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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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dois irmãos estavam numa casa de saúde alemã, o pai dar duas grandes notas<br />

de dinheiro à irmã. Em sua fantasia, ele sempre suspeitara do pai com a irmã;<br />

naquele instante seu ciúme despertou, ele precipitou-se sobre a irmã, quando<br />

estavam sós, e exigiu sua parte do dinheiro com tal arrebatamento e tais recriminações,<br />

que ela lhe jogou tudo chorando. Não tinha sido apenas o dinheiro<br />

real que o irritara, mas antes de tudo a criança, a satisfação sexual anal<br />

pelo pai. Com esta ele pôde então se consolar, quando — o pai ainda vivo —<br />

morreu a irmã. Seu pensamento revoltante, à notícia da morte da irmã, não<br />

significava outra coisa senão: “Agora sou o único filho, agora o pai deve<br />

gostar apenas de mim”. Esta reflexão, perfeitamente suscetível de chegar à<br />

consciência, tinha porém um fundo homossexual tão intolerável, que o seu<br />

travestimento em sórdida avareza foi tornado possível como um grande alívio.<br />

Algo parecido ocorreu depois da morte do pai, quando ele fez aquelas injustas<br />

recriminações à mãe: de que ela queria fraudar-lhe o dinheiro, de que<br />

amava mais ao dinheiro que a ele. O velho ciúme de ela ter amado outro filho<br />

além dele, a possibilidade de haver desejado outro filho depois dele,<br />

arrastavam-no a incriminações cuja impropriedade ele mesmo reconhecia.<br />

Esta análise da significação <strong>das</strong> fezes nos torna claro, agora, que os<br />

pensamentos obsessivos que o levavam a estabelecer relação entre Deus e excremento<br />

significavam ainda outra coisa além da injúria que ele percebia neles.<br />

Eram autênticos produtos de compromisso, nos quais participavam tanto uma<br />

corrente terna, dedicada, como uma outra hostil, insultuosa. “Deus-fezes”<br />

[Gott-Kot] era provavelmente a abreviação de um oferecimento que também se<br />

ouve na vida diária, em forma não abreviada. “Cagar em Deus”, “cagar uma<br />

coisa para Deus” [auf Gott scheißen, Gott etwas scheißen] significa também dar a<br />

Ele de presente um filho, fazer Ele dar de presente um filho. A velha significação<br />

de presente, negativamente rebaixada, e a significação de criança, depois<br />

desenvolvida a partir dela, se acham combina<strong>das</strong> nos termos obsessivos.<br />

Na última se exprime uma ternura feminina, a disposição de renunciar à própria<br />

masculinidade, se em troca puder ser amado como mulher. Ou seja, o<br />

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