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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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julgava capaz a criança, é levada a efeito apenas por uma minoria ínfima de<br />

adultos.<br />

Agora apresentarei o material de suas recordações, para depois buscar um<br />

caminho que leve à compreensão delas.<br />

A impressão que ele teve da História Sagrada não foi inicialmente<br />

agradável, como ele relatou. Primeiro se revoltou com o caráter sofredor da<br />

pessoa de Cristo, depois com a sua história como um todo. Dirigiu contra<br />

Deus Pai sua insatisfação crítica. Se ele era todo-poderoso, era sua culpa que<br />

os homens fossem maus e atormentassem os outros, indo então para o Inferno.<br />

Ele deveria tê-los feito bons; ele mesmo era responsável por todo o mal e todo<br />

o tormento. Ficou aborrecido com o mandamento que diz para oferecer a<br />

outra face, quando se recebe uma bofetada, com o fato de Cristo desejar que<br />

afastassem dele o cálice, na cruz, * e também por não ter acontecido nenhum<br />

milagre demonstrando que ele era filho de Deus. Assim, sua perspicácia estava<br />

alerta e soube discernir com implacável rigor os pontos fracos da fábula santa.<br />

Mas a essa crítica racionalista logo se juntaram dúvi<strong>das</strong> e ruminações, que<br />

deixam perceber a contribuição de impulsos secretos. Uma <strong>das</strong> primeiras perguntas<br />

que ele fez à Nânia foi se Cristo tinha também um traseiro. Ela respondeu<br />

que ele havia sido Deus e também homem. Enquanto homem ele<br />

havia tido e feito tudo como os outros homens. Isso não o satisfez, mas ele<br />

soube consolar-se, dizendo que o traseiro era apenas a continuação <strong>das</strong> pernas.<br />

O medo de ter que rebaixar a pessoa divina, que mal acabava de ser mitigado,<br />

inflamou-se novamente quando lhe veio a questão de saber se Cristo também<br />

defecava. Ele não ousou colocá-la para a Nânia beata, e encontrou ele próprio<br />

uma saída, melhor do que qualquer outra que ela pudesse ter lhe achado.<br />

Como Cristo havia feito vinho a partir de nada, também podia transformar a<br />

comida em nada, e assim poupar-se a defecação.<br />

Nós nos aproximaremos de uma compreensão dessas ruminações se retomarmos<br />

um elemento já mencionado de seu desenvolvimento sexual. Sabemos<br />

que, desde a rejeição pela Nânia e a consequente supressão da atividade genital<br />

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