Ler - Hospital de Santa Maria
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III Reunião <strong>de</strong><br />
Doentes com<br />
Angioe<strong>de</strong>ma<br />
Hereditário<br />
<strong>Hospital</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong><br />
<strong>Maria</strong> – Centro<br />
<strong>Hospital</strong>ar Lisboa<br />
Norte<br />
Texto:<br />
Carlos Gamito<br />
carlos.gamito@hsm.min-sau<strong>de</strong>.pt<br />
Paginação e Fotografia:<br />
Gabinete <strong>de</strong> Comunicação e<br />
Relações Públicas<br />
gab.com@hsm.min-sau<strong>de</strong>.pt
O Prof. Doutor Manuel Pereira Barbosa, Director do Serviço <strong>de</strong> Imunoalergologia do Centro <strong>Hospital</strong>ar Lisboa<br />
Norte, abriu a sessão <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong>sta III Reunião <strong>de</strong> Doentes com Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário, on<strong>de</strong> salientou a<br />
inestimável participação das Associações <strong>de</strong> Doentes nos processos <strong>de</strong> acompanhamento dos pacientes. «A<br />
Associação <strong>de</strong> Doentes com Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário, tem-se mostrado um forte contributo para o Serviço<br />
Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> em geral e em particular para o Serviço <strong>de</strong> Imunoalergologia do Centro <strong>Hospital</strong>ar Lisboa<br />
Norte», afirmou o Director do Serviço<br />
O Serviço <strong>de</strong> Imunoalergologia do <strong>Hospital</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Maria</strong> – Centro <strong>Hospital</strong>ar Lisboa<br />
Norte, promoveu e organizou a III Reunião <strong>de</strong> Doentes com Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário.<br />
O evento, amplamente participado por doentes e ou familiares dos que pa<strong>de</strong>cem <strong>de</strong>sta<br />
doença rara – existirão cerca <strong>de</strong> duzentos doentes em Portugal –, <strong>de</strong>correu no <strong>Hospital</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Maria</strong> e teve lugar no pretérito dia 16 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2012.<br />
O Prof. Doutor Manuel Pereira Barbosa, Director do Serviço <strong>de</strong> Imunoalergologia do<br />
Centro <strong>Hospital</strong>ar Lisboa Norte, iniciou os trabalhos com uma breve intervenção on<strong>de</strong><br />
salientou que “todos precisam <strong>de</strong> todos”, e dirigindo-se às mais <strong>de</strong> seis <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />
pessoas presentes no anfiteatro, frisou que – aten<strong>de</strong>ndo à rarida<strong>de</strong> do Angioe<strong>de</strong>ma<br />
Hereditário – cabe aos cidadãos ajudar os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do Serviço Nacional <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong>.<br />
Antes <strong>de</strong> terminar, o Professor Manuel Barbosa <strong>de</strong>ixou bem vincada a importância das<br />
Associações <strong>de</strong> Doentes, na circunstância a ADAH – Associação <strong>de</strong> Doentes com<br />
Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário, pelos inestimáveis contributos que prestam aos doentes em<br />
geral e ao Serviço <strong>de</strong> Imunoalergologia em particular.
Hospitais Regionais sem fármacos para acudir às crises <strong>de</strong><br />
Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário<br />
O Dr. Pedro Silva, médico interno da especialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Imunoalergologia, um dos intervenientes da reunião,<br />
participou com a prestação <strong>de</strong> informações no <strong>de</strong>bate aberto a todos os doentes e ou familiares presentes<br />
Na reunião, conduzida pelo Prof. Doutor Manuel Branco Ferreira, Assistente Graduado do<br />
Serviço <strong>de</strong> Imunoalergologia do <strong>Hospital</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Maria</strong> – Centro <strong>Hospital</strong>ar Lisboa<br />
Norte, para além das apresentações feitas por internos e médicos especialistas em<br />
Imunoalergologia afectos ao mesmo Serviço, foi criado um espaço para <strong>de</strong>bate<br />
preenchido por questões colocadas pelos doentes e ou familiares presentes.<br />
Registámos a intercessão <strong>de</strong> uma paciente resi<strong>de</strong>nte em Leiria que, manifestamente<br />
indignada, alertou para o facto <strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> existirem quatro doentes com<br />
Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário, todavia, o hospital local – <strong>Hospital</strong> <strong>de</strong> Santo André – não dispõe<br />
– afirmou – <strong>de</strong> nenhum dos fármacos existentes no mercado, o que, em situações <strong>de</strong><br />
crise, os obriga (aos doentes) a recorrerem aos Hospitais da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra.<br />
Perante este preocupante quadro, a Dra. Inês Pessoa, Presi<strong>de</strong>nte da ADAH, interveio<br />
para informar que a Associação tem, assiduamente, en<strong>de</strong>reçado cartas a todos os<br />
hospitais do País no sentido <strong>de</strong> sensibilizar as Instituições a munirem-se dos respectivos<br />
medicamentos, e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u mesmo que os doentes <strong>de</strong>viam ter acesso directo à<br />
medicação para, nas situações <strong>de</strong> crise, provi<strong>de</strong>nciarem <strong>de</strong> imediato à sua administração.
Distribuídos cartões informatizados com todo o historial clínico<br />
dos doentes<br />
Esta III Reunião <strong>de</strong> Doentes com Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário foi patenteada pela entrega,<br />
aos doentes, <strong>de</strong> um cartão informatizado (tipo Multibanco) que armazena todo o historial<br />
clínico do paciente, documento que suporta e disponibiliza toda a informação sobre os<br />
procedimentos a observar por parte da classe médica, sempre que o doente acorra a um<br />
Serviço <strong>de</strong> Urgência <strong>Hospital</strong>ar.<br />
Recordamos que por se tratar <strong>de</strong> uma doença rara, nem todos os médicos estão<br />
documentados acerca dos cuidados a prestar, o que evi<strong>de</strong>ncia a importância dos cartões<br />
ora distribuídos.<br />
O que é o Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário? Esta a primeira pergunta<br />
que colocámos ao Prof. Doutor Manuel Branco Ferreira<br />
O Prof. Doutor Manuel Branco Ferreira, Assistente Graduado do Serviço <strong>de</strong> Imunoalergologia do <strong>Hospital</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Santa</strong> <strong>Maria</strong> – Centro <strong>Hospital</strong>ar Lisboa Norte, <strong>de</strong>ixou uma clara explicação sobre a doença rara – Angioe<strong>de</strong>ma<br />
Hereditário – que em Portugal atinge entre cento e setenta a duzentas pessoas<br />
O que é o Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário? Foi esta a pergunta que colocámos ao Prof. Doutor<br />
Manuel Branco Ferreira. Atentemos à sua pormenorizada e documentativa explicação: «O
Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário é uma doença <strong>de</strong> base genética em que existe um défice <strong>de</strong> uma<br />
<strong>de</strong>terminada proteína (C1 inibidor), que se mostra <strong>de</strong> extrema importância. E <strong>de</strong> extrema<br />
importância porquê? Porque é essa proteína que regula a activida<strong>de</strong> do complemento,<br />
sendo que o complemento é um sistema <strong>de</strong> resposta à agressão que, entre outros<br />
efeitos, quando activado, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia vasodilatação e e<strong>de</strong>ma (inchaço). Ou seja, quando<br />
sofremos um qualquer traumatismo, uma das respostas é o inchaço, para o qual<br />
contribui a activação do complemento e a activação <strong>de</strong> outras substâncias <strong>de</strong>nominadas<br />
cininas, das quais a bradicinina é a mais importante. Ora, aten<strong>de</strong>ndo a que existe um<br />
<strong>de</strong>feito genético, os doentes não têm, ou em quantida<strong>de</strong> ou em qualida<strong>de</strong>, a proteína C1<br />
inibidor, ficando por isso susceptíveis a incharem <strong>de</strong>scontroladamente». Ante a nossa<br />
questão sobre a função da referida proteína, o Professor especificou: «Essa proteína faz o<br />
“contrabalanço” da activação do complemento, impedindo uma excessiva activação <strong>de</strong>sse<br />
sistema (que po<strong>de</strong> ser causada por traumatismos, infecções ou mesmo por episódios <strong>de</strong><br />
stress) e, por isso, impedindo um inchaço <strong>de</strong>scontrolado, através <strong>de</strong> uma regulação<br />
muito eficaz». O Professor Manuel Branco Ferreira, nitidamente empenhado em <strong>de</strong>ixar<br />
um esclarecimento perceptível sobre esta doença rara <strong>de</strong>scrita pela primeira vez no<br />
século XIX então <strong>de</strong>nominada E<strong>de</strong>ma Angioneurótico ou E<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> Quincke, continuou:<br />
«Quando um doente não tem a proteína, perante qualquer pequena circunstância que<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ie uma inflamação, o e<strong>de</strong>ma progri<strong>de</strong> <strong>de</strong>scontroladamente po<strong>de</strong>ndo provocar<br />
uma enorme <strong>de</strong>formação da cara, das mãos e dos pés. Também po<strong>de</strong> atingir a pare<strong>de</strong><br />
dos intestinos, o que causa imensa dor pela pressão abdominal, no entanto, o e<strong>de</strong>ma<br />
mais perigoso verifica-se quando a laringe é atingida, o que po<strong>de</strong> provocar asfixia e levar<br />
o doente à morte».<br />
Os sintomas do Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário<br />
Instado sobre os sintomas mais comuns do Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário, o Professor Manuel<br />
Branco Ferreira foi preciso: «Os sintomas <strong>de</strong>sta patologia assentam fundamentalmente<br />
nos inchaços recorrentes, com maior incidência na face e nas extremida<strong>de</strong>s – mãos, pés<br />
e genitais externos –, no entanto outros sintomas po<strong>de</strong>m ocorrer, nomeadamente na<br />
zona abdominal, sendo as manifestações mais típicas as dores abdominais, vómitos e<br />
nalguns casos diarreia. Por outro lado também po<strong>de</strong>m aparecer sintomas a nível das vias<br />
aéreas superiores com o aparecimento da língua inchada, a glote igualmente inchada,<br />
por vezes associada a alguma rouquidão ou sensação <strong>de</strong> asfixia. Estas são as<br />
manifestações mais comuns da doença, e agora perguntar-me-á: mas o que torna essas<br />
manifestações indicadoras do diagnóstico <strong>de</strong> Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário? Primeiro, a sua<br />
recorrência; segundo, o seu <strong>de</strong>saparecimento espontâneo em dois a cinco dias. Pessoas<br />
que apresentem estas crises com repetições, mesmo que não haja casos na família,
<strong>de</strong>vem ser investigadas no sentido <strong>de</strong> procurar diagnosticar precocemente o Angioe<strong>de</strong>ma<br />
Hereditário».<br />
Num olhar lançado às causas hoje conhecidas das crises do Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário, o<br />
Professor Manuel Branco Ferreira apontou o stress, os traumatismos, as infecções, alguns<br />
medicamentos como os fármacos anti-hipertensores, as alterações hormonais incluindo a<br />
contracepção através <strong>de</strong> pílulas com estrogénios, que, segundo este médico especialista,<br />
são os principais factores <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adores <strong>de</strong> crises <strong>de</strong> Angioe<strong>de</strong>ma.<br />
“As aparências nem sempre correspon<strong>de</strong>m às realida<strong>de</strong>s”<br />
E terminámos esta ilustrativa conversa com o Prof. Doutor Manuel Branco Ferreira com<br />
uma mensagem en<strong>de</strong>reçada a todos os seus colegas que eventualmente não conheçam o<br />
comportamento do Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário: «Devo começar por alertar os meus colegas<br />
que, perante um quadro <strong>de</strong> angioe<strong>de</strong>ma, não pensem imediatamente que estão perante<br />
uma reacção alérgica. Se o doente diz que não é alergia e é portador <strong>de</strong> informação<br />
clínica, essa informação <strong>de</strong>ve ser cuidadosamente lida. Nessa mesma informação estão<br />
explicados todos os procedimentos a ter». E o Professor reforçou: «Por vezes as<br />
aparências nem sempre correspon<strong>de</strong>m às realida<strong>de</strong>s. Aquilo que po<strong>de</strong> parecer crises<br />
recorrentes <strong>de</strong> uma simples alergia ou <strong>de</strong> dor abdominal, po<strong>de</strong> na realida<strong>de</strong> tratar-se<br />
<strong>de</strong>sta doença rara. Caberá ao médico assistente consi<strong>de</strong>rar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar ante<br />
um caso que <strong>de</strong>ve ser referenciado à Alergologia».<br />
Palavras da Dra. Inês Pessoa, Presi<strong>de</strong>nte da Associação dos<br />
Doentes com Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário<br />
A Dra. Inês Pessoa, Presi<strong>de</strong>nte da ADAH – Associação <strong>de</strong> Doentes com Angioe<strong>de</strong>ma<br />
Hereditário, manifestamente empenhada no cargo em que foi investida, começou por nos<br />
informar que a Associação foi formalmente criada no dia 2 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2010.Instada<br />
sobre os <strong>de</strong>sígnios da ADAH, a sua Presi<strong>de</strong>nte foi objectiva: «À Associação <strong>de</strong> Doentes<br />
com Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário, cabe, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, a divulgação da doença junto dos<br />
doentes, dos seus familiares e também dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, não só da<br />
especialida<strong>de</strong> médica que nos assiste, como dos clínicos que não integrem a<br />
especialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Imunoalergologia».<br />
De acordo com a Dra. Inês Pessoa, as acções interventivas da ADAH junto dos doentes<br />
agregam todo o tipo <strong>de</strong> informação acerca da doença, dos tratamentos disponíveis e dos<br />
procedimentos a observar perante qualquer situação que envolva esta rara patologia.
E adiantou-nos a Presi<strong>de</strong>nte da Associação: «Paralelamente, a Associação tem vindo a<br />
<strong>de</strong>senvolver várias diligências no sentido <strong>de</strong> todos Hospitais e Centros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do País<br />
procurarem estar aprovisionados com as terapêuticas a<strong>de</strong>quadas à doença, o que<br />
lamentavelmente ainda não acontece. Só os Hospitais Centrais – Lisboa, Porto e Coimbra<br />
– dispõem dos fármacos necessários, mas é importante lembrar que os nossos doentes<br />
não estão concentrados nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, mas sim distribuídos por todo o País».<br />
A Dra. Inês Pessoa, Presi<strong>de</strong>nte da ADAH – Associação <strong>de</strong> Doentes com Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário, mostrou-se<br />
nitidamente empenhada na causa que abraçou, a qual <strong>de</strong>senvolve todos os esforços no apoio aos doentes com<br />
Angioe<strong>de</strong>ma Hereditário, resi<strong>de</strong>ntes em Portugal