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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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Não sei se o leitor deste relato de uma análise conseguiu formar uma imagem<br />

nítida da gênese e evolução da doença de meu paciente. Receio que isso não<br />

tenha ocorrido. Mas, ainda que não costume defender minha arte expositiva,<br />

desta vez quero alegar circunstâncias atenuantes. É uma tarefa que nunca se<br />

empreendeu até agora, introduzir na descrição fases tão antigas e cama<strong>das</strong> tão<br />

profun<strong>das</strong> da vida anímica, e é melhor resolvê-la mal do que encetar a fuga diante<br />

dela, o que, além disso, pode envolver certos perigos para o timorato.<br />

Então é preferível mostrar, de maneira ousada, que não nos deixamos deter<br />

pela consciência de nossas inferioridades.<br />

O caso não era particularmente propício. O que possibilitou a riqueza de<br />

informações sobre a infância, o fato de que pudemos estudar a criança pela mediação<br />

do adulto, teve que ser obtido à custa de uma péssima fragmentação da<br />

análise e correspondentes defeitos de exposição. Particularidades pessoais, e<br />

um caráter nacional estranho ao nosso, tornaram mais trabalhosa a empatia. A<br />

distância entre a personalidade amável e afável do doente, sua aguda inteligência,<br />

nobre maneira de pensar, e sua vida instintual completamente indômita<br />

tornavam necessário um bem longo trabalho de educação e preparação, o que<br />

dificultou a visão do conjunto. Mas o paciente mesmo não teve nenhuma culpa<br />

da característica do caso que colocou os mais árduos problemas à descrição.<br />

Na psicologia do adulto chegamos felizmente ao ponto de dividir os processos<br />

psíquicos em conscientes e inconscientes, descrevendo-os em palavras claras.<br />

Na criança, essa distinção não nos leva muito longe. Com frequência é embaraçoso<br />

dizer o que deveríamos qualificar de consciente e de inconsciente.<br />

Processos que se tornaram dominantes, e que segundo seu comportamento<br />

posterior teriam de ser equiparados aos conscientes, não chegaram a se tornar<br />

conscientes na criança, porém. Pode-se facilmente compreender por que; na<br />

criança, o consciente ainda não ganhou to<strong>das</strong> as suas características, ainda está<br />

em desenvolvimento e não possui totalmente a capacidade de converter-se em<br />

representações verbais. A confusão, da qual normalmente somos culpados,<br />

entre o fenômeno do surgimento na consciência como percepção e a<br />

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