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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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impunham tantas penitências. Mas ele era obrigado a expirar quando via<br />

mendigos, aleijados, pessoas feias, velhas, miseráveis, e essa compulsão ele não<br />

sabia conciliar com os espíritos. A única justificação que dava a si mesmo era<br />

que o fazia para não ficar como eles.<br />

Então a análise proporcionou, em ligação com um sonho, o esclarecimento<br />

de que a expiração ao ver gente lastimável tinha começado apenas após os seis<br />

anos, e se ligava ao pai. Fazia meses que ele não via o pai quando a mãe disse<br />

que iria à cidade com as crianças e lhes mostraria algo que muito as alegraria.<br />

Ela os levou então a um sanatório, onde viram novamente o pai; ele parecia<br />

mal, e despertou pena no filho. Logo, o pai era também o modelo original de<br />

todos os pobres, aleijados, mendigos diante dos quais ele tinha que expirar, assim<br />

como, em outros casos, é o modelo <strong>das</strong> caretas que são vistas em estados<br />

de angústia, e <strong>das</strong> caricaturas desenha<strong>das</strong> por escárnio. Em outro lugar aprenderemos<br />

que essa atitude compassiva remonta a um detalhe particular da cena<br />

primária, que veio a atuar tardiamente na neurose obsessiva.<br />

A resolução de não se tornar como eles, que motivou seu hábito de expirar<br />

diante dos aleijados, era portanto a velha identificação com o pai, transformada<br />

no negativo. Mas nisso ele copiava o pai também no sentido positivo, pois respirar<br />

fortemente era uma imitação do ruído que ele tinha escutado o pai emitir<br />

durante o coito. 27 O Espírito Santo devia a sua origem a este sinal de excitação<br />

sensual do homem. Através da repressão, o respirar tornou-se espírito mau,<br />

para o qual havia também uma outra genealogia, isto é, a malária, da qual ele<br />

sofria na época da cena primária.<br />

A rejeição desses maus espíritos correspondia a um traço inconfundivelmente<br />

ascético, que se manifestou ainda em outras reações. Ao ouvir dizer que<br />

Cristo havia esconjurado maus espíritos, fazendo-os entrar em porcos que se<br />

lançaram num abismo, ele pensou em como sua irmã, sendo muito pequena e<br />

antes que ele tivesse recordação, havia caído, rolando até a praia, do caminho<br />

entre as escarpas do porto. Também ela era um espírito mau e um porco; daí<br />

até o Deus-porco a distância era curta. O próprio pai se revelara igualmente<br />

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