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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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a excitação sexual apoiar-se originalmente no instinto de alimentação [Eßtrieb].<br />

Não cabe esperar manifestações diretas dessa fase, mas apenas indícios,<br />

quando sobrevêm perturbações. O dano ao instinto de alimentação — que<br />

naturalmente pode ter outras causas — nos leva a atentar para o fato de que o<br />

organismo não conseguiu dominar a excitação sexual. A meta sexual dessa fase<br />

só poderia ser o canibalismo, a devoração; ela aparece em nosso paciente mediante<br />

a regressão de um estágio mais alto, no medo de ser devorado pelo<br />

lobo. Esse medo tivemos que traduzir assim: ser possuído sexualmente pelo<br />

pai. Sabe-se que em época bem mais adiantada, em meninas que estão na puberdade,<br />

há uma neurose que exprime a recusa sexual mediante a anorexia; é<br />

lícito estabelecer sua relação com essa fase oral da vida sexual. No auge do<br />

paroxismo amoroso (“se eu pudesse te comeria, de tanto amor”) e no trato<br />

carinhoso com crianças pequenas, em que o próprio adulto tem gestos infantis,<br />

surge novamente a meta amorosa da organização oral. Em outra passagem formulei<br />

a conjectura de que o pai de nosso paciente teria usado o “insulto afetuoso”,<br />

teria brincado de lobo ou de cão com o pequeno, e ameaçado comê-lo de<br />

brincadeira (p. 46). Tal suposição foi confirmada pela singular conduta do paciente<br />

na transferência. Toda vez que, ante as dificuldades do tratamento, ele<br />

se refugiava na transferência, ameaçava com a devoração e depois com todos<br />

os maus tratos possíveis, o que era apenas expressão de carinho.<br />

A linguagem corrente guardou algumas marcas dessa fase sexual oral; ela<br />

fala de um objeto de amor “gostoso”, chama de “doce” à amada. Recordamos<br />

que o nosso pequeno paciente só queria comer coisas doces. Nos sonhos, guloseimas<br />

e bombons representam habitualmente carícias, satisfações sexuais.<br />

Parece que também a essa fase corresponde uma angústia (em caso de distúrbio,<br />

naturalmente) que aparece como angústia ante a morte, e pode se ligar<br />

a tudo que é mostrado à criança como sendo apropriado. Em nosso paciente<br />

ela foi usada para conduzi-lo à superação de sua falta de apetite, e mesmo para<br />

a supercompensação desta. Chegaremos à possível fonte de seu distúrbio<br />

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