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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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obsessivas confirmaremos essa interpretação. À repressão da homossexualidade<br />

passiva correspondia agora a preocupação de que era ultrajante estabelecer<br />

relação entre a pessoa divina e tais conjecturas. Nota-se que ele se empenha em<br />

manter sua nova sublimação livre do acréscimo que retirou <strong>das</strong> fontes do reprimido.<br />

Mas não conseguiu fazer isso.<br />

Ainda não compreendemos por que agora se rebelava também contra o<br />

caráter passivo de Cristo e contra os maus tratos do pai, começando assim a<br />

negar seu ideal masoquista até então, mesmo na sua sublimação. Podemos<br />

supor que este segundo conflito era particularmente propício à emergência dos<br />

pensamentos obsessivos humilhantes do primeiro conflito (entre a corrente<br />

masoquista dominante e a homossexual reprimida), pois é natural que num<br />

conflito psíquico se somem to<strong>das</strong> as tendências opostas, ainda que <strong>das</strong> fontes<br />

mais diversas. O motivo de sua rebelião e, portanto, da crítica feita à religião,<br />

nós o conheceremos a partir de novas informações.<br />

Também sua pesquisa sexual havia tirado proveito <strong>das</strong> informações sobre a<br />

História Sagrada. Até então ele não tinha motivo para supor que as crianças<br />

vêm apenas da mulher. Pelo contrário, a Nânia o tinha feito acreditar que ele<br />

era filho do pai, e a irmã, da mãe, e esse vínculo mais próximo com o pai lhe<br />

tinha sido precioso. Agora ele ouvia que Maria era a genitora de Deus. Então<br />

as crianças vinham da mulher, e o que a Nânia havia dito não se sustentava.<br />

Além disso, os relatos o deixaram confuso quanto ao verdadeiro pai de Cristo.<br />

Estava inclinado a crer que era José, pois sabia que sempre viveram juntos,<br />

mas a Nânia disse que José apenas fazia de pai, o verdadeiro era Deus. Ele não<br />

soube o que achar disso. Compreendia apenas o seguinte: se era possível<br />

mesmo discutir a questão, a relação entre pai e filho não era tão íntima como<br />

ele havia sempre imaginado.<br />

O garoto de certo modo intuiu a ambivalência afetiva para com o pai, subjacente<br />

a to<strong>das</strong> as religiões, e atacou sua religião devido ao afrouxamento desse<br />

vínculo com o pai. Naturalmente sua oposição logo deixou de ser uma dúvida<br />

quanto à verdade da doutrina e se voltou diretamente contra a pessoa de Deus.<br />

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