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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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Não ouso tomar uma decisão neste ponto. Devo dizer que já tenho em alta<br />

conta a psicanálise por haver chegado a colocar essas questões. Mas não posso<br />

negar que a cena com Grucha, o papel que lhe coube na análise e os efeitos que<br />

dela procederam na vida explicam-se do modo mais natural e mais completo se<br />

admitirmos a cena primária, que em outros casos pode ser uma fantasia, como<br />

realidade neste caso. Ela nada afirma de impossível, no fundo; a suposição de<br />

sua realidade condiz inteiramente com a influência estimulante da observação<br />

de animais, indicada pelos cães pastores da imagem onírica.<br />

Dessa conclusão insatisfatória passo para a questão que procurei tratar nas<br />

Conferências introdutórias à psicanálise. * Eu mesmo gostaria de saber se a cena<br />

primária de meu paciente era fantasia ou vivência real, mas, considerando outros<br />

casos análogos, é preciso dizer que na verdade não tem mais importância<br />

responder a isso. As cenas de observação do ato sexual entre os pais, de sedução<br />

na infância e de ameaça de castração são indubitavelmente patrimônio<br />

herdado, herança filogenética, mas podem também ser aquisição da vivência<br />

individual. Em meu paciente, a sedução pela irmã mais velha era uma realidade<br />

indiscutível; por que não igualmente a observação do coito dos pais?<br />

O que vemos na história primitiva da neurose é que a criança recorre a essa<br />

vivência filogenética, quando sua própria vivência não basta. Ela preenche as<br />

lacunas da verdade individual com verdade pré-histórica, põe a experiência<br />

dos ancestrais no lugar da própria experiência. No reconhecimento dessa herança<br />

filogenética estou inteiramente de acordo com Jung (A psicologia dos processos<br />

inconscientes, de 1917; uma obra que já não podia influenciar as minhas<br />

Conferências); mas considero um erro de método recorrer a uma explicação da<br />

filogênese antes de esgotar as possibilidades da ontogênese; não vejo razão<br />

para obstinadamente negar à pré-história infantil a importância que de boa<br />

vontade se concede à pré-história ancestral; não posso ignorar que os motivos<br />

e produções filogenéticos carecem eles mesmos de elucidação, que em toda<br />

uma série de casos pode vir da infância individual, e por fim não me<br />

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