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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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Deus havia tratado seu filho de maneira dura e cruel, mas tampouco era melhor<br />

para com os homens. Havia sacrificado seu filho e exigido que Abraão<br />

fizesse o mesmo. Ele começou a temer Deus.<br />

Se ele era Cristo, então seu pai era Deus. Mas o Deus que a religião lhe impunha<br />

não era um verdadeiro substituto para o pai que ele havia amado, e que<br />

não queria deixar que lhe roubassem. O amor a esse pai lhe proporcionou a<br />

agudeza crítica. Ele se opôs a Deus para poder se apegar ao pai, nisso defendendo<br />

na verdade o velho pai contra o novo. Teve que dar um difícil passo<br />

no desligamento do pai.<br />

Portanto, foi do velho amor a seu pai, tornado manifesto na época mais remota,<br />

que ele tirou a energia para o combate a Deus e a perspicácia para a crítica<br />

da religião. Mas, por outro lado, essa hostilidade ao novo Deus também<br />

não era um ato original, tinha por modelo um impulso hostil contra o pai, surgido<br />

sob a influência do sonho angustiante, e no fundo era apenas uma revivescência<br />

dele. Os dois impulsos afetivos opostos, que deveriam reger toda<br />

sua vida posterior, encontravam-se aqui na luta ambivalente em torno da religião.<br />

O que dessa luta resultou como sintoma, as ideias blasfemas, a compulsão<br />

de associar Deus — excremento, Deus — porco, era portanto um verdadeiro<br />

compromisso, como veremos na análise dessas ideias em sua relação<br />

com o erotismo anal.<br />

Alguns outros sintomas obsessivos de gênero menos típico levam com<br />

igual certeza ao pai, mas também permitem perceber a relação entre a neurose<br />

obsessiva e as ocorrências anteriores.<br />

O mandamento de respirar de modo solene, em determina<strong>das</strong> condições,<br />

fazia parte do cerimonial de devoção com que ele expiava por fim suas blasfêmias.<br />

A cada vez que fazia o sinal da cruz ele tinha que inspirar profundamente<br />

ou expelir o ar com força. Em sua linguagem, alento era igual a espírito.<br />

Então esse era o papel do Espírito Santo. Ele tinha que inspirar o Espírito<br />

Santo ou expirar os espíritos maus acerca dos quais tinha lido e ouvido falar. 26<br />

A esses espíritos maus ele atribuía também os pensamentos sacrílegos que lhe<br />

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