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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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mesmo sentimento em relação a Deus que é expresso em termos inequívocos<br />

no sistema delirante do paranoico desembargador Schreber. *<br />

Quando eu relatar a última resolução de sintoma de meu paciente, mais<br />

uma vez se mostrará como o distúrbio no intestino se havia colocado a serviço<br />

da corrente homossexual e expressado a atitude feminina para com o pai. Um<br />

novo significado do excremento deve agora nos abrir o caminho para uma discussão<br />

do complexo ligado à castração.<br />

Na medida em que estimula a mucosa intestinal erógena, a coluna de excremento<br />

tem o papel de um órgão ativo dentro dela, comporta-se como o pênis<br />

em relação à mucosa vaginal e torna-se como que a precursora dele no período<br />

da cloaca. A entrega do excremento em favor (por amor) de alguém se torna,<br />

por sua vez, o modelo da castração, é o primeiro caso da renúncia a um pedaço<br />

do próprio corpo, 39 para ganhar o favor de alguém que se ama. De modo que o<br />

amor ao próprio pênis, narcísico em outros aspectos, não dispensa uma contribuição<br />

do erotismo anal. O excremento, a criança e o pênis formam portanto<br />

uma unidade, um conceito inconsciente — sit venia verbo [com permissão da<br />

palavra] —, o do pequeno separável do corpo. Por essas vias de ligação podem<br />

se efetuar deslocamentos e intensificações do investimento libidinal, que<br />

têm importância para a patologia e que são desvendados pela análise.<br />

Já nos é conhecida a atitude inicial do paciente para com o problema da castração.<br />

Ele a rejeitou e se ateve ao ponto de vista da união pelo ânus. Ao dizer<br />

que a rejeitou, o significado imediato da expressão é que não quis saber dela,<br />

no sentido de que a reprimiu. * Com isso não se pronunciava um juízo sobre a<br />

sua existência, mas era como se não existisse. Mas essa postura não podia ser a<br />

definitiva, nem mesmo no período de sua neurose infantil. Depois se encontram<br />

boas provas de que ele havia reconhecido a castração como um fato.<br />

Também nesse ponto ele se comportou como era peculiar à sua natureza, o que<br />

nos dificulta extraordinariamente a exposição e a empatia. Primeiro ele se rebelou<br />

e depois cedeu, mas uma reação não suprimiu a outra. Afinal coexistiam<br />

nele duas correntes opostas, <strong>das</strong> quais uma abominava a castração, e a outra se<br />

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