FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14
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distingue, tem seu lugar como ação preparatória para o comer, que deixa de existir como meta sexual. O ato preparatório se torna uma meta autônoma. A novidade em relação ao estágio anterior consiste essencialmente em que o órgão acolhedor passivo, separado da zona bucal, desenvolve-se na zona anal. Aqui se insinuam paralelos biológicos, ou a concepção das organizações prégenitais humanas como resíduos de estruturas que são mantidas em algumas classes de animais. É igualmente característica desse estágio a constituição do instinto de investigação [Forschertrieb] a partir de seus componentes. O erotismo anal não se faz notar particularmente. Sob influência do sadismo, o excremento trocou sua significação carinhosa pela ofensiva. Na transformação do sadismo em masoquismo intervém um sentimento de culpa, que aponta para processos de desenvolvimento em outras esferas que não a sexual. A sedução prolonga a sua influência, na medida em que mantém a passividade da meta sexual. Ela agora transforma uma boa porção do sadismo em sua contrapartida passiva, o masoquismo. É discutível que se possa imputar inteiramente à sedução a característica da passividade, pois a reação do bebê de um ano e meio à observação do coito já era predominantemente passiva. A coexcitação sexual manifestou-se numa evacuação, na qual, de todo modo, há que distinguir também uma participação ativa. Ao lado do masoquismo, que domina a sua tendência sexual e se manifesta em fantasias, também o sadismo continua a existir e se ocupa de pequenos animais. Sua pesquisa sexual começou a partir da sedução, atacando essencialmente dois problemas, a origem dos bebês e a possibilidade de perder o órgão genital, e entrelaçando-se às manifestações de seus impulsos instintuais. Ela dirige suas inclinações sádicas aos pequenos animais, como representantes das crianças pequenas. Conduzimos a descrição até a proximidade do quarto aniversário, momento em que o sonho faz agir a posteriori a observação, feita com um ano e meio, do coito. Os processos que então ocorrem não podemos apreender totalmente nem descrever suficientemente. A ativação da imagem, que devido ao maior desenvolvimento intelectual pode ser entendida, atua como um 96/311
acontecimento fresco, mas também como um novo trauma, uma interferência alheia, análoga à sedução. A organização genital desmantelada é restabelecida de uma só vez, mas o progresso efetuado no sonho não pode ser mantido. Ocorre antes, por um processo que podemos equiparar somente a uma repressão, a rejeição da coisa nova e sua substituição por uma fobia. Portanto, a organização sádico-anal subsiste também na fase de fobia de animal que então começa, mas fenômenos de angústia se acham a ela mesclados. A criança persiste nas ocupações sádicas e masoquistas, porém reage com angústia a uma parte delas; a conversão do sadismo em seu oposto provavelmente continua. Da análise do sonho angustiante concluímos que a repressão está ligada ao conhecimento da castração. O novo é recusado, porque sua aceitação custaria o pênis. Uma reflexão mais cuidadosa permite reconhecer talvez o seguinte: o que é reprimido é a atitude homossexual no sentido genital, que se formara sob a influência do conhecimento. Mas ela permanece então conservada, constituída como uma camada mais profunda e interditada. O motor dessa repressão parece ser a masculinidade narcísica do genital, que entra num conflito, há muito preparado, com a passividade da meta sexual homossexual. A repressão é então consequência da masculinidade. Nisso haveria a tentação de mudar uma parcela da teoria psicanalítica. Pois se tem como óbvio que é do conflito entre tendências masculinas e femininas, ou seja, da bissexualidade, que provêm a repressão e a formação de neuroses. Mas essa concepção tem lacunas. Das duas tendências sexuais conflitantes, uma é conforme ao Eu, a outra fere o interesse narcísico; por isso sucumbe à repressão. Nesse caso é também o Eu que desencadeia a repressão, em favor de uma das tendências sexuais. Em outros casos não existe um tal conflito entre masculinidade e feminilidade; há apenas uma tendência sexual que requer aceitação, mas vai de encontro a certos poderes do Eu, e por isso é ela mesma afastada. * Bem mais frequentes que conflitos no interior da sexualidade são os 97/311
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acontecimento fresco, mas também como um novo trauma, uma interferência<br />
alheia, análoga à sedução. A organização genital desmantelada é restabelecida<br />
de uma só vez, mas o progresso efetuado no sonho não pode ser mantido.<br />
Ocorre antes, por um processo que podemos equiparar somente a uma<br />
repressão, a rejeição da coisa nova e sua substituição por uma fobia.<br />
Portanto, a organização sádico-anal subsiste também na fase de fobia de animal<br />
que então começa, mas fenômenos de angústia se acham a ela mesclados.<br />
A criança persiste nas ocupações sádicas e masoquistas, porém reage com angústia<br />
a uma parte delas; a conversão do sadismo em seu oposto provavelmente<br />
continua.<br />
Da análise do sonho angustiante concluímos que a repressão está ligada ao<br />
conhecimento da castração. O novo é recusado, porque sua aceitação custaria<br />
o pênis. Uma reflexão mais cuidadosa permite reconhecer talvez o seguinte: o<br />
que é reprimido é a atitude homossexual no sentido genital, que se formara sob<br />
a influência do conhecimento. Mas ela permanece então conservada, constituída<br />
como uma camada mais profunda e interditada. O motor dessa<br />
repressão parece ser a masculinidade narcísica do genital, que entra num conflito,<br />
há muito preparado, com a passividade da meta sexual homossexual. A<br />
repressão é então consequência da masculinidade.<br />
Nisso haveria a tentação de mudar uma parcela da teoria psicanalítica. Pois<br />
se tem como óbvio que é do conflito entre tendências masculinas e femininas,<br />
ou seja, da bissexualidade, que provêm a repressão e a formação de neuroses.<br />
Mas essa concepção tem lacunas. Das duas tendências sexuais conflitantes, uma<br />
é conforme ao Eu, a outra fere o interesse narcísico; por isso sucumbe à<br />
repressão. Nesse caso é também o Eu que desencadeia a repressão, em favor de<br />
uma <strong>das</strong> tendências sexuais. Em outros casos não existe um tal conflito entre<br />
masculinidade e feminilidade; há apenas uma tendência sexual que requer<br />
aceitação, mas vai de encontro a certos poderes do Eu, e por isso é ela mesma<br />
afastada. * Bem mais frequentes que conflitos no interior da sexualidade são os<br />
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