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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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época da neurose obsessiva, o que já tinha aprendido no decorrer do sonho e<br />

ao mesmo tempo afastado pela repressão. Também a circuncisão ritual de<br />

Cristo, como dos judeus em geral, deve ter chegado ao seu conhecimento,<br />

durante a leitura da história sagrada e as conversas sobre ela.<br />

É indubitável que por essa época o pai se tornou a figura aterradora que<br />

ameaça castrar. O Deus cruel com o qual lutava então, que deixa os homens se<br />

tornarem culpados para depois castigá-los, que sacrifica seu próprio filho e os<br />

filhos dos homens, projetava seu caráter de volta sobre o pai, que ele, por<br />

outro lado, buscava defender contra esse Deus. Nesse ponto o menino tem um<br />

esquema filogenético a cumprir, e chega a realizá-lo, ainda que suas vivências<br />

pessoais não harmonizem com ele. As ameaças ou alusões à castração que ele<br />

experimentou haviam partido de mulheres, 43 mas isso talvez não adiasse por<br />

muito tempo o resultado final. Foi mesmo do pai que ele temeu por fim a castração.<br />

Aqui a hereditariedade prevaleceu sobre as vivências acidentais; na<br />

pré-história da humanidade foi certamente o pai que praticou a castração como<br />

punição, e depois a mitigou, reduzindo-a à circuncisão. Quanto mais longe ele<br />

foi na repressão da sensualidade, 44 no curso do processo da neurose obsessiva,<br />

tanto mais natural deve ter se tornado para ele revestir o pai, o autêntico representante<br />

da atividade sensual, de tais intenções más.<br />

A identificação do pai com o castrador 45 foi significativa como fonte de intensa<br />

hostilidade inconsciente a ele, elevada até o desejo de morte, e também<br />

dos sentimentos de culpa que a ela reagiam. Até aqui ele se comportava normalmente,<br />

isto é, como todo neurótico possuído de um complexo de Édipo<br />

positivo. O curioso é que também havia nele uma contracorrente, em que o pai<br />

era antes o castrado, e como tal provocava sua compaixão.<br />

Na análise do cerimonial da respiração ao avistar mendigos, aleijados etc.,<br />

pude mostrar que também esse sintoma remontava ao pai, do qual ele sentira<br />

pena, ao visitá-lo doente no sanatório. A análise permitiu acompanhar esse fio<br />

ainda mais longe. Num período bem cedo, provavelmente antes da sedução<br />

(aos três anos e meio) havia na propriedade um pobre diarista, que tinha a<br />

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