19.04.2013 Views

FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

dispunha a aceitá-la e consolar-se com a feminilidade como substituto. A terceira,<br />

a mais antiga e profunda, que simplesmente rejeitara a castração, em que<br />

o juízo sobre a sua realidade não chegou à consideração, ainda podia certamente<br />

ser ativada. Desse mesmo paciente eu já comuniquei, em outro lugar, 40<br />

uma alucinação que teve aos cinco anos de idade, à qual apenas aditarei aqui<br />

um breve comentário:<br />

“Quando eu tinha cinco anos de idade, brincava no jardim ao lado de<br />

minha babá e com meu canivete fazia um corte na casca de uma <strong>das</strong><br />

nogueiras 41 que também aparecem no meu sonho. 42 De repente notei, com<br />

terror indizível, que havia cortado o dedo mínimo da mão (direita ou esquerda?),<br />

de forma que ele estava preso somente pela pele. Não sentia nenhuma<br />

dor, mas uma grande angústia. Não me atrevi a dizer nada à babá,<br />

que estava a poucos passos de distância; caí sobre o banco mais próximo e<br />

lá fiquei sentado, incapaz de olhar uma vez mais para o dedo. Finalmente<br />

me tranquilizei, dei uma olhada no dedo, e vi que estava ileso.”<br />

Sabemos que aos quatro anos e meio, após a instrução na História Sagrada,<br />

nele teve início aquele intenso trabalho de pensamento que resultou na devoção<br />

religiosa obsessiva. Podemos então supor que essa alucinação é do período<br />

em que ele se decidiu pelo reconhecimento da realidade da castração, e<br />

que ela talvez marcasse justamente esse passo. Também a pequena correção do<br />

paciente é de interesse. Se ele alucinou a mesma experiência apavorante que<br />

Tasso nos conta de seu herói Tancredo, em Jerusalém libertada, é justificável a<br />

interpretação de que também para meu pequeno paciente a árvore significava<br />

uma mulher. Nisso ele desempenhou então o papel do pai, e estabeleceu relação<br />

entre as hemorragias da mãe, que conhecia, e a castração <strong>das</strong> mulheres<br />

por ele reconhecida, a “ferida”.<br />

O estímulo para a alucinação do dedo cortado lhe foi dado, como ele relatou<br />

depois, pela história de um parente nascido com seis dedos no pé, que<br />

teve o membro excedente retirado com um machado. Então as mulheres não<br />

tinham pênis porque lhes era tirado ao nascer. Por esse caminho ele aceitou, na<br />

76/311

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!