FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14
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mutilada. O sonho diz claramente que ele se vingava de Grucha pela ameaça de castração. A ação do menino de dois anos e meio, na cena com Grucha, é o primeiro efeito da cena primária que chegamos a conhecer; ela o apresenta como cópia do pai e nos permite reconhecer uma tendência a desenvolver-se na direção que depois merecerá o nome de masculina. Pela sedução ele é empurrado a uma passividade que sem dúvida já é preparada por seu comportamento de espectador do enlace entre os pais. Ainda devo destacar, na história do tratamento, que após a assimilação da cena de Grucha, da primeira vivência de que ele podia realmente se lembrar, e da qual se lembrou sem minhas conjecturas e intervenções, tinha-se a impressão de que a tarefa da terapia estava cumprida. A partir de então não havia mais resistência, bastava apenas reunir e compor. A velha teoria do trauma, que afinal se baseava em impressões da prática psicanalítica, retornou subitamente à vigência. Por interesse crítico, ainda uma vez fiz a tentativa de impor ao paciente uma outra concepção de sua história, uma que fosse mais bemvinda ao senso comum. Da cena com Grucha não haveria o que duvidar, mas em si ela nada significaria, e teria sido reforçada depois, por regressão, pelos eventos da sua escolha de objeto, que devido à tendência ao rebaixamento passara da irmã para as criadas. A observação do coito, porém, seria uma fantasia de seus anos adultos, cujo cerne histórico poderia ter sido a observação ou a vivência de uma inocente lavagem. Talvez alguns leitores achem que somente com essas hipóteses eu teria me aproximado de uma compreensão do caso; o paciente me olhou perplexo e um tanto desdenhoso quando lhe expus essa concepção, e nunca mais reagiu a ela. Meus próprios argumentos contra uma tal racionalização já os desenvolvi acima [no cap. v]. [A cena * de Grucha não contém apenas as condições de escolha do objeto decisivas para a vida do paciente, guardando-nos assim do erro de superestimar a significação da tendência ao rebaixamento da mulher. Ela também pode 84/311
me justificar, quando me recusei a referir sem qualquer hesitação a cena primária a uma observação de animais feita pouco antes do sonho, como se fosse a única solução possível (p. 81). Ela emergiu na recordação do paciente de modo espontâneo e sem minha intervenção. A angústia ante a borboleta de listas amarelas, que a ela remontava, demonstrou que ela tivera um conteúdo significativo, ou que se tornara possível dotar retrospectivamente esse conteúdo de tal significação. Esse algo significativo, que faltava na recordação, podia seguramente ser obtido mediante os pensamentos espontâneos que com ela vinham e as conclusões que a ela se ligavam. Verificou-se então que o medo da borboleta era inteiramente análogo ao medo do lobo, em ambos os casos medo da castração, inicialmente relacionado à pessoa que primeiro havia proferido a ameaça, depois transferido para a outra, na qual tinha de se fixar de acordo com o modelo filogenético. A cena com Grucha ocorrera aos dois anos e meio, mas a vivência angustiante com a borboleta amarela, certamente depois do sonho angustiante. Era fácil entender que a compreensão posterior da possibilidade de castração desenvolvera a angústia a posteriori na cena com Grucha; mas a cena mesma não continha nada de chocante ou inverossímil, e sim pormenores absolutamente banais, de que não havia razões para duvidar. Nada convidava a referi-los a uma fantasia da criança; e tampouco isso parece possível. Surge agora a questão de se estamos autorizados a ver uma prova da excitação sexual do menino no fato de ele urinar estando de pé, enquanto a garota ajoelhada limpa o chão. Esta excitação testemunharia então a influência de uma impressão anterior, que tanto poderia ser efetivamente a cena primária como uma observação de animais anterior aos dois anos e meio. Ou aquela situação foi inteiramente inofensiva, a micção do menino puramente casual, e toda a cena foi sexualizada somente mais tarde na recordação, depois que situações semelhantes foram reconhecidas como plenas de sentido? 85/311
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me justificar, quando me recusei a referir sem qualquer hesitação a cena<br />
primária a uma observação de animais feita pouco antes do sonho, como se<br />
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de modo espontâneo e sem minha intervenção. A angústia ante a borboleta de<br />
listas amarelas, que a ela remontava, demonstrou que ela tivera um conteúdo<br />
significativo, ou que se tornara possível dotar retrospectivamente esse conteúdo<br />
de tal significação. Esse algo significativo, que faltava na recordação,<br />
podia seguramente ser obtido mediante os pensamentos espontâneos que com<br />
ela vinham e as conclusões que a ela se ligavam. Verificou-se então que o<br />
medo da borboleta era inteiramente análogo ao medo do lobo, em ambos os<br />
casos medo da castração, inicialmente relacionado à pessoa que primeiro havia<br />
proferido a ameaça, depois transferido para a outra, na qual tinha de se fixar de<br />
acordo com o modelo filogenético. A cena com Grucha ocorrera aos dois anos<br />
e meio, mas a vivência angustiante com a borboleta amarela, certamente depois<br />
do sonho angustiante. Era fácil entender que a compreensão posterior da<br />
possibilidade de castração desenvolvera a angústia a posteriori na cena com<br />
Grucha; mas a cena mesma não continha nada de chocante ou inverossímil, e<br />
sim pormenores absolutamente banais, de que não havia razões para duvidar.<br />
Nada convidava a referi-los a uma fantasia da criança; e tampouco isso parece<br />
possível.<br />
Surge agora a questão de se estamos autorizados a ver uma prova da excitação<br />
sexual do menino no fato de ele urinar estando de pé, enquanto a garota<br />
ajoelhada limpa o chão. Esta excitação testemunharia então a influência de<br />
uma impressão anterior, que tanto poderia ser efetivamente a cena primária<br />
como uma observação de animais anterior aos dois anos e meio. Ou aquela<br />
situação foi inteiramente inofensiva, a micção do menino puramente casual, e<br />
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semelhantes foram reconheci<strong>das</strong> como plenas de sentido?<br />
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