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2º Centenário das Invasões Francesas

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Mesmo antes da chegada da frota, pouco tempo antes da sua entrada na Baía de<br />

Guanabara, a notícia de que a comitiva se dirigia para o Rio de Janeiro, pôs o Vice –<br />

Rei, Conde dos Arcos, em alvoroço que, perante a falta crónica de casas, determinou<br />

medi<strong>das</strong>, algumas delas considera<strong>das</strong> violentas, requisitando edifícios públicos e<br />

particulares, bem como desalojando, por vezes, os seus legítimos proprietários e<br />

inquilinos. Aqueles que ocupavam as melhores casas foram intimados a largar mão<br />

delas aos fidalgos e mais senhores da comitiva real, ordenando que se afixassem nesses<br />

prédios editais para o despejo sumário, escrevendo a giz, nas portas, as iniciais P. R.<br />

(Príncipe Regente), que a ironia popular, em breve, começou a interpretar como<br />

«Ponha-se na Rua», ou «Prédio Roubado». Era o odiado regime de “aposentadoria”.<br />

Hipólito da Costa, editor do «Correio Braziliense» (jornal que se publicava em<br />

Inglaterra), sem “papas” na língua, afirmava que o sistema de “aposentadorias” era um<br />

regulamento anacrónico, desfasado, «medieval», um «ataque directo ao sagrado<br />

direito de propriedade», que «poderia tornar o novo governo num Brasil odioso para o<br />

seu povo». Com efeito, era uma lei rudimentar, uma espécie de recolonização, uma<br />

nova onda de colonos a substituir os antigos.<br />

O recurso ao famigerado regime <strong>das</strong> requisições e da “aposentadoria”, não<br />

deixou de, a curto prazo, agravar a crise. Como muitas casas eram requisita<strong>das</strong> sem<br />

mais explicações, não eram poucos aqueles que suspendiam os planos para a<br />

construção de novos prédios, retirando os seus investimentos da cidade, havendo,<br />

também, proprietários que paralisavam as obras, ou defendendo-se, «simulando ou<br />

mesmo realizando obras perfeitamente dispensáveis nas suas residências. Obras<br />

eternas […] nas quais os andaimes passavam a constituir parte integrante <strong>das</strong><br />

facha<strong>das</strong>, paredes que nunca mais se levantavam ou derrubavam, e nos telhados havia<br />

sempre um ou outro reparo a fazer». Outros, ainda, faziam-se desentendidos e não<br />

davam andamento aos pedidos do Governo.<br />

Obviamente, que os habitantes locais, como se prova pelos seus testemunhos,<br />

não viam com bons olhos este serviço que lhes era pedido; além de se tratar de uma<br />

arbitrariedade, os novos moradores não só regateavam o preço <strong>das</strong> ren<strong>das</strong>, como<br />

também consideravam as moradias mal construí<strong>das</strong> e desconfortáveis. E, assim, se iam<br />

criando ressentimentos em relação aos recém-chegados, os quais abusando do sistema<br />

de “aposentadorias” manifestavam-se arrogantes, prepotentes e até violentos. Como a<br />

gente de maior nobreza e distinção necessitava de grandes casas para se instalar, era<br />

forçoso despejar duas ou três. D. Gabriela de Sousa Coutinho, esposa do ministro,<br />

Carlos Jaca A Corte Portuguesa no Brasil 11

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