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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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acional, e a exigir da pessoa normal que mantenha sua relação com o dinheiro<br />

totalmente livre de influências libidinais, regulando-a segundo considerações<br />

da realidade.<br />

Em nosso paciente essa relação estava, na época de sua doença ulterior,<br />

perturbada em medida particularmente grave, o que não desempenhava papel<br />

pequeno em sua falta de autonomia e incapacidade para a vida. Como herdeiro<br />

do pai e de um tio ele se tornara muito rico, ostensivamente dava muito valor a<br />

que o vissem como tal, e podia se ofender bastante, caso o subestimassem<br />

nesse aspecto. Mas não sabia quanto possuía, o que gastava e quanto restava.<br />

Era difícil dizer se deveria ser chamado de avarento ou de perdulário. Ora se<br />

comportava de um modo, ora de outro, nunca de maneira que indicasse uma<br />

intenção coerente. Por alguns traços evidentes que relatarei abaixo, ele poderia<br />

ser visto como um ricaço empedernido, que enxerga na riqueza a maior vantagem<br />

de sua pessoa e não permite que os interesses afetivos tenham lugar junto<br />

aos pecuniários. Mas ele não julgava os outros conforme a riqueza, e em<br />

muitas ocasiões mostrava-se modesto, solícito e compassivo. O dinheiro se<br />

subtraíra ao seu controle consciente, significando alguma coisa mais para ele.<br />

Já mencionei (p. 33) que me pareceu estranho o modo como ele se consolou<br />

da perda da irmã, que se havia tornado sua mais próxima companhia nos últimos<br />

anos: refletiu que não mais precisava dividir a herança da família com ela.<br />

Talvez ainda mais notável foi a tranquilidade com que ele pôde relatar isso,<br />

como se não tivesse compreensão da crueza de sentimentos que revelava. É<br />

certo que a análise o reabilitou, ao mostrar que a dor pela irmã tinha sofrido<br />

apenas um deslocamento, mas então se tornou mesmo incompreensível que ele<br />

quisesse encontrar na riqueza um substituto para a irmã.<br />

Sua conduta em outro caso pareceu enigmática a ele mesmo. Depois da<br />

morte do pai, a fortuna deixada foi dividida entre ele e a mãe. Ela administrou<br />

esse legado e, como ele próprio admitiu, atendeu suas exigências pecuniárias<br />

de modo irrepreensível e generoso. No entanto, cada conversa que tinham<br />

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