF<br />
*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />
0151 630 255 10 0 18 2 2 0 0 259<br />
0152 -597 241 -9 0 -17 2 -2 0 -0 279<br />
0161 644 224 189 84 -104 47 63 21 0 154<br />
0162 556 32 -928 386 657 360 -318 104 0 23<br />
0163 -597 241 -9 0 -17 2 -2 0 -0 279<br />
0171 -102 3 598 406 296 185 -284 209 -0 3<br />
0172 7 0 -125 66 -9 1 145 201 -0 2<br />
0173 214 4 -377 58 -730 402 -708 465 0 2<br />
*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />
* * *1000* *1000* *1000* *1000* *1000*<br />
*---*------*----*------*----*------*----*------*----*------*----*<br />
Fin normale du programme
Anexo IV<br />
TRI-DEUX Version 2.2<br />
IMPortation des MOTs d'un fichier de questions ouvertes<br />
ou de mots associ‚s … un stimulus - janvier 1995<br />
Renseignements Ph.Cibois UFR Sciences sociales Paris V<br />
12 rue Cujas - 75005 PARIS<br />
Programme IMPMOT<br />
Le fichier de sortie mots courts tri‚s est lucita.DAT<br />
et servira d'entr‚e pour TABMOT<br />
Le fichier de position en sortie sera lucita.POS<br />
et servira d'entr‚e pour TABMOT<br />
Le fichier d'impression est lucita.IMP<br />
Position de fin des caract‚ristiques 3<br />
Nombre de lignes maximum par individu 1<br />
Le stimulus est le mˆme pour tous les mots<br />
Nombre de lignes lues en entr‚e 112<br />
Nombre de mots ‚crits en sortie 448<br />
Nombre de mots de longueur sup‚rieure … 10 = 0<br />
seuls les 10 premiers sont ‚t‚ imprim‚s<br />
D‚coupage en mots termin‚<br />
Tri termin‚<br />
Les mots sont mis en 4 caractŠres<br />
Impression de la liste des mots<br />
AJMAE AJMA 3 APANH APAN 3 ARREP ARRE 5 AUDIE AUDI<br />
1<br />
BRIGA BRIG 4 CAREN CARE 24 COEIR COEI 4 COIER COIE<br />
54<br />
CURTI CURT 1 DANAD DANA 12 DEJUS DEJU 3 DESAU DESA<br />
9<br />
DESOB DES1 23 DESPR DES2 5 DESUN DES3 1 DIFIN DIFI<br />
1<br />
DISCR DISC 5 DROGA DROG 30 ESTUD ESTU 12 FALEI FALE<br />
1<br />
FASOF FASO 6 FDCAB FDCA 16 FDESE FDES 2 FDEUS FDE1<br />
1<br />
FEBEM FEBE 8 FQUER FQUE 4 FSPEN FSPE 6 FUGIR FUGI<br />
1<br />
INIMI INIM 2 INJUS INJU 1 INOCE INOC 6 JUIZ JUIZ<br />
1<br />
MACOM MACO 21 MASOF MASO 17 MATA MATA 1 MATAR MAT1<br />
9<br />
MENOR MENO 2 MEUFI MEUF 5 MORTE MORT 6 MUDA MUDA<br />
1<br />
MUDAR MUD1 22 NFVON NFVO 1 NOSAQ NOSA 5 NQNAD NQNA<br />
1<br />
PAGAR PAGA 6 PRESO PRES 20 PROBL PROB 1 PROMO PRO1<br />
1<br />
PRUIM PRUI 12 PSICO PSIC 1 ROUBA ROUB 24 ROUBAR ROU1<br />
1<br />
SAUDA SAUD 5 SEMCO SEMC 6 SEMOR SEM1 10 SEORA SEOR<br />
2<br />
SEPAZ SEPA 2 SERHU SERH 1 TRABA TRAB 5 VIOLE VIOL<br />
5<br />
Nombre de mots entr‚s 448<br />
Nombre de mots diff‚rents 60<br />
Impression des tris … plat
Question 015 Position 15 Code-max. 2<br />
Tot. 1 2<br />
448 224 224<br />
100 50.0 50.0<br />
Question 016 Position 16 Code-max. 3<br />
Tot. 1 2 3<br />
448 188 36 224<br />
100 42.0 8.0 50.0<br />
Question 017 Position 17 Code-max. 3<br />
Tot. 1 2 3<br />
448 84 332 32<br />
100 18.8 74.1 7.1
Teste de Associação Livre de Palavras<br />
Anexo V<br />
COLETA DE DADOS - ADOLESCENTES<br />
Diga quatro palavras que lhe venham à mente quan<strong>do</strong> digo a expressão<br />
a<strong>do</strong>lescente infrator.<br />
Da<strong>do</strong>s sociodemográficos<br />
Idade: ___________________<br />
Escolaridade:_______________________<br />
Entrevista semi-estruturada<br />
• O que é um a<strong>do</strong>lescente para você?<br />
O que é a<strong>do</strong>lescente infrator para você?<br />
Porque um a<strong>do</strong>lescente entra no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime?<br />
Você acha que ele pode mudar de vida? Como?<br />
Você acha que um a<strong>do</strong>lescente infrator merece confiança? Por que?<br />
O que as pessoas pensam <strong>sobre</strong> um a<strong>do</strong>lescente infrator?<br />
Fale um pouco <strong>sobre</strong> você. Come é o seu jeito.<br />
Você está satisfeito com o jeito como você é?<br />
Como você gostaria de ser?<br />
Observação assistemática<br />
Linguagem não verbal
Teste de Associação Livre de Palavras<br />
Anexo VI<br />
COLETA DE DADOS - MÃES<br />
Diga quatro palavras que lhe venham à mente quan<strong>do</strong> digo a expressão<br />
a<strong>do</strong>lescente infrator.<br />
Da<strong>do</strong>s sociodemográficos<br />
Idade: ___________________<br />
Escolaridade:________________________<br />
Entrevista semi-estruturada<br />
O que é a<strong>do</strong>lescente para você?<br />
O que é um a<strong>do</strong>lescente infrator para você?<br />
Porque um a<strong>do</strong>lescente entra no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime?<br />
Você acha que ele pode mudar de vida? Como?<br />
Você acha que um a<strong>do</strong>lescente infrator merece confiança? Por que?<br />
O que as pessoas pensam <strong>sobre</strong> um a<strong>do</strong>lescente infrator?<br />
O que é para você ter um filho a<strong>do</strong>lescente infrator?<br />
Observação assistemática<br />
Linguagem não verbal.
Anexo VII<br />
a) Distribuição das unidades de análise temáticas <strong>sobre</strong> DESCRIÇÕES SOBRE<br />
ADOLESCENTE<br />
COMPORTAMENTAIS<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“ A<strong>do</strong>lescente é uma pessoa impulsiva ( ) Não pensa antes de fazer as coisas ( ) Não pensa nas<br />
conseqüências ( ) Não pensa no futuro ( ) Pensa só no momento ( ) Faz seus atos sem pensar ( )<br />
Prejudica as pessoas ( ) Sempre alegre ( ) Humilde ( ) Não com drogas ou violência ( ) Quer se sentir o<br />
<strong>do</strong>no da razão ( )Não segue conselho <strong>do</strong>s pais ( ) Quer se sentir adulto ( ) Dono de si ( ) Faz o que vem na<br />
cabeça ( ) Não pensa nas conseqüências ( ) É estudioso ( ) É saber viver ( ) Não fazer coisa errada ( )<br />
Crer na palavra de Deus ( ) É viver ( ) É liberdade ( ) Não resolve suas coisas ( ) Não pode ser<br />
independente ( ) Tem que dar informação ( ) Satisfação ( ) Dizer o vai fazer ( ) Pedir autorização ( )É viver<br />
cada dia ( ) É conhecer as coisas ( ) É viver livre ( ) Quan<strong>do</strong> ficar maior não faz mais o mesmo ( ) Quan<strong>do</strong><br />
ficar maior já é adulto ( ) Faz outras coisas mais pior ( ) É uma pessoa menor( ) É arrumar escola ( )<br />
Arrumar trabalho ( )Fazer a vida ( ) O jovem ( ) Irresponsável ( ) Faz sem pensar ( ) Pessoa normal ( ) Igual<br />
a pessoa normal ( ) Tem várias amizades ( ) Liberdade( ) Tem responsabilidade que não é pra ter ( )<br />
Respeita<strong>do</strong>r( ) Estudioso ( ) Amigo ( ) Alegre ( ) Namora<strong>do</strong>r ( ) Normal ( ) Estudar ( )Saber brincar ( )<br />
Inexperiente ( ) Criança ( ) Infantil ( ) Se arrepende ( )Vive o instante ( ) Age por impulso ( ) É viver uma<br />
fase boa ( ) Conhece as coisas ( ) Quan<strong>do</strong> ficar maior muda ( ) Faz coisas pior ( ) Pessoa menor ( )<br />
Irresponsável ( ) É o começo de uma vida ( )Tá na flor da idade ( ) Fase muito legal ( ) A<strong>do</strong>lescência é uma<br />
coisa que tem de ser valorizada ( ) Coisas boa como a escola ( ) Como a família ¨<br />
Mães<br />
“ A<strong>do</strong>lescente é estudar ( ) Deixar de andar nas ruas ( ) Acha que é <strong>do</strong>no da vida deles ( ) Faz o que dá na<br />
cabeça ( ) Deixar as amizades ruins( ) Não pensa direito ( ) Não atende conselhos ( ) Os outros chama e ele<br />
vai ( ) Só pensa <strong>do</strong> la<strong>do</strong> erra<strong>do</strong> ( ) É totalmente uma criança ( ) Não tá nem aí com a vida ( ) Só pensa neles<br />
( ) Não pensa na família ( ) Não pensa nos pais ( ) Faz coisa errada ( ) Anda no mun<strong>do</strong> ( ) Começa a furtar<br />
( ) Usa droga ( ) Não tão nem aí pra família ( ) Não escuta nem o pessoal da rua ( ) Ser mais educa<strong>do</strong> ( )Se<br />
comportar ( ) Saber conviver ( ) Aprender mais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ( ) Não tem juízo pronto ( ) Faz coisa errada sem<br />
precisão ( ) Faz o que os outros botar na memória dele ( ) Não tem a mente formada ( ) Não pensa como<br />
adulto ( ) Faz sem pensar ( ) Tem que ser mais calmo ( ) Tem que ser um menino bom ( ) Tem que ser<br />
pensativo ( ) Não fazer coisa ruim ( ) Anda nas ruas ( ) Rouba pai de família ( ) Se mistura com quem não<br />
presta ( ) Não quer conselhos ( ) Se mistura com os ladrões velhos ( ) Usa arma (( ) Faz o que não presta ( )<br />
Desobediente ( ) Trabalhoso ( ) Não obedece a mãe ( ) Acha que os amigos é a vida deles ( ) Não quer<br />
saber de mãe ( ) Nem de pai ( ) Não pensa em nada ( ) Quan<strong>do</strong> quer fazer faz ( ) Não sabe o que é bom e<br />
ruim ( ) Pessoa crescen<strong>do</strong> ( ) Cresce pra ser homem ( ) Não é só ter 18 anos ( ) A<strong>do</strong>lescente vai até 20<br />
anos ( ) Quan<strong>do</strong> tem 20 anos sabe pensar ( ) É o jovem na a<strong>do</strong>lescência ( ) Complica<strong>do</strong> ( ) Não tem noção<br />
das coisas ( ) É desespero ( ) Dá preocupação ( ) É difícil ( ) Dá desgosto ( ) Jovem ( ) Faz o erro”<br />
VIVENCIAIS<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“É uma pessoa confusa “<br />
Mães<br />
” Criança que precisa de amor ( ) Precisa de educação <strong>do</strong>s pais ( ) Criança sofrida ( ) Cria<strong>do</strong> só ( ) Sem a<br />
companhia <strong>do</strong> pai ( ) Com pouca companhia da mãe ( ) Não formou a mente ( ) É um menino desprepara<strong>do</strong><br />
( ) Precisa de compreensão ( ) Precisa de carinho ( ) Criança despreparada ( ) Pessoa com problema (<br />
) Precisa de escola ( ) Rapaz com problema na família ( ) Tem uma carência “
) Distribuição das unidades de análise temáticas <strong>sobre</strong> DESCRIÇÕES SOBRE<br />
ADOLESCENTE INFRATOR<br />
COMPORTAMENTAIS<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“Infrator é uma pessoa que comete coisas erradas ( ) Não respeita a lei ( ) Usa droga ( ) Vai por esse<br />
caminho ai ( ) Considera<strong>do</strong> um ladrão ( ) Um cara que entra no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime( ) Não obedece os pais ( )<br />
Procura fazer coisa errada ( ) Rouba sempre ( ) Usa muita droga ( ) Age por impulso ( ) Não vai pelo<br />
caminho certo ( ) Procura caminho mais fácil ( ) Um caminho que tem as drogas( ) Pessoa manipulada pelos<br />
amigos ( ) Pessoa manipulada pelas drogas ( ) Pessoa diferente ( )E aquele que faz coisa errada ( ) Vive<br />
rouban<strong>do</strong> ( ) Faz baderna no meio da rua ( ) Faz sem precisão ( ) não respeita ninguém ( ) não respeita<br />
nem a família ( ) Faz muita coisa grave ( ) faz coisa grave ( ) É tipo uma maquina ( ) Maquina destrui<strong>do</strong>ra ( )<br />
Destroi as coisas ( ) E quan<strong>do</strong> a gente erra ( ) Quan<strong>do</strong> a gente erra e paga ( ) Agente A gente não tem amigo<br />
( ) É aquele que não vai corretamente com a lei ( ) Não anda correto com as leis ( ) Aquele que mata ( )<br />
Aquele que rouba ( ) faz um boca<strong>do</strong> de putaria ( ) É essas coisas que a gente comete ( ) Quem mexe nas<br />
coisas <strong>do</strong>s outros ( ) faz o que não e para fazer ( ) Se mete em vagabundagem ( ) E um a<strong>do</strong>lescente que<br />
comete erro ( ) Tá numa unidade pagan<strong>do</strong> ( ) falta pensamento ( ) Não para pensa ( ) Ele só faz coisa<br />
errada ( ) Mata e rouba ( ) conhece o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime ( ) É crime ( ) É rouba É matar ( ) É se drogar ( )<br />
Vive no crime ( ) vive rouban<strong>do</strong> ( ) Comete delitos ( ) É aquele que cometeu delito ( ) Não anda no caminho<br />
certo ( ) Não anda na lei ( ) Não sabe respeitar uns aos outros ( ) Pessoa de estilo de vida diferente ( ) Faz<br />
muita besteira ( ) Não respeita a lei ( ) Rouba ( ) Mata ( ) Usa droga ( ) é um a<strong>do</strong>lescente mima<strong>do</strong> ( )<br />
Possuí<strong>do</strong> pela droga ( ) Possuí<strong>do</strong> pelo álcool¨ .<br />
Mães<br />
Esses que só procura o la<strong>do</strong> erra<strong>do</strong> ( ) Eles roubam ( ) Eles matam ( ) Faz coisa que não é pra fazer ( ) Faz<br />
assalto ( ) Usa droga ( ) É esses que tão preso ( ) Bole nas coisas ( ) Faz coisa mim ( ) Negócio de droga (<br />
) Faz o erro e se prejudica ( ) bole no alheio ( ) Não tem amor pelas pessoas ( ) Faz diz o bem ( ) Só faz o<br />
mal ( ) Eles pensa que vão ser melhor no futuro ( ) Tem outro que não pensa nisso ( ) Faz maldade ( ) Faz<br />
o mal ( )Mata pai de família ( ) Faz o que o mun<strong>do</strong> velho manda ( ) Vive no mun<strong>do</strong> das drogas ( ) Rouba ( )<br />
assalta ( ) Não pensa ( ) Uma criança sem pensa ( ) É não fazer o erra<strong>do</strong> ( )É não usar drogas ( ) E não<br />
mexer com os outros ( ) Aquele que mata ( ) Jovem que entra no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime ( ) Se envolve com coisa<br />
errada ( ) Drogas ( ) Roubo ( ) Confusão ( ) Pessoa malvada ( ) Perversa ( ) Tem o pensamento no mun<strong>do</strong><br />
da lua ( ) Mesmo não usa<strong>do</strong>res de drogas ( ) Não obedece pai e mãe ( ) É um louco ( ) Não entende pai<br />
nem mãe ( ) Não obedece ninguém ( ) O futuro e o cemitério ( ) Cadeia ( ) Não quer nada na vida ( ) Erro<br />
( ) Desobediente ¨.<br />
VIVENCIAIS<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
” Um cara que não teve uma chance na vida ( ) Que nem nos aqui não teve chance na vida( ) E uma pessoa<br />
que se encontra comum vazio ( ) E uma pessoa que tem um problema ( ) Tem problema e não sabe como<br />
resolver ( ) E uma pessoa com muitos problemas ( ) E uma pessoa que na infância passou por problemas ( )<br />
Tem um vazio ( ) Não tem apoio familiar ( ) Não tem escola ( ) Pessoa sem apoio ( ) Tem que ter o cuida<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> pai e da mãe ( ) Não tem o dialogo de ninguém ( ) Pra lhe explicar o certo ( ) E uma pessoa com muitos<br />
problemas ( ) Tem uma carência ( ) É aquela sem carinhos <strong>do</strong>s pais ” .<br />
Mães<br />
“ Pessoa revoltada com a vida ( ) Não tem amor por deus ( ) É aquela que e perdida ( ) Não tem uma<br />
estrutura mental boa Não tem acompanhamento ( ) Não tem instrução familiar ( ) Não e acompanhada<br />
desde pequena ( ) Se ensina ele não faz erra<strong>do</strong> ( ) Não tem apoio <strong>do</strong>s pais ( ) Dos irmãos ( ) Da família ( )<br />
É uma criança só ¨.
c) Distribuição das unidades de análise temáticas <strong>sobre</strong> CAUSAS DO INGRESSO<br />
NO MUNDO DO CRIME<br />
SOCIOINTERACIONAIS<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“Uso <strong>do</strong> drogas( ) Fui perdi<strong>do</strong> pelas drogas( ) Me tornei um dependente químico( ) Não valorizava minha<br />
juventude( ) Iludi<strong>do</strong> por droga( ) Manipula<strong>do</strong> pelas drogas( ) A pessoa conhece coisas novas( ) Tu<strong>do</strong> é<br />
euforia( ) No começo tu<strong>do</strong> é bom( ) Era só as drogas( ) Era tu<strong>do</strong> pra mim( ) Aí surgiram os problemas( )<br />
Perdi o controle( ) Fui degradan<strong>do</strong> aos poucos( ) Manipulação da mente( ) Se envolvi com colegas<br />
erra<strong>do</strong>s( ) Colegas que me colocou no roubo( ) Má influência de más amizades( ) Aí mata só porque é de<br />
menor( ) Muita droga( ) Acaba se envolven<strong>do</strong>( ) Pessoas usuárias( ) Acaba se destruin<strong>do</strong> com drogas( )<br />
Principalmente por isso( ) Elas influenciam o erro( ) Eu acho que elas influem tu<strong>do</strong>( ) Muitas vezes pelos<br />
amigos( ) Drogas( ) Bebidas( ) Amizades é o que mais influi ( ) Tem muita droga solta( ) Acho que os<br />
colegas( ) Companhias erradas( ) A rua( 0 O amigo chama e ele vai( ) Ele muito <strong>do</strong>i<strong>do</strong> vai e faz( ) Os maior<br />
faz os de menor laranja( ) Muitos tá aqui por isso( ) As gangues( ) Aí entra no crime( ) É obriga<strong>do</strong> a fazer( )<br />
Pega corda( ) Os outros manda( ) Pega corda <strong>do</strong>s maior( ) Vai provar de uma coisa nova( ) Um sujeito<br />
atravessou minha vida( ) Se transformou num inferno( ) Eu acho as drogas( ) Droga faz tu<strong>do</strong> na vida( ) O<br />
roubo( ) As companhias( ) Através das drogas( ) Amizades( ) Maus amigos( ) Começa a beber( ) Amigos<br />
da rua( ) Provocação( ) O cara é convida<strong>do</strong>( ) Droga causa violência( ) Ele passa a ser infrator( ) Se<br />
entrega às drogas( ) Influência( ) Só isso mesmo( ) Curiosidade( ) Convite( ) Vontade de conhecer o<br />
novo( ) Nossos amigos( ) O começo é as drogas( ) Quan<strong>do</strong> tá dragada não sabe o que faz( ) Drogada faz<br />
tu<strong>do</strong>( ) Assassinar( ) Assaltar( ) Faz lesões( ) A droga não leva a nada( ) Só pro buraco( ) Você se<br />
prostitui( ) A droga é o fim da vida( ) Os companheiros( ) Por isso eu tô nessa( ) Matei e fui presa( ) Tu<strong>do</strong><br />
acontece na rua”<br />
Mães<br />
“ É pelas companhias( ) O meu foi pelas amizades( ) Se acompanhar com más amizades( ) As amizades<br />
que se envolve( ) Cresce no meio de amigos( ) Os outros é que incentiva( ) Os amigos têm coisa mais<br />
prática( ) Aí ele faz também( ) Muitas amizades ruim no nosso meio( ) Os de maior usa os menor( ) Os de<br />
maior incentiva( ) Muita droga( ) Outra coisa é a droga( ) Depois que usa não sabe o que faz( ) Pelas<br />
amizades( ) Não procura amizades com pessoas ótimas( ) Só procura o la<strong>do</strong> erra<strong>do</strong>( ) Os amigos que<br />
convive( ) Bota na cabeça dele o que não é pra fazer( ) Os amigos( ) As drogas( ) Pessoas erradas( ) A<br />
rua( ) Os amigos da rua( ) Por viver dessa maneira na rua( ) Se junta com amigos pra fazer besteira( )<br />
Companhias( ) Más companhias( ) Influência de amigos( ) Os de maior pega as crianças inocentes( ) Tu<strong>do</strong><br />
é a rua( ) Se acompanha <strong>do</strong>s de maior( ) Os de maior manda( ) Os amigos ruins( ) Tem muito amigo que<br />
bota ele na perdição( ) O meu entrou sem dever( ) O meu diz que matou mas é inocente( ) Tá aqui sem<br />
dever( ) Foi o amigo dele( ) Tá preso de graça ( ) Só as más companhias( ) Começa a se envolver com<br />
eles( ) Influência ruim( ) Os amigos faz a cabeça deles( ) Os amigos dão conselhos ruins( ) Só entendem os<br />
amigos( ) Ele se influencia pra fazer o ruim( ) Tu<strong>do</strong> é influência negativa”<br />
FAMILIARES<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“ Depende <strong>do</strong> pai e da mãe( ) Não dão bom exemplo( ) Ele cresce pra seguir esse exemplo( ) Porque os<br />
pais não dão conselho( ) Não encaminha os filhos( ) Não ensina o certo( ) Não ensina a ser humilde( ) Pai e<br />
mãe são usuários( ) Mais é a relação <strong>do</strong>s pais”<br />
Mães<br />
“ Eu procurava tirar e ele não aceitava( ) Não aceitava conselhos( ) Depende da criação( ) Afasta os<br />
conselhos( ) A gente aconselha mas ele faz erra<strong>do</strong> de novo( ) Não ouve conselhos( ) Não atende<br />
ninguém( ) Os pais tentam e eles não querem( ) Eles entra no mun<strong>do</strong> da marginalização( ) Eu não podia<br />
cuidar dele( ) Vivia no trabalho e ele na rua( ) Depende de casa( ) Pais separa<strong>do</strong>s( ) Eles se soltam depois(<br />
) Ele cai na vida depois( ) Não escuta conselhos da mãe( ) Se ouvisse a mãe não errava( ) A gente peleja e<br />
eles não querem( ) Eles não tão nem aí( ) Falta de carinho <strong>do</strong>s pais( ) Desobediência( ) Não aceita os pais(<br />
) Se aborrece com conselhos( ) Aí pronto( ) Não aceita nossas idéias( ) Não ouve ninguém de casa( ) Tu<strong>do</strong><br />
gera incompreensão( ) A pessoa acaba fazen<strong>do</strong>( )Mnem sabe porque( ) Gera tu<strong>do</strong> de ruim( ) Pega no<br />
alheio( ) Agride os outros( ) Falta de apoio familiar( ) Os pais não ensinam eles( ) A estrutura familiar não é<br />
boa( ) Nada de bom acontece em casa( ) Falta acompanhamento( ) Eles mata( ) Rouba( ) Usa droga( )<br />
Não tem uma pessoa pra apoiar em casa”
PSICOLÓGICAS<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“Outros é porque quer aparecer( ) Pra ficar respeita<strong>do</strong>( ) Porque não sabe pensar direito( ) Errar a gente erra<br />
porque errar é humano( ) To<strong>do</strong> ser humano tem o direito de errar( ) To<strong>do</strong> homem erra( ) O cara entra sem<br />
saber porque( ) Mesmo saben<strong>do</strong> que é erra<strong>do</strong>( ) O cara é inseguro( ) Maus pensamentos( ) Maus<br />
sentimentos( ) Desconfiança( ) To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> falha( ) Do jeito que eu errei sem nem saber direito( ) Qualquer<br />
pessoa pode errar( ) Isso é só uma fase( ) Por fraqueza da cabeça( ) É da vida( ) É <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>( ) Faz parte<br />
da idade( ) Doidice( ) Dá uma <strong>do</strong>ida na cabeça( ) Um jogo da cabeça( ) O cara gosta desse negócio( ) Por<br />
aventura( ) Faz por gostar( ) Tem vontade( ) Dá prazer fazer( ) Sente prazer( ) Erro humano( ) Costume( )<br />
Faz porque quer( ) Rouba e mata( ) Vai preso( ) Fraqueza <strong>do</strong> espírito( ) Se faz é porque quer( ) Não sei<br />
exato( ) Não pensa nas consequências da vida( ) O cara nem sabe porque faz”<br />
Mães<br />
“ Faz porque dá na cabeça( ) Porque não sabe pensar( ) Não sabe defender suas idéias( ) Natureza de<br />
fazer o mal( ) O demônio chama( ) O demônio acusa( ) Pro diabo tu<strong>do</strong> é fácil( ) O diabo bota isso na cabeça<br />
deles( ) O diabo acusa pra ele fazer o que não deve( ) Não tem juízo( ) Não pensa( ) Falta juízo na cabeça(<br />
) Não quer pensar( ) Revolta( ) Não tem precisão e faz( ) Faz maldade porque quer( ) É confuso( ) Pega no<br />
alheio( ) Ataca pai de família( ) Briga( ) Bate( ) Não precisa disso e ele faz( ) Tem sina de fazer o mal( ) É a<br />
natureza dele( ) Mesmo que não queira fazer( ) A pessoa as vezes obriga ele a fazer( ) A própria pessoa<br />
insiste( ) Insiste até ele fazer o mal( ) Natureza <strong>do</strong> demônio( ) Maldade( ) Ele se obriga e faz”<br />
SOCIOECONÔMICAS<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“Tem uns que entra por necessidade( ) Falta emprego( ) Falta tu<strong>do</strong>( ) Por causa da condição financeira( )<br />
Quer uma roupa( ) Quer curtir( ) A mãe e o pai não tem dinheiro pra ajudar( ) Até quer ajudar mas não tem<br />
como( ) Aí ele rouba( ) Não tem escola( ) Dificuldade financeira( ) Tu<strong>do</strong> isso influi( ) Não tem dinheiro e faz(<br />
) Em casa não tem nada( ) Porque o mun<strong>do</strong> é sem trabalho( ) Falta muita coisa( ) Não tem condição aí<br />
vai( ) Não tem de onde ter dinheiro( ) Tem que ter escola( ) Trabalho( ) Pra não se envolver( ) Quan<strong>do</strong> se<br />
soltar tem de ter escola( ) Tem de ter trabalho( ) Se não tiver ele faz de novo( ) Só por precisão( ) Faz<br />
besteira por precisão( ) Tenta roubar de novo( ) Comete até homicídio( ) Quan<strong>do</strong> a mãe não dá dinheiro”.<br />
Mães<br />
“ A gente ele querer as coisas e a gente não poder dá( ) Não tem emprego pra esses a<strong>do</strong>lescentes( ) Se<br />
tivesse emprego eles botaria a cabeça no lugar( ) Não tem trabalho( ) O mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime é mais fácil( )<br />
Emprego é muito difícil( ) Sem o segun<strong>do</strong> grau não se emprega( ) O crime não precisa de diploma( ) No<br />
crime o dinheiro é fácil( ) Corre frouxo( ) Não precisa sacrifício nem suor( ) Coisa ruim é só o que tem a<br />
nossa volta( )O meio é baixo( ) Nosso meio social”
d) Distribuição das unidades de análise temáticas <strong>sobre</strong> PERSPECTIVA DE<br />
MUDANÇA<br />
PESSOAL<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“ Se tiver força de vontade( ) Basta querer( ) Dizer não às drogas( ) Muita força de vontade( ) Só se ele<br />
quiser( ) Tem que querer mudar( ) Vontade própria( ) É só querer( ) Erguer a cabeça( ) Depende da<br />
pessoa( ) Muita vontade( ) Estudar( ) Ser uma pessoa boa( ) Arranjar emprego( ) Formar uma família( )<br />
Tem que partir de le( ) Depende dele( ) Procurar um meio de vida( ) Casar( ) Ter responsabilidade( )<br />
Batalhar( ) Isolar as más companhias( ) As drogas( ) Não fazer mal aos outros( ) Deixan<strong>do</strong> os a,igos( )<br />
Escutan<strong>do</strong> os pais( ) Deixan<strong>do</strong> as drogas( ) Procurar trabalho( ) Ganhar dinheiro sem roubar( ) Decidir que<br />
vai mudar( ) Depende só dele( ) Não depende de ninguém mais( ) Se tiver capacidade( ) Sozinho( ) Ele<br />
muda só( ) Depende <strong>do</strong> que ele faz( ) Se ele fizer por onde, muda( ) Se quiser mostrar, pode( ) Fazer o que<br />
é certo( ) Fazer coisas boas( ) Assim ele muda( ) Só depende dele( ) Se ele diz eu vou conseguir isso( ) Só<br />
eu consigo isso( ) Não praticar o erro( ) Andar sempre na linha( ) Se ele quiser de verdade( ) Se não fizer<br />
mais coisa errada( ) Depende de ter consciência( ) Deixar as coisas pra trás( )A boa vontade dele( ) Tem<br />
toda possibilidade( ) Basta ele decidir( ) Deve se afastar de tu<strong>do</strong>( ) Decidir mudar( ) A maneira é deixar as<br />
drogas( ) Deixar os maus amigos( ) Andar só( ) Sair <strong>do</strong>s grupos( ) Só basta ele querer( ) Força de vontade<br />
é a razão( ) Aban<strong>do</strong>nar as drogas( ) Ficar sozinho( ) Depende <strong>do</strong> esforço dele( ) Basta ele querer ser<br />
direito( ) Querer é tu<strong>do</strong>( ) Depende só de mim( ) O próprio cara tem o poder”<br />
Mães<br />
“ Se ficar um rapaz direito( ) Trabalha<strong>do</strong>r( ) Estudioso( ) Se cuidar da sua família( ) Depende só dele( ) Se<br />
ele quiser, muda( ) Se fizer esforço( ) É só ele querer mudar demais( ) Se quiser vai estudar( ) Vai ser<br />
obediente( ) Andar no caminho direitinho( ) To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> pode mudar( ) Se for obediente( ) Se obedecer a<br />
família( ) Ele larga dessa vida( ) Se ele é obediente merece confiança( ) Se ele atender a família, muda( )<br />
Pode, ele queren<strong>do</strong>( ) O meu já está decidin<strong>do</strong>( ) Aí ele vai mudar( ) É só eles querer( ) Sain<strong>do</strong> da rua( )<br />
In<strong>do</strong> trabalhar( ) Procurar escola( ) Deixar as drogas( ) Se ele se ajeitar( ) Se recuperar( ) Se for um menino<br />
que escute( ) Assim ele queira( ) Ele queren<strong>do</strong> pode ser alguém( ) Pode até ser <strong>do</strong>utor( ) Ele pode mudar<br />
de vida( ) Queren<strong>do</strong>( ) Basta resolver( ) Queren<strong>do</strong> vai em frente( ) Depende deles( ) Só ele pode( ) Deve<br />
se aconselhar( ) Pensar mais( ) Querer mesmo mudar( ) Assim ele bote na cabeça( ) Se quiser obedecer( )<br />
Colocar na cabeça que vai mudar( ) Queren<strong>do</strong>, sim( ) Depende muito dele( ) Quan<strong>do</strong> ele quer mesmo( )<br />
Quan<strong>do</strong> ele entende querer( ) Ele não queren<strong>do</strong>, nada feito( ) Se ele entender mudar, ele muda( ) Depende<br />
da vontade de cada um( ) Só isso é o bastante( ) Ele vai ver que essa vida é sem futuro( ) Vai procurar coisa<br />
melhor( ) Procurar o caminho certo( ) Deixar esse caminho erra<strong>do</strong>”<br />
SOCIAL<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“A sociedade deve confiar( ) O pessoal deve confiar( ) Apostar na gente( ) Fazer um futuro pra gente( ) Dar<br />
força( ) Se ninguém confia nele, ele não muda( ) Compreensão( ) A gente tem que ter crédito( ) Tem que ter<br />
confiança( ) É sempre bom confiar( ) Aos poucos a pessoa muda( ) Basta dar uma chance( ) To<strong>do</strong>s<br />
merecem chance( ) A pessoa deve acreditar nele( ) Nós merecemos chance( ) To<strong>do</strong>s devem fazer isso( )<br />
Ten<strong>do</strong> uma pessoa pra explicar as coisas( ) Dar ajuda( ) Dar uma força( ) Dar apoio( ) O menor precisa de<br />
chance( ) A pessoa deve dar seu voto( ) Olhar que ele mu<strong>do</strong>u( ) Acreditar( ) A sociedade deve incentivar( )<br />
Dar uma oferta( ) Ele vai e responde bem( ) Se a pessoa confia isso mexo com o menor( ) Ele se esforça<br />
mais( ) Quer agradar aquela pessoa( ) Se a pessoa depositar confiança( ) Ele percebe a mudança( ) To<strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> quer confiança( ) To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> se ajeita( ) As pessoas devem crer no menor( ) Isso é muito<br />
importante( ) As pessoas devem depositar fé( ) Se não, ele não muda( ) Ten<strong>do</strong> alguém que apoie( ) Dan<strong>do</strong><br />
uma condição( ) Dan<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>( ) Depende de to<strong>do</strong>s( ) Dar chance pro infrator( ) Dar emprego( ) Dar<br />
oportunidades( ) Não adianta só eu querer( ) Não deixar ele passar fome( ) Com oiportunidade ele muda( )<br />
Tem que apostar( ) Isso é tu<strong>do</strong>( ) Só dan<strong>do</strong> crédito( ) Ele se esforça com a confiança( ) Alguém tem de<br />
confiar( ) Se não, ele fica igual( ) To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> é digno de confiança( ) Se eu ficar só tranca<strong>do</strong>, não mu<strong>do</strong>”<br />
Mães<br />
“Tu<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> tem sua vez( ) Seu voto de confiança( ) A gente deve dar sempre confiança( ) Por mais<br />
erra<strong>do</strong> que ele seja( ) Eu penso que isso faz ele mudar( ) Tem que ter chance( ) O apoio pra ele serve
muito( ) Ten<strong>do</strong> trabalho pra ele( ) Ele não fica pensan<strong>do</strong> besteira( ) Se tiver estudan<strong>do</strong>( ) Se aprender um<br />
curso( ) Não tem tempo pra bobagem( ) Hoje os empregos são poucos( ) O a<strong>do</strong>lescente tem de ter<br />
formatura( ) Depende da sociedade acreditar nele( ) To<strong>do</strong>s têm direito a uma chance( ) Merece mais chance<br />
da sociedade( ) Merece confiança <strong>do</strong> povo( ) Muito conselho das pessoas( ) Muita conversa( ) Ele é um ser<br />
humano( ) Primeiro, ele é um a<strong>do</strong>lescente( ) A sociedade deve fazer por ele( ) Deve dar chance( )<br />
Confiança( ) As pessoas conversan<strong>do</strong>( ) Orientan<strong>do</strong>( ) Mostran<strong>do</strong> o caminho( ) Merece uma<br />
oportunidade( ) Toda pessoa merece fé( ) Receber conselhos de to<strong>do</strong>s( ) O governo dan<strong>do</strong> mais chances( )<br />
Estu<strong>do</strong> e trabalho( ) Se ele tiver um estu<strong>do</strong> melhor( ) Conversar com os profissionais( ) Depende das<br />
pessoas( ) To<strong>do</strong>s têm que ajudar( ) Devemos cuidar <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente( ) Ajuda das pessoas( ) Um<br />
empurrãozinho( ) Uma força( ) As pessoas devem fazer sua parte( ) Se as autoridades estendem a mão<br />
amiga( ) Dar emprego( ) Dar oportunidade( ) Muitas escolas( ) To<strong>do</strong>s merecem sua vez( ) Merecem nova<br />
chance( ) Não devemos perder a confiança( ) A gente tem que estender a mão( ) Se a gente não confiar, é<br />
pior( ) A sociedade deve dar apoio( ) Deve dar uma veizinha”<br />
FAMILIAR<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“Apoio da família( ) Compreensão <strong>do</strong>s pais( ) Ajuda( ) Ajuda <strong>do</strong>s pais( ) Os pais apoian<strong>do</strong>( ) É preciso a<br />
família olhar o menor( ) Não ficar contra ele( ) Conversar com ele( ) A conversa é importante( ) É o melhor<br />
caminho( ) A confiança <strong>do</strong>s pais( ) Eles confian<strong>do</strong> é bom( ) Quan<strong>do</strong> ele sair vai se recuperar( ) A família<br />
torce pelo filho( ) Os pais acompanhan<strong>do</strong> o filho”<br />
Mães<br />
“ Se os pais não acompanhar, é difícil( ) A mãe tem um coração mais seguro naquele filho( ) Tem confiança<br />
nele( ) Que ele vai fazer direitinho( ) Que ele vai em frente( ) A mãe luta pelo filho( ) Ter muita compreensão<br />
da família( ) Tem de partir de casa( ) Eu confio no meu filho( ) Eu aconselho ele”<br />
INSTITUCIONAL<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“Com o trabalho das unidades( ) Apoio da unidade( ) Setor técnico( ) As palestras, principalmente( )<br />
Psicóloga( ) Os técnicos da unidade( ) Às vezes até remédio( ) Pra mudar basta cair numa Febem( ) A<br />
Febem ajuda o menor( ) Aprende a pensar( ) A ajuda vem desse la<strong>do</strong>( ) Ficar refletin<strong>do</strong>( ) Ouvir os<br />
conselhos( ) Tirar proveito de estar preso( ) Curso profissionalizante( ) Formar outras idéias( ) Idéias boas( )<br />
Quan<strong>do</strong> sair, tá muda<strong>do</strong> ( ) Não erra mais”<br />
Mães<br />
“Se for bem acompanha<strong>do</strong> muda( ) Se ficar numa unidade, pagan<strong>do</strong>( ) Se for acompanha<strong>do</strong> por uma equipe<br />
( ) Se tiver pagan<strong>do</strong> seu crime( ) Tem que ter bom acompanhamento( ) Aprender uma profissão na unidade<br />
( ) Assim, ele muda( ) Deve pagar pelo que fez( ) Sofrer um pouquinho( ) Isso é importante( ) Ele vai refletir<br />
e mudar( ) Muitos sai com a vida melhor( ) Eles têm coisas boas aqui que a rua não dá( ) Os coordena<strong>do</strong>res<br />
ajudam( ) Cuidam deles( ) Os funcionários tiram eles <strong>do</strong> crime, conversan<strong>do</strong>( ) A mão amiga é também<br />
essas casas( ) Os cursos que ele faz aqui”<br />
ESPIRITUAL<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“Nada é impossível pra Deus”<br />
Mães<br />
“ Só pelo poder de Deus( ) Em primeiro lugar está Jesus( ) Nada pra Deus é impossível( ) Se tiver Deus no<br />
coração, ele muda( ) Quem tem Deus tu<strong>do</strong> pode( ) Se entrar no caminho de Deus( ) Ouvir a palavra de<br />
Deus( ) Rezar pelos maus pensamentos( ) Tu<strong>do</strong> Deus mandará( ) Só Deus muda tu<strong>do</strong>( ) Só Deus corrige a<br />
perdição( ) Deus está em primeiro lugar”
e) Distribuição das unidades de análise temáticas <strong>sobre</strong> PERCEPÇÃO DO EU<br />
AUTOPERCEPÇÃO<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“Sou tranquilo( ) Pessoa tranquila( ) Alegre( ) Comum( ) Já usei droga( ) Roubei( ) Fiz muitas coisas( ) Me<br />
comparo com uma pessoa normal( ) Não fumo cigarro( ) Sou igual a to<strong>do</strong>s( ) Não uso drogas( ) Sou da paz(<br />
) Não gosto de polícia( ) Não gosto de maldade( ) Não gosto de violência( ) Sou envolvi<strong>do</strong> com droga( )<br />
Gosto da vida calma( ) Gosto da alegria( ) Gosto da liberdade( ) Sou esquenta<strong>do</strong>( ) Não tenho muito apoio<br />
da família( ) Do meu pai( ) As vezes não mereço confiança( ) Sou carente( ) Gosto da minha mãe( ) Gosto<br />
da liberdade( ) Eu não bebo( ) Gosto de brincar( ) Me acho legal( ) Gosto de conversar( ) Sou ambicioso( )<br />
Gosto das minhas coisas( ) Não quero mudar( ) Não mereço confiança( )Eu devia ter mais juízo( ) Sou mais<br />
cabeça( ) Tenho um filho( ) Sou mais crânio( ) Sou um cara amigo( ) Legal( ) Sou amigo( ) Não procuro<br />
confusão( ) Sincero( ) Cari<strong>do</strong>so( ) Tento ajudar os outros( ) O que eu quero ser já tô fortemente( ) Não<br />
tenho mais nada pra mudar( ) Eu me identifico como infrator( ) Sou maduro( ) Amadureci( ) Tenho um<br />
problema( ) Não ajo mais por impulso( ) Sou simples( ) Sou de uma família simples( ) Uma família cari<strong>do</strong>sa(<br />
) Já fui dependente químico( ) Não completei os estu<strong>do</strong>s( ) Entrei no mun<strong>do</strong> das drogas( ) Não preciso mais<br />
de droga( ) Tenho um vazio( ) Sei me fazer feliz( ) Vou conforme a necessidade( ) Sou amigo( ) Legal( )<br />
Faço amigos( ) Não brigo( ) Procuro amizades( ) Aju<strong>do</strong> os outros( ) Não tem mais pra mudar( ) Já sou<br />
como quero( ) Já sou a pessoa certa( ) Estou muda<strong>do</strong>( ) Infrator( ) Sou um infrator( ) Sou um elemento<br />
calmo( ) Não faço mal a ninguém( ) Sou humilde( ) Gosto <strong>do</strong> certo( ) Não <strong>do</strong>u valor coisa errada( ) Gosto<br />
de ajudar( ) Gosto de mim( ) Minha família gosta de mim( ) Estou muda<strong>do</strong>( ) Sou um ser humano( ) Tenho<br />
tatuagem( ) Passagem pela Febem( ) Tenho outra mente( ) Tenho outros pensamentos( ) Sou maior de<br />
idade( ) Eu vivo tranca<strong>do</strong>( ) Sofren<strong>do</strong>( ) Sou namora<strong>do</strong>r( ) Brincalhão( ) Sou pensativo( ) Não sou droga<strong>do</strong>(<br />
) Não sou usuário( ) Pensativo( ) Meu jeito é calmo( ) Penso muito antes de agir( ) Tenho um jeito<br />
esquenta<strong>do</strong>( ) Não consigo me controlar( ) Faço e depois me arrepen<strong>do</strong>( ) Tenho um homicídio( ) Sou<br />
preso( ) Antes eu era rebelde( ) Tinha vida desgraçada( ) Hoje sou calmo( ) Paciente( ) No meu normal sou<br />
sensível( ) Qualquer coisa eu choro( ) Eu drogada sou violenta( ) Chata( ) No consciente sou legal( )<br />
Qualquer coisa me magôo( ) Droga, nada me dói( ) Sou impulsiva( ) Faço sem pensar( ) Não sou falsa( )<br />
Falo sem pensar( ) Não vejo as consequências( ) Mereço confiança( ) De verdade( ) Sou mãe( ) Sou uma<br />
infratora( ) Não uso droga( ) Sou boa( ) Órfã( ) Humilde( ) Sensível( ) Não tenho maldade( ) Não guar<strong>do</strong><br />
rancor( ) Não gosto de marginalidade( ) Não uso álcool( ) Tive educação boa( ) Sou educada( )<br />
Estudiosa( ) Sou madura( ) Ninguém reclama de mim( ) Sou satisfeita comigo( ) To<strong>do</strong>s gostam de mim( )<br />
Sei entrar e sair( ) Ninguém tem rancor de mim( ) Entro em união com to<strong>do</strong>s( ) Sou querida( ) Amo meus<br />
irmãos( ) Sou uma pessoa que vale a pena( ) Não quero mudar( ) Sou legal( ) Sou simpática( ) Não faço<br />
mal aos outros( ) Não pego droga( ) Bebo pouco( ) Me <strong>do</strong>u bem com to<strong>do</strong>s( ) Sou legal( ) Meu jeito é criar<br />
amigos( ) Falo com to<strong>do</strong>s( ) Sou to<strong>do</strong> cala<strong>do</strong>( ) Não <strong>do</strong>u papo( ) Pensativo( ) Gosto de refletir( ) Tô<br />
satisfeito comigo( ) Sou sempre igual( ) O povo me acha legal( ) Desobediente( ) Preso( ) Tô sem<br />
liberdade( ) Sem família( ) Sou infrator( ) Nós somos infratores( ) Sou menor de idade( ) Sou trabalha<strong>do</strong>r( )<br />
Já fumei maconha( ) Hoje mais não( ) Sou gente fina( ) Gosto de mim( ) Muito sensível( ) Gosto de<br />
estudar( ) Ia pra aula to<strong>do</strong> dia( ) Não fazia coisa errada( ) Me arrepen<strong>do</strong> <strong>do</strong> que fiz( ) Arrependida( ) Sou<br />
calmo( ) Sou mais eu( ) Calmo( ) Penso muito( ) Pensativo( ) Me arrepen<strong>do</strong> muito( ) Sou simpático( ) Faço<br />
coisas boas( ) Sou capaz de ser bom( ) Sou simples( ) Sou um a<strong>do</strong>lescente( ) Sou a minha vida( ) Os meus<br />
crimes( ) Mas eu mereço fé( ) Estou muda<strong>do</strong>( ) Cometi um crime( ) Sou comporta<strong>do</strong>( ) Nada de violência( )<br />
Só na paz( ) Não deixo ninguém mexer comigo( ) Não gosto de briga( ) Fiz o erra<strong>do</strong>( ) Sou um estranho( )<br />
Me sinto outra pessoa( ) Só que já tô seguin<strong>do</strong> meu caminho( ) Sou infrator( ) Adulto( ) As vezes sou calmo(<br />
) Só na minha( ) Não gosto de confusão( ) Rezo to<strong>do</strong> dia( ) Meu jeito é assim( ) Dou valor jogar bola( ) Ir<br />
pra escola( ) Já mudei demais( ) Eu era diferente( ) Agora sou outro( ) Sou mais eu”<br />
IDEALIZADA<br />
“Preten<strong>do</strong> mudar de vida( ) Terminar meus estu<strong>do</strong>s( ) Trabalhar( ) Renovar minha vida( ) Gostaria de ser<br />
estudiosa( ) Trabalha<strong>do</strong>ra( ) Ganhar a vida com dignidade( ) Ser digna( ) Não queria ser impulsiva( ) Queria<br />
pensar mais( ) Vou melhorar( ) Quero casar( ) Me dedicar a minha esposa( ) Meu trabalho( ) Minha família(<br />
) Quero ser livre( ) Mudar( ) Casar( ) Cuidar <strong>do</strong> meu filho( ) Ser diferente( ) Quero pensar menos( ) Ser<br />
obediente( ) Obedecer pai e mãe( ) Deixar os maus pensamentos( ) Gostaria de ser mais alegre( ) Ganhar<br />
dinheiro sua<strong>do</strong>( ) Dignamente( ) Ajudar minha mãe( ) Só ajudar ela( ) Não quero mais roubar( ) Não fazer<br />
coisa errada( ) Nem usar droga( ) Quero ficar melhor( ) Não fazer mais besteira( ) Não errar de novo( )<br />
Quero ser certo( ) Gostaria de mudar( ) Vou procurar escola( ) Trabalho( ) Arrumar uma mulher( ) Ajudar<br />
meu pai e minha mãe( ) Quero minha liberdade( ) Quero ir pra perto <strong>do</strong> meu pai e minha mãe( ) Quero ser<br />
livre( ) Peço a Deus ser livre( ) Tô tentan<strong>do</strong> ser diferente( ) Aliás, quero ser( ) Ser normal( ) Pra cá não volto<br />
mais( ) Nunca mais vou roubar( ) Nem usar droga( ) Vou voltar pra escola( ) Pegar um pouco a palavra de
Deus( ) Quero ser comum( ) Igual aos outros( ) Não vou mais vacilar( ) Tenho muitos objetivos( ) Quero pôr<br />
em prática( ) Mudar a vida( ) Não quero ser mais desobediente( ) Não vou errar( ) Vou praticar o que<br />
aprendi( ) Preten<strong>do</strong> ser livre( ) Trabalhar( ) Levar uma vida normal( ) Diferente( ) Ser outro( ) Um cara igual<br />
a to<strong>do</strong>s( ) Estudar muito( ) Trabalhar bastante( ) Não correr da polícia( ) Não matar os outros( ) Nem<br />
roubar( ) Gostaria de ser mais bom( ) Quero só fazer o certo( ) Ser obediente”<br />
HETEROPERCEPÇÃO<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“As pessoas pensam que ele nunca muda( ) Que ele só quer fazer o mal( ) Não pensam o que passa na<br />
cabeça dele( ) Pensam que ele só pensa o ruim( ) Não pensa que a gente sofre( ) Vê como um monstro( )<br />
Marginal( ) Vagabun<strong>do</strong>( ) Não confia( ) Não respeita( ) Vagabun<strong>do</strong>( ) Ladrão( ) Por onde a pessoa passa,<br />
comenta( ) Já foi presidiário( ) Nunca respeita( ) Pensa que não muda mais( ) Não tem mais jeito( ) Deixa<br />
ele aí mesmo( ) Não acredita( ) Pensa só besteira( ) Vê como perigoso( ) Acha muita coisa( ) Mal visto pela<br />
sociedade( ) Vê como ladrão( ) Desconfia( ) Mal visto pela polícia( ) O cara tá ali porque quer( ) Não gosta<br />
de ninguém( ) Faz aquilo por prazer( ) Quase não gosta( ) Chama a gente de vagabun<strong>do</strong>( ) Quan<strong>do</strong> vê a<br />
gente na rua, fala( ) Sai de perto( ) Não confia( ) Tem me<strong>do</strong>( ) Não gosta( ) O menor é isso e isso outro( )<br />
Que pode fazer qualquer coisa( ) Besteira( ) É marginal( ) Como sai na televisão( ) Ladrão( ) Fuma<strong>do</strong>r de<br />
maconha( ) Mata<strong>do</strong>r( ) Não mereçe confiança( ) Senão ele rouba de novo( ) Sai de perto( ) Vê como<br />
monstro( ) Preconceito( ) Olham diferente( ) Eu me sinto até mal( ) Pensa que ele não muda( ) Não merece<br />
mais chance( ) Critica ele( ) Não ajuda( ) Discriminam( ) Falam mal( ) Acha que é dependente( ) Comete<br />
delitos( ) Olha diferente( ) Muita discriminação( ) Pensa que vai ser sempre ruim( ) Permanecer no erro( )<br />
Não tem jeito( ) Não ligam pra infância dele( ) A sociedade discrimina( ) O mun<strong>do</strong> também( ) Infrator( ) Não<br />
liga( ) Não se importa( ) Pensa o pior possível( ) Pra sociedade tanto faz( ) Acha bom que ele vá preso( )<br />
Não tá nem ven<strong>do</strong>( ) Pensa o pior <strong>do</strong> elemento( ) Vagabun<strong>do</strong>( ) Não tem crédito( ) Merece morrer( ) Não<br />
acredita( ) Pensa que é ruim( ) Monstros( ) Só pensa besteira( ) Não aceita( ) Não gosta( ) Imagina coisas<br />
ruins( ) Não bota fé( ) Não quer por perto( ) Pensa que é perigoso( ) Sem coração( ) Sem amor( ) Quer o<br />
mal pra ele( ) Evita ele( ) Vê como monstro( ) Marginal( ) Merece a morte( ) Tem me<strong>do</strong> dele( ) Não aposta<br />
nele”<br />
Mães<br />
“ Eu não confio no que eu não conheço( ) Só pensam coisa errada( ) Fulano é filho de fulano( ) Fulano faz<br />
aquilo( ) Só pensa maldade( ) Não dão força( ) Ninguém apoia( ) Critica( ) O filho dela faz aquilo( ) Pensa<br />
que ele faz erra<strong>do</strong>( ) Rouba( ) Assalta( ) Mata( ) Discriminam( ) Não têm direito a nada( ) Discriminam as<br />
crianças( ) Que ele só faz o erro( ) Querem agredir o menor( ) Não dão confiança( ) Não aceita( ) Não<br />
apostam( ) Pensam que ele só erra( ) Não quer por perto( ) Pensa que ele só faz o mal( ) Tem me<strong>do</strong>( )<br />
Tem cuida<strong>do</strong>( ) Sai de perto( ) Rouba as coisas( ) Não deseja nada de bom pra ele( ) Uma pessoa<br />
qualquer( ) Querem fazer o mal( ) Ban<strong>do</strong> de monstros( ) Não merece direito a nada( ) Querem colocar ele no<br />
xadrez( ) Querem logo matar ele( ) Não aceita( ) Teme( ) Não quer confiar( ) Não tem merecimento( )<br />
Menino perdi<strong>do</strong>( ) Critica( ) Difícil( ) Não quer saber( ) Tem me<strong>do</strong>( ) Acha traiçoeiro( ) Pode atacar( )<br />
Malha( ) Malda( ) Julga( ) Bichos( ) Principalmente a alta sociedade( ) Marginal( ) Fica julgan<strong>do</strong>( ) O filho<br />
dela é ladrão( ) Condenam( ) A mãe não liga( ) To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> me olha( ) Diz coisas ruins( ) Coisas más( )<br />
Diz que é marginal( ) Pensa o que não é( ) Pensa coisa errada( ) Bota o nome dele em to<strong>do</strong> canto( ) Só<br />
pensa mal( ) Quer que ele fique preso direto( ) Tranca<strong>do</strong>( ) Acha que ele não se recupera( ) Não aposta<br />
mais( ) Que to<strong>do</strong>s são iguais( ) To<strong>do</strong>s ruins( ) Torce pra ele morrer( ) Diz que ele só anda no erro( ) Seu<br />
caminho deve ser a morte( ) Só diz isso( ) Me<strong>do</strong>( ) Quan<strong>do</strong> vê um a<strong>do</strong>lescente mal vesti<strong>do</strong> e sujo, guarda<br />
logo a bolsa( ) Guarda as coisas( ) Muito me<strong>do</strong>( ) Pensa assim( ) Não gosta( ) Não quer ver( ) Que não<br />
muda nunca( ) Eles não mudam( ) Dali pra pior( ) Muita raiva( ) Não sabe a reação dele( ) Vagabun<strong>do</strong>( )<br />
Monstro¨.
f) Distribuição das unidades de análise temáticas <strong>sobre</strong> EXPRESSÕES<br />
SUBJETIVAS<br />
SENTIMENTOS<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“Gostaria que minha mãe fosse mais feliz( ) Me sinto egoísta( ) Minha família sofre( ) Eu sofro aqui( ) As<br />
pessoas que gostam de mim sofren<strong>do</strong>( ) É ruim viver aqui( ) É ruim viver preso( ) Eu sinto viver a metade da<br />
minha a<strong>do</strong>lescência preso( ) Eu sofro por estar puni<strong>do</strong>( ) É muito ruim isto( ) Eu me emociono com a minha<br />
mãe( ) Eu tenho saudade dela( ) Ela pensa em mim e nem come direito( ) O menor fica com mais raiva( ) O<br />
menor fica <strong>do</strong>idinho( ) Fica cheio de raiva( ) Fica cheio de <strong>do</strong>r( ) Porque aqui, ave maria, é muito ruim( ) É<br />
muito triste ser infrator( ) A família muitas vezes se sente incapaz de ajudar e sofre”<br />
Mães<br />
“Eu acho triste ver um a<strong>do</strong>lescente droga<strong>do</strong>( ) É uma tristeza( ) Doloroso( ) Muita <strong>do</strong>r( ) É muito difícil pra<br />
mim( ) Sofro muito com isso( ) Faço sacrifício pra acompanhar ele aqui( ) É horrível ver ele preso( ) Eu<br />
sofro( ) As mães sofrem( ) Os pais sofrem quan<strong>do</strong> vêem o filho na pior( ) Esse menino sempre foi muito<br />
trabalhoso( ) Estou cansada de lutar com ele( ) Ele nunca obedece( ) Cansaço( ) Eu sinto pesa<strong>do</strong>( ) É um<br />
peso( ) Eu estou pra morrer( ) Eu canso de tentar( ) É muito pesa<strong>do</strong> mesmo( ) Pra mim é uma tristeza( )<br />
Um sofrimento( ) Desde que aconteceu isso eu vivo assim( ) Esse é meu maior sofrimento( ) A minha <strong>do</strong>r( )<br />
Uma <strong>do</strong>r grande( ) Só sabe quem passa o mesmo( ) Hoje eu tô sofren<strong>do</strong> e ele também( ) Ele sabe que eu tô<br />
sofren<strong>do</strong>( ) A gente fica magoada( ) A mãe fica sentida( ) Nem sabe mais o que faz( ) Eu cansei de dar lição<br />
a ele( ) A mãe leva culpa( ) Se sente culpada( ) Eu não tenho culpa se ele é assim( ) Tenho é vergonha( )<br />
Muita vergonha( ) A pessoa fica angustisada( ) Preocupada( ) A pessoa fica <strong>do</strong>ente( ) Triste( ) Tanto amor<br />
eu dei pra ele( ) Uma peça rara que saiu de dentro de mim( ) Foi um golpe( ) Um choque maior <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>( )<br />
Como se eu tivesse leva<strong>do</strong> uma facada( ) A polícia quase mata meu filho( ) Foi um choque horrível( ) É a<br />
maior <strong>do</strong>r( ) Pra mim e pra todas as mães daqui( ) Preocupada( ) Muita preocupação( ) Sofrimento vivo( )<br />
Muito magoa<strong>do</strong>( ) Pra mim é o fim( ) Um golpe miserável( ) Não suporto ver ele nessa vida( ) É uma cruz<br />
que carrego( ) Os pais sofrem demais( ) Tá sen<strong>do</strong> muito difícil( ) Uma dureza de vida( ) Acho isso uma<br />
<strong>do</strong>r( ) Nunca imaginei andar por certos cantos( ) Tô lutan<strong>do</strong> muito( ) Oran<strong>do</strong>( ) Peço ajuda de Deus( ) Me<br />
dê força( ) Eu me sinto mal( ) A vida ficou pior pra nós( ) Esse prejuízo me faz sofrer( ) É um martírio( ) Meu<br />
maior desgosto( ) Meu coração dói com essa arrumação( ) É muito ruim passar por isso( ) As coisas tá muito<br />
difícil( ) É ruim demais( ) Nós não temos paz( ) Me falta paz( ) Me falta alegria( ) Quase não acredito que<br />
meu filho ia ser um menor desses( ) Eu sofro to<strong>do</strong> dia( ) Ninguém sabe o tanto( ) Só Deus tem misericórdia<br />
de nós( ) É uma coisa horrível pra família( ) Minha família sofre( ) Porque a família também sofre( ) É muita<br />
vergonha( ) Humilhação”<br />
PENSAMENTOS<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
“Ninguém é obriga<strong>do</strong> ser o mesmo( ) A gente muda o mo<strong>do</strong> de pensar( ) Negócio de confusão leva ninguém<br />
a nada( ) O nêgo tá tu<strong>do</strong> no mesmo barco( ) Aqui o nêgo tem que ser irmão( ) Amigo é o pai e a mãe da<br />
gente( ) Ninguém é diferente de ninguém( ) Ninguém é mais que ninguém( ) Ninguém sabe mais que<br />
ninguém( ) Não concor<strong>do</strong> com a discriminação( ) Tem muita droga no mun<strong>do</strong>( ) Muito infrator tá aqui de<br />
inocente( ) Não sei o que pode acontecer daqui pra frente( ) Na liberdade o cara deve refletir( ) Não vale a<br />
pena usar droga( ) Ato infracional é uma coisa negativa( ) O mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime não leva ninguém a nada( ) A<br />
pessoa tem valor( ) Ato infracional é viver no mun<strong>do</strong> das drogas( ) Tem muitos fora que era pra tá qui( ) Tem<br />
muitos aqui que era pra tá lá fora( ) É preciso procurar emprego( ) O mun<strong>do</strong> é mais de a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> que<br />
de adultos( ) O a<strong>do</strong>lescente devia ter mais paz( ) Deixar as drogas( ) Se unir à família( ) Se você sair daqui<br />
e não mudar, não muda nunca( ) Aquilo que a gente faz atinge muito nosso futuro( )Muitas vezes<br />
prejudica( ) Com experiência vai aprenden<strong>do</strong>( ) Se não aprender o mun<strong>do</strong> ensina( ) Acho que 6 meses não<br />
ajeita ninguém( ) 2 anos é tempo suficiente pro a<strong>do</strong>lescente se erguer( ) Erguer a cabeça e mudar de vida( )<br />
Na internação, qualquer coisa pode acontecer a to<strong>do</strong> momento( ) Não tem ninguém melhor <strong>do</strong> que<br />
ninguém( ) Aqui a gente tem tempo pra pensar muito( ) Pensa como arranjar um emprego lá fora( ) Na<br />
internação o cara fica sem usar droga( ) Só comen<strong>do</strong> e <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>( ) Estudan<strong>do</strong>( ) Trabalhan<strong>do</strong> também( )<br />
Eles ensinam a pessoa a pensar a sua vida( ) Muitos aprendem a lição”
Mães<br />
“ É importante que eles mudem( ) O diálogo é importante( ) Antigamente era fácil lutar com os filhos( ) Hoje<br />
filho não obedece mais( ) As mães lutam pra educar os filhos( ) Muitos têm lugar de pai e mãe( ) As mães<br />
sempre educam seus filhos( ) Eu tenho 9 filhos( ) Eu respon<strong>do</strong> por pai e mãe( ) A mãe precisa trabalhar( )<br />
As mães dão conselho pro bem( ) A mãe sempre quer o bem <strong>do</strong> filho( ) Muitos filhos mudam( ) As vezes a<br />
mãe cria o filho sem pai( ) A gente só pode ser julgada por Deus( ) Na terra só quem pode julgar é o Juiz( )<br />
Como ser humano a gente é um pedaço de carne( ) Não pode julgar os outros( ) Esse mun<strong>do</strong> não tem o que<br />
dar pro a<strong>do</strong>lescente( ) Se o mun<strong>do</strong> novo não der o mun<strong>do</strong> velho não dá( ) Aqui eles misturam to<strong>do</strong>s os<br />
a<strong>do</strong>lescentes( ) Eles colocam to<strong>do</strong>s num canto só( ) Não separam os maior <strong>do</strong>s menor( ) Tirar a vida de uma<br />
pessoa é crime( ) Crime merece castigo( ) Muitos a<strong>do</strong>lescentes erram( ) Eles fazen<strong>do</strong> essas coisas e vin<strong>do</strong><br />
pra um colégio desses não leva vantagem( ) Toda sociedade é culpada de tu<strong>do</strong> isso”