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FREUD, Sigmund. Obras Completas (Cia. das Letras) – Vol. 14

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mas sim de animais, aquele que o menino observou e então atribuiu aos pais,<br />

como se tivesse deduzido que os pais também não faziam de outro modo.<br />

Em favor desta concepção há sobretudo o fato de os lobos do sonho serem<br />

realmente cães pastores e como tais aparecerem no desenho. Pouco tempo<br />

antes do sonho, ele fora conduzido várias vezes aos rebanhos de ovelhas, onde<br />

pôde ver esses cachorros grandes e brancos e provavelmente observá-los no<br />

coito também. A isto eu relacionaria também o número três, que o sonhador<br />

introduziu sem qualquer outra motivação, e suporia que ele conservou na<br />

memória que tinha feito três dessas observações nos cães pastores. O que então<br />

se juntou a isso, no estado de excitação plena de expectativa da noite de seu<br />

sonho, foi a transferência para seus pais, com todos os pormenores, da imagem<br />

mnemônica recém-adquirida, mediante a qual se tornaram possíveis aqueles<br />

poderosos efeitos emocionais. Nesse momento houve uma compreensão a posteriori<br />

daquelas impressões recebi<strong>das</strong> talvez algumas semanas ou meses antes,<br />

processo que cada um de nós talvez tenha experimentado em si mesmo. A<br />

transferência dos cães em cópula para os pais não se realizou por meio de um<br />

procedimento dedutivo ligado a palavras, mas buscando na recordação uma<br />

cena real em que os pais apareciam juntos, e que pôde se fundir com a situação<br />

do coito. Todos os detalhes da cena que foram estabelecidos na análise do<br />

sonho podem ter se reproduzido exatamente. Era de fato uma tarde de verão, o<br />

menino sofria de malária, os pais estavam ambos presentes, vestidos de branco,<br />

quando ele acordou de seu sono, mas — a cena era inofensiva. O restante fora<br />

acrescentado, com base nas suas experiências com os cães, pelo desejo posterior<br />

do menino ávido de saber, desejoso de espreitar também os pais em seu<br />

comércio amoroso, e então a cena assim fantasiada desdobrava todos os efeitos<br />

que lhe atribuímos, como se tivesse sido inteiramente real e não composta de<br />

duas partes cola<strong>das</strong>, uma anterior, indiferente, e uma posterior, muito<br />

impressionante.<br />

Logo se vê o quanto diminuem as exigências feitas à nossa credulidade. Já<br />

não precisamos supor que os pais realizaram o coito na presença da criança,<br />

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