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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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cena primária; em segundo lugar, o tempo da mudança de caráter, até o sonho<br />

angustiante (quatro anos); terceiro, o da fobia de animais, até a iniciação na religião<br />

(quatro anos e meio), e a partir daí o da neurose obsessiva, até os dez<br />

anos de idade. A transição imediata e pura de uma fase a outra não é da<br />

natureza dessas coisas, nem da de nosso paciente, que se caracteriza, ao contrário,<br />

pela conservação de tudo o que passou e a coexistência <strong>das</strong> mais diversas<br />

correntes. O comportamento malcriado não desapareceu quando sobreveio<br />

a angústia, e prosseguiu, diminuindo lentamente, até o período da devoção religiosa.<br />

Mas da fobia de lobos não há mais traço nessa última fase. A neurose<br />

obsessiva transcorreu de modo descontínuo; o primeiro acesso foi o mais<br />

longo e mais intenso, outros vieram quando ele tinha oito e dez anos, a cada<br />

vez ocasionados por circunstâncias que se ligavam visivelmente ao conteúdo<br />

da neurose. A mãe lhe contou ela mesma a História Sagrada, e além disso fez a<br />

Nânia ler em voz alta um livro sobre o tema, adornado de ilustrações. A ênfase<br />

principal da narrativa caiu naturalmente sobre a história da Paixão. A Nânia,<br />

que era bem devota e supersticiosa, dava explicações sobre o que lia, mas também<br />

tinha que escutar to<strong>das</strong> as objeções e dúvi<strong>das</strong> do pequeno crítico. Se os<br />

conflitos que começavam a agitá-lo terminaram por fim com a vitória da fé, a<br />

influência da Nânia não deixou de ter participação nisso.<br />

O que ele me relatou como lembrança de suas reações à iniciação religiosa<br />

deparou de início com a minha completa descrença. Aqueles não podiam ser,<br />

era minha opinião, os pensamentos de um garoto de quatro anos e meio ou<br />

cinco; provavelmente ele transpunha para esse passado remoto o que se originava<br />

da reflexão do adulto de quase trinta anos. 24 O paciente não quis saber<br />

dessa correção, porém; e não foi possível convencê-lo, como fiz em muitas<br />

outras diferenças de juízo entre nós; por fim, a coerência entre os seus<br />

pensamentos lembrados e os sintomas relatados, e o modo como se encaixam<br />

no seu desenvolvimento sexual, me obrigaram a lhe dar crédito. Então disse a<br />

mim mesmo que justamente essa crítica às teorias da religião, de que eu não<br />

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