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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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tinham agora o significado de impulsos de ternura femininos, e o conservaram<br />

também durante a doença posterior.<br />

Neste lugar temos que ouvir uma objeção, cujo exame poderá contribuir<br />

muito para elucidar esta situação aparentemente confusa. Tivemos de supor<br />

que durante o sonho ele entendera que a mulher era castrada, que tinha no<br />

lugar do membro masculino uma ferida que servia para o ato sexual, que a castração<br />

era a condição para a feminilidade, e que devido à ameaça dessa perda<br />

ele reprimira a atitude feminina diante do homem e despertara com angústia<br />

do entusiasmo homossexual. Como harmonizar essa compreensão do ato sexual,<br />

esse reconhecimento da vagina, com a escolha do intestino para identificação<br />

com a mulher? Os sintomas intestinais não se baseiam na concepção<br />

provavelmente mais antiga, que contradiz inteiramente a angústia de castração,<br />

de que o ânus é o lugar da relação sexual?<br />

Certamente existe essa contradição, e as duas concepções não se harmonizam<br />

em absoluto. A questão é apenas se elas necessitam se harmonizar. Nossa<br />

estranheza vem de que sempre nos inclinamos a tratar os processos anímicos<br />

inconscientes tal como os conscientes, e a esquecer as diferenças profun<strong>das</strong><br />

entre os dois sistemas psíquicos.<br />

Quando a excitada expectativa do sonho de Natal lhe fez surgir a imagem<br />

da relação sexual outrora observada (ou construída) entre os pais, certamente<br />

se apresentou primeiro a antiga concepção do ato, segundo a qual a parte do<br />

corpo da mulher que recebia o membro era o ânus. E que mais poderia ele<br />

supor, sendo espectador dessa cena com um ano e meio? 34 Mas então veio o<br />

novo acontecimento, aos quatro anos de idade. Suas experiências desde então,<br />

as referências à castração que ouvira, despertaram e lançaram dúvida sobre a<br />

“teoria da cloaca”, aproximaram-no ao conhecimento da diferença entre os<br />

sexos e do papel sexual da mulher. Ele se comportou nisso como se comportam<br />

em geral as crianças, ao obter uma explicação indesejada — sexual ou de outro<br />

tipo. Rejeitou o que era novo — em nosso caso por motivo da angústia de castração<br />

— e apegou-se ao velho. Decidiu-se pelo intestino e contra a vagina,<br />

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