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2º Centenário das Invasões Francesas

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uma questão de conseguir emprego para os milhares de burocratas, acabados de chegar<br />

do Reino, do que propriamente para servir as necessidades do Brasil.<br />

No entender do sociólogo Raymundo Faoro, os fidalgos de alta linhagem e que<br />

dispunham de bens próprios de vida não acompanharam, salvo raras excepções, o<br />

Príncipe Regente. A maior parte, «a chusma de satélites: monsenhores,<br />

desembargadores, legistas, médicos, empregados da Casa Real, os homens do serviço<br />

privado e protegidos de D. João, eram vadios e parasitas que continuariam no Rio de<br />

Janeiro o ofício exercido em Lisboa: comer à custa do Estado e nada fazer para o bem<br />

da nação». Em jeito de parêntesis, direi que esta “coisa” de comer à mesa, ou à conta<br />

do orçamento, e não dar a cabeça ou o corpo ao “manifesto”, parece, repito, parece, não<br />

me ser de todo estranha e, se calhar, nestes nossos tempos, já em edição… “correcta” e<br />

“aumentada”.<br />

Diga-se a este propósito, que também a fraude, o enriquecimento ilícito, enfim a<br />

corrupção, eram situações “normais” por todo o nosso império, embora tenham surgido<br />

de forma mais notória na nova capital portuguesa devido à entrada súbita de milhares<br />

de burocratas, criando, assim, condições favoráveis, especialmente às pessoas liga<strong>das</strong> à<br />

Corte, para abusos e acumulação de várias fortunas cuja origem não podia oferecer<br />

quaisquer dúvi<strong>das</strong>. Apenas dois exemplos bem significativos: Joaquim José de<br />

Azevedo, o tesoureiro da Casa Real que, em Novembro de 1807, organizou o embarque<br />

da nobreza e familiares do Príncipe Regente para o Brasil, enriqueceu tão rapidamente<br />

que se tornou banqueiro da Corte, chegando a fornecer «um empréstimo sem juros ao<br />

tesouro…que enchia cinco carruagens cheias de prata e onze escravos carregados de<br />

ouro». Bento Maria Targini, de origem italiana, iniciou o serviço público num cargo<br />

menor da burocracia, porém, sendo inteligente e organizado foi nomeado escriturário<br />

do Real Erário. Ao conseguir tornar-se muito próximo de D. João e de D. Carlota<br />

Joaquina, e convivendo na intimidade da Família Real, depressa chegou ao topo da<br />

referida repartição, sendo o encarregado de administrar as finanças públicas, o que<br />

incluía todos os contratos e pagamentos da Corte. Aqui, de facto… a ocasião fez o<br />

ladrão.<br />

O poder de Azevedo e Targini, nos seus departamento era tal, que ambos foram<br />

promovidos, pelo Príncipe Regente, de barão a visconde. Esta situação, como não podia<br />

deixar de ser, foi aproveitada pela proverbial “gozação” dos “cariocas”:<br />

«Quem furta pouco é ladrão<br />

Carlos Jaca A Corte Portuguesa no Brasil 17

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